quinta-feira, dezembro 31, 2020

TOP 20 2020 E O BALANÇO DO ANO




1. RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS (Céline Sciamma)
2. THE SOUVENIR (Joanna Hogg)
3. UM LINDO DIA NA VIZINHANÇA (Marielle Heller)
4. MALMKROG (Cristi Puiu)



5. FIRST COW (Kelly Reichardt)
6. NUNCA, RARAMENTE, ÀS VEZES, SEMPRE (Eliza Hittman)
7. O HOMEM INVISÍVEL (Leigh Whannell)
8. VITALINA VARELA (Pedro Costa)
 


9. DRAGGED ACROSS CONCRETE (S. Craig Zahler)
10. A PORTUGESA (Rita Azevedo Gomes)
11. VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI (Ken Loach)
12. MARTIN EDEN (Pietro Marcello)
  


13. O CASO RICHARD JEWELL (Clint Eastwood)
14. OS OLHOS DE CABUL (Zabou Breitman, Eléa Gobbé-Mévellec)
15. UNDINE (Christian Petzold)
16. A PASTORA E AS SETE CANÇÕES (Pushpendra Singh)
  




17. SERTÂNIA (Geraldo Sarno)
18. TOMMASO (Abel Ferrara)
19. QUE LE DIABLE NOUS EMPORTE (Jean-Claude Brisseau)
20. LET HIM GO (Thomas Bezucha)

Menções honrosas 

21. FOURTEEN (Dan Sallitt)
22. CASA (Letícia Simões)
23. OS MISERÁVEIS (Ladj Ly)
24. ATÉ O FIM (Glenda Nicácio, Ary Rosa)
25. ADORÁVEIS MULHERES (Greta Gerwig)
26. OS 8 MAGNÍFICOS (Domingos Oliveira)
27. NARCISO EM FÉRIAS (Ricardo Calil, Renato Terra)
28. TIGERTAIL (Alan Yang)
29. O SOM DO SILÊNCIO (Darius Marder)
30. A VASTIDÃO DA NOITE (Andrew Patterson)

O que dizer de 2020 que já não tenha sido dito por tantas e tantas pessoas? Sei que a percepção é individual, mas este é um ano que definitivamente vai ficar na memória de todos os seres viventes até, no mínimo, o dia de suas partidas deste plano. Até crianças muito jovens se lembrarão deste período sombrio de temor, morte, máscaras e álcool em gel. E pensar que o ano começou de maneira tão tranquila pra mim... Passei o réveillon em uma praia paradisíaca com um grupo de amigos muito legal e fiquei acreditando que aquilo seria uma amostra do que seria 2020. Ledo engano.

Custei a acreditar que o mundo ia parar, no início de março, quando a Europa já estava sentindo de maneira muito forte os impactos do Corona Vírus. E logo vimos notícias de filmes que foram adiados, grandes blockbusters que foram deixados para o ano que vem, e depois todas as salas de cinema fechando, e mesmo quando algumas retornaram, não foi a mesma coisa, já que a pandemia ainda não acabou, e muitos não se sentem seguros em entrar em uma sala de cinema. Eu cheguei a arriscar algumas vezes e até tive momentos muito bons na sala escura, durante essa fase. Especialmente durante a mostra de filmes do Kieslowski, no Cinema do Dragão.

No mais, não foi um ano perdido, como muitos andam dizendo por aí. E muito menos um ano que deva ser esquecido. Ao contrário, devemos sim lembrar dele, ver o quanto aprendemos durante os períodos de isolamento social e de maior aproximação com as artes, que foram não simplesmente válvulas de escape, mas a nossa compreensão de que podemos viver sem ir a um shopping, mas viver sem arte é muito difícil e ruim para a alma. Daí eu ter me apegado ainda mais aos livros, aos filmes, aos quadrinhos, aos discos. Foi também um ano de aproximação com pessoas novas do universo virtual, do Youtube e do Instagram, tanto no campo da política, quanto da astrologia, da literatura, dos quadrinhos, do cinema e da música.

E quanto aos filmes vistos, no começo da pandemia eu comecei a rever muita coisa. Por isso 2020 foi o ano em que eu mais revi grandes obras ou filmes que me despertaram saudade. Mas houve também descobertas. No último trimestre, houve um boom das mostras virtuais de cinema, destaque para a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Foi minha primeira experiência com a Mostra. Para o bem e para o mal, foi nessa modalidade. Quem sabe eu vou na modalidade presencial quando o mundo voltar ao normal. Se é que vai voltar, se é que encontraremos cinemas ainda funcionando, já que há essa tendência de movimento para os streamings. Uma das bombas do ano foi aquela decisão louca da Warner, com seus títulos de 2021 sendo lançados simultaneamente no HBO Max. Vamos ver no que isso vai dar.

Mas falemos dos filmes do ano pra mim. Para este ano, tive que abrir mão da regra de considerar apenas os títulos vistos no cinema. Não faria sentido nessas circunstâncias. Olhando para a lista, logo dá para perceber algo que chama a atenção: a boa quantidade de filmes dirigidos por mulheres. Dos vinte do top 20, sete são dirigidos por mulheres. E sete baita filmes, já que tive de deixar muita coisa boa para trás na peneira. E sobre essa coisa que dizem de que o futuro é feminino, eu acredito. Acredito que este é um caminho sem volta e que vamos aprender muito com isso, além de aprender a valorizar grandes diretoras que geralmente são deixadas em segundo plano, por uma espécie de tendência, pelo machismo estrutural.

RETRATO DE UMA JOVEM EM CHAMAS, de Céline Sciamma, eu vi ainda na fase pré-pandemia, assim como UM LINDO DIA NA VIZINHANÇA, de Marielle Heller. Os pontos em comum desses dois filmes foi o quanto eles foram uma explosão de emoção para mim. No caso do filme da Heller, então, eu me peguei chorando como nunca havia chorado antes numa sala de cinema. Nada de lágrimas caindo suavemente pelos cantos, mas um choro quase convulsivo, muito próximo da realidade. E no caso de Sciamma, acho que o que me pegou foi tanto a história de amor, com a proibição da relação, quanto a forte ligação com a música que se estabelece.

Outras cinco realizadoras fizeram quatro obras de forte cunho feminista. THE SOUVENIR, de Joanna Hogg, é tão sofisticado quanto intenso na exposição do relacionamento tóxico vivido pela própria diretora em sua juventude, enquanto NUNCA, RARAMENTE, ÀS VEZES SEMPRE, de Eliza Hittman, trata do universo de uma garota que sofre com violência doméstica e se vê numa situação de busca por um espaço para abortar. Enquanto isso, A PORTUGUESA, de Rita Azevedo Gomes, nos apresenta a uma mulher que tem uma atitude à frente de seu tempo em uma obra de um visual tão incrível que parece uma pintura renascentista. E temos a maravilhosa animação OS OLHOS DE CABUL, da dupla Zabou Breitman e Eléa Gobbé-Mévellec, que nos joga em uma das realidades mais cruéis do mundo, especialmente para as mulheres: o Afeganistão dominado pelos talibãs.

Quanto aos filmes mais masculinos, também tivemos títulos de destaque. Mas podemos começar, inclusive, pelo filme "masculino" dirigido por uma mulher. O que nos leva à pergunta: o que seria um filme masculino e um filme feminino? De todo modo, podemos pensar em termos de ying e yang. O fato é que Kelly Reichardt fez um grande filme sobre a amizade entre dois homens, e também um dos mais sutis filmes de assalto, FIRST COW.

No que se refere a amizades masculinas e também à violência, difícil sair indiferente ao final da sessão de DRAGGED ACROSS CONCRETE, de S. Craig Zahler. A associação com a masculinidade acaba vindo forte por conta da presença de Mel Gibson, mas trata-se de uma obra poderosa o suficiente para nos provocar angústia quase na mesma proporção que nos empolga. Podemos dizer algo parecido de LET HIM GO, de Thomas Bezucha, uma espécie de western passado na década de 1960, e com um dos mais belos casais da terceira idade de Hollywood. É também um filme de grande impacto e de violência psicológica poderosa.

Quanto ao filme mais cabeçudo do ano, pra mim, MALMKROG, de Cristi Puiu, trouxe tanto convite ao pensar que saí da sessão completamente desnorteado. Não apenas pela duração, mas porque quase não há trégua na quantidade de debates propostos, além de toda a sofisticação visual característica do cineasta romeno. E falando em sofisticação, o grande filme italiano do ano é, muito provavelmente, MARTIN EDEN, de Pietro Marcello, sobre a vontade de aprender atropelando a necessidade de amar.

No território do filme de horror, o grande representante foi um blockbuster prejudicado pela pandemia, O HOMEM INVISÍVEL, de Leigh Whannell. O diretor transforma a história clássica de H.G. Wells em uma trama sobre masculinidade tóxica. Bem a cara de nosso tempo. Mas é também uma obra impressionantemente poderosa na tensão e no medo. Talvez só Paul Verhoeven tenha conseguido algo parecido com esse tema, quando estava em Hollywood.

Outro título que tangencia, ainda que de maneira mais sutil, o território do cinema de horror é UNDINE, de Christian Petzold, a maior sensação desse novo cinema alemão. Ele, sendo também especialista em histórias de amor com toques de tragédia, tem mostrado cada vez mais ser um gigante entre os mais jovens realizadores.

Dos veteranos, também temos alguns títulos de peso. Clint Eastwood chega aos 90 anos com mais uma crônica de heroísmo americana, O CASO RICHARD JEWELL. Lindo filme que abriu bem o circuito nacional neste ano. Já Abel Ferrara chega a um momento de sua vida e carreira em que decide usar o cinema como divã, falando de seus demônios, de seus pecados. Dos três filmes novos do realizador, todos nessa linha, ainda que totalmente distintos na forma, o que eu mais gostei foi TOMMASO. Aliás, aproveito para deixar o meu muito obrigado a Ferrara. Ele foi o meu maior parceiro na primeira fase da pandemia, quando resolvi fazer uma peregrinação por sua obra.

O ano também foi marcado pelo retorno de um cineasta octagenário de grande importância para o Cinema Novo, mas cuja obra costumava ser pouco lembrada. Eis que o grande filme brasileiro do ano é dele, SERTÂNIA, de Geraldo Sarno, uma obra que respira diferente, tem textura diferente, que tanto remete ao passado, aos anos 1960, quanto tem um frescor admirável.

O quarto dos cinco diretores veteranos que estão na lista é Jean-Claude Brisseau. Só neste ano peguei para ver seu filme-testamento, QUE LE DIABLE NOUS EMPORTE. Continua me interessando muito no quanto mistura sexo com espiritualidade, desejo carnal com metafísica. E o quinto é Ken Loach, que apresentou um lindo tratado sobre a precarização do trabalho no mundo contemporâneo. A pessoa tem que ter um coração de pedra para não se emocionar com VOCÊ NÃO ESTAVA AQUI.

Encerrando o top 20 com dois filmes dirigidos por homens, mas muito interessados na condição da mulher em seus respectivos países. De Portugal, Pedro Costa nos traz o sombrio VITALINA VARELA, uma obra tão sofisticada que merece ser vista várias vezes. Por sorte, tive a honra de vê-lo no cinema. E da Índia, Pushpendra Singh nos apresenta a uma personagem feminina admirável. Vi A PASTORA E AS SETE CANÇÕES na Mostra de São Paulo e já fico na torcida para que seja lançado nos cinemas.

Top 5 - Piores do ano

Quase não faço esta lista neste ano. Eu sempre encontro algo de positivo nos filmes. Não tenho muito essa relação de raiva com alguns deles. E creio que, neste ano em particular, essa impressão foi ainda maior. De todo modo, para não perder o costume, segue, abaixo. 

1. SÉRGIO, de Greg Barker
2. EMA, de Pablo Larraín
3. WASP NETWORK - REDE DE ESPIÕES, de Olivier Assayas
4. MANK, de David Fincher
5. POR QUE VOCÊ NÃO CHORA?, de Cibele Amaral

Top 5 - Musas do ano

Pode até ser a seção mais controversa da minha postagem de fim de ano, mas ainda assim me dá prazer lembrar de minha relação de breve paixão por algumas atrizes em certos filmes. Na lista deste ano, temos duas “tricampeãs”, Gal Gadot e Margot Robbie. As demais estão estreando na seção. E no caso de Catarina Wallenstein, o sex appeal que essa mulher exalou nos dois filmes que pude vê-la é algo de extraordinário.

Catarina Wallesntein (O ANIMAL AMARELO e O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS)
Jodie Turner-Smith (QUEEN & SLIM)
Ana de Armas (WASP NETWORK - REDE DE ESPIÕES e SERGIO)

Clássicos revisitados ou vistos pela primeira vez na telona em ordem alfabética


A CICATRIZ, de Krzysztof Kieslowski 
A DUPLA VIDA DE VÉRONIQUE, de Krzysztof Kieslowski
A FRATERNIDADE É VERMELHA, de Krzysztof Kieslowski
A IGUALDADE É BRANCA, de Krzysztof Kieslowski
A LIBERDADE É AZUL, de Krzysztof Kieslowski
APOCALYPSE NOW - FINAL CUT, de Francis Ford Coppola
NÃO AMARÁS, de Krzysztof Kieslowski
NÃO MATARÁS, de Krzysztof Kieslowski
O DESPREZO, de Jean-Luc Godard
SEM FIM, de Krzysztof Kieslowski
SORTE CEGA, de Krzysztof Kieslowski

Top 20 vistos pela primeira vez na telinha em ordem alfabética 

A BESTA HUMANA, de Jean Renoir
A CADELA, de Jean Renoir
A GARDÊNIA AZUL, de Fritz Lang 
A GRANDE JORNADA, de Raoul Walsh e Louis R. Loeffler
A MULHER INFAME, de Kenji Mizoguchi
A NOITE DO DESEJO, de Fauzi Mansur
CINEMANIA, de Angela Christlieb e Stephen Kijak
COMPASSO DE ESPERA, de Antunes Filho
DILLINGER ESTÁ MORTO, de Marco Ferreri
MALDIÇÃO, de Fritz Lang
MARIA, de Abel Ferrara
O PÃO NOSSO, de King Vidor
O SEGREDO DA PORTA FECHADA, de Fritz Lang
O TESTAMENTO DO DR. MABUSE, de Fritz Lang
OS CARRASCOS TAMBÉM MORREM, de Fritz Lang
QUANDO DESCERAM AS TREVAS, de Fritz Lang
SEDUÇÃO E VINGANÇA, de Abel Ferrara
SÓ A MULHER PECA, de Fritz Lang
SÓ UM BEIJO POR FAVOR, de Emmanuel Mouret
VIDA DE MENINA, de Helena Solberg

As revisões

No ano passado, foram apenas cinco filmes revistos. Quando eu falei lá em cima que o número de revisões foi enorme, eu não estava brincando. Especialmente em comparação com o que normalmente faço. Mas achei ótimo revisitar cada título. Até porque minha memória não é lá essas coisas.

A IMAGEM de Radley Metzger
A INSUSTENTÁVEL LEVEZA DO SER, de Philip Kaufman
A PRIMEIRA TRANSA DE JONATHAN, de Mel Damski
ADMIRADORA SECRETA, de David Greenwalt
AMANTES, de James Gray
AMOR MAIOR QUE A VIDA, de Keith Gordon
ANTES DO AMANHECER, de Richard Linklater
AS CANÇÕES, de Eduardo Coutinho
BEM-VINDO A NOVA YORK, de Abel Ferrara
BLACKOUT - SENTIU A MINHA FALTA?, de Abel Ferrara
CIDADÃO KANE, de Orson Welles
ERASERHEAD, de David Lynch
O REI DE NOVA YORK, de Abel Ferrara
ESPELHO DE CARNE, de Antonio Carlos da Fontoura
FAÇA A COISA CERTA, de Spike Lee
HALLOWEEN - A NOITE DO TERROR, de John Carpenter
INSTINTO SELVAGEM, de Paul Verhoeven
JOGADA DE RISCO, de Paul Thomas Anderson
KAIRO, de Kiyoshi Kurosawa
LAURA, de Otto Preminger
M - O VAMPIRO DE DUSSELDORF, de Fritz Lang
MENTIRAS, de Sun-Woo Jang
METRÓPOLIS, de Fritz Lang
MIAMI VICE, de Michael Mann
MISSISSIPI EM CHAMAS, de Alan Parker
NAUSICAÄ DO VALE DO VENTO, de Hayao Miyazaki
O ANJO EXTERMINADOR, de Luis Buñuel
O CONVITE AO PRAZER, de Walter Hugo Khouri
O ENIGMA DO PODER, de Abel Ferrrara
OLHOS DE SERPENTE, de Abel Ferrara
OS CHEFÕES, de Abel Ferrara
OS CORRUPTOS, de Fritz Lang
OS INVASORES DE CORPOS - A INVASÃO CONTINUA, de Abel Ferrara
PASOLINI, de Abel Ferrara
PRELÚDIO PARA MATAR, de Dario Argento
TROPAS ESTELARES, de Paul Verhoeven
TUDO SOBRE MINHA MÃE, de Pedro Almodóvar
UM LUGAR AO SOL, de George Stevens
VÍCIO FRENÉTICO, de Abel Ferrara
VÍTIMAS DE UMA PAIXÃO, de Harold Becker

As séries e minisséries - Top 5

1. NORMAL PEOPLE - PRIMEIRA TEMPORADA
2. FLEABAG - SEGUNDA TEMPORADA
3. A MALDIÇÃO DA MANSÃO BLY
4. EM DEFESA DE JACOB
5. LOCKE & KEY - PRIMEIRA TEMPORADA

Feliz Ano Novo!  

Desejo a todos um ano novo muito melhor do que este. O que não é difícil. Pode não adiantar muito esses votos, já que, do ponto de vista nacional, tivemos um ano pior do que o outro desde 2016. Mas sei que, individualmente, cada ano chega diferente para cada pessoa. Acho que um dos segredos de se levar uma boa vida é estar grato com o nosso presente, já que é o que temos. E geralmente temos, sim, coisas muito valiosas conosco. Até breve e muito obrigado!

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