segunda-feira, janeiro 31, 2011

AMOR & OUTRAS DROGAS (Love & Other Drugs)



Uma das coisas que mais chama atenção nessa comédia dramática é o fato de se passar na segunda metade dos anos 1990 e isso ser mostrado também através de canções que marcaram o período. Assim, quando o filme começa em 1996, a música que toca é "Two Princes", dos Spin Doctors; depois "Cannoball", dos Breeders; mais na frente, "Praise you", do Fatboy Slim; e "Jack-Ass", do Beck. Canções-chave de uma década que está começando a se tornar História no cinema – A REDE SOCIAL, aproxima ainda mais com o início dos anos 2000. Quer dizer, a História recente já pode ser vista com distanciamento e em alguns casos com um pouco de saudosismo.

AMOR & OUTRAS DROGAS (2010) tem uma proposta relativamente original: mostrar o relacionamento entre um galanteador representante de remédios e uma jovem diagnosticada precocemente com o Mal de Parkinson, mas que adora um bom sexo casual. Jake Gyllenhaal e Anne Hathaway fazem um belo par e todas as cenas em que os dois estão juntos são boas. O diretor Edward Zwick teve sorte na escolha de seus protagonistas. Só não teve muita sorte no final, que, depois de um bom desenvolvimento agridoce, procura seguir a fórmula das comédias românticas mais manjadas. Agrada ao público que quer sair um pouco mais feliz do cinema, mas acaba criando um pastel de vento com isso.

No entanto, o filme tem os seus méritos. A começar pela ousadia em mostrar os dois astros nus em diversos momentos, o que demonstra entrega aos papéis. Ambos foram indicados ao Globo de Ouro nas categorias de melhor ator e atriz (comédia ou musical), mas ficaram de fora das indicações do Oscar. Talvez pelo preconceito com as comédias ou talvez por não haver espaço para eles entre os demais indicados. Se bem que o filme possui mais momentos dramáticos do que cômicos. Assim, acaba sendo um corpo estranho no cenário.

Lidar com uma doença degenerativa como o Mal de Parkinson não é fácil e o diretor até que soube se virar. Pena que, assim como acontece em todos os seus filmes, ele não consegue em momento algum criar uma sequência realmente emocionante. E eu vejo isso mais como uma série de tentativas frustradas do que como um estilo contido de direção.

domingo, janeiro 30, 2011

OS CURTAS DE KLEBER MENDONÇA FILHO



Quando vi pela primeira vez VINIL VERDE (2004, foto), tornei-me imediatamente fã de Kleber Mendonça Filho, mesmo sem ter visto seus demais curtas-metragens. Já perdi a conta de quantas vezes vi este curta, até porque eu faço questão de apresentá-lo para os amigos e já exibi na escola onde dou aula também. E com resultados animadores. E como a experiência de ver o curta no cinema pela primeira vez foi muito impactante, eu me recusava a ver seus outros filmes na telinha do computador pelo site Porta Curtas. Até que recentemente o diretor disponibilizou todos eles no Vimeo e com uma ajudinha do mozilla deu pra transformar tudo em dvd. O que foi uma maravilha, pois assim pude ver a evolução do trabalho do diretor. Seu mais recente curta, o premiado RECIFE FRIO (2009), acabou de ser lançado em dvd com extras e está à venda na Livraria Cultura. A expectativa em torno de seu primeiro longa de ficção é grande. Chama-se O SOM AO REDOR e está em processo de filmagem. Enquanto isso, falemos brevemente de cada curta visto.

CASA DE IMAGEM

Belo documentário sobre o fim dos cinemas de rua, CASA DE IMAGEM (1992) mostra fotografias e sons do passado juntando-se a depoimentos e imagens de fechamento de cinemas, dando lugar a igrejas e supermercados. Nos depoimentos, aborda-se a questão da televisão como agente catalizadora do fim dos cinemas de rua, especialmente nas cidades do interior. Um dos depoimentos mais emocionantes é de um projecionista que estava prestes a fechar a sala de cinema onde trabalhava. Ele diz: "eu que vou fechar o cinema... com chave de lágrimas".

HOMEM DE PROJEÇÃO

Filme-irmão de CASA DE IMAGEM, HOMEM DE PROJEÇÃO (1992) foca a atenção na figura do projecionista, principalmente o do Arte Palácio, que trabalha lá desde os anos 60. Segundo ele, quando O PODEROSO CHEFÃO passou 4 meses em cartaz lá, ele já não aguentava mais. Bonito ver os rolos de filmes passando de forma romântica. Não é tão bom quanto o primeiro, mas funciona como um complemento. Codireção de Elissama Cantalice.

ENJAULADO

Acho que é o único dele que eu não gostei. ENJAULADO (1997) é muito longo (33 minutos) e é a primeira experiência de KMF com a ficção e com o gênero horror. Talvez se fosse um pouco mais curto e enxuto, teria tido um resultado melhor. Começa até interessante com câmera subjetiva, mas a parte principal, do sujeito sozinho no apartamento, é um convite ao sono.

A MENINA DO ALGODÃO

Se ENJAULADO é longo demais, A MENINA DO ALGODÃO (2002) é tão bom que poderia ser mais longo. Assim, temos que nos contentar com meros seis minutos de duração. Há uma excelente criação de atmosfera e um ar documental que torna a experiência ainda mais arrepiante. O filme fala de uma lenda urbana que aqui no Ceará se chamava "lôra do banheiro", mas no Recife era "a menina do algodão", pelo fato de ser uma garota que aparecia nos banheiros com algodões no nariz. No final, nos créditos, entre as homenagens está John Carpenter. Foram usadas imagens desfocadas ao longo do filme. Codireção: Daniel Mendonça.

VINIL VERDE

Já perdi as contas de quantas vezes vi esse curta de quinze minutos. Ainda acho mágico, mas claro que o impacto vai se perdendo um pouco com as revisões. Mas ao mesmo tempo é possível ver mais coisas nas entrelinhas, reparar em mais detalhes, ou pensar em mais possibilidades de se entender o filme, mais chaves de interpretação. Pode-se vê-lo como um estudo sobre a natureza má do ser humano ou sobre a total falta de importância da palavra "não" ou sobre as tentações e o mal. Mas é o epílogo, com as palavras finais do narrador, que ainda me arrepia. VINIL VERDE utiliza a mesma técnica de Chris Marker com fotografias, o que confere ao filme charme e estranheza.

ELETRODOMÉSTICA

Um dos que apresentam um registro mais convencional, dentre os curtas de KMF. Interessante a apresentação da rotina de uma dona de casa e a sua relação com os vários eletrodomésticos, cada vez mais se multiplicando. A ponto de uma máquina de lavar roupa ter uma utilidade inusitada. ELETRODOMÉSTICA (2005) é talvez o único filme de KMF que é mais indicado para adultos, devido à cena final. Ganhou cerca de trinta prêmios no Brasil e no exterior.

NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO

Tive a sorte de ver este curta também no cinema. Depois de VINIL VERDE, NOITE DE SEXTA, MANHÃ DE SÁBADO (2006) é o meu favorito dele. É bem diferente e trata do amor à distância, da dor que a pessoa sente da falta do outro, da vontade imensa que se tem de falar com a pessoa, nem que seja por telefone. A sequência principal, do telefonema de um rapaz na praia de Boa Viagem para uma moça em uma cidade da Europa, é de uma sensibilidade impressionante. E o fato de não ouvirmos algumas das falas torna o filme ainda mais especial, lembrando o sussurro de ENCONTROS E DESENCONTROS, de Sofia Coppola.

LUZ INDUSTRIAL MÁGICA

Curta experimental feito a partir de imagens captadas em festivais internacionais. São imagens sem som algum. Nem ruído, nem música. Não cheguei a entender as intenções do cineasta. Se é uma crítica ao excesso do uso de câmeras fotográficas ou se é uma espécie de elogio. LUZ INDUSTRIAL MÁGICA (2008) é um filme menor do diretor. Até por não ter a pretensão de ser grande mesmo.

sexta-feira, janeiro 28, 2011

CLEÓPATRA (Cleopatra)



Curiosamente o meu interesse por Cleópatra, a personalidade histórica, a mulher forte, influente, passional, dominadora e cheia de mistérios, se deu a partir da apreciação do filme de Júlio Bressane. E o filme do Bressane, por mais que seja super-erudito, também é uma curtição com os personagens de Júlio César e Marco Antonio. Mas ainda assim, o fato de mostrar uma mulher que possuía conhecimentos de magia e esoterismo, além de ter uma vasta biblioteca, me fascinou. Daí, vi depois de alguns meses, a versão de Cecil B. DeMille, de 1934, que é uma bela obra, e é redondinho ao contar a história toda em apenas 100 minutos. Se bem que não é bem a história toda. Joseph L. Mankiewicz, que já havia traduzido para o cinema JÚLIO CÉSAR (1953), de Shakespeare, mostrava-se o homem ideal para filmar as relações de Cleópatra com o Império Romano e mais particularmente com Júlio César e Marco Antonio, seus dois amantes.

O problema é que o filme hoje é mais lembrado pelo rombo que deixou nos cofres da Fox do que por suas qualidades fílmicas. O que é uma pena, pois, apesar de irregular, CLEÓPATRA (1963) é um belo filme. E um excelente representante dos filmes épicos, que vigoraram nos Estados Unidos da metade dos anos 50 até a metade dos anos 60. O filme conseguiu se pagar, mas o investimento foi altíssimo. Dizem que é o filme mais caro de todos os tempos. Um monstro. Investiram demais e não conseguiram arrecadar o que almejavam. Dizem que a própria Elizabeth Taylor também não gostou do resultado final, quando foi vê-lo na noite de estreia.

Aliás, contar sobre os bastidores do filme é tanta coisa que o documentário que fizeram – e que eu não cheguei a ver –, se for ruim, é porque não souberam aproveitar o rico e vasto material de notícias e fofocas. Eu pelo menos, fiquei supreso ao saber que, apesar de o filme ter mais de quatro horas de duração, foram cortadas cerca de duas horas da edição final! O que muita gente já sabe é que Elizabeth Taylor foi a primeira mulher a ganhar um milhão de dólares por um filme. E CLEÓPATRA foi a primeira parceria dela com Richard Burton, que aqui interpreta Marco Antonio. Rex Harrison ficou com o papel de César.

Vendo o filme em DVD naturalmente se percebe a clara divisão em duas partes. Mankiewicz pretendia lançar CLEÓPATRA em dois filmes separados, de três horas de duração, cada um deles mostrando a relação dela com um dos amantes. Eu, particularmente, gosto mais da primeira metade, a de Júlio César. A sequência do esfaqueamento no senado é de arrepiar, bem como a cena de sua cremação. São coisas que não aparecem com força no filme de DeMille, por exemplo. Mankiewicz, ainda que se preocupasse com o espetáculo, também tinha uma preocupação histórica. Por isso, seu CLEÓPATRA é cheio de detalhes e esclarece bem mais, chegando a ser didático. Ter tido mais tempo para contar mais detalhes também ajudou bastante. Mas curiosamente o fato de Júlio César ser epiléptico, por exemplo, chama muito mais atenção na versão do Bressane do que no filme de Mankiewickz, em que esse detalhe é mostrado duas vezes.

O "lado B" tem mais momentos de ação, com Marco Antonio lutando contra Otávio. O período em que Marco Antonio lutou contra os assassinos de César não é mostrado no filme. Apenas mencionado no início da segunda metade. Até por não ter muito a ver com Cleópatra. Ainda assim, diria que apesar da força e poder de influenciar os homens de Cleópatra, o filme se parece bem mais com épicos masculinos do que com histórias de amor. Tanto que o final do filme carece de mais emoção e ficou um tanto teatral. Ainda assim, um belo filme. Que é cansativo para se ver de uma única vez, mas que funciona muito bem vendo em duas partes.

terça-feira, janeiro 25, 2011

ATRAÇÃO PERIGOSA (The Town)



Quem diria que um ator que protagonizou coisas horríveis como PEARL HARBOR, DEMOLIDOR e ARMAGEDON se tornaria um grande diretor? Pois isso aconteceu com Ben Aflleck, que já em sua segunda incursão na direção, depois do ótimo MEDO DA VERDADE (2007), se apresenta capaz de conduzir um thriller de maneira magistral.

ATRAÇÃO PERIGOSA (2010) ainda conta com a vantagem de ter um elenco de primeira linha. Além do próprio Affleck, há Rebecca Hall (que me encantou em VICKY CRISTINA BARCELONA), John Hamm (conhecido de quem vê a ótima série MAD MEN), Jeremy Renner (o astro revelação de GUERRA AO TERROR), Blake Lively (a bela de GOSSIP GIRL) e coadjuvantes de peso como Chris Cooper e Pete Postlethwaite - que se despediu do cinema e deste plano no último dia 2 de janeiro, depois de duas décadas de uma batalha contra um câncer.

A trama é envolvente do início ao fim, mostrando um grupo de amigos que executam um assalto a banco. Eles entram com máscaras e conseguem fugir com uma boa quantia em dinheiro. A gerente do banco (Rebecca Hall) ficou traumatizada e foi a primeira a ser interrogada pelo agente do FBI vivido por John Hamm, mas não contou muita coisa aos federais. O líder do grupo (Affleck) a segue, a fim de ver o quanto ela poderia ser perigosa para eles. Com a aproximação, os dois acabam gostando um do outro. Ela, sem saber que aquele homem foi um dos assaltantes e que ainda leva uma vida de crimes. Ele, tentando sair dessa vida bandida e ir embora da cidade com ela.

Já sabemos logo de cara que o personagem de Affleck é o mais centrado do grupo. Seu amigo e quase irmão vivido por Jeremy Renner, por outro lado, além de já ter cometido um homicídio e de já ter ido para a cadeia, é bem irascível. Matar para ele não é problema. Já Aflleck, até mesmo parar de beber, ele já parou, tendo tido um passado de muitas drogas e bebidas. Ele é o elo de ligação com o espectador. Não que o espectador necessariamente precise de um sujeito certinho para fazer uma "conexão", mas em certos casos isso ajuda bastante. O espectador deixa de ser apenas observador e passa a se integrar mais ao drama do personagem. E isso Affleck consegue fazer muito bem, tanto como ator quanto como diretor.

ATRAÇÃO PERIGOSA recebeu apenas uma indicação ao Oscar: de melhor ator coadjuvante para Jeremy Renner.

domingo, janeiro 23, 2011

O TURISTA (The Tourist)



Quando ouço falar que determinado filme é uma bomba ou que não vale o preço do ingresso ou o meu tempo, eu geralmente tenho que ver com meus próprios olhos, até porque a beleza está nos olhos de quem vê. O caso de O TURISTA (2010), primeira incursão em Hollywood do diretor alemão Florian Henckel von Donnersmarck, de A VIDA DOS OUTROS (2006), é especial. Digo isso porque assisti o filme numa sessão lotada e com um público popular, disposto a ver o filme pelos seus astros, Angelina Jolie e Johnny Depp. E ao final da sessão, todo mundo pareceu sair bem satisfeito, com direito a gritinhos de satisfação, como em finais de shows. Isso me incomodou um pouco, já que pra mim o filme, que tem menos de duas horas de duração, já estava interminável de tão desinteressante e bobo.

Sua indicação ao Globo de Ouro na categoria melhor filme (comédia ou musical) foi alvo de muita controvérsia entre a crítica e os cinéfilos em geral. Bom, o fato de ter um filme ruim entre os principais indicados ao Globo de Ouro não é nenhuma novidade. A novidade este ano é que quase todos naquela categoria eram fracos. Mas o que mais se comentava era o fato de O TURISTA não ser uma comédia. Mas, afinal, se não for uma comédia, é o quê? Um drama? Não, é uma comédia mesmo. Uma comédia sem graça, mas ainda assim uma comédia.

Faltou a von Donnersmarck (vai ser difícil decorar o nome desse sujeito, hein!?) habilidade no trato com a ação; faltou habilidade em criar um ritmo necessário para uma boa comédia de espionagem. Ele tinha nas mãos dois astros populares e capazes e não soube aproveitar. Uma pena para ele. Uma pena para quem gostaria de ver um entretenimento de qualidade, feito por um desses diretores europeus que chegam a Hollywood arrebentando. E não são poucos que fazem isso.

A trama básica já é conhecida de quem frequenta os cinemas e vê os trailers: homem (Depp) é confundido pela Scotland Yard e por um grupo de mafiosos com outro. Isso porque a personagem de Angelina Jolie obedece às instruções de conversar com um estranho num trem para Veneza, de modo que aqueles que a estavam espionando achassem se tratar do tal homem procurado. Inicia-se um jogo de gato e rato meio sem graça, ao mesmo tempo em que o casal de estranhos passa a gostar um do outro – e essa parte do filme é ainda mais frágil. Enfim, é filme para ver e esquecer.

sábado, janeiro 22, 2011

COMO ESQUECER



Vendo COMO ESQUECER (2010), senti no ar um pouco de Walter Hugo Khouri. É como se o espírito do cineasta estivesse ali no ar, pairando sob aquele filme que trata de uma professora de literatura inglesa que está passando por maus bocados, depois da difícil separação com "a mulher da sua vida".

Embora depressão não seja um assunto exatamente novo, foram nos últimos anos que essa praga se alastrou de modo alarmante pela sociedade. Assim, ao mesmo tempo em que o filme tem uma forte ligação com um tema bem atual, além de também lidar com relacionamentos homossexuais de modo natural, COMO ESQUECER tem um elo com o cinema que se fazia no Brasil nos anos 70 e 80, especialmente com o existencialismo de Khouri. E isso pode incomodar muita gente, que pode achar que o filme é pretensioso. Pode até ser, mas não vejo mal algum em se fazer um cinema mais intimista e com a voz dos personagens ao fundo, com pensamentos ou citações literárias.

Na trama, Ana Paula Arosio é a professora de faculdade que tem um temperamento difícil e que é ajudada pelo amigo homossexual vivido por Murilo Rosa. O amigo também perdeu um amor, através da morte. A outra personagem que divide uma casa com os dois é uma jovem que se separou do namorado estando grávida (Natália Lage). Com tanta gente sofrendo junta, o filme tem coragem de mostrar situações extremas, principalmente da personagem de Arosio, que lida com cenas envolvendo pensamentos de suicídio.

Outra coisa que pode incomodar a audiência é o temperamento agressivo e egoísta da protagonista. Mas até achei interessante isso, principalmente a sua relação com uma aluna do curso, quando estão discutindo Virginia Woolf, o ultrarromantismo de "O Morro dos Ventos Uivantes" ou mesmo a vida privada da professora. A cena de sexo lésbico também está entre os destaques do filme. É um pouco contida e comportada, mas tive a impressão que Arosio estava curtindo de verdade aquele momento.

quinta-feira, janeiro 20, 2011

JANGO



Estudando um pouco sobre os escritores da geração de 1930, e vendo o quanto eles eram politicamente engajados, senti necessidade de ver um documentário para entender um pouco mais o contexto social e político do país, da Era Vargas ao Golpe de 64. Na falta de outra opção que me viesse à mente, optei por JANGO (1984), do mesmo Silvio Tendler que dirigiu o empolgante UTOPIA E BARBÁRIE (2010).

Porém, ao contrário do novo filme, que lida com o desencanto e o fim das utopias, JANGO é um retrato nada imparcial de João Goulart. A intenção era mesmo utilizar o filme como objeto de propaganda e de avanço para a redemocratização, em momentos de "Diretas Já". Dentre os depoimentos, se eu não me engano, o único defendendo a ditadura é o do General Antonio Carlos Muricy. Mas seus depoimentos, por mais sóbrios que sejam, não ajudam a colocar a balança de modo que o espectador escolha o seu lado.

O que eu senti, vendo o filme, foi que ele envelheceu bastante. Hoje é visto mais como um retrato da época em que foi realizado do que da época que deseja focar seu relato. João Goulart é mostrado como um grande estadista, homem correto, com uma família exemplar e com um grande compromisso para com o povo, a ponto de se sacrificar e fazer um comício perigoso, em tempos em que já se falava num possível avanço dos militares para tirá-lo do poder. Como provavelmente tiraram de cena o presidente anterior, Jânio Quadros, que dizia que abdicou por causa de forças ocultas.

O bom de ter visto o documentário foi ter entendido um pouco o posicionamento de Rachel de Queiroz – que não aparece no documentário –, que foi militante do PCB, mas depois se tornaria amiga do General Castelo Branco. Ela disse que odiava o janguismo, muito provavelmente porque o governo de João Goulart tinha Getúlio Vargas como modelo a ser seguido. Não deixa de ser uma ironia o fato de Getúlio, que tanto caçou os comunistas, ser exemplo para um presidente que o admirava mas que era, no mínimo, simpatizante dos comunistas e perseguido pelo imperialismo americano.

Outro ponto que depõe contra o filme – mas que para muitos é considerado um ponto positivo – é a canção de Milton Nascimento ("Coração de Estudante"), que tanto tocou na televisão durante o luto de Tancredo Neves, aliado de Jango, que se tornou quase um santo para o povo sem ter tido a oportunidade de demonstrar a sua capacidade de governar.

P.S. Está no ar a nova edição da Revista Zingu!. Dessa vez, com a estreia de Adilson Marcelino como editor-chefe. Tive o prazer de contribuir com dois textos para o Dossiê Miziara. Escrevi sobre dois filmes da fase pornô do diretor: RABO I e OSCARALHO - O OSCAR DO SEXO EXPLÍCITO. Há também várias colunas novas. Vale conferir. Ainda mais agora, que a Zingu foi premiada e ganhou mais prestígio ainda.

segunda-feira, janeiro 17, 2011

GLOBO DE OURO 2011



A edição deste ano do Globo de Ouro foi um pouco morna. Talvez pelo fato de o grande ganhador da noite, A REDE SOCIAL, ser um ótimo filme, mas não ter despertado em mim e em várias outras pessoas uma paixão. O legal foi que, com a vitória do filme de David Fincher, não sobrou espaço para nenhuma premiação para A ORIGEM, de Christopher Nolan. Outro ponto positivo da noite foi o apresentador, novamente Ricky Gervais, que deu um show com ótimas piadas. Chamar, por exemplo, Bruce Willis de pai do Ashton Kutcher foi uma ótima tirada. A apresentação inicial de Gervais até podia ter durado mais, de tão agradável que é. Nesse sentido, o Globo de Ouro está ganhando do Oscar.

O prêmio que mais me deixou feliz foi o de Jim Parsons, o Sheldon de THE BIG BANG THEORY. Quando a sua companheira de série chegou ao palco para apresentar a premiação de melhor ator em comédia, eu já suspeitei que Parsons ganharia. E ela ficou super-feliz quando abriu o envelope e gritou o nome do amigo. Outro momento emocionante foi o do discurso de Melissa Leo, que ganhou pelo filme O VENCEDOR, de David O. Russell. Mas a essa altura todo mundo já estava com a cabeça cheia de champanhe e a festa foi ficando mais animada.

Das novas séries de televisão, BOARDWALK EMPIRE chegou para tirar um pouco do favoritismo de MAD MEN, que nos anos anteriores estava ganhando todas. Até Steve Buscemi ganhou o seu prêmio. E GLEE confirmou seu favoritismo no terreno das comédias ou musicais, ganhando melhor série e melhor ator coadjuvante (Chris Colfer). Estava torcendo para Julia Stiles, a coadjuvante dessa última temporada de DEXTER, mas ela perdeu para Hope Davis, de THE SPECIAL RELATIONSHIP. E falando em atrizes queridas, bom ver Claire Danes (por TEMPLE GRANDIN), Laura Linney (THE BIG C) e Natalie Portman (CISNE NEGRO) ganhando seus prêmios. Ainda que não tenha visto esses trabalhos, essas atrizes são tão boas e queridas que é difícil não torcer por elas.

O momento mais esperado da noite, a homenagem pelo conjunto da obra a Robert De Niro, acabou sendo um pouco fria. O clipe de três minutos cobrindo a carreira do ator não ficou tão bom. O pessoal que faz o Oscar é muito melhor nesse quesito. Quanto ao discurso de De Niro, ele até fez uma piada envolvendo ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA COM A FAMÍLIA, dizendo que é preciso sobreviver, por isso que ele acaba aceitando fazer essas tranqueiras. Enfim, é um grande ator que está passando por um período muito ruim nas telas. Mas o que vale é o passado glorioso, no caso. E esperemos que sua próxima associação com Martin Scorsese reacenda o grande ator que ele é.

Outro momento legal foi o fato de CARLOS, de Olivier Assayas, ter ganhado o prêmio de melhor minissérie ou telefilme, disputando com títulos americanos. Isso só me fez lembrar o quanto eu estou postergando a apreciação dessa obra. YOU DON'T KNOW JACK, filme estrelado por Al Pacino e que deu o prêmio ao ator, também despertou o meu interesse. Enfim, são tantos os filmes e tão pouco o tempo para vê-los. E esses filmes para televisão, geralmente eu sinto vontade de vê-los, mas o tempo passa e eu acabo não vendo.


Prêmios da noite

Cinema

Melhor Filme - Drama - A REDE SOCIAL
Melhor Filme - Comédia ou Musical - MINHAS MÃES E MEU PAI
Melhor Diretor - David Fincher (A REDE SOCIAL)
Melhor Roteiro - Aaron Sorkin(A REDE SOCIAL)
Melhor Ator - Drama - Colin Firth (O DISCURSO DO REI)
Melhor Atriz - Drama - Natalie Portman (O CISNE NEGRO)
Melhor Ator - Musical ou Comédia - Paul Giamatti (BARNEY'S VERSION)
Melhor Atriz - Musical ou Comédia - Annette Benning (MINHAS MÃES E MEU PAI)
Melhor Ator Coadjuvante - Christian Bale (O VENCEDOR)
Melhor Atriz Coadjuvante - Melissa Leo (O VENCEDOR)
Melhor Canção Original - "You haven't seen the last of me" (BURLESQUE)
Melhor Trilha Sonora - Trent Reznor e Atticus Ross (A REDE SOCIAL)
Melhor Filme de Animação - TOY STORY 3
Melhor Filme de Língua Estrangeira - EM UM MUNDO MELHOR (Dinamarca)

Televisão

Melhor série de TV - Drama - BOARDWALK EMPIRE
Melhor série de TV - Musical ou comédia - GLEE
Melhor ator em série - Drama - Steve Buscemi (BOARDWALK EMPIRE)
Melhor atriz em série - Drama - Katey Sagal (SONS OF ANARCHY)
Melhor ator em série - musical ou comédia - Jim Parsons (THE BIG BANG THEORY)
Melhor atriz em série - musical ou comédia - Laura Linney (THE BIG C)
Melhor minissérie ou filme feito para a TV - CARLOS
Melhor ator em série, minissérie ou filme feito para a TV - Al Pacino (YOU DON'T KNOW JACK)
Melhor atriz em série, minissérie ou filme feito para a TV - Claire Danes (TEMPLE GRANDIN)
Melhor ator coadjuvante em série, minissérie ou filme feito para a TV - Chris Colfer (GLEE)
Melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou filme feito para a TV - Hope Davis (THE SPECIAL RELATIONSHIP)

sábado, janeiro 15, 2011

GÊMEOS – MÓRBIDA SEMELHANÇA (Dead Ringers)



Lembro da primeira vez que vi GÊMEOS – MÓRBIDA SEMELHANÇA (1988). Foi no extinto Cine Center Um. E uma das coisas que mais me marcou foi a volta pra casa, depois da sessão. Dentro do ônibus, eu sentia uma tristeza imensa, nunca experienciada antes. E atribuía aquilo ao filme. Mas não sabia bem o porquê de um filme sobre gêmeos ginecologistas e uma mulher com um útero tricervical ter me abalado dessa maneira. E vendo o filme pela terceira vez, tive novamente essa sensação. E só hoje, terminando de ler a entrevista contida no livro "Cronenberg on Cronenberg", eu vi que não fui o único a experimentar isso. Cronenberg contou que durante uma sessão-teste, um sujeito, um médico, chegou a ele e perguntou: "Você pode me dizer por que eu me senti tão estupidamente triste vendo este filme?" E o cineasta disse: "É um filme triste".

E depois outras pessoas perguntaram a mesma coisa a ele. O que é muito estranho, levando em consideração o tema do filme. Isso não está explicitamente relacionado à ginecologia ou aos irmãos gêmeos. Mas Cronenberg conseguiu atingir o coração das pessoas com essa obra. Eu diria que teve mais a ver com o sofrimento dos irmãos, tanto de Beverly como de Elliot, no terço final do filme, que se encaminha para uma tragédia. E é interessante quando Cronenberg fala na entrevista do quanto Howard Shore, o compositor da trilha sonora, estava em sintonia com o filme, que deve muito da música para ter atingido o seu grau de excelência.

Nesta terceira vez, já estando mais íntimo com o cinema de David Cronenberg, vendo a sua obra em ordem cronológica, procurando entender as suas obsessões e também me deliciando com suas ótimas entrevistas, foi possível perceber mais detalhes que haviam ficado num canto escuro da memória. Como, por exemplo, a cena de sexo de Beverly com Claire (Geneviève Bujold), no qual ela fica amarrada com gaze e bisturis; ou as vestes estranhamente vermelhas usadas pelos cirurgiões. Mas é impressionante como, ainda assim, os filmes de Cronenberg se ajustam mais no inconsciente, na parte do cérebro que lida com os sonhos. Eu percebi isso de maneira mais forte com VIDEODROME (1983), mas também acontece em GÊMEOS...

Outro detalhe interessante do filme é que os efeitos especiais usados nos momentos que Jeremy Irons interpreta ambos os papéis são tão bons que a gente até se esquece de procurar saber como foram feitos. Mais um ponto para o filme, que é envolvente e estranho a ponto de nos deixar totalmente absorvidos. E lembro que na época Irons foi bastante elogiado por sua dupla interpretação, seja como Beverly, o mais tímido e frágil e que até carrega um nome de mulher; seja como Elliot, o mais sem-vergonha e o cara que deixa as mulheres "prontas" para o irmão, depois de dar o primeiro passo. E a relação dos dois é vista por muitos como incestuosa, ainda que seja de uma maneira, digamos, mais platônica. Mas isso é outra discussão que poderia render muito.

quarta-feira, janeiro 12, 2011

O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS (St. Elmo's Fire)



Não vou negar que o principal motivo de eu ter revisto O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS (1985) foi a presença de Demi Moore. Mesmo antes de eu me considerar um cinéfilo eu já era apreciador de sua beleza. E depois de tê-la visto tão deslumbrante no recente AMOR POR CONTRATO, contrariando as leis da física, senti uma vontade enorme de vê-la há mais de vinte anos, na década que a revelou.

E o filme dirigido por Joel Schumacher é bem representativo dessa década. Não apenas por ter sido feito em sua metade, mas por espelhar o comportamento da época. O maior problema é que eu senti falta de mais "verdade" no drama dos personagens, mas o filme é razoavelmente bem conduzido, além de ser muito bom rever o chamado "brat pack", que nunca esteve tão bem representado. Outro filme que talvez rivalize nesse aspecto é o VIDAS SEM RUMO do Coppola, pelo número de futuros astros, mas a obra de Schumacher tem mais do espírito da época.

O grande elenco, formado por Emilio Estevez, Rob Lowe, Demi Moore, Andrew McCarthy, Judd Nelson, Ally Sheedy e Mare Winningham, é simbólico de uma juventude que, em seus vinte e poucos anos, procura se adequar aos prazeres e obrigações da vida adulta. Como na vida, alguns deles são mais centrados; outros, mais inconsequentes. E os inconsequentes, os personagens de Demi Moore e Rob Lowe, revelam-se frágeis, mostrando-se menos seguros de si do que aparentam, com sua beleza e popularidade. Ele, casado, mas sem conseguir abandonar as farras e as mulheres; ela, viciada em cocaína e saindo com o patrão. Curiosamente, Demi Moore estava atravessando por um período parecido com a de sua personagem. Dizem que Joel Schumacher, durante as filmagens, teve que mandá-la embora, por ela estar muito drogada. Demi foi enviada para uma clínica de dexintoxicação para depois retornar às filmagens.

O melhor personagem talvez seja o de Emilio Estevez, que vive o sujeito apaixonado por uma antiga colega de escola (Andy McDowell), até por se mostrar em algumas situações ridículas. O personagem de Andrew McCarthy também é interessante, principalmente pela cena em que ele se declara para a namorada do amigo (Ally Sheedy), um dos pontos altos do filme. E a trilha sonora carrega um ar saudosista agradável, de fácil inclusão na memória afetiva.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

ALÉM DA VIDA (Hereafter)



Quando ALÉM DA VIDA (2010) começa, com a impressionante sequência do tsunami, um espectador desconhecedor da obra de Clint Eastwood poderá imaginar que o filme continuará tão movimentado quanto o seu início. Aos poucos, porém, ele precisará entrar no ritmo do diretor, cuja sutileza e sensibilidade em seu ofício é algo cada vez mais admirável. O filme tinha tudo para se tornar um melodrama espírita desregrado, mas o diretor sabe compor cada cena com amor. É como se, à medida que ele fosse envelhecendo (agora com 80 anos), a vida se tornasse cada vez mais preciosa. Pois, por mais que a morte esteja presente na vida de cada um dos três protagonistas, é a vida o que mais importa no filme. Nesse sentido, o filme se liga a MENINA DE OURO (2004) e GRAN TORINO (2008), que também lidam com a morte, mas no caso de ALÉM DA VIDA, principalmente com a dor de quem fica, e de uma maneira bem menos sombria.

Em ALÉM DA VIDA, há três protagonistas vivendo em três lugares diferentes. Cécile de France é a jornalista francesa que tem uma experiência de quase morte depois de ter sobrevivido ao brutal tsunami que varreu a Indonésia. De volta à França, ela não consegue trabalhar tão bem, ainda impressionada com as visões que teve. Nos Estados Unidos, Matt Damon é um vidente que se recusa a praticar o seu dom, que considera uma maldição. Assim, ele busca uma vida normal, mesmo que tenha que se contentar com sub-empregos e com a solidão. Na Inglaterra, dois irmãos gêmeos bastante unidos tentam encobrir da assistência social os problemas que a mãe tem com o vício em heroína. Acontece uma fatalidade e um dos garotos morre.

Os que dizem que o filme é irregular até têm razão, afinal, Eastwood está costurando três historias distintas, ainda que no final elas se unifiquem. E é natural que uma ou outra história se sobressaia em relação à outra. No caso, o drama mais comovente pra mim envolveu a participação de Bryce Dallas Howard, na trama do personagem de Matt Damon. Ela está linda e há uma cena com ela experimentando comida com os olhos vendados num curso de culinária que é de dar água na boca, mas a sequência seguinte, no apartamento, é de causar dor no peito e lágrimas nos olhos. Talvez o problema do filme - se é que podemos chamar de problema - seja o fato de essa subtrama da Bryce se sobrepor às demais em força e em emoção, embora também considere um ponto alto do filme o episódio do menino no metrô.

Um detalhe curioso é o fato de que praticamente todos os personagens usam o Google para procurar alguma coisa. O Google simbolizando a globalização. Não no que ela tem de pior, já que o site de busca é responsável pela união de três pessoas fadadas a estarem juntas em algum momento de suas vidas. O filme é também uma mostra do quanto o mundo ficou pequeno, de quanto as distâncias se encurtaram. E quem sabe até o amor da sua vida esteja longe, mas num longe não tão longe assim.

domingo, janeiro 09, 2011

ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA COM A FAMÍLIA (Little Fockers)



Dez anos se passaram entre o primeiro ENTRANDO NUMA FRIA (2000) e este ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA COM A FAMÍLIA (2010). O primeiro filme é engraçadíssimo, com um timing perfeito, Robert De Niro revelando-se um excelente comediante e Ben Stiller se firmando como um dos melhores astros da comédia de sua geração. O que se perdeu de lá pra cá?

Quando fizeram a primeira continuação, ENTRANDO NUMA FRIA MAIOR AINDA (2004), por mais que o filme tivesse momentos divertidos, já não era tão bom quanto o original, mesmo apelando para o aumento do número de rostos conhecidos. É como se, à medida que a franquia fosse engordando e se dando ao luxo de colocar astros sem seus nomes aparecerem nos créditos iniciais (Harvey Keitel e Laura Dern, no caso do novo filme) – além de acrescentarem uma beldade para animar a plateia (Jessica Alba) -, todo o foco que poderia ser usado para o fazer rir fosse para o ralo.

Nem mesmo a brincadeira em cima de O PODEROSO CHEFÃO ajuda e o resultado é apenas um entretenimento morno e desengonçado. Na trama, Robert De Niro percebe que precisa passar o título de líder da família Byrnes para o personagem de Stiller, Greg Focker (ou Fornika, como na tradução), o enfermeiro que ele tanto parecia odiava no primeiro filme. O responsável pela trilha sonora até usa algumas notas da trilha de Nino Rota muito discretamente, assim como também o faz com o tema de John Williams para TUBARÃO em outra cena.

Talvez a melhor cena seja a que envolve De Niro tomando um remédio para disfunção erétil. A presença de Jessica Alba é até bem-vinda, mas a atriz não teve sorte com o gênero dessa vez, ainda que sua personagem seja uma das mais importantes da trama. O bom do fracasso é que talvez esse filme tenha enterrado de vez a franquia. E se o povo reclama dos títulos brasileiros, vejam como eles são chamados em Portugal: "Um Sogro do Pior", "Uns Compadres do Pior" e "Não Há Família Pior!". Pois é. Podia ser pior.

quinta-feira, janeiro 06, 2011

A SERBIAN FILM (Srpski Film)



Tenho que confessar: gosto de violência em filmes. Gosto de sentir o sangue fervendo em momentos tensos, intensos e muitas vezes sangrentos de filmes de psicopatas e similares. Melhor isso à apatia ou a alguma fantasia que cause sonolência. Porém, alguns filmes exploitation, esses que abusam da violência e da nudez sem medo de ser feliz, esquecem da qualidade e prendem-se apenas à violência ou ao que mais possa atrair ou chocar as audiências.

É infelizmente o caso do controverso A SERBIAN FILM (2010), do sérvio Srdjan Spasojevic, filme que tem causado polêmica em vários festivais, mesmo os direcionados a filmes de horror. Trata-se de um dos filmes mais censurados dos últimos anos. Mas, afinal, o que há de tão brutal assim neste filme? Já vimos tanta violência no cinema que nada mais parece chocar. Já vimos O ALBERGUE, ANTICRISTO, IRREVERSÍVEL, ICHI - O ASSASSINO, CANNIBAL HOLOCAUST, MÁRTIRES, THE HUMAN CENTIPEDE, entre tantos outros que provocaram o público com cenas perturbadoras. Então, o que mais há para incomodar? Existem limites? É ver para crer.

Na trama, um ator pornô aposentado e na pior vive com sua bela esposa e seu filho pequeno numa vida letárgica. Até o dia em que uma de suas colegas do passado - e que agora trabalha em pornôs com animais - oferece-lhe uma proposta de trabalhar com um sujeito que está oferecendo a ele um bom dinheiro para que ele assine um contrato para um novo e ousado projeto. Apesar de achar o sujeito meio doido, ele aceita a proposta e assina o contrato, mesmo sabendo que de acordo com o contrato ele só saberá o que fará na hora. Tudo que ele precisa é estar pronto para a ação. É tudo surpresa. E é necessário que seja mesmo surpresa para que as intenções do diretor maluco sejam devidamente efetivadas. E o pobre do sujeito, que não sabe onde está se metendo, entra num submundo onde bater numa mulher enquanto ela lhe chupa é fichinha perto do que ele ainda passaria.

Pelo que eu andei lendo por aí, existe um chamado novo cinema sérvio, obcecado por sexo e violência. Outro filme que lida com esses dois elementos é THE LIFE AND DEATH OF A PORNO GANG. No caso de A SERBIAN FILM, há tantos excessos que alguns deles chegam ao ridículo, como a cena do sexo com um recém-nascido; ou previsíveis, como uma das sequências finais, com o protagonista tendo que fazer algo que não faria se não estivesse tão drogado e excitado. Outra coisa que incomoda no filme é a edição, com cortes que remetem a RÉQUIEM PARA UM SONHO. Por mais que esses recursos sirvam para o propósito do filme, não deixam de ser bem incômodos.

Mas é o tipo da coisa: assim como eu, muita gente vai querer ver o filme pela curiosidade mórbida. Eu mesmo vi por causa de uma lista de favoritos de terror de 2010 de Leandro Caraça. De todo modo, não deixa de ser um filme bem difícil de dizer se é bom ou ruim, de dar cotações.

terça-feira, janeiro 04, 2011

INCONTROLÁVEL (Unstoppable)



A nova parceria de Tony Scott com Denzel Washington, INCONTROLÁVEL (2010), é tão divertida que dá a impressão de que o filme anterior dele, O SEQUESTRO DO METRÔ 123 (2009), foi apenas um ensaio para o que ele faria com mais este filme envolvendo trens. No caso do novo trabalho, em vez de um ladrão terrorista, temos um trem desgovernado por um erro humano. Erro do maquinista bobalhão vivido por Ethan Suplee, que até já tem cara de bobão - e deve ser por isso que só pega esse tipo de papel.

Na trama, Chris Pine é um jovem que inicia o trabalho num trem com o veterano vivido por Denzel Washington. Enquanto o rapaz, com problemas judiciais envolvendo a esposa, está começando no trabalho, Denzel exibe a sua experiência e o amor que tem pelas duas filhas adolescentes. O que os dois não sabiam é que naquele primeiro dia de trabalho juntos teriam que deter um trem desgovernado contendo substâncias explosivas e prestes a destruir uma cidade. Na verdade, a decisão de bancar o herói da história é inicialmente de Denzel, que planeja pegar o trem pela parte traseira e fazer com que ele diminua a velocidade, mesmo que isso custe as suas vidas. A tensão é constante e o filme se sustenta com esse fiapo de trama, mas com uma direção bem conduzida de Tony Scott.

O cineasta, que já foi desconsiderado por boa parte da crítica anos atrás, tem ganhado cada vez mais simpatia, à medida que seus filmes vão mostrando a sua boa mão para thrillers. Ainda que seja difícil superar o excelente DEJA VU (2006), uma obra muito mais ambiciosa, INCONTROLÁVEL segue de maneira humilde o seu status de "VELOCIDADE MÁXIMA em um trem" com competência. E o cineasta tem diminuído a mania de usar muitos filtros, câmera tremida, muitas cores, fotografia estilizada e número excessivo de cortes. Ainda assim, no caso de INCONTROLÁVEL, esses recursos até que são bem vindos. O filme ainda conta com o bom desempenho de Rosario Dawson, como a controladora dos trens. E vale destacar também a ótima utilização da cobertura televisiva do evento, que dá ao filme, principalmente em seus momentos finais, um clima de empolgação geral.

P.S.: E os rankings de 2010 continuam. Dessa vez, podemos conferir os favoritos do ano de Quentin Tarantino.

domingo, janeiro 02, 2011

AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES?



É sempre bom quando um filme ou uma série desperta em nós aquele sentimento de paixão inebriante que parece ter ficado para trás. Mesmo que este sentimento seja passageiro e fruto apenas de uma identificação com algo do passado e que muito provavelmente sairá da nossa memória em poucos dias ou horas. Ainda assim, como não se apaixonar vendo Paola Oliveira mais linda do que nunca ao som de "A whiter shade of pale", a versão clássica do Procol Harum? Essa canção tem algo que mexe com os corações da gente já de ouvirmos os primeiros acordes do órgão. E não há como não se lembrar do uso da mesma canção no segmento de Martin Scorsese em CONTOS DE NOVA YORK.

Se no curta de Scorsese, o clássico do Procol Harum é mais usado como canção de dor de cotovelo, em AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES? (2010), a minissérie de Luiz Fernando Carvalho, a música também serve como trilha sonora para as noites de amor. A primeira vez que ela é apresentada é quando André Newman, o personagem de Michel Melamed, leva para o seu apartamento aquela que seria a mulher da sua vida: Lívia (Paola Oliveira). A identificação com o personagem é imediata. Afinal, quem não gostaria de estar na pele dele naquela hora? E a câmera cheia de filtros de Carvalho ajuda a tornar aquela ambientação ainda mais onírica.

O problema de mais este trabalho de Carvalho é que mais uma vez ele exagera nas cores, nas luzes, nas pretensões. E no final das contas, pelo menos na maioria das vezes, ele não se sai muito bem, já que o meio da minissérie é só pra "encher linguiça" como uma telenovela, com personagens totalmente desnecessários, que só servem para mostrar coadjuvantes de luxo, como Tarcísio Meira, no papel do pai de André. Por outro lado, é de se dar o braço a torcer à coragem que Carvalho tem de fazer episódios totalmente anticomerciais, como um em que é quase que inteiramente cantado. E incrivelmente chato, por mais que o suspense da primeira aparição da personagem de Letícia Spiller cause alguma emoção. A participação de Vera Fischer como a mãe de André também não tem um momento sequer de real importância na história e o personagem de Rodrigo Santoro até que faz algum sentido, mas no final tudo o que interessa, pelo menos a meu ver, é a relação de André com as mulheres e a presença sempre luminosa de Paola.

Na trama, André e Lívia se conhecem. Ele é um estudioso de psicologia que se dedica a escrever um livro que dá título à minissérie. Lívia é uma artista plástica que sente falta de uma maior presença do marido. E como ele se dedica tanto ao seu trabalho, ela vai embora. Casa-se com um homem rico (Dan Stulbach), descrito como um homem perfeito (embora eu veja ali um completo babaca), enquanto André, mesmo triste, procura conhecer outras mulheres. Ele conhece uma moça russa linda (Bruna Linzmeyer), entre outras beldades, mas nenhuma que conquiste o seu coração de fato. A ausência de Lívia está sempre presente.

AFINAL, O QUE QUEREM AS MULHERES? poderia ter menos de seis episódios, já que os do miolo são bem chatos. Tanto que eu aposto que a série deve ter perdido muitos pontos de audiência ao longo das semanas. Mas, ao que parece, a Globo, ainda que não tenha retorno financeiro com isso, parece querer continuar investindo nos trabalhos de Luiz Fernando Carvalho, que deve ter seus fãs. Eu não estou entre eles, mas dessa vez, com a Paola Oliveira como destaque, não tive como resistir. E não me arrependi, já que o final é bonito e tem momentos de arrepiar.

P.S.: O site Pipoca Moderna publicou a sua lista de melhores filmes de 2010 e os de melhores filmes brasileiros também. Eu, como enxerido que sou, estive presente nas duas votações. Confiram o resultado e as listas individuais!

sábado, janeiro 01, 2011

A NOITE DAS TARAS



E vamos começar 2011 falando de coisas excitantes. Era pra ser "excitantes" no sentido mais amplo do termo, mas como o filme em questão trata de sexo, o sentido vai mais para o aspecto erótico mesmo. Antes de mais nada, o que mais me deixou de queixo caído neste A NOITE DAS TARAS (1980) foi a beleza exuberante de Matilde Mastrangi. Ela participa do segundo segmento deste filme produzido por um dos mais importantes homens da pornochanchada da Boca do Lixo, David Cardoso.

Trata-se de mais um daqueles gostosos filmes em segmentos, obras "três em um", dirigidos por diretores diferentes, a exemplo do AS SAFADAS, que eu vi no ano passado. A NOITE DAS TARAS começa com o segmento "A Carta de Érico", de John Doo. Nesse episódio, o futuro Bozo Arlindo Barreto precisa entregar uma carta para uma mulher que ele não conhece. Enquanto ele fica na dúvida se sobe ou não para o edifício da moça, ela (Patrícia Scalvi) procura diversas formas de se suicidar em seu apartamento. Claro que para se suicidar ela precisa frequentemente tirar a roupa. Esse segmento tem uma atmosfera bem peculiar e um clima de certa tensão, muito por causa da trilha sonora, da presença de Scalvi e da boa montagem.

"Peixe Fora d’Água" é o episódio dirigido pelo próprio David Cardoso e que traz a espetacular beleza de Matilde Mastrangi. Ela interpreta uma mulher que leva um marinheiro para sua casa com um objetivo que ele ainda não sabe bem o que é. Mas a mulher é gostosa demais para se deixar passar. E para convencê-lo a participar de um crime, ela faz de tudo. E tudo no sentido sexual da coisa quer dizer um bocado. Engraçada a dublagem dos capangas do grupo de Matilde. Feita pela turma que dublava desenhos animados nos anos 70.

O episódio que encerra A NOITE DAS TARAS é o mais representativo do título. "Júlio e o Paraíso" é dirigido pelo mestre dos filmes eróticos Ody Fraga. Um velho marinheiro vê um grupo de jovens hippies pedindo uma grana para comer. Ele lhes paga um jantar e depois as garotas o levam para o apartamento delas. A intenção das meninas é matar o homem de tanto fazer sexo. Impressionante o limite entre o erótico e o pornográfico que Fraga cruza com esse episódio. O cinema brasileiro, definitivamente, já foi mais gostoso. O sucesso de A NOITE DAS TARAS foi tanto que, dois anos depois, David Cardoso produziria A NOITE DAS TARAS II (1982), que traz como principais atrativos Vanessa Alves e... Matilde Mastrangi!

P.S.: A convite de Chico Fireman, mais de 50 tuiteiros cinéfilos participaram da votação dos melhores filmes do ano. Confiram o resultado no blog do Chico, com direito aos votos individuais de cada participante. Inclusive os meus.