quinta-feira, agosto 28, 2003

LISBELA E O PRISIONEIRO



Ontem fui para uma sessão do novo filme do Guel Arraes. Sabem o que eu mais gostei? Foi ver a sala de cinema quase lotada pra ver um filme brasileiro. Foi bom ouvir o pessoal gargalhar das situações engraçadas do filme. Tá certo que tem a máquina da Rede Globo por trás e o filme é comercial e tal. Mas o legal é que ele é uma filme de diversão popular. E no meu caso, ele foi visto num cinema popular. É como se a platéia estivesse indo para um circo ver palhaços ou para uma peça cômica.

Não teria ido com boa vontade ver o novo filme se não fosse o Jorge Furtado no roteiro (junto com Arraes e Pedro Cardoso) e Los Hermanos na trilha sonora, ainda que no filme eu não tenha ouvido quase nada da faixa cantada por eles.

Talvez o principal problema do filme é estar à sombra de O AUTO DA COMPADECIDA, que já é um filme que eu nem gosto tanto assim. Guel Arraes repetiu um monte de coisa. Além de ter escalado Selton Mello e Marco Nanini, repetindo papéis bem parecidos com o de Chicó e do cangaceiro, algumas situações são idênticas, como a cena em que Selton Mello, na cama com a mulher casada, se esconde do marido. O sotaque é o mesmo também.

Mas vamos ao lado positivo: Debora Falabella está bem bonita no papel, o filme é ágil... Mas a melhor coisa do filme é mesmo Tadeu Melo como o Cabo Citonho. Pra quem só conhece ele como um arremedo de Zacarias no programa do Didi, vai ter uma surpresa em vê-lo tão engraçado.

O humor é bem ingênuo, circense, e ao mesmo tempo com uma tendência a mostrar sensualidade. Pelo menos até o que se pode de um filme censura livre.

A piada sobre cornos é bem coisa de nordestino mesmo. Lembro de um cara que mora lá perto de casa e que só fala de corno, faz brincadeiras desse tipo. Alguns exemplos:

Corno 120: Vê a mulher fazendo um 69 e vai correndo pro bar tomar 51

Corno 7 de setembro: Aquele que a mulher só dá bandeira.

Corno Abelha: Vai pra rua, faz cera e chega em casa cheio de mel

Corno Amnésia: Esse sabe que é corno mais não se lembra

Corno Analfabeto: Esse leva os bilhetes da mulher para o Ricardão

Corno Arquivado: É o corno que conseguiu o divórcio

Corno Ateu: Aquele que leva chifre e não acredita

Mais dessas bobagens no site Brega Puro

quarta-feira, agosto 27, 2003

FESTIVAL TAKASHI MIIKE



Puta que pariu!! É o que mais a gente fala vendo alguns dos filmes desse doido de pedra chamado Takashi Miike. Principalmente o mais violento de todos os filmes que eu já vi: ICHI THE KILLER. Todos os filmes ainda estão inéditos no Brasil e parece que ICHI não saiu nos EUA por causa da violência extrema. Vou comentar três filmes do homem, vistos, mais uma vez, graças ao amigo Fab Rib. Já tinha visto um filme desse diretor: AUDITION (2000), que tenho em DVD importado.

ICHI THE KILLER (Koroshiya 1)

O que diriam de um filme que mostra um homem cortando a própria língua para pagar um débito com a máfia? Essa cena talvez seja a mais absurdamente doentia do filme, mas ainda tem muito mais. ICHI THE KILLER (2001) ainda tem uma cena de tortura envolvendo ganchos que penduram um homem pelo couro das costas e o desgraçado ainda recebe óleo quente de camarão frito (!!!); uma mulher tendo seus mamilos arrancados aos gritos; um homem tendo seu lado da bochecha arrancado com as mãos; um outro que mata as vítimas deixando seus corpos em pedaços e fica de pau duro quando vê sangue; um homem que arranca um braço do outro com as próprias mãos... Melhor parar por aqui. E o pior é que ainda sobra tempo pra história. E a história é um pouco intricada e deu até vontade de começar a ver de novo pra entender melhor. Mas tem que ter coragem pra ver de novo, porque, sinceramente, não acredito que exista filme mais violento que esse. Fico imaginando um filme desses passando no cinema. A quantidade de pessoas deixando a sala deve ser enorme. Dois personagens são muito interessantes: Ichi, um rapaz meio retardado que mata as pessoas violentamente depois de hipnotizado; e Kakihara, o sado-masoquista braço direito do chefe da gangue, que tem os lados da boca cortados e presos por piercings. Esse último personagem é realmente assustador. E depois falam da cena de tortura de CÃES DE ALUGUEL, do Tarantino... Eles não viram nada.

FUDOH - THE NEW GENERATION (Gokudô sengokushi: Fudô)

FUDOH (1996) é também bem violento, tem litros de sangue espirrando pela tela, mas como o tom do filme é comédia, a coisa fica bem mais leve. Esse é o tal filme que ficou famoso por ter uma garota que atira dardos pela boceta, e ainda esconde um segredinho que não vou contar aqui. Na história, um garoto da família Fudoh, vê seu pai matando o próprio filho e arrancar a cabeça para pagamento de dívidas com a máfia. Ele cresce e planeja se vingar daqueles responsáveis pela morte do irmão. O filme é totalmente irresponsável: mostra garotinhos de menos de dez anos atirando com armas (quem reclamou de CIDADE DE DEUS deve repudiar esse filme), jogando futebol com a cabeça de um homem como bola e participando da gangue de Fudoh. A tal garota que atira dardos é bem sexy. Só vendo, hein. No filme, Miike manda pro espaço a ética e mostra a família despedaçada. Mas o tema "família" vai aparecer mais forte em VISITOR Q (2001).

VISITOR Q (Bizika Q)

Esse curiosamente acabou sendo o filme mais agradável do Miike. Agradável de se ver, de se acompanhar. Apesar de ter cenas de pai transando com filha, filho espancando a mãe, pai transando com uma mulher morta, sadomasoquismo, mãe jorrando leite dos peitos a litros. (Isso me lembrou da bizarrice de AGUA QUENTE SOBRE PONTE VERMELHA, do Shohei Imammura, que mostra uma mulher que jorra litros d´água quando goza. Hehehe). Pois bem. Apesar de tudo isso, o filme é incrivelmente leve. Faz oposição direta ao peso e à violência explícita de ICHI THE KILLER. O tema de Miike dessa vez é a família, a base familiar. Há, por incrível que pareça, uma moral nessa comédia surrealista. Mas é uma moral distorcida, coisa da mente doentia de Miike mesmo. Hehehe.. Também gostei de ter visto o filme em divx, com imagem muito boa em fullscreen. Dá até pra assistir com uma certa distância do computador, como se fosse mesmo uma tv de 14 polegadas. As legendas grandes ajudaram. Um detalhe que incomoda é o fato do pudor que os japoneses tem em mostrar a genitália. Incomodam aquelas bolinhas nas cenas de nudez. Soube depois que isso acontece porque é proibido, é crime mostrar a genitália ou os pêlos pubianos nos filmes japoneses. Bela canção que toca no final. No IMDB há vários comentários elogiosos dos usuários.

segunda-feira, agosto 25, 2003

AMENÁBAR E MACKENDRICK



Salvaram o fim de semana (além dos filmes do Miike que comento depois) dois filmaços que vi em vídeo, gravados pelos chapas Fab Rib e Renato Doho. São dois filmes que quase nada têm em comum entre si, a não ser o fato de serem bons pra cacete.

MORTE AO VIVO (Tesis)

Eu já virei fã de Alejandro Amenábar logo nos primeiros minutos de OS OUTROS - na minha opinião, o melhor filme exibido em 2001. OS OUTROS é um filme de terror à moda antiga que assusta de verdade. TESIS (1996) é uma ótima estréia em longa do diretor. O filme mantém o interesse até o final, cheio de suspense. Tá certo que o tema ajuda, né? "Snuff movies" são sempre objeto de interesse pra quase todo mundo. A história: uma estudante de cinema prepara uma tese sobre a violência nos filmes. A coisa esquenta de verdade quando uma fita que mostra uma morte real de uma ex-estudante da faculdade vai parar em suas mãos. Os clichês são bem trabalhados e ora a gente acredita que fulano é culpado, ora outro. Ótimo suspense, excelente timing. Esse filme é melhor que o seguinte de Amenábar, o ABRE LOS OJOS (1997). Inclusive um dos atores do filme - Eduardo Noriega - está nos dois filmes. E considero um ponto positivo o filme não mostrar as cenas de tortura e morte que os personagens vêem na tela da tv. Já bastava eu ter visto ICHI THE KILLER um dia antes. Hehehe. Comparando com outro cineasta latino especialista no gênero fantástico - Guilhermo Del Toro - Amenábar é muito melhor.

EMBRIAGUEZ DO SUCESSO (Sweet Smell of Success)

Que filmão esse, hein! Certo dia estava folheando umas revistas de cinema antigas e numa delas tinha votações da crítica dos melhores filmes de todos os tempos. EMBRIAGUEZ DO SUCESSO (1957), de Alexander Mackendrick estava lá entre os cinqüenta, se eu não me engano. E talvez seja merecido. É um exemplo de contar uma história de uma maneira moderna. Não há um narrador contando desde o início a história pra você. È pegar o bonde andando, com muitos eventos já acontecendo e as coisas se explicando aos poucos. Aliás, ninguém explica nada. Você é que vai entendendo a trama aos pouquinhos. Isso é instigante, excitante. Os dois atores principais são dois filhos da puta, que gostam de dominar os outros em benefício próprio. Tony Curtis é o assessor de imprensa do poderoso colunista Burt Lancaster. E não vou dizer mais nada porque bom mesmo é ver o filme sem saber de nada, como eu vi. A fotografia do lendário James Wong Howe é de primeira. A música do filme é dez. Dá vontade da gente ir pra um desses clubes de jazz esfumaçados e encher a cara. Seria o caso de conhecer mais filmes de Mackendrick??

domingo, agosto 24, 2003

THE SMITHS - THE COMPLETE PICTURE


Nesses dias de tristeza, falta de grana e de amor, me sinto como se estivesse voltando no tempo há 10 anos, quando a vida não fazia muito sentido. Pelo menos, pra mim, que me achava um excluído pela sociedade por causa de meus próprios temores. Naquele tempo, comecei a cursar inglês e comecei a tirar o atraso em relação às bandas de rock de décadas passadas, que eu não pude conhecer durante os anos 80. Foi nessa época que eu conheci Beatles e conheci também Smiths, banda que foi muito importante pra mim por causa da identificação imediata que tive. As letras falavam de dificuldade de adaptação ao mundo, de timidez, de solidão. Aquilo ali era perfeito pra mim. Não era querer me lamuriar, me afundar mais ainda na minha tristeza. Era querer ficar feliz (ou relativamente feliz) em saber que alguém do outro lado do Atlântico também sente o que você sente. Era como se eu tivesse vendo um filme do Woody Allen, em certo sentido.

O que a Legião Urbana de Renato Russo fazia aqui no Brasil, os Smiths faziam na Inglaterra. Assim como Renato Russo dizia "quero ouvir uma canção de amor, que fale da minha situação" (Em "O mundo anda tão complicado"), Morrissey dizia "Hang the dj, because the music that they constantly play says nothing to me about my life" (em "Panic"). No fundo o que existia naquele momento era uma necessidade de extravazar suas angústias através de canções românticas no melhor estilo byroniano. Comento sobre isso por ocasião de uma fita gravada pelo amigo Ernando (já há algum tempo) do dvd THE COMPLETE PICTURE, contendo videoclipes da mais inspirada banda de Manchester. Os videos presentes no dvd/fita vêm com close captions em inglês pra gente acompanhar, cantando junto. Eis as faixas:

"This Charming Man" - Morrissey canta rodeado de flores por todo lado. (Até lembra o clipe da Legião para "Perfeição", só que menos mórbido.) A canção fala de falta de dinheiro e de sentir-se um marginal. Adoro o ritmo dela. Uma das mais dançantes da banda.

"What Difference Does it make" - A banda toca num lugar cheio de luzes, como uma discoteca dos anos 80. Morrissey de óculos e o famoso topete. A canção fala de preconceito, de sacrifícios que uma pessoa apaixonada faz e do amor que resiste apesar de tudo.

"Panic" - A imagem está puxada, fazendo um widescreen forçado. Gosto das cores do vídeo. Há a cor da guitarra que destoa da cor geral, coisa que o Oasis também fez num clipe. A mensagem da canção eu até já comentei lá em cima.

"Heaven Knows I´m Miserable Now" - Esse video está muito parecido como o de "What Difference...". A letra fala da tristeza que vem depois do porre, da fuga da realidade que não adiantou muito e temas do tipo. Não é das minhas favoritas.

"Ask" - talvez a melhor canção sobre timidez já feita. É um video que já tem um roteiro, um cuidado visual maior e não apenas a banda tocando. Um dos mais belos da coletânea. Dirigido pelo cineasta Derek Jarman.

"The Boy with the Thorn in His Side" - Morrissey cantando com a palavra "bad" escrita no pescoço. Bem mais efeminado do que o costume. Hehehe. De novo, é o mesmo visual de "What Difference.." e de "Heaven Knows...".

"How Soon Is Now? - a canção mais climática dos Smiths. Novamente, o tema é a timidez. A frase "I am human and I need to be loved" é clássica. Talvez o melhor dos videos da coletânea. Tem uma excelente edição, cores caprichadas, uma garota bonita, imagens das fábricas da Inglaterra naquele clima "foggy". Excelente.

"Shoplifers of the World Unite" - antes do Jane´s Addiction convidar as pessoas para roubar super-mercados, os Smiths já fizeram isso. Dá até pra lembrar da Winona Rider. Um hino politicamente incorreto. O clipe é só a banda tocando.

"Girlfriend in a Coma" - excelente canção pop e um dos melhores trabalhos de Johnny Marr. Foi escrita para o álbum "Strangeways, Here we Come", que destaca mais Marr do que Morrissey, tal a sofisticação musical do guitarrista na época. O clipe mostra Morrissey cantando e ao fundo uma fotografia em preto e branco de uma garota.

"Sheila Take a Bow" - outro clipe mostrando apenas a banda tocando. Dessa vez em tons azulados. Na canção, Morrissey dá conselhos pra uma garota pessimista.

"Stop me if you think you´ve heard this one before" - Outro vídeo caprichado. Morrissey mostra que é fã de Elvis Presley, passeia com a camiseta da capa de "The Queen is Dead" junto com a banda. Detalhe: todos no clipe usam óculos - tanto a banda quanto os meninos que aparecem. Belíssimo o finalzinho: "nothing´s changed/ I still love you/ Only slightly less than I used to/ My love".

"The Queen is Dead" - a faixa título do disco mais festejado da banda recebeu um vídeo dos bons. Mistura temas de natureza universal, como a solidão, com outros temas bem ingleses. Tanto que começa com uma canção tradicional inglesa.

"There is a light that never goes out" - uma das minhas canções favoritas. Costumava cantarolar constantemente na época da faculdade. O vídeo é bonito, em tom sépia. Adoro o ultra-romantismo da letra que fala do privilégio de morrer num acidente de carro com a pessoa amada.

"Panic" - outro vídeo dessa canção. Dessa vez não mostra a banda tocando. Há uma fotografia em preto e branco, câmera tremida, Londres pichada, fogo, um homem beijando uma caveira. Bem interessante. Derek Jarman na direção.

Tenho impressão que ainda tinha um curta-metragem dirigido por Derek Jarman, mas o cara não gravou. Mas não tenho do que reclamar. Agora o que eu queria mesmo era ver o dvd de videoclipes do Morrissey, que até agora só saiu lá fora, mas andei checando e está muito mais recheada. Chama-se Oye Estebán.

quarta-feira, agosto 20, 2003

WINTERBOTTON, PREMINGER, YIMOU E SCHRADER



Solução econômica para cinéfilo quebrado: ver os filmes gravados da tevê acumulados em fitas empilhadas no meu quarto. Comento brevemente quatro filmes vistos recentemente.

BEM VINDO A SARAJEVO (Welcome to Sarajevo)

Michael Winterbottom está no auge da popularidade: ganhou o Urso de Ouro em Berlim esse ano pelo seu filme IN THIS WORLD (já tem título nacional?), está em cartaz nos cinemas brasileiros pelo festejado A FESTA NUNCA TERMINA e está tendo seus filmes apresentados no Telecine. Eu, como não tenho o canal, não estou podendo conferir a filmografia do homem.

Mas tinha em casa gravado BEM VINDO A SARAJEVO (1997), um dos filmes mais famosos dele. A primeira impressão, vendo os primeiros minutos do filme, é que ele é um filme com muitos personagens, mas que não se aprofunda em nenhum. O filme demora a dizer a que veio e a centrar a história no drama do personagem Michael (Stephen Dillane) e na sua luta pra adotar uma garota de 9 anos, evitando assim que ela morra durante a guerra da Bósnia. Ele é um dos jornalistas responsáveis pela cobertura da guerra. Fiquei na dúvida se a menina que interpreta a Emira (Emira Nusevic) é mesmo a Emira verdadeira, já que o filme é baseado numa história real, conforme se fica sabendo no final.

Woody Harrelson e Marisa Tomei também estão no elenco, formado em sua maioria por pessoas da região (Bósnia, Sérvia, Croácia, Macedônia). Winterbottom também utiliza imagens documentais, até já conhecidas pra quem viu telejornal na época. Há, por exemplo, a imagem daqueles rapazes esqueléticos presos no campo de concetração feito pelo Milosevic. Há depoimentos dos presidentes americanos George Bush (o pai) e Bill Clinton. Bush é igual ao filho: "Não dá pra negociar com terrorista.", ele diz. Sei lá. Vai ver ele tem razão nesse ponto.

Gravado da Warner.

CARMEN JONES

Musical de 1954 de Otto Preminger, baseado na ópera CARMEN de Bizet. È uma versão americana da ópera, cantada em inglês, e com um elenco inteiramente de atores negros e transposta para os EUA da Segunda Guerra Mundial. Os protagonistas são Dorothy Dandrigde - uma espécie de Marilyn Monroe negra dos anos 50 - e Harry Belafonte.

O ruim foi ver o filme dublado e mutilado. Não que eu tenha gostado muito do filme (prefiro outros de Preminger), mas é que ele foi feito em cinemascope e a dublagem em português quando os personagens estão falando destoa demais de quando eles estão cantando, com o som original e legendas. Podiam ter passado inteiramente legendado.

Outra coisa que incomoda e tira um pouco o realismo é o fato de só ter atores negros. Pô, nos quartéis do exército da 2a Guerra só tinham negros? E nas ruas também? Tá certo que Woody Allen só usa atores brancos nos seus filmes, como alfinetou Spike Lee certa vez, mas pelo menos ele fala de um universo que ele vive: a classe alta intelectual nova-iorquina. Pra quem gosta de ópera, pode ser que curta mais do que eu.

Gravado da Globo.

NENHUM A MENOS (Yi ge dou bu neng shao )

Filme do chinês Zhang Yimou que até lembra um pouco o cinema iraniano, falando de crianças muito pobres de uma escola do interior. A história: garota de 13 anos é chamada para substituir o professor da escola, mesmo sem ter habilitação para isso. No começo, ela sente muita dificuldade de "domar" as crianças e de evitar a evasão, mas depois passa a ganhar a simpatia e a confiança dos pestinhas. O filme ganha mais dramaticidade quando um dos garotos abandona a escola e vai pra cidade e ela vai em busca dele.

(Vendo o filme, até me lembrei das minhas primeiras aulas em escola. Um horror. Não sabia como fazer pra calar a boca daquele povo. Acho que hoje as coisas estão melhores pra mim, ganhei mais segurança.)

Yimou se especializou mesmo no melodrama, hein. Talvez ele seja o grande mestre do gênero atualmente. Difícil conter as lágrimas no final. Mesmo assim, NENHUM A MENOS (1999) é inferior a CAMINHO PARA CASA (1999), a JU DOU (1990) e principalmente a TEMPOS DE VIVER (1994), o meu favorito. Não entrei no clima de LANTERNAS VERMELHAS (1991), o seu primeiro sucesso comercial no Brasil. Talvez revendo...

Gravado da Globo.

ESTRANHA PASSAGEM EM VENEZA (The Comfort of Strangers)

Quando eu sei que tem filme de Paul Schrader na tv, faço questão de gravar pra conferir. Gosto dos seus trabalhos. Um cara que dirigiu HARDCORE (1979), GIGOLÔ AMERICANO (1980), A MARCA DA PANTERA (1982), MISHIMA (1985), O SEQÜESTRO DE PATTY HEARST (1988) e TEMPORADA DE CAÇA (1997) não pode ser menosprezado. Sem falar nos roteiros para grandes filmes do Scorsese como TAXI DRIVER, TOURO INDOMÁVEL e A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO. Para 2004 está previsto EXORCIST IV: THE BEGINNING, a ser dirigido por ele. Quem sabe ele dá um gás na franquia.

ESTRANHA PASSAGEM EM VENEZA (1990) tem no elenco Ruppert Everett, Natasha Richardson, Christopher Walken e Helen Mirren. Everett e Natasha são dois namorados que vão para Veneza para reavaliar o relacionamento, que não anda muito bem. Até encontrarem com um estranho casal (Walken e Mirren) que mexem com suas vidas, no mal sentido. Veneza é mostrada como um lugar labiríntico e sinistro. O final deixa dúvidas sobre que mensagem o filme quer passar, mas o clima de mistério do filme é ótimo. E com um elenco desses...

Gravado da TNT.

segunda-feira, agosto 18, 2003

UZUMAKI



Com essa história de conhecer cinema oriental, acabei conhecendo coisas que jamais imaginaria existir. UZUMAKI (2000), filme dirigido pelo estreante Higuchinski é inspirado no mangá homônimo de Jungi Ito. Além de conferir o filme, tive a sorte de conhecer também o mangá, disponível para download na internet.O filme, em certos momentos, é exatamente igual ao mangá, tanto na história quanto no visual, nos enquadramentos, no clima. (Bom, eu acho o mangá muito mais assustador.)

A história é muito louca, o que dá até pra questionar a sanidade dos japoneses. Hehehehe. Numa cidade do interior do Japão, um homem fica obcecado por espirais, quer seja visto através de um caracol, de cachos de cabelos ou de um pirulito. A coisa vai crescendo a níveis insuportáveis e o terror toma conta da cidade, cada vez mais amaldiçoada pelo espiral. Não vou contar mais nada da história, já que só vendo a doideira que é o filme pra ter certeza de que isso existe.

UZUMAKI foi comparado ao surrealismo de David Lynch e ao visual dos filmes Tim Burton e Jean-Pierre Jeunet. O visual do filme realmente é muito bonito e os efeitos especiais estão caprichados. Nem parece a economia de recursos de RINGU, só pra citar um filme de terror japonês conhecido.

O filme é inédito no Brasil e consegui vê-lo graças ao Fab Rib, que copiou o DVD importado do Leandro.

Ficou curioso? Pegue uma amostra grátis do mangá aqui.
AMARELO MANGA/MAY



A crise financeira continua andando a passos largos e me sinto como se tivesse entrando num funil, de tão apertada que está a situação. Com isso, minhas idas ao cinema estão diminuindo consideravelmente. Vi um único filme no fim de semana. Dei prioridade ao brasileiro AMARELO MANGA. Por outro lado, a pirataria saudável de filmes pegos pela internet e vistos em computador só tem crescido. Hehehe.

AMARELO MANGA e MAY são filmes bem diferentes, mas os dois têm pontos em comum. Ambos são de diretores iniciantes, cheios de frescor e vitalidade e com muito tesão de fazer filme pra marcar logo de cara. Faz até a gente lembrar dos primeiros filmes de Peter Jackson e Sam Raimi, antes deles começarem a dirigir blockbusters. Tanto AMARELO MANGA quanto MAY não são filmes leves, podem não cair no gosto comum. Os dois são filmes de horror, sendo que o brasileiro fala do horror de cada dia, escondido ou exposto no boteco mais próximo. Comento um pouco de cada filme.

AMARELO MANGA

O filme de Cláudio Assis é vibrante, manda o cinema convencional e bonitinho tomar no cu logo nos primeiros minutos e traz de volta o cinema nacional mal comportado. Ainda bem. A história tem vários personagens e Assis soube dar unidade ao filme, soube trabalhar com um elenco excepcional, que não se incomodou em participar desse show de horrores. Tem o cara que gosta de cadáveres (Jonas Bloch), o homossexual obstinado (Matheus Nachtergaele), o matador de bois (Chico Diaz) que tem uma mulher crente que odeia traição (Dira Paes), a garçonete enjoada (Leona Cavalli), a gorda asmática, o padre esquisito, entre outros. De todos esses atores, quem deu um show mesmo foi Dira Paes. Excelente performance. Sem falar que, com sua beleza cabocla, ela é a única coisa de bonita que existe nesse filme, cheio de gente feia, podridão e miséria. A trilha sonora está ótima, feita pelos astros da musica pop pernambucana Fred Zero Quatro, Nação Zumbi e Otto. Vão ver o filme, nem que seja pra odiá-lo, xingar o diretor e os jurados dos vários festivais que o premiaram.

MAY

Taí outro filme estranho com gente esquisita. May (Angela Bettis) é uma garota esquisita que tem um olho vesgo e se apaixona por um rapaz (Jeremy Sisto). E principalmente por suas mãos. Ela tem uma amiga lésbica (a gracinha Anna Faris, de TODO MUNDO EM PÂNICO) que a assedia. Ela não oferece muita resistência. Pena que o filme não tem muitas cenas de beijo das duas. Hehehe. O filme tem alguma semelhança com CARRIE, A ESTRANHA (1976) e POSSUÍDA (2000), dois filmes que trazem uma personagem feminina freak. O barato de MAY é que o horror pega mesmo o espectador já que ele começa como um drama de jovens fora do padrão. Legal a homenagem a Dario Argento. O personagem de Jeremy Sisto é um diretor iniciante fanático pelos filmes do mestre. Até usou no final de um de seus curtas "Regia di" em vez de "Directed by". O final é muito foda e tem certas cenas que realmente dá vontade de virar a vista. Eu tenho um especial medo por cenas envolvendo olhos e esse filme mexeu com os meus nervos. O diretor do filme chama Lucky McKee e pelo que eu vi no IMDB ele só fez um filme anteriormente: ALL CHEARLEADERS DIE. Parece que o cara é dos bons. O filme foi visto em divx, cortesia do amigo Fab Rib. MAY até o momento está inédito nos cinemas, nas locadoras e na tv.

sexta-feira, agosto 15, 2003

O IMPÉRIO DO DESEJO



Ontem, ao voltar pra casa depois do trabalho, dei uma passadinha numa locadora meio fuleira aqui do Centro da cidade, só pra ver como é que estava o acervo lá. Quando eu já estava indo embora, dou de cara com uma fita que me despertou logo a atenção. O IMPÉRIO DO DESEJO, filme raro de se encontrar em locadoras, aqui pertinho, no Centro, onde geralmente não tem muito filme legal. Não sei como que há mais de dez anos que visito a dita cuja, nunca vi esse filme nas prateleiras. Acho que porque ele estava antes na seção de filmes pornôs. E o legal é que a fita está em excelente estado de conservação. O meu vídeo, geralmente "fresco" pra fitas velhas (não rodou AMOR VORAZ, do Khouri), rodou a fita sem nenhum problema.

Do texto escrito na contra-capa da fita da Look Video, reproduzo o último parágrafo:
"Humor, ação e muito sexo explícito numa formulação perfeita, que vai prender sua atenção desde o início."

Sexo tem sim. Mas explícito, eu não vi, não.

O IMPÉRIO DO DESEJO é uma pornochanchada dirigida por um dos grandes cineastas desse país: Carlos Reichenbach. Reich e Khouri são os cineastas brasileiros que mais me despertam interesse em conhecer a obra completa. Império é bem diferente dos outros filmes dele que vi da fase madura(ANJOS DO ARRABALDE, ALMA CORSÁRIO, DOIS CÓRREGOS), mas ainda assim vê-se o seu lado autoral em cada cena. A política e o sexo parecem ser uma constante nos seus filmes, em menor ou maior escala. Pelo menos até onde eu pude ver.

Para não falar muita besteira, andei lendo uns textos que procurei no Google. Não são muitos. Os melhores são textos do próprio Carlão e alguns outros da Contracampo, escritos pelo Daniel Caetano, que parece ser um entusiasta da cinematografia nacional. Li e reli sobre o cinema da boca do lixo, sobre o início das pornochanchadas, sobre o cinema cafajeste e malicioso, sobre o deboche em cima dos costumes da sociedade da época da ditadura militar.

O IMPÉRIO DO DESEJO (1980) é um filme anárquico de verdade. Tem fusão de gêneros como nos filmes de Godard, tem personagens que entram e saem sem aparentemente ter muita utilidade na trama, muita gente tirando a roupa, orgias, swing. Por falar em swing, melhor do que ver filmes contemporâneos que tratam do tema da "libertinagem" dos anos 70, como TEMPESTADE DE GELO, de Ang Lee, é ver autênticos filmes da época. As pornochanchadas são espelhos daquele período de sexo livre, drogas, rock and roll e vontade de fazer socialismo.

O filme é muito agradável de se ver. As cenas do canibal de branco são de um humor negro dos mais estranhos. Principalmente se vistos dentro de uma comédia erótica. Os personagens são muito legais: o casal de hippies, a dona da casa e o seu namorado boçal, o velho que se descobre bissexual, os dois bandidos desastrados, que parecem saídos de desenhos animados (um deles tem a voz do dublador do Fred Flintstone), as mulheres gostosas e sempre ávidas por sexo.

Os diálogos são bem espirituosos. Gosto da cena em que uma intelectual vai querer ensinar o hippie como se comportar numa transa. Engraçado e excitante. Gosto da cena do Nick (o hippie) com ciúme da namorada que estava transando com o velho na sala. Já tô com saudade do filme. Agora é esperar a sorte de um dia ver os outros títulos da filmografia do Reich.

quinta-feira, agosto 14, 2003

8 MULHERES (8 Femmes)



Como aconteceu com KAMCHATKA, acabei vendo 8 MULHERES depois que saiu de cartaz no Espaço Unibanco. Como o filme voltou em cartaz no Shopping Aldeota, fui lá conferir, pra ver o que tinha perdido. Pra uma comédia musical misturada com "filme de adivinhar quem matou quem", dois gêneros que geralmente não curto, até que eu gostei bastante. Outra coisa que foi pro ralo com esse filme foi o preconceito que eu tinha com a música francesa. Achava toda canção francesa cafona. As canções são as melhores coisas do filme, junto com a interpretação do time de atrizes.

Aliás, um time de atrizes e estrelas desse nível, não vi em filme nenhum. Vou falar um pouquinho de cada uma delas.

1. Catherine Deneuve - talvez a mais famosa do filme. Hoje não está tão bonita - o tempo é impiedoso - mas ela era uma das mulheres mais desejadas do mundo nos anos 60 e 70, quando fez A BELA DA TARDE, TRISTANA, REPULSA AO SEXO, entre outros. No filme de Ozon, ela está bem, mas encontra concorrentes à altura.

2. Isabelle Huppert - é talvez a grande atriz do cinema francês atual. A mulher é um espetáculo. Quem viu A PROFESSORA DE PIANO sabe do que estou falando. A cena que mostra ela cantando e com as lágrimas descendo é um dos destaques de 8 MULHERS.

3. Emmanuelle Béart - talvez a mais bonita no filme. Ela faz a empregada, por isso não aparece tão produzida. Está linda em CIÚME - O INFERNO DO AMOR POSSESSIVO e A VIAGEM DO CAPITÃO TORNADO.

4. Fanny Ardant - ainda é uma mulher bonita. Está ótima no filme. O filme mais importante dela talvez seja A MULHER DO LADO, de François Truffaut.

5. Ludivine Sagnier - No filme, ela é só uma garotinha. Nem parece aquela gostosa cheia de sex appeal do filme anterior de Ozon - GOTAS D'AGUA EM PEDRAS ESCALDANTES. Em GOTAS..., só de lingerie, ela está um arraso. A boa notícia é que o próximo de Ozon - SWIMMING POOL - também vai trazer a moça. Oba!

6. Danielle Darrieux - Olhando no IMDB, acho que não vi nenhum filme dessa senhora, que nasceu em 1917. Deve ter sido notável na juventude. Ela chegou a protagonizar uma versão de O AMANTE DE LADY CHATTERLEY em 1955. Em 8 MULHERES ela é a matriarca da família que é chegada a umas doses de álcool e uma das personagens mais engraçadas.

7. Virginie Ledoyen - ela faz a jovem e bonita Suzon. Esteve em A PRAIA, filme com Leonardo DiCaprio.

8. Firmine Richard - Não conheço. Ela faz a outra empregada da casa.

Todas no filme tem um segredo e o que acontece é uma grande lavagem de roupa suja. O homem assassinado nunca é mostrado de frente. Mesmo nos flashbacks, ele é visto só de costas. Todo o filme acontece dentro da casa.

Do diretor François Ozon já tinha conhecido GOTAS D'AGUA EM PEDRAS ESCALDANTES, que é um deboche só. O clima debochado também impera em 8 MULHERES. Vai ver é uma característica dele, que tenho impressão que é gay, já que nos dois filmes a temática homossexual aparece com destaque. É um diretor que merece atenção.

PS: Cliquem nos links de A PRAIA e SWIMMING POOL para verem as fotos.

quarta-feira, agosto 13, 2003

IRREVERSÍVEL (Irréversible)



Asssisti ontem ao polêmico filme de Gaspar Noé. Consegui baixar pela internet. Primeira vez que eu baixei um longa-metragem pela net. E também a primeira vez que consegui ver um filme completo, sem dar pausa, pelo computador. Uma prova de que o filme pode ser qualquer coisa, menos chato.

Realmente IRREVERSÍVEL é bem violento. Talvez o filme mais violento que eu já vi. Ou pelo menos ficaria num top 5 se eu fizesse um hoje. Além da famosa cena de estupro de Monica Bellucci, há uma cena bem mais forte, em que Albert Dupontel esmaga a cabeça de um homem com um extintor de incêndio. A cena é bem forte. Mas a violência sexual na persoangem de Bellucci chega a ser mais incômodo, por levar mais tempo. É um exercício de tortura para o espectador. IRREVERSÍVEL é filme pra deixar os seus batimentos cardíacos mais rápidos.

Narrado de traz pra frente, como AMNÉSIA, de Christopher Nolan, o filme começa bem hardcore, pra depois ir se acalmando no final. A idéia do filme de trás pra frente pode também ser vista no curta PALÍNDROMO, de Philipe Barcinski (um dos melhores curtas que eu já vi); no excelente videoclipe do Coldplay para a canção "The Scientist"; num episódio da série ARQUIVO X; e até num episódio do SEINFELD, que infelizmente eu ainda não pude conferir e fico aguardando a reprise na Sony. Vê-se que a idéia não é totalmente nova ou original. Mas o pulso que Noé dá ao seu filme é digno de nota. E a violência inicial ganha sentido à medida que o filme se encaminha para o final/começo.

Monica Bellucci nunca vi tão bonita. Interessante que ela já tinha feito um outro filme em que era torturada e humilhada - MALÈNA (2000). Vai ver ela gosta da idéia. No próximo ano poderemos vê-la como Maria Madalena no filme THE PASSION, de Mel Gibson.

Quer tentar baixar o filme também? Clique aqui.

terça-feira, agosto 12, 2003

HAYNES, WILDER E IRMÃOS FARRELLY



Comento a seguir três filmes. LONGE DO PARAÍSO foi visto no cinema; os outros dois, na telinha.

LONGE DO PARAÍSO (Far from Heaven)

Ótimo filme de Todd Haynes (VENENO, VELVET GODMINE). Em 1995 Haynes já tinha trabalhado com Julianne Moore em A SALVO, filme que infelizmente ainda não vi. LONGE DO PARAÍSO tenta resgatar o clima e a maneira de se fazer melodrama nos anos 50, ao estilo Douglas Sirk. Por falar em Sirk, ando devendo a mim mesmo ver mais filmes desse diretor, considerado um mestre do gênero. O único filme de Sirk que vi foi SUBLIME OBSESSÃO (1954), que já dá pra perceber seu estilo.

A história: Julianne Moore é uma mulher casada que tenta manter as aparências e parecer sempre feliz e simpática. Na verdade, ela é uma mulher mal amada e que é casada com um marido homossexual não assumido(Denis Quaid). Ao mesmo tempo, sofre o preconceito da sociedade hipócrita e preconceituosa por ter saído com um jardineiro negro (Dennis Haysbert, sempre com jeitão de gente boa, a exemplo de seu papel de presidente em 24 HORAS.)

O filme foi feito para recriar o melodrama americano dos anos 50, desde os créditos até o tradicional "The End". Isso, de certa forma, deixa o filme um pouco artificial, já que Haynes está seguindo uma fórmula. Mas é tudo tão bem feito e agradável que não dá pra não se render ao filme. Julianne Moore, nem é preciso dizer, é um espetáculo de atriz. Talvez sem ela o filme não fosse tudo isso que é. Só achei que fosse chorar com o filme, o que não aconteceu.

A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (The Big Carnival / Ace in the Hole)

Por falar em drama dos anos 50, ontem vi mais um filme do grande Billy Wilder, gravado da BAND. A MONTANHA DOS SETE ABUTRES (1951) traz Kirk Douglas como um jornalista inescrupuloso que acha que notícia que vende é notícia ruim e é capaz de tudo para se promover. Um dia, viajando pelo deserto dos EUA, encontra um homem que está preso numa caverna que desmoronou e torna as coisas mais dramáticas ainda para que virem notícia. O filme vai ficando melhor a cada minuto até o seu final, chapante. Pode não ser tão bom quanto CREPÚSCULO DOS DEUSES, mas isso seria quase impossível.

Estava vendo no IMDB a filmografia dele e percebi que vi poucos de seus filmes, mas todos os que vi são excelentes.

Tinha visto apenas 5 filmes dele, a maioria, comédias:

CREPÚSCULO DOS DEUSES (1950)
O PECADO MORA AO LADO (1955)
QUANTO MAIS QUENTE MELHOR (1959)
SE MEU APARTAMENTO FALASSE (1960)
A INCRÍVEL SUSANA (1942)

Agora é esperar que lancem a filmografia dele em DVD e, de preferência, com montes de extras.

KINGPIN - ESTES LOUCOS REIS DO BOLICHE (Kingpin)

Se nos anos 50, tinha-se Billy Wilder, com comédias cheias de classe; nos 90 e 00 temos os irmãos Farrelly. Não foi bem uma evolução. Hehehe. Mas eu gosto bastante das comédias da dupla. QUEM VAI FICAR COM MARY? (1998) já é um clássico e o melhor filme deles. Mais atrás vem, em ordem de preferência, O AMOR É CEGO (2001), DEBI & LÓIDE (1994) e EU, EU MESMO E IRENE (2000). KINGPIN (1996) é um filme menor dos caras.

Mesmo assim, estão lá as piadas politicamente incorretas, ainda que mais leves. No filme, Woody Harrelson é um hábil jogador de boliche que perdeu a mão e que escolhe Randy Quaid, um Amish tímido e que pratica boliche escondido de seus familiares, para participar do campeonato nacional de boliche. Como a família está passando por dificuldades financeiras, ele topa participar do campeonato para conseguir o dinheiro necessário. Destaque para a ótima participação de Bill Murray. O filme é meio bobo, mas é bem divertido. Gravado de uma sessão da tarde da Globo.

segunda-feira, agosto 11, 2003

CONFISSÕES AMOROSAS (Ten Tiny Love Stories / Women Remember Men)



Acima estão quatro das beldades que embelezam o filme de Rodrigo Garcia. Da esquerda para a direita: Radha Mitchell, Kimberly Williams, Alicia Witt e Deborah Unger.

Um pouco do background das quatro musas:

- Radha está brilhante no primeiro filme de Marc Forster, que eu já comentei aqui: GRITOS NA NOITE.
- Kimberly Williams tem como filme mais famoso a nova versão de O PAI DA NOIVA (1991).
- Alicia Witt pode ser vista em VANILLA SKY, AMOR À SEGUNDA VISTA e CECIL B. DEMENTED.
- Deborah Unger é talvez a mais conhecida das quatro. Quem viu CRASH não vai esquecer dela nunca. Especialmente por causa da primeira cena de sexo do filme. Ela ainda pode ser vista em O JOGO, SUNSHINE e HURRICANE.

O filme ainda tem as atrizes Kathy Baker, Lisa Gay Hamilton, Debi Mazar, Elizabeth Peña, Rebecca Tilney e Susan Traylor.

Garcia, filho do grande escritor colombiano Gabriel Garcia Marquez, prova o seu talento em falar da alma feminina. Nesse filme, ele apresenta apenas depoimentos de experiências amorosas narradas de frente pra câmera por cada uma dessas mulheres. Algumas histórias são ótimas, outras nem tanto.

A história que eu mais gostei foi a narração de uma primeira transa. Outra história muito boa: a da mulher negra que se sentiu abusada e rejeitada numa noite por um homem. As melhores histórias são as primeiras. Ótima também a narrada por Kimberly Williams, uma gracinha. É uma história longa, mas que prende muito a atenção.

Quem viu o filme anterior de Garcia, COISAS QUE VOCÊ PODE DIZER APENAS OLHANDO PARA ELA, com certeza, vai ficar curioso pra ver mais esse filme desse talentoso e jovem diretor.

Gravado pelo Renato do canal Telecine.
VIAGEM A SALVADOR E KAMCHATKA



Cheguei ontem de Salvador. Como o dinheiro tá cada vez mais raro, tive que economizar bastante. Foi uma viagem normal, mas bem legal. O curso foi bom. Só achei meio chato no começo, que tive que ler sentenças judiciais. Um saco essa linguagem de advogado. Me dá logo sono.

Gostei do hotel em que o curso se realizou no segundo dia: o Hotel Tropical, cinco estrelas, onde ficou hospedado o Michael Jackson. Chique o negócio, hein? hehehe..Já o hotel que eu fiquei, passa longe de ser chique. Hehehe. Mas é bem localizado, lá na ladeira da Barra.

Filmes, só vi um mesmo. O argentino que eu tinha deixado passar aqui em Fortaleza.

Nas três noites, fui para o Shopping Iguatemi de lá, que é grande e fácil da gente se perder. Sempre que entro lá, me perco.

Infelizmente não deu pra eu me encontrar com o Chico Fireman. Até falei com ele por telefone na sexta, mas no sábado não consegui entrar em contato com o homem. O celular não atendia e ele não estava em casa. Fica pra próxima, então.

Mesmo sem poder gastar, ainda gastei com um sapato, e no aeroporto, levei EVANGELION #16 e DYLAN DOG # 9. Aliás, DD tá ficando ruim pra caramba, hein. Nesse último número, a edição faz uma homenagem à PSICOSE, de Hitchcock, com participação de Norman Bates e tudo. Hehehe.. A personagem Marion Crane aparece com o nome de Janet Crane (mistura de Marion Crane com Janet Leigh, a atriz que morre no chuveiro no filme). Até parece que é boa, mas não é.

Legal ter conhecido dois sujeitos muito bacanas no curso:

- John é um maranhense que mora em Salvador há 12 anos e que até hoje não conseguiu se adaptar à cidade. Sonha em morar em Fortaleza. Puxei conversa com ele quando vi ele lendo revista em quadrinhos. Gente que gosta de comics só pode ser legal. Conversamos sobre quadrinhos Marvel e DC anos 80, cinema americano antigo e rock and roll.
- Luiz era o sujeito engraçado do curso. Fui às compras com ele no shopping. Ele ainda me chamou pra eu conhecer o Morro de São Paulo, perto de onde ele mora, que dizem ser um dos lugares mais bonitos da Bahia. Mas com grana curta, a gente fica sem disposição pra esse tipo de turismo.

Lá em Salvador há várias salas dedicadas ao circuito de arte, onde dá pra se ver filmes alternativos por preços até legais. Aqui infelizmente só tem o Espaço Unibanco e as mirradas sessões de arte, que custam bem caro.

Vou falar um pouquinho do filme argentino agora.

KAMCHATKA

Não sei como é que eu tinha deixado passar um filme tão legal quanto esse de Marcelo Piñero. Talvez por não ter gostado tanto assim do filme anterior dele, PLATA QUEMADA, que era uma espécie de "Bonny e Clyde gay". KAMCHATKA mostrar que o diretor tem uma puta habilidade de construir boas imagens, bons diálogos, emoção. O elenco é claro que ajuda: Cecilia Roth (TUDO SOBRE MINHA MÃE, UMA NOITE COM SABRINA LOVE), Ricardo Darin (O FILHO DA NOIVE, NOVE RAINHAS) e as duas crianças do filme, todas excelentes. Acho que esse é o melhor filme do ano no quesito interpretações. É tudo feito com extrema delicadeza, sem exageros nas seqüências dramáticas, mas ainda assim extraindo uma sensibilidade que leva às lágrimas. A história fala de uma família que é perseguida pelo regime militar da Argentina e que se esconde numa casa de campo. Muito bonito o amor materno de Cecilia Roth, a atenção do pai e do avô da criança, a família unida em momentos atribulados. Ajuda o filme ter toda essa atmosfera terna o fato de ser narrado pelo garoto. E que final! Que imagens! Excelente. Uma grata surpresa. É o melhor filme argentino que eu já vi. E um dos melhores filmes do ano. Imperdível.

quarta-feira, agosto 06, 2003

DUAS METRÓPOLES



Recentemente, curioso pra ver o anime METROPOLIS, aluguei junto o clássico de Fritz Lang para poder ver as semelhanças entre as duas obras e começar a tirar o atraso que eu tenho na obra de Lang. Na verdade, os dois filmes são bem diferentes. Têm pontos em comum, mas há muitas diferenças. O ruim foi que eu peguei esses DVDs quando não estava muito bem para me concentrar. Então, já fiquei com uma má impressão dos dois filmes logo de cara. Por isso, demorei pra vê-los. Vi tudo em pedaços, o que não é a melhor maneira de se ver um filme, mas se eu não fizesse isso, não teria visto os dois trabalhos. Comento a seguir os dois filmes separadamente.

METROPOLIS (1927)

O filme de Lang não fez a minha cabeça. Achei cansativo, com uma moral meio esquisita e com um personagem principal com cara de babaca. Sem falar nas tradicionais oscilações de luz, presentes em quase todo filme mudo. Mas METRÓPOLIS tem mais problemas do que, por exemplo, os filmes do Chaplin, que não envelheceram tanto. A história tem um quê de Romeu e Julieta, de Shakespeare, mostrando o amor do filho do homem mais rico de Metrópolis por uma moça pertencente às classes mais baixas da sociedade, a dos trabalhadores braçais, que ficam escondidos na parte subterrânea da cidade. Achei meio confusa a idéia que Lang quis colocar no filme: afinal, os trabalhadores não devem mesmo se rebelar contra os maus tratos? Se eles fizerem isso eles sofrerão as conseqüências? Meio estranho. Tanto é que Hitler até convidou Lang pra ser o cineasta de propaganda nazista do Terceiro Reich. Felizmente, Lang rejeitou a proposta e durante a Guerra ele fugiu para os EUA para fazer uma carreira bem sucedida. Hoje ele é cultuado como um dos gênios do cinema. Talvez eu tenha começado mal com a filmografia de Lang, mas isso não diminuiu nem um pouco a vontade que eu tenho de me aprofundar na sua obra. Ah, a trilha sonora, produzida nos anos 90, ficou muito boa, com excelente sincronização com a imagem. Nem parece a vez que eu vi EM BUSCA DO OURO, do Chaplin, com uma trilha chata e totalmente dissonante com o filme.

METROPOLIS (2001)

É até covardia eu ter visto esse desenho em longa-metragem, logo depois de ter visto CHIHIRO e EVANGELION. Resultado: não curti o filme e nem a história me comoveu, apesar de ela ser bem melhor do que a do filme de Lang. O filme foi dirigido por Rintaro (no IMDB tem escritoTarô Rin), foi baseada nos mangás de Ozamu Tezuka (que eu não conheço) e tem roteiro de Katsushiro Otomo, o diretor de AKIRA (1988). O filme, com certeza, é melhor apreciado na telona, já que é muito bem desenhado e cheio de detalhes. A parte técnica é impecável. A semelhança com o filme de Fritz Lang é que no anime existe uma cidade super-desenvolvida que sobrevive graças à massa de trabalhadores injustiçados. As semelhanças param por aí. No anime, o filho do homem mais rico é avesso aos robôs e é o vilão da história. Vendo os extras do DVD, vi que esse personagem não existia nos quadrinhos de Tezuka. A parte mais bonita do filme é a robozinha que conquista o coração de um rapaz e que sofre de tristeza por causa de sua condição inumana. A música do filme é jazz de Nova Orleans, típico da década de 20, época do filme de Lang. É um bom filme com final apocalíptico. Só não me conquistou.

segunda-feira, agosto 04, 2003

EXTERMÍNIO (28 Days Later...)



Ontem fui assistir EXTERMÍNIO e, embora tenha gostado do filme, não gostei o tanto que esperava. Pra mim, o melhor filme de terror do ano ainda é O CHAMADO, do Verbinski. E o melhor filme do Danny Boyle ainda é COVA RASA. Mas EXTERMÍNIO é um bom filme. A fotografia em câmera digital feita pelo mesmo cara que fotografou FESTA DE FAMÍLIA do Dogma 95 e a trilha sonora fora do comum para filmes do gênero faz do filme uma obra única.

Boyle soube aproveitar bem as idéias de George Romero para a trilogia dos mortos e fez um trabalho quase que original. Sobre os filmes do Romero, percebe-se em ordem a influência de cada filme da trilogia. A seqüência da chegada à casa de Frank tem um quê de A NOITE DOS MORTOS-VIVOS; a parte da invasão ao shopping center remete diretamente ao DESPERTAR DOS MORTOS; e a parte da chegada ao "quartel" homenageia DIA DOS MORTOS, inclusive com um zumbi que lembra bastante o zumbi Bub do filme do Romero. Gostei do final. Boyle não é tão cruel quanto Romero. Tanto com relação ao final, quanto na exposição das cenas gore. (Romero mostrava as tripas expostas à toda luz.)

O ruim pra fim foi ter que ficar agüentando quatro marmanjos falando o tempo todo durante a projeção, rindo e reclamando do filme. Felizmente os quatro saíram da sessão com meia-hora de filme. Já foram tarde. Curiosamente, havia vários senhores e senhoras idosos que assistiram ao filme até o fim, sem nenhum problema.

Estranho como ultimamente tenho visto filmes que tratam sobre o "fim do mundo" ou a iminência dele. No dia anterior, eu tinha visto EXTERMINADOR DO FUTURO 3. E no mesmo dia, vi também METRÓPOLIS, de Rintaro. Ainda teve EVANGELION, o anime japonês, com final apocalíptico, e a guerra iminente da série 24 HORAS. Esses países desenvolvidos (EUA, Japão, Inglaterra) devem estar morrendo de medo de perder tudo o que conquistaram.

domingo, agosto 03, 2003

T3, THE PLEDGE E TAPE



Cheguei há pouco do Iguatemi. A idéia inicial era ver EXTERMÍNIO no North Shopping, mas tiraram a sessão de 7 da noite e lá fui eu pegar um ônibus pro shopping dos ricos. Acabei vendo T3 mesmo. Não sei se já falei, mas ver filmes numa sala dessas da UCI é outra coisa. É tudo muito bom. O som, a imagem, o conforto das cadeiras. O ruim mesmo é o preço. Um copo de refrigerante de 500 ml custa R$ 3,50!!!! Absurdo. Eu vou na praça de alimentação e no Mini Kalzone a mesma coca custa R$ 1,50. Dois reais de diferença. Fala sério, hein. Vou comentar dois filmes que vi no cinema e um que vi na tela pequena.

O EXTERMINADOR DO FUTURO 3 (Terminator 3: Rise of the Machines)

"John Connor. It is time."

É o velho Schwarza de novo num filme de vergonha. Desde TRUE LIES, em 1994, que ele não fazia um filme que prestasse. E foi voltando com o personagem T-800 que ele parece que vai se reerguer. O filme é surpreendentemente bem legal. Eu não esperava nada, já que esse negócio de exterminador já tinha esgotado. Mas Jonathan Mostow trouxe fôlego novo e fez um filme bem ágil e divertido. Quase tão bom quanto os dois de James Cameron. Nick Stahl está bem como John Connor e Claire Danes é muito boa, bem mais madura. Nem parece a menininha de ROMEU + JULIETA. A nova exterminadora é muito bonita, mas fez tão bem o papel que em certos momentos chega a assustar. Gostei das cenas de quebra-quebra dos carros na estrada. Parece que eles quebraram montes de carros mesmo. Quase não dá pra perceber CGI nessas cenas. O final também é muito legal. Deu até vontade de ver uma continuação. E nem iria precisar do Schwarzeneger.

A PROMESSA (The Pledge)

Sean Penn é foda. O cara deveria dirigir mais filmes. Em A PROMESSA ele quebra montes de clichês e faz um filmaço. Jack Nicholson tem o seu melhor papel em anos. Melhor até do que o de AS CONFISSÕES DE SCHIMT. O começo do filme até lembra. Ele faz um personagem que está pra se aposentar também. A diferença é que no filme de Penn ele é um policial, que resolve investigar durante as suas últimas horas antes da aposentadoria o assassinato de uma garotinha. Por causa da promessa que ele faz à mãe da garota de pegar o assassino, suas férias prolongadas acabam indo pro brejo. O filme tem um elenco de respeito. Além de Nicholson, aparecem na tela Vanessa Redgrave, Robin Wright Penn, Benicio Del Toro, Aaron Eckhart, Mickey Rourke, Harry Dean Stanton e Sam Shepard. Além da trama do assassino, o filme ainda focaliza a velhice, tema já mostrado antes no curta que ele fez para o projeto 11 DE SETEMBRO.

AMARGO REENCONTRO (Tape)

Richard Linklater já é um dos meus diretores favoritos por causa de filmes como ANTES DO AMANHECER e WAKING LIFE. Nesse filme de baixo orçamento ele, munido de duas câmeras (eu acho), três atores e um quarto, mostra novamente porque é o rei dos diálogos. Desde Woody Allen que não vejo um cineasta com tal habilidade. Ele faz um filme tenso, envolvente, claustrofóbico. E com a ação se passando toda entre quatro paredes. Não dá pra dizer muita coisa pra não estragar a surpresa de quem vai ver o filme um dia, mas adianto que o filme tem Ethan Hawke e Robert Sean Leonard como dois amigos que se encontram depois de muito tempo pra resolver alguns grilos do passado. Achei muito legal ver esses dois atores novamente, já que eu tenho especial carinho pelo tempo em que os dois fizeram SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. Ethan Hawke era o garoto tímido. Sean Leonard era o idealista e apaixonado por teatro. Em TAPE, eles fazem papéis totalmente diferentes. A esposa de Hawke, a bela Uma Thurman, também aparece para embelezar o filme. Mais um filme da fita que o Renato gravou pra mim.