sábado, dezembro 31, 2011

TOP 20 2011 E O BALANÇO DO ANO

1. A PELE QUE HABITO, de Pedro Almodóvar
2. ALÉM DA VIDA, de Clint Eastwood
3. UM LUGAR QUALQUER, de Sofia Coppola
4. A ÁRVORE DA VIDA, de Terrence Malick

5. MEIA NOITE EM PARIS, de Woody Allen
6. CÓPIA FIEL, de Abbas Kiarostami
7. O VENCEDOR, de David O. Russell
8. AS CANÇÕES, de Eduardo Coutinho

9. SOBRENATURAL, de James Wan
10. MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO, de Paul Feig
11. GIGANTES DE AÇO, de Shawn Levy
12. MELANCOLIA, de Lars Von Trier

13. TUDO PELO PODER, de George Clooney
14. O GAROTO DE LIVERPOOL, de Sam Taylor-Wood
15. O PODER E A LEI, de Brad Furman
16. INCÊNDIOS, de Denis Villeneuve

17. PASSE LIVRE, de Peter e Bobby Farrelly
18. LIXO EXTRAORDINÁRIO, de Lucy Walker, Karen Harley e João Jardim
19. CISNE NEGRO, de Darren Aronofski
20. SENTIMENTO DE CULPA, de Nicole Holofcener

Menções honrosas (ou filmes que quase entraram na lista): DESCONHECIDO, de Jaume Collet- Serra; TURNÊ, de Mathieu Amalric; NAMORADOS PARA SEMPRE, de Derek Cianfrance; AMOR A TODA PROVA, de Glenn Ficarra e John Requa; NÃO ME ABANDONE JAMAIS, de Mark Romanek; ATIVIDADE PARANORMAL 3, de Henry Joost e Ariel Schuman; e ANTES QUE O MUNDO ACABE, de Ana Luiza Azevedo.

Alguns filmes foram tão badalados que eu imagino que tomariam o lugar de alguns da lista acima se eu tivesse os visto. Mas como Fortaleza fica um pouco distante dos grandes centros, alguns desses títulos sequer chegam aos cinemas. Por isso, não estranhem se virem algum deles na lista de melhores de 2012. São eles: SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA (que vi em casa, por isso está lá na lista dos vistos na telinha, abaixo); TIO BOONMEE, QUE PODE RECORDAR SUAS VIDAS PASSADAS; INQUIETOS; O GAROTO DA BICICLETA; ISTO NÃO É UM FILME; ADEUS, PRIMEIRO AMOR; RISCADO; O MÁGICO; O INFERNO DE HENRI GEORGE-CLOUZOT; O CÉU SOBRE OS OMBROS.

Agora algumas palavrinhas sobre 2011. Pessoalmente, foi um ano excepcional. Tive coragem enfim de sair de uma empresa onde trabalhei por vinte anos para me dedicar a um mestrado acadêmico e arriscar uma nova vida. Estou adorando esse momento. Não que eu não gostasse da empresa, mas já fazia alguns anos que eu tentava diversas cartadas. Até que dessa vez deu certo. O mestrado está uma delícia e espero que continue assim até mesmo nos momentos mais difíceis, que são a dedicação maior à dissertação e a defesa final. Mas eu chego lá! E só por isso o ano já foi bastante especial pra mim. O que veio a mais foi lucro. Ainda estão faltando áreas da minha vida a preencher, mas isso está nos planos para 2012, que, como comentou Carlão Reichenbach, somando os números dá 5, número da invenção! Coisas boas e excitantes nos esperam.

Voltando aos filmes, 2011 foi especialmente ruim para o cinema brasileiro. Poucos filmes dignos de nota, embora alguns filmes mal vistos eu defenda numa boa, enquanto que outros muito elogiados, eu não tenha gostado. O ano também se destacou por ter bilheterias altas em coisas óbvias, como continuações de franquias e filmes sobre personagens já conhecidos. Houve também o problema do excesso de cópias dubladas nas salas, o que parece, infelizmente, que é uma tendência. E isso pode expulsar quem realmente gosta de cinema dos cinemas.

No meu top 20, uma meia dúzia de filmes são de cineastas consagrados. Pedro Almodóvar nos presenteia com sua melhor obra desde FALE COM ELA (2002). A PELE QUE HABITO é mais uma discussão sobre a questão da identidade e da sexualidade, mas num registro diferente, o horror, homenageando obras como OS OLHOS SEM ROSTO, de Georges Franju, e UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock.

Dois cineastas americanos, Clint Eastwood e Woody Allen, estão cada vez mais queridos de seu público, ainda que estejam trilhando caminhos bem distintos. Eastwood, em ALÉM DA VIDA, trilha um caminho mais sombrio, falando sobre a morte – ou sobre a vida depois da morte ou mesmo depois de uma experiência de quase morte. Enquanto isso, Allen, que já passou por momentos sombrios na década de 1990, agora respira novos ares na Europa. E é daí que sai uma beleza como MEIA NOITE EM PARIS.

Outros dois cineastas americanos, embora sejam também distintos, têm algo em comum: o fato de deixarem um pouco o roteiro de lado e se concentrarem nas imagens, no sentimento que elas podem provocar no espectador. São assim A ÁRVORE DA VIDA, de Terrence Malick, e UM LUGAR QUALQUER, de Sofia Coppola. São os melhores trabalhos de ambos e a experiência de vê-los no cinema não tem preço.

No mais, Abbas Kiarostami, com CÓPIA FIEL, dessa vez fora de seu país de origem, o Irã, nos convida a refletir sobre o original e a cópia, sobre o ato de representar e o verdadeiro sentimento. Já Eduardo Coutinho, escolhe um caminho seguro com AS CANÇÕES, mas tão belo e emocionante que, sentimental que sou, não resisti. Enquanto isso, o polêmico Lars Von Trier, baixa um pouco o tom violento de seu longa anterior, mas permanece fiel ao tema: a depressão. E nada como uma obra bastante pessoal para que a máscara caia, as lágrimas jorrem e o cinema ganhe com isso.

Entre os indicados ao Oscar 2011, destaco principalmente O VENCEDOR, um drama lacrimoso e belo sobre lutas, família e amor. LIXO EXTRAORDINÁRIO, o documentário indicado que conta com a participação do brasileiro João Jardim, é outro filme que comove os espíritos mais sensíveis. E CISNE NEGRO é uma obra bem ousada, um filme de horror travestido de drama sobre balé. Perturbador à sua maneira.

Mas o melhor filme de horror do ano é SOBRENATURAL, de James Wan. É o tipo de filme que há tempos não se via no cinema, capaz de arrepiar de verdade. Falando em assustar, um drama intenso sobre dois irmãos e uma mãe morta foi capaz de me deixar com a maior taquicardia que eu já senti num cinema. Trata-se do canadense INCÊNDIOS, de Denis Villeneuve.

Saindo do horror para as comédias, o ano teve boas surpresas. Aliás, uma grande supresa, já que a melhor comédia do ano foi uma comédia feminina! MISSÃO MADRINHA DE CASAMENTO provou para mim, preconceituoso que era, que mulher também pode fazer grandes comédias. É filme para se gargalhar do início ao fim. E ainda ter personagens consistentes. Os irmãos Farrelly também batem ponto mais uma vez na minha lista, com um de seus melhores trabalhos, PASSE LIVRE. Eles já são cadeira cativa aqui. Quase todo ano tem filme deles no meu top 20. SENTIMENTO DE CULPA não se enquadraria numa comédia, seria mais uma dramédia, dado o tom levemente dramático, dentro de uma história que lida com hipocrisia e traição.

A maior surpresa do ano pra mim talvez tenha sido GIGANTES DE AÇO, um filme bem na linha dos estúdios Disney, mas que por emular tanto ROCKY, O LUTADOR, e fazer isso de maneira tão bonita e respeitosa, fez com que a sua sessão fosse uma das mais catárticas pra mim. O PODER E A LEI é também outra surpresa, um filme "menor" que nos conquista do começo ao fim, com seu misto de drama com thriller.

Ficou faltando eu falar do thriller politizado TUDO PELO PODER, de George Clooney, que eu considero o filme que dá início a uma das melhores safras de filmes indicados ao Oscar. Espero muito estar certo. E também ficou faltando falar um pouco do emocionante O GAROTO DE LIVERPOOL, que trata da adolescência de John Lennon. Não se trata apenas de um título a engrossar a lista de filmes sobre os Beatles, mas um drama dos mais comoventes sobre a ausência e a perda da mãe. Experimente ver o filme e ouvir "Mother" depois.

Os piores

Falei demais sobre os melhores, falarei pouco sobre os piores. Como a cada ano tento ser mais criterioso, coisas como PIRATAS DO CARIBE 4 e TRANSFORMERS 3, eu passo longe. Mas não tem como a gente se livrar de certas coisas insurportáveis, chatas ou vergonhosas. Abaixo, sem o nome dos autores, para não envergonhá-los.

1. SUCKER PUNCH – MUNDO SURREAL
2. A ALEGRIA
3. RIO
4. O FILME DOS ESPÍRITOS
5. ATIVIDADE PARANORMAL EM TÓQUIO

As séries

2011 foi um ano sensacional para séries novas. A gente até se esquece das boas séries que se foram, ao entrar em contato com produções caprichadas como GAME OF THRONES, HOMELAND, THE KILLING e THE WALKING DEAD, que na verdade está na segunda temporada, mas pra mim é como se estivesse começando agora, muito melhor e mais intensa. CURB YOUR ENTHUSIASM (SEGURA A ONDA) retornou sem perder o gás; TRUE BLOOD deu uma melhorada, até porque não tinha como piorar; ENTOURAGE se despediu deixando saudades, mas com pouquinhos episódios; DEXTER teve a sua pior temporada, mas ainda tem algum fôlego para mais uma e a estreante AMERICAN HORROR STORY é um caso à parte, mas ainda assim eu a colocaria como um dos maiores destaques do ano. Quanto às minisséries, vi muito poucas, mas acho difícil encontrar uma melhor que MILDRED PIERCE.

Top 5 "Musas do Ano"

1. Bryce Dallas Howard (ALÉM DA VIDA)

2. Juliette Binoche (CÓPIA FIEL)


3. Amy Adams (O VENCEDOR)


4. Jennifer Lawrence (INVERNO DA ALMA)


5. Lucy Gordon (GAINSBOURG - O HOMEM QUE AMAVA AS MULHERES)
Ficou faltando uma brasileira na lista, mas não tem problema. Infelizmente a lista fica meio mórbida, já que uma das atrizes (a inglesa Lucy Gordon) cometeu suicídio logo após as filmagens. E ela estava tão bem, tão bonita com seus microvestidos. A nossa querida Juliette Binoche é um caso excepcional. Mesmo com o peso da idade se aproximando, ela continua maravilhosa. Entre as mais novinhas, Bryce Dallas Howard rouba as cenas em ALÉM DA VIDA, Amy Adams é o tipo de garota do bairro que dá vontade de namorar e casar em O VENCEDOR, e Jennifer Lawrence deu um show de beleza e intensidade na interpretação de seu primeiro filme de destaque. Mais virão. Inclusive, ela esteve também no elenco de X-MEN – PRIMEIRA CLASSE, a melhor adaptação de quadrinhos do ano.

Melhores vistos em DVD, DIVX ou VHS

É certo que esta lista é sempre melhor do que a lá de cima, mas isso porque entram também clássicos e filmes de diversas épocas. Em ordem alfabética, os vinte melhores vistos na televisão.

7 HOMENS SEM DESTINO, de Budd Boetticher
A ERVA DO RATO, de Júlio Bressane
A HORA DA ESTRELA, de Suzana Amaral
A SALVO, de Todd Haynes
ALEXANDRIA, de Alejandro Amenábar
ALMA SEM PUDOR, de Nicholas Ray
COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS, de Nelson Pereira dos Santos
DZI CROQUETTES, de Tatiana Issa e Raphael Alvarez
ESSENTIAL KILLING, de Jerzy Skolimowski
GEORGE HARRISON – LIVING IN THE MATERIAL WORLD, de Martin Scorsese
LEMMING – INSTINTO ANIMAL, de Dominik Moll
O AMIGO AMERICANO, de Wim Wenders
O EVANGELHO SEGUNDO SÃO MATEUS, de Pier Paolo Pasolini
O GUERREIRO SILENCIOSO, de Nicolas Winding Refn
O HOMEM QUE VIROU SUCO, de João Batista de Andrade
OS SONHOS ERÓTICOS DE UMA MULHER INSACIÁVEL, de Sergio Martino
ROCKY, UM LUTADOR, de John G. Avildsen
S. BERNARDO, de Leon Hirszman
SINGULARIDADES DE UMA RAPARIGA LOURA, de Manoel de Oliveira
TRÁGICA OBSESSÃO, de Brian De Palma

Revisões

E cada ano aumenta a lista de filmes revistos. No ano passado foram 18, este ano, 22. A grande maioria dos revistos cresceram na revisão. Apenas dois deles caíram um pouco em meu conceito.

A FLOR DO MEU SEGREDO, de Pedro Almodóvar
A RODA DA FORTUNA, de Vincente Minnelli
A VIDA DE BRIAN, de Terry Jones
BLOW-UP – DEPOIS DAQUELE BEIJO, de Michelangelo Antonioni
CHUVAS DE VERÃO, de Cacá Diegues
CLEÓPATRA, de Joseph L. Mankiewicz
CRASH – ESTRANHOS PRAZERES, de David Cronenberg
CRIMES DE PAIXÃO, de Ken Russell
EROS – O DEUS DO AMOR, de Walter Hugo Khouri
ESTRANHO ENCONTRO, de Walter Hugo Khouri
EXISTENZ, de David Cronenberg
GÊMEOS – MÓRBIDA SEMELHANÇA, de David Cronenberg
HIROSHIMA, MEU AMOR, de Alain Resnais
KUARUP, de Ruy Guerra
MISTÉRIOS E PAIXÕES, de David Cronenberg
NÓ NA GARGANTA, de Neil Jordan
NO SILÊNCIO DA NOITE, de Nicholas Ray
O HOMEM QUE SABIA DEMAIS, de Alfred Hitchcock
O MORRO DOS VENTOS UIVANTES, de William Wyler
O PRIMEIRO ANO DO RESTO DE NOSSAS VIDAS, de Joel Schumacher
ROBOCOP – O POLICIAL DO FUTURO, de Paul Verhoeven
UM CORPO QUE CAI, de Alfred Hitchcock

Feliz ano novo!

E encerro este post de final de ano desejando um excelente 2012 para todos aqueles que visitaram este espaço, sejam os que o conhecem desde o começo, sejam os novos leitores. Peço perdão se alguns escritos foram feitos às pressas ou sem inspiração, mas isso acontece. Que as musas estejam do meu lado mais vezes em 2012. Desejo um ano novo cheio de realizações, amores intensos e correspondidos, dinheiro no bolso e nas contas, saúde, paz, muitos momentos de alegria e a companhia generosa dos amigos. Amém?

P.S.: Chico Fireman também publicou em seu blog uma listinha de melhores do ano a partir de votos de uma turma de 30 blogueiros cinéfilos do twitter. Deem uma olhada no resultado!

sexta-feira, dezembro 30, 2011

A INVASORA (À l'Intérieur)



Muitas pessoas já haviam me falado da força deste filme, mas eu fiquei adiando e adiando. Até que chegou o dia em que eu queria ver um grande filme de horror. E lembrei que tinha uma cópia de A INVASORA (2007) me esperando já há algum tempo. O filme, dirigido a quatro mãos por Alexandre Bustillo e Julien Maury, é da melhor safra do cinema de horror francês. No início, o terror é mais atmosférico, próximo do sobrenatural, criado a partir do surgimento de uma estranha mulher que aparece na casa da protagonista (Alysson Paradis), grávida e prestes a seguir para o hospital na manhã seguinte para dar início ao processo de indução ao parto.

A estranha é vivida por Béatrice Dalle, atriz que já tomou muito banho de sangue em DESEJO E OBSESSÃO (2001), de Claire Denis. E já dá para notar que A INVASORA é um filme pouco recomendado para quem se incomoda com sangue e gore. Bustillo e Maury, não à toa, foram cotados para dirigirem o remake de HELLRAISER, mas infelizmente, com tanto adiamento da produção, passaram a função para Patrick Lussier, diretor nada interessante no terreno do horror americano atual.

Voltando ao filme A INVASORA, eu diria que nunca mais eu verei uma tesoura novamente sem pensar em uma determinada sequência-chave. É o momento em que o filme passa de um horror mais psicológico para um horror mais sangrento. E essa transição é talvez o instante mais doloroso. O que não quer dizer que mais coisas horríveis não aconteçam ao longo da narrativa, cujo ritmo aumenta na mesma medida que nossos batimentos cardíacos. De qualquer maneira, quem viu MÁRTIRES, de Pascal Laugier, já está mais do que pronto para encarar o filme sem medo. Ainda assim, A INVASORA não é recomendado para gestantes.

Agradecimentos ao amigo Alex pela cópia.

quinta-feira, dezembro 29, 2011

NOITE DE ANO NOVO (New Year's Eve)



Garry Marshall já ganhou a fama de dirigir essas comédias leves. Tão leves quanto algodão doce. Seu maior clássico é UMA LINDA MULHER (1990), o filme em que ele conseguiu transformar uma história de amor entre uma prostituta e um playboy em algo feito para a família, bem ao gosto dos estúdios Disney. Assim, quem for ao cinema ver NOITE DE ANO NOVO (2011) já sabe mais ou menos o que esperar. Até porque o filme já se compara a si mesmo com IDAS E VINDAS DO AMOR (2010), que o diretor havia realizado sobre o Dia dos Namorados americano, o "Valentine's Day". Inclusive, numa das sequências finais, uma personagem segura o BD do filme anterior de Marshall, numa autopropaganda bem sem-vergonha.

Uma das coisas que mais incomodam em NOITE DE ANO NOVO é a tal descida da bola no réveillon em Times Square. Eu, como não sabia da tal existência dessa bola, achei uma grande bobagem. Principalmente, quando colocam um personagem moribundo (Robert De Niro) querendo, como último desejo, ver a tal bola do terraço do hospital em que está internado. Parece comédia involuntária. De qualquer forma, o filme ajuda a entender um pouco a maneira como os americanos, em especial os nova-iorquinos, valorizam essa festa de fim de ano.

E há também aqueles que não curtem, ou dizem não curtir, como o personagem de Ashton Kutcher, que acaba se dando bem por obra do acaso, quando fica preso no elevador por horas com a personagem de Lea Michele (de GLEE). Que faz o papel de uma backing vocal do personagem do Jon Bon Jovi, que parece estar se divertindo muito com o filme. Inclusive, o melhor momento de NOITE DE ANO NOVO é a sequência musical em que ele canta pela primeira vez. Seu interesse romântico é a chefe de cozinha vivida por Katherine Heigl, que de tão acostumada que está em comédias românticas, é a que mais está à vontade no filme. Não há como não negar que ela é uma graça.

O problema é que há muitas sequências constrangedoras, como as envolvendo a personagem de Michelle Pfeiffer, por exemplo. Ela não combina como uma coroa loser. Essa não é a Michelle que eu conheci e nem quero vê-la novamente desse jeito. No mais, o filme também tem aquela coisa de valorizar o beijo na meia-noite da passagem do ano, o que não deixa de ser uma verdade quase universal. Mas a maneira como o filme mostra isso é que é meio problemática. Ainda assim, para o que se propõe, é até bobagem ficar enumerando falhas no filme. Ele cumpre o que propõe e atinge um bom número de espectadores graças ao enorme elenco de rostos conhecidos, que ainda inclui Zac Efron, Halle Berry, Jessica Biel, Carla Gugino, Sarah Jessica Parker, Abigail Breslin, Hilary Swank, John Lithgow, entre outros.

quarta-feira, dezembro 28, 2011

THE ESCAPIST



Quando Hollywood entrega uma superprodução nas mãos de um diretor semidesconhecido é sinal de que esse sujeito deve ter feito alguma coisa de muito interessante. Foi o que pensei quando vi o nome de Rupert Wyatt na direção de PLANETA DOS MACACOS – A ORIGEM (2011). O filme não tem cara de ser feito por um amador. Como também não tem a sua estreia na direção de longas, com o ótimo e inédito no Brasil THE ESCAPIST (2008).

Trata-se de um filme de prisão com um pouco mais de estilo que os convencionais. Como costumo gostar bastante de filmes de prisão, especialmente os que tratam de planos de fuga – não à toa ainda tenho saudades de PRISON BREAK -, já tive um interesse imediato por THE ESCAPIST. E o interessante é que o filme opta por uma narrativa que alterna passado e presente. Ora vemos os cinco presidiários já executando sua fuga, ora vemos o que aconteceu antes, a apresentação dos personagens, por assim dizer. Essa estrutura de idas e vindas no tempo só entrega parte do que viria, pois surpresas virão.

O elenco é um atrativo à parte. O protagonista é vivido por Brian Cox, na pele de um senhor condenado à prisão perpétua sem condicional e que quer muito ver a sua filha doente. O início, com uma canção de Leonard Cohen ("The Partisan") ajudando a emoldurar o seu rosto melancólico, é mais um dos motivos para se apreciar o filme. Completando o elenco, os amigos mais chegados Joseph Fiennes e Liam Cunningham, o responsável pela entrega de roupas e revistas vivido pelo Seu Jorge (mais uma vez muito bem em atuação internacional), Damian Lewis (de HOMELAND), como o chefe do crime da prisão, e Dominic Cooper como o novato que é ameaçado de ser estuprado por um tarado psicótico.

Com um andamento narrativo de tirar o sono e aumentar as frequências cardíacas, THE ESCAPIST foi uma das melhores surpresas deste fim de ano pra mim.

terça-feira, dezembro 27, 2011

HELENA DE TRÓIA (Helen of Troy)



O meu interesse por esse filme veio pela busca de alguma obra que se aproximasse de "A Ilíada", de Homero, que tive o prazer de ler nos últimos meses, graças ao empurrãozinho de um professor de letras clássicas da UFC. Já sabendo que ver filme depois de ler o livro geralmente é uma tarefa ingrata, fui até com boa vontade conferir este HELENA DE TRÓIA (1956), que Robert Wise dirigiu nos tempos em que Hollywood estava de volta às superproduções, graças ao advento do cinemascope e em busca de trazer de volta muitos espectadores que haviam fugido por causa da crescente popularização da televisão.

O gênero épico no cinema atingiu o ápice de popularidade justamente nesse período, da segunda metade dos anos 50 à primeira dos anos 60. Tanto nos Estados Unidos quanto na Itália. E no mesmo ano em que Cecil B. DeMille encerrou sua carreira com a obra-prima OS DEZ MANDAMENTOS, o eclético diretor de O DIA EM QUE A TERRA PAROU (1951) e A NOVIÇA REBELDE (1965) experimentou no gênero épico, na tentativa de contar em apenas duas horas a história do rapto (voluntário) de Helena por Páris até a tão famosa sequência do Cavalo de Troia. Acontece que é muito assunto para pouco tempo e o resultado é um filme todo atabalhoado. E o que é pior: muito chato.

Nem o próprio Homero, em "A Ilíada" contou a história completa. Na obra de Homero, há tempo para dramatização, para tragédia, para valorização de um herói como Heitor, por exemplo; para a dor e para o companheirismo dos homens. Em HELENA DE TRÓIA não há tempo para nada. E mesmo quando o filme fica mais tranquilo para mostrar o encanto de Páris por Helena, em nenhum momento isso é convincente. A atriz que faz Helena, a italiana Rossana Podestà, não tem lá muito carisma e sex appeal. Pelo menos, não nesse filme. Quem aparece num papel pequeno antes de virar estrela no filme é Brigitte Bardot, como a simpática escrava de Helena. Continuar falando mal do filme não vai adiantar muito, por isso, é melhor parar por aqui.

segunda-feira, dezembro 26, 2011

SEINFELD – 8ª TEMPORADA (Seinfeld – Season 8)



A oitava temporada de SEINFELD (1996-1997) foi marcada pela ausência de Larry David. Ele apenas participou como ator, de costas, no papel do chefe de George, mas desistiu de participar da equipe criativa da série. Com isso, o peso da responsabilidade ficou basicamente em cima de Jerry Seinfeld. Era o começo do fim. A melhor sitcom de todos os tempos só duraria mais uma temporada. Ainda assim, a oitava conta com alguns dos episódios mais memoráveis da série, que inclusive ficaram na boca de muita gente, como o uso do "yada yada" no meio das conversas.

A temporada anterior havia terminado com a morte da noiva de George e a oitava começa com a família da falecida querendo que ele lidere uma fundação em memória de Susan. Isso por causa de uma citação que Jerry fez de JORNADA NAS ESTRELAS II. Mas são apenas os dois primeiros episódios que lidam com a memória de Susan. O restante é bem independente. E embora a temporada seja um pouco inferior às demais, é impressionante como eles foram capazes de criar ótimos e hilários episódios.

Caso de "The Bizarro Jerry", que é quando Elaine conhece um grupo muito parecido com Jerry, George e Kramer. Há também o famoso "The Little Kicks", que além de contar com aquela famosa dança da Elaine, ainda tem a subtrama de Jerry dentro de um cinema filmando uma cópia pirata de um filme. Mas nada nos prepara para a briga de Elaine e o pai de George, como sempre impagável. Nos erros de gravação apresentados como extras do box, não tem como não se acabar de rir a cada tentativa de filmarem a cena e Julia Louis-Dreyfuss não conseguindo parar de rir. Aliás, ver os erros de gravação da série é mais garantia de gargalhadas do que os próprios episódios em si.

"The Chicken Roaster" é outro episódio memorável. A placa luminosa de um restaurante especializado em frango perturba o sono de Kramer. Outro dos meus favoritos é "The Abstinence", no qual George se torna um gênio depois que resolve deixar de fazer sexo e de se masturbar. De repente, sua inteligência aumenta consideravelmente. Um que se destaca por causa de Kramer é "The Little Jerry". Esse é o nome que Kramer dá a um galo de briga que ele resolve criar e ele passeia com o galo pelas ruas como se estivesse com um cachorro. E é aí que vemos mais uma vez a genialidade de Michael Richards no humor físico.

"The Susie" é outro desses episódios bem típicos de comédias de erros. Uma colega de Elaine pensa que ela se chama Susie e como Elaine não a corrige, isso acaba gerando confusões bem absurdas no final. "The Pothole" já lida com a mania de limpeza de Jerry, quando ele acidentalmente deixa cair na privada a escova de dentes da namorada, não avisa nada a ela e depois não quer mais beijá-la. "The Nap" é talvez um dos mais engraçados. George adora tirar um cochilo depois do almoço e prepara toda uma estrutura para isso debaixo de sua mesa de trabalho.

Só esses episódios que eu listei já são suficientes para ver que Jerry Seinfeld conseguiu se virar até que muito bem durante a oitava temporada, apesar dos desafios de estar longe do colega de criação. Meus cinco favoritos da temporada: "The Nap", "The Little Jerry", "The Pothole", "The Abstinence" e "The Little Kicks".

domingo, dezembro 25, 2011

AMERICAN HORROR STORY























Para quem gostou minimamente de AMERICAN HORROR STORY (2011), como foi o meu caso, mesmo assim é preciso pesar os prós e os contras. Antes de mais nada, se uma série foi capaz de me prender por três dias sem eu conseguir ver outra coisa a não ser o episódio seguinte, ela não deve ser assim desprezada. Tudo bem que há toda uma estratégia para atrair o espectador, já bem conhecida de quem trabalha com seriados ou novelas e isso vem desde os antigos folhetins - aliás, desde muito antes, desde antes de "As Mil e Uma Noites" -, mas ainda assim, isso é uma arte, não são todos que sabem fazer.

Além do mais, quem se sente atraído pela série é geralmente quem gosta de filmes de horror. E as referências a filmes conhecidos são inúmeras ao longo dos episódios. Vão desde as trilhas sonoras, sendo a mais conhecida a de PSICOSE, usada logo no primeiro ou segundo episódio, até referências na própria história a filmes como O BEBÊ DE ROSEMARY, OS OUTROS, O ILUMINADO, HORROR EM AMITYVILLE, entre outros. Eu diria que até a ELEFANTE, do Gus Van Sant. Jessica Lange, como a vizinha má, é talvez o grande destaque da série. Seu registro é de filme de horror mesmo, espelhada talvez em Bette Davis e Joan Crawford dos anos 1960.

Mas afinal, qual o problema com a série? O problema, inicialmente, está em um de seus criadores, Ryan Murphy, responsável por NIP/TUCK (2003-2010) e GLEE (2009-dias atuais). Séries como essas não são bem boas referências e essa foi uma das razões por eu ter hesitado em ver a série desde que começou. Mas assim como Allan Ball pode sair de uma série classe A como A SETE PALMOS e partir para uma de gosto duvidoso como TRUE BLOOD, é possível que o contrário também aconteça. Assim, não me arrependo de ter visto a temporada inteira. Ao contrário, histórias de casas assombradas sempre me prendem e queria ver como isso seria transposto para uma série, com tempo para aprofundar personagens e mitologia.

E é mais ou menos isso que a série faz. Digo "mais ou menos" porque há que se perceber que os personagens, principalmente a maioria, não são exatamente aprofundados. Eles são, no máximo, revelados. Os primeiros episódios são os melhores, pois muito ainda está para ser descoberto. De imediato, vamos sabendo que algumas daquelas pessoas que frequentemente aparecem na casa já estão mortas. E a cada episódio, um prólogo revela mais uma história da casa, desde os seus primeiros moradores na década de 1920. São histórias até bem horripilantes e os créditos de apresentação são bem sinistros.

Diria que o ápice da série está nos episódios especiais de Halloween, quando tudo parece um inferno, tanto para a família, quanto para os espíritos desencarnados e até para o próprio espectador. Depois disso, quando passamos a ver a série pelo ponto de vista dos mortos, fenômenos que nos assustariam em outros filmes, como livros que caem e coisas que se movem "sozinhas" passam a se tornar banais. A série acaba transformando todos aqueles espíritos em um grande condomínio fechado. Mas com um clima de perturbação que permanece até o fim, não muito satisfatório.

AMERICAN HORROR STORY foi indicada ao Globo de Ouro nas categorias de melhor série (drama) e melhor atriz coadjuvante em série, minissérie ou telefilme (Jessica Lange).

sábado, dezembro 24, 2011

QUATRO CURTAS



Quatro curtas totalmente distintos para este post. O primeiro tem a ver com o período natalino, o segundo é um documentário sobre uma das mais importantes estrelas do cinema produzido na Boca do Lixo, o terceiro é um curta de François Ozon feito já num período em que ele se estabilizava como diretor de longas e o quarto é um dos filmes mais importantes da história do cinema.

O NATAL DE CHARLIE BROWN (A Charlie Brown Christmas)

À procura de um filme que combinasse um pouco com o espírito natalino para ilustrar o blog, resolvi ver este desenho da turma do Charlie Brown que foi marcante por ter sido o primeiro especial de TV dos personagens das tirinhas PEANUTS, de Charles M. Schultz, a ser veiculado em horário nobre. O NATAL DE CHARLIE BROWN (1965), se não é tão bom quanto vários episódios regulares da série, pelo menos trata da tão conhecida melancolia do protagonista, que fica se perguntando por que razão não fica feliz no período do Natal e procura a sua psicanalista particular, a Lucy, para ajudá-lo. Gosto especialmente quando ele vai checar a caixa de correio e reclama que o Natal serve também para mostrar que as pessoas não lembram dele, não lhe enviando cartões de Natal. Lembro que na adolescência me identificava bastante com o personagem, tão deslocado do mundo, tão tímido, tão existencialista. Comparava o personagem com os tipos de Woody Allen, até. Nesse curta, Charlie Brown é incumbido de dirigir uma peça de teatro natalina, mas Lucy, como a moça do script, sempre procura aparecer mais do que ele. Este especial ficou famosíssimo nos EUA, a ponto de ser veiculado na televisão todos os anos no Natal desde a sua estreia. Um clássico, portanto.


RETRATOS BRASILEIROS - HELENA RAMOS


Este programa produzido pelo Canal Brasil homenageia em poucos minutos Helena Ramos, uma das rainhas da Boca do Lixo. Ela foi uma atriz que quase não fez novela – pelo que ela falou na entrevista, fez apenas duas – e se dedicou mesmo ao cinema. Ela lembra que a mídia costumava tratar o cinema como algo desmerecedor de respeito, muito provavelmente por causa das pornochanchadas. Ela conta de sua inicial recusa em participar dos filmes por causa da vergonha de ter de tirar a roupa, mas que acabou topando fazer AS CANGACEIRAS ERÓTICAS (1974). Depois, foi perdendo a vergonha e se tornando mais bela e mais ousada. RETRATOS BRASILEIROS – HELENA RAMOS (2009) mostra a Helena hoje, com o rosto bem diferente, como se fosse outra pessoa, exceto pela voz, que não mudou. Alguns filmes são citados em imagens e pela própria entrevistada. Entre eles: KUNG FU CONTRA AS BONECAS (1975), IRACEMA, A VIRGEM DOS LÁBIOS DE MEL (1979), MULHER, MULHER (1979), MULHER SENSUAL (1981) e MULHER OBJETO (1981), que é onde ela aparece mais bela. Deu bastante vontade de ver todos esses filmes.

LA PETIT MORT

No mesmo ano em que realizou GOTAS D'ÁGUA EM PEDRAS ESCALDANTES e SOB A AREIA, François Ozon fez este curta-metragem. LA PETIT MORT (2000) mostra um jovem homossexual cuja obsessão é tirar fotos de rostos de homens atingindo o orgasmo. O orgasmo é tratado, inclusive, por algumas religiões, como uma "pequena morte". Daí o título original. Não à toa, o sexo e a morte compartilham da mesma casa no zodíaco. Mas há também outra morte no filme, a morte do pai moribundo do protagonista. Um pai com quem ele não tem contato durante muitos anos e cujo reencontro será bem fora do comum.

VIAGEM À LUA (Le Voyage dans la Lune)

Georges Méliès é provavelmente o homem que elevou o cinema à categoria de arte, ao utilizar de truques de filmagem até então inéditos. Antes dele, o cinema tentava simplesmente documentar a realidade. Depois dele, houve um avanço nas técnicas e uma apropriação da ficção. VIAGEM À LUA (1902) tem uma das imagens mais emblemáticas da história do cinema: a cápsula atingindo o olho da lua. Na história, astrônomos resolvem fazer a tal viagem do título e são arremessados ao nosso satélite. Lá, encontram um grupo de criaturas, os selenitas. No final, eles conseguem escapar deles e retornam sãos e salvos para a Terra. A cópia que eu vi me incomodou um pouco, pois em vez dos tradicionais intertítulos há uma narração em voice-over em inglês que não deixa o filme respirar. Mas trata-se de uma versão que contém a sequência final, do retorno dos viajantes, dada como perdida até ser encontrada em 2002. Exatamente um século depois da produção do filme.

sexta-feira, dezembro 23, 2011

A ESTRADA DOS HOMENS SEM LEI (The Racket)



Dentro da peregrinação pela obra de Nicholas Ray, acabei vendo no IMDB que ele dirigiu algumas cenas deste A ESTRADA DOS HOMENS SEM LEI (1951), produção de Howard Hughes para a RKO. A direção é creditada a John Cromwell, mas além dele e de Ray, também consta que passaram pela produção Mel Ferrer, Tay Garnett e Sherman Todd. Essa dança de diretores faz lembrar a produção de E O VENTO LEVOU, que milagrosamente deu tudo certo. Mas aqui, apesar de a produção ser também de um milionário, trata-se de um filme bem mais modesto, com a cara dos policiais B dos anos 40 e 50.

O destaque do filme está no embate entre dois astros, Robert Mitchum, interpretando um capitão de polícia de integridade e honestidade exemplares, e o mafioso vivido por Robert Ryan, que curiosamente está muito bem no filme. Ao contrário de em HORIZONTE DE GLÓRIAS (1951), de Ray, em que ele parece quase estragar o filme em alguns momentos. O que me faz pensar que Ray não era exatamente um grande diretor de atores. Mas posso estar enganado e deixemos esse pensamento para lá ou voltemos a ele, se necessário for, quando vir mais filmes do cineasta.

A ESTRADA DOS HOMENS SEM LEI mostra uma cidade dominada por um mafioso, Nick Scanlon (Ryan). Ele manda em todos, do juiz ao prefeito. O único que tem coragem de encarar o sujeito sem ter medo de ser morto é o Capitão McQuigg (Mitchum). Quem também se destaca, até certo ponto, é Lizbeth Scott, no papel da cantora que se envolve com o irmão do chefão. A atriz, aliás, tem uma história um tanto triste e revoltante: ela foi simplesmente varrida de Hollywood depois que assumiu a sua orientação sexual. Hollywood admitia homossexuais, contanto que eles ficassem de bico calado. Como não foi o caso de Lizbeth, sua carreira durou pouco. Ela lembra bastante Lauren Bacall.

Outro rosto conhecido do filme é o de William Talman. Dois anos depois ele faria o psicopata de O MUNDO ODEIA-ME, de Ida Lupino. Aqui, ele é um policial honesto, mas um tanto vaidoso, o que acaba custando-lhe a vida. A cena da morte do personagem é uma das mais impactantes do filme, mas ainda assim é tratada com certa frieza pelos demais personagens. No fim das contas, a esposa aceita estranhamente o sacrifício do marido pela causa e tudo termina bem. No mais, A ESTRADA DOS HOMENS SEM LEI tem boas cenas de perseguição e tiroteios. Diria que até acima da média para os films noirs do período.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

MAMUTE (Mammuth)



Muito do mérito de MAMUTE (2010) está na caracterização de Gerard Depardieu como um homem em busca de sua aposentadoria, mas tendo que lidar com a burocracia e com o natural desrespeito das empresas para com seus empregados, pagando-os "por fora" para não ter que arcar com as despesas com a previdência. Depardieu, no filme, é Serge Pilardosse, conhecido como "Mamute". Pelo tamanho exagerado, ainda mais acentuado pelo excesso de peso que o ator ganhou nos últimos anos, o apelido é mais do que justificado. E ao vermos o protagonista tentando passar um carrinho de supermercado por um espaço entre dois carros num estacionamento, vemos que lhe falta também inteligência.

E é essa falta de inteligência que faz com que ele aceite muitas ofensas, se mostre passivo diante dos demais, talvez por se achar quase sempre inferior. Em flashback da esposa, vemos que ela casou com ele por pena. Mas, assim como o personagem de Mickey Rourke em O LUTADOR, é graças a essa persona meio loser que passamos a gostar de Serge. E a sua busca pelos comprovantes de que trabalhou em dez empresas, guiando sua motocicleta, acaba por se tornar uma espécie de redescoberta do mundo. Em cada lugar que ele passa, em cada aventura vivida, é como se a vida estivesse lhe mostrando o que ele estava perdendo enquanto trabalhava durante anos e anos para empresários inescrupulosos.

MAMUTE tem algo de surreal e também de fantástico, ao mostrar o fantasma de uma mulher que ele acidentalmente matou no passado, vivida por Isabelle Adjani. Sua primeira aparição causa uma sensação de deslocamento. Como se um filme de horror estivesse invadindo o território de uma comédia. Mas aos poucos, essa impressão se dissipa e o tom do filme vai tomando forma própria. Pode não ser um grande filme, mas é honesto e interessante. E tem uma cena que deve pegar muita gente de surpresa e até chocar outros.

quarta-feira, dezembro 21, 2011

MISSÃO: IMPOSSÍVEL – PROTOCOLO FANTASMA (Mission: Impossible – Ghost Protocol)



E não é que um diretor especializado em animação conseguiu fazer um trabalho muito bom na sua estreia na direção com atores! E numa produção de grande porte! Tudo bem que Tom Cruise e J.J. Abrams, como produtores, estavam ali ao lado para ajudar, mas ainda assim não deixa de ser surpreendente o resultado. Pelo que comentam, desde o primeiro MISSÃO: IMPOSSÍVEL (1996), dirigido por Brian De Palma, Tom Cruise já dava os seus pitacos. Mas sempre respeitando o autor. Cada um dos filmes da cinessérie tem a cara de seu diretor e por isso destoam, por exemplo, dos filmes de James Bond, seus parentes mais próximos, que em geral são dirigidos por cineastas sem muita personalidade.

MISSÃO: IMPOSSÍVEL – PROTOCOLO FANTASMA (2011) traz Brad Bird, diretor das belíssimas animações O GIGANTE DE FERRO (1999), OS INCRÍVEIS (2004) e RATATOUILLE (2007), se saindo melhor do que a encomenda e provando que a distância entre a animação e o live action não é tão grande assim. No filme, o agente Ethan Hunt (Cruise) está numa prisão na Rússia e é resgatado pelo seu colega Benji (Simon Pegg) e pela bela agente Jane (Paula Patton) para participar de mais uma daquelas missões. Como a missão foi considerada fracassada pelo Governo americano, o seu grupo, o IMF, está por conta própria. Desativado e clandestino. Mesmo assim, em off, uma missão muito perigosa lhes é passada.

E assim o grupo formado por Hunt, Benji, Jane e Brandt (Jeremy Renner) passam por lugares como a Rússia,os Emirados Árabes Unidos e a Índia, a fim de salvar o mundo de uma bomba nuclear. Mais detalhes são tão irrelevantes quanto pedir que o filme seja verossímil. O barato de MISSÃO: IMPOSSÍVEL é justamente a inverossimilhança. E ainda ser capaz de nos fazer ficar com as mãos grudadas na cadeira como se estivéssemos numa montanha-russa, como na cena em que Tom Cruise escala o prédio mais alto do mundo, em Dubai. Só de olhar para o prédio, já dá vertigem. E os efeitos digitais capricham bastante na criação dessa sequência.

A escolha de lugares mais exóticos para as locações foram bem acertadas e dá um colorido especial ao filme. A ideia de colocar uma tempestade de areia em plena sequência do edifício foi uma bela sacada. Assim como os momentos na Índia, onde podemos testemunhar de olhos bem abertos a sensualidade de Paula Patton na cena da festa. O elenco de apoio também ajuda a fazer-nos crer que há de fato um trabalho de equipe, principalmente na tal cena da troca dos diamantes pelos códigos – ou seja lá o que for, afinal, trata-se de um mcguffin. Menos dramático do que o terceiro filme (2006), que lidava com a esposa de Hunt, este quarto se assume como uma divertida aventura. Embora possa até ser mais do que isso.

terça-feira, dezembro 20, 2011

DEXTER – A SEXTA TEMPORADA COMPLETA (Dexter – The Complete Sixth Season)



A mais frágil das temporadas de DEXTER, esta sexta (2011) mais do que demonstra sinais de cansaço com uma história de um serial killer um tanto fraca e que já repete o mesmo padrão de praticamente todas as outras temporadas. Se na quarta (2009), Dexter conseguiu um antagonista à altura, o Trinity, na interpretação brilhante de John Lithgow, e na quinta (2010), o serial killer "do bem" encontrou o que parecia ser a sua cara-metade (Julie Stiles), a sexta temporada não teve muito a fazer a não ser se repetir, inventando uma história bem mal contada sobre um assassino do apocalipse, um sujeito que usa os sinais do livro bíblico em suas vítimas. A história consegue chegar ao fundo do poço quando imita descaradamente o filme CLUBE DA LUTA.

Há também outro problema. Além da já tradicional narração em voice over pra lá de didática de Dexter, nesta temporada há um personagem religioso que tenta mostrar para ele o caminho do bem e persuadi-lo a abandonar o seu lado sombrio. Vivido por Mos Def, o "brother Sam" não deve ter feito muito sucesso, já que sua participação vai até metade da temporada. A série tem cada vez mais se encaminhado para uma "purificação" do personagem. Até o sangue, mesmo quando ele corta o pescoço de suas vítimas, não jorra mais. Em outra vítima, ele prefere usar um travesseiro em vez da tradicional facada no peito. Enfim, a série está se rendendo às reprises nas televisões abertas e diminuindo cada vez mais a violência e o aspecto frio do personagem. Enquanto isso, na delegacia, Debra recebe o título de tenente. Mas não muda muita coisa, pois ela prefere ficar nas ruas, com os colegas.

Pra não dizer que só falei mal da temporada, confesso que percebi que ela conseguiu se reerguer bem nos episódios finais, que trazem momentos de intenso suspense e um final impactante. De tal modo que mesmo os fiéis espectadores da série que estavam pensando em desistir depois da baixa qualidade dessa temporada terão pelo menos mais um motivo para continuar vendo DEXTER no próximo ano: saber o que acontece depois do gancho final.

segunda-feira, dezembro 19, 2011

HOMELAND – A PRIMEIRA TEMPORADA COMPLETA (Homeland – The Complete First Season)



Ainda abalado com a season finale da primeira temporada de HOMELAND (2011), tentarei escrever um pouco sobre o que essa série significou para mim nessas últimas doze semanas. E perdoem-se se eu soltar algum pequeno spoiler. Sempre disse que quem assiste o piloto de HOMELAND não consegue mais parar de ver. Além de ser muito bem escrita, é uma série de grandes ganchos e não de episódios soltos. O tema é bem atual, o da paranoia americana diante de possíveis ataques terroristas. Aliás, nem se trata mais de simples paranoia, mas de um dos maiores pesadelos que os americanos estão vivendo. O 11 de setembro foi um divisor de águas na história do país e o inimigo agora é outro. Mais perigoso, pois é capaz de doar a própria vida em nome de seus ideais - ou daqueles que o enviam para executar a tarefa.

A série centra na figura do sargento Nicolas Brody (Damian Lewis), que retorna para os Estados Unidos depois de desaparecido por oito anos, quando esteve em missão durante a Guerra do Iraque. Carrie Mathison, vivida de maneira brilhante por Claire Danes, é uma agente da CIA que desconfia que Brody é na verdade um terrorista, já que no tempo em que ela esteve no Afeganistão, ela soube que um dos soldados americanos havia se convertido. Ela resolve, então, às escondidas de seus superiores, implantar um sistema de vigilância na casa de Brody, para monitorá-lo. Um detalhe que vale destacar é que Carrie é psicologicamente instável, tendo que tomar drogas para psicose. Isso também é algo que ela esconde de todos, até para manter o seu emprego e sua credibilidade.

HOMELAND traz novas surpresas a cada episódio. A influência de Alfred Hitchcock é presente na construção de uma atmosfera de suspense crescente, que aumenta ainda mais no desesperador episódio final, um especial de uma hora e meia de duração, que se distingue dos demais até por dispensar os créditos iniciais. Quem tem contato com a obra hitchcockiana sabe que é bem possível torcermos pelo pior, para o vilão, como também para o herói, no caso, uma heroína incompreendida. E esse elemento fantástico que nos apresentou Hitchcock foi muito bem aprendido pelo diretor e produtor Michael Cuesta e seu time de roteiristas. Além do grande momento de tensão e desespero que acontece em determinada sequência, nada me preparava para o clima de desesperança que o final da série iria trazer. E depois das imagens dolorosas do final, o jeito é engolir em seco e aguardar a já confirmada segunda temporada.

HOMELAND é adaptação de uma série de televisão israelense. Foi indicada ao Globo de Ouro nas categorias de melhor série (drama), melhor ator (Damian Lewis) e melhor atriz (Claire Danes).

domingo, dezembro 18, 2011

ROUBO NAS ALTURAS (Tower Heist)



Juntar Ben Stiller com Eddie Murphy não tinha como dar errado, certo? Pois é, mas ter na direção um sujeito como Brett Ratner pode complicar bastante o sucesso deste ROUBO NAS ALTURAS (2011). E o resultado é esse: um passatempo apenas razoável que não se sustenta bem até o final. O fato é que Murphy está pedindo por um sucesso há muito tempo. O último grande filme do comediante foi OS PICARETAS, de Frank Oz. E lá se vão doze anos. Pegar carona na maré boa de Stiller podia ser uma boa e, de certa forma, o talento de Murphy está lá, ainda que um tanto desperdiçado.

No filme, Ben Stiller é um sujeito que trabalha há anos como administrador de um prédio residencial sofisticado. O dono do lugar (Alan Alda) aparentemente tem uma relação de amizade com ele. Entre os empregados, o cunhado incompetente (Casey Affleck) e a "preciosa" funcionária da limpeza vivida por Gabourey Sidibe, que precisa se casar urgente com um americano para não ser deportada. Recém-chegado na firma, o descendente de índios pouco inteligente vivido por Michael Peña. E dentro do prédio, prestes a ser despejado, um Matthew Broderick longe da juventude moleca dos tempos de CURTINDO A VIDA ADOIDADO. Toda a vida desse povo sai dos rumos quando se descobre que o dono do prédio é um corrupto que perdeu todo o dinheiro deles e está em prisão domiciliar.

O divertido do filme acontece justamente quando Stiller resolve juntar um grupo para assaltar o cofre do velho, no terraço. E para isso ele conta com a ajuda do arruaceiro da vizinhança que sempre mexe com ele (Murphy). Téa Leoni é a investigadora do FBI que simpatiza com o personagem de Stiller. E com essa trama, que vai ficando melhor com a tentativa de se chegar ao terraço, até que o filme não desanima. Algumas risadas são garantidas. Mas são poucas. Não o suficiente para um filme que tem uma história relativamente boa, um orçamento de respeito e uma dupla de comediantes do naipe de Stiller e Murphy. Infelizmente, por mais que tente, Brett Ratner vai ser sempre o sujeito cuja melhor realização foi a série PRISON BREAK.

sábado, dezembro 17, 2011

TOO BIG TO FAIL



Durante essas premiações para produções televisivas, principalmente o Globo de Ouro, já que o Emmy eu não acompanho, acabo sempre me interessando por alguns dos indicados e se possível procuro ver um ou dois filmes. TOO BIG TO FAIL (2011) foi indicado a melhor filme feito para a televisão ou minissérie. Por tabela, William Hurt e Paul Giamatti foram indicados, respectivamente, nas categorias de ator e ator coadjuvante. O filme não é muito fácil de entender para leigos em economia como eu, mas a boa edição e o ótimo texto ajuda bastante na apreciação. Confesso que fiquei perdido em muitas partes e queria ter visto o filme ao lado de alguém que entendesse de economia para me explicar.

TOO BIG TO FAIL retrata o colapso gerado na economia americana depois que uma grande empresa caiu e acabou por mostrar o quanto o sistema financeiro americano é frágil. Isso aconteceu no ano de 2008 e representa a pior crise que os Estados Unidos viveram desde a Grande Depressão em 1929. Para os que dizem que o capitalismo está prestes a acabar, ainda mais hoje, com a crise na Europa, ver o filme ajuda a pensar que o sistema pode mesmo ruir a qualquer momento. E a ironia está no fato de que o Governo americano teve que intervir, emprestando bilhões a um grupo de bancos, de modo que muita gente considerou isso uma espécie de estatização.

O problema começa quando Dick Fuld (James Woods), CEO da Lehman Brothers, descobre que sua empresa está prestes a cair. Ele pede ajuda ao Secretário do Tesouro dos EUA, Henry Paulson, vivido por William Hurt, que tem crises de insônia e sente o mundo pesar sobre os seus ombros com a tensa situação. Ele acaba tendo que tomar medidas drásticas quando a economia é ameaçada com a queda vertiginosa das ações e do dólar. O sistema financeiro inteiro estava entrando em colapso.

TOO BIG TO FAIL deve ser bem mais interessante para os que conhecem os políticos e os empresários envolvidos no caso. Eles são muitos e o elenco de nomes conhecidos é impressionante. Além dos já citados William Hurt, Paul Giamatti e James Woods, o filme ainda conta com Billy Crudup, Topher Grace, Matthew Modine, Edward Asner, Cynthia Nixon, Bill Pullman e Tony Shalhoub. Curtis Hanson, mais lembrado por LOS ANGELES – CIDADE PROIBIDA (1997), assina a direção.

sexta-feira, dezembro 16, 2011

TUDO PELO PODER (The Ides of March)



George Clooney, em seu quarto filme na direção, demonstra um apego pela temática da política, pela vontade de trazer o cinema americano de volta a um tempo em que temas mais adultos como esse eram mais prestigiados pela audiência. Clooney, com seu carisma e suas relações amigáveis com muita gente boa de Hollywood, conseguiu reunir um elenco fantástico em TUDO PELO PODER (2011), um filme que podemos ver como o que dá início à corrida ao Oscar. Pelo menos aqui no Brasil, levando em consideração que saíram as indicações ao Globo de Ouro e o filme foi indicado na categoria mais importante (melhor filme – drama).

TUDO PELO PODER, em alguns momentos, faz lembrar CIDADÃO KANE, de Orson Welles. Algumas tomadas do candidato a presidente, vivido por Clooney, até tem as suas cores esmaecidas, quase em preto e branco. Mas quem brilha mais forte mesmo é Ryan Gosling, o jovem ator que vem conquistando um papel bom atrás do outro. Aqui, ele é o secretário de imprensa da campanha, e tem como chefe o personagem de Philip Seymour Hoffman, que vê na figura de Paul Giamatti - o homem que trabalha para o candidato concorrente - uma espécie de inimigo número um. Completando o quadro, temos Evan Rachel Wood, como a jovem e bela estagiária, e Marisa Tomei, como a repórter ambiciosa.

O parágrafo um tanto chato acima foi mais para mostrar a fartura de intérpretes famosos em papéis de grande importância para suas carreiras. Todos são muito bem dirigidos pela mão firme de Clooney. E ao contrário do que muita gente pode imaginar, por se tratar de um filme sobre sucessão presidencial, o filme não tem nada de chato. Trata-se de um filme sério, sim, mas a trama é tratada como um thriller. E isso faz a diferença, já que há várias surpresas, tanto para os personagens quanto para o espectador.

E Clooney, o maestro, faz tudo com muita elegância. A cena de Seymour Hoffman dentro do carro e a câmera se afastando, por exemplo, é uma união de economia, suspense e sabedoria da parte do diretor. A utilização da escuridão em momentos-chave é também importante e de forte valor simbólico. TUDO PELO PODER é um filme que pode (e deve) ser visto várias vezes, para se analisar diversos aspectos que passam batidos na primeira apreciação. Se todos os candidatos ao Oscar forem dessa grandeza, teremos a melhor safra em anos.

TUDO PELO PODER foi indicado ao Globo de Ouro nas categorias de filme (drama), ator (Ryan Gosling), diretor (George Clooney) e roteiro (Clooney, Grant Heslov e Beau Willimon).

quinta-feira, dezembro 15, 2011

HORIZONTE DE GLÓRIAS (Flying Leathernecks)



Mais um trabalho de Howard Hughes, o produtor, do que de seu diretor contratado, Nicholas Ray, HORIZONTE DE GLÓRIAS (1951) é um bom filme graças principalmente ao talento de Ray para não deixar a peteca cair – como os vários aviões atingidos pelos japoneses – e graças ao carisma de John Wayne, que costuma interpretar na maioria das vezes o mesmo papel e aqui não chega a ser diferente. Quanto a Ray, ele não via muita graça em espetáculos de guerra e no patriotismo americano, no morrer pela pátria.

A Segunda Guerra Mundial já havia acabado, mas os Estados Unidos estavam agora na Guerra da Coreia. Era preciso animar o povo americano e Hollywood era peça fundamental nessa história. HORIZONTE DE GLÓRIAS, primeiro filme em cores de Ray, é centrado no conflito no Pacífico em 1942, em particular na ilha de Guadalcanal, que estava ocupada pelos japoneses. Como Howard Hughes era fanático por aviação, o foco está nas batalhas aéreas. Ele havia conseguido imagens reais do conflito e essas imagens foram enxertadas no filme. Dá facilmente para perceber, pelo tom mais descolorido delas. As imagens ajudam a diminuir o investimento em efeitos especiais e ainda conferem um tom mais realista à trama.

A trama, aliás, é um dos pontos fracos do filme. Praticamente não havia um roteiro e o filme parece um exemplar genérico dos filmes de guerra. John Wayne é o major Kirby, que aparentemente é muito cruel e não tem pena de seus rapazes, mandando-os para missões praticamente suicidas. Vários deles morrem e o capitão vivido por Robert Ryan acaba exagerando um pouco nas cenas dramáticas, especialmente quando pretende demonstrar a sua revolta com o major. Sua interpretação quase compromete o filme. Felizmente, a narrativa é bem construída e em momento algum HORIZONTE DE GLÓRIAS aborrece. Mas se posto lado a lado, por exemplo, com FORÇA DE HERÓIS, de Howard Hawks, o filme de Ray perde fácil. Tanto na construção dos personagens e seus dramas quanto nas cenas de batalhas no céu.

quarta-feira, dezembro 14, 2011

A ÚLTIMA ESTAÇÃO (The Last Station)



O fato mais interessante pra mim em relação ao drama biográfico A ÚLTIMA ESTAÇÃO (2009) foi ser apresentado ao homem Leon Tolstoi e sua filosofia de vida. O escritor de "Anna Karenina" e "Guerra e Paz", no fim de sua vida, era o homem mais conhecido e amado da Rússia, mesmo tendo sido excomungado pela Igreja Ortodoxa, por contrariar os dogmas. Ele adotava um cristianismo de negação do luxo e da riqueza e passou a viver numa fazenda, vestindo-se como um camponês, para desgosto da esposa. Ainda assim, o filme não traça um retrato negativo dela. Ao contrário, é até fácil entender o seu ponto de vista.

Os intérpretes de Tolstoi e Sonia, sua esposa, nesta produção dirigida por Michael Hoffman, foram Christopher Plummer e Helen Mirren. Completando o grande elenco, Paul Giamatti é Chertkov, o homem que receberia os direitos da obra do escritor quando de sua morte; e James McAvoy, o rapaz que é convidado por Chertkov a espionar a esposa de Tolstoi, mas que acaba tendo um elo de carinho por todos e uma paixão por uma das moças da comunidade, a bela Masha (Kerry Condon). O personagem de McAvoy é o mais próximo de um protagonista e é o principal elo de ligação com o espectador. Principalmente se ele for apreciador da obra do escritor.

Tanto Helen Mirren quanto Christopher Plummer foram indicados ao Oscar pelos seus papéis. O filme, apesar disso, teve uma repercussão pequena e, pelo menos no Brasil, foi lançado em poucas cópias. Gostando-se pouco ou muito do filme, há que se dar o crédito no sentido de que é quase uma aula de História, com a vantagem de não ser didática e ainda ter momentos genuinamente emocionantes. Pelo que eu andei lendo sobre Tolstoi na internet, conta-se que, para seu enterro, juntou-se uma multidão de três a quatro mil pessoas. E só não veio um comboio de Moscou cheio de gente, por proibição do governo de São Petersburgo. Os ideais de Tolstoi influenciaram a revolução pacifista de Gandhi.

terça-feira, dezembro 13, 2011

MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL (Medianeras)



A estreia na direção de longas-metragens de Gustavo Taretto até que parte de uma ideia interessante, mas seu MEDIANERAS – BUENOS AIRES NA ERA DO AMOR VIRTUAL (2011) não me "pegou". Fiquei imaginando a mesma história numa daquelas produções independentes americanas. Poderia não ter resultado muito diferente, mas, sem querer ficar do lado dos "imperialistas", os americanos têm mais mais desenvoltura e mais experiência prática para contar histórias de amor. Inclusive essas assim, que lidam com o tema da solidão. Mas posso estar falando bobagem ao ligar sensibilidade com nacionalidade.

MEDIANERAS traz a história de duas pessoas que possivelmente nasceram uma para a outra, mas que por vários motivos não dão sorte de se encontrar. Ambos são muito reservados e carregam consigo traumas de relacionamentos passados e preferem ficar em seus apartamentos, usando bastante a internet, que cada vez mais tem afastado fisicamente as pessoas. Pelo tema, lembrei do filme em segmentos TOKYO! Um do três segmentos mostra um sujeito que passa o dia inteiro dentro de sua pequena casa. Sensacional, esse curta, dirigido por Bong Joon-Ho.

Mas voltando ao longa argentino, um de seus melhores trunfos está na presença da bela Pilar López de Ayala, conhecida de quem viu o excelente NA CIDADE DE SYLVIA, de José Luis Guerín, e O ESTRANHO CASO DE ANGÉLICA, do mestre Manoel de Oliveira. O filme é uma versão longa do curta-metragem de mesmo nome que Taretto havia dirigido em 2005, com o mesmo ator (Javier Drolas). Não sei se teria gostado mais do curta ou se vi o filme num dia ruim. O fato é que não me empolgou nem um pouco. E eu nem gosto de escrever textos assim, mas fazer o quê? E sabe essa história de que o cinema argentino é melhor do que o brasileiro? Eu tenho minhas dúvidas.

segunda-feira, dezembro 12, 2011

O BOM PASTOR (Going My Way)



Acho que, dos filmes de Leo McCarey, O BOM PASTOR (1944) foi o que mais me decepcionou. É impressionante a distância que se vê entre ele e a sua continuação, a obra-prima OS SINOS DE SANTA MARIA (1945), que eu considero um dos filmes mais tocantes de seu tempo. O BOM PASTOR, além de ter envelhecido mal, não tem uma Ingrid Bergman para ajudar a compor um quadro mais bonito. Temos o mesmo padre Chuck O'Malley do filme de 45, mas talvez a mudança de roteiristas tenha feito a diferença entre um trabalho e outro.

Em O BOM PASTOR, que privilegia mais os personagens do que o enredo, Bing Crosby é o padre Chucky, que chega a uma paróquia para substituir um velho padre que está há 45 anos tomando de conta da mesma igreja, que está passando por sérios problemas financeiros. A ideia é apresentar-se na igreja sem que o velho saiba que ele será o líder. O filme mostra as boas ações do jovem padre, o fato de ele não ter dinheiro (e de isso ser visto como algo nobre), uma mulher do passado, o seu relacionamento com o velho padre, com os garotos levados do bairro que ele consegue levar para formar um coral, entre outras coisas que mostram a bondade de O'Malley e o seu jeito mais progressista e alegre de ser.

E para uma década cujo gênero mais explorado em Hollywood foi o film noir, até que O BOM PASTOR nadou contra a maré. Talvez porque fossem necessários esses filmes para toda a família. Talvez porque a Igreja Católica seja forte o suficiente para se destacar mais no cinema americano do que a igreja protestante. A igreja mostrada no filme é a derivada dos irlandeses e não dos italianos. Curiosamente, nos filmes, os membros das duas nacionalidades são vistos também como contrabandistas ou criminosos.

Uma coisa que me incomodou bastante foram as sequências musicais fracas. Para que colocar o trecho mais conhecido da ópera "Carmen", de Bizet, e de maneira tão apagada? Só para apresentar para os americanos? E por que a canção-título é tão ruim e é mostrada no filme como ótima e ainda é cantada duas vezes? A cena de "Ave Maria", com o coro dos meninos, é até boa, mas nesse momento o filme já havia perdido a graça e o encanto que poderia ter. E que talvez até ainda tenha para alguns de seus admiradores. Pra mim, não passou de um filme careta e sem força.

domingo, dezembro 11, 2011

A VIDA DE BRIAN (Life of Brian / Monty Python's Life of Brian)



O Natal está chegando e nada como um filme clássico sobre os tempos de Jesus para celebrar esta data tão especial. Ok, A VIDA DE BRIAN (1979) não é bem um filme para se assistir com toda a família, incluindo as crianças e os membros da igreja, mas aconteceu de rolar numa sessão privada numa pequena (mas bastante farta) confraternização de uma turma de amigos ontem à noite. E eu lembrei à turma da presepada que eu fiz no tempo que eu indiquei o filme para um amigo Testemunha de Jeová, que deve ter ficado horrorizado, principalmente com a cena do apedrejamento. Ainda mais se ele tiver visto o filme com o pessoal de sua igreja.

Ainda assim, além de ser uma das melhores comédias de todos os tempos, A VIDA DE BRIAN é uma aula de História Judaica nos tempos de dominação romana. E pode-se dizer que é o melhor dos filmes do grupo Monty Python, o que mais tem sequências antológicas, algumas delas que ainda me faz rir até engasgar, como a de Pôncio Pilatos (Michael Palin) e os seus guardas, que não se aguentam de rir de sua língua presa.

O filme conta a história de Brian (Graham Chapman), um sujeito que nasceu no mesmo dia e no mesmo lugar de Jesus. Porém, quis o destino que ele não fosse tão conhecido quanto o Filho do Homem. Nem ele queria, aliás. O coitado foi apenas vítima das circunstâncias, de um tempo em que os judeus estavam sedentos de um salvador, de um tempo em que proliferavam profetas por todos os lados. Um deles, mostrado no filme, inclusive, faz lembrar João Batista, com aquele olhar selvagem.

A VIDA DE BRIAN voltou a ser foco de discussão recentemente, quando do lançamento do documentário GEORGE HARRISON – LIVING IN THE MATERIAL WORLD, de Martin Scorsese. Isso porque Harrison foi um dos produtores do filme. E como o ex-Beatle sempre teve uma mente aberta, não foi de pensar que o filme estaria denegrindo ou fazendo chacota da religião judaica e da religião cristã. Ao contrário, ele só se divertia, à medida que o filme ia se tornando mais controverso. Homem sábio esse George.

P.S.: Está no ar a nova edição da Revista Zingu!. O destaque da vez é o Dossiê Jair Correia, mais conhecido por dirigir o primeiro slasher nacional, SCHOCK: DIVERSÃO DIABÓLICA. Há também dois especiais: um de homenagem a Jece Valadão e outro sobre a Aids no cinema brasileiro. Contribuí com duas resenhas: uma sobre o suspense OS AMORES DA PANTERA (1977), de Jece Valadão; e outra sobre o ótimo documentário DZI CROQUETTES (2010). Confiram, leiam, divulguem! A gente agradece!

sábado, dezembro 10, 2011

AS CANÇÕES



De certa forma, AS CANÇOES (2011) é um alívio para o espectador que aprendeu a amar o Eduardo Coutinho dos filmes de conversas, como SANTO FORTE (2002), EDIFÍCIO MASTER (2002), PEÕES (2004), O FIM E O PRINCÍPIO (2006) e até mesmo JOGO DE CENA (2007), considerada uma obra de ruptura em sua filmografia. Isso porque MOSCOU (2009) talvez tenha ido muito longe e tenha se tornado um filme frio e cerebral demais. E é de JOGO DE CENA e de EDIFÍCIO MASTER que AS CANÇÕES mais se nutre, já que em ambos os filmes, há entrevistados que cantam para a câmera uma canção importante em suas vidas. Quem não lembra do senhor que rouba a cena cantando "My way" em EDIFÍCIO MASTER?

Então, um filme só com depoimentos e cantorias de anônimos seria uma experiência emocionante, mas poderia ser um tanto constrangedor. Felizmente não há constrangimento nenhum. Coutinho trata igualmente a figura mais humilde (talvez o senhor feirante) e aquelas senhoras que se expressam como quem tem mais instrução ou o rapaz que perdeu o pai e canta uma canção dedicada a ele, contando do quanto se arrepende por não ter lhe dado a devida atenção quando o pai o chamava para ir à praia, por exemplo. Confesso que me identifiquei com o rapaz nesse aspecto, embora esse esteja longe de ser o momento mais emocionante do filme.

O fato de os entrevistados se sentarem no escuro ajuda bastante a criar um clima no qual eles fiquem mais à vontade para contar suas histórias e cantar as suas canções. Os momentos mais bonitos são aqueles de mulheres desprezadas pelos homens de suas vidas. Vê-las dizendo o quanto ainda amam esses homens, apesar de tudo o que passaram, são motivos suficientes para que lágrimas rolem. O senhor militar que pede para que seja chamado de comandante e que no passado agiu tantas vezes como um cafajeste e hoje tenta se redimir com a esposa idosa é outro momento muito bonito. Também destaco o sujeito que veio da favela, que escolheu "Que nega é essa?", do Jorge Ben-Jor, e que conta com muita desenvoltura a sua história com a mulher que ama. São histórias como a dele que ajudam a renovar a fé num relacionamento conjugal.

E mesmo histórias já fadadas ao fim, como a da mulher que canta "Retrato em branco e preto", do Chico Buarque, só demonstram o quanto é válido amar, apesar da dor que ele pode trazer. É mais ou menos aquela filosofia do Rei – "se chorei ou se sorri, o importante é que emoções eu vivi". Aliás, Roberto Carlos é campeão em número de canções do filme, como "Olha" (cantada duas vezes) e "Não se esqueça de mim". Talvez tenha faltado alguma canção mais contemporânea, que foi cortada da edição final por um motivo ou outro, mas como é bom ver e ouvir aquelas pessoas se abrindo para a câmera como numa espécie de terapia, e nos confidenciando histórias emocionantes de dor e de alegria.