terça-feira, novembro 30, 2004

CEARÁ MUSIC 2004 - NOITE DE DOMINGO

A noite de domingo começou conturbada pra mim. Cheguei no Marina Park bem mais cedo que meus amigos e minha irmãs e tive de ficar esperando um tempão do lado de fora até a Adaila (minha irmã nº2) me ligar avisando que estava a caminho. O problema foi que a Adília (irmã nº3), que estava trabalhando no stand da Oi, não tinha trazido a carteira de identidade dela e foi barrada na entrada. Enquanto se tentava (em vão) resolver a pendenga, que acabou com xingamento e tudo mais, acabamos perdendo o show do Nando Reis, justamente um dos que eu mais queria ver. Reis fez um show curto e deu pra ouvir um pouco de longe o que estava rolando lá no palco.

Depois de várias ligações, desencontros e estresses chegamos exatamente na hora do show dos Los Hermanos com os Paralamas. O lugar estava super-lotado e todos aqueles corpos naquele empurra-empurra criava um mormaço, uma onda de calor difícil de suportar. Só se sentia um certo alívio quando uma brisa amiga de vez em quando soprava. Começa o show. Apenas os Hermanos entram no palco. Começam com "Tá bom", bela canção de conselho sobre como se deve agir nos momentos em que o coração, depois de tanto sofrer, resiste a amar outra vez. A qualidade do som estava excelente, principalmente levando em consideração o fato de que geralmente nos shows da banda acontecem problemas de som. O show deles durou mais ou menos uma hora e rolaram as canções de praxe da turnê Ventura, em que eles dão preferência às canções dos dois últimos álbuns, incluindo do primeiro disco apenas a maravilhosa "Quem Sabe", de Rodrigo Amarante. Amarante, aliás, parecia estar com espírito melancólico, já que introduziu a frase "mais um pouco de melancolia pra vocês" antes de tocar algumas de suas pérolas ("Sentimental", "Último romance"), além de ter comentado duas vezes sobre a bela lua cheia que estava de frente para o palco, como que também apreciando o espetáculo. A única novidade no repertório foi a inclusão de "Santa Chuva", que Marcelo Camelo compôs para Maria Rita. Taí uma dica pra se procurar na internet: essa canção na bela voz de Camelo.

Emocionante quando sobem no palco os Paralamas. A banda foi importante na minha infância e adolescência e, apesar de de eu ter perdido um pouco o interesse por eles ao longo do tempo, não dá pra negar a importância deles dentro do cenário rocker nacional. Eles tocaram três canções junto com os Los Hermanos: "O Vencedor", "Romance Ideal" e "Meu erro". Essa última, na voz do Camelo, ficou excelente. Depois que os Hermanos saem, os Paralamas fazem quase duas horas de show e mandam sucessos de várias fases da banda: dos skas do início de carreira ("Bora-Bora") às misturas com música brasileira e latina ("Alagados"); das composições com uso de muitos metais ("Selvagem", "O beco", "Pólvora") até as obras mais recentes apenas com o básico baixo-guitarra-bateria ("O Calibre", "Cuide bem do seu amor"), os caras fizeram um showzão. O riff de guitarra de "O Calibre", aliás, é uma das melhores coisas que eles fizeram, assim como a letra da música coincide profeticamente com o momento difícil em que se encontra Herbert Vianna. Pra fechar, a acertada cover de "Que país é esse?", da Legião.

O show seguinte foi do Capital Inicial. Não é uma banda que eu admiro, mas, ao mesmo tempo, eles têm muitas canções que eu gosto. Nunca foi uma banda de bons álbuns. O melhor disco deles é o Acústico MTV, praticamente uma coletânea de sucessos, só que com novos arranjos. (Eu diria que o disco deles é o melhor Acústico produzido pela MTV brasileira.) Apesar disso, o show deles foi um dos mais divertidos da noite. No começo do show, fui lá pra frente com o Zezão, a Marcélia, a Juliana, a Eveline e o Aragão. Lá perto do palco estava mais lotado que ônibus do Paranjana, mas como eu estava de bom humor, até ficava fazendo piadinhas ("velho, é bom aqui que tá vaguinho.."). Quando eles disseram que iam mandar um punk rock pra agitar o show, eu sabia que a gente estava correndo o risco de ser esmagado pela massa. O negócio era dar uma de selvagem também e dançar no esquema empurra-empurra, como se estivéssemos sendo levados pelo mar. E a música ajuda: "Veraneio Vascaína" tem um riff de guitarra matador. As canções que eu ouvia e cantava várias vezes na época que estava em fim de namoro, como "Tudo que vai" e "Primeiros Erros", foram um prazer de se ouvir. No fim das contas, o show foi bem legal, apesar de algumas das músicas novas serem bem fracas.

Depois disso, era relaxar, já que o Cidade Negra, a próxima banda, não faz a minha cabeça. Na hora do show do Cidade era hora de ir comer, descansar, conhecer os outros ambientes, dar uma passada no Mucuripe Clube. Praticamente nem percebi o que a turma do Toni Garrido estava tocando. A bandinha é chata, mas também pode ser inofensiva.

Depois disso, vieram os picaretas do Biquiini Cavadão. Só aqui mesmo em Fortaleza que os caras fazem sucesso. Tanto que vieram gravar o DVD deles no Ceará Music. Chamo-os de picaretas porque eles fazem show de covers de outros artistas pra disfarçar a maior parte de suas composições medíocres. Todo ano eles vêm e fazem o mesmo show. E o público vibra assim mesmo. Até o discurso do Bruno é o mesmo, elogiando o rock dos anos 80, que naquele tempo faziam música com a cabeça, e não com a bunda e tal. Mas como o cara é humilde e simpático a gente deixa passar.

Na hora do show da Fernanda Abreu com a Bateria da Portela, foi hora de puxar o carro, porque a Fernanda Abreu parece que faz uma música só. E ruim ainda por cima. Não sei como ela não sente complexo de culpa ganhando dinheiro fazendo essas coisas.

Uma pena que o rock independente não tenha espaço nesse festival. Só não sei até quando o público vai agüentar todo ano ver as mesmas carinhas manjadas na programação. Já estamos na metade da primeira década de 2000 e até agora poucas bandas novas surgiram dentro do mainstream. Boas bandas têm, mas a mídia burra não dá espaço e prefere botar pra tocar coisas como Detonautas, CPM22 e Charlie Brown Jr. E com todo esse problema gerado pelas baixas vendagens dos discos (preços caros, facilidade de se baixar pela internet ou de se gravar um cd caseiro), a coisa fica ainda mais complicada. A saída, então, é procurar ouvir algumas bandas boas através de dicas de amigos, fazer propaganda boca a boca (se for o caso) e torcer pra que um dia algumas dessas boas bandas possam sair dos pequenos bares e ser ouvidas por um público maior.

sábado, novembro 27, 2004

PROCURANDO NEMO, OS CURTAS DA PIXAR E ANIMAÇÃO BRASILEIRA



Estou batendo o meu recorde de atraso em comentar um filme aqui no blog. Acho que já faz uns quatro meses que vi PROCURANDO NEMO (2003) em VHS e apesar de ter gostado bastante do filme, não tenho muito do que falar a respeito. Então, agora que vi uns curtas da Pixar em divx (enviados pelo Renato também há um tempão), mato dois coelhos com uma só cajadada. Aliás, três, já que comentarei também sobre quatro trabalhos em animação feitos no Brasil, vistos recentemente no projeto Curta Petrobrás às 6. Aproveitando a deixa, recomendo a quem mora numa das 14 cidades onde o projeto da Petrobrás funciona pra ficar de olho, já que é uma das poucas chances de se ver alguns trabalhos excepcionais que provavelmente nunca serão exibidos ou vendidos comercialmente.

PROCURANDO NEMO (Finding Nemo)

Esse desenho supersimpático da Disney/Pixar foi uma surpresa pra mim. Não imaginei que fosse tão bom. Tinha me decepcionado um pouco com TOY STORY 2 (1999), que praticamente repetiu as mesmas idéias do primeiro filme, e principalmente com o chatinho MONSTROS S.A. (2001) que imaginei ser adequado apenas para crianças. Já PROCURANDO NEMO é diversão pra toda a família. O filme é engraçado e triste nos momentos certos (a cena da morte da mãe de Nemo chega a ser assustadora) e traz personagens fáceis de agradar, como a peixinha que tem memória curta. Difícil não gostar.

OS CURTAS DA PIXAR

ADVENTURES OF ANDRE AND WALLY B. (1984) é bem simples. Não tem muita graça. Mas serve como exemplo do início do processo de animação por computador.

LUXO JR. (1986) já é bem conhecido e ainda hoje parece sofisticado. As lampadinhas refletoras viraram o símbolo da Pixar. É o filme que introduz uma das marcas da produtora: a humanização de objetos inanimados.

RED'S DREAM (1987) evolui nessa humanização de objetos inanimados, que iria atingir o ápice com TOY STORY (1995). Aqui, temos um monociclo que sonha em receber aplausos num circo. È um curta de final triste que tem como trilha sonora um sax acentuando o clima de desolação.

TIN TOY (1988) é engraçadíssimo. É praticamente um embrião de TOY STORY. Mostra um brinquedo que fica apavorado com os maus tratos que os seus "colegas" recebem de um bebê. A cena dos brinquedos escondidos embaixo do sofá é o ponto alto.

KNICK KNAC (1989) não é tão bom quanto os dois anteriores. Pode ser visto também nos extras do DVD de MONSTROS S.A. Mostra um bonequinho de neve preso numa redoma de vidro e doido pra sair por causa de uma bonequinha peituda que está do lado de fora. O filminho lembra alguns desenhos da Warner, estilo Pernalonga, por causa das várias tentativas do bonequinho de realizar o seu intento.

Em GERI'S GAME (1997), a técnica desenvolvida dá um grande salto. Tanto que ganhou o Oscar de melhor curta em animação. É a história de um velhinho que joga xadrez consigo mesmo. A aposta é uma surpresa. A qualidade da imagem desse curta se destaca da dos demais.

FOR THE BIRDS (2000) é bem conhecido. Passou nos cinemas antes da sessão de MONSTROS S.A. e é engraçadinho, apenas.

MIKE'S NEW CAR (2002) é um curta feito com os dois personagens principais de MONSTROS S.A.. Não gostei muito não. Talvez por cisma, já que não simpatizei com os personagens do longa.

CURTAS NACIONAIS

Ainda em cartaz no Espaço Unibanco Dragão do Mar, aqui de Fortaleza, até 8 de dezembro os curtas abaixo.

A LASANHA ASSASSINA (2002), de Ale Machado, é uma sátira dos filmes de terror. José Mojica Marins faz a voz do Zé do Caixão versão desenho animado, contando a engraçada história da tal lasanha com espírito vingativo.

O POETA (2001), de Paulo Munhoz, é bem interessante. Principalmente por trabalhar com a animação em rotoscopia, mesma técnica utilizada em WAKING LIFE, de Richard Linklater. O filme mistura animações em 2D, 3D e nesse sistema. Pena que a história não é tão boa.

RETRATOS E BORBOLETAS (1998), de Yanko Del Pino, é o mais chatinho do "pacote". Não é bem uma animação no sentido que a gente está acostumado a ver. É um filme que trabalha com fotografias antigas.

TERMINAL (2002), de Leo Cadaval, eu já tinha visto numa edição do Cine Ceará. A primeira coisa que me vem à cabeça quando vejo esse curta é SIN CITY, história em quadrinhos de Frank Miller, toda desenhada em grandes blocos de preto e branco (nada de tons de cinza). Assim é TERMINAL. Impressiona o trabalho de Leo Cadaval e bem que ele poderia ser chamado pelo Robert Rodriguez para fazer os créditos de abertura da adaptação de SIN CITY para as telas.

Ah, e por falar em animação, vem aí OS INCRÍVEIS! Esse não dá pra perder.

quinta-feira, novembro 25, 2004

AS TRÊS MÁSCARAS DO TERROR (I Tre Volti della Paura / Black Sabbath / Les Trois Visages de la Peur)



Que prazer que é ver esse filme do mestre Mario Bava! Eu diria que até o momento é o meu Bava preferido. E olha que já vi A MALDIÇÃO DO DEMÔNIO (1960) e RABID DOGS (1974), que são filmes espetaculares, cada um a sua maneira.

BLACK SABBATH (1963), como é mais conhecido, é um trabalho impressionante, tanto pela cuidado estético, com o excelente tratamento de cores já característico de seus filmes, quanto pela capacidade de assombrar de verdade o espectador. Trata-se de um filme de episódios, como CREEPSHOW, de George Romero. E assim como o filme de Romero, nessa versão italiana lançada em DVD no Brasil pela Works, eles deixaram os episódios dispostos de uma maneira que deixa o medo crescente.

"O Telefone", o primeiro episódio, é o único que foge do tema do sobrenatural, e não duvido que tenha sido uma influência decisiva para o PÂNICO, de Wes Craven. É a história de uma mulher que recebe um telefonema ameaçador de um ex-namorado que fugiu da cadeia e está vindo para matá-la. Grandes momentos de tensão numa história que se passa inteiramente num apartamento. Mas isso é apenas o começo pro que viria.

O segundo episódio - "Os Wurdalak" - é talvez o meu preferido dos três. A história se passa à noite num ambiente rural e sem energia elétrica, dando a impressão de se passar na mesma época de A MALDIÇÃO DO DEMÔNIO. A ambientação, a direção de arte, a fotografia com aquelas cores vivas, a meia noite ao mesmo tempo clara e escura, tudo isso contribui para o envolvimento e apreciação dessa obra-prima. A história começa quando um viajante encontra um corpo sem cabeça e vai até a casa em frente avisar. Chegando lá ele fica sabendo que a família está aguardando a chegada do patriarca (Boris Karloff), que saiu há 5 dias para matar um wurdulak. Os wurdulaks são espécies de vampiros (adorei o fato de a palavra "vampiro" não ter sido mencionada no episódio), criaturas da noite que tem o poder de transformar outras pessoas em wurdulaks. A cena do garotinho do lado de fora da casa, gritando pela mãe, é de arrepiar.

"A Gota D'Água" encerra com chave de ouro essa antologia. Disputa pau a pau com a segunda história do título de melhor do trio se levarmos em consideração o horror. É a história de uma enfermeira que é chamada para vestir o corpo de uma velha que acabara de morrer. A merda começa quando ela é tentada a roubar o anel de pedras preciosas do dedo da defunta. O olhar da velha morta não sai mais da mente de quem vê esse filme.

Agradeço ao amigão Renato, que gentilmente me fez uma cópia dessa maravilha do horror gótico italiano em vhs. Apesar de o filme ter sido lançado no Brasil, a distribuição dos filmes da Works/London é horrível, e não consigo encontrá-los nas locadoras da cidade. Uma pena, porque eles têm vários filmes imperdíveis no catálogo. E espero ver mais filmes de Bava nos próximos meses. Fiquei especialmente interessado em MATA, BEBÊ, MATA! (1966), que dizem ter sido uma das influências para TWIN PEAKS: OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER, de David Lynch, e para A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO, de Martin Scorsese.

terça-feira, novembro 23, 2004

RESPIRO



Uma experiência bastante prazeirosa assistir esse belo filme de Emanuele Crialise. RESPIRO (2002) conta a história de Grazia, interpretada magnificamente por Valeria Golino. Grazia é como uma ovelha negra em sua comunidade, situada numa ilha italiana pobre e que vive da pesca. Sua personalidade forte, suas várias brigas com suas colegas de trabalho, sua vontade de viver com paixão, de maneira exagerada, quase aproximando-se de uma maníaco-depressiva, incomoda a comunidade - principalmente quando ela, literalmente, solta os cachorros.

Engraçado que esse conceito de ovelha negra não tinha me ocorrido quando eu vi o filme, mas ao ler uma entrevista do diretor ao lado de Valeria Golino, em que ele dá ênfase a essa idéia, lembrei do que Osho falou sobre o rebelde ser o sal da Terra, de ser o diferencial dentro da mesmice da sociedade, de ser o catalizador para que as pessoas possam acordar de suas vidas automatizadas. Lembrei também da parábola do filho pródigo, em que no final o pai valoriza mais o filho rebelde do que o filho bem-comportado. RESPIRO conta uma história que já se repetiu algumas outras vezes: de pessoas que surgem no mundo, incomodam muita gente, morrem, para em seguida se tornarem santas.

Outra coisa que gostei na entrevista de Emanuele Crialise é quando ele fala que nem ele mesmo tem as respostas para os mistérios do filme, que quando ele faz um filme, ele sabe apenas uns 70% do que está acontecendo de fato, preferindo deixar no ar esse mistério. Como se ele soubesse que não tem controle sobre a vida. Ele até pode ter algum controle, mas no final, as coisas vão acontecer naturalmente. Ao mesmo tempo, em alguns momentos o filme deixa no ar um clima de sonho. No final do filme, exemplo claro desse estado onírico, fiquei sem entender direito o que aconteceu, mas gostei assim mesmo.

RESPIRO é um filme que funciona em dois níveis, mas nem me interessei tanto assim em ir atrás dos simbolismos, do que pode estar escondido abaixo das primeiras camadas. Apenas ver o filme, se deixar levar por suas imagens, pelo ritmo cadenciado, pela beleza selvagem de Valeria Golino, já foi suficiente pra mim.

segunda-feira, novembro 22, 2004

FRITZ LANG EM DOIS FILMES



Antes tarde do que nunca. Só agora estou descobrindo os filmes de Fritz Lang. Depois de ter me decepcionado com METRÓPOLIS (1927), pude conferir dois Langs excepcionais. M - O VAMPIRO DE DÜSSELDORF (1931), em especial, me deixou maravilhado. O outro título que vi, OS CORRUPTOS (1953), é da fase americana, lar da maior parte de sua filmografia. Lang fugiu da Alemanha logo após ter sido convidado para dirigir a nova indústria cinematográfica do Terceiro Reich. Ao que parece, Hitler era fã de seu trabalho, especialmente de METRÓPOLIS. Depois de passar um tempo na França, onde rodou LILIOM (1934), Lang partiu para Hollywood, onde foi bem recebido, apesar da dificuldade de ter que lidar com os produtores da época, que davam pouca liberdade criativa aos diretores. Mas isso não impediu Lang de deixar sua marca em todos os filmes que fez. De acordo com Peter Bogdanovich, no livro Afinal Quem Faz os Filmes, "as verdadeiras preocupações de Lang eram os feridos e ultrajados - aqueles que foram retorcidos pela vida, aleijados física ou emocionalmente pelos eventos de sua existência." Essa característica é vista claramente nesses dois belíssimos exemplares de sua filmografia.

M - O VAMPIRO DE DÜSSELDORF (M / M - Eine Stadt sucht einen Mörder)

M é o filme preferido do próprio diretor. Também pudera. Com um trabalho desses, qualquer um se sentiria orgulhoso. Antes de ser lançado, o título provisório do filme era "M - Um Assassino entre Nós" e logo os nazistas acharam que Lang estava se referindo a Hitler. Depois que souberam que o filme era sobre um assassino de crianças, eles se acalmaram mais. Quanto ao título brasileiro, a palavra "vampiro" no título não se justifica e da mesma forma que pode atrair alguns espectadores desavisados, pode afastar outros. M foi o primeiro filme falado dirigido por Lang. Como era uma característica dos primeiros filmes falados, havia muita conversa e pouca utilização de trilha sonora. Reclamava-se que o cinema tinha se transformado num teatro filmado, perdendo muito da criatividade em se contar uma história basicamente com imagens. Não é o caso de M: as cenas de conversa são muitas mas fundamentais para o desenvolvimento da narrativa; e depois de quarenta minutos de filme, os diálogos diminuem consideravelmente, sobrando espaço para algumas das cenas silenciosas mais impressionantes que eu já vi. A cena em que Peter Lorre (o assassino de crianças, em performance espetacular) se vê acuado por seus perseguidores numa rua quase deserta é pura magia e trouxe um sentimento dúbio: ao mesmo tempo que eu torcia para que pegassem o assassino, sentia pena dele. A cena do "júri popular", então, mexe com as emoções de tal forma que chega a ser intoxicante.

Nesse filme, "os aleijados física e emocionalmente pelos eventos da existência" tanto podem ser as mães das meninas assassinadas, quanto o próprio assassino, vítima do seu próprio instinto doentio. Lang havia entrevistado assassinos de verdade para compor o personagem de Peter Lorre. O horror maior é que o filme nunca mostra ou explica de que maneira as crianças eram encontradas, ficando a critério do espectador imaginar os maiores horrores possíveis. Um dos filmes mais importantes da história do cinema. Obra-prima. Visto em divx, enviado pelo Fábio.

Em 1951, Joseph Losey dirigiu um remake de M, repetindo algumas seqüências do original, tomada por tomada. Fiquei curioso para conhecer essa versão de Losey. Na entrevista de Lang a Bogdanovich, ele falou que nunca tinha visto o filme. Ao que parece, ele e Losey não se entendiam muito bem. Lang, zombando do fracasso comercial da nova versão, comentou que o filme deve ter passado apenas em asilos de cegos, já que ninguém o viu.

OS CORRUPTOS (The Big Heat)

Se em M, as mães sofriam com o desaparecimento e a morte de suas crianças, em OS CORRUPTOS, o personagem de Glenn Ford sofre com o assassinato de sua esposa. A cena da morte da esposa é chocante e acontece justamente num momento de paz e alegria no lar. Assim como em M, a morte não é mostrada. Só vemos o estrago depois. O filme, com aquele clima intrigante dos filmes noir da época, tem trama intrincada, vários personagens, corrupção entre policiais, café quente na cara. Destaque para a participação de Lee Marvin como um dos mafiosos. OS CORRUPTOS talvez tenha sido um dos filmes mais violentos de sua época (já começa com uma cena de suicídio). É um ótimo filme, mas se comparado a M fica bem atrás. Visto em DVD há cerca de um mês, o que justifica um pouco o meu breve comentário, já que me esqueci de muita coisa do filme.

Outros filmes de Lang disponiveis em DVD (nem sempre com garantia de boa qualidade):

Da fase muda:
A MORTE CANSADA (Continental)
DR. MABUSE - PARTE 1 - O JOGADOR (Continental)
DR. MABUSE - PARTE 2 - O INFERNO DO CRIME (Continental)

Da fase falada:
LILIOM (Magnus Opus)
O RETORNO DE FRANK JAMES (Classic Line)
O TIGRE DE BENGALA (Continental)
O SEPULCRO INDIANO (Continental)

domingo, novembro 21, 2004

CAPITÃO SKY E O MUNDO DO AMANHÃ (Sky Captain and the World of Tomorrow)



Tenho dois filmes excepcionais pra comentar aqui, mas como não estou inspirado hoje, prefiro falar a respeito de um filme que me causou grande decepção. CAPITÃO SKY E O MUNDO DO AMANHÃ (2004), filme do estreante Kerry Conran que estreou na última sexta-feira, é chato pra caramba.

O diretor tinha conseguido convencer o produtor Jon Avnet a financiar o seu projeto quando mostrou a ele um curta-metragem de seis minutos utilizando a mesma técnica de CAPITÃO SKY: a utilização de cenários inteiramente virtuais, gerados no seu laptop particular, misturados com atores de carne e osso. O filme foi um sucesso de bilheteria nos EUA, mas não consigo imaginar como isso foi possível. Acredito que o sucesso do filme não tenha sido pelo "boca a boca", já que tenho visto poucas pessoas falando com entusiasmo desse filme, mas por causa do marketing agressivo mesmo. Talvez outro segredo do sucesso tenha sido a presença de Jude Law, que está protagonizando vários filmes de sucesso atualmente nos EUA, sendo que CAPITÃO SKY é o primeiro a chegar ao Brasil. Jude Law tem realmente carisma, ainda que isso não seja suficiente pra segurar qualquer filme.

A história do filme é tão artificial quanto os seus efeitos, ao querer se utilizar do clima típico dos filmes de aventura das décadas de 30 e 40. Os tempos são outros. E a recriação do passado na maioria das vezes resulta em artificialismos. Podemos comparar um pouco com o resultado do sirkiano LONGE DO PARAÍSO, mas o filme de Todd Haynes tinha a vantagem de conseguir injetar doses de melodrama datado no público de hoje e ainda emocionar, talvez porque o gênero não tenha mudado tanto de lá pra cá. Também não acredito que a culpa do fracasso do filme seja o excesso de inocência nos personagens. Basta lembrar do excelente resultado da série Indiana Jones, os três filmes empolgantes de aventura à moda antiga dirigidos pelo Spielberg.

O grande problema é mesmo a trama do filme e o seu andamento, que são tão empolgantes quanto ler uma lista telefônica. Não lembro quantas vezes bocejei e fiquei tentado a dormir no cinema. Mas como isso não é uma coisa que eu me permito fazer, preferi lutar contra o sono e encarar a jornada até o fim, bravamente.

E pensar que teve gente que chamou isso aí de o futuro do cinema. Se todos os filmes no futuro forem assim, vou preferir ver filmes antigos até o fim de minha vida. Estoque não vai faltar. Agora, por exemplo, acabei de ver a obra-prima M, de Fritz Lang, mas isso é assunto pra outro dia.

sexta-feira, novembro 19, 2004

TRÊS CURTAS NACIONAIS



Recentemente vi três curtas de estilos bem distintos. O curta do Aguilar consegui ver graças ao Renato, que me enviou numa fita; o novo trabalho de Halder Gomes veio parar nas minhas mãos porque coincidentemente um dos rapazes que trabalharam na equipe do filme é meu aluno e puxei conversa com ele quando o vi com uma camiseta de SUNLAND HEAT; o curta de Camilo Cavalcante, tive a oportunidade de ver antes da sessão de A CAMAREIRA DO TITANIC, no Centro Cultural Banco do Nordeste. Minhas impressões um tanto confusas dos curtas:

LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR

Depois de David Lynch, o diretor de quem eu mais vi curtas-metragens é o amigo Eduardo Aguilar, talvez mais conhecido por ter sido assistente de direção de Carlos Reichenbach em ANJOS DO ARRABALDE (1987), ALMA CORSÁRIA (1993) e GAROTAS DO ABC (2003) e por ter também trabalhado com o saudoso Walter Hugo Khouri em FOREVER (1991). Seus curtas são todos realizados em video. Aguilar é um defensor ardoroso do formato que, mesmo em tempos em que o vídeo digital é cada vez mais utilizado em filmes de grande repercussão, ainda é tratado como bem inferior ao celulóide. Se formos ver o vídeo na tela do cinema, em termos de qualidade de imagem, realmente perde para o celulóide, mas se vistos na televisão a diferença é pouca.

Os dois primeiros curtas de Aguilar - PUTA SOLIDÃO (2001) e DIAS CINZENTOS (2002) - têm um agradável clima de melancolia. Parecem ter sido inspirados nos filmes do Khouri da década de 60. OS ÚLTIMOS DIAS DE PAPAI NOEL (2003) já apontava uma diferença de estilo, com uma certa crueza e uma trilha sonora punk (Garotos Podres). Esse novo curta, dedicado a Lucio Fulci, Pupi Avati e Khouri, é uma nova experiência, dessa vez dentro do gênero horror, possivelmente influência do contato de Aguilar com a turma da lista de discussão Canibal Holocausto.

LOURDES, UM CONTO GÓTICO DE TERROR (2004) tem direção pausada, sem a pressa característica da maioria dos curtas, como se o diretor não se importasse com o pouco tempo disponível para expressar suas idéias, até parecendo o início de um longa. Nesse sentido, e por causa também do final, o curta lembra o impressionante BEHEMOT, de Carlos G. Gananian. Tenho algumas dúvidas sobre o significado do curta: o que seria a figura fantasmagórica? Aquilo que parece ser um ponto de interrogação em sua testa seria o símbolo da dúvida, que mata a fé? E o que são aquelas referências aos textos apócrifos? Bom, tenho que perguntar tudo isso ao próprio diretor do filme, e quando tiver respostas ponho aqui, nem que seja apenas nos comentários. Um curta intrigante. Quem mora em Porto Alegre vai poder conferí-lo numa sessão de curtas raros promovida pelo "seu canibal" Thomaz Albornoz.

O ARTISTA CONTRA O CABA DO MAL

Halder Gomes é diretor de SUNLAND HEAT - NO CALOR DA TERRA DO SOL, filme de pancadaria com elenco americano e que se passa em plena Fortaleza. Na época que vi o longa, no Cine Ceará, não estava com muito bom humor pra aturar uma bagunça daquelas, mas houve quem se divertiu com o filme, até comparando com KILL BILL, já que a trama tem alguns pontos em comum com o filme do Tarantino. Falando em bagunça, O ARTISTA CONTRA O CABA DO MAL (2004), curta-metragem rodado em digital e feito inteiramente com equipe local, é mais feliz do que o longa. Não que o curta também não seja um pouco desordenado, mas aqui a bagunça se confunde com o clima anárquico da sala de cinema, onde se passa o filme, que até me lembrou uma cena de ROMA, de Fellini. "O Artista Contra o Caba do Mal" é o título do filme dentro do filme. A história se passa nos anos 70 numa cidadezinha do interior, onde o que mais se passava era filme de kung fu. Percebe-se que o diretor é um entusiasta do gênero, como confirmou o Nonato, o rapaz que me emprestou a fita e participou da equipe de filmagens. Engraçado que o termo "artista" do título se refere ao mocinho, ao herói da história. Lembrei de imediato de quando eu era criança e prestava atenção nos comentários dos colegas do meu bairro que só queriam saber mesmo quem era o "artista" e quem era o "mau". Estavam pouco se lixando com outros detalhes do filme e não havia o menor senso crítico por parte do deles. Bastava torcer pelo herói e contra o "caba do mal" e pronto. É com esse espírito que o filme de Halder Gomes recorda com certa nostalgia essa época. Notícia boa pra quem se interessou pelos filmes do Halder: SUNLAND HEAT vai ser lançado em dvd no Brasil e O ARTISTA CONTRA O CABA DO MAL deve se transformar num longa.

A HISTÓRIA DA ETERNIDADE

Esse filme de Camilo Cavalcante, a exemplo do FESTIM DIABÓLICO, de Hitchcock, é aparentemente um filme de plano único. Só aparentemente. Os cortes são bem disfarçados e eu curti pra caramba os travellings desse filme. Não há uma história, mas imagens surreais passando pela lente da câmera. Bem interessante. Produção de 2003.

quinta-feira, novembro 18, 2004

A CAMAREIRA DO TITANIC (La Femme de chambre du Titanic / The Chambermaid on the Titanic / La Camarera del Titanic)


A CAMAREIRA DO TITANIC (1997) foi o último filme de Bigas Luna que passou em circuito comercial no Brasil. VOLAVÉRUNT (1999) e SON DE MAR (2001), até agora, nada de pintarem por aqui. Queria vê-los, especialmente esse último, que parece ter muito sexo. E sexo nos filmes de Luna é sempre interessante e excitante, como pode ser comprovado em obras como AS IDADES DE LULU (1990), JAMÓN, JAMÓN (1992) e OVOS DE OURO (1993). A CAMAREIRA DO TITANIC é um filme de Luna sem sexo, o que até desanimaria um pouco se a história não fosse tão boa e a direção suave de Luna não fosse tão acertada.

Esse era um filme que eu tinha muita vontade de ver há tempos, mas não conseguia encontrar a fita nas locadoras. Foi quando soube que o filme iria ser exibido no telão do Centro Cultural Banco do Nordeste e tive finalmente a chance de conferí-lo. Não costumo ver muitos filmes lá porque ainda tenho certo preconceito com filmes em vhs exibidos em telão. Além do mais, o telão de lá é pequeno. Eu gosto mesmo é de telona e pra ver filmes em vídeo eu prefiro ver em casa. Mas essa foi uma exceção.

O filme foi produzido no mesmo ano do mega TITANIC, de James Cameron, mas os dois filmes têm muito pouco em comum. No filme de Luna, temos um jovem francês casado (Olivier Martinez) que ganha, como prêmio, uma viagem para a Inglaterra para assistir a partida do Titanic. Chegando lá, quando vai dormir no hotel, aparece uma moça bonita - a camareira do título - que pede para dormir no seu apartamento.

A CAMAREIRA DO TITANIC é um filme sobre a necessidade de se contar histórias e a necessidade ainda maior de se ouví-las. Não o vejo como o filme romântico que muita gente diz ser, já que o romantismo mostrado no filme é até um pouco grotesco, o que é natural vindo de Luna. Quando o protagonista faz sucesso contando mentiras cada vez maiores envolvendo a tal camareira, mais o público, mesmo sabendo no fundo que tudo é mentira, quer ouvir. Hoje o cinema e a televisão suprem mais essa necessidade, mas antes de existirem essas tecnologias, e no tempo em que muita gente era analfabeta, o bom mesmo era ouvir histórias contadas por alguém com o dom de atrair a atenção das pessoas com palavras.

quarta-feira, novembro 17, 2004

NIP/TUCK - NINGUÉM É PERFEITO (Nip/Tuck)



Até que ultimamente tenho conseguido me disciplinar para ver algumas séries de TV completas. Antes, quando não tinha TV por assinatura, nem se quisesse eu conseguia, já que as TVs abertas não deixavam. Mais recentemente tivemos o caso de THE SHIELD, ótima série policial que a TV Record começou a exibir e parou já duas vezes. As TVs por assinatura respeitam bem mais o espectador.

NIP/TUCK é mais uma série que eu acompanhei até o final da 1a. temporada - nos EUA, já foi exibida a 2a. temporada -, que durou 13 episódios, contando com o piloto. A série é ousada e trata sobre o mundo dos cirurgiões plásticos, mostrando-os amorais e mercenários. Os personagens principais são os cirurgiões Sean McNamara (Dylan Walsh) e Christian Troy (Julian McMahon, que vai ser o Dr. Destino no filme do Quarteto Fantástico). O primeiro é casado e tem dois filhos, mas está com crise no seu casamento com Julia (Joely Richardson); o segundo é um solteirão convicto e mulherengo, que não consegue se apegar a ninguém.

Um detalhe dessa série, mas que pode afastar pessoas mais sensíveis, são as imagens reais de cirurgia, com os pacientes indo para a faca. Mas as cenas são breves e não chegam a causar embrulhos no estômago. Passam pela clínica traficantes querendo mudar de rosto para fugir da polícia, travestis querendo fazer mudança de sexo, mulheres peitudas com sacos de heroína no lugar de silicone, entre outros casos mais normais.

Dez momentos que marcaram essa primeira temporada:

1. O filho de Sean tenta fazer uma circuncisão em si mesmo, através de dicas num site da internet, já que o seu pai é contra fazer cirurgias por motivos estéticos;
2. A cena de sexo entre esse rapaz e duas meninas lésbicas;
3. Christian saindo com a namorada para uma festa swing;
4. Um acidente de carro deixando uma jovem desfigurada e dois rapazes com dor na consciência;
5. O sexo entre um travesti prestes a perder o pênis e uma lésbica;
6. Uma das transas de Christian aparece grávida;
7. Christian troca a namorada por um carro importado;
8. Sean se apaixona por uma mulher com câncer;
9. Uma adolescente gorda comete suicídio depois de ter sua cirurgia plástica negada;
10. O nascimento do "filho" de Christian, levando o chorão aqui às lágrimas.

Atualmente a FOX está exibindo, no lugar de NIP/TUCK, o premiado faroeste DEADWOOD, série que tem recebido boas críticas.

terça-feira, novembro 16, 2004

MÁ EDUCAÇÃO (La Mala Educación)



O fim de semana prolongado foi bem legal. Muita diversão em Canoa Quebrada com uma turma de dar gosto. Mas, assim como aconteceu quando eu voltei de Brasília, bastou eu chegar em casa pro meu corpo adoecer. Até o cinema, que eu estava programando ir, não aconteceu. Preferi ficar em casa dormindo ou vendo o dvd de DRÁCULA, de Tod Browning, que a Érika me emprestou. (Ela também me emprestou o maravilhoso livro UM FILME É UM FILME, com textos antológicos de José Lino Grünewald, sobre o cinema dos anos 60.) Canoa Quebrada está bem diferente de quando eu passei por lá há mais de cinco anos. Entre as casas de forró (que eu passo longe) e as boates que tocam música vulgar (não sei porque me vem à cabeça esse adjetivo), encontramos um bar bem legal que toca rock e que tem boa movimentação de gente bonita. Encerrávamos as noites de farra na barraca Freedom, onde acontecia o Luau (sem lua, dessa vez), ao som de reggae. Até eu, que não morro de amores pelo ritmo jamaicano, me senti contagiado com o balançar da barraca (literalmente), causado pela dança de quem estava presente. Mas legal mesmo era o ambiente na casa onde estávamos. Não dá pra esquecer do agradável papo com o Rafael, a Èrika, o Murilo (também conhecido como "muro pequeno" ou "grunhido de rato"), Igor e Valéria - afinal, "Tente Outra Vez", de Raul Seixas e Paulo Coelho, é ou não uma canção dotada de ironia?-; ou da tentativa de se jogar Perfil com álcool na cabeça; ou da primeira refeição: pão com ovo e cachaça. Pena que não deu pra ir mais gente, mas, de qualquer maneira, foi mais um evento bem sucedido organizado pela promoter Valéria Pinheiro. Mas vamos ao filme do Almodóvar.

MÁ EDUCAÇÃO (2004), de Pedro Almodóvar, é filme para se analisar os prós e contras. Apesar de não ter ficado totalmente satisfeito com o filme como um todo, cada vez que lembro das cenas geniais, percebo que até quando Almodóvar erra, ele acerta. Mesmo os filmes mais fracos desse brilhante autor não deixam de ser imperdíveis.

Assim que o filme começou, já fiquei entusiasmado com os créditos de abertura, que lembram PSICOSE, do Hitchcock, especialmente pela música de Alberto Iglesias, homenageando Bernard Herrmann. As primeiras imagens do filme são igualmente interessantes, quando vemos pela primeira vez a bela fotografia de José Luis Alcaine, colaborador de Almodóvar em ATÁ-ME (1990) e MULHERES À BEIRA DE UM ATAQUE DE NERVOS (1988), que, ao gosto do autor, sempre tem que destacar as cores quentes, especialmente o vermelho. Interessante também o uso do leve estreitamento da tela nas cenas de flashback.

Pena que o ritmo do filme vai ficando irregular a partir do momento em que a história vai se revelando um suspense, gênero que Almodóvar já tinha experimentado antes com MATADOR (1986). Mas o filme que MÁ EDUCAÇÃO mais faz lembrar é mesmo A LEI DO DESEJO (1987), por causa do homossexualismo mais forte. Claro que gay tem em quase todo filme do diretor, mas nesses dois filmes, esse tema está presente até na câmera, como, por exemplo, na cena em que Fele Martínez está na piscina e olha para certas partes do corpo de Gael García Bernal. Não se trata apenas dos travestis engraçados da maioria de seus filmes, ainda que tanto Gael quanto Javier Cámara apareçam travestidos numa cena até engraçada, mas que não dá o tom geral do filme, mais sério.

Almodóvar, a partir de A FLOR DO MEU SEGREDO (1995), tem preferido adotar mais seriedade, assumindo o melodrama definitivamente. Ele também tem evitado chocar as audiências, como fazia nos tempos de A LEI DO DESEJO. Assim como ele preferiu (sabiamente) não mostrar o enfermeiro interpretado por Javier Cámara fazendo sexo com uma garota em estado de coma na obra-prima FALE COM ELA (2002), nesse novo filme, ele evita mostrar os abusos que o garotinho sofre de um padre na escola, ainda que isso fique mais do que evidente. Não sei dizer se essa escolha, no caso de MÁ EDUCAÇÃO, foi acertada, já que a impressão que se tem é que o diretor se acovardou; que o que parecia ser um filme-denúncia sobre a podridão da Igreja Católica, acaba virando um filme de suspense, uma história de assassinato e trocas de identidade, deixando em segundo plano "o crime do padre Manolo".

Almodóvar também suaviza as cenas de sexo homossexuais, em comparação com A LEI DO DESEJO, ainda que possa até chocar alguns desavisados com uma cena de felação bastante ousada, levando em consideração que quem está "botando a boca no trombone" aqui é o superstar Gael García Bernal.

Apesar dos contras, é um autêntico Almodóvar. Logo, é uma obra imperdível. Pena que dessa vez não vai estar no meu top 10 no fim do ano.

quinta-feira, novembro 11, 2004

CHANG CHEH EM DOIS FILMES



Sim, eu fui uma das pessoas que nunca tinham visto um filme dos Shaw Brothers e que ficaram curiosas ao ver a apaixonada homenagem que Tarantino prestou às produções do estúdio em KILL BILL. Movido pela curiosidade e aproveitando o lançamento em DVD de alguns dos filmes do lendário estúdio pela China Video, aluguei duas amostras do cinema de Chang Che, o mais cultuado dos diretores que trabalharam para os Shaw Brothers. (Ao que parece, minha busca pelas obras que serviram de referência à obra-prima de Tarantino ainda está longe de acabar.)

Chang Cheh foi um cineasta bem prolífico. Em seu período mais produtivo (anos 70), chegou a dirigir 8 filmes num único ano. Nem se sabe ao certo quantos filmes ele dirigiu. Estimativas variam entre 72 e 100 filmes. Lendo sobre Cheh no site Senses of Cinema (na essencial seção Great Directors), fiquei bem curioso para ver CRIPPLED AVENGERS (1978), filme sobre cinco deficientes (um cego, um surdo, um mudo, um aleijado e um idiota) que se reúnem para se vingar do homem que os deixou naquele estado. Inclusive, os cinco atores que interpretam os vingadores aleijados são os mesmos que estão em OS 5 VENENOS DE SHAOLIN (1978), filme que tive o prazer de assistir recentemente.

OS 5 VENENOS DE SHAOLIN (Wu Du / Five Venoms / Five Deadly Venoms)

A história de OS 5 VENENOS DE SHAOLIN é bem complicada. Por sorte, gravei o filme numa fitinha VHS para rever e esclarecer um pouco mais a trama pra mim. A história é sobre um jovem discípulo (Yang Tieh) que tem a missão de descobrir o paradeiro dos Cinco Venenos, assim chamados os ex-pupilos de seu mestre que foram treinados no passado em cinco diferentes estilos: Centopéia, Lagarto, Sapo, Escorpião e Cobra. A tarefa não é fácil, já que os Cinco Venenos usavam máscaras e nenhum deles conhecia a identidade do outro. Desse modo, o jovem Tieh vai entrando numa trama de assassinato, tortura e mistério. Esse é o tipo de filme que, mesmo tendo uma trama complicada, mantém o interesse até o fim, dando vontade de revê-lo mais algumas vezes, seja pelo simples prazer estético, seja para rever as lutas, seja para tirar algumas dúvidas.

O TEMPLO DE SHAOLIN (Siu lam ji / Shao Lin si / Death Chamber / Shaolin Temple)

Já a trama de O TEMPLO DE SHAOLIN (1976) é bem mais fácil de acompanhar. A exemplo de filmes como O COLOSSO DE RHODES, de Sergio Leone, e TITANIC, de James Cameron, que mostram o comportamento de um grupo de pessoas, momentos antes de uma destruição histórica, nessa obra de Chang Che, testemunhamos o aprendizado e os métodos de treinamento usados no Templo de Shaolin, lugar considerado o berço do kung fu, durante os meses anteriores à destruição do lugar.

Vale destacar que as cópias dos DVDs da China Video são de excelente qualidade, valorizando a bela fotografia em scope (ou Shawscope), o trabalho de direção de Cheh, os enquadramentos e os combates muito bem coreografados. Os DVDs vêm com vários trailers de outros filmes lançados pela China Video e o de O TEMPLO DE SHAOLIN ainda vem com entrevistas com dois atores do filme.

Agradeço ao Otávio, especialista em filmes de kung fu, que me forneceu os cartazes chineses dos filmes.

quarta-feira, novembro 10, 2004

CELULAR - UM GRITO DE SOCORRO (Cellular)



Desde o dia que vi o trailer desse segundo longa de David R. Ellis que percebi que se tratava de um thriller especial. A estréia de Ellis na direção, com PREMONIÇÃO 2 (2003), foi uma bela surpresa pra quem esperava um mero repeteco do filme original. Só a cena do acidente na estrada, brilhantemente orquestrada pelo diretor, já denunciava o grande diretor que surgia.

CELULAR (2004) é uma prova de que o homem pode ter um futuro brilhante dentro da indústria. Se o seu primeiro longa, com toda aquela violência gráfica, prestava homenagem aos filmes de horror italianos - especialmente Argento e Fulci -, esse seu segundo filme tem um jeitão de filme B que dá gosto. Ajuda o fato de a história do filme ter sido escrita por um dos mestres do filme B americano: Larry Cohen. Cohen já tinha feito um roteiro também envolvendo telefone dois anos antes, em POR UM FIO (2002), de Joel Schumacher.

CELULAR é um filme que não perde tempo com frescuras. Em menos de dois minutos após os créditos iniciais, Kim Basinger é logo posta em cativeiro por um grupo de homens que invade sua casa, logo depois que seu filho pequeno sai para a escola. Como uma McGiver de saias, ela trata de juntar os fios do telefone destruído por um dos bandidos, na intenção de fazer uma ligação aleatória e pedir ajuda a alguém. A ligação vai parar no telefone celular de um rapaz (Chris Evans, que vai ser o Tocha Humana no filme do Quarteto Fantástico), que tentará ajudá-la sem deixar que a ligação caia de forma alguma. Também no elenco, William H. Macy, como um policial pouco respeitado por seus colegas, e Jason Stathan como um dos bandidos.

Haverá quem vai reclamar das interpretações canastríssimas de Kim Basinger e Chris Evans, mas serão as pessoas que não vão entender o espírito do filme. As situações que surgem também são bem pouco verossímeis, mais uma outra razão pra alguém falar mal do filme. Na verdade, esses dois "defeitos" depõem a favor do filme, deixando-o ainda mais charmoso. Além do mais, nem se sente o tempo passar.

CELULAR estréia em circuito comercial na próxima sexta, dia 12. Imperdível.

segunda-feira, novembro 08, 2004

OS ESTRANGEIROS E A FRANÇA



O fim de semana foi até legal. Pena ter perdido VALENTIN, na sessão de arte, mas foi por uma causa justa: ganhar 50 reais apenas pra fazer uma prova. Vi três filmes no cinema - dois do circuitão e um da mostra de cinema francês -, fui ao show (bem interessante) do Cordel do Fogo Encantado no Dragão do Mar no sábado e, depois do show, ainda fomos dar uma de voyeurs em frente a uma boate onde estava acontecendo um Halloween, só pra ver as fantasias dos gays e olhar belas lésbicas se beijando. O Dragão do Mar nesse fim de semana estava animadíssimo, em clima de festa mesmo. Foi lá no Dragão, no Espaço Unibanco Dragão do Mar, que eu vi esses dois filmes produzidos na França, mas que se passam em outros países e são falados em outra língua. Breves impressões dos filmes, abaixo.

BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA (Balzac et la Petite Tailleuse Chinoise)

Filme que se passa durante a revolução comunista do presidente Mao, em uma comunidade rural da China. É lá que dois jovens citadinos e filhos de capitalistas são enviados para serem "corrigidos". BALZAC E A COSTUREIRINHA CHINESA (2002) ganha pontos em não pintar de diabos os líderes comunistas, mas faz questão de mostrar o erro do regime em proibir livros de países capitalistas. Por causa do interesse dos rapazes por uma jovem costureirinha em aprender mais sobre outros países, eles conseguem alguns livros proibidos para que possam ler para ela, às escondidas. O filme não me aborreceu, mas também não conseguiu me envolver o bastante para que eu ficasse emocionado com o drama dos personagens. Mas é um bom filme, com bela fotografia em scope, valorizando as paisagens e o verde. Falado em mandarim, na maior parte do tempo, o filme recebeu uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Filme Estrangeiro.

DESDE QUE OTAR PARTIU (Depuis qu'Otar est parti...)

Esse foi o único filme que eu vi da Mostra de Cinema Francês nesse ano. (Pena que não vai dar pra eu conferir NOSSA MÚSICA, do Godard, agendado pra amanhã à noite.) Assim que eu percebi que DESDE QUE OTAR PARTIU (2003) era uma variação do tema de ADEUS, LENIN!, de Wolfgang Becker, comecei a ficar aborrecido. Eu já tinha me irritado bastante com o filme alemão, com aquela história de enganar uma pessoa, de sustentar a mentira. Não sei porque isso me incomoda tanto. Bom, pelo menos não sei se dá pra acusar algum dos filmes de plágio, já que ambos foram produzidos no mesmo ano. Deve ter sido apenas coincidência, então. Na trama, mãe e filha tentam esconder da avó o fato de que seu filho Otar faleceu. Ao contrário de ADEUS, LENIN!, que era uma comédia, esse filme falado em georgiano e russo (a história se passa na Geórgia), é mais dramático, mais sério. Outra semelhança entre os dois filmes é que ambos mostram países que estão se adaptando a um novo regime, depois de uma longo período comunista. Como estava meio impaciente, o filme não foi uma experiência muito prazeirosa.

O mesmo não pode ser dito dos curtas brasileiros(que eu vi antes do longa) do projeto "Curta Petrobrás às 6". Recomendo quem é de Fortaleza a ir conferi-los até quinta, já que a partir de sexta, vão exibir novos curtas. É de graça. Dos curtas que eu vi, achei fantástico BALA PERDIDA (2003), de Victor Lopes. Apesar de sustentados muito no diálogo, AMAR (1997), de Carlos Gregório, e PRACINHA (2003), de Fabiano Maciel, são engraçados e inteligentes. Só BANQUETE (2003), de Marcelo Laffite, não é bom.

domingo, novembro 07, 2004

OS ESQUECIDOS (The Forgotten)



Meu tempo está bem escasso nesses últimos dias e estou um pouco atrasado, com três filmes vistos no cinema, como também alguns vistos em casa, para comentar. Vou tirando o atraso aos poucos ao longo da semana. Começo pelo filme que eu vi ontem à noite: OS ESQUECIDOS, de Joseph Ruben.

É a história de uma mulher que perdeu o filho num acidente de avião. De uma hora pra outra, todas as memórias e registros da existência do menino são apagadas, exceto da mente de sua mãe. Melhor não falar mais nada para não estragar as surpresas de quem ainda não viu o filme. É o terceiro título no ano que trata do assunto "apagamento de memória". Os outros foram BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇA e EFEITO BORBOLETA. Mas, pelo que eu li nas críticas dos jornais de São Paulo, o filme tem uma similaridade maior com um filme pouco famoso de Otto Preminger, chamado BUNNY LAKE DESAPARECEU (1965).

Não entendi porque a crítica americana caiu de pau nesse filme. Por conta das críticas negativas, esse é o tipo de filme que a gente vai ver esperando o pior e sai do cinema satisfeito e tendo experimentado até sensações diferentes das usuais. Não é um filme comum: apesar das semelhanças com ARQUIVO X da segunda metade para o final, ele tem uma aura de estranheza que me agradou bastante.

Há pelo menos três momentos assustadores no filme. O primeiro acontece na cena da batida do carro, totalmente inesperada, e que me acordou da dispersão - estava meio disperso durante os primeiros minutos do filme, por causa do andamento lento. Os outros dois momentos assustadores devem ser louvados por utilizarem efeitos especiais, coisa que os filmes mais recentes não conseguem. Quando se fala em CGI em filme de terror, já se imagina que o filme vai estragar toda a atmosfera necessária para um bom filme do gênero. Mas em OS ESQUECIDOS o recurso é usado economicamente.

Juliane Moore continua um espetáculo de atriz e aqui debuta no gênero fantástico, trazendo uma interpretação no ponto para esse tipo de filme. Já Gary Sinise continua com sua cara de sujeito em que a gente não pode confiar. Culpa do seu inesquecível papel em OLHOS DE SERPENTE, de Brian De Palma?

Uma coisa me passou pela cabeça: será que o nome do menino - Sam - tem alguma coisa a ver com o Tio Sam, símbolo dos EUA? O filme não seria uma alegoria sobre o americano, que não deve se esquecer de seu país? Mas deve ser bobagem minha.

quarta-feira, novembro 03, 2004

WIMBLEDON - O JOGO DO AMOR (Wimbledon)



Esse era um filme que não tinha chamado minha atenção e eu nem tinha a intenção de vê-lo até ler algumas críticas positivas e ver comentários elogiosos dos amigos. É mais uma produção do estúdio Working Title, que está se especializando em comédias românticas como QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL (1994), UM LUGAR CHAMADO NOTTING HILL (1999) e SIMPLESMENTE AMOR (2003). No entanto, uma das marcas registradas desses filmes, o ator Hugh Grant, não está nesse filme sobre amor e campeonatos de tênis.

Mesmo não sendo tão bom quanto a maioria desses filmes citados e não tendo Grant como protagonista (se bem que eu acho que ele não convenceria como tenista), WIMBLEDON (2004) é uma boa pedida. Paul Bettany é um cara simpático (e sortudo, já que é casado com a Jennifer Connelly), ainda que não tenha o carisma de Grant. E como não falar da gracinha que é a Kirsten Dunst? A personagem dela é o que qualquer marmanjo pede a Deus (no primeiro encontro a moça fala logo em transar. Hehehe).

Um dos destaques do filme é a bela fotografia em tons ensolarados. Nem parece a Inglaterra. Os créditos de abertura são bem legais, brincando com o esporte. Os clichês, já velhos conhecidos de outros filmes, em vez de incomodar, dão um ar de familiaridade e bom humor ao filme - a cena dos jornalistas em frente ao apartamento lembra NOTTING HILL e a cena de Paul Bettany procurando por sua amada no meio da multidão lembra SIMPLESMENTE AMOR. Tem-se a impressão de que o amor só é "oficializado" se visto na frente de muita gente.

O filme não é chato como a maioria dos filmes de esporte, que dificilmente me agradam. Vai ver porque não tenho espírito competitivo. Mas por mais que tenha várias cenas de partidas de tênis, o tema do filme é o amor como agente inspirador para as pessoas. Ame e sinta-se amado e logo as dificuldades da vida se tornarão fáceis de serem resolvidas. Eu acredito nisso.

segunda-feira, novembro 01, 2004

EXORCISTA: O INÍCIO (Exorcist: The Beginning)



E eis que surge o pior filme do ano. Sim. Pior que OLGA.

Parece que nem o demo queria que fizessem o filme, já que segundo Mick Jagger ele é "a man of wealth and taste" e ele não ia querer que fizessem porcaria. Mas como tem coisas que nem o diabo pode, o filme saiu assim mesmo, um trabalho grotesco e burro, feito para enganar as platéias.

Tudo começou quando o produtor James G. Robinson chamou John Frankenheimer para dirigir o filme. Como o estilo de Frankenheimer tinha muito em comum com o de William Friedkin, diretor do filme original, essa parecia ter sido uma boa escolha. Acontece que Frankenheimer morreu. Aí tiveram que chamar outro diretor. O escolhido foi Paul Schrader, que não fazia filmes em Hollywood desde A MARCA DA PANTERA (1982). O homem estava apenas fazendo filmes independentes. Mas os produtores não gostaram do filme de Schrader - disseram que o filme não estava suficientemente assustador. (Schrader parece ter feito um terror psicológico.) Resultado: chamaram outro diretor pra refazer tudo. Depois de terem gasto 40 milhões de dólares, resolveram filmar tudo de novo, chamando Renny Harlin, de DURO DE MATAR 2 (1990), para dirigir uma versão mais "aterrorizante" do filme.

Por "aterrorizante" leia-se sustos fáceis, efeitos digitais porcos, o capeta encarnando uma mulher de maneira que fique a cara da Linda Blair no filme de 1973, imagens de coisas gosmentas que aparecem sempre junto a uma música que tenta pregar sustos no espectador... Sem falar na história, que é totalmente idiota e claramente feita apenas para encher lingüiça. Nem vale a pena comentar aqui.

Dá pena imaginar que gastaram uma fortuna pra criar uma bosta dessas? Mesmo assim, quero ver o resultado do trabalho de Paul Schrader, que sem dúvida deve ter ficado muito melhor. Impossível não ser. É possível que essa versão renegada saia em DVD por aqui. Mas não estou com muita pressa pra ver.