segunda-feira, maio 18, 2020

NORMAL PEOPLE - PRIMEIRA TEMPORADA (Normal People - Season One)

Há tempos uma série não me pegava de maneira tão intensa. Acredito que a última vez que isso aconteceu foi em 2017, com aquele evento extraordinário cujo título não precisamos lembrar. NORMAL PEOPLE (2020), adaptação do romance premiado de Sally Rooney para a televisão, não tem tanto a intenção de ser grande cinema, embora essa categorização se torne irrelevante quando vemos algo com tanta beleza, inteligência, sensibilidade e invulgaridade no mundo audiovisual.

O fato é que, depois da dica da amiga Cris Miura, que disse que tinha certeza que eu iria adorar a série (ambos somos cancerianos e temos um tipo de sensibilidade parecida), não pensei duas vezes e resolvi conferir. Resultado: vi o primeiro episódio e não consegui parar mais, não consegui dormir enquanto não terminasse aquela história, resultando em uma noite em claro, vendo o sol nascer. O que foi maravilhoso, a propósito, já que me senti mais aproximado daqueles personagens. E confesso que hoje mesmo, lá fui eu começar a rever, começando com os dois primeiros episódios novamente.

NORMAL PEOPLE conta a história de quatro anos na vida de dois jovens na Irlanda dos anos 2010. A história começa com eles ainda no último ano do colegial, segue-os até a faculdade e nos mostra o céu e o inferno de suas vidas. A princípio, a série parece tomar uma linha exclusivamente de história que se passa na escola, com jovens idiotas praticando bullying e tentando ser populares e amados.

Os dois jovens são Marianne (Daisy Edgar-Jones), uma jovem filha de milionários e de família problemática, que começa a se envolver com o seu colega de sala Connell (Paul Mescal), de família da classe trabalhadora e cuja mãe faz a faxina na mansão de Marianne. É lá na mansão, quando ele vai buscar a mãe, que os dois jovens têm a melhor oportunidade de conversar e é lá que uma relação se estabelece. Uma relação às escondidas, pois Connell tem vergonha de ser visto com Marianne, muito por timidez ou insegurança, já que a garota não é muito bem vista por seus colegas. Ela, aliás, sofre bullying dessa turma, além de não ter amigos.

A primeira cena de sexo de Marianne e Connell é uma coisa absurdamente linda. Eles combinam de se encontrar na casa do rapaz, ela ainda virgem, os dois conversam sobre suas próprias inseguranças, e tudo o mais é lindo. Os beijos, as carícias, o que ela fala, o modo como as ações deles resultam em um prazer que vai muito além da simples luxúria. Como os dois vão perceber mais adiante, quando conhecerem outros parceiros, nunca encontrarão outros que se sintam tão bem, tão à vontade, tão eles mesmos.

A partir do quarto episódio começa uma nova etapa na vida dos dois e a série vai por caminhos que acentuam a angústia, principalmente por causa dos erros deles. Na verdade, muito mais de Connell. Porém, como sou tímido e já fiz e deixei de fazer determinadas coisas na juventude de que me arrependo, sei muito bem como se sente o rapaz e me solidarizo. Na faculdade, no reencontro, eles estabelecem uma relação de amizade; uma amizade que cresce, mas que também entra em conflito com o desejo que cada um tem de ainda continuar se amando fisicamente. Até porque o fisicamente dos dois se confunde com o "espiritualmente".

Há um momento específico, do quinto episódio, quando os dois estão conversando sobre o ato que os separou, que é devastador. Nessa cena, ou se chora ou se acumula um nó na garganta. E há outros momentos assim intensos, até porque a jornada dos dois não é tão simples e em uma das vezes a separação acontece por falha de comunicação, o que acaba por resultar em mais sofrimento para ambos, mas também mais certeza de que não encontrarão outras pessoas com quem eles se sintam mais felizes. Uma cena simples como a que eles pegam uma bicicleta para comprar picolé em uma cidadezinha da Itália é linda demais. Ou seja, basta estarem juntos para que a magia aconteça. Mesmo quando o junto não é assim tão junto, como na cena do Skype.

NORMAL PEOPLE também traz um frescor na forma, no modo como brinca com os hiatos temporais, na transição de cenas com alguma frequência usando uma tela escura mais demorada, e também com soluções inteligentes para marcar a passagem do tempo. Sem falar na trilha sonora linda composta de versões acústicas/indie de algumas canções menos desconhecidas e de outras bem famosas, como "Love will tear us apart" (Joy Division) e "Make you feel my love" (Adele), além de contar com uma música instrumental atmosférica que também combina com os momentos de maior melancolia na vida dos personagens.

A direção dos episódios ficou a cargo de dois diretores: os seis primeiros foram dirigidos por Lenny Abrahamson, indicado ao Oscar por O QUARTO DE JACK (2015), e os seis últimos por Hettie Macdonald, que tem um currículo maior na televisão, tendo dirigidos os episódios da minissérie HIT & MISS (2012).

Se haverá uma segunda temporada? Quem sabe? A própria vida dos personagens ainda é uma incógnita, assim como a nossa, atualmente, é. O que se sabe é que a série conta toda a história do livro de Sally Rooney, que também é roteirista. Portanto, uma segunda temporada partiria de um roteiro original ou de um outro livro que continuasse a história do casal, escrito pela romancista.

+ TRÊS HISTÓRIAS DE AMOR

PERFUME DE MULHER (Profumo di Donna)

Admirável este filme de Dino Risi, que equilibra tão bem o humor e a tragédia do homem vitimado por uma guerra. A trilha sonora triste dá o tom agridoce em meio aos momentos divertidos. E Agostina Belli é mesmo linda. Não sei se foi ou se tornou uma atriz famosa no cinema italiano. Ano: 1974.

DESCOBRINDO O AMOR (Damsels in Distress)

Pelo menos dois motivos para ver este filme: direção de Whit Stillman e uma Greta Gerwig antes da aclamação por FRANCES HA. Legal como o filme brinca com o patético, mas acho que fica desinteressante no final. Ainda assim, muito leve e divertido, mesmo quando fala de coisas pesadas, como o suicídio. Algumas cenas são hilárias, e Greta não se incomoda em parecer desengonçada. Ano: 2011.

DOENTES DE AMOR (The Big Sick)

Às vezes dá impressão de que as gorduras do filme (se é que de fato há) funcionariam perfeitamente em uma minissérie. Ainda assim, a agridoce comédia que conta a história de amor real de Kumail Nanjiani é encantadora. Senti falta de momentos mais lacrimosos, mas talvez a opção pela leveza tenha sido um acerto do diretor e de todos os envolvidos. Direção: Michael Showalter. Ano: 2017.

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