Por enquanto ainda é um ensaio para uma peregrinação futura. Sou um cinéfilo de muitos anos de filmes, mas há coisas de que me envergonho, que é ter tantas lacunas na filmografia de certos cineastas importantes. Não vou citar um monte de nomes aqui, mas Fritz Lang é um deles. Devo ter visto apenas cinco filmes de sua vasta filmografia. E o motivo de eu ter adiado tantas vezes o passeio por sua obra é o fato de ele ter muitos filmes na fase muda, sendo que vários desses trabalhos têm uma duração enorme. Então, talvez eu reveze com filmes falados, ou até mesmo deixe alguns dos mudos para bem depois, especialmente aqueles que estiverem em qualidade de imagem ruim.
Não é o caso deste AS ARANHAS - PARTE 1: O LAGO DOURADO (1919), cuja cópia está linda, feita a partir de negativos encontrados na Bélgica. O filme é a primeira parte de um seriado que deveria ser feito em quatro episódios. O primeiro fez tanto sucesso que Lang, que iria dirigir O GABINETE DO DR. CALIGARI, teve que se dedicar logo à continuação, que seria lançada no ano seguinte. Não foram feitos as outras duas sequências previstas inicialmente.
O LAGO DOURADO tem o espírito das matinês, com um herói vivendo uma aventura em um lugar exótico e uma vilã cheia de maldade, algo notado desde sua apresentação. No caso, o herói aqui é Kay Hoog (Carl de Vogt) que encontra um manuscrito dentro de uma garrafa que acaba por levá-lo até a Cordilheira dos Andes, onde haveria supostamente um tesouro inestimável da civilização inca. Sabendo de seus planos, sua arqui-inimiga, Lio Sha (Ressel Orla), que gerencia uma organização secreta e criminosa chamada As Aranhas, sequestra os planos e descobre o lugar. Lá eles se encontrarão, tendo que encarar uma tribo que planeja fazer um sacrifício humano para trazer de volta sua gloriosa civilização.
Engraçado que eu estava há tanto tempo afastado dos filmes mudos que demorei a me acostumar de novo, por mais que tenha visto todos os trabalhos silenciosos de Hitchcock, de Dreyer, a maioria de Chaplin, de Hawks, além de um ou outro Ford ou Walsh. Ainda assim, é muito pouco. Então, o que percebi é que teria que ter o dobro de atenção para a trama, já que o modo como são apresentados os personagens, através das cartelas, é um tanto complicado para quem vê o filme "em fascículos" ou tem a memória ruim. Nesse caso, seria interessante fazer algumas anotações.
Acredito que o fato de ver uma obra de pouco mais de uma hora de duração e ter ficado um pouco impaciente tenha a ver com os tempos complicados em que estamos vivendo. Portanto, me perdoem. Estou me esforçando. E ter o cinema como aliado para trazer ânimo e entusiasmo para não apenas ressuscitar o blog, como também me enriquecer de cultura e de grande arte tem sido uma bênção.
Ah, só um pouco sobre a descrição que Peter Bogdanovich faz de Fritz Lang em seu livro Afinal, Quem Faz os Filmes. Pelo visto, Lang não era uma figura fácil e bem pouco simpática. Alguns atores que trabalharam com ele depois se recusariam a trabalhar novamente, como Spencer Tracy e Henry Fonda, e Jean Renoir ficou bastante insatisfeito com os dois remakes de obras suas feitas por Lang - ALMAS PERVERSAS (1945) e DESEJO HUMANO (1954) -, principalmente pelo fato do cineasta alemão ter danificado os negativos de seus filmes originais para a realização das refilmagens hollywoodianas. Ao final do texto de apresentação, Bogdanovich afirma que sua "personalidade e perspectiva sombrias refletiam dolorosamente a escuridão do nosso século".
+ TRÊS FILMES
O HOMEM QUE MATOU DOM QUIXOTE (The Man Who Killed Don Quixote)
Para ser sincero, o único filme do Gilliam que eu gostei de verdade foi o que ele fez para o Monty Python. Nem sei se ia gostar de PESCADOR DE ILUSÕES (1991) na revisão (na época lembro de ter simpatizado). Mas eu simpatizo com a persistência dele em querer fazer o tal filme com o Dom Quixote. Este aqui provavelmente não é como ele concebeu inicialmente (não vi o doc PERDIDO EM LA MANCHA, 2002), mas tem a vantagem de ter o Adam Driver, puta ator, e o Jonathan Pryce também. Pena que o filme tem um problema de ritmo incômodo, parecendo muito mais longo do que é. A personagem feminina mais interessante, Angelica, é vivida pela portuguesa Joana Ribeiro. Direção: Terry Gilliam. Ano: 2018.
1945
Um filme que em momento nenhum me conquistou. E assim fica complicado. Nem visualmente (achei uma fotografia preto e branco genérica até), nem em sua trama que procura armar um suspense em torno da chegada de dois judeus na Hungria durante o fim da Segunda Guerra. A personagem mais interessante, a noiva, não é explorada. Direção: Ferenc Török. Ano: 2017.
VIDAS À DERIVA (Adrift)
Tenho impressão de ter visto muitos filmes sobre pessoas à deriva em alto mar. Mas talvez não tenham sido tantos assim. Não vou conseguir enumerar muitos. Este aqui oferece um novo olhar. Bem montado com idas e vindas no tempo e com graus de tristeza e desesperança que caem bem para a história. Shailene está ótima. Direção: Baltasar Kormákur. Ano: 2018.
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