A sequência de AS ARANHAS - PARTE 1: O LAGO DOURADO (1919) é decepcionante. Não que eu estivesse exatamente ansioso para ver o filme depois do interessante gancho que encerra o primeiro capítulo da série, já que, confesso, tenho um pouco de indisposição para o cinema mudo, mas a chance de ver uma história de vingança poderia me animar. Gosto de histórias de vingança. E era o mínimo que AS ARANHAS - PARTE 2: O BARCO DE DIAMANTES (1920) podia trazer. Quem imaginaria que Fritz Lang (também autor do roteiro) deixaria de lado o sentimento de luto do personagem para criar uma nova aventura baseada principalmente na rivalidade entre o playboy aventureiro Kay Hoog e sua arqui-inimiga Lio Sha, líder do grupo criminoso As Aranhas?
Pois é o que acontece. Assim, o que acompanhamos é essa aventura que traz um novo interesse para ambos, um lendário e precioso diamante conhecido como "cabeça de Buda". Sei que é possível estabelecer uma comparação desse filme com a série Indiana Jones, inclusive por Steven Spielberg também ser fã de aventuras à moda antiga como essa, mas é uma pena que, como cinema de entretenimento estilo montanha-russa, O BARCO DE DIAMANTES seja tão fraco. Acredito que nem é por ter envelhecido mal. Acredito que já na época o filme não teve muito sucesso popular; daí o cancelamento das posteriores duas sequências que estavam agendadas.
Ainda bem. Já basta Lang ter perdido a oportunidade de ter dirigido O GABINETE DO DR. CALIGARI, o grande clássico do expressionismo alemão, que foi parar nas mãos de Robert Wiene. E talvez tenha sido melhor assim, já que Wiene fez um trabalho brilhante e até hoje este clássico é algo que impressiona enormemente. Aliás, isso é uma prova de que meu problema não é exatamente com filme mudos, mas com filmes mudos que envelheceram mal ou que não são realmente bons.
Assim, foi difícil para mim chegar ao fim dos 104 minutos de O BARCO DOS DIAMANTES, por mais que em alguns momentos seja interessante ver algumas coisas de natureza mais fantástica, como um mestre dos disfarces (o John Quatro Dedos), o hipnotizador, o yogui que visualiza tudo, a tentativa do herói de entrar em um navio dentro de uma caixa, as mensagens secretas que levam a uma ilha do tesouro e, principalmente, a fascinante cidade subterrânea que fica debaixo do bairro de Chinatown.
E, por mais que fosse mesmo a intenção do filme de ser superficial, não deixa de ser ruim não ter o mínimo de profundidade para que estabeleçamos algum elo com os personagens. Assim, o próprio herói, ao praticamente não lembrar o assassinato de sua namorada no filme anterior, acaba parecendo tão frio e tão interesseiro quanto sua inimiga e os membros do grupo Aranhas. E se fosse isso mesmo, ter um herói próximo de um vilão, até que seria interessante, mas tudo faz parte do jogo de superficialidade desse "filme de sensação" que naufragou. Agora, vamos ver como me sairei com o próximo Lang. Dedos cruzados.
+ TRÊS FILMES
MISTÉRIO NA COSTA CHANEL (Ma Loute)
Continuação espiritual de O PEQUENO QUINQUIN (2014), este novo filme é mais carregado na comédia, mas achei uma beleza. Pode até não ser melhor que o anterior, mas é mais engraçado. Especialmente porque os atores parecem estar se divertindo muito com seus papéis. E eu fiquei encantado com Raph!!! Que coisa linda essa moça! Direção: Bruno Dumont. Ano: 2016.
DEPOIS DAQUELA MONTANHA (The Mountain between Us)
Gosto de muita coisa do filme, embora nem sempre o casal pareça ter uma química dessas bem forte. Ainda assim, é um drama envolvente, tem uma cena de queda de avião ótima e a Kate Winslet é sempre uma maravilha de ver e de ouvir. A sessão de pré-estreia quase não rolou, com problemas técnicos que depois foram resolvidos. Mas teve gente que não teve paciência e foi embora. Direção: Hany Abu-Assad. Ano: 2017.
TERRA SELVAGEM (Wind River)
Há neste filme uma das melhores cenas do ano (de 2017), e gosto muito da personagem da Elizabeth Olsen, por mais que ela não seja tão aprofundada, e, claro, da ambientação, que lembra muito a de A QUALQUER CUSTO (2016). Mas não foi um filme que fez eu me esquecer dos meus problemas. Quem sabe em outras circunstâncias. Direção: Taylor Sheridan. Ano: 2017.
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