segunda-feira, agosto 28, 2006

MIAMI VICE



Sou um admirador tardio do cinema de Michael Mann. O primeiro filme dele que realmente me deixou entusiasmado foi COLATERAL (2004). Desde então, venho acompanhando com mais atenção a obra do cineasta, tentando entender suas motivações, os temas recorrentes, as obsessões. Nesse contexto, fui conferir ontem MIAMI VICE (2006) com um misto de grande expectativa, ao mesmo tempo que temia um filme que desse muita ênfase na negociação de traficantes de drogas, tornando-se, assim, um pouco cansativo. Na verdade, há quem considere o filme cansativo, motivo pelo qual muitos saem do cinema pouco satisfeitos. Isso pode ocorrer porque, desde o início, Mann frustra as expectativas da audiência, que dá de cara com um thriller policial pouco convencional, mais centrado na direção do que no plot e com uma aura de melancolia que em nenhum momento é suavizada.

Antes de mais nada, o filme não tem créditos iniciais (se eu não me engano, nem o logo da Universal aparece). Essa é a primeira quebra de expectativas que Mann realiza. Dessa forma, entramos de imediato no submundo do crime no qual os dois policiais (Colin Farrell e Jamie Foxx) estão envolvidos. Ao som de "Numb", do Linkin Park, estamos numa boate em Miami. Depois de demonstrar a sua habilidade de cantar as mulheres, Farrell recebe uma ligação. A partir dessa ligação, o nível de dramaticidade do filme já sobe extraordinariamente. Um informante dos policiais, com medo de ter sua esposa assassinada, acaba entregando um grupo de policiais infiltrados. O fim desses policiais é trágico e Mann não nos poupa da violência gráfica e do som ensurdecedor das armas de fogo. Mais tarde, quando Farrell se envolve sexualmente com a negociante de drogas vivida por Gong Li, sabemos que tudo se tornará ainda mais perigoso, já que dessa vez os sentimentos estão em jogo.

Uma coisa que me chamou bastante a atenção no filme foi a constante ameaça de que mais cedo ou mais tarde uma grande tempestade iria sacudir Miami. Até os noticiários de televisão mostram o clima pesado. Michael Mann demonstra outra de suas melhores facetas: o seu lado DJ. Assim como aconteceu com COLATERAL, a trilha sonora de MIAMI VICE é um achado, seja na exploração de música dançante (eletrônica, salsa), seja através de música mais ambiente. Curiosamente as duas canções do Audioslave que aparecem no filme ("The Shape of Things to Come" e "Wide Awake") não constam no CD da trilha sonora, assim como "Numb" do Linkin Park. Na parte visual, Mann utiliza, pela segunda vez, câmera digital de alta definição. Nas cenas noturnas isso é mais notado, pela granulação do preto; nas cenas diurnas a imagem ganha mais nitidez.

O principal alvo das críticas de MIAMI VICE chama-se Colin Farrell, o jovem ator que curiosamente também esteve no mais recente filme de Terrence Malick, O NOVO MUNDO. O que é de se estranhar para um astro tão pouco respeitado e com evidentes limitações. No entanto, eu gostei da performance "econômica" de Farrell. Sua pouca expressividade até contribuiu para tornar o filme um pouco mais misterioso. Principalmente no momento em que ainda não sabemos quais as suas reais intenções com relação à personagem de Gong Li. Sem falar na presença de cena do rapaz. Inclusive, o próprio Jamie Foxx também atua de maneira econômica e pouco dramática. A cena do acidente de sua namorada é um exemplo disso. Outro diretor teria feito com que Foxx se descabelasse de desespero naquela cena. Em vez disso, Mann optou por uma expressão de desesperança e pessimismo. O mesmo pessimismo do casal Farrell-Gong Li. Em certo momento, ele diz a ela que a relação dos dois não tem futuro. E que por isso mesmo não há necessidade de se preocupar.

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