domingo, junho 14, 2020

HIGH ART - RETRATOS SUBLIMES (High Art)

É curioso como o encontro com certos filmes chega por caminhos tortuosos. Desconhecia este HIGH ART - RETRATOS SUBLIMES (1998) e o vi figurar em um ranking de 200 melhores filmes eróticos do site Rotten Tomatoes. É importante observar que o ranking não leva em conta o grau de intensidade do erotismo, mas sim o percentual de aceitação dos filmes considerados eróticos pelos críticos. Tanto é que o primeiro lugar é a obra-prima A BELA INTRIGANTE, de Jacques Rivette. HIGH ART aparece na 73ª posição, com 73% de aprovação dos críticos.

Mas o que me chamou mesmo a atenção foi a presença de Radha Mitchell, uma atriz de que eu gosto muito e cuja beleza me encanta. E ela faz par romântico com Ally Sheedy, que vi recentemente em CLUBE DOS CINCO, uma atriz cuja popularidade foi bem forte na década de 1980. Já Radha estava despontando, ainda era jovem, tão jovem que é citada pela personagem de Patricia Clarke como "a adolescente", sendo que ela já tinha 25 anos na época do lançamento do filme.

Até a beleza ainda aparecia em estado bruto, talvez porque a intenção da diretora Lisa Cholodenko não fosse mostrá-la como uma modelo ou alguém perfeita. Em alguns momentos, ela parece estar sem maquiagem, inclusive. De todo modo, Radha é o caso de atriz que teve o auge de sua beleza nos anos 2000, mas que, dois anos depois deste filme, já chamou a atenção no circuito independente com uma ótima interpretação em GRITOS NA NOITE, de Mar Forster. E foi parar em um filme de Woody Allen em 2004, MELINDA E MELINDA.

O que faz de HIGH ART uma obra digna de nota, embora seja de fato um filme pequeno, é que temos cenas de intimidade entre as duas protagonistas que figuram entre as mais sensíveis, delicadas e ao mesmo tempo intensas no campo dos sentimentos entre pessoas do mesmo sexo. No quesito explosão sexual + sentimentos entre duas mulheres amando até temos exemplares melhores, claro, como CIDADE DOS SONHOS ou AZUL É A COR MAIS QUENTE. Mas Cholodenko faz questão de acentuar a paixão, a lágrima rolando nos olhos da jovem Radha quando ela vai pra cama pela primeira vez com a mulher por quem está apaixonada, por quem está desistindo de uma relação estável com um namorado/companheiro.

Talvez o fato de ser dirigido por uma mulher faça com que as cenas fujam de algo destinado a realizações de fantasias heterossexuais, como vistos em tantos outros filmes, inclusive pornôs. Aqui o que conta mais é o sentimento, acima de tudo. Em determinado momento, no carro, a personagem de Radha diz para a mulher que ama que não quer que a relação das duas esteja associada às drogas - a primeira vez que elas se beijam é depois de uma carreira de heroína.

E as drogas desempenham um importante papel na história, pois a casa da fotógrafa Lucy (Ally Sheedy) e sua companheira, a atriz Greta (Patricia Clarkson), é um lugar de encontro de amigos para usar drogas e relaxar. As duas, aliás, são artistas de territórios distintos que meio que desistiram de seus rumos; estão, na verdade, sem rumo. Tanto por causa da própria relação quanto pelos efeitos das drogas em suas vidas.

É quando surge Syd (Radha Mitchell), a moça que mora no andar de baixo do prédio, e logo se apaixona por Lucy. Syd trabalha na redação de uma revista de fotografia e trazer a fotógrafa rebelde e cultuada de volta depois de anos de ausência seria também uma forma de ascensão na carreira profissional. Ela acaba se tornando tanto sua modelo, quanto pessoa mais importante na vida de Lucy, quanto sua editora.

E uma das coisas bonitas do filme é a valorização dos momentos presentes e a consciência de que esses momentos são valiosos e são facilmente fáceis de se evaporar. É um filme que também se destaca por ser uma produção feita basicamente com artistas e técnicas mulheres. Direção, produção, roteiro, fotografia, montagem, casting, figurino, maquiagem, entre outros tantos técnicos. É o caso de realização que até nos dias de hoje não parece tão comum.

Outro motivo para chamar a atenção do filme é que se trata de uma obra de uma diretora que valoriza temas relacionados ao lesbianismo, já que faria posteriormente MINHAS MÃES E MEU PAI (2010). Atualmente está escalada para dirigir o remake americano de TONI ERDMANN, que está parado por causa da desistência de Jack Nicholson.

+ TRÊS FILMES

ROCKETMAN

Um dos grandes acertos de ROCKETMAN foi optar pelo musical tradicional, podendo, assim, sintetizar muitas informações que eram importantes na trajetória de Elton John, mas que podiam ficar rasas em alguma cena não-cantada, como no momento em que o filme dá a entender o universo de orgias; ou a ascensão meteórica já com os primeiros discos etc. Melhor cena: "Your song". Talvez segunda melhor: o abraço. Direção: Dexter Fletcher. Ano: 2019.

É APENAS O FIM DO MUNDO (Juste la Fin du Monde)

Um puta elenco desperdiçado num filme chato e personagens insuportáveis. Mas o puta elenco muitas vezes faz a diferença e não consigo desgostar de todo deste filme de Xavier Dolan. Um filme que tem a Marion Cotillard e a Léa Seydoux juntas não dá pra reclamar muito. Ano: 2016.

VIVE L'AMOUR (Ai Qing Wan Sui)

Acho que não sou bem um fã de Tsai Ming-liang. Vi poucos dele e simpatizo com suas duas experiências mais recentes e mais extremas, no sentido de estender o plano ao nível do desconforto. Aqui já tem isso, mas em menor quantidade. Ainda assim, fiquei impaciente com os cinco minutos de close da mulher chorando. Mas há muita coisa que fica forte na memória, pequenos detalhes do cotidiano dos três personagens. E o que é essa obsessão dele por melancia, hein? Ano: 1994.

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