sexta-feira, junho 29, 2007
TIME - O AMOR CONTRA A PASSAGEM DO TEMPO (Shi gan / Time)
Ainda que tenha os seus admiradores, Kim Ki-duk é um dos cineastas mais malhados dos últimos anos. O primeiro filme dele que foi exibido em Fortaleza - PRIMAVERA, VERÃO, OUTUNO, INVERNO...E PRIMAVERA (2003) - já me causou antipatia a partir do título. Tanto que preferi não assistir. Assim, meu primeiro contato com o cinema do sul-coreano foi com CASA VAZIA (2004), um filme razoável, que trabalha de maneira interessante os silêncios, conseguindo se fazer entender sem a ajuda das palavras, o que já é um mérito. Quando O ARCO (2005) estreou, resolvi pular também. Não tive tempo nem disposição para assistir. TIME - O AMOR CONTRA A PASSAGEM DO TEMPO (2006) foi o filme que me mostrou o lado embusteiro de Ki-duk. Foi quando eu vi o quanto o sujeito é o picareta que certa parte da crítica diz ser.
A estória de TIME de início parece um episódio de NIP/TUCK narrado do ponto vista dos pacientes. Na trama, um casal sofre com o desgaste provocado pela rotina da relação. A mulher acredita que o rapaz não gosta mais dela como antes. Ele teria enjoado dela, teria se cansado de olhar sempre para o mesmo rosto todos os dias. Ela acredita que se fizesse uma cirurgia plástica e mudasse o seu rosto, ele voltaria a ficar interessado por ela. Assim, ela some da vida dele por uns meses, faz a tal cirurgia para só aparecer de novo seis meses depois.
No começo, TIME é bem interessante. Talvez a maior qualidade do filme seja conseguir manter o interesse do espectador até o final, sem deixá-lo com sono ou entediado. Gosto da fotografia também, mas essa beleza plástica já virou quase uma marca do cinema sul-coreano, não sendo mais nenhuma novidade. O problema é que o que começa como algo intrigante vai se tornando ridículo, involuntariamente cômico, à medida que se aproxima do final. Inclusive, diria que se a intenção do diretor era fazer uma comédia, até que TIME poderia ser considerado um bom filme. Mas duvido que essa tenha sido sua intenção.
P.S.: Está no ar a edição de julho da Zingu! O destaque do mês é o dossiê Rubem Biáfora, trazendo vários textos do crítico e cineasta. Como se os textos do homem e os depoimentos de André Setaro e Sergio Andrade não fossem suficientes, a Zingu! ainda conta com uma entrevista com Alfredo Sternheim, Astolfo Araújo e Edu Janks falando sobre o Biáfora, além de uma entrevista do próprio. O trabalho de Matheus Trunk e sua trupe é de tirar o chapéu.
quinta-feira, junho 28, 2007
TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO (Ocean's Thirteen)
Não sei porque eu não vejo muita graça nesses filmes de assalto sem armas do Steven Soderbergh. Quer dizer, eu até acho divertido no começo, reconheço o charme dos heróis e tal, mas depois começo a achar um pouco chato. O que eu havia gostado mais no anterior, DOZE HOMENS E OUTRO SEGREDO (2005), era da participação de Catherine Zeta-Jones e do seu romance com Brad Pitt. Era no momento que os dois estavam juntos que Soderbergh exercitava mais seu lado mais emocional e sua vontade de experimentar e de brincar com os filtros.
No terceiro (e último?) filme da série, TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO (2007), o que movimenta a ação é a vingança e a amizade. Julia Roberts e Zeta-Jones não aparecem, ainda que sejam sutilmente citadas pelos personagens de George Clooney e Brad Pitt. O "vilão" da trama deixa de ser Andy Garcia (que aparece bem menos do que eu esperava) para dar lugar a Al Pacino, dono de um outro cassino em Las Vegas. Por causa do personagem de Pacino, de sua traição, Reuben (Elliot Gould) passa mal e vai parar no hospital. Assim, Ocean (Clooney) e seus amigos resolvem partir para a desforra e bolar um jeito de levar Pacino à falência, logo no dia da inauguração do cassino. Outra novidade nesse terceiro filme é a participação de Ellen Barkin, como assessora direta de Pacino e uma mulher que adora homens mais jovens.
Por falar nisso, o personagem de Matt Damon é bem esquisito, hein. É um sujeito que parece ter problemas com sexo e que ainda guarda forte vínculo com os pais. Ainda assim, ele topa seduzir Barkin para conseguir os diamantes. Acho que faltou ao filme um grande momento, uma cena que se destacasse das demais. Talvez a cena do Garcia no programa da Oprah vá ficar mais tempo na memória, mas o que eu devo guardar mais na memória seja o visual setentista, as cores fortes, onde se destaca o vermelho berrante, como se o filme tivesse sido produzido no antigo technicolor. Isso dá a TREZE HOMENS E UM NOVO SEGREDO um aspecto retrô, um pé nos anos 70. A trilha sonora também contribui para esse clima de viagem no tempo. Inclusive, os heróis também parecem pertencer ao século XX, já que eles não têm intimidade com as novidades da era digital.
Ao final, fica a mesma sensação dos dois primeiros filmes, isto é, a impressão de que o que a gente viu teve a mesma importância de um churrasco entre amigos. Fica também a impressão de que o entrosamento entre a turma aumentou, até porque a amizade é um dos eixos principais do filme. E falando em amigos, O SEGREDO DE BERLIM (2006), o filme anterior de Soderberg, estrelado pelo parceiro George Clooney, não vai mais passar nos cinemas, indo direto para DVD. Como será que ficou o resultado?
quarta-feira, junho 27, 2007
CAMINHO ÁSPERO (Tobacco Road)
Continuando a peregrinação pela obra do grande John Ford, falemos de CAMINHO ÁSPERO (1941), que a FOX lançou recentemente em DVD. Aliás, gostei da qualidade da imagem do DVD. Nesses filmes pré-participação na Segunda Guerra, Ford olhava com carinho para os pobres. A pobreza já havia sido mostrada enfaticamente em VINHAS DA IRA (1940) e seria novamente citada com força em COMO ERA VERDE O MEU VALE (1941). CAMINHO ÁSPERO (1941) é um filme menor que foi feito entre essas duas obras-primas. É um filme que mereceu apenas um parágrafo bem pequeno e apenas para ser menosprezado no livro "John Ford - A Filmografia Completa". O que é uma injustiça, já que CAMINHO ÁSPERO, dentre os filmes menores do diretor, é um dos mais interessantes.
Gostei do misto de comédia e de melodrama que deixa no ar, ao mesmo tempo, um gosto amargo e doce. Confesso que nem sempre embarco no humor de Ford. Às vezes ele me parece deslocado, como em SANGUE POR GLÓRIA (1952), por exemplo. Acho que a única vez que eu ri de verdade vendo um filme dele foi em DEPOIS DO VENDAVAL (1952) - unir John Wayne e Maureen O'Hara quase sempre funciona que é uma beleza. Em CAMINHO ÁSPERO, o humor é bem mais constante, mas é que fica difícil rir das desgraças da família Lester, um povo que não tem o que comer e às vezes precisam até roubar para conseguir alguma coisa.
O filme foi baseado num romance de Erskine Caldwell, escrito em 1933, época em que os EUA ainda sofriam com a Grande Depressão. O romance foi depois transformado numa peça para a Broadway, fazendo bastante sucesso e ficando oito anos em cartaz. Ouvi dizer que a cena de abertura da peça mostrava a família Lester espiando a filha se masturbando! Obviamente isso não aparece no filme. Não sei se a idéia de transformar a peça em filme partiu de Ford ou da Fox. Provavelmente foram os executivos da companhia que tomaram a iniciativa. Mas é imprecionante como mesmo em projetos de encomenda Ford imprime a sua marca. Tem uma hora no filme em que a matriaca dos Lester levanta a mão para a testa, com expressão triste, como no começo de RASTROS DE ÓDIO (1956). Outra coisa tipicamente fordiana é o céu. Poucos diretores filmam o horizonte de maneira tão bonita. E isso fica evidente em vários momentos de CAMINHO ÁSPERO.
Na trama, o velho Jeeter Lester (Charley Grapewin) e sua família caipira, que muito lembra a Família Buscapé, estão prestes a serem despejados do lugar onde moram e tentam, de alguma maneira, conseguir o dinheiro do aluguel. Quem aparece no filme em participação pequena como a filha de Jeeter é a bela Gene Tierney, que anos depois estrelaria o clássico LAURA (1944), de Otto Preminger. Uma das personagens mais legais e divertidas do filme é a irmã Bessie (Marjorie Rambeau), uma viúva que de vez em quando canta hinos religiosos e diz ouvir a voz de Deus. Muitos desses hinos fazem parte da trilha sonora do filme, dando ao filme um ar melancólico que sobrepõe facilmente os momentos engraçados. Mas vai ver foi por isso que eu gostei tanto assim do filme.
P.S.: Curiosamente, está chegando às lojas e locadoras brasileiras um box lançado pela Paramount, dedicado a John Wayne, contendo um filme com o título CAMINHOS ÁSPEROS, de John Farrow. Nenhum dos filmes do box é dirigido por Ford, mas em compensação tem dois títulos do William A. Wellman - GELEIRAS DO INFERNO e UM FIO DE ESPERANÇA.
terça-feira, junho 26, 2007
BAIXIO DAS BESTAS
Em certo momento de BAIXIO DAS BESTAS (2007), Matheus Nachtergaele olha para a câmera, para o espectador, e diz: "sabe o que eu mais gosto no cinema? É que no cinema a gente pode tudo." E é muito bom saber que no Brasil um cineasta nordestino está tendo a liberdade de fazer o que quer, mesmo que isso incomode muita gente. Se AMARELO MANGA (2005) já era um filme forte e incômodo, o segundo longa de Cláudio Assis tem muito mais excessos. Claro que não é com cenas de estupro, prostituição, incesto, nudez, violência e consumo de drogas que se faz um bom filme, mas o cinema brasileiro contemporâneo anda muito bem comportado e estava mesmo precisando de uma boa chacoalhada. É bom ir ao cinema e ficar de vez em quando com o corpo entoxicado e o coração batendo mais forte. Mas o melhor é que Cláudio Assis revela nesse novo trabalho um amadurecimento técnico impressionante em relação ao seu primeiro longa. E a fotografia de Walter Carvalho, em super 35 mm, é de encher a tela (cinemascope) e os olhos.
Cláudio Assis é desses sujeitos radicais que não aceitam fazer filmes de encomenda. Para ele, cinema é algo pessoal, tem que vir de dentro. Ele é um sujeito raivoso - xingou até o Hector Babenco numa premiação - e BAIXIO DAS BESTAS é um pouco a cara dele: raivoso, convicto do que pensa e adora uns palavrões. Há um constraste forte entre a fotografia bonita, de visual esplendoroso, com o cenário da sarjeta. Esse constraste está também no personagem do Seu Heitor (Fernando Teixeira), o velho ranzinza que vive dando lições de moral no povo da região, mas que abusa de sua pobre neta das mais diversas maneiras.
O filme começa com a cena desse velho levando Auxiliadora (Mariah Teixeira), a neta adolescente, para um local próximo de um posto de gasolina. Ele tira a roupa dela e a deixa à mostra para que um grupo de homens possa olhar para ela e se masturbar. Quem se escandalizar com essa cena, é melhor sair logo do cinema, pois depois dela a coisa só piora - ou melhora, dependendo do ponto de vista. Além do avô e da neta, temos outros dois núcleos que se cruzam: o do grupo de amigos, onde se destacam os personagens de Caio Blat e Matheus Nachtergaele, e o das prostitutas - as principais são as personagens de Dira Paes, Marcélia Cartaxo e Hermila Guedes. Os homens passam os dias fumando maconha, dormindo ou pensando em sexo; as prostitutas até gostam da sacanagem, mas sonham em mudar de vida, arranjar um velho rico e sair daquele lugar.
É no puteiro onde acontece uma das cenas mais impactantes do filme. Everardo (Nachtergaele) se revela um verdadeiro psicopata e o que ele faz com a personagem de Hermila Guedes é extremamente cruel, algo semelhante ao que acontece em IRREVERSÍVEL, de Gaspar Noë. O auge dessa seqüência é visto com a câmera posicionada no teto. A crueldade da cena e a beleza de como ela é filmada passa uma sensação incômoda, misto de prazer e dor. E se o cinema americano é cheio de psicopatas memoráveis, o cinema nacional acaba de arranjar mais um, um sujeito tão cruel quanto o Zé Pequeno, de CIDADE DE DEUS. Se o núcleo masculino do filme está de parabéns, o que dizer da coragem de grandes atrizes como Dira Paes e Hermila Guedes de fazerem tais cenas?
BAIXIO DAS BESTAS é, entre outras coisas, uma denúncia da violência contra a mulher e uma crônica sobre os instintos mais baixos, violentos e vulgares do bicho-homem. Não que BAIXIO DAS BESTAS seja realista, no sentido de ser quase um documentário. Na verdade, misturado à realidade, há no filme um clima de pesadelo povoado de monstros embriagados, como se tivéssemos atravessado as portas do inferno, coisa que eu não vejo na cinematografia nacional desde os trabalhos de Mojica. Em certa altura do filme, um personagem reclama do mau cheiro. Outro responde dizendo ser da usina. E ele responde: "você acha que eu não conheço o cheiro da usina? Isso aí é a podridão do mundo."
segunda-feira, junho 25, 2007
QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO (Fantastic Four: Rise of the Silver Surfer)
O Surfista Prateado é um herói que marcou a minha infância e adolescência. Foi lendo uma das histórias do Surfista, escritas por Stan Lee e desenhada por John Buscema e publicadas na saudosa "Heróis da TV", que eu chorei pela primeira vez ao entrar em contato com uma forma de arte. O Surfista Prateado é o herói romântico por excelência. Preso à Terra e à humanidade que o maltrata, ele encontra-se impedido de voltar para o seu planeta e para os braços de sua amada Shalla Ball por causa de uma barreira invisível imposta por Galactus. Seu semblante sempre triste e seu discurso pacifista despertaram em mim um forte de sentimento de compaixão e simpatia. Quando soube que o Surfista estaria no novo filme do Quarteto Fantástico, tive medo que o resultado não fosse satisfatório. Felizmente, QUARTETO FANTÁSTICO E O SURFISTA PRATEADO (2007) é um dos maiores acertos entre as adaptações dos heróis Marvel para o cinema.
Já tinha gostado do primeiro QUARTETO FANTÁSTICO (2005), filme divertido que captava muito bem o espírito dos quadrinhos de Stan Lee. Esta continuação, também a cargo de Tim Story, mantém o tom divertido do anterior, graças principalmente às brincadeiras entre o Coisa (Michael Chiklis) e o Tocha Humana (Chris Evans). Só que dessa vez, esse tom leve é somado à carga inevitavelmente dramática da chegada do Surfista Prateado e do destruidor de mundos Galactus ao nosso planeta.
Reed Richards (Ioan Gruffudd) e Sue Storm (Jessica Alba) estão prestes a se casar e têm que lidar com o forte assédio da imprensa que os tratam como celebridades. O único que gosta de viver nesse "aquário" é Johnny Storm, o Tocha Humana, que usa a fama conseguida para conquistar o mulherio e ainda ganhar dinheiro com os patrocinadores. Enquanto isso, estranhos fenômenos acontecem no planeta com a chegada de um certo alienígena prateado que voa em cima de uma prancha.
Algumas das qualidades do filme: os efeitos especiais estão caprichados; o visual do Surfista está impecável, com destaque para o efeito dele unindo a matéria de seu corpo com a da prancha; o elenco do Quarteto parece estar bastante entrosado e isso se reflete numa simpatia imediata com o público; há uma dinâmica nas cenas de ação e o diretor consegue criar momentos em que os quatro integrantes do grupo agem harmonicamente em conjunto para resolver os problemas. Pena que logo agora que a Jessica Alba foi eleita a mulher mais sexy do Planeta pela revista FHM, ela não aparece tão bela.
O bom velhinho Stan Lee marca presença novamente. Aliás, ele está ficando como o Hitchcock: sempre tem que fazer alguma rápida aparição nas adaptações da Marvel. Ele deve se sentir muito feliz e orgulhoso ao ver as suas criações alcançando um nível de popularidade tão grande. Quanto à trama envolvendo a troca de poderes dos membros do Quarteto, deve ter sido copiada de umas estórias recentes escritas por J.M. Straczinsky, mas o importante é que funcionou no cinema.
sexta-feira, junho 22, 2007
O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA (The Last King of Scotland)
Como já não agüento mais ver o nome desse filme na minha listinha de títulos a comentar, hoje vai ser o dia que o riscarei de vez. Mesmo que não saiba exatamente o que escrever a respeito. Principalmente agora que já se passou tanto tempo - vi O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA (2006) em 22 de abril, descobrimento do Brasil. O título, inclusive, está saindo em DVD este mês no Brasil. Não sei bem porque razão eu fui adiando o texto sobre ele. Talvez por não saber direito se gostei ou não. Ou talvez o filme seja mesmo ruim. Suspeito que se o filme fosse um pouco mais exploitation, mostrando mais explicitamente as perversidades do ditador Idi Amin, e não de maneira tão acadêmica, usado como veículo para Forrest Whitaker ganhar o seu Oscar, talvez assim ficasse mais forte na minha memória.
Assim como a história de Saddam Hussein um dia também vai se tornar um filme, o general Idi Amin Dada é uma personalidade que clamava por uma cinebiografia. Aliás, a julgar por esse filme e por HOTEL RUANDA, a história africana tem tantas barbaridades inacreditáveis que renderiam muitos filmes se Hollywood se interessasse de verdade pela África. Uma das coisas que me incomodou em O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA foi o fato de o personagem no qual o espectador mais se identificaria, o jovem médico interpretado por James McAvoy, ser um bocado idiota. Ele seria o elo de ligação com o espectador, que também se sente um pouco estrangeiro ao visitar uma civilização tão estranha como a de Uganda. Desse jeito, como o espectador vai querer se identificar com um idiota?
O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA começa com decisão do jovem médico escocês de partir para um lugar escolhido aleatoriamente no globo terrestre, uma maneira de brincar com o destino. Assim, ele vai parar em Uganda, para trabalhar com um grupo de médicos e enfermeiros que prestam serviços à comunidade carente da região. Lá ele conhece uma médica casada (Gillian Anderson), por quem tem um interesse amoroso. Mas o que será uma experiência realmente impactante para ele será conhecer o ditador Idi Amin, um homem adorado pelo povo, visto como uma espécie de salvador da pátria naquele país, mas que na verdade é um louco que se auto-intitula "conquistador do império britânico" e "senhor de todos os animais da terra e peixes do mar" e que manda matar os seus desafetos com a maior naturalidade do mundo. Aos poucos, o médico, além de receber um cargo de alta posição no Ministério da Saúde, acaba se tornando um de seus principais conselheiros. Lá pelo final, O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA traz momentos de intenso suspense. Apesar disso, é um filme que me deixou com um pouco de mal estar depois de terminada a sessão, não sei explicar bem porque. De qualquer maneira, não pretendo revê-lo para descobrir.
quinta-feira, junho 21, 2007
TERROR NA ÓPERA (Opera / Terror at the Opera)
Neste ano, completam-se 20 anos da realização de TERROR NA ÓPERA (1987), um dos melhores trabalhos de Dario Argento, talvez um dos poucos filmes do maestro que foi quase uma unanimidade entre críticos e fãs do seu trabalho na época de seu lançamento. E acho que foi a última chance que eu tive de poder ver um filme do mestre no cinema e não fui. Depois desse, nenhum dos trabalhos seguintes do cineasta foi lançado no circuito comercial brasileiro. Ou será que DOIS OLHOS SATÂNICOS (1990) chegou a passar nos cinemas e eu não lembro? Bom, se passou, não chegou aqui. Mas se depender da torcida dos fãs, LA TERZA MADRE (2007) vai poder ser visto na gloriosa tela gigante. Vamos torcer.
Quanto a TERROR NA ÓPERA, trata-se de um dos mais belos e elegantes trabalhos de Argento. O diretor junta, num só pacote, a tradição italiana da ópera, o heavy metal nas cenas de assassinato, muita sanguinolência, cenários suntuosos e a maldição em torno da ópera "Macbeth", de Giuseppe Verdi. Inclusive, durante a realização do filme, dizem que muita coisa deu errado, até mesmo a morte de um dos atores, o que deixou Argento imaginando que o filme também seria amaldiçoado. A habilidade do cineasta com os travellings está azeitadíssima, o que faz com que a experiência de ver o filme, ainda que na tela pequena, seja bem especial. Já havia visto TERROR NA ÓPERA em vhs há muito tempo, mas ver na janela correta, em scope, é fundamental para uma apreciação mais completa. O lado sádico do diretor dessa vez se apresenta principalmente pelo uso das criativas agulhas colocadas perto dos olhos da protagonista (Cristina Marsillach) para que ela seja forçada a ver os brutais atos de crueldade do assassino.
Como sempre acontece nos trabalhos do diretor, a estória não é um ponto forte. É até um prato cheio para os "nossos amigos, os verossímeis" - como os chamaria o mestre Hitchcock - implicarem. Na trama, Betty, uma jovem soprano frígida e que precisa de técnicas de relaxamento para dormir, é chamada às pressas para substituir uma famosa soprano no espetáculo "Macbeth". Acontece que um misterioso maníaco está seguindo os seus passos e a contagem de corpos vai se acumulando. O forte do filme não é mesmo a trama - que mesmo assim tem o seu charme -, mas os movimentos de câmera, as cores, a direção de arte, a construção atmosférica, o gore, nessa que é uma das mais melhores e mais livres adaptações de "O Fantasma da Ópera", aqui transformado num giallo graficamente violento. Uma pena que o diretor tenha feito o horrível UM VULTO NA ESCURIDÃO (1998) anos depois, tentando voltar sem necessidade à estória clássica de Gaston Leroux. Mas isso a gente releva, tenta esquecer.
quarta-feira, junho 20, 2007
PREMONIÇÕES (Premonition)
Quando vejo o nome de um cineasta novo, vindo da Europa ou da Ásia, e que esteja trabalhando pela primeira vez em Hollywood, fico logo curioso pra saber que filme ele fez no seu país de origem para ser convidado para trabalhar nos Estados Unidos. É o caso do alemão de nome esquisito Mennan Yapo, que estreou em Hollywood com o terror PREMONIÇÕES (2007), estrelado por Sandra Bullock. No caso de Yapo, o filme que foi o cartão de visitas para ele chegar em Hollywood foi o suspense LAUTLOS (2004) - inédito no Brasil, acredito eu.
Desde que entrou em cartaz no Brasil, PREMONIÇÕES tem sido quase uma unanimidade em se tratando de críticas negativas e por isso não havia me animado muito para assistir. Porém, como ontem eu estava com tempo livre à noite e com vontade de ir a um cinema próximo da minha casa para voltar caminhando e chacoalhando o meu baú de sonhos e de memórias, resolvi encarar o dito cujo. Até porque eu tenho mania de gostar de filmes de terror que todo mundo odeia.
Felizmente PREMONIÇÕES é um filme envolvente. Na trama, Sandra Bullock fica sabendo que seu marido (Julian McMahon, de NIP/TUCK) morreu num acidente na estrada. Ela fica profundamente triste e perturbada e vai dormir. No dia seguinte, quando acorda, o seu marido está vivo, tomando café, como se nada tivesse acontecido. Ela tinha certeza de que o que viveu no dia anterior não fora apenas um sonho e assim ela começa a questionar a própria sanidade.
Apesar de às vezes ficar a impressão de certo desleixo narrativo, o filme tem vários momentos arrepiantes, como aquele em que ela e o marido são surpreendidos por um raio, numa noite de chuva; ou quando ela vê o rosto de sua filha marcado com cicatrizes; ou quando ela é enviada para um hospício; ou perto do final, na cena da estrada, quando ela fala com o marido ao celular. De alguma maneira, o filme me impressionou, pois coloquei-me um pouco no lugar da protagonista e até saí do cinema um pouco confuso com a realidade. E o dia de ontem passou tão rápido que eu tive a impressão de estar vivendo um sonho, enquanto caminhava até minha casa.
terça-feira, junho 19, 2007
A LONGA VIAGEM DE VOLTA (The Long Voyage Home)
Engraçado eu ter comentado recentemente que tinha achado O ÚLTIMO HURRAH (1958) um filme teatral. Coincidentemente, nas minhas buscas pelos filmes de John Ford - que acabam atrapalhando a ordem cronológica inicialmente pretendida para essa peregrinação -, tive a oportunidade de baixar este A LONGA VIAGEM DE VOLTA (1940). Esse sim é provavelmente a obra mais teatral do diretor. E não poderia ser diferente, já que o filme é baseado num grupo de peças de Eugene O'Neill e se passa quase que totalmente dentro de um navio. Já tinha visto um filme baseado numa obra de O'Neill: LONGA JORNADA NOITE ADENTRO, de Sidney Lumet, e fiquei me perguntando: será que a maioria dos dramaturgos americanos gosta de mostrar personagens bêbados ou viciados na bebida?
Porém, como é comum em filmes baseados em peças teatrais, levei um tempinho para me acostumar e deixar de imaginar que estava vendo teatro filmado, mesmo em se tratando de John Ford na direção. A LONGA VIAGEM DE VOLTA é um filme atípico na carreira de Ford. Há uma maior preocupação no desenvolvimento dos personagens do que na trama. Também não há um protagonista, embora John Wayne, lá pelo final do filme acabe brilhando mais do que os seus companheiros de elenco.
A fotografia em preto e branco de Gregg Toland, poucos meses antes de trabalhar em CIDADÃO KANE, de Orson Welles, é um dos pontos mais positivos do filme. Muito bonito ver, por exemplo, o barco saindo da forte neblina e se aproximando da câmera. Dos filmes de Ford, A LONGA VIAGEM DE VOLTA é um dos mais louvados nesse aspecto. Toland é até hoje um dos diretores de fotografia mais respeitados de todos os tempos, tendo ficado famoso por causa da técnica de profundidade de campo utilizada no filme de estréia de Welles. Toland gostava de experimentar e A LONGA VIAGEM DE VOLTA é cheio dessas experiências do fotógrafo.
Interessante como Ford gosta de mostrar as suas raízes irlandesas em seus trabalhos. Em duas ou três vezes no filme, os personagens pedem para tocar uma música irlandesa para animar a festa. E a música tocada é bastante familiar. Até parece aquela música tocada nos filmes de cavalaria do diretor - tenho mais lembrança de RIO GRANDE (1950). Será a mesma música? Uma das coisas mais bonitas do filme é o sentimento de irmandade que existe entre os homens que deixam suas vidas e suas famílias, talvez fugindo de algum problema ou de algum amor não resolvido, para se dedicar à rotina no mar e no perigo da guerra.
Acho que o fato de eu ter visto o filme com legendas em espanhol tenha atrapalhado um pouco a apreciação e eu acabei não curtindo o filme tanto quanto gostaria. Tudo bem que eu prefiro ver filme com legendas em espanhol do que ver sem legendas, mas às vezes elas atrapalham. Eu me confundo querendo ao mesmo tempo ouvir o diálogo em inglês e ler as legendas em espanhol. Felizmente, o próximo Ford que eu verei - CAMINHO ÁSPERO (1941) - será uma cópia com legendas em português.
John Ford recebeu uma dupla indicação ao Oscar de direção no ano seguinte. Tanto por A LONGA VIAGEM DE VOLTA quanto por AS VINHAS DA IRA (1940). Ganhou pelo segundo, só que ele não compareceu à premiação. Preferiu sair pra pescar com o Henry Fonda na costa do México.
P.S.: Não deixem de conferir o teaser trailer de PORTO DOS MORTOS, primeiro longa-metragem de horror de Davi de Oliveira Pinheiro.
segunda-feira, junho 18, 2007
TWIN PEAKS - A SEGUNDA TEMPORADA (Twin Peaks - The Second Season)
Depois de quase vinte anos de espera, finalmente, na noite desse último sábado, pude terminar de assistir a segunda temporada de TWIN PEAKS (1990/1991), a série mais revolucionária da história da televisão. Sinceramente, acho difícil ver até o final do ano algo tão bom e tão impactante quanto o último episódio da série, dirigido de forma genial por David Lynch. E pensar que aquilo passou na tv aberta! Se teve uma coisa que eu não gostei nesse episódio final foi a duração. Esperava que ele tivesse a mesma duração do primeiro episódio da segunda temporada, isto é, pelo menos uma hora e meia. Quer dizer, eu estava esperando ainda quase uma hora de TWIN PEAKS e, de repente, a série acaba. Eu me senti como uma criança que tem o seu doce tomado por um adulto malvado. Ainda estou me recuperando do trauma.
A segunda temporada é dividida em duas partes muito bem delineadas. A primeira parte continua a trama desenvolvida na curta primeira temporada e lida com o mistério da morte de Laura Palmer. No meio da temporada, esse mistério é resolvido, embora muitas perguntas continuem no ar. Depois desse fantástico episódio, também dirigido por Lynch, a série fica meio morna, como se tivesse de ressaca, tentando se manter firme graças principalmente ao carisma de seus personagens. Demoraria alguns episódios para que TWIN PEAKS voltasse a ser tão empolgante quanto antes. É quando começa o arco dedicado a Windom Earle, o ex-parceiro de Dale Cooper que vai até Twin Peaks para se vingar do agente. Seus planos são macabros e ele tem uma forte atração pelo lado mais sombrio do mundo dos espíritos. Sua principal obsessão é entrar no black lodge, um lugar extradimensional onde habita o espírito demoníaco BOB e o homem de outro mundo (o anão), entre outras figuras sinistras e conhecidas de quem acompanha a série.
A segunda temporada começa resolvendo alguns ganchos, sendo que os principais são: o tiro no peito do Agente Dale Cooper, o incêndio na serraria e Audrey tendo que encarar o próprio pai no bordel. A melhor resolução, a mais lynchiana, é a do tiro no peito de Cooper. Enquanto ele está lá deitado no chão, ele vê novamente o Gigante que lhe dá outra de suas dicas enigmáticas. Depois aparece um velhinho que supostamente trabalha no hotel. O velhinho é meio "lelé" e fica sem entender a gravidade do ferimento de Cooper. O que ele sabe fazer é sorrir e acenar com o polegar. Essa seqüência é narrada de maneira bem lenta e atmosférica. É também um belo exemplo de como ser engraçado e assustador ao mesmo tempo, coisa que só Lynch é capaz. O velhinho funcionário do banco do último episódio seria meio que uma repetição do velhinho do hotel. Parece que Lynch gosta de velhinhos lentos, já que fez um filme inteiro dedicado a um deles - HISTÓRIA REAL (1999). O episódio que encerra essa primeira parte da temporada é outro primor, onde indiretamente reconstituímos a morte de Laura Palmer, através da morte de sua prima, Maddie.
Da série, só não gostava muito das tramas envolvendo a Catherine. Não gostava nada dela. Pra mim, era uma personagem que poderia ser descartada facilmente da série. Tudo bem que ela era uma vilã odiável, mas prefiro vilãos ao mesmo tempo odiáveis e fascinantes, como o BOB ou o Windom Earle. Também não era muito fã de Josie e da trama envolvendo a serraria e a disputa por poder com Benjamin Horne. Além de Dale Cooper, do Xerife Truman e das investigações, o que eu mais gostava/gosto na série é do núcleo jovem, constituído por Donna, James e Maddy; Shelly e Bobby; e Audrey Horne. Depois apareceria a adorável Annie (Heather Graham), que seria o par romântico de Cooper. Quem ganha também um par é a Audrey, com o aparecimento de Jack (Billy Zane). Audrey, inclusive, vai ficando cada vez mais interessante à medida que vai amadurecendo. O amor e o sofrer fazem isso com ela.
Poderia ficar falando do elenco e dos episódios por horas, mas ia ficar muito chato para os leitores, então vamos encerrando por aqui. Não sem antes deixar algumas dúvidas, meio que spoilers: quem é o anão? O black lodge fica vizinho ao white lodge? Afinal, a alma de Laura Palmer foi condenada? Achava que ela tinha encontrado a paz. Ou será a Laura Palmer do episódio final uma versão maligna da outra? Se o espírito de BOB tomou conta de Cooper, então, como ele se encontraria com Laura e o anão 25 anos depois? Suspeito que Lynch ainda havia planejado mais coisas para sua tão amada série, mas a NBC resolveu cancelar a obra por causa da fraca audiência. Coisas da televisão.
Quanto aos extras, são poucos, mas são todos bons. Basicamente, entrevistas com o elenco e com alguns dos diretores. Infelizmente, Lynch não participa dos extras, meio que uma forma de ele manter o mistério, não falando nada sobre o seu trabalho. Interessante ver os atores e atrizes mais velhos, ver a mudança que o tempo fez com eles. Sherilyn Fenn continua muito bonita, bem como Mädchen Amick.
sexta-feira, junho 15, 2007
HEROIC TRIO (The Heroic Trio / Dung Fong Saam Hap)
Depois de ver belos filmes policiais e de gângster dirigidos por Johnny To, fiquei um pouco decepcionado com essa incursão do diretor pelo terreno da aventura fantasiosa, do filme de super-herói à chinesa. Achava que o filme era mais recente, mas HEROIC TRIO (1993) já tem uns quinze anos. O que mais me chamou a atenção no filme foi a beleza juvenil de Maggie Cheung. Não foi à toa que Olivier Assayas se apaixonou por ela. Em HEROIC TRIO ela está ao lado de Michelle Yeoh e Anita Mui como as três heroínas com a missão de deter um vilão que rapta dezenas de crianças.
As crianças são raptadas por uma mulher-invisível. A principal heroína da cidade é a Mulher-Maravilha (Anita Mui), que nada tem a ver com a famosa heroína da DC, a não ser pela força incomum. A Mulher-Maravilha do filme usa uma máscara para esconder a sua identidade e para que o seu marido, um oficial da polícia, não descubra. Maggie Cheung interpreta uma espécie de caçadora de recompensas com muita força e agilidade que quer lucrar, oferecendo seus serviços ao pai de uma das crianças raptadas.
O filme me lembrou um pouco aquelas produções antigas, como os pepluns realizados na Itália na década de 60. Só que com um visual meio anos 80 e com aquelas lutas típicas do cinema de ação de Hong Kong. Os efeitos especiais envelheceram um bocado. Nem é preciso estar muito atento para ver o fiozinho "invisível" usado para levantar a tampa do esgoto, onde fica o QG do vilão. Um dos bandidos tem a pele forte como aço, uma espécie de Luke Cage. Há também a utilização daquela guilhotina usada no clássico O MESTRE DA GUILHOTINA VOADORA, de Jimmy Wang Yu. Enfim, é um filme divertido, mas não o suficiente para evitar o sono que dá devido ao sabor de sessão da tarde.
Johnny To em DVD no Brasil:
HEROIC TRIO (1993) - Europa
HEROIC TRIO 2 (1993) - Europa
JOGO DA VINGANÇA (1999) - China Vídeo
PROFISSIONAIS DO CRIME (2001) - Europa
BREAKING NEWS - UMA CIDADE EM ALERTA (2004) - LK-Tel Video
ELEIÇÃO (2005) - California Filmes
EXILADOS (2006) - Flashstar
quinta-feira, junho 14, 2007
NOITES DE LUA CHEIA (Les Nuits de la Pleine Lune)
A distribuidora Europa melhorou muito de uns tempos pra cá. Antigamente, se um filme era distribuído pela Europa era sinal de que ia ganhar um péssimo tratamento. O melhor (ou pior) exemplo disso é o de CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch, lançado (leia-se mutilado) em fullscreen. Agora, a Europa está investindo em filmes de primeira classe. O melhor exemplo disso são os filmes de Eric Rohmer que a distribuidora está lançando no Brasil. Todos os filmes da série "Comédias e Provérbios" e os quatro da série "Contos das Estações" estão disponíveis para o espectador brasileiro que não teve a chance de ver os filmes no cinema.
Da série "Comédias e Provérbios", loquei nesse final de semana passado NOITES DE LUA CHEIA (1984), que Rohmer filmou entre os ótimos PAULINE NA PRAIA (1983) e O RAIO VERDE (1986), ambos já comentados aqui no blog. Pode até não ser tão bom quanto os seus "vizinhos", mas o importante é que NOITES DE LUA CHEIA tem aquele toque do diretor tão apreciado pelos fãs. E esse toque rohmeriano vai nos conquistando aos poucos. Quando menos esperamos, já estamos completamente envolvidos na divertida trama de confusões em que seus personagens se metem.
Nesse filme, temos a estória de Louise (Pascale Ogier), uma jovem que vive com o namorado Remi (Tchéky Karyo) numa cidade próxima de Paris. Ela se sente um pouco incomodada com o amor possessivo do namorado e precisa de um espaço só pra ela. Assim, ela decide reformar o seu apartamento em Paris para passar a sexta e o sábado sozinha lá. Louise acredita que a distância fará bem para o relacionamento, mas Remi não gosta nada da idéia. Em Paris, ela costuma se encontrar com o amigo Octave (Fabrice Luchini), sujeito que é casado, mas que é doido para dar umazinha com a amiga, embora ela seja bastante resistente e não queira estragar a amizade. Falar mais pode estragar um pouco para aqueles que ainda não viram o filme, mas afirmo que a coisa só melhora da metade pro final.
Acredito que Rohmer substitui um pouco o que o cinema de Woody Allen representava para mim um tempo atrás. Não sei dizer porque, mas ver os personagens expressando seus desejos, seus pensamentos e suas angústias como se estivessem num consultório de psicanálise me dá muito prazer. E isso independe de que haja ou não, da minha parte, qualquer identificação com o que os personagens sentem ou pensam. Se bem que eu até me imagino um pouco na situação de Louise: dentro de uma relação estável, mas com vontade de voltar a ter o meu cantinho, a minha individualidade, a minha liberdade e até mesmo a minha solidão.
Outra coisa que eu andei reparando nos filmes de Rohmer é que - posso estar enganado, me corrijam se estiver - seus personagens não assistem televisão. Pelo menos, não vejo tevê nos quartos ou nas salas deles. É como se a televisão impedisse as pessoas de viverem e por isso o diretor prefere ignorá-la para que seus personagens possam viver suas vidas plenamente.
Só lembrando pra mim mesmo e para os interessados que a série "Comédias e Provérbios" conta com os títulos: A MULHER DO AVIADOR (1981), UM CASAMENTO PERFEITO (1982), PAULINE NA PRAIA, NOITES DE LUA CHEIA, O RAIO VERDE e O AMIGO DE MINHA AMIGA (1987). Espero encontrar os outros três títulos que ainda não vi lá na locadora.
quarta-feira, junho 13, 2007
SHERRYBABY
Olha aí a Maggie Gyllenhaal novamente! E dessa vez num filme de respeito e com os holofotes todos focados nela. SHERRYBABY (2006) rendeu uma indicação para Maggie na última edição do Globo de Ouro mas foi esnobado no Oscar. Assim que soube do filme, já fiquei bastante interessado em conferir. Parece que ainda não há data prevista para o filme estrear no Brasil, seja no cinema, seja em DVD, por isso, tive que recorrer a vias alternativas.
Geralmente filmes que mostram o amor materno me comovem bastante. Talvez pelo fato de eu ser canceriano, signo ligado à maternidade. SHERRYBABY seria um filme irmão de CLEAN, de Olivier Assayas. Ambos lidam com mulheres que tentam se livrar da dependência com as drogas e tentam se ajustar à sociedade, principalmente para poderem ter acesso ao filho/filha novamente. Mas por mais que eu considere CLEAN um filme espetacular e com toda aquela elegância e segurança da direção de Assayas, SHERRYBABY é ainda mais emotivo e tocante.
Maggie Gyllenhaal interpreta Sherry Swanson, uma jovem mulher que passou três anos na prisão e que retorna às ruas, ainda que sob as rédeas da liberdade condicional, para ver sua filhinha pequena. Sua filha estava sob os cuidados do seu irmão e da esposa, que agora a tratam como se fosse sua própria filha. Emocionante o primeiro encontro dela com a menina, perto da piscina, ela pedindo desculpas para a criança, ainda inocente e confusa, sem saber o que a mãe havia feito para aparecer só depois de tanto tempo. E ela diz para a filha a razão de ela ter estado presa: ela roubou para conseguir dinheiro para as drogas.
Mas engana-se quem pensa que SHERRYBABY é apenas um melodrama familiar e lacrimoso sobre uma mulher querendo recuperar a guarda e o amor de sua filha. Aliás, o filme pode até ser um pouco lacrimoso, mas o comportamento violento de Sherry, suas recaídas com as drogas e o uso do sexo para conseguir o que deseja, entre outras coisas, tornam o filme pouco recomendado para ser visto com a família e as crianças. Aos poucos vamos conhecendo mais sobre a vida e sobre o passado de Sherry e fica difícil não se solidarizar com ela. E se o filme consegue isso, é sinal de que a direção da estreante no cinema de ficção Laurie Collyer foi bastante acertada.
Para Maggie Gyllenhaal, trata-se, provavelmente, da melhor interpretação de sua carreira, numa papel forte e ousado, mais até do que o que ela fez em SECRETÁRIA (2002), de Steven Shainberg. É um papel que deve abrir as portas para que ela apareça mais vezes como protagonista. Ou não, já que o seu próximo papel será novamente como coadjuvante em THE DARK KNIGHT, o próximo filme do Batman de Christopher Nolan, substituindo Katie Holmes.
terça-feira, junho 12, 2007
TOTALMENTE APAIXONADOS (Trust the Man)
O filme é fraquinho, não mereceria um post só pra ele, mas como hoje é Dia dos Namorados fica como uma homenagem aos casais apaixonados. :) O que mais me chamou a atenção no filme foi mesmo a presença de Maggie Gyllenhaal, atriz que cada vez mais me fascina, não necessariamente por sua beleza. Maggie não tem um padrão de beleza de modelo, mas ela tem um algo a mais. Talvez seja o sorriso ou os olhos grandes ou só o jeito de falar. Gosto da Julianne Moore também, mas tenho gostado menos dela ultimamente. Acho que ela não tem envelhecido bem e não está nada bonita neste TOTALMENTE APAIXONADOS (2005). Além do mais, ela é um pouco eclipsada pela Maggie. E olha que ela contracena a maior parte do tempo com um ator melhor - ou pelo menos mais simpático que o Billy Crudup. David Duchovny tem se saído muito bem em comédias. Aliás, desde TWIN PEAKS, quando ele interpretou um travesti, que ele já havia provado isso. Pena que ele nunca chegou a fazer um grande filme, diferente de sua ex-parceira, a Gillian Anderson, que fez alguns belos trabalhos independentes.
Na trama de TOTALMENTE APAIXONADOS, Duchovny é casado com Julianne Moore. Ele é um publicitário que gosta muito de sexo, ela é uma atriz de teatro que não é muito fã da "troca de óleo". Pela vontade dele, eles fariam sexo duas vezes por dia, pela vontade dela, talvez uma vez por semana seria o bastante. Os dois freqüentam, uma vez por ano, um analista, mas com uma regularidade dessas, o relacionamento não tem mesmo como progredir. O outro casal é formado pela escritora interpretada por Maggie Gyllenhaal e pelo jornalista vivido por Billy Crudup. A relação desses dois, no entanto, está em crise porque Crudup não quer assumir um compromisso maior, que é ter um filho com a namorada. Tanto Duchovny quanto Crudup são tentados por uma outra mulher. A tentação de Crudup é ninguém menos que Eva Mendes, uma antiga namorada do colégio. E como é de se esperar nessas comédias românticas, haverá uma crise e uma separação. Quando a comédia é mais convencional, termina com os casais reatando e dizendo juras de amor. Algumas, mais modernas, já são um pouco mais amargas no final. Não vou dizer como termina o filme, mas nem é preciso ser especialista pra prever.
TOTALMENTE APAIXONADOS não chega a incomodar nem a aborrecer ou dar sono, é até simpático, mas também não emociona, não faz com que a gente sofra um pouquinho que seja com as crises dos personagens. Aí a gente sai do cinema com aquela sensação de vazio, até um pouco arrependido de ter gastado seu suado dinheirinho com aquela sessão. E olha que na sexta-feira, pouco antes de me dirigir ao Iguatemi para ver o filme, eu dei uma passada na Distrivideo e loquei quatro DVDs. E no caminho de volta para casa ainda fui castigado: ultrapassei os 60 Km no sinal e a luz do fotosensor piscou. Acho que fui multado. Dammit!
segunda-feira, junho 11, 2007
NÃO POR ACASO
O mais bonito de NÃO POR ACASO (2007) é a quase perfeita união entre cerebral e emocional. Afinal, é da junção desses dois aspectos que vem a complexidade do ser humano, já mencionada nos momentos iniciais do filme. Como o homem é detentor do livre arbítrio, as regras que o governam são mais complexas, diferente do restante do universo, sujeito principalmente às leis da atração e da repulsão, como os átomos. Quando vi PALÍNDROMO (2002), o impressionante curta-metragem "de trás pra frente" de Philippe Barcinski, fiquei imaginando o que poderia resultar quando o diretor começasse a dirigir seus longas. Semelhante expectativa também me ocorreu quando vi o arrepiante ILHA DAS FLORES, de Jorge Furtado, e quando vi o belo e assustador VINIL VERDE, de Kléber Mendonça Filho. Do Kleber, ainda não podemos conferir o seu desempenho na direção de um filme em longa-metragem, mas a estréia de Barcinski chegou e não desapontou.
NÃO POR ACASO impressiona a partir dos créditos iniciais, elaborados com muita criatividade. As letras dos créditos, em vez de permanecerem na tela enquanto a câmera se move, movimentam-se como se fizessem parte da paisagem - no caso, a imagem da cinzenta e movimentada cidade de São Paulo. Fascinante o modo como a câmera, durante esse primeiro bloco, nos apresenta São Paulo vista de cima ou vista pelas lentes do monitor do protagonista, o engenheiro de trânsito interpretado por Leonardo Medeiros, um homem solitário e cujos sentimentos estão presos ao passado. É ele quem controla o tempo dos sinais, para evitar que haja um maior engarrafamento na cidade. O personagem de Medeiros é apresentado no primeiro bloco, que termina com uma tragédia. Rodrigo Santoro só aparece no segundo bloco. Ele interpreta um homem que confecciona mesas de sinuca e que também costuma jogar. Assim como o controlador de tráfego, o personagem de Santoro também tenta prever o que acontecerá no futuro, pelo menos dentro de sua especialidade: o jogo de sinuca. Ainda que eles não se encontrem, a história dos dois está ligada ao mesmo acidente. Outra personagem que também lida com as possibilidades do futuro e que aparecerá no filme é a operadora de bolsa de futuros vivida por Letícia Sabatella.
Pra mim, os momentos mais belos do filme são os dois blocos iniciais, que apresentam os dois protagonistas. Gosto ainda mais do primeiro bloco, pois é nele que Barcinski mostra com bastante sensibilidade a tristeza do personagem de Leonardo Medeiros. O ápice desse belo momento vem com a audição de "Laços", da banda portuguesa Toranja, interpretada por Nasi, do Ira!. De arrepiar ouvir o refrão - "Devolve-me os laços, meu amor!" -, já que nesse momento já temos uma idéia do amor que ainda existe no coração sofrido daquele homem. Se depois dos dois blocos iniciais, o filme diminui um pouco o ritmo e perde um pouco o impacto, podemos encarar esse terceiro e bem mais longo momento como sendo uma conseqüência do vazio deixado pela ausência das duas mulheres. Porém, aos poucos, como acontece na vida real, novos acontecimentos trazem novas motivações para a vida desses dois homens. Desse modo, NÃO POR ACASO é um filme bem mais otimista do que se imagina. O final é um tanto quanto melancólico, mas isso deve ser porque as feridas demoram um bocado a cicatrizar, embora isso não seja motivo para não se permitir viver.
sexta-feira, junho 08, 2007
O ÚLTIMO HURRAH (The Last Hurrah)
Mais um filme de John Ford que recebeu pouco espaço no livro "John Ford - Filmografia Completa", da Taschen, por ser considerada uma obra menor. O ÚLTIMO HURRAH (1958) é um dos mais teatrais filmes do diretor. As cenas são mais longas do que o habitual e há bem mais diálogos do que os filmes anteriores. O maior deles é provavelmente aquele em que Spencer Tracy conversa com seu sobrinho em seu gabinete. Seu sobrinho foi interpretado por Jeffrey Hunter, que já havia trabalhado com Ford em RASTROS DE ÓDIO (1956) e que protagonizaria o excelente AUDAZES E MALDITOS (1960). Curiosamente sua carreira entraria em declínio depois que ele interpretou Jesus em REI DOS REIS, de Nicholas Ray.
Foi uma sorte Ford ter ao seu lado Spencer Tracy, que contribuiu com a magnífica interpretação de um velho político tentando se reeleger. Dizem que Ford originalmente queria Orson Welles para o papel principal, mas a parceria dos dois mestres nunca se realizou. O ÚLTIMO HURRAH me passou um sentimento dúbio em relação ao protagonista. É como se o filme apoiasse os atos pouco honestos do político, mostrando-o como um ser humano digno. Se bem que do modo como foi mostrado no filme, o prefeito Frank Skeffington pareceu mesmo um sujeito legal. Acho que até eu votaria nele. Dizem que o verdadeiro prefeito no qual o personagem foi inspirado chegou a processar a produção, mas depois que viu que o político do filme era mostrado como uma pessoa boa e amigável, ele retirou o processo. Mesmo assim, como se trata de um político, a tendência que eu tenho é mesmo a de ficar com um pé atrás.
O ÚLTIMO HURRAH tem a aparência de uma obra madura. Como estou acompanhando os filmes de Ford mais ou menos em ordem cronológica, foi nesse filme que eu percebi mais nitidamente esse envelhecimento, o que não necessariamente é ruim. Sente-se no ar uma maior segurança na direção, que se reflete numa maior fluidez narrativa, numa falta de pressa nas cenas, numa tendência a buscar sempre o básico. À medida que Ford envelhecia, ele preferia não colocar muitos detalhes no mesmo plano, para que ele não tivesse muito com o que se preocupar. Havia também o fato de o seu problema de visão ter aumentado. Bom, mas eu gosto mesmo é dos westerns de Ford, em especial os estrelados por John Wayne e mal posso esperar pra ver outro.
quinta-feira, junho 07, 2007
THE LOST ROOM
Por descuido meu, que achava que a sessão de PREMONIÇÕES iria começar às 14h30, cheguei no cinema com vinte minutos de atraso: o horário da sessão era 14h10, no North Shopping. Como não era um filme que eu estava tão interessado assim para assistir e como não tive coragem de me dirigir até o Iguatemi nem de ver outro filme no Dragão do Mar (a opção de lá seria o HOLLYWOODLAND), preferi voltar pra casa, levar alguma coisa para o almoço e ver algo entre as mais de cem opções inéditas que eu tenho pra ver em divx, vhs ou dvd. (Falo mais de cem, mas não tenho o costume de contar as minhas aquisições em filmes, não.) Assim, vou aproveitar o tempo livre desse agradável e calmo feriado de Corpus Christi (bem que a Igreja devia inventar mais feriados) para manter atualizado esse espaço.
THE LOST ROOM (2006) é uma mini-série produzida pelo canal a cabo Sci-Fi que a princípio me chamou a atenção pela presença de Peter Krause. Sabe como é, quando a gente é fã de uma série que acaba, como é o caso de A SETE PALMOS, a gente fica meio que órfão dela, e querendo ver os participantes da série em outros projetos. Lembremos que Michael C. Hall teve muita sorte ao estrelar a brilhante série DEXTER. Já Peter Krause, pode não ter tido tanta sorte quanto o colega, mas essa mini-série é motivo de orgulho pra qualquer um dos envolvidos.
Apesar de ser classificada como sendo de ficção científica, o gênero "fantasia" talvez seja mais adequado para classificar a produção. Isso porque não há nada de científico no enredo, que muito me lembrou as tramas criadas por Neil Gaiman para a HQ "Sandman", principalmente o primeiro arco, o "Prelúdios e Noturnos". Também lembra alguns episódios de ALÉM DA IMAGINAÇÃO.
Na trama, Peter Krause é um policial que, durante a investigação de um estranho caso de homicídio, descobre uma chave capaz de abrir qualquer porta. E mais: ao colocar a chave em uma porta qualquer, ela vai dar num quarto de motel, e ao fechar e abrir novamente, a porta pode abrir para qualquer lugar imaginado. O objeto é apenas um dentre vários objetos mágicos capazes de fazer coisas inimagináveis e o policial se vê envolvido numa trama onde grupos organizados brigam para obter o maior número possível desses objetos - a chave seria o objeto mais desejado. O maior interesse do personagem de Krause nesses objetos se dá devido ao fato de que sua filha pequena (Elle Fanning, irmã da Dakota Fanning) fica perdida numa espécie de limbo depois de ter entrado no misterioso quarto de número 10. Juliana Marguilies é uma das pessoas interessadas nesses objetos e que o ajuda a tentar resgatar sua filha.
Não vou falar mais nada pra não estragar as várias surpresas que a trama reserva. Muitas delas incluem os vários objetos apresentados, com poderes bem interessantes. O que mais me chamou a atenção nessa estória, grande demais para caber num filme de duas horas, foi o modo como ela nos coloca dentro daquele universo absurdo e surreal sem aborrecer em momento algum. Claro que 270 minutos é muito tempo pra ver de uma vez só, mas a idéia é justamente ver em capítulos. Se bem que às vezes é difícil deixar de ver imediatamente o capítulo seguinte depois depois dos ganchos.
quarta-feira, junho 06, 2007
O DEMÔNIO DA NOITE (He Walked by Night)
Fazendo um link com a recente obra de David Fincher, falemos de um filme que se assemelha em muitos sentidos a ZODÍACO. Se o trabalho de Fincher pode ser considerado um anti-filme de serial killer, O DEMÔNIO DA NOITE (1948) seria um anti-film noir que também mostra a obsessão de um grupo de policiais para pegar um criminoso. O que destaca esse assassino de outros é que ele consegue, de posse de um rádio da polícia e muita inteligência, evitar a captura. Ele também costuma fugir sempre que necessário pelo sistema de esgotos de Los Angeles, um enorme túnel subterrâneo construído para evitar que a cidade tenha problemas de enchentes. Também dificulta a captura do criminoso o fato de ele não ter nenhum registro anterior na polícia.
Não tão violento e sádico quanto o Zodíaco, o assassino de O DEMÔNIO DA NOITE é mostrado como um sujeito misterioso cujas motivações são uma incógnita para o espectador. Na verdade, o mais importante do filme não são as ações criminosas do sujeito - que nem são tantas assim -, mas as investigações para pegá-lo; o jogo de gato e rato entre polícia e bandido. E mais importante ainda é a estética cenográfica e a fotografia estilosa de John Alton que lembra muito o expressionismo alemão. Alton foi parceiro de Anthony Mann em vários trabalhos. Inclusive, Mann também é diretor do filme, ainda que não creditado. O crédito foi para Alfred L. Werker, que deixou o filme no meio das filmagens, sendo substituído por Mann. O filme tem alguns pontos que o diferenciam do gênero noir, como a ausência da femme fatale e a falta de uma narração em primeira pessoa. Em vez disso, a adoção de um tom semi-jornalístico.
Pesquisando pela internet, soube que O DEMÔNIO DA NOITE foi inspirado nas ações de Erwin "Machine Gun" Walker, o bandido cuja história inspirou a série de tv DRAGNET (1951-1959). E a história real de Walker é ainda mais interessante do que a mostrada no filme e bem que Hollywood poderia explorar em outro filme, se é que já não o fez e eu não fiquei sabendo. Vejam só: em 1946, Walker confessou seus crimes e foi condenado à morte. 36 horas antes do dia de sua execução, ele tentou o suicídio. Com isso, sua execução foi interrompida e ele foi internado num hospital psiquiátrico. Anos depois, em 1959, ele foi considerado são e voltou para a prisão, mas sua sentença foi cancelada. Em 1973, houve um novo julgamento e Walker foi posto em liberdade. Depois disso, ele mudou de nome, casou-se e mudou de vida. Outro detalhe morbidamente interessante é que o pai de Walker, assim que soube da prisão do filho e da sentença à morte, cometeu suicídio.
Agradecimentos à Carol Vieira, que fez a gentileza de me emprestar o filme. O DEMÔNIO DA NOITE foi lançado em DVD no Brasil pela Aurora.
P.S.: Está no ar a nona edição da Revista Zingu! O destaque desse mês é o dossiê Jairo Ferreira. Por enquanto, eu só li o editorial do Matheus e o depoimento do Eduardo Aguilar sobre sua amizade com o Jairo. Tenho a impressão de que a revista está cada vez melhor, mais madura e com textos cada vez mais caprichados, mas sem ser cansativos. Imagina como estará daqui a um ano, hein.
terça-feira, junho 05, 2007
ZODÍACO (Zodiac)
Aconteceu nos momentos mais inoportunos. Aconteceu com MARCAS DA VIOLÊNCIA, com MATRIX, com ANTES DA REVOLUÇÃO, com PLANETA DOS MACACOS, com HISTÓRIA REAL, com 12 HOMENS E OUTRO SEGREDO. Um dos maiores inimigos da apreciação de um filme é o sono. Quando estou em casa, vendo um filme na tv, sozinho, não tem muito problema. É só desligar o player e continuar ou recomeçar o filme quando se estiver em melhores condições. E esse sono chato e incômodo, que me deixa com aspecto de zumbi, aconteceu justamente quando eu fui ver ZODÍACO (2007), de David Fincher, um dos filmes que eu estava mais entusiasmado pra assistir. Esse sono é proveniente de um problema de garganta que eu tenho há anos e que nenhum médico conseguiu resolver. Já visitei uns dez otorrinos e um alergologista e nenhum deles resolveu o problema. Com o tempo, descobri que alguns tipos de alimentos provocam esse problema. Assim, não posso comer chocolate, nem castanha, nem presunto ou qualquer coisa de porco, nem mariscos. Mas como não sou de ferro, nem sempre eu resisto às tentações e acabo ligando o botão do "foda-se" de vez em quando. Outro detalhe: esse sono aparece mais quando estou num ambiente com ar condicionado. Agora que eu já falei desses sintomas chatos, pode ser que algum médico leitor do blog de repente possa me ajudar. Mas falemos de ZODÍACO, mesmo assim, usando das lembranças que me restaram e esperar que o filme cresça em minha mente à medida que eu vou escrevendo e repensando.
Um dos maiores méritos do filme de Fincher é ser fiel ao espírito da época, é nos fazer sentir como se estivéssemos nos anos 60 e 70, quando o serial killer conhecido como Zodíaco aterrorizou a cidade de São Francisco. O assassino misterioso enviava cartas criptografadas para a polícia tentar decifrar o código e descobrir a sua identidade. Como a polícia não estava habituada a lidar com esse tipo de jogo, os anos foram se passando e ninguém conseguia pegar o criminoso, que continuava aumentando o número de vítimas. ZODÍACO destaca-se entre outros filmes de serial killers. É praticamente um anti-filme de serial killer, pois ele se concentra nas pessoas que tentaram decifrar o enigma e tiveram suas vidas destruídas pela obsessão pelo assassino.
O trio de personagens principais é composto por um cartunista político (Jake Gyllenhaal), um repórter (Robert Downey Jr.), ambos trabalhando no San Francisco Chronicle, e um policial (Mark Ruffalo). O livro no qual o filme se baseou foi escrito pelo próprio cartunista, Robert Graysmith, hoje com 64 anos e cujo casamento se desfez por causa de sua obsessão pelo caso. No filme, quem interpreta a sua esposa é a adorável Chloë Sevigny, num papel pequeno, mas quando ela apareceu na tela, meu coração bateu mais forte e meus olhos sonolentos se abriram. No mais, ZODÍACO é o tipo de filme cujas perfeições técnicas e artísticas podem levá-lo ao Oscar. Mas, sinceramente, não pretendo revê-lo agora não. Quem sabe em dvd ou se o filme retornar às telonas por ocasião de uma possível indicação ao Oscar no próximo ano...
segunda-feira, junho 04, 2007
EXTERMÍNIO 2 (28 Weeks Later)
A continuação de EXTERMÍNIO (2002), longa de horror de Danny Boyle que trouxe uma variação para os filmes de zumbis, se saiu melhor que a encomenda. Dessa vez, Boyle deixa a direção e assina como produtor executivo, dando a cadeira de diretor ao espanhol Juan Carlos Fresnadillo, diretor do thriller INTACTO (2001, disponível nas locadoras). EXTERMÍNIO 2 (2007) é melhor que o original, trazendo uma dramaticidade que foge do que a gente costuma ver na maioria dos filmes do gênero, que costumam se preocupar mais com os sustos e os arrepios do que com um maior aprofundamento do drama dos personagens.
EXTERMÍNIO 2 começa muito bem, mostrando um grupo de pessoas escondidas num chalé sem energia elétrica e com pouca comida preocupadas principalmente em sobreviver naquele país devastado por uma praga que infectou e destruiu a todos. Como visto no primeiro filme, as pessoas infectadas ficam parecidas com zumbis, só que muito mais rápidos e raivosas do que os zumbis criados por George Romero. Na verdade, o termo "zumbi" não é citado em nenhum dos filmes. O correto é mesmo chamá-los de "infectados". Pois bem, essas pessoas, durante o almoço - que a princípio parece um jantar, pois está tudo escuro dentro da casa, iluminada apenas por velas -, são interrompidas pelos gritos de uma criança que está sendo perseguida por dezenas de infectados. Eles aceitam o garoto na casa, mas o menino acaba trazendo os infectados, famintos por carne humana, que invadem o chalé e atacam todo mundo. Robert Carlyle, que já tem no seu currículo um histórico de comer carne humana (vide MORTOS DE FOME, de Antonia Bird), é aparentemente o único do grupo que consegue escapar, fugindo numa lancha.
Depois desse belo e aterrorizante momento, o filme avança no tempo 28 semanas. Os infectados haviam morrido de fome por falta de vítimas e a Gran-Bretanha estava completamente arrasada. O governo dos Estados Unidos foi o responsável pelo reerguimento do país e muitos britânicos que estavam fora da ilha voltaram para recomeçar a vida no lugar, agora gerenciado pelo exército americano. Os filhos adolescentes do personagem de Robert Carlyle retornam para a Inglaterra para viver com o pai. Outra personagem de destaque é Scarlet (a australiana Rose Byrne, de SUNSHINE - ALERTA SOLAR), a cientista que estuda a doença e que acaba tendo uma relação de proximidade com os citados jovens.
Um dos maiores pontos positivos de EXTERMÍNIO 2 é a estória cheia de momentos criativos. Principalmente o fato de que o horror não está apenas no ataque dos infectados, mas também no perigo de se morrer pelas mãos do próprio exército americano, que não hesita em tomar atitudes drásticas para exterminar a praga. Quem acompanha LOST poderá ver Harold Perrineau, o Michael da série, no papel de um dos atiradores de elite do exército. Tudo bem que o filme não consegue manter a mesma excelência do prólogo em seus desenvolvimento, mas ainda assim é uma diversão eficiente, que não tenta apelar para sustos fáceis e que traz soluções inteligentes na trama, sempre que ameaça naufragar.
P.S.: Falando em zumbis e similares, antes de EXTERMÍNIO 2 passou o trailer de RESIDENT EVIL 3: A EXTINÇÃO. O filme, eu não sei, mas o trailer é animador.
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