sábado, abril 30, 2016

CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL (Captain America – Civil War)



A direção de CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL (2016) teria que ser mesmo dos irmãos Anthony e Joe Russo, que fizeram tão bonito em CAPITÃO AMÉRICA 2 – O SOLDADO INVERNAL (2014), impondo mais dramaticidade e seriedade em uma série de filmes cujo humor tem predominado e nem sempre tem se mostrado eficiente – a melhor e mais feliz exceção é HOMEM-FORMIGA (2015), de Peyton Reed, que tinha mesmo a intenção de entrar com mais força por esse território, mas sem destoar do conjunto.

Em CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL, desde já um dos melhores filmes dos estúdios Marvel, o humor se equilibra bem com o drama. Afinal, desde o começo, com uma missão de parte dos Vingadores em uma cidade da Nigéria que acaba terminando em tragédia, o mundo como um todo e também o Governo dos Estados Unidos passam a exigir do grupo uma legalidade. Até porque essa não foi a única perda de vários civis vítimas de lutas entre os super-heróis e seus inimigos.

O trabalho dos irmãos Russo é meio que um filme dos Vingadores: preferiram não perder de todo as piadinhas características do maior grupo de heróis da Marvel. Até porque o filme ia trazer também o Homem-Aranha, em acordo acertado com a Sony, e como o "amigão da vizinhança" luta fazendo piadas, eis que teríamos mais um motivo para que o humor se fizesse presente. Aliás, que baita bônus a participação do Aranha, hein. E Marisa Tomei como Tia May é uma coisa difícil de aceitar, por ser muito nova, mas tudo bem.

Anthony e Joe Russo se mostraram muito fãs do Universo Marvel, ao incluir várias referências que talvez só os fãs dos quadrinhos perceberiam, como a nação Wakanda, Sharon Carter, a prisão Balsa, o Barão Zemo, o Ossos Cruzados, a joia do infinito etc. E tudo muito bem interligado com os filmes dos Vingadores, do Capitão América, do Homem de Ferro e do Homem-Formiga. Então, é já uma posição perfeitamente consolidada e de bastante sucesso, que talvez só esteja esperando para uma obra-prima de verdade no currículo, mas nem sabemos se a Marvel quer isso: que um grande autor venha se intrometer de modo a ofuscar o bom andamento das realizações.

Apesar disso, é sempre bom lembrar que o estúdio tem procurado diretores que julgam ideais para certas produções, como um cineasta de filmes de horror como Scott Derrickson para o vindouro filme do Doutor Estranho, ou terem escalado um cineasta que já filmou Shakespeare para o primeiro filme do Thor (2011) e um diretor da série GAME OF THRONES, Alan Taylor, para THOR – O MUNDO SOMBRIO (2013), dois filmes, aliás, que representam pontos baixos na lista de títulos da Marvel, mas isso não vem muito ao caso. Deslizes são inevitáveis.

Quanto a CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL, trata-se de uma obra que é devedora direta da minissérie Guerra Civil, de Mark Millar e Steve McNiven, que marcou bastante os quadrinhos americanos dos anos 2000 e que repercutiu em vários outros títulos da Marvel (Vingadores, Homem-Aranha, Capitão América etc.). A guerra civil nos quadrinhos fez valer esse título mesmo, de verdade, com dezenas, talvez centenas de super-heróis se digladiando e fechando com uma tragédia.

Já no filme, seria impossível fazer algo próximo disso, já que com uma duração de menos de três horas mal dá para administrar doze super-heróis em luta, e ainda tendo que apresentar o Pantera Negra para a audiência. Inclusive, a luta dos doze heróis foi filmada em IMAX e isso é percebido com a mudança da razão de aspecto da tela e da melhor qualidade de imagem. (Lembrando que, apesar da beleza do IMAX, o 3D convertido dos filmes da Marvel continua fajuto e caça-níquel.)

Pena que no fim dessa luta tudo pareça uma mera brincadeira. Eficiente e divertida, mas que falta mais dramaticidade e motivos mais fortes para que aqueles grupos entrassem em conflito. Porém, como vivemos atualmente numa sociedade também dividida, é até natural que esse tipo de coisa aconteça, por mais que as razões pareçam um tanto nebulosas.

A luz que se oferece está na figura do Soldado Invernal. Se o ator Sebastian Stan não tem o mesmo carisma dos demais, seu drama é o mais trágico. Apesar de estar sob controle dos inimigos, ele se sente culpado por ter executado tantas vidas inocentes sob o comando dos terroristas. E, no fim, é ele o principal eixo pelo qual GUERRA CIVIL gira em torno, embora isso não tire o protagonismo do Capitão América e do Homem de Ferro, vividos por atores cada vez mais à vontade em seus papéis.

Um dos grandes méritos do filme é nos convencer mais uma vez da força desses heróis, no que eles são capazes. O Capitão América não é só um sujeito forte com um escudo, como bem mostrado já no primeiro filme solo do herói, de 2011. Assim como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro compensam suas faltas de superpoderes com grande força física e agilidade. E tudo é muito bem coreografado durante as lutas. Talvez só a Feiticeira Escarlate destoe dos demais por ter um poder ainda difícil de compreender para quem nunca leu a minissérie Dinastia M, mas o filme apresenta um bocado de seu incrível poder numa cena dela com o androide Visão.

CAPITÃO AMÉRICA – GUERRA CIVIL é um filme mais de grandes e memoráveis momentos soltos do que exatamente por se constituir um conjunto coeso e eficientemente emocionante, especialmente na parte mais dramática, envolvendo uma ação executada pelo Soldado Invernal em 1991. É um dos momentos que mais podem levar o espectador às lágrimas. E isso não é pouco em se tratando de um estúdio que não tem muitas pretensões de transformar seus filmes em dramas pesados ou muito sérios, como os de sua maior concorrente. Por enquanto a fórmula tem funcionado. Que continuem oferecendo belos trabalhos como esse, então.

quarta-feira, abril 27, 2016

O CAÇADOR E A RAINHA DO GELO (The Huntsman: Winter's War)



Às vezes o mundo dos bastidores dos filmes são muito mais interessantes do que eles em si. É o caso de O CAÇADOR E A RAINHA DO GELO (2016), tanto um prequel quanto uma sequência de BRANCA DE NEVE E O CAÇADOR (2012), um filme que teve mais repercussão por causa do relacionamento proibido entre a protagonista Kristen Stewart e o diretor Rupert Sanders nos bastidores do que por suas qualidades como aventura de fantasia, ou mesmo pelo desempenho de seus atores, mesmo tendo a Charlize Theron como uma bruxa malvada linda e com um visual arrasador.

No caso desta sequência, aliás, Charlize quase caiu fora do projeto, pois descobriu que o salário de Chris Hemsworth era maior do que o dela. Disse que só ficaria na produção se recebesse a mesmo quantia. Muito justo. Afinal, mesmo aparecendo menos do que o protagonista, a atriz sul-africana tem muito mais carisma, beleza e é uma das poucas boas razões para se ver o filme. No final, ambos receberam 10 milhões de dólares para reprisarem seus papéis.

Enquanto isso, Jessica Chastain também não estava muito satisfeita em integrar o elenco dessa produção destinada ao fracasso, mas teve que participar, graças a uma obrigação contratual com a Universal, o estúdio que a havia escalado como a vilã (excepcional) de A COLINA ESCARLATE, de Guillermo del Toro. Chastain, com seu brilho e beleza singulares, é também um dos bons motivos para conferir esta curiosa fantasia torta, que até tem uma trama mais inventiva do que a do primeiro filme, mas que se perde muito devido à direção fraca do novato Cedric Nicolas-Troyan, diretor de segunda unidade do filme anterior e também supervisor de efeitos especiais.

O filme começa relativamente bem, apresentando as duas irmãs bruxas vividas por Charlize Theron e Emily Blunt. A primeira tinha domínio de magia negra e era essencialmente má, enquanto a segunda era uma mulher apaixonada por um plebeu, e que devido a um triste ocorrido, tem seus poderes de congelar tudo ativados e viaja para o norte, onde se torna uma perversa imperadora de uma terra gelada. Neste lugar, era proibido amar, pois para ela o amor era algo que só trazia o mal para o coração. Mas é deste lugar tão frio que brota o amor entre dois caçadores vindos do grupo da Rainha do Gelo, Eric (Hemsworth) e Sara (Chastain).

Curiosamente, vendo esta representação do mal tão exacerbada em ambas as irmãs, é que percebemos o quão transgressora foi a animação da Disney FROZEN – UMA AVENTURA CONGELANTE, ao trazer amor em vez de ódio a essas personagens cheias de traumas e rancores.

Voltando à produção tosca (mas milionária) da Universal, outra coisa que conta pontos no filme é o fato de trazer de vez em quando alguma surpresa ou reviravolta em sua trama, como o evento que marca o fim de seu prelúdio ou os inimigos que aparecem pelo caminho dos heróis, que aqui também contam com os dois anões Nion e Griff, que servem de alívio cômico muito mais eficiente do que as falas supostamente engraçadas de Eric, o Caçador.

Além do mais, em uma produção mais acertada, por exemplo, sequências próximas do trágico teriam uma repercussão muito mais impactante para o espectador. No lugar disso, o que sentimos é tédio. Um tédio que só vai crescendo à medida que a trama vai, cada vez mais, perdendo o seu rumo. Nem a presença de cena excepcional de Charlize Theron, como a bruxa má que retorna dos mortos, no último ato, consegue salvar esse show de erros que é O CAÇADOR E A RAINHA DO GELO. Acaba funcionando apenas como um objeto curioso vindo da máquina de esbanjar dinheiro chamada Hollywood.

segunda-feira, abril 25, 2016

TRÊS MELODRAMAS



Quem me conhece sabe que eu curto um bom melodrama. Gosto dos mais sofisticados e contidos, mas aprecio com prazer também aqueles que não têm medo de enfiar o pé na jaca com gosto, sem medo de ser triste. Mas há toda uma arte em saber não passar do ponto ou saber chegar àquele ponto em que o espectador se debulha em lágrimas, como se tivesse acabado de perder um ente querido, embora lá no fundo ele se sinta confortável, pois aquela situação triste que está ali na sua frente não está acontecendo exatamente com ele, mas com um personagem fictício, mesmo que seja um personagem baseado em uma pessoa de verdade. Os três filmes abaixo têm em comum o fato de lidarem com doenças e como elas afetam a relação da pessoa doente consigo mesma, com os outros e, em alguns casos, como podem afetar o mundo. Vamos a eles.

PARA SEMPRE ALICE (Still Alice)

Deveria ter escrito sobre este filme há um tempão. Afinal, ele ganhou o Oscar de melhor atriz em 2015, o primeiro para a já aclamada atriz Julianne Moore. Ela já havia sido indicada por BOOGIE NIGHTS – PRAZER SEM LIMITES (1997), FIM DE CASO (1999) e duplamente por AS HORAS (2002) e LONGE DO PARAÍSO (2002). Curiosamente, apesar de PARA SEMPRE ALICE (2014, foto) ser um belo filme e contar com uma atuação brilhante da atriz, comparado aos demais, fica um pouco atrás. Aqui, ela interpreta uma mulher que descobre que sofre de um caso raro de Mal de Alzheimer, que se manifesta ainda em pessoas jovens, geralmente pessoas com um grau elevado de instrução. No caso, Moore é uma professora de Linguística que tem sua vida revirada de cabeça para baixo com a notícia e a evolução da doença. E o filme dos diretores Richard Glatzer e Wash Westmoreland é hábil em mostrar a evolução de maneira pouco melodramática, mas carregado de uma tristeza imensa. Entre o ótimo elenco de apoio, destaque para Alec Baldwin e Kristen Stewart.

JÁ ESTOU COM SAUDADES (Miss You Already)

O patinho feio da trinca, JÁ ESTOU COM SAUDADES (2015), de Catherine Hardwick, é um filme de doença, mas é também um filme de amizade entre duas mulheres. A forte amizade entre Jess (Drew Barrymoore) e Milly (Toni Collette) sofre um enorme baque com a notícia do câncer de mama da segunda. Enquanto isso, Jess fica sem saber como dar a notícia festiva de que finalmente conseguirá ser mãe para a amiga, achando que isso seria um pouco perverso de sua parte. Não dá pra dizer que é um dos filmes mais fracos da diretora pois ela já havia derrapado em trabalhos esquecíveis como JESUS – A HISTÓRIA DO NASCIMENTO (2006) e A GAROTA DA CAPA VERMELHA (2011). O que se pode ver de interessante em seu trabalho é uma opção por uma visão feminina de suas personagens, e isso inclui CREPÚSCULO (2008), um de seus melhores trabalhos e o único filme digno da franquia. JÁ ESTOU COM SAUDADES falha também ao não conseguir emocionar com os instantes finais das personagens, embora possa pegar alguns espectadores despreparados ou em situação emocional mais frágil.

AMOR POR DIREITO (Freeheld)

E olha a Julianne Moore aqui de novo, interpretando outro papel de doente. O que mais conta pontos em AMOR POR DIREITO (2015), de Peter Sollett, é o relacionamento existente entre uma policial civil (Moore) e uma jovem mecânica (Ellen Page). Nota-se que é um filme engajado na causa gay e esse é um de seus grandes méritos e o maior motivo de conferir, embora também seja um melodrama eficiente e que faz chorar. O fato de ser baseado em uma história real, e uma história que repercutiu de tal modo que deu o pontapé à legalidade do casamento gay nos Estados Unidos, é outro bom motivo para ir ao cinema e acompanhar essa bonita história de amor e persistência, que, se não chega a fugir da cartilha tradicional, ao menos conta com personagens e atores bons, inclusive o policial parceiro de Moore, o fiel amigo vivido por Michael Shannon. Como militante da causa gay, Ellen Page é uma das produtoras do filme. E finalmente ela pôde encontrar um papel em que interpreta alguém com sua mesma orientação sexual.

domingo, abril 24, 2016

PATO FU NA PRAÇA VERDE DO DRAGÃO DO MAR – FORTALEZA, 23 DE ABRIL DE 2016



Um presente para os fãs e também um presente para aqueles que estiveram lá meio que de passagem ou por curiosidade ou acompanhando um amigo. Tirando a apresentação da turnê do Música de Brinquedo, o Pato Fu não fazia um show de grande porte em Fortaleza desde o Ceará Music, em 2004, na turnê do Ruído Rosa. Mas minha lembrança desse show não foi muito boa, pois não era um show exclusivo da banda e não rolou sintonia fina entre o público, que estava estranhando o novo repertório de então. O deste sábado se aproximou mais do maravilhoso show na mesma Praça Verde, em 2000, da turnê do Isopor, que eu costumo dizer que foi um dos melhores dias da minha vida, num dos shows mais alto astral que eu já assisti. Guardo com muito carinho e alegria esse momento mágico de elevação espiritual.

E com o tempo, o meu amor pela banda só foi aumentando. Infelizmente eles não fizeram por aqui um show de um de seus melhores álbuns, Toda Cura para Todo Mal. Mas fazer o que se eles dependem também de convites dos organizadores? E ser uma banda independente no Brasil não é fácil, mesmo que seja a maior banda independente e com um monte de hits na manga que fazem a plateia cantar junto. Poucos estiveram sintonizados com as canções do novo álbum, Não Pare pra Pensar, o que é uma pena, mas ainda está em tempo de ficar em dia.

E eis que finalmente, depois de ter que ficar ouvindo, meio a contragosto, cinco outras bandas tocando para poder ver finalmente a grande atração da noite, que só começou a tocar pouco depois de meia-noite, o cansaço é esquecido e a alegria toma de conta. O show começou com "Cego para as cores", primeira faixa do novo álbum, uma das tantas do disco que funcionam para elevar espíritos enfraquecidos. Guitarra certeira do genial John Ulhôa torna a faixa marcante.

Em seguida vem outra do novo disco, com melodia mais alegrinha, mas letra triste, "Eu era feliz", seguida de outra espécie de homenagem aos perdedores, "Perdendo dentes", que levantou mais a audiência por ser o primeiro hit da noite O público continuou feliz com a seguinte, "Ando meio desligado", famosa cover dos Mutantes. Entra em seguida a ótima e venenosa "Crédito e débito", do novo disco, uma das mais inspiradas, aliás.

Felicidade descreve a faixa seguinte, "Eu sei", da Legião Urbana, na versão excepcional já velha conhecida dos tempos do Televisão de Cachorro. Inclusive, eu diria que poucos artistas conseguiram fazer cover da Legião e se saírem tão bem quanto o Pato Fu nesta faixa com sintetizadores e bateria eletrônica. Foi outra canção cantada com prazer pelo público.

"Ninguém mexe com o diabo" mostra a faceta mais bad boy e mais pesada da banda para os desavisados. Cantada pelo John, os amplificadores nesse momento chegaram à potência mais alta. Houve uma breve brincadeira com "Capetão 66.6" no final, mas foi jogo rápido. Será que a banda começou a cansar dessa faixa nos shows? Seria ao menos um pouco do Tem Mas Acabou no show, um disco que acabou sendo deixado de lado no setlist.

As próximas seriam "Made in Japan", com toda aquele jogo de dança e simpatia de Fernanda, elogiando os produções pop japoneses. A nova "Pra qualquer bicho" foi cantada junto com o baixista Ricardo Koctus, uma simpatia de pessoa, que fez a voz do Ritchie (que canta no disco) no show. E o clima esquenta de novo com "Eu", faixa muito querida dos tempos do Ruído Rosa.

"Antes que seja tarde" relembrou outros bons momentos dos tempos de Televisão de Cachorro, com sua letra agridoce, mas que Fernanda consegue torná-la, de certa forma, até otimista. Já a faixa skate-punk "You have to outgrow rock n’roll", cantada pelo John e em homenagem aos skatistas, levantou o público com sua forte energia e sua letra que fala sobre pendurar as chuteiras, casar e ter filhos.

Anunciada como a canção mais fofa do mundo (ou a segunda mais fofa, como John quis retificar), "Depois" animou geral a galera, com seu arranjo simples, acertado e grudento. De volta ao disco novo – muito bom eles enfatizarem o novo álbum, apesar de ser menos popular entre o grande público –, Fernanda canta justamente a mais bela do álbum, a melancólica "Um dia do seu sol", que eu confesso que foi uma das que me fez chorar uma meia dúzia de vezes desde que a ouvi pela primeira vez em 2014.

A propósito, outra canção pra chorar e um dos pontos altos da noite, talvez o grande ponto alto, pra mim, foi "Canção pra você viver mais". Puxa, que lindo ouvir esta maravilha ao vivo, que traz memórias muito bonitas de uma penca de anos atrás. Confesso que eu fiquei tão emocionado quando começaram a tocar que esqueci de anotá-la na sequência correta.

E eu confesso também que fiquei muito feliz em saber que "Sobre o tempo", o primeiro grande hit do Pato Fu, do disco Gol de Quem?, ainda é cantado com prazer pelo grande público. É uma canção mágica mesmo, que envelheceu muito bem com o tempo. E foi essa a faixa escolhida para "encerrar" o show.

No bis, rolaram "O filho predileto do Rajneesh", sobre o sexo e a o poder da mulher, e tocada com uma energia impressionante. Foi a melhor versão que eu já vi desta canção, ganhando de lavada na versão de estúdio presente no álbum Isopor. E, para encerrar o show com muito alto astral, a ode à felicidade terrena "Uh uh uh, la la lá, ié ié", cantada em estilo meio Jackson Five, e contagiando a plateia com felicidade.

Claro que a gente quer sempre mais – ficaria feliz com mais uma hora de show -, mas tudo bem. Foi lindo, foi demais. E, ainda por cima, aceitei a proposta da minha irmã de ficarmos na fila para tirarmos foto com a Fernanda e o John. Que alegria ao saber que a Fernanda lembrou de mim, da breve conversa que tivemos no show solo que ela apresentou na Caixa Cultural no ano passado. Ela sabia que eu estava esperando muito este show, que ela havia comentado que seria em janeiro! E pude dar uma abraço, ainda que meio desajeitado, no John, esse cara fantástico e dono de composições belíssimas. Com o abraço, quis mostrar o meu sentimento de gratidão. Grandes artistas talvez não saibam o quanto são importantes para a vida das pessoas. E mesmo que saibam, é sempre bom a gente poder dizer um muito obrigado.

Ok, 2016. Surpreenda-me com outro dia melhor do que este. Na foto abaixo, Sanna, Fernanda, eu e John.



sábado, abril 23, 2016

AVE, CÉSAR! (Hail, Caesar!)



Os irmãos Coen sempre tiveram um interesse muito grande pela História do Cinema, em especial do cinema americano. Eles começaram a carreira fazendo um film noir sujo (GOSTO DE SANGUE, 1984), revisitando o gênero mais tarde de maneira diferente em O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ (2001). Ao longo da carreira irregular mas brilhante da dupla, outros gêneros foram homenageados, como o musical (E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ, VOCÊ?, 2000), o western (BRAVURA INDÔMITA, 2010) e o filme de gângster (AJUSTE FINAL, 1990).

Além disso, os irmãos Coen passearam pelas mais diferentes épocas da história americana. Ainda que eles já tenham feito um filme sobre os bastidores de Hollywood (nos anos 1940), o delirante BARTON FINK (1991), AVE, CÉSAR! (2016) é um trabalho diferente, uma obra em esquetes, que procura homenagear vários gêneros, com um registro cômico quase sempre satisfatório, sobre a Hollywood dos anos 1950, considerada a última década da chamada Era de Ouro dos estúdios.

O problema é que, por ser justamente um filme de esquetes, ele tende mesmo a ser irregular. E embora seja bastante inteligente e também situe o contexto histórico da Guerra Fria em sua trama, nem sempre o humor é exatamente engraçado, mesmo levando em consideração que nem sempre comédias precisam fazer o espectador gargalhar.

O fio que liga as demais tramas é a história do produtor (Josh Brolin) que precisa manter seus astros na linha, ao mesmo tempo em que recebe uma proposta indecente para mudar de emprego. Entre os astros de seu estúdio estão: o protagonista de um épico cristão (George Clooney), que é sequestrado por comunistas; uma diva desbocada de filmes de balé aquático (Scarlett Johansson); um ator de musicais com sapateado (Channing Tatum); e um caubói com pouco talento que integra o elenco de um melodrama (Alden Ehrenreich, que acaba sendo a melhor surpresa do filme).

Inclusive, a cena de Ehrenreich treinando como deve dizer uma fala com o diretor afetado vivido por Ralph Fiennes é uma das melhores do filme. E o cenário e a fotografia lembram bastante os melodramas da época, como os de Douglas Sirk. O filme também explora a fofoca (representada pelas irmãs gêmeas vividas por Tilda Swinton) e a tentativa dos produtores de evitar que vazem certas coisas para a mídia. É só lembrar o quão pouco se sabia até então da orientação sexual dos astros da Velha Hollywood, embora houvesse burburinhos.

Os Coen aqui parecem querer fazer tudo ao mesmo tempo e acabam se atropelando em um projeto que poderia ter levado menos tempo de produção, levando em consideração que o espaçamento entre os trabalhos da dupla tem aumentado. Ainda assim, tanto para eles mesmos, que puderam fazer cenas (caprichadas) de balé aquático e de marinheiros dançando sem precisar dedicar um filme inteiro, além de homenagearem de maneira ainda mais explícita a Era de Ouro de Hollywood, quanto para o espectador que gosta de cinema, AVE, CÉSAR! é um filme a se ver com interesse. Principalmente por quem aprecia a marca de seus diretores.

sexta-feira, abril 22, 2016

NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA



Muito bom ver que o deslize na carreira de Roberto Berliner, em JULIO SUMIU (2014), não o fez desistir de construir uma carreira mais digna, lembrando os bons trabalhos que fez como documentarista em filmes como A PESSOA É PARA O QUE NASCE (2004), HERBERT DE PERTO (2009) e A FARRA DO CIRCO (2014). NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA (2015) opta pelo uso da câmera na mão para a construção de sua narrativa e para passar mais verdade à história da Dra. Nise da Silveira, a psiquiatra que ousou tratar de pacientes de um hospício da década de 1940 de maneira digna, usando o afeto e a arte como objetos de trabalho.

Falando assim, até parece que NISE é desses filmes piegas, mas o fato é que a sensibilidade do cineasta e o bom trabalho do elenco em momento nenhum prejudicam os aspectos fílmicos, sem falar que para muitos brasileiros a obra serve para apresentar essa pessoa fantástica que foi Nise da Silveira (1905-1999), que além de levar a arte admirável de seus pacientes para museus de arte, chegou a trocar correspondência com Carl Jung, em um tempo em que a lobotomia e os eletrochoques eram tidos como técnicas revolucionárias no tratamento dos doentes mentais.

Gloria Pires, no papel de Nise, está muito bem. É o seu melhor desempenho no cinema desde É PROIBIDO FUMAR, de Anna Muylaert. O trabalho de direção de arte de Berliner, ainda que muito discreto, também é digno de nota, com uma opção pela predominância da cor marrom na apresentação do local terrível de trabalho que mais tarde é transformado em um lugar de harmonia para aquelas pessoas que antes eram tratadas com frieza e crueldade.

É interessante notar que, apesar de as técnicas cruéis daqueles tempos terem saído de moda hoje, tratar as pessoas, sejam elas doentes mentais ou sãs, de maneira mais afetuosa ou humana, ainda encontra obstáculos diante da preferência de certas pessoas em tratar os demais como inferiores ou indignos da mínima consideração.

Quando exibido no Festival do Rio no ano passado, NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA teve em sua plateia ex-clientes da verdadeira Nise vendo suas representações na telona. Resultado: a conquista do prêmio do público do festival e o filme sendo ovacionado no fim da sessão. A convivência do elenco e direção com esquizofrênicos do hospital e a conversa com uma das assistentes de Nise também foram bastante válidos para a construção da personagem e do enredo.

Um dos momentos mais intensos do filme, pelo menos em seu terço inicial, é quando a Dra. Nise se apresenta aos seus clientes (é assim que ela prefere que os chame, demonstrando que estava ali para servi-los e não com um ar de superioridade e arrogância) e pede para que eles se sentem para conversar. A câmera rodopia ao seu redor, passando uma impressão de perda de controle, ao mesmo tempo em que vamos nos adaptando também àquele caos cotidiano. Por essas e outras – tantas outras coisas não ditas, aliás – que NISE – O CORAÇÃO DA LOUCURA faz o espectador sair do cinema com a alma lavada.

quarta-feira, abril 20, 2016

BETTER CALL SAUL – 2ª TEMPORADA (Better Call Saul – Season Two)



Que bom ver que BETTER CALL SAUL começa a sair da sombra de BREAKING BAD e passa a ter identidade própria e que cresce a olhos vistos nesta segunda temporada (2016). Tendo começado de maneira mais despretensiosa como um spin-off da louvada série sobre um homem comum que se torna um poderoso traficante de metanfetamina, a série sobre o colorido e divertido advogado Jimmy McGill (Bob Odenkirk), e que virá a adotar o nome Saul Goodman no futuro e ser especialista em causas de bandidos e picaretas, vai ganhando mais força à medida que o destino esperado do protagonista vai se aproximando.

O fato de já sabermos o fim de sua jornada não diminui nenhum pouco o interesse pela série. Ao contrário, queremos saber mais sobre seu passado, e quando somos apresentados a personagens inéditos como a adorável Kim Wexler (Rhea Seehorn) e ao irmão de Jimmy, o odioso Chuck McGill (Michael McKean), percebemos que há muita coisa interessante a ser contada. Chuck é o cara que a gente aprende a odiar, o exato oposto de Jimmy, o sujeito que consegue ser um calhorda mesmo se achando mais honesto e mais ético que Jimmy, que costuma conseguir as coisas por sua astúcia e por caminhos diferentes do recomendado pelo "livro".

Mas Jimmy é um cara com um coração enorme. E que por isso nos ganha também, assim como também ganha Kim, mesmo ela sendo uma mulher batalhadora e que prefere o caminho que vá de acordo com as leis. E torcemos pelos dois, embora saibamos que a qualquer momento ele a perderá, assim como perderá tudo que conquistou. Muito interessante como a série problematiza essa questão moral desse personagem e do seu irmão de doença estranha. Sabendo que é um trabalho dos mesmos criadores de BREAKING BAD até podemos compreender essa solidariedade por essas pessoas que, mesmo errando, lutam por aquilo que acreditam e enfrentam um sistema que é, em si, corrompido e hipócrita.

Em paralelo, ainda que em menor tempo de narrativa, continuamos a acompanhar a trajetória pregressa de Mike (Jonathan Banks), o velho de olhos tristes como um cão que aqui é apresentado agora como um homem que luta para fazer o melhor para sua nora e sua neta. Como dinheiro não dá em árvores e ele topa qualquer parada, e ainda tem esperteza para agir frente a pessoas perigosas como chefes de cartel de drogas, é natural que seu caminho também vá ser tortuoso. E se a história de Jimmy é mais um drama de família e advogados, a história de Mike é mais aventuresca e cheia de perigos reais e imediatos. Na segunda temporada, Jimmy e Mike encontram-se pouco.

O barato desta tão superior segunda temporada é que o andamento lento é acertadíssimo, nos deixando sempre interessados e até bastante aflitos com os atos dos personagens, suas escolhas e suas consequências. Essa aflição, se pode ser vista como ruim para o espírito, nos mostra que o trabalho de direção, roteiro e dramatização da equipe criativa está bastante afiado. A torcida é para que a série continue sua excelência e consiga chegar ao fim da melhor maneira possível, na próxima ou nas próximas temporadas. Com o gancho deixado na season finale, o futuro próximo de Jimmy, por exemplo, não deve ser dos melhores.

terça-feira, abril 19, 2016

GIRLS – A QUINTA TEMPORADA COMPLETA (Girls – The Complete Fifth Season)



Foi a melhor das temporadas. Superando, inclusive, a primeira, que introduziu as personagens pra gente e em que houve um hype maior, já que era novidade. Sim, é verdade que as demais temporadas, principalmente a anterior, tropeçaram um pouco pelo caminho, mas a série sempre foi um prazer de assistir, por mais irritantes que fossem as quatro meninas e também os personagens masculinos. Elijah, o amigo gay de Hannah, ganha grande destaque, inclusive.

A quinta temporada de GIRLS (2016) começa de maneira muito especial, com o casamento de Marnie. Um casamento que a gente já prevê que não pode dar muito certo, já que todo mundo ali parece muito inseguro do que realmente quer. A não ser quem sofre porque o amor da sua vida está casando com outro cara, como é o caso de Ray.

E até pela narrativa acontecer, toda ela, no momento tenso dos preparatórios para o casamento, com toda a turma reunida, há algo de frescor neste episódio, ao mesmo tempo em que também somos contagiados pelas emoções conflitantes daqueles instantes. Felizmente "Wedding day" foi só o primeiro dos excelentes episódios desta linda temporada.

Hoje pensei em compará-la a um belo álbum em que podemos escolher nossas faixas favoritas. Ou gostar mais de algumas e menos de outras. Isso até poderia valer para todas as séries, mas GIRLS é dessas que se caracteriza por tecer episódios que têm um cara própria, ainda que exista ali uma sequência cronológica dos acontecimentos. Mas isso não chega a ser muito importante. Alguém que não conhece a série e pare para ver, por exemplo, o excelente "The panic in Central Park", todo dedicado a Marnie, pode achar ótimo, mesmo assim. Mas claro que saber do histórico dela com o ex-namorado ajuda bastante.

Provavelmente esta quinta temporada seja a mais melancólica de todas, apesar dos momentos divertidos, como a homenagem a INSTINTO SELVAGEM, ou a cena do boquete na van, ambos protagonizados pela Hannah. Lena Dunham, a criadora e protagonista, diminuiu um pouco sua importância nesta temporada, dando mais espaço para as colegas, embora isso se reverta à medida que nos aproximamos do final. O clima mais pesado que acontece é o fato de Adam (o ex de Hannah) e Jessa (sua melhor amiga) passarem a namorar.

Curiosamente, torcemos pelos dois, ainda que saibamos que mais à frente, quando Hannah descobre, não é nada fácil. E isso acontece em outra pequena obra-prima desta temporada, o episódio "Hello Kitty", que nos leva a uma curiosa peça que acontece em vários apartamentos de um prédio, em que Adam é um dos atores. Antes disso, curtimos o começo da relação de Adam e Jessa em "Old loves", principalmente.

Shoshanna, o patinho feito da turma, e geralmente relegada a segundo plano, em comparação com as três (ela participou de menos episódios do que o Adam) ganha mais força nesta temporada, com um arco em que a mais jovem da turma está no Japão, a trabalho. Intitulado "Japan", o episódio é bem bonito, e se destaca pelas cores, graças a uma iluminada Tóquio e a uma direção de fotografia acertada. Vemos Shoshanna lidando com coisas novas em sua vida, e curtindo muito isso.

Fechar a temporada com "I love you baby" é só mais uma demonstração de que GIRLS é uma série de puro amor. Autopiedade, culpa, resignação, alegria, desapontamento, dor-de-cotovelo, paz interior, contentamento, dúvida, tudo isso e mais um monte de sentimentos misturados formam um agridoce episódio de despedida de temporada que mais parece um episódio final da série. Se fosse, não deixaria de ser incrivelmente belo. Havendo mesmo a sexta e última temporada (confirmada pela HBO), há pontas soltas e coisas a tratar que podem ainda ser desenvolvidas e aproveitadas. Além do mais, é sempre um prazer ver de novo essa turma chata que a gente aprendeu a gostar. No mais, deixo registrado aqui meu amor pela Jessa.

segunda-feira, abril 18, 2016

É DIFÍCIL SER UM DEUS (Trudno Byt Bogom)



Não demora muito para que, vendo É DIFÍCIL SER UM DEUS (2013), a gente desista logo de entender a trama e se permita viajar na força onírica de suas imagens. Há quem diga que é porque o livro no qual o filme é baseado é de difícil adaptação, mas é possível que o cineasta russo Aleksey German não tenha se preocupado muito com esse tipo de detalhe. Seu filme-testamento, em nenhum momento, procura ser fácil para o espectador, foi feito como que numa delírio. O fato de ter quase três horas de duração também não ajuda muito o trabalho a ser apreciado por espectadores apressados e impacientes.

É preciso paciência e uma reeducação do olhar para que essas imagens poderosas sejam não só apreciadas, mas recebidas com maravilhamento e assombro, misturado também a algum asco provocado por cenas violentas ou de causar repulsa mesmo, como pessoas com o nariz pingando, com feridas expostas ou imagens de cadáveres pendurados ou vísceras à mostra, num espetáculo tão perturbador que esquece-se que são efeitos especiais. Talvez o preto e branco das imagens passe essa impressão de verdade.

É DIFÍCIL SER UM DEUS é um dos trabalhos mais importantes da carreira de German, contemporâneo de Andrei Tarkovski, e que morreu antes de ver sua obra finalizada. German passou quatro décadas idealizando, doze anos filmando e faleceu em 2013, deixando a edição e a finalização para seu filho e sua esposa, ambos colaboradores de longa data da produção. Felizmente é um desses trabalhos bem especiais, que oferecem ao espectador uma experiência única, que vai além do gostar ou do não gostar. Independentemente disso, saímos da sessão diferentes.

É DIFÍCIL SER UM DEUS se passa em um universo semelhante à nossa Idade Média em alguns países da Europa, mas há algo de muito estranho que nos leva a acreditar que se trata de um mundo novo e estranho. E na verdade se trata de um outro planeta, como é dito no início, nos letreiros de apresentação. Ver o filme no cinema ou ao menos em uma tela maior é essencial para que os vários planos gerais e os ricos detalhes da direção de arte e a bela fotografia em preto e branco sejam vistos com mais clareza. É, definitivamente, um filme para ser assistido no cinema, por mais difícil que seja sua exibição comercial. Tanto é que até agora ele permanece inédito em nosso circuito. Pude vê-lo em uma mostra dedicada a filmes ousados esteticamente e arriscados comercialmente, a Mostra Cinema em Transe, exibida em Fortaleza no mês de janeiro.

O curioso de ler a sinopse de É DIFÍCIL SER UM DEUS é não encontrar exatamente o que é descrito na tela. Na trama, um grupo de cientistas é enviado ao planeta Arkanar para ajudar a civilização local, que está passando por uma fase ainda muito rudimentar de sua história, a encontrar o seu caminho para o progresso. A missão é difícil, já que eles não podem interferir violentamente e nem matar aquelas pessoas. O cientista Rumata tenta salvar os intelectuais locais de uma punição. Essa é mais ou menos a sinopse meio maluca e resumida que aparece no IMDB.

Na confusa história que acompanhamos na tela, que é o que importa, afinal, já que a obra cinematográfica precisa ser analisada de modo independente da obra literária, vemos um homem de aparência quase gigante e considerado um deus pelos demais. Aos nossos olhos ele só parece superior aos demais por ser maior, mais forte, se vestir diferente e principalmente por não estar coberto de lama. Os demais mais parecem porcos vivendo em um chiqueiro. A lama é uma constante e está presente em quase todo o filme.

Ainda que adaptado da obra literária dos mestres da ficção científica russa Arkady e Boris Strugatsky, que também serviram de inspiração para uma das obras mais aclamadas de Tarkovski, STALKER, o filme de German brinca muito com as possibilidades que só o cinema é capaz, como a aproximação um tanto exagerada da câmera nos rostos e corpos dos atores, ou a própria maneira como eles lidam com essa câmera, chegando, em alguns momentos, a falar com ela. É o tipo de obra que cobra muito do espectador, mas que recompensa muito bem aqueles dispostos a irem até o fim em sua difícil travessia.

domingo, abril 17, 2016

MENTE CRIMINOSA (Criminal)



O que leva um projeto tão vagabundo como MENTE CRIMINOSA (2016) a ser aceito desde o seu roteiro e ainda assim ter um elenco tão talentoso e respeitável queimando seu próprio filme? A trama em si é estapafúrdia: as memórias de um agente da CIA (Ryan Reynolds) morto em combate por criminosos são transferidas para um homem no corredor da morte (Kevin Costner), de modo que a agência de inteligência americana consiga cumprir a sua missão.

Se o problema fosse apenas na premissa, no ponto de partida, até que não seria realmente um problema, uma vez que o espectador a comprasse. O problema é que uma sequência de absurdos e de momentos horríveis vai se seguindo. Um deles: os agentes da CIA procuram o médico que estuda a transfusão de memórias do cérebro de uma pessoa morta para outra viva, interpretado por Tommy Lee Jones, e o perguntam se ele pode ajudá-los. O cientista diz "sim" com uma naturalidade tão grande que se torna risível a cena. E o problema não está em Lee Jones, um ator de cara de pedra, mas bastante expressivo e interessante, mas na construção das falas mesmo.

Para se ter uma ideia, o filme foi rejeitado por Nicolas Cage, famoso por atuar em bombas, o que já seria um indicador de ser um trabalho cheio de equívocos. No entanto, MENTE CRIMINOSA apresenta um elenco formado por gente como Kevin Costner, Gary Oldman (bem como sempre, destoando do tom absurdo do filme), Tommy Lee Jones, a bela e nova estrela Gal Gadot e Michael Pitt, para citar os mais famosos e presentes em cena.

Aliás, a premissa até poderia ser bem utilizada se fosse entregue a um roteirista de uma série de ficção científica e terror como BLACK MIRROR, mas, do jeito que está, é o tipo de trabalho que impressiona pelos motivos errados. O que dizer das cenas de aproximação do personagem perturbado de Costner com a viúva vivida por Gadot? Em sua mente embaralhada pela cirurgia, ele consegue lembrar várias coisas, inclusive sentir o amor que o ex-marido da bela mulher nutria por ela, dentre outras coisas que funcionarão como desculpa para conduzir a trama de espionagem, por assim dizer.

Se o roteiro fosse bem construído, até daria para criar algo interessante nessa relação entre o assassino perigoso que vai se tornando um homem bom à medida que é contaminado pelas memórias do agente da CIA e a viúva que vê naquele estranho homem um pouco do marido, a ponto de aceitá-lo em sua casa. Na cena de Costner com a garotinha, até dá para lembrar um pouco de FRANKENSTEIN, de James Whale. Esse tipo de coisa poderia contar pontos a favor do filme, mas infelizmente tudo escorre pelo ralo.

Isso porque MENTE PERIGOSA não é daqueles filmes ruins divertidos de ver, que podem ser tidos como guilty pleasure ou algo do tipo. É uma bagunça sem noção que até deve angariar a simpatia de alguns espectadores, mas que é duro de aguentar principalmente pela narrativa mal conduzida pelo diretor israelense Ariel Vromen (O HOMEM DE GELO, 2012). Assim, não há beleza de Gadot (também israelense) nem talento de Oldman que salvem este estúpido thriller que custou mais de 30 milhões de dólares.

sábado, abril 16, 2016

MOGLI – O MENINO LOBO (The Jungle Book)



Há quem vá achar que isso pode significar um retrocesso, mas o fato é que o jeito antigo de se contar histórias continua funcionando muito bem, especialmente se o narrador está mirando um público mais jovem. MOGLI – O MENINO LOBO (2016) é um triunfo desse cinema à moda antiga da velha Hollywood e do modelo clássico-narrativo, agora com os novos recursos tecnológicos à disposição, fazendo da produção uma obra de cair o queixo em sua mistura perfeita de live action (o menino Mogli, basicamente) com animação em CGI (todos os animais).

O diretor e produtor Jon Favreau já havia feito um filme delicioso há pouco tempo, mas muito mais modesto comercialmente, a comédia dramática sobre culinária CHEF (2014), antes de se aventurar em mais uma superprodução. Aqui ele proporciona novamente prazer neste projeto ambicioso que é fazer uma nova adaptação, utilizando tecnologia de ponta, da obra de Rudyark Kipling que recebera, até então, uma versão considerada definitiva também assinada pelos estúdios Disney: a animação homônima de 1967.

Logo no início, somos apresentados a um garotinho que convive harmoniosamente com vários animais em uma floresta. Existe a lei da selva, em que animais predadores matam para se alimentar de outros animais. Embora isso não seja mencionado explicitamente, fica bastante claro quando vemos o momento sagrado de união de todos os bichos, quando eles param tudo para beber água em um rio perto da chamada Pedra da Paz.

O clima fica tenso com a chegada do tigre-de-bengala Shere Kan (dublado por Idris Elba), um animal terrível que guarda uma cicatriz no rosto deixada por um humano. Ele tem um especial interesse em matar o pequeno Mogli (Neel Seth), que vê como uma ameaça à selva - os humanos são vistos como responsáveis diretos pela destruição da natureza, com certa razão. O garoto, ainda bebê, fora resgatado pela pantera Baguera (dublado por Ben Kingsley) e foi adotado com carinho em uma alcateia de lobos. Raksha (dublada por Lupita Nyong’o), a mãe-lobo, é mostrada como extremamente carinhosa e preocupada com o filho adotivo.

Por ser um filhote humano, Mogli consegue sobreviver e vencer corridas ou chegar a atalhos através de truques produzidos por sua inteligência e não imitando os lobos. Aliás, esse aspecto é a introdução do personagem na narrativa. Depois é que vamos sabendo mais detalhes sobre suas origens naquele lugar reservado aos animais. Nas leis da selva, também vamos sabendo mais detalhes sobre como são vistos os elefantes, e somos também apresentados à fascinante e assustadora píton Kaa (dublada desta vez por uma mulher, Scarlett Johansson).

A nova versão da história não se distancia tanto do clássico de 1967, já que mantém algumas canções, ainda que poucas. E uma ou duas parecem um pouco deslocadas dentro da busca de um maior realismo nesta nova versão, como na cena em que o orangotango gigante Rei Louie (dublado por Christopher Walken) canta "I wanna be like you". A cena da canção acaba dando um ar um tanto grotesco e diminui a força do medo que o imenso personagem é capaz de trazer.

Falando em intérpretes e canções, como não admirar o trabalho de Bill Murray como o urso Balu? Inclusive, ao ver o filme em sua versão original legendada, é de se lamentar que alguém o veja dublado, sendo privado de perceber a perfeita conexão entre Murray e Balu, como se o personagem fosse criado especialmente para ser interpretado por ele, em seu misto de preguiça e esperteza.

O filme, aliás, talvez não seja muito apropriado a crianças muito pequenas, pois pode assustá-las. Especialmente por causa da violência de Shere Kan e das cenas de luta física entre os animais. E mais: se um dia você sonhou em ver RIO VERMELHO, de Howard Hawks, no cinema, por causa da cena da manada de bois, não deixe de ver MOGLI: O MENINO LOBO no cinema, especialmente em IMAX 3D: há uma cena de manada de búfalos que é impressionantemente linda. Poucos filmes no cinema contemporâneo feitos em Hollywood podem fornecer tal grau de força e maravilhamento, e com um uso de 3D que faz a diferença. Porém, como há muitas cenas escuras, o ideal é procurar ver na melhor sala 3D disponível em sua cidade, caso não seja possível ver em IMAX.

No mais, não deixe de ficar para os créditos, para saborear a versão de "Trust in me", cantada por Scarlett Johansson. Já se conhece o talento da atriz também como cantora, e seu timbre de voz, aliado aos novos arranjos, ficaram perfeitos juntos.

quarta-feira, abril 13, 2016

DE ONDE EU TE VEJO



O novo filme de Luiz Villaça, DE ONDE EU TE VEJO (2016), já começa dando um nó na garganta do espectador, fazendo com que nos solidarizemos facilmente com o drama daquele casal que esteve junto há 20 anos, mas que agora está se separando amigavelmente. E enquanto esse sentimento de melancolia permeia o filme, alimentado ainda mais com a notícia da iminente partida de sua única filha para outra cidade para fazer faculdade, ele se mantém tão triste quanto belo.

Mas, brasileiros que somos, temos a mania de fazer festa até nos momentos mais sérios, e entra em cena o clima de comédia, que contamina e diminui um pouco as qualidades da obra, embora a torne mais leve – não se sabe o quanto o filme resistiria se adotasse um tom depressivo do início ao fim, embora os diálogos espirituosos dos dois protagonistas ajudassem um pouco a levantar os ânimos. Lembrando que Denise Fraga já tem um histórico bem considerável de obras que mais pendem para a comédia – quase ninguém viu o drama HOJE, de Tata Amaral, por exemplo, enquanto todo mundo se lembra do papel dela em AUTO DA COMPADECIDA, de Guel Arraes.

Em DE ONDE EU TE VEJO, Denise é Ana Lúcia, uma arquiteta que trabalha procurando prédios antigos e quase abandonados para transformar em lugares mais modernos. Ela tem uma tendência em acreditar em coisas mais ligadas ao esoterismo, como astrologia, feng shui, pensamento positivo etc. Enquanto isso, seu (ex-) marido, Fábio (Domingos Montagner), é um jornalista pragmático, embora abrace com muito carinho as crenças e manias da mulher. Do mesmo modo, com tantos anos juntos, ele também tem manias que só sua mulher entende, como o fato de ele nunca ter aprendido a dar um nó na gravata.

O momento de mudanças para os dois não parece nada feliz: a filha adorável, que é um elo para os dois, indo embora; os prédios históricos da cidade fechando (ainda que isso seja bom para a arquiteta); demissões em massa nas redações, em momento de morte do jornal de papel etc. O fato de o marido se mudar justamente para um prédio em frente ao da esposa também não ajuda muito a desatar os laços. Mas isso ajuda a criar momentos interessantes para a trama, principalmente enquanto comédia, embora vá fornecer subsídios também para alguns momentos dramáticos.

Algumas participações especiais ajudam a tornar DE ONDE EU TE VEJO memorável. Como não ficar emocionado com o depoimento de Juca de Oliveira sobre a importância do Cine Marabá em sua vida, quando ele fala, com os olhos brilhando, do dia em que conheceu sua esposa? Ou de como é mágico sair do cinema e dar de cara imediatamente com a rua? E temos também Laura Cardoso, como a velhinha que cuida de pássaros, que se mostra feliz com a rotina simples, e que de vez em quando solta umas indiretas para a arquiteta sobre como lidar com a vida. Ou Fúlvio Stefanini, como o simpático dono de uma pizzaria que serviu de espaço para vários aniversários de casamento de Ana Lúcia e Fábio.

A geografia de São Paulo é também um elemento que conta pontos a favor do filme, principalmente para aqueles que têm amor pela selva de pedra brasileira. Os momentos de dor de Fábio também são bastante tocantes, mostrando-nos uma obra sensível e avessa a estereótipos de gênero. O filme só peca em tentar ser certinho em sua estrutura, com um final que o torne redondo e inteligente e procurando resgatar o clima mais melancólico de seu início e não sendo bem-sucedido com isso. Mas, ao que parece, esse final já fazia parte do plano. Acontece que tem certas coisas que funcionam melhor quando não são planejadas.

segunda-feira, abril 11, 2016

RUA CLOVERFIELD, 10 (10 Cloverfield Lane)



Há filmes que quanto menos você souber melhor. E a equipe por trás do marketing de RUA CLOVERFIELD, 10 (2016) sabe disso e faz desse detalhe um trunfo, inclusive em seu trailer, que pouco entrega da trama, respeitando o mistério, esse elemento tão caro e tão belo. Claro que é possível inferir um monte de coisas, especialmente se você já viu CLOVERFIELD – MONSTRO (2008), de Matt Reeves, filmes que utiliza a estética do found footage para contar uma história de criaturas alienígenas que infernizam uma metrópole.

De maneira muito inteligente, o novo filme não usa o mesmo recurso do original, contando também uma história bem diferente e que privilegia o que acontece no bunker claustrofóbico de um sujeito suspeito e estranho chamado Howard, vivido brilhantemente por John Goodman. O ponto de vista, no entanto, é de Michelle, interpretada pela linda e talentosa Mary Elizabeth Winstead. Ela está numa espécie de cidade fantasma apocalíptica quando, depois de abastecer o carro, sofre um acidente na estrada que a deixa desacordada.

A cena do baque é, desde já, um dos grandes momentos cinematográficos do ano, com um trabalho de edição lindo, junto com os pré-créditos. Quando Michelle acorda presa em um lugar desconhecido e é recebida por aquele sujeito esquisito e com um papo meio maluco de que o mundo acabou e tudo lá fora está inabitável pela radioatividade, ela não acredita. Aos poucos, vamos sabendo que nem tudo que Howard diz é mentira; ele só omite certas coisas, enquanto outras vão sendo reveladas aos poucos, nem que seja numa cena que seria inocente, como a de um jogo de adivinhação.

Na casa subterrânea de Howard também habita um jovem barbudo simpático, Emmett (John Gallager Jr.), que aos poucos vai se tornando amigo e confidente de Michelle, na mesma proporção em que Howard vai ganhando mais e mais desconfiança, por mais que pareça um tanto infantil às vezes. Sua obsessão por coisas infantis é impressionante, aliás – o que nos remete novamente à cena do jogo de adivinhação, que é, ao mesmo tempo, tensa e engraçada.

E é desse jeito que o diretor Dan Trachtenberg, em sua estreia em longa-metragem, e mais os roteiristas talentosos e o produtor J.J. Abrams, decidem contar essa história: juntando momentos tensos e às vezes de puro horror com outros mais leves e com muito bom humor, inclusive nos vinte minutos finais, em que o filme trafega por outros caminhos. E por mais que esperássemos um pouco de sci-fi lá pelo final, ainda assim RUA CLOVERFIELD, 10 nos surpreende positivamente.

E como a realização é de alto nível, pouco importa se algumas soluções parecem inverossímeis ou extremamente fantasiosas. Elas acabam se adequando perfeitamente à narrativa. Assim como também é perfeita a construção da heroína Michelle, mais uma representante desses novos tempos mais feministas, embora faça lembrar em alguns momentos outra heroína de um filme um pouco mais distante no tempo e no espaço, a Ripley, de ALIEN, O 8º PASSAGEIRO.

Com um orçamento modesto estimado em apenas 15 milhões de dólares (pouco para os padrões hollywoodianos de filmes de ficção científica), RUA CLOVERFIELD, 10 tem recebido boa aceitação tanto da crítica quanto do público, graças também a uma divulgação boca a boca que só pode pecar se contar alguns detalhes do enredo que devem ser mantidos em segredo para melhor apreciação da obra.

domingo, abril 10, 2016

AMERICAN CRIME STORY – THE PEOPLE V O.J. SIMPSON



Uma das melhores surpresas deste ano na televisão foi a série/minissérie AMERICAN CRIME STORY – PEOPLE V O.J. SIMPSON (2016), que mantém um padrão de qualidade impecável ao longo de sua narrativa, que se propõe a contar a história do que foi chamado de “o julgamento do século”, por sua repercussão inédita: o caso do assassinato da esposa do jogador de futebol americano O.J. Simpson, Nicole Brown Simpson, e do amante, Ronald Goldman.

Como O.J., principal suspeito, tenta fugir, ele logo é preso sem poder enfrentar o julgamento em liberdade. Aliás, o episódio da fuga dele no Bronco é impressionante. Tanto que até pensamos que a série não vai conseguir melhorar depois daquilo. Ledo engano, felizmente, pois quando a série vira um autêntico drama de tribunal é que ela mostra realmente a que veio.

Um dos grandes destaques de PEOPLE V O.J. SIMPSON é o elenco fabuloso, estrelado por gente famosa como John Travolta (o advogado Robert Shapiro), Cuba Gooding Jr. (O.J. Simpson), David Schimmer (o amigo de O.J. e também advogado Robert Kadashian) e Sarah Paulson (como a advogada de acusação Marcia Clark). Sarah é digna de louvor, mas também pode sere dito o mesmo de Sterling K. Brown, que interpreta seu parceiro Christopher Darden, e Courtney B. Vance, como o incisivo advogado de defesa Johnnie Cochran. Sem falar em outros nomes e rostos famosos que contribuem para tornar a obra ainda mais especial.

O caso de O.J. Simpson representa um dos maiores erros da história do sistema judiciário americano e mostra o quanto os aspectos emocionais podem interferir negativamente no julgamento de alguém. No caso, questões relativas ao preconceito racial vieram à tona, levando em consideração a má fama da polícia de Los Angeles de maltratar os negros. Assim, constrói-se uma teoria de conspiração em que a polícia teria plantado as evidências do crime.

No fim das contas, a audiência negra passou a torcer pela absolvição de Simpson, enquanto nós, espectadores, torcemos pela verdade e pelo trabalho correto, ainda que cheio de falhas, dos advogados responsáveis pela acusação do réu. Em determinado episódio, a série mostra a perspectiva dos jurados, que ficaram vários meses presos dentro de um hotel, sem poder falar com a família, ou ver televisão ou ler jornais, para não serem influenciados. Outro episódio destaca o trabalho de Marcia Clark, bem como o sexismo que ela sofre no trabalho. Criticam até mesmo o seu corte de cabelo e seu modo de vestir.

Outro aspecto positivo da série é a fidelidade nas cenas de tribunal, inspiradas e pensadas em retratar o que de fato foi televisionado e visto com atenção pelos espectadores americanos, como num reality show. E o curioso do caso de O.J. é o quanto ele estava distante da comunidade negra, mas mesmo assim foi abraçado por ela, apesar de condenado pelos brancos, que o viam como um assassino. Ao fim da série, quando vemos as tradicionais informações sobre o que aconteceu com cada personagem após o fim do caso, até podemos chegar à conclusão de que O.J. chegou a se autossabotar (sentimento de culpa?), já que foi preso novamente, mas por outro motivo. Inclusive, vale ressaltar a beleza dos instantes finais de Cuba Gooding Jr. no papel.

AMERICAN CRIME STORY volta no próximo ano, desta vez falando sobre o caso do furacão Katrina. Enquanto isso, espera-se que a primeira temporada confira aos roteiristas, produtores e atores várias estatuetas nos prêmios Emmy e Globo de Ouro.

sexta-feira, abril 08, 2016

A BRUTA FLOR DO QUERER



Curioso como só neste ano três filmes brasileiros que entraram em cartaz no circuito mostraram, ainda que rapidamente, cenas de membros masculinos rijos explicitamente: BOI NEON, de Gabriel Mascaro, PARA MINHA AMADA MORTA, de Aly Muritiba, e agora este A BRUTA FLOR DO QUERER (2013), da dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade. Isso pode ser um sinal de que o cinema brasileiro está vivo, pulsando, que ainda existe tesão. Pode até ser uma alegoria pobre, mas faz algum sentido, especialmente diante das citadas obras desses jovens e talentosos cineastas.

A BRUTA FLOR DO QUERER conta a história de um jovem cineasta (Dida Andrade) que, devido à dificuldade de conseguir sobreviver com sua arte, ganha alguns trocados trabalhando como cinegrafista de casamentos. Quando lhe é perguntado se ele gosta desse trabalho, ele diz: "óbvio", com aquele ar de escárnio. Aos poucos vamos sendo apresentados à sua vida pouco agradável de usar drogas para escapar dos problemas e da tentativa frustrada de se aproximar de uma moça por quem está apaixonado – uma paixão platônica.

Aliás, como a paixão platônica e o drama do rapaz em si, o filme tem a coragem de não parecer adolescente demais com isso. É possível, inclusive, se solidarizar e até entender bastante o drama do personagem, especialmente nas cenas tensas em que ele tenta se aproximar de Diana, a sua paixão, que para ele aparece ao som de "Baby", do Caetano Veloso, que aparece em duas versões: cantada por Gal Costa e, em inglês, pelos Mutantes.

Inclusive, as ótimas músicas da trilha sonora foram responsáveis pelo tempo decorrido de sua exibição premiada em Gramado, em 2013, até agora, com seu lançamento. Isso por causa da dificuldade em conseguir a liberação das músicas (há outras), que comeram 50% do valor da produção (R$ 100.000,00). Mas valeu a pena ter conseguido esse feito. O filme consegue passar um ar de maior sofisticação com elas.

E falando em sofisticação, há toda uma vontade explícita de emular Godard em várias cenas, especialmente as dentro do carro. Há também uma questão bastante godardiana, que é a tese de que o cinema morreu – e assistir ao filme em uma sala quase vazia contribui acreditar por um momento nessa teoria. Mas sabemos que seu desencanto com relação ao cinema vem do sentimento de frustração diante de sua condição.

Sentimos no ar que o longa de estreia de Andradina e Andrade poderia ter ousado mais, inclusive na cena de sexo na praia que acaba parecendo um pouco tímida, mas a inquietação, a frustração, a dor e a paixão são sentidas do lado de cá da tela. Isso e mais as boas cenas de conversa dos amigos no carro, que para alguns remetem a Cassavetes, faz valer a pena o esforço, ainda que saibamos que poucos são os interessados no filme, lançado em poucas cidades, em poucas cópias, sem nenhuma divulgação. Mas isso não é exclusividade deles, mas da grande maioria dos filmes brasileiros contemporâneos, que carecem de um maior apoio do público.

quarta-feira, abril 06, 2016

11.22.63



Histórias de viagens no tempo sempre acabam despertando nossa curiosidade e gerando diversão, mesmo que seja necessário muitas vezes esquecer qualquer lógica e comprar a ideia proposta pelo roteirista. No caso de 11.22.63 (2016), série produzida por J.J. Abrams, baseada em um romance de Stephen King e desenvolvida por Bridget Carpenter, a ideia é aceitar que alguém pode sair de um armário localizado em uma lanchonete e desembarcar sempre no mesmo dia e hora de 1960.

Estrelado por James Franco, a série começa mostrando o personagem, um professor de Inglês de uma escola chamado Jake Epping que é apresentado por um amigo mais velho e que está doente de câncer a esse tal túnel do tempo. A ideia que o amigo (Chris Cooper) tem é usar aquele espaço para evitar o assassinato de John F. Kennedy em Dallas e, com isso, também evitar a Guerra do Vietnã e outras coisas que supostamente sucederam à sua morte.

Para isso, seria necessário que Jake, que andava meio desiludido da vida principalmente por causa de um recente divórcio, ficasse por lá em preparação durante esse período de cerca de três anos, aguardando o dia do assassinato de JFK enquanto investiga o suposto assassino, Lee Harvey Oswald, e suas supostas ligações com os comunistas e o FBI. Se necessário, seria o caso de matar Oswald.

Em alguns momentos, a série parece fugir de sua meta, de suas intenções originais e cria um pouco de barriga, como num episódio dedicado à cirurgia da namorada de Jake nos anos 1960, a também professora colegial Sadie Dunhill, vivida pela bela Sarah Gadon. Curiosamente eu não me lembrava de Sarah, embora ela tenha aparecido nos últimos filmes de David Cronenberg e também em O HOMEM DUPLICADO, de Dennis Villeneuve. Às vezes é preciso uma série de televisão para que a gente veja com mais atenção o brilho de determinada atriz. E aqui podemos dizer que 11.22.63 faz isso próximo da perfeição.

O mesmo não se pode dizer da trama de espionagem, que, se no começo parece interessante, quando Jake e seu amigo Bill (George McKay) investigam com grampos o apartamento do futuro assassino, depois vai caindo numa banalidade lastimável. Para quem foi ao cinema ver uma obra tão cheia de teorias de conspiração como JFK – A PERGUNTA QUE NÃO QUER CALAR, de Oliver Stone, ver aquilo tudo de maneira tão simplista é um tanto desagradável. Sem falar que Oswald (Daniel Webber) é mostrado como um bobão.

Por outro lado, a minissérie faz um belo retrato dos Estados Unidos daquele período, quando os negros ainda eram tratados como lixo e o quanto isso pode ser impactante para uma pessoa do século XXI. E como o personagem de Cooper diz que tudo era mais gostoso naquela época, inclusive a comida, a série passa mesmo essa impressão, dando vontade de fazer uma viagem como essa qualquer dia desses também.

Por mais que a minissérie gere alguns momentos fracos e ameace cair bastante em sua conclusão, percebemos no final que o mais importante da experiência de Jake nem era o assassinato de JFK, embora isso seja crucial para a mudança radical no mundo, mas sim o fato de ele ter conhecido Sadie. Tanto é que o final é extremamente tocante e um dos pontos altos, quando deixa de lado o suspense e os momentos de perigo e se concentra na história de duas pessoas de diferentes épocas que se apaixonaram.

terça-feira, abril 05, 2016

O ANO DAS MEDUSAS (L'Année des Méduses)



Quando a gente começa a se interessar por um filme por causa do sex appeal de uma atriz pode ser sinal de duas coisas: ou estamos mesmo passando por uma fase de carência muito forte ou essa atriz tem algo especial que você não consegue dizer em palavras de modo a fazer muito sentido. É assim Valérie Kaprisky, uma francesa que tem (prefiro usar o verbo no presente, pois o cinema eterniza a beleza) um corpo fantástico, que passa uma carga erótica indescritível.

Esse sentimento que mexe com o coração, o cérebro e as partes baixas que eu tive em relação a Valérie começou com A FORÇA DE UM AMOR (1983), de Jim McBride, uma espécie de refilmagem americana de ACOSSADO, do Godard. Vi na adolescência numa exibição na televisão e fiquei impressionado com ela desde então. Quero poder encontrar uma cópia boa para rever um dia. Pude rever a atriz  seis anos atrás em A MULHER PÚBLICA (1984), de Andrzej Zulawski, e o velho sentimento misturado com desejo voltou com a mesma força, até porque o filme tem uma carga erótica maior ainda.

E eis que tenho a chance de vê-la mais uma vez, em um filme menor chamado O ANO DAS MEDUSAS (1984), de Christopher Frank. O filme é um thriller de suspense com uma relativamente forte dose erótica que se passa em uma praia de top less da Riviera Francesa, durante o verão. O diretor, como não é bobo, parece até seguir a cartilha de alguns cineastas da nossa Boca do Lixo, trazendo também uma atriz lindíssima para fazer o papel da mãe da personagem de Valérie e ter "100% de aproveitação". A atriz em questão é Caroline Cellier, que chegou, inclusive, a ganhar o César de melhor atriz coadjuvante por esse papel.

Na trama, Valérie é Chris, uma adolescente que gosta de brincar com os homens, de exercitar o seu poder de sedução, e por isso fica um tanto frustrada quando o namorado de sua mãe, o pouco confiável Romain (Bernard Giraudeau), se mostra um pouco mais resistente a ela. Como o filme é menos ligado à trama e mais à personagem, vamos acompanhando também as provocações que Chris faz a um homem mais velho e casado, e que de tão louco que fica com as brincadeiras da moça, acaba correndo alguns riscos só para encontrar com ela. Nem que seja para levar mais um fora e voltar para casa de mãos abanando.

O filme é um tanto frouxo em sua proposta de gerar suspense e por isso esse elemento só é devidamente enfatizado na parte final, em que experimentamos um pouco mais do veneno de Chris. No fim das contas, O ANO DAS MEDUSAS, se não é um grande filme, apesar de trabalhar bem a questão da auto-obsessão da protagonista, ele fica na memória mesmo pela poderosa presença de cena de Valérie Kaprisky, com seu corpo e olhar fascinantes.

segunda-feira, abril 04, 2016

THE WALKING DEAD – 6ª TEMPORADA COMPLETA (The Walking Dead – The Complete Sixth Season)



A sexta temporada de THE WALKING DEAD (2015-2016) começou chutando portas e mexendo com os nervos do espectador, que já estava até mal acostumado com a excelência da série, que se manteve no seu ponto alto na quinta temporada (que até o momento, segue sendo a melhor de todas). O primeiro episódio, “First Time Again”, mostrado em dois tempos distintos, com o futuro visto em preto e branco e mais dramático, com a turma de Rick tentando evitar que uma orda de zumbis derrube os muros de Alexandria, é um dos pontos altos de toda a série e de vez em quando é bom lembrar disso, levando em consideração que a temporada como um todo não está sendo tão bem vista assim por muitos fãs.

E lembremos também que a primeira parte da temporada foi marcada pelo ataque dos lobos, os caras que um dia já foram habitantes de Alexandria, mas que agora formam um grupo de assassinos prontos para tomar a cidade e matar todos os habitantes. O segundo episódio também nos apresenta ao passado de Enid, a jovem que desempenhará ainda algumas funções importantes na série.

Mas nada preparou o espectador para "Thank You", o episódio que mais deixou o público agitado, temendo pela vida de um dos personagens mais queridos, Glenn. Acredito que agora já não seja um grande spoiler dizer que ele sobreviveu à orda de zumbis, mas tivemos que aguentar alguns episódios para ter a certeza disso, inclusive um muito chato, que conta a história de Morgan, o pacificador. Pra piorar, o tal episódio, chamado "Here's Not Here" é um dos mais longos da série.

Interessante ter um personagem que funcione como uma espécie de consciência de um grupo que aprendeu a matar e já acha que isso é normal. Mas é curioso como ele não funciona – pelo menos, não tem funcionado até o momento. Ao contrário: consideramos o personagem fraco, já que, devido às circunstâncias, bom é quem mata. Horrível pensar em como a série faz isso com a gente, mas é importante lembrarmos que aquele universo é totalmente distinto e que a gente acompanhou a evolução de Rick e aprendeu a gostar mais dele assim, violento e sanguinário, mas bastante interessado em cuidar de sua família, que é como ele considera todo o grupo.

A segunda metade da temporada, um pouco mais irregular, trataria de elaborar melhor essa ideia do grupo de Rick como grandes assassinos que se tornaram. Essa metade se caracterizaria pela entrada em cena dos “salvadores”, o grupo liderado pelo misterioso e temido Negan, que só dará as caras na perturbadora season finale. Como se comenta que ele é o sujeito que mata Glenn com requintes de crueldade nos quadrinhos de Robert Kirkman, a gente acaba temendo muito que isso também aconteça na série, embora se saiba que muita coisa é modificada na adaptação.

"Last Day on Earth", o episódio final, mostra nossos heróis acuados pelos homens de Negan, enquanto tentam levar Maggie para um médico. De certa forma, juntar a turma quase toda ali, naquele momento de extrema tensão e angústia, é um recurso um tanto forçado e que já havia ocorrido em Terminus, entre o fim da quarta e o começo da quinta temporada. O que dói mesmo é ter que aguentar até setembro para saber o que de fato ocorreu nesse final, que tanta frustração trouxe para a audiência. Mas, de uma coisa nós sabemos, teremos combustível para alimentar a sede de vingança contra Negan. E isso pode funcionar a favor da série, tirá-la da letargia que às vezes a acomete.

domingo, abril 03, 2016

A JUVENTUDE (Youth)



Paolo Sorrentino não é um cineasta fácil, além de ser talvez mais odiado do que querido. É necessário uma predisposição ao seu estilo nem sempre de fácil absorção e tão afeito aos sentimentos de depressão e apatia. Isso se percebe principalmente em AQUI É O MEU LUGAR (2011) e em menor escala também em A GRANDE BELEZA (2013). Em menor escala pois o cineasta de 46 anos demonstra um carinho imenso pela fase outonal da vida. E isso se repete em A JUVENTUDE (2015), uma espécie de reprise a esse olhar.

Sai de cena o grande Toni Servillo e entram outros grandes atores, dessa vez ainda mais célebres e conhecidos, Michael Caine e Harvey Keitel, dois gigantes do cinema mundial que vinham trabalhando como coadjuvantes de luxo em produções mais recentes. Sorrentino lhes confere o protagonismo novamente.

Em A JUVENTUDE, Michael Caine é o maestro Fred Ballinger, um homem amargurado que está passando uma temporada em um spa de luxo nos alpes suíços com seu melhor amigo, o cineasta Mick Boyle (Keitel), e com sua filha e assistente vivida por Rachel Weisz. No lugar, Sorrentino até inclui um sósia do Maradona, que havia recebido uma dedicatória especial do diretor quando o mesmo recebeu o Oscar de filme estrangeiro em 2014.

Como a passagem do tempo é um dos principais temas de A JUVENTUDE, é natural que em meio aos corpos enrugados também ganhem destaque os corpos jovens e perfeitos, como é o caso da Miss Universo que adentra nua a piscina em sequência memorável. Aliás, vale destacar que a beleza plástica que Sorrentino dá ao filme em diversos momentos tanto vale para os corpos jovens quanto para os corpos velhos.

Uma coisa que o filme requer do espectador é que aceite o tempo próprio do cineasta. Quem já viu pelo menos dois trabalhos dele sabe mais ou menos o que esperar. Talvez até tenha criado certa antipatia, na verdade. E há também uma relação muito próxima do cineasta com a apatia, que está muito presente em Fred Ballinger, embora depois saibamos que se trata de uma espécie de tentativa de esconder os sentimentos, e isso fica explícito na cena do emissário da Rainha da Inglaterra implorando a presença do maestro no aniversário do Príncipe Phillip.

Embora seja um filme sobre a velhice – a juventude aparece como um momento distante, quase longe da memória, como vemos nos diálogos entre Fred e Mick –, o filme tem uma vitalidade admirável, iniciando-se com uma cantora em um palco giratório ofertando música boa para um público seleto. Ao mesmo tempo, há um clima quase hipnótico no ar, graças ao andamento lento associado à beleza das imagens de cores vivas – o diretor de fotografia é Luca Bigazzi, o mesmo dos trabalhos anteriores do cineasta.

A JUVENTUDE é um filme que aposta mais na força das cenas, das imagens e dos personagens do que em um enredo. No começo, até pensamos que o convite do emissário da Rainha seria a força motriz da trama, mas isso passa longe de ser. Há camadas de subtramas, como a que envolve a filha de Fred, que vive um momento difícil, depois de ter sido abandonada pelo marido. E em alguns momentos personagens sem nome surgem do nada em pequenas passagens, como a jovem prostituta ou o citado jogador de futebol aposentado cujo nome nunca é citado.

O que se percebe ao final de A JUVENTUDE é que é um trabalho bem mais melancólico que A GRANDE BELEZA. Embora seja possível enaltecer a vida, há inúmeros momentos em que os personagens lamentam não terem feito determinada coisa, como quando Fred diz que daria 20 anos da vida dele por uma noite com determinada moça de sua juventude. E principalmente o modo como as coisas terminam para o maestro, no que se refere à sua esposa e também ao seu amigo. Dessa forma, o suposto enaltecimento da vida em todas as suas fases acaba ganhando contornos amargos.

sábado, abril 02, 2016

VOANDO ALTO (Eddie the Eagle)



Um dos méritos de VOANDO ALTO (2016) é que se trata de um drama esportivo sobre superação à moda antiga, ou pelo menos como se costumava fazer na década de 1980. Nesse ponto, o ator e diretor de apenas três filmes Dexter Fletcher foi feliz em dar à sua produção mais famosa até o momento a cara de produções daquela década, tanto na dramaturgia, quanto na música, com direito a "Jump", do Van Halen, tocando em determinado momento.

Por isso, há quem vá achar o filme cafona ou muito Sessão da Tarde – ele tem sido comparado bastante com JAMAICA ABAIXO DE ZERO. Mas muito do sucesso de crítica que o filme tem obtido vem justamente de não se esperar muito de uma obra desse tipo e de como o trabalho de Fletcher e dos dois atores principais é bem sucedido em encontrar o ponto certo diante do perigo de trabalhar com a história de um rapaz com um pouco de deficiência mental cujo maior sonho é participar das Olimpíadas. Não importando o esporte.

A história real de Michael "Eddie" Edwards parece saída das mãos de algum roteirista um tanto sem-noção, de tão absurda que parece. É mais um caso de vida real que supera a ficção. O sonho de Eddie vem desde que ele é criança, quando, apesar das quedas, dos vários óculos quebrados, do problema no joelho e da total falta de estímulo do pai e de quem quer que seja, o menino cresce com essa ideia fixa e aos 22 anos resolve partir para a Alemanha sozinho, em 1987, encontrando uma brecha nas regras para que ele possa participar das Olimpíadas de Inverno no Canadá, em 1988.

O esporte que ele escolhe é o perigoso salto de ski. Somos apresentados a esse esporte pouco conhecido do grande público e ficamos sabendo dos riscos que uma pessoa tem de quebrar os ossos ou mesmo o pescoço em um acidente. Por isso, imaginar que alguém que nunca praticou o tal esporte conseguisse saltar durante apenas alguns poucos treinos mostra-se um feito e tanto.

Quem interpreta Eddie é Taron Egerton (o protagonista de KINGSMAN – SERVIÇO SECRETO) e no começo dá impressão de que ele estaria exagerando no tom cartunesco do personagem, mas essa impressão se dissipa quando vemos fotos do verdadeiro Eddie. Quanto a Hugh Jackman, que faz o treinador beberrão, ele já havia feito um trabalho semelhante no emocionante GIGANTES DE AÇO, e não deve ter se esforçado tanto para fazer essa espécie de reprise.

VOANDO ALTO também acerta o tom ao tratar a história com muito bom humor, mostrando os adversários ou obstáculos de Eddie como caricaturas, sejam os esportistas que zombam dele, sejam os seus próprios pais, ou mesmo os locutores esportivos, quando o protagonista vai finalmente para o Canadá – impossível não ficar encantado com a simpatia de Jim Broadbent. E ao final, o filme nos encanta e emociona como poucos do subgênero. Talvez até seja esquecido no futuro, mas sempre que alguém se dispor a vê-lo vai se sentir grato por estar vendo com prazer essa história de superação.