sexta-feira, julho 31, 2009
RESSACA DE AMOR (Forgetting Sarah Marshall)
Voltar ao trabalho depois de 30 dias de férias é um pouco doloroso, mas aos poucos vou entrando no ritmo. Ontem resolvi não ir ao Cine Ceará. Estava cansado e indisposto e achei que o melhor a fazer seria ficar em casa. A programação do festival não anda lá muito animadora mesmo. E como no final de semana anterior eu conheci uma turma que estava falando de RESSACA DE AMOR (2008), senti que era esse o momento de ver esse filme que há tempos havia baixado. O filme faz parte da nova safra de comédias, mais picantes, lideradas por Judd Apatow. Aqui, Apatow é produtor e a direção fica a cargo de Nicholas Stoller, estreante no posto, mas que já tinha no currículo o roteiro de AS LOUCURAS DE DICK & JANE (2005), junto com Apatow. Stoller também foi um dos roteiristas de SIM SENHOR (2008), de Peyton Reed.
RESSACA DE AMOR é filme-irmão de LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS, de Apatow. Ambos lidam com personagens meio losers tendo que lidar com uma situação difícil, no caso uma tremenda dor de cotovelo. E a perda se potencializa quando sabemos que a ex-namorada do sujeito é Kristen Bell, a loirinha linda da série de tv VERONICA MARS, que interpreta no filme uma bem-sucedida atriz de uma série de sucesso estilo CSI. Tanto RESSACA DE AMOR quanto LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS são filmes mais românticos, apesar de não abrirem mão de algumas ousadias, como mostrar logo no começo do filme uma cena de nudez frontal do protagonista (Jason Segel). E o engraçado é que a câmera "olha" fixamente para a genitália do sujeito. Mas sabe que essa escolha até que tem uma importância dentro da trama além de chocar, fazer rir ou animar o público feminino? Afinal, o personagem de Jason Segel, ao levar um fora pelado, torna-se nu em todos os sentidos.
Na trama, o personagem, depois de tentar esquecer a ex, saindo com outras mulheres, vê que não consegue e passa semanas trancado em seu apartamento, deprimido. Até que, com uma ajudinha do irmão, ele resolve fazer uma viagem para o Havaí. O que ele não sabia era que, chegando para o check-in no hotel, daria de cara com a ex, já com o novo namorado, um cantor com trejeitos ridículos - não sei se havia intenção de sacanear alguma cantor com o personagem. O interessante é que na frente do tal cantor ridículo e de ego inflado, Segel fica até elegante - diferente do Seth Rogen, que em momento algum de LIGEIRAMENTE GRÁVIDOS parece merecer a bela parceira. Completa o quadrado amoroso a personagem da atendente do hotel, interpretada pela simpática e atraente Mila Kunis, conhecida de quem acompanhou a série THAT '70S SHOW. Ela mostra o quanto uma mulher especial pode levantar o astral de um homem, por mais caído e lascado que ele esteja. E é muito bom ver o processo de superação do rapaz neste filme que vai nos conquistando aos poucos e eleva o espírito.
quinta-feira, julho 30, 2009
19º CINE CEARÁ – 2º DIA
Antes de mais nada, é melhor eu esclarecer o que falei e até já apaguei do post anterior, relativo ao problema do ar condicionado do Cine São Luiz. No dia da sessão de CHE – A GUERRILHA, eu e mais um grupo de amigos, devido à lotação de toda a parte de baixo da sala, ficamos sentados na torre. Os aparelhos de ar condicionado conseguidos ficaram dispostos em um dos lados da sala e seu resultado não chegou até a parte de cima. Quer dizer, ainda não consertaram a central de ar condicionado da majestosa sala, que nos tempos áureos, quando eu era criança e ia pra lá ver filmes dos Trapalhões, gelava muito bem e uniformemente. De qualquer maneira, deixo registrado aqui o interesse dos organizadores para melhorar a edição deste ano, que também está com som e qualidade de imagem muito melhor, embora esteja sofrendo com uma programação não muito atraente. Ainda sou de ficar lamentando essa mudança para "ibero-americano". Por mim, continuava sendo apenas de filmes brasileiros, mesmo que já tivessem passado em outros festivais.
O longa-metragem exibido ontem à noite no primeiro dia da mostra competitiva, o peruano O PRÊMIO (El Premio, 2009) [foto], não me deixou muito animado, por mais que tenha os seus momentos. A trama em si já não é tão original: homem ganha na loteria e se vê cheio de problemas e de pessoas querendo uma parte da grana. O que o diferencia dos demais sobre o tema é justamente onde se passa a trama: numa região rural do Peru, com suas peculiaridades. Quer dizer, o filme acaba interessando mais por seu caráter exótico, por despertar o nosso lado antropológico, do que por suas qualidades fílmicas.
Entre suas qualidades, vale destacar a boa atuação do elenco. Gostei especialmente do personagem do filho do sujeito que ganha o prêmio e principalmente de sua bela prima. Há uma cena em particular que achei bem interessante, que é a cena em que o protagonista entra em sua casa quando o dia está no fim, uma tempestade está a caminho e um grupo de trabalhadores de seu vilarejo tenta invadir sua casa. Mas é uma cena que destoa um pouco do tom geral do filme. Interessante também ver as diferenças entre cidade e campo, entre Lima e o povoado onde o protagonista mora com sua filha.
O melhor filme da noite foi o documentário em curta-metragem de Firmino Holanda CAPISTRANO NO QUILO (2007), exibido fora de competição. O curta mostra o curioso caso do assalto à estátua de bronze do historiador cearense Capistrano de Abreu da Praça da Lagoinha, que, aliás, tem como nome oficial Praça Capistrano de Abreu, mas que é mais conhecida pelos fortalezenses como "Praça dos Malandros". Holanda faz uma brincadeira irônica com ares de investigação sobre o fato de a população não saber quem é Capistrano de Abreu, ao mesmo tempo em que nos dá uma aula de quem ele foi, com um jeito de narrar que me fez lembrar TABU, de Julio Bressane.
Quanto aos curtas da mostra competitiva, infelizmente não gostei de nenhum. LEITURAS CARIOCAS (RJ, 2009), de Consuelo Lins, é um documentário que mostra o que as pessoas fazem dentro de um metrô. Desde ficar passando mensagens pelo celular, escutar música ou ler livros. Tudo indica que foi feito em digital e transferido para película, a fim de ser aceito pelo festival. SELOS (CE, 2008), de Gracielly Dias, tem uma bela fotografia que emoldura alguns momentos com classe, mas não tem um bom andamento narrativo, nem uma história coesa e interessante. Melhor sorte teve A MULHER BIÔNICA (CE, 2008), de Armando Praça, que tem momentos muito bons, como o início, com um monte de mulheres falando, e a cena do cinema, mas sofre de irregularidade e de excesso de personagens para um curta de 19 minutos. Porém, tem o seu charme e lembra alguns filmes do Almodóvar, tanto pelas cores, quanto pelas interpretações histriônicas do elenco quase exclusivo de mulheres.
quarta-feira, julho 29, 2009
CHE - A GUERRILHA (Che: Part Two / Che: Guerrilla)
Começou ontem a 19ª edição do Cine Ceará que, nesta fase ibero-americana, teve como sessão de abertura o ainda inédito no circuito comercial CHE - A GUERRILHA (2008), de Steven Soderbergh. O filme abre uma mostra destinada ao lendário guerrilheiro argentino que ajudou na construção de Cuba e participou de lutas armadas no Congo, na Venezuela e veio a morrer numa campanha fracassada na Bolívia. O segundo filme da saga de Soderbergh mostra justamente os mais de 300 dias em que Che passou nas selvas bolivianas enfrentando um exército bem mais preparado para suas técnicas de combate e persuasão. O filme passou ainda com legendas eletrônicas. Dentro do circuito de arte, com poucas cópias, pode ser que o filme tenha algum sucesso, já que é um verdadeiro suicídio comercial. Se no primeiro filme, Soderbergh já trabalhava num ritmo bem atípico para uma produção americana, mesmo as independentes, o segundo é ainda mais arrastado e com pouquíssimas cenas de ação.
Soderbergh não é nem vair ser nenhum Andrei Tarkovski ou um Robert Bresson, mas vendo algumas de suas obras é possível imaginar que ele é admirador desses cineastas pouco ortodoxos. Inclusive, ele fez um bom remake de uma obra-prima do cineasta russo (SOLARIS, 2002) e nos filmes de Che ele tem dado preferência a um registro que privilegia mais os "tempos mortos" do que as cenas de ação e violência. O modo como ele posiciona a câmera também é bem curioso. Se no primeiro filme, mal vemos os inimigos dos guerrilheiros, no segundo já vemos os tiroteios pelo ponto de vista do exército boliviano, com uma "pequena ajuda" dos americanos. Talvez essa mudança de posicionamento seja uma forma de o cineasta nos colocar no papel de cúmplices da morte de Che.
Ernesto 'Che' Guevara (em grande caracterização de Benicio Del Toro) aparece no filme sendo chamado por outro nome, para dificultar o seu reconhecimento. Ele já havia se tornado uma lenda e era procurado por todos os países latino-americanos, todos vivendo numa ditadura militar patrocinada pelos americanos com a finalidade de barrar o comunismo. E não deixa de ser triste ver o fracasso do guerrilheiro em sua última missão. Diferente da bem sucedida estratégia de tomada de poder em Cuba, tudo deu errado na Bolívia. Eles não conseguiram avançar e enfrentaram oposição dos próprios bolivianos, que não viam com bons olhos estrangeiros em seu país. Pode-se inclusive atribuir o fato de o filme ser tão arrastado e modorrento com um cansaço, um saber que tudo estava se encaminhando para o fim.
E a organização do Cine Ceará mais uma vez se mostra simpatizante de Cuba. No ano passado, o festival abriu com A ILHA DA MORTE, de Wolney Oliveira, produção Brasil-Cuba falada em espanhol. Desta vez, o festival escancara essa simpatia com uma Mostra Che, que trará, a partir de hoje, diversos filmes, documentários e ficções, sobre o guerrilheiro que se tornou símbolo de resistência.
Agradecimentos especiais a Camila Vieira, que muito gentilmente me conseguiu um convite para a noite de abertura.
terça-feira, julho 28, 2009
OS 39 DEGRAUS (The 39 Steps)
O dia foi bem atípico. Bastou eu acordar, perto das dez da manhã, e ver os e-mails e os recados no Orkut que já me vi conversando com um monte de gente no MSN sobre os mais diversos assuntos e interesses, tanto que cheguei quase a perder o foco. O que priorizar primeiro: os assuntos sentimentais ou profissionais? Fora os outros interesses, alguns deles mais "imediatos", como conseguir um convite para a noite de estreia do Cine Ceará hoje à noite ou sair para resolver algumas pendências como cortar o cabelo. Nem tudo termina do jeito que a gente quer, mas eu sei que é preciso ter paciência. No fim das contas, até que foi um dia proveitoso. E vi que minha ausência do MSN nos últimos meses fez com que eu deixasse de saber notícias importantes de alguns amigos, com quem há tempos não falava. Mas é tudo questão de manter alguma disciplina. Senão o tempo vai embora e a gente não faz nada.
E seguindo esse espírito objetivo, dou continuidade à segunda peregrinação pelo cinema de Alfred Hitchcock, desta vez com a revisão de uma de suas obras mais louvadas: OS 39 DEGRAUS (1935), que havia visto uma única vez naquela fita lançada em banca da Altaya. Considerado por muitos a sua melhor obra da fase inglesa, o filme é realmente uma beleza. Foi muito bom eu ter resolvido rever, pois acredito que esse é um filme que é melhor apreciado por quem já conhece os arquétipos que pontuam a obra do mestre do suspense. OS 39 DEGRAUS é um delicioso resumo dos temas que seriam recorrentes nas obras seguintes do cineasta. Há, inclusive, dois filmes que são considerados remakes de OS 39 DEGRAUS que Hitchcock faria nos Estados Unidos: SABOTADOR (1942) e INTRIGA INTERNACIONAL (1959). Diria até que OS 39 DEGRAUS é melhor que SABOTADOR. É mais inteligente, enxuto e o protagonista é mais simpático.
Depois do sucesso da primeira versão de O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1934), Hitchcock estava com fôlego e moral renovados para fazer um trabalho do seu interesse. E um artista como Hitchcock fazendo um trabalho com interesse é de dar gosto. Algumas cenas são impressionantes, como a do protagonista indo pedir abrigo, procurado pela polícia e pelos espiões, na casa de um fazendeiro religioso. Toda a sequência, da chegada à saída da casa, é perfeita. O senso de humor do filme também é destaque, como quando os espiões evitam falar sobre as tais informações secretas, quando sabemos que elas não importam absolutamente nada para a trama. Um dos mais divertidos usos do macguffin feitos por Hitchcock. A cena da senhora encontrando a moça morta com uma faca nas costas e gritando ao mesmo tempo em que ouvimos o apito do trem também é um momento genial, dessa vez de edição.
E ainda temos a sequência no trem; o momento em que o protagonista é confundido com um político e acaba fazendo um discurso; o momento em que ele foge dos espiões, estando algemado à mulher que o entregou. Só isso já seria suficiente para dar ao filme o merecido destaque entre as obras mais brilhantes da carreira de Hitchcock. Agora, com essa revisão, eu fiquei na dúvida se o meu favorito da fase inglesa é esse ou ainda é JOVEM E INOCENTE (1937).
segunda-feira, julho 27, 2009
INIMIGOS PÚBLICOS (Public Enemies)
Michael Mann já se tornou um cineasta de que muito se espera. Seus filmes tornaram-se acontecimentos para ver na telona, apesar de ele seguir preferindo usar câmera digital desde COLATERAL (2004). Junto com outro dos gigantes do cinema americano da atualidade, David Lynch, Mann se rendeu à nova bitola, que, tudo indica, será usada por todos no futuro, com a iminente aposentadoria da película. Porém, se em COLATERAL e em MIAMI VICE (2006) não havia tanta diferença de qualidade de imagem, com a mudança de diretor de fotografia - Dante Spinotti, que já havia trabalhado com Mann em FOGO CONTRA FOGO (1995) e O INFORMANTE (1999) -, a coisa muda um pouco de figura no que se refere à textura da imagem. Que se mostrou mais escura e com menos nitidez. Provavelmente foi proposital, se a intenção é recriar a fotografia um pouco mais esmaecida de alguns dos filmes produzidos na década de 30, aliado ao imediatismo dos vídeos de baixa resolução encontrados na internet, para assim dar ao filme um tom semidocumental. Mas confesso que fiquei um pouco incomodado. Assim como também me incomodou a montagem excessivamente picotada, dificultando a visualização da ação, principalmente no início do filme.
INIMIGOS PÚBLICOS (2009) cresce mais a partir da primeira aparição da personagem de Marion Cotillard, a jovem atendente de loja de roupas que conquista o coração do famoso assaltante de bancos John Dillinger (Johnny Depp). Quando um de seus parceiros de crime diz que colocar mulher na história só atrapalha, ele diz que sem mulher é como estar na prisão. E como sua vida é arriscada, tudo tem que ser muito rápido. Por isso, ele não tem muito tempo a perder quando aborda a moça. Ele já a toma para si e já estipula as regras. Ela nem tem tempo para pensar e aceita as condições, até por achá-lo atraente. Dillinger é bem diferente de seu nêmesis, o policial Melvin Purves, vivido por um contido Christian Bale. Até por ser do tipo romântico e impulsivo, torna-se bem mais fácil para a audiência simpatizar com o fora-da-lei. Tornamo-nos cúmplices de Dillinger, ao passo que apenas compreendemos o ponto de vista de Purves.
Ainda no aspecto técnico, o trabalho de som chama a atenção, como já se mostrava muito bem elaborado em MIAMI VICE. O som dos tiros, em especial daquelas armas que parecem ter o poder de arrancar fora a cabeça de suas vítimas, é um dos pontos fortes. E por isso, INIMIGOS PÚBLICOS deve ser visto numa sala de cinema que tenha uma boa aparelhagem de som. E o som dos tiros é de importância crucial para o filme, que conta com uma sequência de tiroteio onde mal dá pra se ver o que está acontecendo, mas que não deixa de ser impressionante.
Outro problema do filme talvez seja o excesso de personagens para uma duração de 130 minutos. O modo como é costurada a trama prejudica um pouco o andamento, dando a impressão de que a ação é narrada com atropelos. Quem sabe uma possível "edição do diretor" atenue esse problema. E continuando a falar de algo que pode incomodar, não chega a ser problema da produção do filme, mas a forma feia e anti-romântica como fica a tradução para o português de "blackbird" para "graúna" chega a fazer com que parte do público até ria no final do filme. O termo é usado numa canção que toca enquanto os personagens de Johnny Depp e Marion Cotillard dançam.
A homenagem aos filmes de gângster dos anos 30 é um elemento feliz e com certeza é vista com simpatia pelos cinéfilos. Inclusive, James Cagney é citado explicitamente. Um dos coadjuvantes tenta imitá-lo, o que dá pra notar o quanto a figura dos gângsters era vista com bons olhos pela sociedade, que estava quebrada e ainda vivendo as consequências do crash da bolsa de 1929. Para as pessoas, um sujeito ousado como Dillinger era alguém que podia estar se vingando por eles, ao atacar as instituições financeiras com tanta força e eficiência. E Dillinger era um assaltante de bancos que adorava cinema. E utilizou essa informação na rápida e divertida frase de "apresentação" para sua amada.
Com tudo isso, com certeza, INIMIGOS PÚBLICOS é um filme que precisa ser maturado e revisto para ser melhor apreciado e para que alguns pontos fiquem mais claros. Enquanto isso, deixo registrada minha primeira impressão. E a título de curiosidade e comparação, muitos – eu, inclusive -, devem recorrer ao DILLINGER – INIMIGO PÚBLICO Nº 1 (1973), filme de John Millius que também abordou o embate entre Dilliger e o detetive de polícia Melvin Purves, bem como seu romance com Billie Frenchette.
sexta-feira, julho 24, 2009
O SOL É PARA TODOS (To Kill a Mockingbird)
Foi preciso Robert Mulligan morrer para que eu finalmente me decidisse a ver este que é um dos filmes mais importantes do cinema americano da década de 60. O SOL É PARA TODOS (1962) foi o filme mais marcante da carreira de Gregory Peck, o filme que fez com que ele passasse a ser visto como um exemplo de hombridade, aliando generosidade com senso de honra. Com O SOL É PARA TODOS, a figura de Gregory Peck ficou associada a Atticus Finch, o advogado exemplar, protagonista do filme. E como o filme é visto pela perspectiva das crianças - principalmente a garota, Scout (Mary Badham) -, a figura amorosa do pai se torna ainda mais querida pela audiência. Há momentos de extrema beleza e poesia como na cena em que Atticus está abraçado à filha perto da janela e a câmera vai se distanciando dos dois, do lado de fora da casa. Aquilo ali é de deixar os olhos marejados. Assim como em outras cenas também, como a do julgamento do rapaz negro.
O SOL É PARA TODOS se passa no Alabama, durante os anos 30, e lida com diversas questões, mas a questão do preconceito racial é enfatizada. O filme também lida com o fantástico mundo de descobertas da infância, dentro da perspectiva das crianças, acentuando ainda mais a inocência que foi perdida nos anos posteriores. O sentimento de saudosismo já é sentido nas primeiras falas de Scout, quando ela descreve o lugar onde mora: como o dia, que tinha 24 horas, mas parecia ter mais; e também não havia muito o que fazer. A maneira como ela descreve aqueles tempos dá uma vontade na gente de estar ali, muito embora saibamos que o filme também mostra o lado sombrio da sociedade americana. Por trás da beleza, havia também muito a se lamentar, coisas absurdas, como, aliás, sempre foi uma característica da sociedade americana, desde a época colonial.
Gostei muito do filme, mas teria gostado ainda mais, se não fosse o final. Por mais que saiba que aquilo ali é um retrato de um mundo mais inocente e bem mais distante da paranoia que é viver nos dias de hoje, achei o final, a partir da aparição do personagem de Robert Duvall, absurdo, quase chegando a estragar todo o belo trabalho. Minha paranoia, inclusive, fez com que eu pensasse que aqueles bonecos que os meninos encontram na árvore eram algum tipo de vodu, o que deu ao filme, para mim, um ar ainda mais misterioso. O próprio universo infantil, aliás, é cheio de mistérios e fascínios. E o filme mostra isso muito bem já a partir dos créditos iniciais, com a bela música de Elmer Bernstein emoldurando.
O DVD duplo contém vários extras. No primeiro disco, além do comentário em áudio do diretor Robert Mulligan e do produtor Alan J. Pakula (sem legendas), há um longo documentário sobre os bastidores do filme (cerca de duas horas de duração, com legendas em inglês), que traça um painel de como era a sociedade americana nos anos 30. Achei o documentário em alguns momentos um pouco arrastado. Por outro lado, gostei bastante do outro doc, UMA CONVERSA COM GREGORY PECK, contido no disco 2. Aliás, todo o segundo disco é uma grande homenagem a Gregory Peck. Eu, que não era fã, passei a ser agora. Não apenas do ator, mas do homem também. O documentário mostra um encontro de Peck com fãs num teatro, respondendo a perguntas e recebendo algumas pessoas nos bastidores. Fiquei comovido com a devoção que aquelas pessoas têm pelo ator e pelo carinho com que ele as trata. Interessante como é muito mais fácil a gente sentir carinho por homens de mais de 80 anos. Talvez por lembrarem nossos avôs. E interessante que por mais que o documentário também mostre cenas de outros filmes, a importância de O SOL É PARA TODOS para Peck e para a maior parte daquelas pessoas é muito maior. E olha que Peck já trabalhou com vários gigantes do cinema. UMA CONVERSA COM GREGORY PECK, de uma hora e meia de duração, aproximadamente, também mostra cenas de Peck com a família.
Complementando a homenagem ao astro no disco 2, há o discurso dele ao receber o Oscar pelo filme em 1963; outro discurso ao receber um prêmio pelo conjunto da obra, dado pelo AFI; um trecho do tributo da academia ao ator, apresentado por sua filha; além de algumas palavras de Mary Badham sobre ele.
quinta-feira, julho 23, 2009
ELLIE PARKER
Um dos filmes mais importantes da carreira de Naomi Watts, ELLIE PARKER (2005) serve como cartão de visitas para exibir o talento da atriz. Inicialmente um curta-metragem em 16 mm produzido em 2001, o filme foi estendido para a duração de 95 minutos depois que Naomi Watts se tornou uma estrela bem requisitada em Hollywood, após o sucesso de CIDADE DOS SONHOS, de David Lynch. Inclusive, o filme foi rodado durante as filmagens de O CHAMADO 2. ELLIE PARKER é também um filme que, devido ao próprio enredo e temática, tornou-se essencial para estudantes de artes cênicas, ao mostrar a rotina de uma jovem atriz querendo se inserir no mercado, enfrentando uma série de obstáculos e ameaçando a própria sanidade mental.
Também é um filme fundamental para quem é fã da obra-prima de David Lynch que revelou para o mundo o talento de Naomi. Afinal, em ambos os filmes ela interpreta uma atriz iniciante, entre outros pontos em comum. Mas é em ELLIE PARKER, do amigo e também ator Scott Coffey, que se pode ver as várias facetas de interpretação da atriz. O filme mostra o quão louca pode ser a vida de uma atriz, tendo que lidar com sentimentos que não são seus para incorporar personagens distintos e ainda arranjar tempo para cuidar dos problemas pessoais. Muitas vezes, uma atriz, para fazer os testes, precisa entregar uma interpretação visceral a fim de impressionar os contratantes. Deve-se entregar totalmente ao papel, chorar e se descabelar se necessário, para depois levantar do chão, dar um sorriso para parecer simpática e ir embora, esperando ser contratada.
Há muitas tomadas dentro do carro, lugar que serve para se preparar para os testes como também para se maquiar e até trocar de roupa, mesmo com o carro em movimento. Isso serve para mostrar o esforço que a aspirante a atriz faz para atingir os seus objetivos, tentando superar as frustrações que vão até o limite da desistência. E é o que deve ocorrer com a maioria dos atores e atrizes que tentam a carreira em Hollywood. No fim, eles acabam desistindo e arranjando um emprego "normal", já que não dá pra ficar passando fome.
Uma das características do filme é o seu caráter semidocumental, com a utilização de câmera digital, o que acentua ainda mais esse aspecto. O fato de o diretor ter optado por um estilo mais cru de filmagem – até para manter a aparência do curta original - é totalmente condizente com a proposta do filme, que também faz uma crítica ácida aos pretensiosos diretores independentes, mostrados como idiotas e/ou drogados. Muito bom o papel de Chevy Chase como um agente meio decadente.
quarta-feira, julho 22, 2009
HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE (Harry Potter and the Half-Blood Prince)
E é quando chega mais um filme de Harry Potter nos cinemas que eu entendo o ódio que algumas pessoas nutrem pela trilogia SENHOR DOS ANÉIS. Afinal, não creio que teria gostado tanto da série de Peter Jackson se não tivesse lido os livros de Tolkien e me ligado em tantos detalhes. Como nunca li nenhum livro de Harry Potter, nem nunca tive vontade, o universo da escritora J.K.Rowling não desperta em mim muito interesse. Tanto que, ao final de cada filme, vou me esquecendo aos poucos daquilo que já tive dificuldade de lembrar. Confundo Dumbledore com Voldemort, esqueço até mesmo o nome do melhor amigo de Harry, sem falar nos demais coadjuvantes. Lembrar do nome do personagem de Alan Rickman, então, é uma novela. O único filme da série que me empolgou de verdade foi HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABÁN (2004), talvez por ter sido dirigido por um cineasta de personalidade como Alfonso Cuarón. Rendi-me tanto à atmosfera quanto à trama.
HARRY POTTER E O ENIGMA DO PRÍNCIPE (2009) é uma sequência melhorada de HARRY POTTER E A ORDEM DA FÊNIX (2007), sob a batuta do inglês David Yates, diretor de todos os episódios da série televisiva STATE OF PLAY (2003) e já responsável para fechar a série do bruxinho nos dois últimos filmes, previstos para 2010 e 2011. Algo que me chamou a atenção na direção elegante de Yates foi a falta de pressa em contar uma história que aparentemente teria que ser contada apressadamente, dado o volume de páginas cada vez maior dos livros a serem adaptados. Em nenhum momento, sente-se que a narrativa está sendo atravessada, embora eu não duvide que algumas cenas tenham sido excluídas no processo de edição.
Também se deve dar o devido crédito à fotografia de Bruno Delbonnel (de O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULIN), que, além de embelezar as imagens, tirando aquele ranço de fotografia mal cuidada típica de filme inglês dos dois trabalhos anteriores, acentua o predomínio crescente das belas nuvens carregadas. Algumas cenas são particularmente dignas de nota. A que mais me chamou a atenção envolve a parceria de Harry com o sábio Alvo Dumbledore a fim de cumprirem uma perigosa missão. A utilização do silêncio na maior parte da sequência e o fato de ambos estarem num lugar aparentemente remoto e hostil dão a esses momentos uma atmosfera de pesadelo que remete a alguns dos melhores filmes de horror sobrenaturais. Claro que por mais que a tendência seja de acentuar o tom sombrio cada vez mais, os produtores dificilmente farão algo verdadeiramente assustador, embora eu tenha notado os sustos de parte do público - eu estava cercado de adolescentes -, nessa sequência em particular.
O lado mais alegre do filme se deve aos jogos amorosos entre os jovens. Hermione ama Ron, que está interessado em outra e não sabe dos sentimentos da moça por ele, enquanto Harry também está interessado amorosamente na irmã de Ron. A falta de intimidade com os personagens, porém, fez com que eu não me divertisse tanto com esses momentos aparentemente mais descontraídos. Ou então, a culpa é do diretor, que é mais chegado a tramas conspiratórias do que em lidar com situações mais leves. No mais, o saldo foi positivo e, mesmo estando longe de ser uma autoridade na série – vide primeiro parágrafo -, considero esse sexto filme o segundo melhor da irregular série milionária.
terça-feira, julho 21, 2009
À L'AVENTURE
Depois dos excelentes e sensuais COISAS SECRETAS (2002) e OS ANJOS EXTERMINADORES (2006), Jean-Claude Brisseau está de volta com mais um filme que explora a sexualidade e apresenta belas mulheres em situações excitantes. No terreno da sexualidade, porém, podemos dizer que À L’AVENTURE (2009) dá um passo atrás, sendo uma evolução, portanto, do filme anterior, que já lidava com a espiritualidade, com o extracorpóreo. Quer dizer, ao mesmo tempo em que o cineasta ainda demonstra sua obsessão pelo sexo e pelo corpo, em especial a anatomia feminina, sua vontade de ir além torna o filme um pouco decepcionante para quem vai com sede, levando em consideração a exploração de fantasias sexuais nos dois trabalhos anteriores. Se em OS ANJOS EXTERMINADORES havia uma inspiração autobiográfica adicionada a um elemento sobrenatural, apresentado de modo a dar ao filme um aspecto surreal à Buñuel - o título não nega a homenagem -, em À L’AVENTURE é o próprio sentido da vida terrena que é levado em consideração.
Assim, vemos a jovem e bela Sandrine (Carole Brana), uma mulher insatisfeita sexualmente, que questiona a sua própria rotina de vida e decide abandonar tudo, emprego e namorado, e sair em busca de novas aventuras, algo que dê sentido à sua vida. Quando o namorado não a deixa satisfeita, ela vai para a sala e se masturba no sofá. Sentada num banco de praça com uma colega de trabalho, Sandrine tem um olhar fixo para o nada que dá a ela um aspecto de loucura. Como se já estivesse totalmente desinteressada das coisas do mundo, ou pelo menos das coisas mais comuns da vida. Num café, ela seduz um jovem psicólogo, com quem trava um interessante diálogo com ênfase na hipnose.
E é através da hipnose que o filme desenvolve as cenas mais tórridas - antes disso, há uma sequência de sadomasoquismo bem interessante. E é também com a hipnose que o filme transcende a matéria. Ou pelo menos trata de ligar a matéria à espiritualidade, já que o orgasmo, em especial o feminino, que é mais misterioso e intenso, pode se aproximar de uma espécie de êxtase religioso. E vendo o filme, dá para refletir sobre a natureza mais terrena da mulher, em comparação com o homem. Não à toa que as religiões pagãs da antiguidade adoravam uma deusa da terra, da fertilidade. É uma espiritualidade com ligações com o mundo e não com sua negação. Daí vem esse mistério do chamado êxtase religioso, que é ignorado pelas igrejas protestantes, mais puritanas, mas que curiosamente é estudado na surdina por alguns estudiosos do Catolicismo. Mas Brisseau vai além dos rótulos religiosos ao apresentar o seu trabalho, que não parece ter o mesmo brilhantismo dos dois anteriores, mas que contribui para fazer dele um dos cineastas mais interessantes da atualidade. Quem me dera poder ver um de seus filmes no cinema. Deve ser uma experiência e tanto.
segunda-feira, julho 20, 2009
SMASHING PUMPKINS – IF ALL GOES WRONG
Os últimos dias foram praticamente dedicados aos Smashing Pumpkins. Pude baixar uma versão melhorada de MACHINA II (2000), o álbum que nunca foi lançado comercialmente. Ainda não é uma versão de primeira qualidade, mas a pessoa que fez a conversão do vinil raro para o formato digital teve um pouco mais de cuidado. Agradecimentos à comunidade Ѽ Smashing Pumpkins no Orkut, que foi quem deu o toque. Também agradeço ao Vebis, que, indiretamente, ao me indicar alguns álbuns do Chris Isaak, acabou me ajudando a encontrar acidentalmente um programa do cantor, chamado THE CHRIS ISAAK SHOW, no qual ele recebe convidados. No programa de nº 6, ele recebeu os Pumpkins e conversou com Billy Corgan e Jimmy Chamberlin sobre alguns assuntos controversos, como a relação de Corgan com Kurt Cobain (o fato de eles serem interessados pela mesma mulher, Courtney Love); a gravação de GISH (1991), com o produtor Butch Vig, e o fato de James Iha e D’Arcy não terem participado como músicos nas gravações; a infância difícil de Billy e a saída para se tratar do vício das drogas de Chamberlin durante a turnê de MELLON COLLIE AND THE INFINITE SADNESS (1995). As canções selecionadas para o programa foram: a inédita "Owata", "99 Floors" (presente em registro oficial apenas no dvd IF ALL GOES WRONG), duas do ep AMERICAN GOTHIC (2008) - "The Rose March" e "Sunkissed" -, e encerraram tocando "Nowhere Man", dos Beatles, junto com o Chris. Quer dizer: nenhum hit da banda. Billy só tocou um pedacinho de "1979" no violão, a pedido de Chris. E foi uma tristeza ver Billy contando que viu James Iha na rua e que o ex-guitarrista evitou falar com ele.
Mas indo direto ao ponto, finalmente assisti SMASHING PUMPKINS - IF ALL GOES WRONG (2008), que acabou me custando o preço de dois dvds, já que a primeira cópia que eu comprei simplesmente "perdeu a validade", não toca mais em player nenhum. Aí, como bom e fiel fã, comprei de novo. Só então pude apreciar a qualidade do material: imagem em alta definição e tratamento sonoro de primeira, com som 5.1 muito bem distribuido. Sem falar que algumas canções contidas no show provavelmente nunca serão lançadas em disco, o que já torna o lançamento obrigatório para fãs. O DVD duplo se compõe de dois discos: o primeiro traz IF ALL GOES WRONG, o documentário; e o segundo, um concerto da banda no Fillmore Auditorium, em San Francisco.
Posso dizer que gostei mais do documentário, mas que o disco do show será mais aproveitado por mim, por razões lógicas. Trata-se de um show exclusivamente para fãs. E mesmo fãs podem não gostar do resultado. Em alguns momentos, Billy parece estar tirando sarro da plateia, especialmente quando a banda toca uma canção chamada "Gossamer", que dura 34 ou 37 minutos! Pior que a canção tem um riff de guitarra muito bom. Mas é o tipo de canção que já ficou com fama de maldita. Nunca mais foi tocada em outros shows, nem nunca foi gravada em disco. Provavelmente nunca será. Portanto, fica o registro dessa presepada de Corgan em momento "jazzístico". E com muito barulho. O resultado foi muita gente abandonando o show e reclamando. No meio de tudo, "Lucky 13" fica parecendo uma concessão. Assim como "Starla".
O documentário dirigido por Jack Gullick registra os bastidores da turnê de retorno dos Pumpkins em 2007 em duas cidades: a pequena Asheville, na Carolina do Norte; e San Francisco, na Califórnia. Interessante a experiência de Corgan compor uma canção na manhã e tocá-la logo à noite. Assim o público que acha que conhece todos os lados B e todas as faixas raras fica sabendo que não conhece. A impressão que fica nesses shows é que Billy não gostou nada das canções do álbum ZEITGEIST (2007). Nenhuma das canções desse disco aparece no show presente no dvd. A quase exceção é a faixa "Zeitgeist", que aparece apenas em uma edição do álbum: a edição rôxa. A edição vermelha, a que saiu no Brasil, não vem com essa faixa. A preferência foi por novas canções, várias delas, acústicas, com uso de gaita, estilo Bob Dylan. Eu achei até melhor assim, pois também não gosto do disco sapecado de guitarras e sem nenhum cuidado estético no encarte.
Corgan continua na busca de uma grande canção. Chega a se questionar se "The Rose March" seria uma delas. E é mesmo uma das melhores dessa nova safra, embora ainda fique atrás do que ele compôs nos anos 90. Em alguns momentos, ele parece frustrado, mas ao mesmo tempo não quer dar o braço a torcer e prefere essas canções novas ou as mais raras, os lados B, ou mesmo versões diferentes de faixas de seus álbuns, como as versões alternativas para "Heavy Metal Machine" e "The Crying Tree of Mercury".
Interessante quando Corgan conta no documentário que pessoas que foram abusadas na infância nunca aprendem os conceitos de limites. Desde SIAMESE DREAM (1993) que ele toca nessa tecla, quando gravou "Disarm", para ira dos seus pais. Segundo ele, a geração X (a dos anos 90) foi a primeira a combater a pedofilia. O documentário também flagra momentos de extrema tensão na banda, quando Jeff, um dos novos membros, joga a guitarra no chão em pleno show, num daquelas dias onde tudo dá errado. Billy parece se divertir com a ira do guitarrista e diz que a tensão é ótima para o processo criativo. Vai ver por isso ele sente tanta falta dos dois parceiros que o abandonaram, já que eles costumavam peitá-lo.
Algumas pessoas se perguntam, inclusive os fãs: por que trazer o nome da banda de volta? Por que não fazer como o Morrissey, construir uma carreira solo digna e ainda cantar alguns clássicos de sua antiga banda? Por mais que existam bandas de primeiro time que prosseguiram, mudando até de vocalista, como Black Sabbath, Van Halen, Pink Floyd e Iron Maiden, ainda gosto da unidade, da manutenção do time original. Ou pelo menos de parte dele. Agora que até o Jimmy Chamberlin caiu fora do barco, os Pumpkins são Billy Corgan e uma banda de apoio. Mas apesar de tudo, mesmo com as decepções e sabendo que o tempo da banda talvez já tenha acabado, continuo acompanhando os próximos capítulos. E torcendo por boas notícias e novas canções, como aquelas que tocavam fundo em nossos corações.
sexta-feira, julho 17, 2009
MATA, BEBÊ, MATA (Operazione Paura / Kill, Baby...Kill! / Kill, Baby, Kill)
Eu já estava achando o filme uma jóia preciosa, dessas raras de se ver, mas meu cérebro fritou quando vi a sequência do Dr. Paul Eswai (Giaccomo Rossi-Stuart) atravessando portas e mais portas da mansão da baronesa, sendo perseguido por ele mesmo. Caramba! Aquilo ali eu já tinha visto no episódio final de TWIN PEAKS! Fiquei extasiado, como geralmente fico quando vejo alguma referência "escondida" de obras de David Lynch. E fico sempre meio cabreiro quando o cineasta americano afirma não ter o hábito de ver muitos filmes. Havia acontecido algo parecido quando vi A MORTE NUM BEIJO, de Robert Aldrich, e dei de cara com assustadoras semelhanças com A ESTRADA PERDIDA. Mas essa semelhança de KILL, BABY...KILL! (1966) com a série de Lynch foi ainda mais impactante pra mim, embora considere a homenagem mais eficiente (e assustadora) do que o original, sem querer, claro, desmerecer a obra de Mario Bava, que já está entre os meus favoritos do diretor.
E já que falei em referências, a garotinha com a bola que aparece no filme também seria homenageada em obras tão importantes quanto HISTÓRIAS MARAVILHOSAS, especificamente no episódio "Toby Dammit", de Federico Fellini; em A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO, de Martin Scorsese; em ALMAS DESENCARNADAS, de Takashi Shimizu; além de ter influenciado também O ILUMINADO, de Stanley Kubrick. (Boa parte dessas informações, eu consegui através do amigo e pesquisador de cinema de horror Thomaz Albornoz.)
Agora, falemos especificamente de KILL, BABY...KILL! (melhor não usar o ridículo título brasileiro, até por ser menos popular que os títulos italiano e em inglês). O prólogo mostra uma mulher sendo forçada a cometer suicídio e uma garotinha descendo umas escadas, em seguida. Depois dos belos créditos de abertura, vemos um homem chegar numa vila - que lembra a dos filmes de Drácula - numa carruagem. O cocheiro diz que só vai até ali, que não quer entrar em território amaldiçoado. Sabemos, então, que estamos no território do sobrenatural, que no cinema de Mario Bava já havia rendido obras-primas como BLACK SUNDAY (1960), BLACK SABBATH (1963) e THE WHIP AND THE BODY (1963), todos com ambientação de época e aquele capricho na direção de arte e na fotografia que se tornou marca registrada do cinema do maior dos mestres italianos do cinema de horror.
O homem que desce da carruagem é um médico que foi enviado para fazer a autópsia da jovem morta. Ele dá de cara com uma comunidade em pânico e que se utiliza de métodos para evitar a presença de espíritos malignos que vão além da compreensão do médico, que vê aquilo como meras superstições. Logo saberemos que o que ocorre é fruto de uma maldição que a vila sofre há vinte anos, quando uma garotinha de sete anos de idade foi morta e até então o seu espírito passa a aterrorizar o vilarejo, com sede de sangue. E Bava utiliza esse enredo para criar sequências absolutamente geniais, como os travellings no cemitério, o uso do zoom como que para criar um sentimento de desorientação, a utilização de espelhos em cenas absolutamente originais, entre outros detalhes que, com uma revisão, seriam melhor captados. Em termos de construção do clima de horror, ainda acredito que BLACK SABBATH é insuperável, mas na utilização dos recursos cinematográficos, KILL, BABY...KILL! chega a novos patamares, que justificam o título de gênio dado pelos fãs, apreciadores e estudiosos da obra do cineasta.
quinta-feira, julho 16, 2009
SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI
Esta atual safra de documentários sobre músicos tem proporcionado uma importante revisão de artistas até então esquecidos ou subvalorizados no cenário da música brasileira. Não chega a ser bem o caso do documentário dos Titãs, que eu acabei perdendo nos cinemas, mas é o caso, definitivamente, dos emocionantes LOKI - ARNALDO BAPTISTA e WALDICK - SEMPRE NO MEU CORAÇÃO. Acrescente-se aí o fundamental SIMONAL - NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI (2009), dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. O filme traça um painel de um dos músicos mais populares do fim dos anos 50 ao início dos anos 70 e que de uma hora para a outra foi apagado da memória cultural do país. O filme analisa o incidente, mostrando o surgimento de Wilson Simonal, do apogeu ao declínio, ligado à fama que ele ganhou de ser dedo-duro dos militares. O documentário, além de ter essa característica mais convencional ao gênero, que é a utilização de imagens de arquivo, seguido de depoimentos de pessoas famosas como Chico Anísio, Toni Tornado, Pelé, Jaguar, Nelson Motta, Mieli e os filhos Max de Castro e Wilson Simoninha, tem também o seu lado investigativo, chegando até a entrevistar o contador torturado por ordem do cantor.
O que é mais triste em SIMONAL é ver o quanto as consequências da burrada do cantor foram severas, acarretando não apenas em danação pública, mas um "esquecimento" por parte da mídia, que deixou de recebê-lo nos programas, por sua associação com os militares, fruto de uma declaração ingênua do cantor. Simonal virou "um tabu, um leproso, um pária", como bem falou Nelson Motta no filme. Um dos pontos positivos do documentário é oferecer a chance para o espectador de tomar partido da situação, de até mesmo condenar os atos do artista e de achar que ele mereceu tudo o que passou. Claro que fica muito difícil pensar assim quando o documentário mostra a decadência do astro, tentando limpar o seu nome em programas de televisão de pouca repercussão, fazendo propagandas de produtos vagabundos para ganhar um dinheirinho e torcendo pelo sucesso artístico dos filhos. Foi sem dúvida uma pena longa demais pelo que ele fez.
Mas antes de tudo isso ser mostrado, o documentário é só alegria. Ou quase, já que aspectos do passado pobre do cantor e o evidente racismo no Brasil são passados a limpo. Wilson Simonal tinha um carisma impressionante e em certo momento de sua carreira, ele vendia tantos discos quanto Roberto Carlos. As cenas de arquivo dele abrindo um show para Sergio Mendes e do cantor fazendo uma parceria com a diva americana Sarah Vaughan são impressionantes. Simonal literalmente dominava o público, transformava-os num verdadeiro coral, a ponto de sair para tomar uma dose no bar da esquina enquanto o povo ficava lá cantando. Essa parte me pareceu mais um exagero do que um fato, mas não duvido que de fato tenha acontecido. Mas impressionante que mesmo com todas essas cenas dos momentos de glória do cantor o que fica no final é o amargo da derrota, a imagem do artista na decadência, morto em decorrência de uma cirrose, gerada pela depressão e pelo alcoolismo.
quarta-feira, julho 15, 2009
SEGREDOS DO CORAÇÃO (La Bestia nel Cuore / Don’t Tell)
Representante italiano para o Oscar na categoria de filme estrangeiro em 2006, SEGREDOS DO CORAÇÃO (2005) é uma adaptação que a diretora Cristina Comencini, filha de Luigi Comencini, fez de seu próprio romance. O fato de ter ganhado ou de ter sido indicado para vários prêmios hoje em dia não quer dizer muita coisa. Afinal, o cinema italiano há tempos vem atravessando uma séria crise criativa e, portanto, o nivelamento nos festivais, principalmente os italianos, tem sido por baixo. Ainda assim, os olhos que carregam algo de profundo e a extrema beleza do rosto de Giovanna Mezzogiorno acabam se tornando os principais atrativos do filme. Principalmente para aqueles que se sentiram atraídos pela encantadora imagem da atriz em seu primeiro sucesso internacional, O ÚLTIMO BEIJO, de Gabriele Muccino.
Ganhando no Brasil o título genérico de SEGREDOS DO CORAÇÃO, o filme deve enganar àqueles que vão à locadora para ver algum filme sobre relacionamentos amorosos e dão de cara com uma obra que trata de abuso infantil e as consequências que isso pode trazer na vida das pessoas, quando adultas. No caso da protagonista, o trauma de ter sido abusada pelo pai havia ficado escondido em seu inconsciente, até o dia em que algo trouxe isso à tona. Sabina, vivida por Mezzogiorno, é uma dubladora profissional que mora com o namorado. Ela havia tentando carreira como atriz, mas como não conseguiu, aceitou o emprego de dubladora. O namorado, porém, continua tentando a carreira de ator e recentemente aceitou participar de uma série médica para a televisão. Sabina tem como melhor amiga uma moça cega que sente atração por ela desde os tempos da escola e a quem visita com frequência. Perturbada pelas memórias traumáticas do ocorrido em sua infância, ela decide viajar aos Estados Unidos para visitar o irmão mais velho e tentar resolver esse terrível incômodo.
O filme lembra QUANDO FALA O CORAÇÃO, de Alfred Hitchcock, por abordar o esquecimento causado pelos traumas. SEGREDOS DO CORAÇÃO, no caso, lida com um assunto que era tabu até alguns anos atrás e que só começou a ser escancarado na década de 90. O problema do filme não está na escolha do tema, que é dos mais interessantes e, independente de seu sucesso comercial ou artístico, não deixa de dar pano pra manga para muitas discussões, não apenas no terreno da psicologia, mas em todas as ciências humanas. O problema é que o filme de Cristina Comencini falha na construção de uma situação dramática que teria potencial para causar uma catarse na audiência. Em vez disso, vemos um filme monótono, com um andamento arrastado e sem nenhuma criatividade, além de momentos que chegam a ser constrangedores de tão mal realizados. A subtrama da amiga cega lésbica também não engata e pelo visto Comencini não é uma boa diretora de atores. Todos no elenco parecem estar atuando num melodrama insosso que não faz juz à boa tradição que o cinema italiano tem no gênero. Uma pena.
terça-feira, julho 14, 2009
EU ENTERRO OS VIVOS (I Bury the Living)
Tenho o hábito de folhear antigas edições da revista SET e das saudosas Cine Monstro e Paisà. E foi numa dessas folheadas frequentes que reli o texto de Daniel Camargo para EU ENTERRO OS VIVOS (1958), escrito para a edição nº 1 da Cine Monstro, e fui logo atrás na internet. A produção surgiu numa época em que o gênero andava em baixa, em detrimento dos filmes B de ficção científica. Mas enquanto o renascimento era ensaiado, algumas pérolas foram realizadas na época, como as dirigidas por William Castle e Jacques Tourneur, por exemplo. O que mais me deixou interessado em EU ENTERRO OS VIVOS, de Albert Band, foi principalmente o enredo, bastante original.
Na trama, Richard Boone é dono de uma loja de departamentos da cidadezinha onde mora e é convidado para gerenciar o cemitério local. No cemitério, ele conhece o velho zelador, que está prestes a se aposentar de vários anos, cuidando das lajes e túmulos. Um dos aspectos mais interessantes da rotina do lugar é uma espécie de mapa, onde ficam marcados os locais dos túmulos de cada pessoa da cidade com seus nomes, tanto dos mortos quanto daqueles que compraram um jazigo para si e para seus familiares. Os túmulos dos mortos são marcados com alfinetes pretos; os túmulos reservados para os vivos, com alfinetes brancos. Coincidência ou não, sem querer, o novo gerente marca os espaços de um casal que acabou de comprar dois jazigos com alfinetes pretos. No mesmo dia, os dois morrem num acidente. Logo ele é afligido pela tentação de testar se foi ele e o mapa os responsáveis pela morte do casal. E ele não vai sossegar enquanto não fizer um novo teste.
A cópia que consegui do filme está bem ruim, parecendo ripada de um VHS bem gasto, mas pelo menos é possível encontrá-lo na internet e com legendas disponíveis. Confesso que esperava mais, principalmente do final, mas é sem dúvida um dos trabalhos mais originais do gênero. Sem falar na beleza de trabalho narrativo e de construção de atmosfera de suspense. O filme mais instiga e provoca suspense do que assusta, mas isso pode ser visto como uma característica positiva. A trama guarda algumas semelhanças com os episódios produzidos para as diversas encarnações de ALÉM DA IMAGINAÇÃO.
P.S.: Está no ar a nova edição da Revista Zingu!, que neste mês traz como destaque o Dossiê André Luiz Oliveira.
segunda-feira, julho 13, 2009
VALSAS DE VIENA (Waltzes from Vienna)
Foi ao mesmo tempo um alívio e um pouco de revolta constatar que VALSAS DE VIENA (1933) não é o filme ruim que pintam. Aliás, que principalmente Alfred Hitchcock pinta, ao dizer que é o seu ponto mais baixo. Eu já havia achado péssimo O MISTÉRIO DO Nº 17 (1932) e não conseguia imaginar que ele faria coisa pior. Felizmente, VALSAS DE VIENA não é apenas "um musical sem música", como afirmou o próprio cineasta em entrevista a François Truffaut. Não é assim que eu vejo o filme, que é claro não tem nada a ver com Hitchcock, está longe de ser um filme hitckcockiano e a anos-luz de suas obras-primas. Mas visto em separado, como se não fosse dirigido pelo mestre do suspense, o filme é um bem conduzido drama sobre a realização de um dos clássicos da música mundial, o "Danúbio Azul", de Johann Strauss, que se tornou especial na História do Cinema graças à sua inclusão em 2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick.
Fiquei até um pouco aborrecido procurando nas duas entrevistas de Hitchcock que tenho referências sobre o filme e vendo o cineasta evitando falar a respeito, querendo falar logo de O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1934). O que é até compreensível, já que se trata de uma das obras mais importantes de sua carreira e uma das três melhores de sua fase britânica, além de ser o filme que finalmente impulsionou o seu status de mestre. Diante de tanta falação contra o filme, VALSAS DE VIENA chegou para mim como uma bela surpresa. Foi também uma maneira de eu entrar em contato com um momento especial da História da Música. Mesmo sabendo que tudo aquilo pode ter sido inventado, deve haver algum fundo de verdade no modo como a canção foi composta e na relação de Strauss-filho com o Strauss-pai, que na época já era um autor de grande sucesso.
Johan Strauss foi responsável pela popularização da valsa em Viena no século XIX e o filme, apesar de ter sido produzido com poucos recursos, tem um charme que remete a produções hollywoodianas requintadas. Diferente de O MISTÉRIO DO Nº 17, que parecia claramente uma produção barata, até que VALSAS DE VIENA disfarça bem, com seus belos figurinos e uma bem cuidada direção de arte, que em filmes de época é fundamental. Na trama, o jovem Strauss, ridicularizado pelo pai, mas sabendo que tem talento, compõe - graças ao empurrãozinho de uma condessa - a famosa valsa que até hoje permanece no inconsciente coletivo da humanidade. O seu maior obstáculo na carreira é justamente a mulher por quem ele é apaixonado, a mulher por quem ele é capaz de deixar o seu amor pela música para virar padeiro. O que é uma tremenda de uma maldade para um artista.
Lembro que, um dia desses, minha irmã estava comentando sobre a morte de Michael Jackson e falou algo como: será que valeu a pena a vida dele, será que valeu o sacrifício, o sofrimento etc.? Eu respondi que sim, claro que valeu. Ele deixou a sua arte, que dura muito mais do que a vida, que é breve e sempre passível de sofrimento, de qualquer maneira. Essa discussão vida versus arte é um pouco controversa e lembro que até já foi questionada de maneira inteligente num filme de Woody Allen - acho que em UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN -, onde, numa mesa de bar, intelectuais discutem sobre o que salvar num suposto incêndio: pessoas ou manuscritos de Shakespeare?
domingo, julho 12, 2009
A PROPOSTA (The Proposal)
Uma bela supresa este A PROPOSTA (2009), de Anne Fletcher, que havia dirigido antes o simpático VESTIDA PARA CASAR (2008). Com sorte, ela pode se tornar uma das boas especialistas nesse que é um dos mais tradicionais subgêneros do cinema americano. A comédia romântica faz a alegria dos espectadores de todo o mundo desde pelo menos a década de 30. E com a falta de comédias realmente engraçadas, não deixa de ser uma satisfação topar com este bem sucedido retorno de Sandra Bullock ao estilo que a consagrou. Há quatorze anos, ela deixou muita gente encantada com o hoje pouco lembrado ENQUANTO VOCÊ DORMIA. E de lá pra cá, ela soube lapidar o seu talento. Ela nunca esteve tão divertida como neste filme, interpretando uma chefe carrasca que, vendo a possibilidade de ser deportada (ela é canadense), inventa um casamento com seu secretário - interpretado por Ryan Reynolds - para conseguir cidadania americana.
Claro que o filme segue muito a fórmula tradicional das comédias românticas. Do enredo, é possível, inclusive, lembrar de imediato de outros títulos, como GREEN CARD - PASSAPORTE PARA O AMOR e O DIABO VESTE PRADA, para citar as comparações mais óbvias. Sem falar que o final segue o clichê mais manjado do gênero. Mas o filme faz tudo tão bem e a narrativa é tão fluida e agradável que me peguei emocionado no final. A PROPOSTA não é uma versão requentada do gênero: o filme traz uma série de elementos novos e interessantes que fazem a diferença.
Só o fato de a maior parte da trama se passar numa cidade do Alasca em pleno verão, onde a noite inexiste, já o torna interessante. Águias que "sequestram" poodles também é novidade pra mim. Além do mais, o filme tem outro trunfo: Oscar Nuñez, mais conhecido como o Oscar de THE OFFICE. Seu papel é bem engraçado e dá ao filme um agradável ar de comédia-pastelão. Também não devemos nos esquecer da senhora que faz o papel da avó do personagem de Reynolds, a simpática Betty White, que rende outros momentos bem divertidos.
A PROPOSTA é mais um filme que aposta na queda das máscaras, mostrando o relacionamento entre duas pessoas que não têm nada a ver uma com a outra, que se odeiam até, mas que aos poucos vão se conhecendo e o amor vai surgindo. Ryan Reynolds faz um trabalho digno, mas é Sandra Bullock quem mais brilha, tanto nos momentos cômicos quanto nos mais dramáticos. Muito bonito ver o desenvolvimento de sua personagem; o modo como, aos poucos, as barreiras que a tornaram uma pessoa amarga vão caindo. E pode até soar um pouco piegas isso, mas aí é que está o mérito do filme: conseguir trafegar por um território tão arriscado e tão passível de erros. Fazer uma comédia romântica hoje em dia é mais arriscado do que fazer um filme de horror – pra citar outro gênero que vive dos clichês -, pois o nível de tolerância do público com as cenas mais ternas pode fazer de uma boa ideia um completo desastre em questão de minutos. Felizmente, Anne Fletcher acerta a mão do começo ao fim e nos entrega um dos melhores exemplares do gênero da atualidade.
sexta-feira, julho 10, 2009
BUDAPESTE
Que Walter Carvalho é um dos melhores e mais renomados diretores de fotografia do cinema brasileiro, disso não resta dúvida. Eu nunca vou me esquecer do prazer que tive ao ver os seus belos quadros em filmes como TERRA ESTRANGEIRA, LAVOURA ARCAICA, O CÉU DE SUELY, BAIXIO DAS BESTAS, CLEÓPATRA e mais uma porção de grandes filmes. BUDAPESTE (2009) marca sua estreia solo na direção de longas-metragens de ficção. E não é um mau filme. Eu diria que é muito mais interessante e com cheiro de novo do que muita coisa feita por aí, que agrada facilmente a audiência, mas sai rapidinho da memória. Mas é, sem dúvida, um filme bem irregular. (Será uma maldição das adaptações cinematográficas das obras de Chico Buarque?)
A primeira parte do filme é bem fraca, quando o protagonista (Leonardo Medeiros) ainda está no Brasil. A melhor coisa dessa parte é a cena de nudez de Giovanna Antonelli. Mas ela mesma parece deslocada. Tanto que o filme cresce quando o ghost writer vivido por Medeiros parte de vez para Budapeste, a fim de esquecer a dor, causada pelo fim de seu relacionamento com a esposa. E a grande vantagem de ter um cineasta com uma grande experiência como diretor de fotografia é poder ver a beleza de uma cidade como Budapeste pelas lentes de Carvalho. A cidade, com toda a estranheza como ela é pintada no filme, chega a ser fascinante. E o filme trabalha muito bem algo que deve ser mérito do livro de Chico Buarque, que é essa coisa enigmática da língua húngara.
O filme é também um estudo sobre a necessidade de se massagear o ego. É como aquela piada do sujeito na ilha deserta com a Sharon Stone (que hoje pode ser substituída por outra atriz gostosa qualquer): de que adianta você estar pegando a mulher mais linda do mundo se não vai poder contar pra ninguém? E no que se refere à literatura, o ego também está fortemente presente. Como será ver alguém recebendo a glória de uma obra que é sua? BUDAPESTE nos coloca no inferno que é a mente perturbada do protagonista, o que aliás, parece ser algo recorrente na obra de Chico Buarque, se pensarmos em BENJAMIN e ESTORVO. Só estou um pouco cansado de ver Leonardo Medeiros nas telas. Quem sabe outro ator não tornaria o filme mais interessante? No mais, gostei bastante da atriz que faz par com Medeiros em Budapeste, a húngara Gabriella Hámori. E fiquei bem curioso pra ver como o livro termina, já que o filme fecha com uma brincadeira metalinguística envolvendo o cinema. Será que há algo equivalente na obra literária?
quinta-feira, julho 09, 2009
THE YAKUZA PAPERS VOL. 2 – DEADLY FIGHT IN HIROSHIMA (Jingi Naki Tatakai: Hiroshima Shito Hen / Battles without Honor and Humanity: Deathmatch in Hiroshima)
A principal dificuldade que tenho em acompanhar uma série como essa de Kinji Fukasaku se deve à enorme quantidade de personagens que entram e saem de cena a todo instante. Há aqueles, por sua vez, com elevado grau de importância, geralmente chefões, mas que não se mostram tão presentes em cena. Só depois é que sabemos que determinado personagem não tem tanta importância na trama: quando ele se torna mais um a engrossar a enorme lista dos mortos no filme. Os vários nomes pouco familiares também ajudam a complicar. Na série de cinco filmes BATTLES WITHOUT HONOR AND HUMANITY, que pretende criar um panorama de cerca de vinte anos da história de famílias mafiosas em Hiroshima e cidades próximas logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, não se vê pessoas morrendo de causas naturais. Todas são assassinadas ou cometem suicídio.
THE YAKUZA PAPERS VOL. 2 – DEADLY FIGHT IN HIROSHIMA (1973) se passa cinco anos de onde a primeira parte começa. Exatamente no ano de 1950, quando a Guerra da Coreia já havia se iniciado. E, ao contrário do que eu imaginava, Shozo Hirono, o personagem de Bunta Sugawara, não se mantém como o protagonista. DEADLY FIGHT IN HIROSHIMA dá a vez a um personagem bastante interessante, Kinya Kitao, vivido por Shoji Yamanaka. Trata-se de um sujeito passional e tímido que conquista de imediato o coração da trama, que tem como ponto alto o relacionamento de Kinya Kitao com a sobrinha do seu chefe em Hiroshima. Os dois se apaixonam, mas a vida violenta e devota que ele presta à família e uma série de obstáculos fazem com que a relação dos dois se torne mais do que difícil, trágica. Destaque para o momento em que ele, preso por ter cometido assassinatos brutais, fica sabendo que sua amada está sendo levada para se casar com o irmão do marido morto. Ele rapidinho procura um jeito de fugir da prisão.
O ator mais conhecido do público ocidental no filme é Sonny Chiba, que faz um bandido psicótico. Mas confesso que demorei a reconhecê-lo. Aquela brincadeira de que japonês é tudo parecido, ainda que preconceituosa, às vezes tem o seu fundo de verdade, principalmente para os ocidentais. É por isso que mesmo cineastas ocidentais têm a preocupação de, numa trama cheia de personagens, mostrar traços marcantes em cada personagem para que não se torne difícil para o público compreender o filme. Detalhes como o modo como determinado personagem se veste, por exemplo, pode ser importante. E até que Fukasaku explicita bastante o personagem de Chiba, que aparece sempre de óculos escuros. Vai ver por isso que eu não o reconheci. :)
No mais, a segunda parte da saga segue o mesmo estilo narrativo e o mesmo rastro de sangue do primeiro, embora talvez seja um pouco menos exagerado nas cenas violentas - não há, por exemplo, sangue jorrando como água saindo de mangueiras. O estilo câmera na mão no meio da ação permanece. É como se não houvesse uma "tela de proteção" entre filme e espectador. Fukasaku nos coloca no meio da confusão, das brigas. Quanto ao personagem de Bunta Sugawara, ele continua marcante, mesmo aparecendo bem menos nessa segunda parte. Parece que na terceira ele será novamente o protagonista.
quarta-feira, julho 08, 2009
EL EXTRAÑO VIAJE
Nada como descobrir um filme tendo como responsável pela dica um cineasta do porte de Pedro Almodóvar. E foi através de um artigo escrito pelo cineasta, contido no livro "Conversas com Almodóvar", que eu descobri esta pequena pérola do cinema espanhol: EL EXTRAÑO VIAJE (1964), que acredito ser inédito no Brasil. Felizmente os fóruns de compartilhamento estão aí para suprir as deficiências de nosso mercado. E é muito bom ver a marca de Almodóvar nesse filme, que tem algo que vai remeter a obras como QUE FIZ EU PARA MERECER ISTO? e VOLVER. Mas trata-se tipicamente de um produto transgressor dos anos 60, até lembrando os primeiros filmes de Mojica, registrando um momento de ruptura dos valores sociais em vigor, com a entrada com força da contracultura e o seu impacto, principalmente em cidadezinhas do interior, como a que é mostrada no filme de Fernando Fernán Gómez.
A trama central de EL EXTRAÑO VIAJE gira em torno de uma família de irmãos, os irmãos Vidal, todos solteirões. Os dois mais novos, Paquita e Venancio (em ótima caracterização de ninguém menos que Jesus Franco), sofrem nas mãos da irmã mais velha, Ignacia, que gerencia a casa e manda neles, como se eles fossem seus empregados. Os dois morrem de medo da megera. As coisas mudam quando eles suspeitam que alguém está entrando no quarto dela e tentam descobrir o que está acontecendo. O legal é que o filme trata isso com um misto de comédia e mistério, que torna-o uma delícia de assistir. A direção é muito fluida e o filme desce com uma naturalidade encantadora, que até lembra alguns dos melhores trabalhos de Luis Buñuel da fase mexicana, nesse aspecto.
Além do mais, o filme é suficientemente inteligente a ponto de incluir subtramas que não servem apenas para criar pistas falsas, mas que geram interesse genuíno no espectador. Como o drama do personagem do guitarrista, que se apaixona por uma jovem que trabalha numa lojinha ou da moça moderninha que deixa os homens da vila ouriçados quando dança twist nas festas. Aliás, é um dos grandes momentos do filme a cena da jovem dançando, daí a comparação que eu fiz com Mojica no primeiro parágrafo, já que me fez lembrar O DESPERTAR DA BESTA. A escolha por um tom de deboche - que se tornaria uma marca bem presente nos trabalhos de Almodóvar - foi acertada, principalmente levando em consideração o ótimo final do filme.
EL EXTRAÑO VIAJE foi feito em plena ditadura Franco e só estreou nas telas da Espanha sete anos depois de finalizado, por ser "feio demais, incômodo demais", nas palavras de Almodóvar. Foi o primeiro filme espanhol a mostrar um homem vestido de mulher. Fernando Fernán Gómez é mais conhecido por seu trabalho como ator em filmes como O ESPÍRITO DA COLMEIA, de Victor Erice, e ANA E OS LOBOS, de Carlos Saura, e estaria num título muito importante de Almodóvar: TUDO SOBRE MINHA MÃE.
segunda-feira, julho 06, 2009
TRANSFORMERS: A VINGANÇA DOS DERROTADOS (Transformers: Revenge of the Fallen)
Eu me acho um sujeito muito teimoso. Se não gostei do primeiro TRANSFORMERS (2007), o que é que eu fui fazer nessa tortura que é a sessão de TRANSFORMERS: A VINGANÇA DOS DERROTADOS (2009)? Pelo menos o filme quase me fez chorar em diversos momentos. A primeira vez foi quando eu olhei pro relógio e vi que ainda faltavam duas horas de filme. As outras vezes foram semelhantes, mas eu já olhava para o lado positivo e, pensando como o Papai Smurf, dizia pra mim mesmo: "falta pouco". E só com muito bom humor mesmo pra curtir mais essa sucata de Michael Bay. E se dizem que o filme é legal por causa dos efeitos especiais, eu digo que desde 1993, com JURASSIC PARK, que eu não me impressiono mais com efeitos visuais. Hoje em dia, ao mesmo tempo em que tudo parece possível, tudo parece falso também.
Um caso patológico, esse do Michael Bay. O sujeito deve se masturbar olhando para carros. Ou então, deve ter pulado aquela parte da infância quando a gente gosta de brincar de carrinhos batendo um no outro e fazendo "pow!". Eu lembro que gostava bastante. E hoje em dia até gosto de ver uma boa cena de batida de carro no cinema, mas quando é feita com realismo e violência. Do jeito barulhento, picotado e sem graça dos filmes dos robôs gigantes, eu não curto muito não. Mas olhando mais uma vez pelo lado positivo, se no filme anterior tinha a Megan Fox, neste segundo tem a Megan Fox e outra moça bonita, a novata Isabel Lucas. Aliás, eu diria que a única coisa aproveitável do filme é a cena dela deitada em cima do Shia LaBeouf. Nessa sequência, Bay usou elementos de filmes de horror que funcionariam melhor se a personagem fosse mais aproveitada.
Em vez disso, temos que nos contentar com a prioridade àquelas falas horríveis dos robozões, principalmente dos Decepticons, os robôs perversos. E quando o líder dos Autobots morre, impressionante como Bay não consegue passar nenhum sentimento. Nem a música em tom solene nem o olhar de LaBeouf ajudam. E quando Bay tenta fazer piada, então? Outro fiasco. Talvez se fosse outro diretor, as cenas dos pais do personagem de LaBeouf seriam até divertidas. Mas ou Bay não se esforça ou, pior, ele se esforça e não consegue. Provavelmente ele está apenas interessado na parte técnica do trabalho. Com os efeitos visuais, principalmente.
Outra coisa digna de estudo no filme é a noção de tempo. O tempo funciona de outra maneira em TRANSFORMERS 2. A série 24 HORAS perde feio na comparação. Em determinada cena, Megan Fox diz que vai pegar um avião para visitar o namorado. Ela chega tão rápido que nem se fosse de jatinho teria dado tempo. Mas não vejo isso como um grande problema do filme. É apenas curioso. Como se Bay sofresse de uma forte ansiedade, que o impedisse de fazer um plano-sequência de mais de dez segundos. Inclusive, para não perder muito tempo, numa cena em que se passa no Egito, é tão mais rápido quando se pode usar o recurso do teletransporte, não é? Espero que, por causa disso, ele nunca queira fazer um filme da série STAR TREK. Quem consegue escapar e ainda fazer um papel digno é John Turturro. Mesmo com a edição picotada e tudo mais, ele rouba as cenas sempre que aparece. Quanto a Megan Fox, eu estou bem interessado no trabalho dela em JENNIFER'S BODY, sobre uma cheerleader possuída pelo demônio ou algo do tipo, com roteiro da Diablo Cody. Ela também vai ganhar um papel de destaque em JONAH HEX. Quer dizer, em breve poderemos ver se ela é mais do que um rosto e um corpo bonitos.
domingo, julho 05, 2009
MARIA RITA NO PARQUE DO COCÓ – 04 DE JULHO DE 2009
Com o anúncio do nome de Maria Rita na programação de férias do Governo do Estado, não quis perder um show que normalmente me custaria uns duzentos reais. Não é todo dia que a gente pode ver um show desses de graça. Maria Rita é, ao lado de Marisa Monte e Maria Bethânia, uma das poucas estrelas da música brasileira que se dá ao luxo de cobrar tanto pelo seu show. Assim como Marisa Monte, Maria Rita já nasceu estrela. E talvez seja a única grande estrela que essa década de vacas magras na música produziu no Brasil. Minha aproximação com a música da cantora se deu via Los Hermanos. Em seu disco de estreia, MARIA RITA (2003), ela gravou duas composições de Marcelo Camelo: a inédita "Cara valente" e a já conhecida "Veja bem, meu bem". "Cara valente" acabou se tornando o maior hit da cantora, ao lado de "Encontros e despedidas", que teve uma ajudinha da Rede Globo, já que foi tema de abertura de uma telenovela.
A chuva que tem caído em Fortaleza nos últimos dias – ou desde o começo do ano, melhor dizendo - foi um dos ingredientes para que o show de ontem fosse memorável. Quando a chuva começa, ela incomoda, mas depois que já estamos molhados mesmo, o negócio é relaxar e curtir. Eu até diria que sem a chuva, a noite de ontem não teria sido tão boa. Mesmo não estando no meu habitat natural, que seria talvez um show de rock, o fato de estar razoavelmente bem de saúde (a garganta estava um caco, mas já esteve pior) e de estar na companhia de amigos e de bom humor tornou tudo muito melhor. Claro que a boa qualidade do som também contribuiu. Groovetown, a banda cearense que abriu o show para a Maria Rita, fez um belo trabalho. Quando eles emendaram "Samba a dois" com "Olhos coloridos" e, mais na frente, quando eu, Valéria, Murilo e Norent fomos pra mais perto do palco, eu até me esqueci do show da Maria Rita. Por um momento, fiquei me perguntando se não foi a massagem relaxante que eu recebi à tarde que contribuiu para esse meu estado de descontração. Primeira vez que recebi esse tipo de massagem e nem gostei tanto, pois não relaxei de verdade, mas quem sabe algumas toxinas não foram liberadas no processo? Uma das diversões da noite foi ver o rapaz francês amigo da Val, o Norent, tentando chegar junto de uma loirinha linda que estava na nossa frente.
E falando em mulher bonita, chegou o momento da entrada triunfal de Maria Rita. Não imaginei que ela fosse tão gostosa. Ela entrou com um vestido curto, prateado, e de salto alto. Demorou um pouco pra eu me acostumar com as coxas da cantora. E ela, sabendo o frisson que causa, não deixa de explorar o próprio corpo e a sensualidade para incorporar uma personagem cheia de autoconfiança. Isso, sem deixar de lado a honestidade, contando que estava gripada e tossindo, e pedindo a ajuda da plateia, no caso de a voz dela falhar. A primeira parte do show foi puramente de samba. Seu terceiro disco, SAMBA MEU (2007), foi dedicado exclusivamente ao ritmo que hoje é mais associado aos cariocas. O que me deixou sem conhecer cerca de noventa por cento do set list e ficar esperando que ela cantasse algumas do primeiro disco, que foi o que eu mais ouvi.
Mas o melhor momento da noite surgiu com "Muito pouco", composição do Moska para o álbum SEGUNDO (2005). Foi um desses momentos em que até quem não estava nem aí para o show ficou impressionado com a performance da cantora. Com essa canção, em particular, o contrabaixo acústico apareceu de maneira muito mais elegante. Sem dúvida, o ponto alto da noite. Mas o momento de maior participação do público foi mesmo com "Cara valente". Só acho que ela errou ao cantar essa mesma canção no bis, como se não tivesse outra no repertório. Aliás, foi a única do Camelo que ela cantou no show inteiro. Seria lindo se, em plena chuva, ela cantasse a bela e melancólica "Santa chuva". Mas claro que o saldo foi positivo e, mesmo encharcado, voltei pra casa bem satisfeito. Outros amigos que estiveram no show também, mas que o assistiram em outro local do Parque do Cocó: Ebenézer, Santiago, Ariza, Paulo, Rodrigo e Elis.
A título de curiosidade, link para o twitter da cantora, onde ela fala um pouco sobre o show em Fortaleza.
sexta-feira, julho 03, 2009
OS FALSÁRIOS (Die Fälscher)
Houve um tempo em que todos os indicados ao Oscar de filme estrangeiro chegavam aqui sempre no mesmo ano da indicação. Cheguei a pegar um ano em que todos os filmes chegaram no próprio mês da premiação. Agora, tanto faz se o filme ganhou ou não a Palma de Ouro em Cannes ou ganhou o prêmio de melhor filme estrangeiro da Academia que não parece fazer muita diferença para o mercado. O vencedor do Oscar de filme estrangeiro deste ano até que chegou rápido no circuito – o japonês A PARTIDA. Mesma sorte não teve este OS FALSÁRIOS (2007), que a gente até entende ter ganhado o prêmio, dado a temática. Costuma-se dizer que filme que fala sobre o holocausto sempre sensibiliza a Academia. E parece que com esta produção austríaca não foi diferente, por mais que o filme não tenha me agradado. Até prefiro A VIDA É BELA, mesmo com todas as restrições que tenho à obra de Roberto Benigni. Pelo menos ele não é tão burocrático quanto OS FALSÁRIOS.
Só a título de curiosidade, pois minha memória tem deixado cada vez mais de dar prioridade ao Oscar, fui pesquisar os concorrentes de OS FALSÁRIOS na época da premiação para ver se algum deles chegou ao circuito nacional. Vi que aquele que tinha o título mais chamativo (MONGOL) e de uma localidade que já vinha sendo alvo de piada por causa de BORAT (o Cazaquistão) será lançado nos cinemas em breve como O GUERREIRO GENGIS KHAN, título que ajuda o espectador a saber mais ou menos do que se trata o filme sem precisar de ler uma sinopse. Outro que se eu não me engano já foi lançado aqui foi KATYN, do polonês Andrzej Wajda, que por alguma razão não é um cineasta que me atrai, mesmo no auge de sua popularidade no circuito alternativo, que foi no fim dos anos 80 e início dos 90. Os outros – o israelense BEAUFORT e o russo 12 -, acredito que não entraram no circuito brasileiro.
Toda essa introdução é só pra enrolar mesmo, já que eu não tenho muito do que falar sobre OS FALSÁRIOS, que me causou mais sono do que qualquer outra coisa. Engraçado que tem filmes que têm até mais potencial para me deixar com sono, mas só pelo fato de eles serem um pouco mais diferentes, eu fico mais interessado – caso do brasileiro BUDAPESTE, do qual devo falar aqui em breve. Já OS FALSÁRIOS tem uma estrutura narrativa clássica e manjada. Um filme feito para agradar aos votantes do Oscar, mais do que para agradar a público de festivais ou de mostras internacionais. Porém, mesmo dentro dessa estrutura convencional, bem que o filme poderia trazer mais interesse, já que não creio que tenha se esgotado o tema.
No caso de OS FALSÁRIOS, vemos um grupo de judeus que são especialistas em falsificações. Eles conseguem falsificar a libra e o protagonista, o grande perito na "arte", está se esforçando para falsificar o dólar e isso chama a atenção dos nazistas, desejosos de lucrar com a falsificação, mesmo sabendo que os russos estão avançando e o fim para eles parece estar próximo. Entre o fato de fazer um trabalho para os nazistas, de estar indo contra a própria ideologia e sabendo de todas as atrocidades que os seus inimigos cometeram com familiares e amigos, e a vontade de sobreviver há uma tênua linha. E é nesse embate emocional que o filme busca refúgio. Pena que os personagens não tenham muita força para nos importarmos suficientemente com eles, o que prejudica ainda mais a apreciação. Stefan Ruzowitzky é diretor do horror ANATOMIA (2000), que foi lançado direto em vídeo no Brasil e aparentemente não fez muitos fãs.
quinta-feira, julho 02, 2009
AMOR, SUBLIME AMOR (West Side Story)
Bacana essa coleção Cinema Reserve que a Fox tem lançado, preservando o título original e com uma elegante luva. Dos DVDs duplos da coleção, não sei quais são inéditos e quais trazem os mesmos extras já lançados em outras edições. No caso de AMOR, SUBLIME AMOR (1961), parece que os extras são os mesmos da edição anteriormente lançada. O diferencial está mesmo no visual, mais bonito. Quanto ao filme, o fato de eu não tê-lo visto há mais tempo se deve à minha resistência aos musicais clássicos. São raros os que me emocionam. No caso da oscarizada produção de Robert Wise e Jerome Robbins (10 Oscar de 11 indicações!), o que me impulsionou a comprá-la foi a presença de Natalie Wood, a grande estrela do filme. Pena que o seu potencial sensual não é bem aproveitado e ela é mostrada ainda como uma moça ingênua num romance água com açúcar. Mas até que ela está bem no filme, caracterizada como uma porto-riquenha, mesmo exagerando um pouco no sotaque. Conta-se que ela estava muito nervosa e insegura durante a produção e não ficou muito feliz quando arrumaram uma dubladora para ela nas cenas cantadas, já que ela se esforçou muito e cantou de verdade em todas as cenas.
A ideia de se fazer uma versão musical de "Romeu e Julieta" se passando nas ruas, com uma disputa entre gangues de americanos contra porto-riquenhos, é até boa. E se deu certo na Broadway, deu mais ainda em Hollywood. Quer dizer, deu certo no sentido de que rendeu muita bilheteria, tornou-se popular e ganhou muitos Oscar. Porque, sinceramente, eu não gostei do resultado final. Aquele "Romeu", o Tony (Richard Beymer), é muito xarope. E chega uma hora que enche o saco quando o vemos pela enésima vez dizer "I'm in love", com aquela cara de babaca. E as cenas mais românticas, envolvendo Maria e Tony acabaram ficando menos interessantes do que as cenas muito mais elaboradas das gangues em coreografias ousadas, que devem agradar bastante aos apreciadores de dança – o que não é bem o meu caso. Conta-se que Jerome Robbins, o coreógrafo que, com toda razão, quis assumir a função de co-diretor do filme, ensaiava tanto em busca da perfeição que deixava os atores no seu limite. Um deles, inclusive, chegou a desmaiar durante os exaustivos ensaios e foi levado às pressas para um hospital. E como Robbins era muito perfeccionista, isso acabou esticando demais o tempo das filmagens. Tanto que, em certo momento, ele foi afastado da produção e Robert Wise assumiu a direção sozinho do que faltava.
Tudo isso é contado no bom documentário de quase uma hora presente nos extras, intitulado "Memórias de West Side". Eu, inclusive, diria que o doc é melhor do que o filme, que poucas vezes me agradou. Entre os melhores momentos, destaco "America", com um belo duelo cantado (e dançado) entre os homens e as mulheres porto-riquenhas. Os homens, falando das desvantagens de estar num país estrangeiro; elas, enaltecendo o país que os acolheu. A canção é provavelmente a mais conhecida do filme. Outra bem conhecida é "Somewhere", que ficou meio brega na versão do filme, mas trata-se de uma bela canção, com um arranjo instrumental lindo e que pode ser bem melhor apreciada na voz de Renato Russo, no disco STONEWALL CELEBRATION CONCERT. E as outras canções famosas do filme são "Tonight" e "Maria". Todas elas são de autoria de Leonard Bernstein e com letras de Stephen Sondheim. Aliás, as canções já eram conhecidas quando o filme chegou aos cinemas e foi um sucesso, pois durante o filme a plateia cantava junto, o que deve ter gerado sessões memoráveis na época.
E por mais que se diga que o musical foi inovador ao misturar dança com lutas de rua, eu diria que o filme ainda surgiu num momento em que Hollywood ainda não tinha abraçado a contracultura. A deixa de Nicholas Ray, com JUVENTUDE TRANSVIADA, não foi assimilada de imediato pela moribunda Hollywood da época. E o filme não consegue disfarçar sua caretice, mesmo com suas inovações. Mas talvez porque ainda não era o momento e preciso me lembrar que a primeira metade dos anos 60 ainda se caracterizava por uma certa inocência. A título de curiosidade, fazendo um paralelo entre AMOR, SUBLIME AMOR e ROMEU E JULIETA, de George Cukor, dá pra perceber que em ambas as gangues havia um gay. O Mercutio de John Barrymoore é bem afetado. Já no musical, há a personagem de uma jovem que se veste de homem e que quer ficar o tempo todo com os rapazes, ainda que fosse geralmente enxotada, principalmente nos momentos de perigo. Das duas gangues, a turma dos porto-riquenhos sai ganhando graças à performance de George Chakiris, o líder do grupo hispânico. Ele dança com uma leveza e uma elegância que chegou a ser comparado a Fred Astaire. Do lado dos porto-riquenhos também há Anita, a personagem mais forte do filme, interpretada por Rita Moreno. Ela é tão boa atriz que até destoa dos demais, inclusive de Natalie Wood.
Quanto aos demais extras, há uma montagem comparativa de storyboards com imagens do filme que ajuda a valorizar a bela construção visual de Robert Wise. Há também o tema que tocou durante o intervalo do filme na época da exibição nos cinemas e alguns trailers. Mas o que conta é mesmo o documentário.
quarta-feira, julho 01, 2009
DUPLICIDADE (Duplicity)
Hoje começam minhas férias. Se no ano passado eu tirei férias para reformar/ampliar o meu quarto, neste ano as férias são para estudar para minha especialização. Portanto, não sei se o blog manterá a mesma regularidade durante este mês de julho que se inicia. De todo modo, ando passando por umas "crises de blogueiro". Tenho suspeitado que meus mais recentes textos estejam um pouco enfadonhos, por mais que eu tente melhorá-los a cada releitura. Talvez eu tenha perdido um pouco da fluidez e um pouco da capacidade de incitar os leitores. Mas quero acreditar que isso é só uma fase, pois se eu desistir disso aqui, talvez não volte mais. O fato é que tem dias que eu me esforço para escrever sobre um filme. E fico até feliz quando consigo escrever o mínimo, que são três parágrafos, nem que sejam curtos. E quando eu acho que não vou conseguir e o texto fica pelo menos razoável, aí que eu vejo motivo para comemorar mesmo. De qualquer maneira, quero deixar registrado aqui que quem está escrevendo estas linhas é alguém que está com o corpo todo moído e que tem sofrido com dores nas costas há dias. Ontem fui a um ortopedista e ele me passou uns exames. Mas creio que o um maior afastamento do ar condicionado nesses dias longe do escritório vão me fazer bem e em breve estarei com todo entusiasmo para resolver uma série de pendências. O carro, que é quase uma extensão de mim, também está precisando de cuidados e preciso estar bem disposto para cuidar de assuntos que não são exatamente divertidos para mim. E agora que já gastei um parágrafo inteiro usando o blog como divã, vamos ao filme em questão.
DUPLICIDADE (2009), segunda incursão na direção de Tony Gilroy, foi uma decepção pra mim. Gostei bastante da classe e do suspense de CONDUTA DE RISCO (2007), o filme anterior do diretor, e também estava esperando que a química entre Julia Roberts e Clive Owen – juntos novamente, depois de CLOSER – seria mais um ponto a favor. No elenco de apoio, os ótimos Tom Wilkinson e Paul Giamatti, infelizmente em papéis ridículos. Não basta o filme ter elegância na fotografia, na direção de arte, na beleza das locações, nos figurinos e em pequenos detalhes como o dos créditos iniciais. Tudo isso é muito bom e muito agradável de ver, especialmente na telona do cinema, mas não é disso que se faz um bom filme. Sem o esqueleto – roteiro e direção -, fica difícil um filme funcionar, por mais luxuoso e vistoso que seja. E assim é DUPLICIDADE: uma farsa elegante, mas vazia. Que em vez de trazer prazer para o espectador, com sua narrativa intrincada e cheia de vaivéns, provoca aborrecimento e indiferença com o destino dos personagens.
A trama gira em torno do relacionamento entre dois ex-agentes federais. Julia Roberts já foi agente da CIA; Clive Owen é ex-MI-6. Os dois têm um plano para ganharem uma bolada, trabalhando como espiões de duas grandes corporações, e assim poderem viver uma vida de reis. Na sua maior parte, o filme parece utilizar a ideia de macguffin. Não sabemos de que tratam os tais documentos confidenciais que fazem o filme girar. Não deixa de ser interessante a escolha do diretor pela leveza, até mesmo na disputa entre as duas empresas. Diferente do que aconteceria numa comédia dos irmãos Coen, por exemplo, DUPLICIDADE não segue um rastro de mortes. Por mais que as empresas não joguem limpo, o máximo de violência que o filme mostra é uma cena num aeroporto, com os chefes Paul Giamatti e Tom Wilkinson trocando acusações em câmera lenta. Isso necessariamente não chega a ser um problema em si, mas não evita o filme de ser bobo e lamentável.
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