sexta-feira, dezembro 29, 2006

TOP 20 2006 E O BALANÇO DO ANO

1. MUNIQUE, de Steven Spielberg
2. O CÉU DE SUELY, de Karin Aïnouz
3. ORGULHO E PRECONCEITO, de Joe Wright
4. O LABIRINTO DO FAUNO, de Guillermo Del Toro

5. CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS, de Marcelo Gomes
6. MIAMI VICE, de Michael Mann
7. A CASA DO LAGO, de Alejandro Agresti
8. TERROR EM SILENT HILL, de Christopher Ganz

9. PONTO FINAL - MATCH POINT, de Woody Allen
10. CACHÉ, de Michael Haneke
11. MISSÃO: IMPOSSÍVEL 3, de J.J. Abrams
12. VÔO UNITED 93, de Paul Greengrass














13. TUDO EM FAMÍLIA, de Thomas Bezucha
14. MISTÉRIOS DA CARNE, de Gregg Araki
15. O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN, de Ang Lee
16. PARIS, TE AMO, de vários 

17. A COMÉDIA DO PODER, de Claude Chabrol
18. O AMOR EM CINCO TEMPOS, de François Ozon
19. OS INFILTRADOS, de Martin Scorsese
20. QUANDO UM ESTRANHO CHAMA, de Simon West

2006 foi um ano bom. Melhor do que eu esperava que fosse. Ao menos no que se refere aos filmes, já que na minha vida particular pouca coisa mudou. Na verdade, as coisas meio que estacionaram. Principalmente no terreno afetivo, que está estacionado há um tempão. Acho que financeiramente falando foi um dos melhores anos pra mim, o que me possibilitou até uma viagem para São Paulo, onde pude conhecer pessoalmente pessoas realmente especiais que só conhecia virtualmente, bem como rever aqueles que eu já conhecia e dar aquele abraço. Mas como eu não tenho tempo hoje de expor publicamente a minha vida privada, falemos dos filmes. Quando o assunto é cinema, eu sempre fico entusiasmado e logo esqueço dos problemas.

Pois bem. Comecemos com o cinema nacional. No ano passado três filmes brasileiros entraram no meu top 20. Dessa vez, apenas dois entraram, mas esses dois representam um novo e luminoso caminho para o nosso cinema. CINEMA, ASPIRINAS E URUBUS chegou um pouco atrasado aqui, mas eu não poderia deixá-lo de fora. E temos O CÉU DE SUELY, a mais agradável surpresa. E dirigido por um cineasta conterrâneo. Os dois filmes mostram o quanto o Nordeste ainda é fonte inesgotável de idéias para o nosso cinema.

Dos filmes concorrentes ao Oscar 2006, os grandes destaques foram: MUNIQUE, um dos melhores e mais brutais filmes de Steven Spielberg; ORGULHO E PRECONCEITO, um dos mais belos e sensíveis filmes de época que eu já tive o prazer de assistir; e O SEGREDO DE BROKEBACK MOUNTAIN, com os seus personagens marginais vivendo um amor impossível.

Falando em amor impossível, que maior impossibilidade há do que uma separação temporal? É a barreira que o casal de A CASA DO LAGO enfrenta. Mas o amor tudo pode. Ao menos no cinema. Mas o amor também morre. E o cinema, sempre ele, tem o poder de voltar no tempo, voltar para um começo onde a esperança ainda existia. Como em O AMOR EM CINCO TEMPOS, de François Ozon. O amor está presente também em cada pequeno segmento do maravilhoso PARIS, EU TE AMO, filme dirigido e interpretado por um time de respeito. E também no extremamente carinhoso TUDO EM FAMÍLIA, filme que lida também com temas como o preconceito, a dificuldade de se adaptar ao novo e a perda de alguém querido.

Saindo do amor e entrando no território do horror, o ano que passou teve representantes de peso. A começar pela fábula para adultos de Guillermo Del Toro. Difícil encontrar palavras para descrever o maravilhamento que é assistir O LABIRINTO DO FAUNO. Outro filme de terror que carrega a sua força nas imagens é TERROR EM SILENT HILL, a melhor transposição dos games para o cinema. E pra variar, em 2006 teve aquele filme que só eu - e uns poucos gatos pingados - gostei: QUANDO UM ESTRANHO CHAMA, um exercício de suspense de um cineasta pouco expressivo que fez aqui o seu melhor trabalho. Quanto ao horror nosso de cada dia, ligado ao terrorismo e aos atritos entre os povos, resultando em traumas terríveis, os dois melhores representantes do ano foram o lynchiano CACHÉ, de Michael Haneke, e VÔO UNITED 93, de Paul Greengrass.

Dos cineastas mais fodões do mundo, 2006 deu a luz os novos trabalhos de Michael Mann (cada vez melhor), Woody Allen (renovando seu estilo), Claude Chabrol (ainda afiadíssimo) e Martin Scorsese (com sua terceira parceria com Leonardo Di Caprio). MIAMI VICE, MATCH POINT, A COMÉDIA DO PODER e OS INFILTRADOS. Quatro filmes que não desapontam.

Num ano onde as séries de televisão foram o grande destaque, J.J. Abrams, um criador de séries de sucesso fez o seu debut na direção de cinema. Eu adorei. MISSÃO IMPOSSÍVEL 3 mantém o bom nível da série. Houve quem achasse que era só um episódio extendido de ALIAS, mas eu não ligo. O filme também marcou o fim do contrato de Tom Cruise com a Paramount.

Pra terminar, sobrou um expoente do cinema independente americano. No caso, Greg Araki e seu MISTÉRIOS DA CARNE, o primeiro filme que eu vi esse ano que me impressionou.

De fora

Como não é possível colocar trinta filmes num top 20, alguns excelentes títulos acabaram ficando de fora da lista final. Merecem todo o nosso respeito: O FIM E O PRINCÍPIO, A MENINA SANTA, FLORES PARTIDAS, ESPÍRITOS: A MORTE ESTÁ AO SEU LADO, O NOVO MUNDO, GAROTA DA VITRINE, TRÊS ENTERROS, DÁLIA NEGRA e A CRIANÇA.

Os piores do ano

1. IRMA VAP - O RETORNO
2. PIRATAS DO CARIBE - O BAÚ DA MORTE
3. FONTE DA VIDA
4. INSTINTO SELVAGEM 2
5. O CÓDIGO DA VINCI

Menção honrosa para ELECTRIC DRAGON 80.000 V, o famoso filme do guitaaaaaar!!!

As decepções

2006 reservou também algumas pequenas decepções pra mim. A principal delas veio do nosso querido Shyamalan, com seu conto de fadas A DAMA NA ÁGUA. Alguns poucos privilegiados tiveram a sorte de embarcar no filme, outros, como eu, só lamentaram. Também não gostei da incursão mais explícita de Spike Lee no cinema mais comercial com o seu O PLANO PERFEITO. Não por ser comercial, mas porque eu não me empolguei mesmo com o filme.

As séries

Nunca vi tanta série boa junta. Continuaram com o mesmo pique: LOST, PRISON BREAK, 24 HORAS e MASTERS OF HORROR. As novidades: HEROES e DEXTER. Uma série abortada: HEIST. Uma série animada: PARANOIA AGENT. E as séries que eu resolvi acompanhar com certo atraso: A SETE PALMOS, SEINFELD e ALIAS. Para o próximo ano, tenho planos de começar a ver HOUSE e de assistir a louvada quinta temporada de A SETE PALMOS, além das séries habituais que chegarão em nova temporada ou despertando do hiato.

Melhores filmes vistos em DVD, DIVX ou VHS

Não teve jeito. Dois filmes do Dreyer entraram pra valer nos meus favoritos de todos os tempos. Poucos filmes novos tiveram chance no meio de tantos clássicos.

1. A PALAVRA, de Carl Th. Dreyer
2. DIAS DE IRA, de Carl Th. Dreyer
3. O PODEROSO CHEFÃO, de Francis Ford Coppola
4. TRÊS HOMENS EM CONFLITO, de Sergio Leone
5. OS SINOS DE SANTA MARIA, de Leo McCarey
6. UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU, de Robert Bresson
7. O ESPORTE FAVORITO DOS HOMENS, de Howard Hawks
8. OS OLHOS SEM ROSTO, de Georges Franju
9. TOURO INDOMÁVEL, de Martin Scorsese
10. O JOELHO DE CLAIRE, de Eric Rohmer
11. CUPIDO É MOLEQUE TEIMOSO, de Leo McCarey
12. EL DORADO, de Howard Hawks
13. RIO LOBO, de Howard Hawks
14. VIVER A VIDA, de Jean-Luc Godard
15. GAROTAS DO ABC, de Carlos Reichenbach
16. A DAMA E O VAGABUNDO, de Clyde Geronimi, Wlfred Jackson e Hamilton Luske
17. PAULINE NA PRAIA, de Eric Rohmer
18. CURVA DO DESTINO, de Edgar G. Ulmer
19. THE KILLER - O MATADOR, de John Woo
20. FUGINDO DO INFERNO, de John Sturges

Então é isso. O blog entrará de recesso nesse final de ano. Um feliz 2007 pra todos nós!

quinta-feira, dezembro 28, 2006

A CASA MONSTRO (Monster House)



Interessante eu ter visto esse filme poucos dias após assistir a MEUS VIZINHOS SÃO UM TERROR, de Joe Dante. Os dois filmes têm muito em comum. Mas no lugar de vizinhos suspeitos, em A CASA MONSTRO (2006), é a própria casa a grande ameaça. Quando esse filme estreou nos cinemas, eu nem fiquei interessado. Ultimamente, eu ando bem desinteressado nas animações americanas que tem pipocado nos cinemas. Prefiro ver as sofisticadas animações japonesas. Mas comecei a ficar atento a esse filme quando li um comentário elogioso no blog do Renato Doho. Aí aproveitei que já caiu na internet uma versão DVDRip do filme e resolvi baixar. O bom é que o áudio é original.

A CASA MONSTRO é uma animação feita com a mesma técnica de captura de movimento de O EXPRESSO POLAR (2004), do Robert Zemeckis. Zemeckis aparece aqui, junto com o Spielberg, como produtor executivo. O diretor é o estreante Gil Kenan, que mandou muito bem. Na trama, temos dois garotos que começam a suspeitar da casa. O velho que lá mora, o Nebbercracker (dublado pelo Steve Buscemi) costuma sempre tomar qualquer objeto ou brinquedo que caia em seu jardim. Logo no começo do filme, o velho toma um triciclo de uma criancinha, que sai correndo com medo. DJ e seu amigo Chowder resolvem investigar a casa e acabam discutindo com o velho Nebbercracker, que passa mal e é levado em uma ambulância. Com a adição de uma garotinha que quase foi devorada pela casa, os três tentam elaborar um plano para entrar na tenebrosa casa.

A animação é de dar gosto e há um especial cuidado na construção dos personagens, além de vários momentos engraçados - principalmente os que envolvem a atração dos dois garotos pela menina - e outros "quase" assustadores. Legal que as pessoas que fizeram as legendas em português para o filme (na internet) ainda fizeram o favor de avisar ao espectador nos momentos finais para não desligar o player até o final do créditos. Inclusive, o final foi uma maneira de os produtores conseguirem uma classificação melhor para o filme. Ainda assim, nos EUA, A CASA MONSTRO recebeu classificação PG (parental guidance), no qual as crianças só podem assistir o filme na companhia dos pais ou responsáveis.

quarta-feira, dezembro 27, 2006

CAMINHO PARA GUANTÁNAMO (The Road to Guantanamo)



Não me incomodo com filmes políticos de tom panfletário que querem impor uma verdade. Se o realizador acredita nessa "verdade", o seu trabalho já merece algum respeito. Filmes assim, se não chegam a ser uma obra de arte, ao menos funcionam como aditivo ao jornalismo, mostrando para o espectador algo digno de indignação e revolta. CAMINHO PARA GUANTÁNAMO (2006) pertence a essa categoria, ainda que algumas coisas permaneçam confusas ao término do filme. De todo modo, poucas coisas são mais revoltantes que ver pessoas inocentes presas e sofrendo as piores torturas durante um longo período (dois anos e meio).

O incansável Michael Winterbottom - dessa vez trabalhando com um co-diretor, Mat Whitecross - aponta sua câmera em estilo documental para um evento de vital importância para a história conteporânea: a represália americana contra os terroristas depois do atentado de 11 de setembro. George Bush - o primeiro rosto a aparecer no filme - bombardeia os pobres coitados habitantes do Afeganistão, que já não tinham sequer o que comer, em busca de Osama Bin Laden, do Al Qaeda e dos Talibãs.

Dentro desse contexto, quatro jovens ingleses de origem paquistanesa decidem viajar para o Paquistão para o casamento de um deles. Não me lembro bem por qual razão - nesse ponto o filme foi pouco claro - eles decidem dar um pulinho no Afeganistão. (Parece que eles queriam se unir às tropas afegãs contrárias aos talibans.) Ao chegarem lá, depois de um deles ter uma baita duma diarréia por causa daquela comida podre e cheia de moscas de lá, eles ainda levam o azar de serem confundidos com membros do Al Qaeda. Os rapazes são torturados e passam por situações perturbadoras, como no momento em que os militares colocam os afegãos num caminhão, atiram na porta do veículo para matar vários deles e dar um pouco de saída de ar para os que sobreviveram aos tiros.

Esse e outros tipos de perversidade cometida pelos americanos e britânicos são até difíceis de acreditar. Como também é difícil de entender por que diabos esses três amigos foram parar naquele lugar esquecido por Deus, o Afeganistão. Só sendo muito estúpidos mesmo. Também fiquei confuso ao saber que os Estados Unidos têm uma base militar em Guantánamo, Cuba. Até pouco tempo atrás os dois países não eram inimigos? Agora eles são aliados? Devo ter perdido alguma coisa no noticiário internacional nos últimos anos. Definitivamente, as coisas hoje são bem mais complicadas.

terça-feira, dezembro 26, 2006

O RAIO VERDE (Le Rayon Vert)



Interessante como os parisienses têm essa obsessão pelo viajar nas férias. Quando se está de férias no verão, é obrigatória a ida a uma praia ou a uma região serrana ou a qualquer outro lugar. O que não se pode é ficar em Paris. Em O RAIO VERDE (1986), de Eric Rohmer, Delphine (Marie Rivière) está desesperada porque justo quando ela vai tirar férias, o seu então namorado termina a relação por telefone. Ela fica totalmente desolada e deprimida, sem saber o que fazer e sem ter com quem viajar. De vez em quando, uma crise de choro a sufoca e ela se sente a pessoa mais infeliz do mundo. Rohmer, como o cineasta da perambulação, mostra várias vezes Delphine andando sozinha. Supersticiosa que é, ela acredita que as cartas de baralho que encontra pelo caminho significam alguma coisa muito importante, são uma espécie de sinal. Ela também observa que a cor verde exerce sobre ela uma força diferenciada.

O RAIO VERDE seria um filme-irmão de CONTO DE INVERNO (1992), o filme de Rohmer que mais me emocionou. Em ambos, há uma protagonista que acredita no destino. Porém, em O RAIO VERDE, a protagonista não tem o mesmo otimismo e fé que a Felicie de CONTO DE INVERNO. Ela acredita nos sinais, mas seu semblante triste e desesperançado faz com que ela se afaste de muitas pessoas. Como na cena em que ela conhece uma sueca na praia. A sueca é adepta dos jogos de sedução e não tem a menor vergonha de passear na praia de topless. Ao contrário de Delphine, que se sente inferiorizada ao perceber a incrível capacidade da sueca de chamar a atenção para si. Delphine preferiu procurar o seu próprio caminho, a sua própria maneira de encontrar alguém. A angústia que ela sente sempre que desiste de estar em algum lugar talvez seja para ela uma intuição de que caminho deve seguir.

Essa angústia e essa vontade de sair o quanto antes de um lugar, eu também costumo experimentar às vezes. Já aconteceu de eu viajar para algum lugar e me sentir tão mal que precisei fugir de lá o quanto antes. Se é pra eu ficar deprimido, prefiro ficar deprimido em casa mesmo, não no meio de estranhos. A cena em que Delphine se encontra com a sua possível alma gêmea é um dos pontos altos e marca a força da temática do acaso no cinema de Eric Rohmer. Acontece que, diferente de CONTO DE INVERNO, o filme não termina ali. O grande momento do filme acontece nos instantes finais. Delphine ainda precisaria ver o tal raio verde do título. O raio verde é uma ilusão de ótica rara de se ver. Acontece em questão de segundos, quando o sol está saindo ou entrando na linha do horizonte. Diz a lenda que quem enxerga o raio, descobre o que se passa no coração do outro e jamais será enganado novamente nas questões sentimentais. O fenômeno é tão raro que Rohmer não conseguiu captar, tendo que realizá-lo através de efeitos visuais no laboratório.

Marie Rivière contribuiu com o roteiro de O RAIO VERDE, tendo provavelmente usado de improviso. Clássica a cena em que ela tenta explicar o porquê de ser vegetariana. O RAIO VERDE pertence ao ciclo "Comédias e Provérbios", que conta com os títulos: A MULHER DO AVIADOR (1981), UM CASAMENTO PERFEITO (1982), PAULINE NA PRAIA (1983), NOITES DE LUA CHEIA (1984), O RAIO VERDE (1986) e O AMIGO DE MINHA AMIGA (1987).

domingo, dezembro 24, 2006

O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS (The Holiday)



Quando o assunto é comédia romântica, o cinema americano é imbatível, tendo um passado glorioso de filmes dirigidos por mestres como Howard Hawks, Leo McCarey e Douglas Sirk. O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS (2006) presta homenagem às antigas comédias hollywoodianas, através do personagem do veterano Eli Wallach (91), o "feio" de TRÊS HOMENS EM CONFLITO, que no filme de Nancy Meyers interpreta um roteirista aposentado que vive das lembranças de um passado glamoroso e dá dicas de bons filmes para Kate Winslet. Claro que o filme não gira em torno desse personagem, mas a sua presença é importante para prestar a devida homenagem ao gênero e às heroínas fortes do passado, como Irene Dunne e Rosalind Russell.

A trama de O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS já se mostra bem óbvia e até um pouco previsível ao se ver o trailer, muitas vezes veiculado. Ainda assim, o filme oferece ao espectador algumas pequenas surpresas, além das já tradicionais lágrimas furtivas lá pelo final. Por falar em lágrimas, achei interessante o fato de a personagem de Cameron Diaz não conseguir chorar, tornando quase impossível não esperar que no final ela finalmente consiga derramar algumas lágrimas.

Pra quem não mora nesse planeta, eis o enredo básico do filme: duas mulheres, ao sofrerem desilusões amorosas, resolvem trocar de casas durante as festas de fim de ano. O objetivo das duas é fugir da tristeza em um lugar estrangeiro. A americana Cameron Diaz vai para uma cabana numa cidadezinha no interior da Inglaterra e a inglesa Kate Winslet fica temporariamente com a mansão da outra em Los Angeles. Ao chegarem nesses lugares, elas conhecerão dois rapazes que mudarão suas vidas - Jude Law na Inglaterra; Jack Black nos EUA.

É o filme de Nancy Meyers mais bem sucedido e mais redondo. Seus filmes anteriores, DO QUE AS MULHERES GOSTAM (2000) e ALGUÉM TEM QUE CEDER (2003) sofriam de um certo excesso de duração. Curiosamente, O AMOR NÃO TIRA FÉRIAS é maior em duração que os anteriores, mas parece ser menor. Um dos pontos positivos do filme é não fazer muitos paralelismos com o que acontece com as protagonistas. Cameron Diaz não perde tempo e vai logo transando com o Jude Law assim que se conhecem, enquanto Kate Winslet experimenta algo além de uma história de amor, quando faz amizade com Eli Wallach.

O filme se beneficia também da saudável mistura dos sotaques americanos e britânicos. É um prazer poder ouvir o belo british accent de Kate Winslet, bem como de apreciar sua beleza exuberante. A julgar pelos seus mais recentes filmes, ela não se importa de competir com outras beldades num mesmo filme. Já estou ansioso pra conferir PECADOS ÍNTIMOS, de Todd Field, no qual ela contracena com a Jennifer Connelly. Mas voltando ao filme de Nancy Meyers, o que é mais estranho é mesmo a presença de Jack Black, um ator que foge completamente dos estereótipos dos galãs de filmes românticos. Mesmo assim, Black se sai muito bem, apesar de o caso de amor dele com Winslet não ser tão convicente quanto o da dupla Jude Law-Cameron Diaz.

sábado, dezembro 23, 2006

A ÚLTIMA NOITE (A Prairie Home Companion)



Nunca me acostumo com os finais de ano. As coisas parece que não funcionam direito e eu fico torcendo pra que elas voltem logo à normalidade. Se bem que ter mais um tempinho de folga devido aos feriados é sempre uma boa. Nesse tempo de se fazer reflexão sobre o que o ano trouxe e fazer votos para o ano que virá eu tento levar a minha rotina normal.

Ontem estreou em Fortaleza o derradeiro trabalho de Robert Altman e foi o filme que eu priorizei entre as estréias. A ÚLTIMA NOITE (2006) é talvez o filme que mais transparece o fato de que o seu diretor estava à beira da morte e que estaria se despedindo à sua maneira de seus espectadores. Até um anjo da morte o filme tem, interpretado por Virginia Madsen. Bem como um personagem que morre logo depois de cantar, enquanto espera por sua amante no camarim.

A ÚLTIMA NOITE, melhor filme de Altman desde SHORT CUTS (1993), não tem bem um plot. É um filme que se contenta em mostrar, em testemunhar o comportamento de uma trupe de cantores e apresentadores de um show de uma famosa rádio americana. Um dos atores principais é Garrison Keillor, que talvez seja tão dono do filme quanto Altman, já que ele era o próprio apresentador do extinto programa, além de ter contribuído como roteirista. Sua performance se destaca da dos demais. E olha que temos no elenco nomes como Merryl Streep, John C. Reilly, Woody Harrelson, Tommy Lee Jones, Kevin Kline, Lili Tomlin e a jovem Lindsay Lohan. Mas como talvez ele estivesse interpretando a si mesmo, então é melhor dar o crédito aos demais.

Atualmente estou lendo a biografia do Roberto Carlos, que saiu recentemente pela Editora Planeta e achei bem curioso o fato de que, na época da infância e adolescência de Roberto, as rádios não botavam pra tocar os discos, que tinham a sua radiodifusão realmente proibida. Em vez disso, haviam espetáculos ao vivo e os artistas de renome eram todos contratados de grandes rádios. Por isso que quando A ÚLTIMA NOITE começou, eu pensei que se tratava de um filme de época, dos anos 40 ou 50. A única personagem que destoava do geral era a de Lindsay Lohan, que, com seus pensamentos suicidas, mais parecia alguém da década de 80 ou 90. Curiosamente, na calça rasgada de Lohan, há os números "4-5-94", a provável data da morte de Kurt Cobain.

O fechamendo do espetáculo "A Prairie Home Companion" se deu em 1987. No entanto, Altman faz com que nos sintamos nos anos 40, com seus personagens trajando figurinos de época, especialmente Kevin Kline e Virginia Madsen, que parecem saídos de algum filme noir daquele período. Mas isso se dá porque Kline interpreta o personagem Guy Noir, astro de uma novela policial de rádio. Essa confusão temporal dá um ar de anacronismo ao filme, o que acaba combinando com um cineasta outonal como Altman.

Há as canções, várias canções, todas tratadas com muito carinho e saudosismo. Pena que a maioria dessas canções eu desconheço, mas tenho a impressão de que elas são importantes para os americanos. Inicialmente os artistas cotados para interpretarem os caubóis Dusty e Left eram Tom Waits e Lyle Lovett, o feioso ex-namorado da Julia Roberts, mas quem acabou ficando com os personagens foram Woody Harrelson e John C. Reilly, que não fizeram feio. A cena que mostra eles cantando a canção das piadas ruins é um dos destaques do filme. Quanto aos demais, se eu for destacar os seus melhores momentos, esse texto vai ficar enorme.

Só Woody Allen tem agora o poder de reunir um elenco tão grande num filme de orçamento modesto. E eu espero que o anjo da morte não apareça pra visitar o nosso amigo nova-iorquino tão cedo. Melhor nem pensar nisso. Quanto ao Altman, em sua última entrevista, ao ser perguntado sobre quais seriam os seus planos para o futuro, o cinesta respondeu: "meu plano a curto prazo é acordar amanhã de manhã, e meu plano a longo prazo é acordar amanhã de manhã.".

quinta-feira, dezembro 21, 2006

CARPENTER, DANTE E ANDERSON



Com o pequeno hiato da série MASTERS OF HORROR, aproveitei para ver mais dois filmes que havia gravado da televisão, dirigidos por John Carpenter e Joe Dante. Juntando com SESSION 9 (2001), de Brad Anderson, que eu havia assistido semanas atrás, temos aí mais três filmes dirigidos por "mestres do horror". Tudo bem que Anderson ainda precisa comer muito feijão pra se equiparar aos dois mestres, mas a idéia aqui é juntar filmes de cineastas que fizeram episódios para a antologia. Jogo rápido que hoje meu tempo tá curto.

STARMAN - O HOMEM DAS ESTRELAS (Starman / John Carpenter's Starman)

Havia visto STARMAN (1984) na adolescência, quando foi exibido pelo SBT. O filme é uma espécie de resposta às críticas negativas que Carpenter recebeu quando fez O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (1982) e foi acusado de fazer "pornografia". Isso se deveu principalmente à grande popularidade de E.T. - O EXTRATERRESTRE, do Spielberg. Com STARMAN, Carpenter resolveu fazer a sua versão "do bem" da chegada de um alienígena na Terra, isto é, um filme sobre extraterrestres que vêm em paz. Jeff Bridges é o "homem das estrelas" do título, que chega em nosso planeta e assume o corpo do falecido marido da personagem de Karen Allen. Ele tem pouco tempo de vida naquele corpo e precisa ir a determinado lugar no deserto do Arizona para ser resgatado por seus "colegas". Como era de se esperar, Karen Allen (atriz muito bonita que praticamente desapareceu nos anos 90/2000), que já era apaixonada por aquele corpo, também passou a gostar da alma pura do alienígena. Charles Martin Smith é o especialista em invasões alienígenas que sai à cata do extraterrestre. É um filme de Carpenter que destoa um pouco de sua filmografia, muito mais centrada no gênero horror. Há momentos bem engraçados do alien tentando entender a vida em nosso planeta, destaque para a cena dele atravessando o sinal amarelo. Jeff Bridges foi indicado ao Oscar pelo papel. Gravado da Globo.

MEUS VIZINHOS SÃO UM TERROR (The 'Burbs)

Uma das diversões de se ver os filmes de Joe Dante está em tentar entender suas mensagens políticas e sociais "ocultas" numa embalagem pop, geralmente em chave de comédia e/ou terror. Um dos mais cultuados do cineasta é este MEUS VIZINHOS SÃO UM TERROR (1989) estrelado por um Tom Hanks que ainda não havia se tornado um ator "sério". Nesse tempo, ele ainda era associado as comédias juvenis. O filme é uma pequena jóia que dá muito prazer de se ver. Mostra as aventuras de um grupo de vizinhos diante da esquisitice dos novos habitantes da vizinhança. Os esquisitões raramente aparecem na rua, dificilmente dão às caras e fazem estranhos barulhos à noite. Um dia, um senhor da vizinhança desaparece e o grupo formado por Tom Hanks, Carrie Fisher (mais bela que nos tempos de Princesa Leia), Bruce Dern e Rick Ducomm resolve fazer uma visitinha surpresa aos estranhos vizinhos com o objetivo de tentar desvendar o mistério e, se possível, desmascarar os criminosos. O jovem Corey Feldman também está no elenco, fazendo aquele seu habitual papel de moleque. Pode-se ver o filme como uma espécie de ensaio sobre a paranóia americana. Uma cena particularmente interessante é aquela em que Bruce Dern asteia a bandeira dos Estados Unidos em seu jardim e, enquanto olha pra cima, acaba pisando no cocô do cachorro. Será que foi só impressão minha ou essa cena carrega mesmo uma mensagem oculta? Gravado da FOX.

SESSION 9

Interessante horror psicológico dirigido por Brad Anderson, cineasta que, a julgar por filmes como O OPERÁRIO (2004) e SOUNDS LIKE (2006), parece ter escolhido esse caminho. Em seus filmes, o horror está dentro da pessoa e não do lado de fora, à espreita. Em SESSION 9, um grupo de trabalhadores de construção aceitam a missão de reformar em tempo recorde um hospital psiquiátrico que havia sido fechado há alguns anos. O filme explora os medos e os traumas de cada um dos personagens, bem como o passado sinistro do hospital, revelado através de fitas de áudio, que se tornam uma obsessão para um dos personagens. Há uma bela construção atmosférica e algumas cenas de impacto, como a cena da escuridão invadindo o lugar e quase matando de medo um sujeito que tem fobia da escuridão. Os nomes mais conhecidos do elenco são os de David Caruso e Josh Lucas. Visto em divx. Agradecimentos ao sumido blogueiro Hugo Leonardo, que foi quem me enviou esse filme.

quarta-feira, dezembro 20, 2006

DEXTER - A PRIMEIRA TEMPORADA COMPLETA (Dexter - The Complete First Season)



Que os seriados americanos estão vivendo uma era de ouro, disso ninguém duvida, mas jamais imaginei que teríamos a oportunidade de assistir a uma série que tem como herói um serial killer. Jamais imaginei que torceria por um assassino. DEXTER (2006) fez mais ainda comigo: fez com que eu me identificasse um pouco com Dexter (Michael C. Hall, de A SETE PALMOS, indicado ao Globo de Ouro), já que o personagem tem dificuldade de se relacionar com as pessoas e é obrigado a fingir uma certa normalidade diante da sociedade. E como eu tenho mania de me identificar com outsiders, a série me pegou. Claro que não foi só por causa disso. A série é muito bem escrita, tem momentos eletrizantes de grande suspense e aquela abertura é espetacular. Com certeza, a melhor abertura de séries em muito tempo, fazendo uma brincadeira entre cenas do cotidiano e o ato de matar. A música-tema é grudenta, ficando em nossa memória até dois dias depois que a gente assiste ao episódio.

DEXTER conta a estória de Dexter Morgan, um investigador forense da polícia de Miami que age às escondidas como assassino. O que o torna mais simpático à audiência vem do fato de ele só matar assassinos, nunca inocentes. Quando ele era criança, seu pai adotivo, sabendo de suas tendências homicidas, o ensinou a canalizar essa energia negativa, matando apenas os assassinos. Jennifer Carpenter (de O EXORCISMO DE EMILY ROSE) é sua irmã adotiva e uma policial carente de relacionamentos que funcionem. Dexter tem uma namorada traumatizada por um estupro e, por isso, eles mantêm uma relação sem sexo. Há também os coadjuvantes que vez ou outra ganham maior visibilidade na trama: o Sargento Doakes (Erik King), a Tenente Maria (Lauren Vélez) e o policial Angel Batista (David Zayas).

O principal eixo narrativo dessa primeira temporada gira em torna de um serial killer que ganhou a alcunha de "assassino do caminhão de gelo". Ele corta pedaços de suas vítimas e coloca partes do corpo, ou o corpo inteiro em pedaços, em determinados locais da cidade. O que diferencia o seu trabalho é o fato de todo o sangue da vítima ter sido drenado. Dexter logo fica sabendo que o assassino está querendo se comunicar com ele.

O fato de a série se passar em Miami é um detalhe a mais, já que o visual sempre ensolarado é destacado pela fotografia e a trilha sonora prestigia os ritmos latinos. Há também um destaque maior do que o normal a personagens hispânicos (dois dos personagens principais são latinos) e ao uso da língua espanhola. A título de comparação, NIP/TUCK, outra série que se passa em Miami, não dá a mesma ênfase à latinidade da cidade.

A série é uma adaptação do livro "Darkly Dreaming Dexter", de Jeff Lindsay. Quem fez a adaptação foi James Manos Jr., premiado roteirista de FAMÍLIA SOPRANO e consultor de THE SHIELD. Com esse currículo de respeito, não me admira a série ser tão boa. Entre os diretores convidados para os episódios, o único nome mais conhecido é o de Keith Gordon, que dirigiu o episódio "Truth Be Told", o mais eletrizante dessa temporada.

DEXTER é a série xodó da emissora Showtime, a mesma que exibe as menos vistas MASTERS OF HORROR e WEEDS. Quem comprou os direitos para exibição no Brasil foi o canal FX, que passará a série em 2007. Quanto a Michael C. Hall, ele está simplesmente genial em DEXTER, e mal posso esperar para que chegue logo nas locadoras a quinta e última temporada de A SETE PALMOS, pra eu vê-lo novamente na pele de David Fisher.

terça-feira, dezembro 19, 2006

O ILUSIONISTA (The Illusionist)



Não é só o futebol que é uma caixinha de surpresas. O cinema também é. E é bastante comum os trailers enganarem. Eles podem vender o produto muito bem e acabar desapontando quando a gente vê o produto final (KING KONG, 007 - CASSINO ROYALE); como podem vender mal e afastar muita gente de conferir um ótimo filme. É o caso de O ILUSIONISTA (2006), que passa a impressão de ser apenas um concorrente de categoria inferior de O GRANDE TRUQUE, de Christopher Nolan. De vez em quando acontece de os estúdios fazerem filmes com temas similares. Lembram de ROBIN HOOD, O PRÍNCIPE DOS LADRÕES disputando com ROBIN HOOD, O HERÓI DOS LADRÕES? E de FORMIGUINHAZ contra VIDA DE INSETO? Deve haver outros exemplos, mas me fogem à memória. Entre O ILUSIONISTA e O GRANDE TRUQUE, fico com O ILUSIONISTA.

Em diversos aspectos, o filme de Neil Burger é superior. Desde a belíssima direção de arte às acertadas interpretações de Paul Giamatti e Edward Norton, passando pela fotografia que emula o cinema produzido no início do século XX até a excepcional trilha sonora de Philip Glass. Mas o melhor do filme é mesmo a envolvente condução narrativa a cargo do diretor e roteirista Neil Burger, que conta com apenas um outro filme em seu currículo, o inédito no Brasil INTERVIEW WITH THE ASSASSIN (2002).

Em O ILUSIONISTA, Edward Norton é Eisenheim, um mágico ilusionista que durante a infância teve uma história de amor com Sophie. Ele, plebeu, ela, pertencente à nobreza. Quando ele cresce, retorna à Viena como um ilusionista capaz de encantar as platéias com truques (ou seria magia?) inimagináveis - destaque para o truque da laranjeira. Quando ele chega em Viena, sua amada (Jessica Biel) está prometida ao príncipe-herdeiro (Rufus Sewell). Paul Giamatti interpreta o inspetor de polícia da cidade. A estória se passa no final do século XIX, no apogeu do Império Austro-Húngaro.

Cada espetáculo de Eisenheim é visto com muito interesse, tanto pela platéia presente no teatro, quanto pelos espectadores do filme. O filme lida com assuntos interessantes como a discussão sobre a existência de um mundo espiritual em plena época onde o materialismo era dominante, a luta de classes e a própria natureza da ilusão. Quem ilude mais o povo, os mágicos ou os políticos? A principal elipse, que é aquela que segue o plano de Eisenheim e Sophie fugirem da cidade, funciona inteligentemente a favor do filme, que só entrega as revelações nos últimos minutos. Há quem desgoste dessas revelações finais e, por isso, acaba por condenar o filme inteiro, mas eu não vejo problema algum com o final, que ainda por cima conta com aquele belo plano da câmera rodopiando em Paul Giamatti, em expressão de maravilhamento. Assim como boa parte da platéia, diante desse belo exemplar de bom cinema.

P.S.: A nova coluna está no ar no site do CCR. Falo sobre os filmes mais aguardados de 2007. Confiram!

segunda-feira, dezembro 18, 2006

007 - CASSINO ROYALE (Casino Royale)



Apesar de ser o melhor James Bond em muitos anos e de ter se permitido algumas inovações, 007 - CASSINO ROYALE (2006) ainda é uma criatura se remexendo dentro de uma camisa de força. Diferente da série MISSÃO: IMPOSSÍVEL, que faz questão de convidar cineastas de personalidade e força criativa, a cine-série de James Bond sempre se caracterizou por chamar cineastas pouco inventivos, próximos da mediocridade, para salvaguardar o estilo da série. Por isso que os produtores não aceitaram quando Quentin Tarantino se prontificou a dirigir CASSINO ROYALE. Disseram que Tarantino teria um estilo muito próprio e faria algo que destoaria totalmente de tudo que havia sido produzido para a série. Assim, para a missão de "renovar" James Bond, chamaram Martin Campbell, cineasta que havia dirigido o primeiro dos filmes estrelados por Pierce Brosnan - 007 CONTRA GOLDENEYE (1995). Quer dizer, no que se refere à direção, não há inovações. O que diferencia CASSINO ROYALE dos outros filmes de James Bond é algumas mudanças na caracterização do personagem e a presença bastante significativa de Daniel Craig, fazendo o mais diferente dos agentes 007 até hoje. Loiro, feio, com pouca classe e mortal e impiedoso como Jack Bauer. Aliás, não deixa de ser interessante notar como Jack Bauer hoje virou parâmetro de comparação.

Outra novidade interessante - principalmente pra quem, como eu, nunca assistiu a 007 A SERVIÇO DE SUA MAJESTADE (1969) - é ver James Bond apaixonado de verdade por uma mulher. Como o filme mostra o agente no começo de carreira, pode-se entender que ele ficaria cínico com assuntos do coração depois do que aconteceu com a sua amada, Vesper Lynd (Eva Green, que me pareceu pouco à vontade no papel). Entre as seqüências de ação, a que eu mais gostei foi a da perseguição em Madagascar. Bond arranja como adversário um sujeito capaz de saltar feito um demônio. Já o prólogo em preto e branco me pareceu desnecessário e com pouco impacto visual e dramático. Ao menos a luta no banheiro me fez lembrar de uma das melhores seqüências de CORTINA RASGADA, de Alfred Hitchcock. Claro que Hitch se saiu muito melhor, mas é melhor esquecer esse tipo de comparação.

Quanto ao tema cantado por Chris Cornell ("You Know My Name"), trata-se de outro ponto positivo para o filme. Não sei porque razão ao falar de Cornell, lembrei-me de Le Chifre, o banqueiro das organizações terroristas que chora lágrimas de sangue. Le Chifre, interpretado por Mads Mikkelsen, é provavelmente um dos mais memoráveis vilões da série. Apesar de a franquia não ser adepta da violência gráfica, pode-se dizer que esse é o mais violento filme de James Bond já feito. Até cenas de tortura o filme tem. Claro que nada que impressione os espectadores de hoje, acostumados com coisas mais hardcore como JOGOS MORTAIS.

Deu pra perceber que eu não sou bem o que se pode chamar de fã de James Bond. Os fãs devem ter sentido falta das bugingangas, que tiveram o seu auge na era Roger Moore, mas que estiveram sempre presentes nos filmes protagonizados por Pierce Brosnan também. Quanto às Bond girls, dessa vez há apenas duas, sendo que numa delas Bond nem chegou a terminar o "serviço".

Ainda não falei sobre as seqüências no cassino. Ao contrário do que eu esperava, as cenas de jogos de baralho estão longe de serem monótonas, até porque elas são recheadas com cenas de ação. Numa delas, o coração de Bond chega até a parar. Se bem que morrer e ressucitar não é bem novidade pra quem acompanha as aventuras de Jack Bauer na série 24 HORAS. Mas pra não terminar deixando uma impressão negativa do filme, lembro que o andamento e a montagem de CASSINO ROYALE é dos melhores da história da série. Quase não se sente as quase duas horas e meia de duração. Ponto para o montador Stuart Baird e para o trio de roteiristas.

P.S.: Marcelo Miranda retornou à blogosfera depois de um longo tempo afastado.

sexta-feira, dezembro 15, 2006

MASTERS OF HORROR: THE SCREWFLY SOLUTION



Essa segunda temporada de MASTERS OF HORROR está desapontando muita gente. Até mesmo Joe Dante, que havia nos presenteado com o ótimo HOMECOMING (2005), dessa vez apresenta um filme que não vinga a interessante premissa. Não que THE SCREWFLY SOLUTION seja fraco, mas é que eu esperava um pouco mais de Dante. A impressão que fica é que a interessante história foi despertiçada nesse pequeno intervalo de uma hora. Acredito que o enredo funcionaria até como uma série de tv de 22 episódios, se contasse, claro, com uma boa equipe envolvida. Ainda assim, Dante fez um bom trabalho e continua realizando filmes que questionam temas políticos e sociais. Nesse caso, um filme sobre a violência contra as mulheres.

Em THE SCREWFLY SOLUTION, um vírus toma conta da população dos Estados Unidos, fazendo com que os homens se tornem psicopatas assassinos e comecem a matar todas as mulheres que encontram pela frente. Aos poucos, a população de mulheres vai se acabando e a raça humana corre o risco de ser extinta. Começa a ser disseminada a idéia de que a mulher é o motivo da desgraça humana desde a tentação de Adão e Eva. Assim, surge um culto missógino: os Filhos de Adão. Uma das cenas mais interessantes do filme é aquela que se passa numa boate de striptease, quando um homem possesso de raiva ataca as strippers.

No elenco, há a participação de Jason Priestley (o eterno Brandon, da série BARRADOS NO BAILE) e Elliot Gould. Mas quem acaba funcionando como protagonista de verdade é Kerry Norton, no papel da esposa de Priestley.

O próximo MASTERS OF HORROR será VALERIE ON THE STAIRS, de Mick Garris, baseado num conto de Clive Barker. Não espero muito, vindo de Garris, mas quem sabe o filme surpreenda.

P.S.: Chegou ontem a nova Paisà. Entre os destaques: uma matéria especial sobre o lançamento de O CRIADO, de Joseph Losey, escrita pelo Bruno Andrade; uma geral sobre os festivais do Rio e de São Paulo, por Sergio Alpendre; uma discussão sobre o cinema brasileiro em 2006; e um ensaio do crítico Adrian Martin.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

JESUS - A HISTÓRIA DO NASCIMENTO (The Nativity Story)



Se depender de filmes como JESUS - A HISTÓRIA DO NASCIMENTO (2006), a moda de se fazer filmes bíblicos não vai voltar a vingar tão cedo. Além de não ter recebido boas críticas, o filme ainda está sendo um fracasso de bilheteria. Nos cinemas daqui, depois de ter entrado em cartaz na maior sala do multiplex UCI da cidade, na segunda semana já havia migrado pra uma sala pequenininha e com apenas uma única sessão diária. Quem estava apostando no sucesso do filme, esperando que o mesmo ficasse em cartaz até perto do natal, deve ter se decepcionado bastante. Pelo visto, o natal vai continuar sendo sinônimo de filmes de fantasia, que o diga o tal ERAGON, que tem a maior cara de bomba e que vai chegar no natal desse ano. Uma pena, pois eu preferiria ver grandes produções contando as histórias de Josué, Jó, Jonas, Davi, Elias.

O que me deixou curioso para assistir JESUS - A HISTÓRIA DO NASCIMENTO foi o fato de uma diretora ligada a assuntos da juventude ser a principal envolvida no projeto. Catherine Hardwicke tinha em seu currículo como diretora os filmes AOS TREZE (2003) e OS REIS DE DOGTOWN (2005). A principal novidade da incursão de Hardwicke no território dos filmes bíblicos está no fato de pela primeira vez - creio eu - vermos uma Maria adolescente. Dizem que Maria, quando engravidou de Jesus, tinha mais ou menos 16 anos de idade. Para o papel da mãe de Jesus foi escolhida Keisha Castle-Hughes, a jovem atriz que foi revelada no emocionante ENCANTADORA DE BALEIAS (2003). Houve até uma polêmica em torno da atriz, pelo fato de ela ter engravidado recentemente e por causa disso ela não foi convidada para a première do filme no Vaticano - ela não era casada. O filme foi o primeiro a ter a sua première mundial na terra do Papa.

Fui assistir com o meu sobrinho de doze anos. Não sei se ele chegou a gostar do filme e fiquei até surpreso quando apareceram os Reis Magos e ele os reconheceu. Já sabia da história, então. Os Reis Magos representam o lado cômico do filme. Bom, ao menos, eles tentam soar engraçados. Eles são apresentados como sujeitos simpáticos e que sempre ficam tirando brincadeiras um com o outro. Eu sempre achei muito curiosa essa participação de magos na história do nascimento de Jesus, tendo em vista a Lei de Moisés e o Cristianismo não verem com bons olhos a magia e a astrologia. Não deixa de ser uma irônica contradição. No mais, o filme pode ser visto como uma dessas sessões da tarde que dão sono, com poucas novidades a oferecer e quase nenhum momento realmente emocionante, apesar da música tentar forçar isso.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA



A primeira vez que ouvi falar em João César Monteiro (falecido em 2003) foi quando eu li uma absurda nota sobre BRANCA DE NEVE (2000). Nesse filme, Monteiro cobriu as lentes com um pano e o resultado é um filme todo em tela preta. Exceto por algumas cenas, na maior parte do filme, só se ouve as vozes dos atores. Isso me chamou muito a atenção e imagino que deve ser um tanto incômodo ver esse filme. Depois, Iñarritú faria algo parecido em seu segmento para 11 DE SETEMBRO, mas como se tratava apenas de alguns minutos, não cheguei a ficar tão incomodado. Em 2004, foi exibida em São Paulo uma mostra integral com os 21 filmes do cineasta. Talvez tenha sido o período de maior visibilidade dos filmes de Monteiro no Brasil. Até hoje seus filmes são raros por aqui, inéditos em DVD e no circuito comercial também - creio eu.

RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA (1989) foi o filme que apresentou ao mundo o personagem João de Deus, interpretado pelo próprio João César Monteiro. Quando o filme começa, ao som da voz de Monteiro comentando sobre a expressão "casa amarela", e de como o termo era usado para descrever as prisões onde se deixavam os negros, a impressão que eu tinha do filme é que se tratava de um drama lírico e melancólico. Pode até haver um pouco disso, mas no geral o filme é uma comédia onde se é possível até rir de algumas situações. Quando João de Deus vai ao médico descrever os seus problemas de saúde, o filme lembra CARO DIÁRIO, de Nanni Moretti. Esse primeiro ato ratifica a impressão que se tem de que Portugal é um país de velhos. Depois, quando o filme passa a focalizar a atenção na obsessão de João de Deus pela "Menina Julieta" (Teresa Calado) essa impressão - de Moretti português - se dissipa. Inclusive, a cena em que ele bebe a água do banho da "Menina Julieta" e idolatra um de seus pentelhos lembra um pouco as pornochanchadas brasileiras das décadas de 70 e 80. No terceiro ato, o filme já adquire outros ares e começa a se utilizar de auto-referências que deixaram a mim, um espectador leigo na obra de Monteiro, sem entender muita coisa. A partir do momento em que João de Deus aparece vestido de oficial de polícia, o humor do filme se fecha para as platéias estrangeiras e para aqueles que desconhecem a obra de Monteiro. Esse terceiro ato destoa dos demais até pela pouca utilização de voz em off e pelos poucos diálogos.

RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA é o primeiro de uma trilogia que se completa com A COMÉDIA DE DEUS (1995) e AS BODAS DE DEUS (1999). Interessante saber que em A COMÉDIA DE DEUS, há um personagem que se chama Antoine Doinel, claramente uma homenagem ao ilustre herói de Truffaut. Há uma espécie de "namoro" de Monteiro com a Nouvelle Vague e com os críticos dos Cahiers du Cinéma. Namoro esse que se estende a homenagens e participações especiais de críticos da revista. Uma das principais auto-referências do filme está na participação de Luís Miguel Cintra, ator-fetiche do cineasta desde QUEM ESPERA POR SAPATOS DE DEFUNTO MORRE DESCALÇO (1970). Em RECORDAÇÕES DA CASA AMARELA, quando Luís Miguel Cintra aparece pela primeira vez, há toda uma brincadeira em torno dos inúmeros personagens que ele interpretou nos filmes de Monteiro. Essa cena deve ser particularmente interessante para quem conhece um pouco mais a fundo a obra de Monteiro. Quem não conhece, como eu, fica boiando.

Agradecimentos especiais ao amigo Marcos Felipe, que muito gentilmente me emprestou o DVD, me dando a oportunidade de entrar em contato com a obra do meu "primo".

terça-feira, dezembro 12, 2006

ÁRIDO MOVIE



Depois de quase dez anos de sua estréia na direção de longas com BAILE PERFUMADO (1997), Lírio Ferreira chega ao seu segundo longa atirando para todos os lados e fazendo um cinema chapado de maconha. Maconha é o que não falta em ÁRIDO MOVIE (2005). Desde a educativa cena de Selton Mello ensinando como se faz um bom baseado, passando pelo êxtase dos amigos ao encontrar uma plantação de canabis até as discussões sobre a legalização, a maconha é o centro do filme. Ou um dos centros, porque o filme não tem bem um centro, é meio solto.

O protagonista é Jonas (Guilherme Weber), sujeito que nasceu no interior de Pernambuco, mas que hoje mora em São Paulo e apresenta a metereologia no telejornal de uma grande rede de TV. Ele fica sabendo da morte de seu pai (Paulo César Pereio), assassinado depois de sair de uma festa com uma moça. Assim, ele parte para a cidadezinha dominada pela seca. No meio do caminho, ele recebe carona de uma videomaker (Giulia Gam), que está indo ao local para conhecer um velho guru com idéias mirabolantes que envolvem outros planetas. Ao chegar lá, a matriarca cobra de Jonas uma vingança aos autores do assassinato de seu pai. Em direção à cidade, os três amigos maconheiros de Jonas.

ÁRIDO MOVIE pode não ser bem sucedido e ter um desenvolvimento pouco satisfatório quando se aproxima do final, mas ainda assim, pra mim foi um prazer assistí-lo. Talvez pelo fato de eu me sentir também meio estrangeiro nos lugares. De certa maneira, o filme dialoga com títulos recentes como BRASÍLIA 18%, de Nelson Pereira dos Santos, e O CÉU DE SUELY, de Karim Aïnouz. São filmes totalmente diferentes, claro, mas os três têm um ponto em comum: a pessoa que retorna à sua cidade natal e se sente um estrangeiro no lugar.

Também gosto da mistura de tradição e modernidade que Lírio Ferreira coloca em seus filmes - a começar pelo próprio título. Se na época de BAILE PERFUMADO, o mangue beat de Chico Science estava no auge, no novo filme ele aproveita para colocar uma canção do Mombojó, talvez a melhor banda pernambucana da atualidade. Além do mais, o filme começa com um show dos Renato e Seus Blue Caps num inferninho local e a trilha sonora é do Otto. A música é um elemento muito importante e isso traz uma vitalidade muito grande para o filme.

ÁRIDO MOVIE ainda tem a vantagem de trazer um elenco de peso. Além dos já citados intérpretes, o filme ainda conta com as presenças de Gustavo Falcão, Mariana Lima, José Dumont (excelente, como sempre), Suyane Moreira, Luiz Carlos Vasconcelos, Aramis Trindade, Matheus Nachtergaele, Renata Sorrah, José Celso Martinez Corrêa e participação especial de Xico Sá. Com um elenco desses, até se o filme fosse ruim, ainda valeria uma espiada.

segunda-feira, dezembro 11, 2006

ADRENALINA (Crank)



Acho que eu nunca saí do cinema com tanta vontade de correr, pular ou dançar quanto no último sábado, depois da sessão de ADRENALINA (2006), thriller de ação non-stop totalmente demente. É o filme que pode colocar Jason Statham no rol dos grandes heróis dos filmes de ação. Para confirmar isso, basta ele começar a fazer filmes mais sérios também. Na trama de ADRENALINA, Statham é um assassino de aluguel que é envenenado pela máfia. Em suas veias está um composto sintético chinês que o mata aos poucos. A única chance de adiar a sua morte é elevando a adrenalina ao máximo. Assim, ele procura as mais variadas formas de manter o coração pulsando aceleradamente. Cheira cocaína, injeta adrenalina artificial, arranja briga com gângsters, transa em público, entra com carro e tudo dentro do shopping, entre outras coisas. A ação do filme é praticamente ininterrupta com pouquíssimas pausas para respirar. ADRENALINA apresenta os noventa minutos mais alucinados que eu já vi, até mais que os filmes das Panteras do McG. Talvez o único filme recente que se aproxima de ADRENALINA seja NO RASTRO DA BALA, de Wayne Kramer.

Há violência gráfica mas ela é cartunesca, não chega a chocar a audiência. Ao contrário, tudo é muito engraçado e divertido. Os diretores, os estreantes Mark Neveldine e Brian Taylor, utilizam os mais diversos recursos para tornar o seu filme ágil, como se fosse uma versão simplificada e mais próxima dos videogames de CORRA, LOLA, CORRA. Pode-se dizer que o filme também é derivado do estilo elétrico de seriados como 24 HORAS e PRISON BREAK, que lidam com prazos absurdos a cumprir. Entre os inúmeros recursos utilizados, há a propaganda explícita do Google Earth, a câmera subjetiva, os caracteres escritos na tela estilo Tarantino, variações de velocidade de câmera e de textura na fotografia. A presença de Amy Smart como a namorada de Statham é um dos destaques do filme, principalmente na cena dos dois fazendo sexo em praça pública ou na cena do blowjob dentro do carro.

Claro que não faltam detratores para o filme. Quem não curte o senso de humor do filme e acha que cinema é só roteiro, com certeza vai odiar ADRENALINA. Neveldine e Taylor em nenhum momento tentam disfarçar o fato de que aquilo ali é um filme B de ação que não se leva muito a sério. O humor negro faz piada até com os árabes, como na cena em que Statham toma o veículo de um taxista e o joga para a multidão furiosa dizendo que ele é do Al-Kaeda. Pra completar, depois de tanta ação e diversão, o final não decepciona.

Depois dessa descarga de energia, quando saí do cinema, estava pronto pra fazer qualquer outra coisa. Mas como estava sozinho e sem destino, acabei vendo um segundo filme no Dragão do Mar, não sem antes passar na locadora para alugar uns DVDs de SEINFELD, comprar as mais recentes edições de Demolidor e Marvel Max e comer pastel com Coca-cola.

P.S.: Não deixem de ler o divertido texto que o Diogenes escreveu para o filme em seu blog.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

PEQUENA MISS SUNSHINE (Little Miss Sunshine)



Vejam como eu sou desligado. Só agora que eu soube que o casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, realizadores de PEQUENA MISS SUNSHINE (2006), são os diretores dos videoclipes de "1979", "Perfect" e "Tonight, Tonight", da minha banda do coração Smashing Pumpkins. Eu adoro esses videos. Sempre que os assisto, me emociono. Principalmente o de "1979", que tem aquela parte dos rolos de papel higiênico em cima da árvore que eu adoro. (A propósito, quem quiser saber a lista dos vídeos dirigidos pelo casal, tem no wikipedia.) Se eu soubesse disso a tempo, teria ido ver PEQUENA MISS SUNSHINE com maior expectativa e talvez até tivesse saído do cinema um pouco frustrado. Felizmente isso não aconteceu. O filme provavelmente não vai estar no meu top 20 de 2006 - o final é bem parecido com o de UM GRANDE GAROTO, que eu gostei bem mais -, mas é com certeza muito simpático. É mais um filme independente que lida com a questão dos losers, um tema de especial importância para os americanos, tão obcecados pela perfeição, por serem os melhores sempre.

PEQUENA MISS SUNSHINE é uma espécie de road movie em chave de comédia que nos apresenta a família Hoover. Greg Kinnear é o chefe de família que desenvolveu métodos de auto-ajuda. Mas apesar de todo esse papo de guru de auto-ajuda, ele mesmo não consegue ser bem sucedido. Sua esposa é talvez a mais normal da família, a mais centrada e consciente. Em compensação, a atriz que interpreta a esposa é Toni Collette, que já tem um currículo de loser bem interessante (O CASAMENTO DE MURIEL, EM SEU LUGAR). Steve Carell mostrou que não é apenas um ótimo comediante, mas também um bom ator dramático no papel do cunhado gay especialista em Proust que tentou suicídio. Alan Arkin é o avô da família que foi expulso de uma casa de repouso por causa do vício em heroína. O filho mais velho sonha em ser piloto de aviões e por isso faz voto de silêncio, comunicando-se apenas através de papel e caneta. Completando, temos a pequena Abigail Breslin como a pequena Olive, uma garotinha que usa óculos enormes e detentora de uma "barriguinha". Ignorando as imperfeições, Olive vibra de alegria quando é escolhida para participar de um concurso de beleza infantil, o Miss Sunshine. Para dar força à menina, todos resolvem pegar a estrada numa velha kombi amarela. Durante o trajeto, uma série de decepções vai acontecendo.

A graça do filme está em mostrar a família unida, apesar de todos os percalços, e de dar um "foda-se" aos bons modos e à perfeição que a sociedade tanto exige. Difícil não ficar emocionado com o final, que ganha força com a música do quarteto DeVotchKa. Interessante como ver uma ou mais pessoas dando uma força a quem precisa me emociona. Aconteceu no já citado UM GRANDE GAROTO, aconteceu num de meus filmes preferidos, SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS. A vida pode estar uma merda, mas só em ter o apoio da família, dos amigos, da namorada ou esposa ou de quem quer que seja, as coisas ganham um pouco de sentido. E sentimos no ar aquele misto de alegria e de tristeza, que não deixa de ser um sentimento muito bem vindo.

PEQUENA MISS SUNSHINE lidera a lista de candidados ao Independent Spirit Awards e tem chances de receber várias indicações ao Oscar 2007. Pena que a fama de loser se estendeu até nas bilheterias daqui. O filme só durou uma única semana em cartaz em Fortaleza. Pode ser que volte às telas se receber indicações nas categorias mais importantes do Oscar.

P.S.: Já está no ar a terceira edição da Revista Zingu! Os caras não brincam em serviço. O grande destaque dessa vez é o dossiê Ivan Cardoso.

quinta-feira, dezembro 07, 2006

MASTERS OF HORROR: PELTS



Não vi os dois últimos filmes de Dario Argento produzidos na Itália - JOGADOR MISTERIOSO (2004) e TI PIACE HITCHCOCK? (2005) -, mas ao menos estou acompanhando as contribuições do cineasta para a antologia MASTERS OF HORROR. Talvez por não serem escritos pelo próprio Argento os mini-filmes JENIFER (2005) e PELTS (2006) dão a impressão de que são menos "argentianos" do que seus trabalhos na Europa. Ao contrário do que fez John Carpenter em PRO-LIFE, Argento não lotou seu trabalho com auto-referências. Quer dizer, pode até ter colocado algumas, mas nada tão explícito.

PELTS disputa o segundo lugar da minha preferência, ao lado de FAMILY, de John Landis, entre os episódios dessa segunda temporada de MASTERS OF HORROR. Como em JENIFER, o novo filme tem muito sangue e nudez. Eu diria que o filme é tão ou mais paudurescente que JENIFER. O fato de a mulher não ter uma cara monstruosa ajuda um pouco a PELTS ganhar a parada. A atriz que interpreta a exótica stripper (Ellen Ewusie) é gostossíssima e com um sex appeal fenomenal. Ela é desejada por um homem que trabalha com peles de animais (Meat Loaf Aday). Ele freqüenta habitualmente um top less bar para assistir ao show de lap dancing da moça. De vez em quando ele tenta agarrá-la para fazer sexo anal, mas ela nunca deixa. Pura provocação. O terror entra em cena quando dois caçadores de guaxinim morrem misteriosa e sangrentamente depois de terem matado vários guaxinins. O contato com a pele dos bichos desperta instintos assassinos e suicidas nas pessoas. Entre as cenas que arrancam o nosso "puta que pariu" interior estão a cena do rosto decepado e a cena das agulhas. Perturbador, hein!

Além do excelente timing, das cenas de nudez e do gore, PELTS ainda tem ao seu lado a originalidade do tema. O filme foi baseado num conto de F. Paul Wilson. É também uma ótima fábula de terror que agradará aqueles que condenam a matança de animais para a confecção de casacos de pele. Tem uma personagem no filme que pode lembrar uma das bruxas dos filmes sobrenaturais de Argento - SUSPIRIA (1977), A MANSÃO DO INFERNO (1980) e o novíssimo, e ainda em produção, LA TERZA MADRE.

O próximo episódio da série é novamente de um grande diretor: THE SCREWFLY SOLUTION (2006), de Joe Dante, sobre um vírus que assola a população masculina dos Estados Unidos, os transformando em psicopatas assassinos. Gostei da premissa.

P.S.: Está no ar a nova coluna. Dessa vez eu destaco os lamentáveis falecimentos ligados ao mundo do cinema.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

TRÊS HOMENS EM CONFLITO (Il Buono, il Brutto, il Cattivo / The Good, the Bad and the Ugly)



A primeira vez que vi TRÊS HOMENS EM CONFLITO (1966) foi numa Sessão de Gala da Globo. Na época, eu não era exatamente um apreciador de westerns. Era um gênero que não me atraía. Existia até uma sessão na tarde de sábado, dedicada ao gênero, mas eu não assistia. Mas foi só eu botar os olhos nesse filme do Leone que eu não consegui largar mais. O filme tinha mais de duas horas e meia de duração, mas passou tão rápido que era como se tivesse apenas 90 minutos. Lembro que a minha mãe estava trabalhando numa máquina de costura na sala e acompanhou o filme também. Por isso que sempre disse e continuo dizendo que TRÊS HOMENS EM CONFLITO é o melhor filme de Leone e, conseqüentemente, o melhor western spaghetti já feito. E olha que mais recentemente eu cheguei a ver filmes maravilhosos como O VINGADOR SILENCIOSO, de Sergio Corbucci, e UMA BALA PARA O GENERAL, de Damiano Damiani. Mas é só o conhecidíssimo tema composto por Ennio Morricone começar a tocar e os créditos se iniciarem que qualquer dúvida que possa existir cai por terra.

Uma coisa que eu reparei revendo o filme (pela primeira vez na janela correta) foi que ele - mais do que eu imaginava - se assemelha muito a ERA UMA VEZ NO OESTE (1968). Tanto pelo andamento, que já se aproximava de uma maior lentidão, quanto pela estilização sofisticada. Com TRÊS HOMENS EM CONFLITO, Leone demonstrou o seu lado mais ambicioso. Foi só botarem mais dinheiro pro homem gastar que ele logo tratou de colocar seus anti-heróis no cenário da Guerra Civil, coisa que não era possível fazer nos primeiros filmes, que contavam com um orçamento bem mais modesto. Principalmente o primeiro da trilogia dos dólares - POR UM PUNHADO DE DÓLARES (1964), quase uma produção de fundo de quintal. Em TRÊS HOMENS EM CONFLITO, a locação na Espanha ficou bastante convincente como os Estados Unidos do século XIX. Claro que Leone não ia sossegar se não filmasse em território americano, coisa que aconteceria em ERA UMA VEZ NO OESTE.

A presença brilhante de Clint Eastwood como um andarilho caçador de recompensas é mais do que se poderia desejar de um astro. Antes de partir para a Itália e fazer esses faroestes, Clint havia feito relativo sucesso na televisão americana com a série RAWHIDE (1959-1965). Inclusive, é possível ver um episódio dessa série na edição especial em DVD de OS IMPERDOÁVEIS. A partir de A MARCA DA FORCA (1967) é que ele entraria com força total no cinema americano. Em TRÊS HOMENS EM CONFLITO, ele é "o bom". Quer dizer, ele não chega a ser bonzinho. Ele deixa o coitado do seu então parceiro, "o feio" Tuco (Eli Wallach), no meio do deserto, sem cavalo e sem água, simplesmente porque cansou da parceria. A sociedade dos dois consistia no "velho truque" da forca. Ele capturava o bandido, recebia o dinheiro da recompensa e na hora do enforcamento, ele salvava o condenado. Mas o principal eixo da trama gira em torno de uma grande quantia em dinheiro escondida no túmulo de um cemitério. O ápice do filme é o antológico duelo dos três homens no cemitério. Lee Van Cleef completa a trinca como o "mau". Digno de nota é a forte expressividade do rosto de Van Cleef. Ele parece uma raposa e funciona perfeitamente como vilão. Depois que Clint foi fazer sucesso nos EUA, Van Cleef ainda trabalhou muito na Europa, tendo protagonizado, por exemplo, a série "Sabata". Os rostos de Clint Eastwood e Lee Van Cleef são perfeitos para os closes tão peculiares de Leone. Interessante que Leone ofereceu tanto o papel de Wallach quanto o de Van Cleef para Charles Bronson mas o astro não aceitou.

Outro detalhe interessante e que aproxima esse filme de Leone ao cinema de Alejandro Jodorowsky é a opção por mostrar corpos imperfeitos, como na cena do homem sem pernas que entra no bar, ou do detalhe do dedo amputado de um pistoleiro. Ainda assim, há espaço para a elegância do casaco que Clint usa em boa parte do filme. Casaco esse que foi muitas vezes questionado como elemento fora do contexto do oeste americano. Mas Leone dizia que esse casaco foi mesmo usado pelos americanos da época, tanto que colocou de novo pistoleiros de casaco no filme seguinte.

A presença em cena de Eli Wallach, nessa versão estendida, parece ter aumentado consideravelmente. Tenho a impressão de que ele aparece tanto quanto Clint Eastwood, muitas vezes roubando a cena como o bandoleiro mexicano. Seu personagem é até bastante simpático. Ele seria o equivalente ao personagem de Jason Robards em ERA UMA VEZ NO OESTE. Engraçado que num dos trailers presentes nos extras, ele é apresentado como "o mau" e não como "o feio", algo que me deixou bastante confuso. Deve ter sido erro dos responsáveis pelo trailer. Wallach foi contratado por Leone por causa de seu papel em A CONQUISTA DO OESTE.

Pena que a edição especial em DVD da MGM não apresente legendas nos extras. Por isso, nem tive vontade de conferir o comentário em áudio do historiador Richard Schickel. Mas vi os pequenos documentários presentes no disco 2, ainda que não sejam tão caprichados quanto os do DVD de ERA UMA VEZ NO OESTE, da Paramount. Tenho vontade de adquirir também o DVD duplo lançado pela Warner de ERA UMA VEZ NA AMÉRICA (1984) para rever decentemente. E continuo sem ter visto MEU NOME É NINGUÉM (1973), que Leone dirigiu em parceria com Tonino Valerii.

P.S.: Existe uma versão em DVD desse filme lançado pela Continental com o título O BOM, O MAL (sic) E O FEIO. Besta é quem compra essa porcaria.

P.P.S: Falando em DVD de western, vi hoje na banca uma suposta edição especial de A FACE OCULTA, do Marlon Brando. Achei o preço bem salgado pra um DVD vendido em banca: 29,90. Alguém sabe da qualidade do material?

terça-feira, dezembro 05, 2006

UM BOM ANO (A Good Year)



Sabemos que o dia-a-dia nas grandes cidades é altamente nocivo para a nossa saúde, física e espiritual. Mesmo assim, eu não tenho a mínima vontade de morar num lugar afastado, no interior, talvez porque eu ia perder a chance de ver filmes no cinema. Tirando esse pequeno (e importante) detalhe, tem dias que me dá muita vontade de acordar num lugar mais tranqüilo, respirar um ar puro, livrar-me um pouco de minha paranóia e ansiedade crescentes, poder caminhar ao contato com a natureza. De preferência, claro, sem um sol tão agressivo quanto o do sertão cearense ou de Fortaleza. Aqui no Ceará, a boa pedida seriam as regiões serranas, de clima mais ameno.

Filmes como SOB O SOL DE TOSCANA, com a Diane Lane, e UM BOM ANO (2006), de Ridley Scott, são exemplos de filmes-aviso ou filmes-conselho. Eles existem para - entre outras coisas - nos mostrar o quanto devemos valorizar as coisas simples da vida e escolher sempre o melhor pra gente. São filmes que valorizam o bucólico. Esses dois filmes são também devedores do cinema europeu. Se SOB O SOL DE TOSCANA homenageava Fellini, o filme de Ridley Scoot presta tributo ao cinema de Jacques Tati.

UM BOM ANO é também a prova de que Ridley Scott, quando longe dos filmes de ação, volta a fazer bons filmes. Por isso que prefiro os dramas de Scott - OS VIGARISTAS (2003), THELMA & LOUISE (1991), TORMENTA (1996), OS DUELISTAS (1977). Ele tem a mão boa para dramas e deveria se ater mais ao gênero do que ficar contribuindo para a venda de analgésicos nas farmácias, quando faz coisas como GLADIADOR (2000) ou FALCÃO NEGRO EM PERIGO (2001).

Em UM BOM ANO, Russell Crowe - sempre um ótimo ator e que estará novamente com Scott em seu próximo trabalho, AMERICAN GANGSTER (2007) - é um executivo inescrupuloso e cínico, que leva uma vida onde o ganhar dinheiro é a principal meta. Ele abandonou até a única pessoa de quem ele realmente gostava: o seu tio (Albert Finney). É quando ele recebe uma carta avisando da morte do tio. Ele começa então a recordar dos momentos felizes que passou na infância com o tio numa fazenda-vinícola em Provence, na Riviera Francesa. Como ele é o único herdeiro do tio, ele faz uma viagem para lá, com o principal objetivo de vender o lugar. Mas, como era de se esperar, seus planos sofrerão uma mudança e o lugar e as pessoas dali serão de fundamental importância para a construção de uma nova pessoa.

Interessante que não há, no filme, a intenção de causar grandes surpresas. Tudo acontece naturalmente. A aparição das duas belas mulheres na trama (Marion Cottillard e Abbie Cornish) não tem um impacto tão perturbador ou intoxicante, como poderia causar. Quando Russell Crowe diz estar apaixonado, ele fala isso com serenidade, sem medos e perturbações. O clima do lugar tem essa magia que transforma positivamente aqueles que lá estão. Um dos momentos mais belos do filme é quando Crowe está jantando com Archie Panjabi num restaurante à noite. Ao fundo, vemos um telão com cenas de filmes de Jacques Tati. De repente, começa a chover. Chuva, cinema, mulher bonita, promessa de felicidade e um bom vinho. O que mais se pode querer da vida?

segunda-feira, dezembro 04, 2006

O LABIRINTO DO FAUNO (El Laberinto del Fauno / Pan's Labyrinth)



Simplesmente fantástico O LABIRINTO DO FAUNO (2006), o filme que pode ser facilmente considerado a obra-prima de Guillermo Del Toro. Jamais imaginei que fosse gostar tanto desse filme, já que, até então, o único filme do diretor que eu tinha gostado de verdade havia sido CRONOS (1993), a sua estréia na direção de longas-metragens. A ESPINHA DO DIABO (2001), eu vi com muito sono e não sei dizer se isso foi culpa do filme ou do meu corpo cansado. Felizmente, o novo filme de Del Toro é tão empolgante que o extremo contraste entre o mundo real e o mundo fantasioso está longe de ser uma mistura indigesta. Ao contrário, o cenário violento da Guerra Civil Espanhola é capaz de deixar o nosso sangue intoxicado e pronto para encarar os piores desafios.

Para um filme que é vendido como uma fantasia protagonizada por uma criança, e povoada de criaturas estranhas, O LABIRINTO DO FAUNO subverte tudo isso com uma violência brutal que torna o filme mais próximo do cinema de horror do que do cinema de fantasia. Quer dizer, quem for ao cinema achando que vai ver um filme infantil vai quebrar a cara. E apesar de haver monstros horripilantes como o sapo gigante e a criatura com os olhos nas mãos (fantástico aquilo!), o maior de todos os monstros do filme é mesmo o terrível Capitão Vidal (Sergi López). O primeiro ato de violência desse homem pega a todos de surpresa. Ele esmaga a cabeça de um camponês de maneira parecida com a cena do extintor de incêndio em IRREVERSÍVEL, de Gaspar Noe.

Na trama, a menina Ofelia (Ivana Baquero) muda-se com a mãe grávida (Ariadna Gil) para uma velha casa numa área rural da Espanha na época da Guerra Civil. É lá que está instalada uma tropa chefiada pelo Capitão Vidal que tem o objetivo de capturar membros da resistência que se escondem na floresta. No meio do caminho, Ofelia avista uma espécie de louva-a-deus ou gafanhoto que, de tão estranho, ela imagina se tratar de uma fada. O bicho a segue até a sua nova casa e vai ser de grande importância para o encontro da menina com o Fauno que habita um labirinto próximo da casa. Além do Fauno, há outra personagem bastante importante para a trama: Mercedes (Maribel Verdú, de E SUA MÃE TAMBÉM), uma mulher que trabalha como assistente do Capitão Vidal, mas que oferece ajuda às escondidas a membros da resistência.

Entre os elementos recorrentes no cinema de Del Toro está a sua obsessão por insetos (escaravelhos, gafanhotos etc.) que se apresenta desde CRONOS, passando por suas incursões pelo cinema de Hollywood - MUTAÇÃO (1997), BLADE 2 (2002) e HELLBOY (2004). O interesse por criaturas monstruosas também não é novidade nos filmes de Del Toro. Porém, nunca esses elementos (e essas criaturas) se mostraram de uma maneira tão bem construída como em O LABIRINTO DO FAUNO. Na verdade, tenho dificuldade de encontrar palavras para descrever a excelência desse filme e o modo como ele mexeu comigo. Talvez parte disso se deva ao sentimento de medo que o filme provoca. Não há como escapar. Seja no mundo real, seja no mundo fantasioso, a ameaça sempre estará presente, nas suas mais diversas formas.

O LABIRINTO DO FAUNO foi comparado a um filme da década de 70, chamado O ESPÍRITO DA COLMÉIA, de Victor Erice. Fiquei bastante curioso para conferir esse também, embora acredite que seja difícil de encontrar.

sexta-feira, dezembro 01, 2006

MASTERS OF HORROR: JOHN CARPENTER'S PRO-LIFE



Até que enfim um filme que me animou e me entusiasmou de verdade nessa segunda temporada de MASTERS OF HORROR. John Carpenter bota pra arrebentar e consegue superar o já excelente CIGARETTE BURNS (2005). Seu PRO-LIFE (2006) tem elementos de O BEBÊ DE ROSEMARY, de Roman Polanski - a menina grávida do capeta - e de NASCE UM MONSTRO, de Larry Cohen, mas também vem com a já tradicional homenagem a RIO BRAVO, de Howard Hawks, como em ASSALTO À 13º D.P. (1976) e FANTASMAS DE MARTE (2001).

Contar a trama é estragar a delícia que é acompanhar as surpresas que o filme nos proporciona, portanto vou falar pouco do enredo. (Quem quiser, claro, pode pular para o próximo parágrafo.) O filme traz Ron Perlman (de HELLBOY) no papel de um homem capaz de intimidar uma cidadezinha. Sua filha (a bela Caitlin Wachs, conhecida de quem acompanhou a série COMMANDER IN CHIEF) está grávida e vai parar numa clínica de abortos, doida para se livrar de uma criança que ela diz ser filho de um demônio. Devido aos estranhos incidentes que acontecem durante a ultra-sonografia, o médico começa a acreditar na menina. Enquanto isso, o pai da garota tenta de tudo para entrar na clínica e salvar o bebê.

Uma das coisas que mais me deixou fascinado com o filme foi o modo como Carpenter teceu a trama, dando ao filme um clima de tensão e estranheza todo especial, ao mesmo tempo em que há uma linha tênue que separa o drama da comédia. Bem diferente do clima totalmente sombrio do filme anterior do diretor. O roteiro mais uma vez ficou a cargo da dupla Drew McWeeny e Scott Swan, que haviam trabalhado com Carpenter em CIGARETTE BURNS.

Já percebi, pesquisando sobre o filme na internet, que PRO-LIFE não foi uma unanimidade. O que as pessoas mais reclamaram foi do visual do demônio, de um certo descuido nos efeitos especiais em algumas cenas e do clima oitentista. Ora, essa é uma das razões pra eu ter gostado - e muito - do filme. Carpenter não teve medo de parecer ridículo ao mostrar um capeta monstruoso e chifrudo. O banho de sangue também aparece em toda sua glória, para alegria dos fãs do gênero. Talvez PRO-LIFE seja o filme mais violento da antologia, ao lado de IMPRINT, de Takashi Miike, e JENIFER, de Dario Argento. E olha que Carpenter evitou mostrar cenas mais explícitas em alguns momentos, como na cena em que Perlman realiza um "aborto" no dono da clínica. No filme, há também uma citação direta de O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (1982).

O próximo filme da série estréia hoje nos Estados Unidos e já é cotado como um dos melhores da antologia: PELTS, do mestre Argento. Eu aposto que é mesmo, já que Argento também está investindo no erotismo.

P.S.: A cópia que eu peguei de PRO-LIFE veio com uma incômoda falta de sincronia entre imagem e som. Alguém mais experimentou o mesmo? Acho que vou procurar outra cópia em melhor estado pra baixar. Alguma sugestão?