quarta-feira, fevereiro 28, 2007
BORAT - O SEGUNDO MELHOR REPÓRTER DO GLORIOSO PAÍS CAZAQUISTÃO VIAJA À AMÉRICA (Borat: Cultural Learnings of America for Make Benefit Glorious Nation of Kazakhstan)
Em vários momentos de BORAT (2006) eu fiquei admirado com a audácia com que o personagem título, interpretado por Sacha Baron Cohen, realiza algumas de suas piadas e pegadinhas. Tem coisas lá que lembram muito JACKASS - especialmente as cenas em que Borat pergunta onde deve colocar suas fezes ou na cena em que ele pega o amigo se masturbando vendo fotos de Pamela Anderson numa revista -, mas há uma qualidade toda particular nesse filme.
BORAT vai além de um mero filme com pegadinhas e momentos escatológicos. O seu conteúdo político acabou causando ainda mais polêmica. Inclusive, quem não sabe que Sacha Baron Cohen é judeu, ao ver o filme pode até imaginar que ele é mesmo anti-semita. Ele pega pesado com sua própria raça, brincando com um assunto bastante delicado. Recentemente tive a oportunidade de ler "O Complô - A História Secreta dos Sábios de Sião", de Will Eisner, e vi que o ódio que alguns povos nutrem pelos judeus vem de longa data. Tanto que o tal Protocolo foi inventado por um russo. Como o Cazaquistão fica vizinho da Rússia é possível que ainda haja uma forte "implicância" com o povo judeu por aqueles lados do globo.
Em BORAT, Sacha Baron Cohen é um cazaquistanês que é escolhido para viajar para os Estados Unidos e fazer uma reportagem sobre os costumes e os hábitos do povo americano. Ao chegar lá, assiste no quarto de hotel um episódio de BAYWATCH e fica apaixonado pela Pamela Anderson, querendo a todo custo chegar à Califórnia. Assim, o filme vai trazendo uma série de situações engraçadas e constrangedoras envolvendo Borat e as pessoas que ele vai encontrando pelo caminho. O formato do filme é o de um falso documentário (mockumentary) e na maioria das cenas, as pessoas com quem ele contracenava não sabiam que tipo de projeto se tratava. Inclusive, algumas dessas pessoas tentaram processar os produtores do filme sob a alegação de não saberem que o filme seria exibido nos Estados Unidos.
Do começo ao fim, Borat vai destruindo com a própria ignorância vários valores americanos, seja no terreno da religião (ele vai parar numa igreja evangélica), seja da política (destaque para a letra do hino do Cazaquistão cantada em cima do Hino Nacional dos EUA). Aqui no Brasil, para ajudar na adaptação dos diálogos do filme para o português, a turma do Pânico da RedeTV foi convidada. Eles ajudaram principalmente nas partes que trazem as várias expressões utilizadas por Borat, como "Get entry into her vazhïn", "Sexy time" e "Make a smell".
Estão falando numa continuação para BORAT, o que eu acho ótimo. Enquanto isso, dando uma olhada no IMDB nos próximos trabalhos de Sacha Baron Cohen, vi que foram anunciadas as comédias CURLY OXIDE AND VIC THRILL (com Tina Fey) e DINNNER FOR SCHMUCKS. Será que o ator consegue ser também engraçado na pele de outros personagens? Se isso acontecer, podemos estar testemunhando o surgimento de um novo gênio da comédia.
Ah, o filme foi dirigido por Larry Charles, o barbudo que se tornou conhecido graças aos ótimos roteiros que escreveu para a série SEINFELD.
terça-feira, fevereiro 27, 2007
HAPPY FEET - O PINGÜIM (Happy Feet)
Um dia antes de assistir a cerimônia do Oscar desse ano, pude assistir, via divx, o vencedor na categoria "melhor animação". Quando HAPPY FEET - O PINGÜIM (2006) estreou não me interessei muito, já que não sou muito atraído por desenhos musicais. Depois de ler uma série de comentários positivos a respeito do filme que fui começando a me interessar.
George Miller já havia demonstrado um incrível talento ao dirigir e/ou produzir filmes com animais nos ótimos BABE, O PORQUINHO ATRAPALHADO (1995) e sua continuação em tons sombrios BABE, O PORQUINHO ATRAPALHADO NA CIDADE (1998). Dessa vez, ele optou por um registro mais suave, infantil e com uma moral da estória mais apropriada para os nossos tempos, de preocupação com o meio ambiente. E talvez esse seja o principal problema do filme para os espectadores adultos.
A primeira meia hora é perfeita, focando principalmente na idéia do "seja você mesmo" e de mostrar as diferenças como algo positivo. Meio parecido com Babe, que era um porquinho que queria agir como um cão pastor. No caso do pingüim imperador do filme, ele não consegue cantar como os demais pingüins, mas tem uma incrível habilidade de sapatear e dançar. Uma habilidade que não é muito bem recebida pelos pingüins mais tradicionalistas, que veem isso como uma aberração. O filme vai mudando de tom e de mensagem à medida que o pingüim vai se afastando de sua comunidade e conhecendo novos horizontes. Ele conhece, por exemplo, um grupo de pingüins menores e mais expansivos, numa clara referência aos mexicanos.
No fim das contas, no terceiro ato, HAPPY FEET já parece outro filme, quando a mensagem ecologista vai ganhando cada vez mais espaço até se tornar o principal interesse. Inclusive, as premiações tanto para HAPPY FEET quanto para o documentário UMA VERDADE INCONVENIENTE, na festa do Oscar, foram bem coerentes.
O principal mérito do filme está em seu aspecto técnico, impecável. Há momentos em que a animação simula travellings e movimentos de câmera, como se houvesse mesmo toda uma equipe técnica de super-produção como gruas e todos esses equipamentos de grande porte. As cenas musicais também impressionam, mas a maioria das canções são versões de músicas conhecidas, como "If you leave me now", do Chicago, "Hello", de Lionel Ritchie, "Kiss", de Prince, "Golden Slumbers", dos Beatles, e "Somebody to Love", do Queen. Podem até reclamar de falta de originalidade e de chupar de MOULIN ROUGE, mas o resultado é sempre dos mais agradáveis.
Participam nas vozes dos pingüins: Elijah Wood, Brittany Murphy, Hugh Jackman, Nicole Kidman, Hugo Weaving e Robin Williamns, que dubla três personagens.
P.S.: Recebi ontem a nova Paisà. Os principais destaques do mês são a retrospectiva de 2006 e a entrevista com a Tata Amaral. Pena que o nojento do carteiro dobrou a revista no meio pra caber na caixinha do correio. Aí a minha revista ficou amassada, ficando ruim até de folhear. Mal chegou, a revista já está velha. Da próxima vez que esse indivíduo voltar lá em casa pra entregar alguma carta, jogo-lhe uma panela de água quente na cabeça pra ver se ele não faz de novo essa burrada.
segunda-feira, fevereiro 26, 2007
OSCAR 2007
Acompanhar a cerimônia do Oscar, eu faço desde 1989. Desde esse ano não perdi uma só vez e sempre acompanho até o fim, agüentando até quando o sono bate forte. Agora, com a internet, até que não sinto mais tanto sono, mas a cerimônia em geral esse ano foi um pouco chata. A mestre de cerimônias não foi das melhores, mas sua presença rendeu pelo menos um dos melhores momentos da noite, que foi quando ela pediu para Steven Spielberg tirar uma foto dela ao lado do Clint Eastwood. No mais, sua presença foi bastante sem graça. Inclusive, ao ver Jerry Seinfeld apresentando um prêmio e fazendo seu humor peculiar, ficou difícil não sonhar em vê-lo um dia apresentando o prêmio da Academia. Ele falou sobre a mania que os donos dos cinemas têm de querer que a gente recolha o lixo no final das sessões. O amigo Larry David também estava presente no auditório.
Falando em piada, uma das mais legais (ainda que com problema de timing) foi aquela envolvendo o Leonardo DiCaprio e o Al Gore, quando DiCaprio perguntou se Gore não queria aproveitar a ocasião para fazer um anúncio. A presença de Gore foi recebida com muito respeito pelos artistas - Kate Winslet, por exemplo, olhou com certa devoção para o quase Presidente da República. Como a maioria dos artistas de Hollywood são democratas, Al Gore se sentiu em casa.
A festa em si foi de valorização das minorias. Além de a própria apresentadora ser gay, o prêmio de melhor canção foi para "I Need to Wake Up", cantada por Melissa Etheridge, do filme ecologista de Gore. Melissa estava ao lado de sua esposa/namorada. Artistas latinos tiveram sua vez, graças a filmes como BABEL e O LABIRINTO DO FAUNO. Dois artistas negros receberam prêmios de interpretação: Forrest Whitaker, por O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA, e Jennifer Hudson, por DREAMGIRLS - EM BUSCA DE UM SONHO.
Aliás, não posso me esquecer de mencionar o quanto essa menina é irritante quando canta. Parece que, ao darem-lhe o Oscar, deram corda pra ela gritar ainda mais. Já a Beyonce, eu até que não me incomodaria se ela gritasse (de leve) nos meus ouvidos à noite, antes do sexo. ;) Beyonce era a mais linda da noite e fico sempre hipnotizado quando a vejo no palco. Já a Eva Green tá ficando feia, estranha, parecendo uma bruxa de filme infantil. Parece que sair da Europa não fez bem pra ela. Ou então foi a maquiagem pesada que estragou sua beleza.
Lindo mesmo foi a homenagem que fizeram ao Ennio Morricone. Pena que tudo foi por água abaixo quando colocaram a Celine Dion para cantar o tema de ERA UMA VEZ NA AMÉRICA. Fico imaginando o que deve ter passado pela cabeça do velho italiano nesse momento. Será que ele gostou da interpretação da Celine? Pouco provável. Também gostei da montagem com cenas de filmes estrangeiros ganhadores do Oscar. Essas montagens são geralmete pontos altos da premiação, junto com a homenagem aos mortos do último ano.
No mais, Oscar sem Jack Nicholson gargalhando lá na frente não é Oscar. E dessa vez não foi diferente. O diferente foi vê-lo careca. Não sei por qual razão. E a premiação para OS INFILTRADOS foi ok, talvez a mais razoável entre os cinco indicados. O meu favorito era CARTAS DE IWO JIMA, mas estava torcendo mesmo para o Martin Scorsese, pra acabarem logo com essa situação incômoda de ele não ter ganhado nenhum Oscar de uma vez. Nem mesmo ele estava agüentando essa cobrança dos fãs, conforme falou no discurso de agradecimento. Só achei uma pena ele ter ganhado por um filme que não representa o seu melhor, já que ele tem tantos filmes melhores no currículo.
Os premiados da noite:
Melhor Filme: OS INFILTRADOS
Melhor Direção: Martin Scorsese, por OS INFILTRADOS
Melhor Ator: Forest Whitaker, por O ÚLTIMO REI DA ESCÓCIA
Melhor Ator Coadjuvante: Alan Arkin, por PEQUENA MISS SUNSHINE
Melhor Atriz: Helen Mirren, por A RAINHA
Melhor Atriz Coadjuvante: Jennifer Hudson, por DREAMGIRLS - EM BUSCA DE UM SONHO
Melhor Roteiro Original: PEQUENA MISS SUNSHINE
Melhor Roteiro Adaptado: OS INFILTRADOS
Melhor Montagem: OS INFILTRADOS
Melhor Fotografia: O LABIRINTO DO FAUNO
Melhor Direção de Arte: O LABIRINTO DO FAUNO
Melhor Figurino: MARIA ANTONIETA
Melhor Maquiagem: O LABIRINTO DO FAUNO
Melhores Efeitos Visuais: PIRATAS DO CARIBE: O BAÚ DA MORTE
Melhor Som: DREAMGIRLS - EM BUSCA DE UM SONHO
Melhor Edição de Som: CARTAS DE IWO JIMA
Melhor Trilha Sonora Original: BABEL
Melhor Canção Original: "I Need to Wake Up", de UMA VERDADE INCONVENIENTE
Melhor Filme de Animação: HAPPY FEET: O PINGÜIM
Melhor Filme Estrangeiro: A VIDA DOS OUTROS (Alemanha)
Melhor Documentário: UMA VERDADE INCONVENIENTE
Melhor Documentário em Curta-Metragem: THE BLOOD OF YINGZHOU DISTRICT
Melhor Curta-Metragem: WEST BANK STORY
Melhor Curta de Animação: THE DANISH POET
sexta-feira, fevereiro 23, 2007
PAIXÃO DE FORTES / PAIXÃO DOS FORTES (My Darling Clementine)
Ontem tive o prazer de conferir um dos mais festejados trabalhos de John Ford. PAIXÃO DOS FORTES (1946) - ou PAIXÃO DE FORTES, como saiu em DVD pela Fox - é um desses filmes que beiram à perfeição, tendo momentos de pura poesia e desempenhos brilhantes dos dois atores principais, Henry Fonda, no papel de Wyatt Earp, e Victor Mature, como Doc Holliday. Os dois personagens são duas lendas americanas e o momento crucial do filme é justamente o famoso tiroteio em Ok Corral.
O filme de Ford não tem nenhum compromisso com a verdade e traz várias modificações na história dessas duas lendas. Na vida real, Old Man Clanton, o homem que lutou contra Earp e Holliday, morreu várias semanas antes do tal tiroteio. Não lembro como Lawrence Kasdan contou essa história em seu ótimo WYATT EARP, mas provavelmente deve se aproximar mais do que realmente aconteceu. PAIXÃO DE FORTES nos apresenta Earp (Henry Fonda) como um caubói que, à procura de um lugar para suas vacas descansarem, vai parar na cidade de Tombstone, Arizona. Mal sabia ele que, ao parar naquela cidade, seu rebanho seria roubado e seu irmão seria assassinado. Sem ter muito o que fazer e já tendo experiência como xerife em outra cidade, ele aceita o emprego de xerife de Tombstone, depois de ter demonstrado força e coragem ao dar de cara com um índio bêbado e violento num saloon. Em Tombstone, ele conhece o famoso Doc Holliday (Victor Mature), um médico que se tornou um temido pistoleiro. Surge um triângulo amoroso quando chega na cidade Clementine (Cathy Downs), um antigo amor de Holliday que de imediato balança o coração de Earp.
Se o filme já se mostrava vigoroso nos seus quarenta minutos iniciais, o surgimento de Clementine o torna carregado de poesia. O que dizer da cena em que Doc Holliday tenta explicar para Clementine que ele não é mais o mesmo homem?, ou quando Wyatt Earp caminha ao lado dela enquanto vão para uma festa na igreja semi-construída? PAIXÃO DE FORTES é um western que tem um andamento calmo e contemplativo e, ao mesmo tempo, um pouco sombrio. Foi o primeiro filme em que Ford utilizou cenas que não acrescentam nada ao enredo, como aquela em que Fonda balança-se na cadeira, com o pé encostado a um poste.
A presença de Victor Mature no papel de Doc Holliday foi escolha do produtor Darryl Zanuck. Ford preferia um ator mais magro para o papel, como Douglas Fairbanks Jr. ou Vincent Price, mas não conseguiu convencer Zanuck. Mesmo assim, o aspecto de homem forte de Mature não chegou a atrapalhar o fato de o seu personagem estar com tuberculose e em processo auto-destrutivo. Quanto a Henry Fonda, o cara é fantástico e personifica o homem de bem como ninguém. Não foi à toa que Sergio Leone, quando o escolheu para interpretar o grande vilão de ERA UMA VEZ NO OESTE, surpreendeu a todos com sua escolha.
PAIXÃO DE FORTES foi o segundo filme de Ford depois de ele ter voltado da guerra. O primeiro - FOMOS OS SACRIFICADOS (1945), produzido também por Zanuck e totalmente ligado ao conflito - continua inédito em vídeo no Brasil. PAIXÃO DE FORTES é um remake de A LEI DA FRONTEIRA (1939), do pioneiro diretor Allan Dwan. Curiosamente, o ator que faz o índio bêbado é o mesmo nos dois filmes.
quinta-feira, fevereiro 22, 2007
FILHOS DA ESPERANÇA (Children of Men)
Continuo com o tempo bastante limitado devido ao trabalho. E como não sou o único a comentar sobre esse repentino aumento da carga de trabalho, a impressão que eu tenho é que está acontecendo uma espécie de mudança operada pelos astros na rotina de todo mundo. Tomara que essa mudança não atrapalhe a manutenção da regularidade com que escrevo para o blog. Na verdade, já está atrapalhando, mas estou insistindo em manter esse espaço aos trancos e barrancos. Portanto, não reclamem muito da qualidade dos textos. Sei que há tempos estou devendo um texto mais inspirado, mas infelizmente não está sendo possível. Bom, o filme.
Só nesse último final de semana de Carnaval que entrou nos cinemas da cidade FILHOS DA ESPERANÇA (2006), de Alfonso Cuarón, em cartaz em São Paulo desde o final do ano passado. É um filme que me despertou a atenção desde a primeira vez que vi o trailer. Interessei-me tanto pela habilidosa direção de Cuarón, quanto pela temática futurista. Em seu curto segmento para o filme em episódios PARIS, EU TE AMO (2006), Cuarón já havia demonstrado o seu amor pelo plano-seqüência. A tendência - ao que parece - é que nos próximos filme, Cuarón consiga aliar essa sua evidente habilidade com a câmera ao bom andamento narrativo, que sofre um pouco de irregularidade nesse novo filme.
Até poderia arriscar e dizer que FILHOS DA ESPERANÇA é o ALPHAVILLE de Cuarón. Em vários momentos, o filme lembra a ficção-científica-cabeça de Godard. Só que Cuarón dispõe de muito mais dinheiro para usar muito bem em seqüências que se passam numa Londres no mais completo caos. Há muitas explosões e tiroteios, muitos figurantes, além dos equipamentos futuristas. Fazer filme em Hollywood tem das suas vantagens. Auxiliando Cuarón, o diretor de fotografia mexicano Emmanuel Lubezki, que tem em seu currículo obras brilhantes como O NOVO MUNDO (2005), de Terrence Malick, e A LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (1999), de Tim Burton, além dos filmes dirigidos pelo amigo Cuarón. Seu cuidado visual se manifesta numa fotografia que enche os olhos.
A estória se passa na Inglaterra do ano de 2027, quando praticamente todas as nações já sucumbiram com guerras, ataques terroristas e outras catástrofes. Mas o pior de todos os males é o fato de as mulheres terem perdido a capacidade de gerar filhos. O ser humano mais jovem do mundo é um rapaz de 18 anos, cuja notícia da morte logo no começo do filme é recebida com comoção por toda a população. Tudo leva a crer que a humanidade está se aproximando do fim. É nesse cenário que acompanhamos a jornada de Theo Faron (Clive Owen) na tentativa de salvar uma jovem grávida. Em papéis menores, mas brilhando a cada vez que aparecem, Julianne Moore e Michael Caine. Pena que eles aparecem bem menos do que eu gostaria.
FILHOS DA ESPERANÇA é o tipo de filme que aborrece em alguns momentos, mas que tem algumas cenas simplesmente de cair o queixo. A minha preferida é aquela em que Clive Owen está com um grupo numa van e eles são atacados por terroristas. Essa cena é capaz de tirar palavrões da boca de puritanos. Torço pela evolução de Cuarón dentro e fora de Hollywood. Quem sabe um dia ele consegue fazer uma obra-prima, como o seu amigo Guillermo Del Toro fez recentemente com o seu O LABIRINTO DO FAUNO.
Top 5 Cuarón:
1. E SUA MÃE TAMBÉM (2001)
2. HARRY POTTER E O PRISIONEIRO DE AZKABÁN (2004)
3. A PRINCESINHA (1995)
4. FILHOS DA ESPERANÇA (2006)
5. GRANDES ESPERANÇAS (1998)
(PARIS, EU TE AMO encabeçaria a lista, mas como é um trabalho conjunto, preferi deixar de fora.)
quarta-feira, fevereiro 21, 2007
CARTAS DE IWO JIMA (Letters from Iwo Jima)
Em A CONQUISTA DA HONRA (2006), na cena que vemos uma frota imensa de navios de guerra se aproximando da ilha de Iwo Jima, a sensação que temos é de alívio, já que vemos a guerra pelo ponto de vista dos americanos. Já em CARTAS DE IWO JIMA (2006), a visão japonesa do conflito, ver todos aqueles navios de guerra se aproximando é como ver a própria morte montada num cavalo preto e com uma foice na mão. CARTAS DE IWO JIMA é ainda mais sombrio que o filme anterior de Clint Eastwood, já que não há trégua para os soldados, não há retorno para os seus lares; a grande maioria deles não terá a sorte de voltar para casa e ficar com complexo de culpa por ter matado gente e sobrevivido. A única saída para aqueles pobres homens é o passado. Por isso, os únicos momentos em que o filme sai do conflito é ao apresentar alguns dos personagens por meio de flashbacks, recurso bastante em voga em tempos de LOST, mas que é tão antigo quanto o próprio cinema.
Clint Eastwood disse que não tentou fazer um filme japonês, já que ele não tem um conhecimento aprofundado da cultura nipônica. Ainda assim, sentimos que há uma tentativa de se fazer um produto o mais próximo possível de uma obra made in Japan. A começar pela música, no pianinho, que lembra muito as trilhas sonoras utilizadas nas obras essencialmente japonesas. O resto pôde ser conseguido através do estudo da cultura e do cinema japoneses. O ator mais conhecido do filme é Ken Watanabe, considerado o ator japonês mais famoso da atualidade. Ele esteve presente em duas conhecidas produções hollywoodianas: O ÚLTIMO SAMURAI, ao lado de Tom Cruise, BATMAN BEGINS e o horrível MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA. Ele dá ao general Tadamishi Kuribayashi uma força sem igual. Kuribayashi foi o homem que comandou a resistência japonesa em Iwo Jima. Ele não era bem adepto do costume japonês de cometer suicídio frente ao fracasso. Ele recomendava aos seus homens que lutassem até o fim. O segundo ator mais famoso do filme não é muito conhecido fora do Japão. É o jovem Kazunari Ninomyia, que interpreta o soldado Saigo. Ele é um conhecido cantor pop no Japão e o filme de Clint deve ser no mínimo extremamente curioso para os seus fãs japoneses.
Fica claro em CARTAS DE IWO JIMA - ainda mais que em A CONQUISTA DA HONRA - que a intenção de Clint Eastwood foi a de mostrar a guerra como algo absurdo, principalmente quando se conhece o inimigo. Quando se luta com um inimigo sem rosto até pode-se encará-lo como o mal encarnado e ver a sua morte como uma necessidade. Mas quando se percebe que aquele que está no outro lado da trincheira é uma pessoa que também precisa sobreviver e voltar para sua família, o sentimento de compaixão aparece e a guerra se torna algo sem sentido, uma estupidez sem tamanho. Isso até pode parecer algo piegas e alguns momentos do filme cruzam essa linha, mas esse sentimento é a própria razão de ser desse projeto duplo do diretor.
CARTAS DE IWO JIMA recebeu quatro indicações para o Oscar, nas categorias de filme, diretor, roteiro original e edição de som. Ganhou o Globo de Ouro de melhor filme em língua estrangeira, o que, por melhor que o filme seja, não deixou de ser uma sacanagem com os concorrentes verdadeiramente estrangeiros.
Falando em Oscar, eis o meu top 5 da categoria principal:
1. CARTAS DE IWO JIMA
2. OS INFILTRADOS
3. A RAINHA
4. PEQUENA MISS SUNSHINE
5. BABEL
sexta-feira, fevereiro 16, 2007
O DINHEIRO (L'Argent)
Os últimos dias estão sendo um tormento pra mim. Culpa de uma crise de garganta que tira toda a minha vitalidade. Tudo que eu queria era ficar deitado na cama vendo algum filme antigo ou um episódio de uma de minhas séries preferidas. Ou dormir, ou ler quadrinhos, ou a biografia do Rei, ou textos sobre cinema. Em vez disso, sou obrigado a ficar no ar condicionado da empresa, o que só piora a minha condição. Estou sentindo que tudo que me dá prazer está sendo tirado de mim aos poucos. Não quero enumerar isso a que eu estou me referindo, mas essa lista renderia pelo menos uns sete ítens. Passarei o Carnaval em Flexeiras, uma aldeia de pescadores a 148 km de Fortaleza. Tenho impressão que vou usar a casa de praia como casa de repouso. O que não é de todo mal. Estou precisando mesmo, depois desses dias de tanta pressão no trabalho. A desvantagem de viajar é não poder ver no final de semana os filmes que entraram em cartaz em Fortaleza. Vou ter que correr atrás do atrasado quando voltar.
Pois bem. Vamos ao filme em questão. O que dizer de O DINHEIRO (1983)? O que escrever sobre um filme quando não se entende nada? (E eu que tinha achado o MADE IN U.S.A. do Godard complicado...) O que pude notar nesse filme em relação aos anteriores de Robert Bresson foi que há bem menos imagens fora de campo - de pés quando se pretende ver rostos, por exemplo. O filme apresenta a estória de dois rapazes que praticam crimes e vão presos a certa altura. Mas muito do que é mostrado pra mim é uma incógnita. Por que Bresson mostra o rapaz tomando sobras de bebida ou de café? O que isso quer dizer? Qual a intenção do diretor? Coisas como essa vão passando pela tela e eu fui ficando sem entender até que chega uma hora que o que sobrou em minha mente foi dispersão. Isso é bastante comum de acontecer quando não se fica totalmente envolvido com o filme. Aliás, de todos os filmes de Bresson, apenas dois me envolveram completamente.
Há um elemento recorrente na obra de Bresson, que é o fato de ele mostrar personagens presos. Isso aconteceu em O PROCESSO DE JOANA D'ARC (1962), em UM CONDENADO À MORTE ESCAPOU (1956) e no final de PICKPOCKET (1959). Até se poderia dizer que o jumento de A GRANDE TESTEMUNHA (1966) também seria uma espécie de prisão: uma alma pura presa num corpo de um animal abusado e desprezado. Tudo indica que essa repetição do aprisionamento se deve ao fato de Bresson ter estado preso num campo de concentração alemão por mais de um ano durante a Segunda Guerra Mundial. A prisão novamente se repete em O DINHEIRO, mas sem ter um efeito tão forte ou tão enfático quanto nos filmes anteriores. Aliás, não consegui gostar de muita coisa desse filme. Bem que eu gostaria. Um dia, quando eu tiver mais velho e mais maduro, talvez eu o reveja e tenha uma outra impressão.
Assim como vários filmes do diretor, O DINHEIRO foi baseado numa antiga obra clássica. Não deixa de ser interessante notar que do clássico ele traz algo moderno. Aliás, moderno talvez não seja o termo mais apropriado, mas acho que me fiz por entender. O DINHEIRO foi baseado num conto de Leon Tolstói.
Agora ficam faltando apenas três filmes de Bresson pra eu ver: OS ANJOS DO PECADO (1943), UNE FEMME DOUCE (1969) e QUATRO NOITES DE UM SONHADOR (1971).
Bom carnaval para todos e até a volta!
quinta-feira, fevereiro 15, 2007
A RAINHA (The Queen)
E se acumulam os prêmios para Helen Mirren, que interpreta a Rainha Elisabeth II no filme de Stephen Frears e que também deu vida à Elizabeth I, rainha contemporânea de William Shakeaspeare, na mini-série de televisão ELIZABETH I. É ela quem dá o grande show neste A RAINHA (2006), de Stephen Frears, cineasta que não tem uma marca autoral, mas que provou ter certa sensibilidade para tratar de assuntos ligados à nobreza em LIGAÇÕES PERIGOSAS (1988), seu melhor filme até hoje. Um dos maiores trunfos de A RAINHA é justamente uma de suas maiores fraquezas, que é uma certa frieza ou um esforço de não parecer passional, mesmo num momento tão cheio de apelo popular e tristeza, como foi a morte da Princesa Diana.
Diana sempre teve um caso de amor com a imprensa desde o casamento com o Príncipe Charles em 1981, que foi televisionado e visto em todo o mundo. Foi a cerimônia matrimonial do século e Diana se tornou a mulher mais famosa do mundo. Para aumentar ainda mais a sua importância, Diana não era apenas bonita, famosa e ícone da moda, mas era envolvida em projetos sociais importantes, como o combate à AIDS e a campanha contra o trabalho desumano nas minas terrestres. A história de Diana daria um grande filme, sem dúvida. Mas apesar de sua persona querer a todo instante eclipsar a protagonista do filme de Frears, ela não consegue por causa da força da interpretação de Mirren como a discreta Elizabeth II. Não há uma atriz interpretando Diana no filme. A verdadeira "princesa do povo", alcunha que ficou famosa na boca de Tony Blair, aparece em imagens de arquivo.
Esse flerte com o documentário é uma das maiores qualidades de A RAINHA, dando ao filme uma aura de cinema-verdade. Desse modo, sentimos como se tivéssemos o privilégio de visitar as residências reais e de invadir a intimidade da rainha e de seu marido, o príncipe Philip (James Cromwell). Uma das cenas mais interessantes do filme é aquela em que Elizabeth tenta atravessar um rio num jipe e seu carro fica preso nas pedras. É a rainha fazendo uma atividade normal como dirigir um carro como qualquer ser humano. Engraçado a gente ficar surpreso em ver a rainha dirigindo um carro. Lembrei de um texto que François Truffaut fez sobre Orson Welles. Ele disse que Welles nunca se filmou comendo ou dirigindo, como se ele quisesse se apresentar sempre acima da humanidade.
Depois da Elizabeth de Helen Mirren, a principal figura do filme é o Tony Blair de Michael Sheen. Blair, que mais recentemente ganhou a antipatia de boa parte da humanidade graças à sua aliança com George W. Bush na Guerra do Iraque, é mostrado no filme como era na época de sua posse como Primeiro Ministro britânico. Na época, ele era festejado por trazer uma proposta diferente, quase revolucionária, para a Inglaterra. A monarquia, instituição que já vivia por um fio desde o início do século XX, estaria novamente correndo risco de vida. Acho que eu tenho uma certa simpatia pelos reis e pelas rainhas. Na Inglaterra, eles parecem meio sem função, como se fossem um enfeite e bastante obsoletos para o mundo de hoje. Mas lembro que sempre que eu estudava História, os momentos em que os reis mandavam eram bem mais divertidos do que estudar a complexidade política da república.
A RAINHA recebeu seis indicações ao Oscar, nas categorias de filme, diretor, atriz, roteiro original, figurino e trilha sonora.
quarta-feira, fevereiro 14, 2007
MASTERS OF HORROR: DREAM CRUISE
Saí do trabalho hoje pra assistir O SAMURAI DO ENTARDECER, de Yôji Yamada. Normalmente essas sessões "de arte" acontecem às 19h30, de segunda a quinta-feira. Inclusive, é esse o horário que consta ao lado do cartaz do filme perto da bilheteria. Cheguei ao Iguatemi por volta das 18h40, depois de sair de um dia de trabalho hardcore. Quando comprei o ingresso, não reparei que o horário que constava era 19 horas. Assim, saí pra comer uma fatia de pizza, dar uma olhada nos DVDs nas Americanas e no Extra, enfim, passar o tempo enquanto o horário da sessão não começava. Mal sabia eu que a sessão já havia começado. Já achei estranho quando eu cheguei lá e o filme já tinha começado, eu meio sem entender o que estava acontecendo. Assim como o Woody Allen em ANNIE HALL, eu odeio entrar no cinema quando o filme já começou. Depois de uns cinco minutos de filme, me ocorreu a idéia de olhar para o horário do ingresso que estava na minha mão. 19 horas. Perguntei à Camila, que coincidentemente estava sentada ao meu lado, e ela falou que realmente a sessão havia começado às 19. Saí resolvido a reclamar com a administração do cinema. Achei uma sacanagem com o público. No cartaz e no site do Cinema de Arte é um horário, lá é outro. Isso é um puta desrespeito. Fiz cara de insatisfeito e enfezado pra moça da bilheteria e pedi e recebi o meu dinheiro de volta. Cinco reais não é nada, mas é o mínimo que eles podiam fazer. Gastei meu tempo, dinheiro com gasolina e com estacionamento. Ainda bem que não é um filme que faça tanta questão de assistir no cinema. Deixa pra quando sair em DVD. Ou, dando uma de escorpiano, pra nunca mais.
Saindo de um japonês e entrando em outro (com todo o respeito), falemos de DREAM CRUISE (2007), o último filme da segunda temporada de MASTERS OF HORROR. A direção é de Norio Tsuruta, diretor de RING 0 - O CHAMADO (2000) e O TERROR DA PREMONIÇÃO (2004). Na trama, jovem americano que guarda um terrível trauma de infância, quando seu irmão mais novo morreu afogado depois de ter virado um bote, é chamado para uma reunião de negócios com um executivo japonês. A situação é duplamente complicada: primeiro porque ele namora a esposa desse japonês; segundo porque ele tem pânico de água e a tal reunião iria acontecer no iate do sujeito. Apesar de não gostar nada da idéia, Jack, o americano, acabou cedendo e tendo que ir no barco com o japa corno e sua mulher. Em pleno alto-mar o iate pára. Aparentemente são algas que ficaram enganchadas na hélice do barco. Mas como quase todo filme de terror oriental contemporâneo tem que mostrar cabelos, já dá pra imaginar o que está enganchado nas hélices. Aliás, porque será essa obsessão, esse medo que os japoneses têm por cabelos, hein?
DREAM CRUISE pertence ao grupo dos títulos fracos dessa temporada que está acabando sem um terço da empolgação que foi a primeira. Pode até ser que haja uma terceira temporada mas estou bastante cético quanto a isso, já que, com tantos exemplares fracos, a tendência é os bons cineastas fugirem desse projeto. Novamente a antologia terminou com a exibição de um filme dirigido por um diretor japonês. Pena que Norio Tsuruta não chegue aos pés de Takashi Miike. E que o Larry Cohen não tenha participado dessa vez.
Pra fechar, o ranking dessa segunda temporada:
1. PRO-LIFE, de John Carpenter
2. THE BLACK CAT, de Stuart Gordon
3. FAMILY, de John Landis
4. PELTS, de Dario Argento
5. RIGHT TO DIE, de Rob Schmidt
6. THE SCREWFLY SOLUTION, de Joe Dante
7. THE WASHINGTONIANS, de Peter Medak
8. VALERIE ON THE STAIRS, de Mick Garris
9. SOUNDS LIKE, de Brad Anderson
10. THE DAMNED THING, de Tobe Hooper
11. DREAM CRUISE, de Norio Tsuruta
12. THE V WORD, de Ernest R. Dickerson
13. WE ALL SCREAM FOR ICE CREAM, de Tom Holland
P.S.: Baixei ontem de um link no blog do Renato o curta publicitário MISSION ZERO, dirigido por Kathryn Bigelow e estrelado por Uma Thurman. Vale a pena ver, principalmente se você é fã de KILL BILL ou de Uma. Não chega a ser um bom curta, mas vale a espiada. Aproveitei e também baixei de lá o excelente trailer de ACROSS THE UNIVERSE (de arrepiar!) e o ótimo e premiado álbum das Dixie Chicks. Confiram!
terça-feira, fevereiro 13, 2007
O DONO DA BOLA
Já faz mais de um ano que escrevi esse texto para o Cineprojeto 365, site que acabou não vingando por culpa dos próprios membros - eu incluso - que não se esforçaram o suficiente para levar adiante o projeto. Tratava-se de um projeto um tanto quanto complicado de manter, devido principalmente à necessidade de atualizações diárias. Como hoje estou cheio de trabalho, resolvi postar esse texto, com pouquíssimas alterações - sem nem mesmo a "caixa alta" para os títulos dos filmes, que costumo utilizar como padrão aqui no blog.
O DONO DA BOLA
Título(s) Alternativo(s):
Título Nacional: O Dono da Bola
Direção: J.B.Tanko
Elenco: Ronald Golias, Grande Otelo, Norma Blum, Vera Regina, Costinha,
Carlos Imperial
Ano: 1961
País: Brasil
Duração: 85 min
Sinopse: Carlos Bronco decide concorrer ao prêmio de TV "O Dono da bola" para salvar sua amada de uma ação de despejo.
Comentário:
Assistir hoje em dia O Dono da Bola pode não ter a mesma graça do que na época em que o filme foi exibido. A não ser, é claro, pelo caráter saudosista da coisa. As comédias de J.B.Tanko têm uma inocência que o cinema brasileiro hoje em dia já não encontra mais. A não ser nos filmes do Renato Aragão, mas esses também já perderam a graça. Falando em Renato Aragão, Tanko chegou a dirigir alguns dos melhores filmes de seu bando nos anos 70 e 80: Robin Hood, o Trapalhão da Floresta (1974), O Trapalhão na Ilha do Tesouro(1975), O Trapalhão no Planalto dos Macacos (1976), Simbad, o Marujo Trapalhão (1976), O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977), Os Saltimbancos Trapalhões (1981), Os Vagabundos Trapalhões (1982), Os Trapalhões na Serra Pelada (1982) e Os Fantasmas Trapalhões (1987).
Há, inclusive, um pouco do espírito moleque de Renato Aragão no personagem de Ronald Golias em O Dono da Bola. Pena que as piadas não funcionam mais. Algumas chegam a ser até constrangedoras, como aquela em que Golias tem que subir com um jipe numa escadaria e, no meio do caminho, decide subir com um jipe de brinquedo e a pé. Um tipo de piada que deve ter funcionado com a criançada da época.
Apesar desse humor meio infantil, o filme ganha um ar cult para as gerações que hoje tem perto dos 30 anos de idade e que só tem lembrança de Golias através dos programas televisivos de humor, como A Praça É Nossa. Um outro comediante famoso que aparece de maneira discreta no filme é o Costinha, o típico humorista que se valia de sua feiúra para fazer sucesso. Quem não se lembra de suas caretas e piadas na Escolinha do Professor Raimundo?
Mas quem brilha mesmo em O Dono da Bola é Golias, que acabou utilizando o personagem do filme (Carlos Bronco) em programas de televisão de sucesso como A Família Trapo, exibido na Tv Record a partir de 1967, e depois em Superbronco, na Rede Globo, em 1979. Quando morreu, em setembro de 2005, ainda era o maior humorista do programa A Praça É Nossa e um dos maiores do Brasil. Em O Dono da Bola, um dos destaques do tipo que ele cria é o andar desengonçado, com a parte superior do corpo bem adiantada à parte inferior, como se tivesse pressa de chegar a algum lugar.
O diretor, o croata J.B.Tanko, era um apaixonado pelo cinema. Conta-se que em sua primeira ida ao cinema, ficou hipnotizado pelas imagens, assistiu a várias sessões e teve de ser retirado da sala pelo gerente. Como ele tinha adquirido muita experiência com cinema na Europa, quando mudou-se para o Brasil, contribuiu bastante com sua experiência para a profissionalização da indústria cinematográfica nacional, tendo trabalhado na Cinelândia, na Atlântida e na Herbert Richers. Foi um dos principais diretores de celebridades da comédia popular como Ankito, Grande Otelo, Zé Trindade, Costinha e o já citado Golias.
Grande Otelo, aliás, já aparece em O Dono da Bola com jeitão de estrela. Ele interpreta a si mesmo e já surge como uma celebridade, no momento em que Bronco precisa conseguir um artista bem conhecido para o programa que dá nome ao filme. O programa é uma espécie de gincana onde os participantes concorrem a uma bolada em dinheiro e tem que efetuar as tarefas que a direção do programa lhes impõe. A seqüência mais divertida é quando a gincana pede para que os participantes procurem um cachorro desaparecido.
O interesse amoroso de Bronco é Eva (Norma Blum), uma jovem que corre perigo de perder a casa, caso não consiga uma certa quantia. No começo, ela se apaixona pelo amigo de Bronco, um sujeito metido a galã e que traça todas as meninas que chegam por lá. É um tipo de situação que remete bastante aos filmes do Renato Aragão, onde ele ora perde para o galã do filme, ora consegue o seu objeto de desejo.
Tem uma cena de O Dono da Bola que fez eu me lembrar de quando eu era criança. Naquela época, poucas pessoas tinham televisão no bairro e algumas crianças costumavam se aproximar da janela da frente da minha casa só pra ficar vendo o que a gente estava assistindo. Era uma situação meio constrangedora, pois às vezes eu tinha vontade de desligar a tevê ou de mudar de canal. No filme, o Bronco assiste tv através da janela do vizinho, e do lado de fora. Bom saber que certas coisas mudaram pra melhor.
segunda-feira, fevereiro 12, 2007
PECADOS ÍNTIMOS (Little Children)
Alguns amigos até me avisaram dizendo que era ruim e tal, mas como resistir a um filme que traz no elenco duas de minhas musas favoritas? E ainda por cima com um marketing em cima das cenas de sexo de Kate Winslet? Sem falar que o trailer do filme também é bastante atraente e criativo, utilizando apenas imagens e o som de um trem, meio que simulando um orgasmo. Diferente do trailer, que opta por não usar palavras, PECADOS ÍNTIMOS (2006) tem uma estreita relação com a literatura, seja pelas referências a "Madame Bovary", seja pela própria narrativa em terceira pessoa, que pode desagradar a muitos que consideram esse tipo de recurso anti-cinema. Não sou tão radical e acho que alguns dos melhores clássicos do passado se utilizam desse artifício e acabam por enriquecer ainda mais a obra. No caso do filme de Todd Field, essa narração é até interessante e não é por causa dela que o filme não se sustenta a partir de seu desenvolvimento.
PECADOS ÍNTIMOS gira em torno de três figuras principais que se encontram. Temos uma mestra em literatura (Kate Winslet) que fica em casa cuidando da filha pequena e cujo marido é um executivo que tem uma obsessão por uma modelo pornográfica da internet; há um sujeito desempregado e loser assumido (Patrick Wilson) que cuida do filho, enquanto a esposa (Jennifer Connelly) sai para trabalhar; e um outro recém saído da prisão por atentado ao pudor (Jackie Earle Haley). A cidadezinha vive num constante estado de paranóia por causa da presença desse maníaco em seu meio. É nesse cenário que Kate Winslet e Patrick Wilson se conhecem, se apaixonam e mantêm um caso.
Seguindo a trilha de BELEZA AMERICANA, embora longe de ter o mesmo brilho, PECADOS ÍNTIMOS é mais um filme a trabalhar o universo loser americano. Mas diferente de um PEQUENA MISS SUNSHINE, o filme de Todd Field não me fez simpatizar com nenhum dos personagens, coisa que eu considero importante para que se estabeleça uma maior cumplicidade entre espectador e personagem. PECADOS ÍNTIMOS acaba por engrossar a lista de filmes a mostrar personagens burros. Mas como o filme trata de "criancinhas" (little children), essa burrice - ou ingenuidade, que seja - poderia até se justificar. Mas nada justifica o nível de retardamento mental do personagem de Wilson numa das seqüências finais, envolvendo um skate. Chega a ser um negócio inverossímil.
Agora, sem querer enrolar muito, sabe o que mais me deixou frustrado com o filme? Foi a fraca cena de sexo entre Kate e Patrick Wilson. Eu que esperava algo no mínimo "quente" acabei vendo apenas uma única seqüência um pouco mais erótica mas que acaba mostrando apenas a bunda do rapaz e fica devendo os dotes físicos da Kate. O que sobra são as ótimas interpretações de Kate Winslet e de Jennifer Connelly, que pegou um papel ingrato, aparecendo pouco e sempre como a antipática e certinha da relação. O drama do maníaco, sinceramente não me comoveu, nem a cena final me deixou de maneira nenhuma chocado ou surpreso. Algo me diz que esse filme de Field vai se tornar tão esquecível quanto ENTRE QUATRO PAREDES (2001), seu trabalho anterior. Desse eu já não me lembro de mais nada.
PECADOS ÍNTIMOS recebeu três indicações para o Oscar: atriz (Kate Winslet), ator coadjuvante (Jackie Earle Haley) e roteiro adaptado (do diretor Todd Field e do autor do livro Tom Perrota).
sábado, fevereiro 10, 2007
ROCKY BALBOA
Sylvester Stallone, nascido sob o signo de câncer no dia 6 de julho de 1946, foi durante os anos 80 um dos atores mais bem pagos de Hollywood. Mas como tudo que sobe tem que descer, o ator tem amargado uma decadência desde a primeira metade da década de 90. Seu último filme a faturar bem nas bilheterias foi RISCO TOTAL (1993). Ele até tentou conseguir uma vaga no primeiro time de Hollywood, fazendo um filme ao lado de Robert De Niro e Harvey Keitel - COPLAND (1997) - mas isso acabou não vingando em projetos futuros. Assim como o próprio Stallone, Rocky Balboa é um canceriano típico: sente saudades do passado, tem um grande coração escondido num corpo desengonçado, é sentimental, e só parte pra briga se o cutucarem. Poucos personagens do cinema carregam de maneira tão forte o arquétipo de um signo. E o lado mais sensível de Rocky está ainda mais latente nesse sexto filme da série, já que lhe foi tirado aquilo de que ele mais gostava: sua esposa Adrian.
No começo de ROCKY BALBOA (2006), o lutador aposentado está sentado ao lado do túmulo de sua esposa, que morreu de câncer há alguns anos. Há um enorme sentimento de perda no coração de Rocky. Seu melhor amigo é o cunhado Paulie (Burt Young), que lamenta o fato de ter maltratado Adrian no passado. O filme é um drama sentimental, mas como se trata de um filme de Rocky é claro que o ápice será numa luta. E não deixa de ser um pouco patético o Sly velhão lutando num ringue de boxe, ainda mais desengonçado do que quando era jovem. Mas ao mesmo tempo é impossível não sentir um carinho especial por ele, torcer, entender que aquela luta é importante para sua auto-afirmação, para tirar o chamado monstro interior que o consome por dentro, como numa maneira de exorcizar os seus demônios interiores.
Além da falta do amor de sua vida, Rocky se sente rejeitado pelo próprio filho - interpretado por Milo Ventimiglia, conhecido de quem acompanha a série HEROES. Quando ele sai pra escolher um cachorro num canil, ele escolhe o cachorro mais triste e feio. Ele acredita que é só dar um pouco de carinho e boa alimentação que logo o cachorrinho volta a se sentir vivo. Difícil não pensar no próprio Rocky e no seu próprio sentimento de rejeição nessa cena.
Pode-se dizer que ROCKY BALBOA é mais indicado às pessoas que assistiram aos outros filmes. Mas quem é que nunca assistiu a um filme da série? Difícil encontrar alguém com mais de quinze e menos de cinqüenta anos que nunca tenha visto um filme de Rocky na televisão ou no cinema. No meu caso, o único filme dele que eu vi no cinema foi o ROCKY V (1990), considerado por muitos o mais fraco, mas que já acentuava uma evolução que daria nesse sexto trabalho. Desse modo, eu me lembro bem mais do Rocky dublado, pela televisão. Tanto é que uma das cenas mais marcantes de toda a série pra mim é a cena da morte de Mickey em ROCKY III (1982). No novo filme, tanto Mickey (Burgess Meredith) quanto Adrian (Talia Shire) só aparecem em cenas de arquivo, nos pensamentos de Rocky. E o filme é bem mais família do que os outros, já que o Rocky não apanha tanto, não fica com aquela cara toda arrebentada como em ROCKY IV (1985). Aliás, se não fossem as fracas cenas de luta, o filme seria ótimo. Mesmo assim, pode-se dizer que ROCKY BALBOA é um retorno digno de Sylvester Stallone às graças do público. Só não vejo com bons olhos é esse negócio de trazer de volta o Rambo. Mesmo assim, torço pelo seu sucesso.
sexta-feira, fevereiro 09, 2007
OS SUPREMOS 2 (Ultimate Avengers II / Ultimate Avengers 2: Rise of the Panther)
Se o primeiro desenho em longa-metragem dos Vingadores versão ultimate já não era uma maravilha, esse segundo filme é um lixo total. No primeiro, ao menos havia um ótimo prólogo mostrando o Capitão América lutando na Segunda Guerra, seu esforço para se adaptar ao novo mundo e aquela luta final entre os Vingadores e o Hulk. Dessa vez, o principal herói do filme é o Pantera Negra, que acaba saindo de seu fortificado país na África para pedir ajuda ao Capitão América nos Estados Unidos. Enquanto isso, o coitado do Bruce Banner fica detido depois de todos os estragos que o seu alter-ego cometeu no filme anterior. Hank Pym, o Golias (ou seria Gigante?), também recebe uma posição de maior destaque nesse segundo filme.
Uma das coisas que mais incomoda nesse desenho é ele sequer se aproximar plasticamente dos belos traços de Bryan Hitch, o desenhista responsável pelas elogiadas histórias em quadrinhos na qual o filme se baseia. Mas isso já é comum em se tratando de desenhos animados, principalmente os feitos às pressas e com pouco dinheiro envolvido. A melhor coisa do DVD é mesmo o pequeno documentário que traz depoimentos do roteirista Mark Millar, que quando criou essa versão dos Vingadores dentro de outro universo, tentou fazer uma boa atualização, trazendo mais violência e mais realismo. Nos quadrinhos do universo ultimate, o Capitão América é super-reacionário, o Hulk é um monstro tarado e que mata centenas de pessoas em seu acesso de raiva e Nick Fury não se importa tanto em fazer os trabalhos sujos do governo. Pena eu não estar acompanhando os quadrinhos dos Supremos. Só li duas edições que um amigo me emprestou e me pareceu ótimo. Bem que a Panini podia lançar um encadernado com esse material, considerado por muitos como a melhor série de super-heróis da atualidade.
Sobre o Pantera Negra, interessante como os quadrinhos da Marvel estão trazendo atualmente personagens esquecidos das décadas passadas. Além do Pantera Negra, o Cavaleiro da Lua está de volta com título próprio e um tratamento muito bom. A Marvel Max desse mês trará uma mini-série do Motoqueiro Fantasma, um personagem um pouco obscuro que ganha novamente visibilidade graças ao filme - que tudo indica que vai ser bem ruim, mas tomara que eu esteja errado. O Luke Cage e o seu amigo Punho de Ferro, apesar de ainda não possuírem título próprio, também têm aparecido mais. A Mulher-Aranha, com sua entrada nos Novos Vingadores, de Brian Michael Bendis, também tem se destacado. Bendis adora a personagem e fez questão de colocá-la na série. Trata-se de uma das heroínas mais gostosas do Universo Marvel.
O próximo desenho da Marvel a sair em DVD será o do Homem de Ferro, que até já saiu nos Estados Unidos e deve sair no Brasil em abril pela Paris Filmes. Em seguida, será a vez do Dr. Estranho, outro herói da Marvel que tem ganhado maior visibilidade e que é queridinho de outro fera dos quadrinhos atuais: J.M. Straczynski. Eu nunca simpatizei muito com esse herói, mas também não tenho nada contra. Além do mais, a mini-série que conta a origem do herói feita pelo Straczynski é bem boa.
quinta-feira, fevereiro 08, 2007
JOGADOR MISTERIOSO (Il Cartaio / The Card Player)
Chegou em DVD recentemente no Brasil esse belo e torto filme de Dario Argento. Torto no sentido de que a encenação é muito estranha, como se a maioria dos atores fossem ruins ou não conseguissem interpretar de maneira convincente, mas é um filme bem mais regular que o anterior de Argento, o SLEEPLESS (2001). Em JOGADOR MISTERIOSO (2004) o diretor está mais contido no que se refere a sua maestria técnica, no seu virtuosismo, e principalmente no sangue jorrando, totalmente ausente desse filme.
No começo, eu fiquei um pouco incomodado com o filme, achando tudo muito estranho, mas depois eu passei a gostar e a me envolver com a estória que lida com um serial killer que pega suas vítimas, deixa-as amarradas e em frente a uma webcam e convida os policiais a jogarem pôquer com ele. Caso ele ganhe, a vítima será assassinada; se ele perder, ele solta a vítima. Stefania Rocca é a detetive de polícia que primeiro entra em contato com o assassino, que sempre se comunica com ela na tela de seu computador. Ela se junta ao policial inglês interpretado por Liam Cunningham para juntos pegarem o assassino. Enquanto não conseguem, o jeito é ir jogando pôquer.
JOGADOR MISTERIOSO é um autêntico giallo. Há a paranóia, há o asassino de luvas pretas, há o uso estilizado de movimentos de câmera (ainda que sutil, nesse filme). Mas é um giallo para os novos tempos, mais adequado ao mundo digital. Ainda que mostre suas já tradicionais luvas pretas, o assassino, pelo menos enquanto não aparece, é um ser virtual. A própria trilha sonora de Claudio Simonetti - colaborador de Argento desde os tempos de PRELÚDIO PARA MATAR (2005) - é eletrônica.
Uma das coisas que mais me deixa empolgado nos filmes do Argento é quando ele inventa de fazer seqüências noturnas de suspense. Quem consegue esquecer a seqüência inicial na chuva de SUSPIRIA (1977) ou a cena do cachorro de TENEBRE (1982)? São cenas que nos jogam dentro de uma atmosfera de pesadelo que não encontra paralelos em nenhum outro cinema. Em JOGADOR MISTERIOSO, temos duas impressionantes seqüências noturnas: a cena em que o assassino ameaça Stefania Rocca em sua própria casa e a da jovem gostosa seduzindo o jovem especialista em pôquer no bar.
Fiquei tão animado com esse filme que tratei de baixar mais dois Argentos: SÍNDROME MORTAL (1996) e TI PIACE HITCHCOCK? (2005). Esse último já acabou de baixar, mas tem uma dublagem horrível, em alemão. Além do mais, não consegui legendas que sincronizassem na internet. Não sei se apago o filme e procuro outra versão ou se espero alguém me ajudar a encontrar legendas que sirvam. Argento está finalizando atualmente o aguardadíssimo LA TERZA MADRE (2007), com Asia Argento e Udo Kier encabeçando o elenco.
quarta-feira, fevereiro 07, 2007
COMANDO FINAL (Saat Po Long / S.P.L. / Sha Po Lang / Kill Zone)
Esse negócio de ser um cinéfilo sem intenções de ser um especialista, isto é, de não escolher determinado gênero para estudar e se aprofundar, acaba me tornando um pouco alheio a determinados gêneros. Por exemplo, conheço poucos filmes orientais de ação, mas os títulos mais badalados e elogiados, eu tento conhecer. Johnnie To, por exemplo, hoje é um cineasta do meu interesse e que eu pretendo ir atrás de seus filmes. COMANDO FINAL (2005), de Wilson Yip (ou Yip Wai Shun, como tem na capa do DVD), eu acabei alugando depois de um empurrãozinho involuntário do Osvaldo Neto, que escreveu sobre o filme em seu blog. Ele, por sua vez, já pegou o filme depois de ler elogios nos blogs de outros colegas. E assim vai se criando esse saudável boca-a-boca virtual. Mas a verdade é que COMANDO FINAL já chegou no Brasil com certa badalação no circuito internacional. Quando eu aluguei, eu temia não gostar muito. Temia que o filme fosse um pouco complicado (é comum eu confundir os personagens de filmes orientais) e que não fosse ficar suficientemente empolgado, já que não é raro acontecer de filmes de ação que muita gente curte me darem sono. Definitivamente não foi o caso de COMANDO FINAL. Aliás, eu diria que se todo filme de ação fosse como esse, eu já teria me tornado um fã ardoroso do gênero há muito tempo. O filme de Wilson Yip nos deixa com os olhos constantemente grudados na tela e ainda mexe com a nossa corrente sangüínea e com nossos batimentos cardíacos. Um negócio impressionante.
Na trama, Simon Yan (de ELEIÇÃO, de Johnnie To) é Ma, um inspetor de polícia prestes a se aposentar por conta de um tumor no cérebro. Sua intenção é sair da polícia tendo colocando atrás das grades Wong Po, o chefão da máfia interpretado por Sammo Hung Kam-Bo (de THE LEGEND OF ZU, de Tsui Hark). Por causa de suas muitas conexões, Wong Po sempre acaba escapando da cadeia com certa facilidade. O inspetor terá que usar de força para prender o mafioso, nem que precise usar de meios ilegais para isso. Donnie Yen (de SETE ESPADAS, do Tsui Hark) é o encarregado de substituir o inspetor Ma e que pode ser um empecilho para o inspetor, em sua tão sonhada tarefa de prender Wong Po.
Enquanto assistia ao filme e ia me afeiçoando aos personagens, lembrei de KILL BILL e do quanto eu gostava de todos aqueles personagens assassinos e de como eu lamentava que Tarantino os matava sem piedade. Acontece o mesmo em COMANDO FINAL. Eu gostei muito da turma chefiada pelo inspetor Ma e queria vê-los novamente numa possível continuação. E os vilões também têm o seu charme. Tanto o próprio Wong Po, que se revela um excelente marido e um pai amoroso, quanto o matador impiedoso interpretado por Wu Jing. O filme é narrado em tons pessimistas, clima de policial noir misturado com filmes de pancadaria da década de 80 e uma sofisticação visual impressionante. Está, com certeza, no meu top 5 de melhores filmes orientais de ação de todos os tempos. COMANDO FINAL é o tipo de filme que conquista fãs e uma prova de que o cinema de ação made in Hong Kong continua muito vivo.
P.S.: Os votos para a primeira fase do Alfred já foram computados e o resultado pode ser visto no blog da Liga. É impressionante como esse pessoal está cada dia melhor. Pena eu ter trabalhado feito um condenado hoje e não ter podido acompanhar os indicados "ao vivo".
P.P.S.: Só pra lembrar que hoje é dia do retorno de LOST nos EUA.
terça-feira, fevereiro 06, 2007
MASTERS OF HORROR: THE WASHINGTONIANS
O nome de Peter Medak não é dos mais conhecidos da casa. Pra falar a verdade, eu sequer vi algum filme desse diretor. Afinal, quem é esse diretor? Olhando sua filmografia no IMDB deu pra ver que ele é um cineasta veterano, tendo começado na televisão já nos anos 60. Seu primeiro filme para o cinema foi NEGATIVO (1968), um bizarro drama sobre um casal que gosta de se fantasiar - alguém viu esse filme?. Olhando muito rapidamente sua filmografia, vi que até o final dos anos 70 Medak não dirigiu nem um filme de horror. Isso só aconteceria no começo da década seguinte, com o elogiado A TROCA (1980). Mas talvez os trabalhos de Medak mais conhecidos das novas gerações sejam O SANGUE DE ROMEO (1993) e A EXPERIÊNCIA II - A MUTAÇÃO (1998). Inclusive, o fiasco desse filme estrelado pela "pela-donna" Natasha Henstridge foi tão grande que, de lá pra cá, Medak não dirigiu mais nenhum filme para cinema, apenas produções para tv, principalmente séries.
THE WASHINGTONIANS (2007), o filme/episódio que ele dirigiu para a MASTERS OF HORROR, se destaca como um dos melhores dessa fraca segunda temporada da série. O próprio enredo, baseado num conto de Bentley Little, já é bastante intrigante. Imagine que o Presidente George Washington fosse na verdade um canibal, um sujeito que gostava de comer carne humana. Pois é essa a premissa do filme. Na trama, Mike Franks viaja com sua esposa e sua filha de dez anos para uma casa que ele herdou de sua recém-falecida avó na Virginia. Dentro da casa há um assustador retrato pintado de George Washington. Sem querer, a menina derruba o retrato e Mike acaba descobrindo, por detrás da tela, uma carta reveladora onde se descobre que o famoso e honrado presidente era na verdade um canibal. A descoberta dessa carta acaba pondo em risco a vida da família de Mike, pois os washingtonianos não descansarão enquanto não pegarem de volta o documento que poderia modificar toda a História conhecida. A surpresa no final do filme não deixa de ser engraçada.
Como acontece com a maioria dos filmes de horror, a queda se dá no desenvolvimento, quando diretor e roteirista não conseguem manter a atmofera intrigante do início até o clímax final. No caso de THE WASHINGTONIANS, o filme começa a sair prejudicado depois da entrada em cena do historiador interpretado por Saul Rubinek. Não chega a comprometer tanto assim, mas com um pouco mais de criatividade o filme seria ótimo.
A segunda temporada de MASTERS OF HORROR terminou na última sexta-feira com o episódio DREAM CRUISE, de Norio Tsuruta, que ainda estou tratando de baixar.
P.S.: Resolvi publicar os meus votos para o Alfred desse ano. Quem quiser conferir, é só dar um pulinho aqui nesse link.
segunda-feira, fevereiro 05, 2007
A CONQUISTA DA HONRA (Flags of Our Fathers)
É impressionante a vitalidade de Clint Eastwood. Apesar de já estar próximo dos seus 80 anos, o cineasta continua fazendo grandes filmes. Pode-se dizer que do início dos anos 90 pra cá, o único filme esquecível de Clint talvez seja ROOKIE - UM PROFISSIONAL DO PERIGO (1990). OS IMPERDOÁVEIS (1992) foi a consagração, quando ele conquistou o respeito dos membros da Academia. Com SOBRE MENINOS E LOBOS (2003) veio outra indicação e o segundo Oscar de melhor filme viria com o amargo MENINA DE OURO (2004). Dessa vez o velho Clint surpreendeu muita gente ao dirigir simultaneamente dois filmes de guerra, um gênero que requer muita força e disposição da parte do diretor, já que ele precisa lidar com muita gente envolvida, com muitos figurantes e muito barulho. O cineasta precisa transformar um set de filmagens num verdadeiro inferno na terra.
A CONQUISTA DA HONRA (2006), o primeiro dos dois filmes que tratam do conflito na ilha de Iwo Jima, no Japão, me desapontou um pouco. Talvez por eu ter criado muita expectativa. Alguns críticos dizem que o filme que aborda o conflito do ponto de vista dos americanos se torna melhor depois que assistimos CARTAS DE IWO JIMA (2006), a visão japonesa. Ainda não li nada sobre o segundo filme e só pretendo fazer isso depois que o ver, mas não duvido nada que isso realmente aconteça. Ao que parece, o segundo filme é mais emocionante, tanto que foi ele o escolhido pela Academia para integrar os cinco indicados ao Oscar de melhor filme esse ano. Mas falemos de A CONQUISTA DA HONRA, esse que é considerado o mais fordiano dos filmes de Clint Eastwood.
Assim como Ford em O HOMEM QUE MATOU O FACÍNORA, a questão do heroísmo e da impressão da lenda são dois temas tratados com força no filme de Eastwood. Eu diria até que com muita força, já que a palavra "herói" aparece mais ou menos de dez em dez minutos, o que acaba por banalizar um pouco o tema. Outro problema bem aparente do filme é a performance de Adam Beach no papel do índio Ira Hayes. Em alguns momentos, chega a incomodar a falta de naturalidade do ator nas cenas mais dramáticas. Sorte dos outros dois rapazes, Ryan Philippe e Jesse Bradford, que pegaram papéis que exigem menos de seus talentos dramáticos.
A Segunda Guerra Mundial ainda é considerada por muitos como a última guerra nobre. Isso para quem estava do lado dos aliados, já que os países do eixo eram liderados por verdadeiros diabos encarnados, Adolf Hitler, Benito Mussolini e o Imperador Hirohito. Hoje em dia, mesmo esse aspecto nobre do grupo dos aliados é questionado. Em A CONQUISTA DA HONRA, Clint Eastwood nos convida a refletir sobre a natureza do heroísmo e sobre a mentira que os americanos resolvem vender para benefício próprio.
A opção pela montagem fragmentada, pelas idas e vindas no tempo, foi bastante acertada. Imagine se as cenas de guerra fossem todas mostradas de uma só vez e a segunda parte do filme centrasse apenas na turnê dos três heróis? Ficaria um pouco monótono, não é mesmo? De todo modo, é bom esclarecer que essa opção pelo formato quebra-cabeças não deu ao filme uma aparência iñarritúesca - acabei de inventar um adjetivo. Clint é o cineasta da simplicidade estilística e mesmo com uma maior complexidade narrativa, a impressão de despojamento continua no ar.
A CONQUISTA DA HONRA também deixa no ar a sensação de que cenas foram cortadas, especialmente as do relacionamento dos soldados, esperando o dia do ataque. Se houvesse mais dessas cenas mais "tranqüilas", o filme se assemelharia mais com AGONIA E GLÓRIA, do Samuel Fuller. Quanto à violência, não chega a ser tão forte quando a seqüência inicial de O RESGATE DO SOLDADO RYAN, de Steven Spielberg, com tripas voando por todos os lados e membros decepados.
Aliás, a semelhança visual com o filme de Spielberg, nas cenas que se passam no Pacífico, até me fez imaginar que o diretor de fotografia, Tom Stern, seria o mesmo do filme de Spielberg e da série BAND OF BROTHERS. Não é. Stern vem trabalhando com o diretor desde DÍVIDA DE SANGUE e deve ter usado a mesma técnica para deixar a fotografia esmaecida, com a sensação de que o tempo está nublado - talvez por ter sido filmado na Islândia e não no Japão. Engraçado que quando Clint Eastwood foi em busca dos direitos para adaptação para cinema do livro de James Bradley e Ron Powers ficou sabendo que Steven Spielberg já tinha comprado. No fim das contas, Spielberg concordou em ser produtor do filme. Não deixa de ser uma parceria histórica de dois gigantes do cinema mundial.
P.S.: O incansável Matheus Trunk e sua trupe estão de volta no novo número da Revista Zingu!. A principal novidade dessa nova edição é a estréia da coluna Cantinho do Aguilar. Na já bem sucedida intenção de valorizar o cinema brasileiro, há o especial Carlos Motta e o Dossiê Luiz Gonzaga dos Santos.
sábado, fevereiro 03, 2007
À PROCURA DA FELICIDADE (The Pursuit of Happyness)
A impressão que muitos podem ter de À PROCURA DA FELICIDADE (2006) é que se trata apenas de um melodrama lacrimoso digno de ser ignorado. Mas ignorar esse belo trabalho que marca a estréia do cineasta italiano Gabriele Muccino em Hollywood é cometer um erro. Assim como eu, Will Smith gostou bastante de O ÚLTIMO BEIJO (2001) e de PARA SEMPRE NA MINHA VIDA (1999), dois dos trabalhos mais conhecidos de Muccino. E foi Will Smith quem fez questão de que Muccino fosse o diretor desse filme que narra a difícil luta de Chris Gardner (Smith) para sair da miséria em que se encontra.
Chris Gardner é um sujeito que trabalha como vendedor. Apesar de estar com o aluguel atrasado, de ter seu carro levado embora por causa do acúmulo de multas, e de estar prestes a perder a esposa, ele tenta sempre acreditar que essa má sorte vai passar, que aquilo tudo será superado. Ele vende um equipamento médico que poucos hospitais se interessam em adquirir e recebe vários "nãos" por dia. Certo dia, ao passar em frente a uma corretora de valores, ele olha para a expressão de alegria daquelas pessoas que lá trabalham e resolve tentar a sorte naquele lugar, mesmo sem ter nenhum curso superior.
À PROCURA DA FELICIDADE é um filme indicado para levantar os ânimos daquelas pessoas que pensam em desistir. Apesar do termo depreciativo, até poderiam chamá-lo de filme de "auto-ajuda". Acontece que poucas pessoas passaram pelo que Chris Gardner passou em sua vida. Refiro-me não ao verdadeiro Chris Gardner, de quem pouco sei, mas daquele mostrado no filme. Dizem que o verdadeiro estava longe de ser tão bonzinho e que na vida real o estágio que ele conseguiu era remunerado. Quanto às liberdades tomadas pelos realizadores, não vejo problema algum. Se é para o bem do filme, que venham as mentiras e os exageros. Aliás, até que para um filme assumidade classificicado como melodrama, até que Muccino fez um trabalho bastante contido. O único momento de derramar lágrimas que eu senti foi mesmo no final. Naquele momento ali é difícil segurar as lágrimas.
Engraçado que eu pretendia ver esse filme sozinho pra não passar vergonha. Não queria que a pessoa que me acompanhasse durante a sessão me pegasse chorando. Mas quis o destino que eu visse o filme na companhia de alguém, que depois ainda ficou tirando sarro comigo, perguntando se eu também estava gripado. Como diria o Chapolin: "se aproveitam da minha nobreza".
O filme traz o melhor desempenho de Will Smith, que já havia mostrado competência em ALI, mas que dessa vez faz um trabalho fantástico. Smith contracena ao lado de seu filho, Jaden Christopher Syre Smith, e a química funcionou muito bem, já que nem foi preciso Smith fingir que amava aquele garoto. Dessa maneira, as coisas aconteceram de maneira bem mais natural. Tanto que o filme cresce mais quando Thandie Newton, que faz a mãe do garoto, sai de cena, dando mais espaço para o filme focalizar melhor a relação entre pai e filho. Interessante notar que em nenhum momento o filme sugere haver preconceito racial na pessoa de Gardner, algo praticamente inédito em se tratando de cinema americano.
A trilha sonora é um caso à parte, destaque para as canções de Stevie Wonder. Já conhecia "Higher Ground" numa versão dos Red Hot Chilli Peppers e foi muito bom ouví-la no original. Num dos vários momentos tristes do filme, toca uma bela versão de "Bridge Over Troubled Water", cantada pela Roberta Flack.
P.S.: Acabei de saber que o último filme italiano de Muccino está para sair em DVD no Brasil pela Paris Filmes com o título de NO LIMITE DAS EMOÇÕES (2003).
sexta-feira, fevereiro 02, 2007
COMO ERA VERDE O MEU VALE (How Green Was My Valley)
Essa semana está uma loucura aqui no trabalho. Por isso ando sem tempo até para responder decentemente os comentários do pessoal no blog. Mas com algum esforço e certa objetividade, vou tentando mantê-lo atualizado, já que o blog é uma das coisas que mais me dá prazer. Sem perder muito tempo, falemos então de COMO ERA VERDE O MEU VALE (1941), mais um ótimo exemplar do cinema do mestre John Ford. Esse filme também marca o final de uma fase na carreira do diretor, já que, logo após essa produção, Ford iria servir no exército, lutando na Segunda Guerra Mundial. Inclusive, durante esse período fora de Hollywood, Ford faria dois documentários sobre o conflito - A BATALHA DE MIDWAY (1942) e DECEMBER 7th (1943). Vale lembrar que na época de COMO ERA VERDE O MEU VALE, o prestígio de Ford estava lá em cima. Dois de seus filmes haviam ganhado o Oscar de direção - O DELATOR (1935) e AS VINHAS DA IRA (1940) -, fato que seria repetido com esse novo trabalho. Não é exagero dizer que naquela época, Ford era o cineasta mais importante dos Estados Unidos.
Um dos aspectos mais fascinantes do filme é o fato de ele conseguir passar, através da visão de uma criança, uma aura de nostalgia, apesar de todas as desgraças que acontecem ao longo da estória - acidentes de trabalho fatais, maus casamentos, pobreza, depressão, péssimas condições de trabalho. O começo do filme é até um pouco bizarro, mostrando a alegria de uma comunidade numa cidadezinha irlandesa cujos habitantes viviam do trabalho de mineração. Sempre depois de um suado dia de trabalho, esses mineradores saíam cantando pelas ruas, satisfeitos com as moedas que receberam por seus esforços, satisfeitos ao saber que poderiam dar conforto e alimento para suas famílias. Eles não se importavam com o fato de que trabalhar nas minas diminuíam sua expectativa de vida, além de estarem correndo risco de morrerem em algum possível desabamento. A maior desgraça que poderia acontecer para eles era perder o emprego. E alguns deles acabam perdendo, por causa das mudanças na administração das minas, o que força a maioria a aderir a uma greve.
O filme pode ter decepcionado um pouco os esquerdistas ao verem Ford fazendo um filme tendendo mais para o centro, diferente dos anteriores O DELATOR e AS VINHA DA IRA, que se parecem com filmes de esquerda. Entre as principais estórias tecidas pelo filme, a que mais me emocionou foi a do amor platônico entre o pastor da igreja (Walter Pidgeon) e a jovem Angharad Morgan, interpretada por Maureen O'Hara, atriz que trabalharia novamente com Ford em mais duas produções - RIO GRANDE (1950) e DEPOIS DO VENDAVAL (1952). Angharad estava prometida a outro homem, um homem rico, filho do dono da empresa de mineração, e em vez de lutar contra a vontade de seu pai, ela acaba aceitando o casamento arranjado, mesmo estando apaixonada por outro.
COMO ERA VERDE O MEU VALE inicialmente teria William Wyler como diretor, mas o produtor Darryl F. Zanuck acabou optando por Ford, que faria o filme por menos dinheiro e em menos tempo que o extravagante Wyler. Apesar de pegar o trabalho da mão de outro diretor, Ford imprime a sua marca pessoal, tendo inclusive muito mais com o que se identificar com a estória que Wyler. Assim como o garoto do filme, Ford também passou um ano deitado numa cama na companhia dos livros. No caso de Ford, isso aconteceu por causa de uma difteria. Sem falar que Ford é de origem irlandesa, aumentando bastante a identificação.
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