segunda-feira, julho 31, 2006
INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1: THE DREAM OF THE BROKEN HEARTED
No começo da década de 90, David Lynch estava no auge da popularidade. Sua série TWIN PEAKS (1990) atingiu picos de audiência impressionantes para uma obra tão intrincada e estranha e seu longa-metragem mais recente, CORAÇÃO SELVAGEM (1990), havia papado a Palma de Ouro no Festival de Cannes, numa decisão bastante corajosa do júri da época. Também nessa época, Lynch dirigiu uma outra série de televisão: AMERICAN CHRONICLES (1990), que mostrava em formato documentário aspectos pouco comuns da sociedade americana. Em meio a esse cenário, David Lynch e seu compositor de trilhas favorito Angelo Badalamenti produziram esse musical para a televisão.
INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1: THE DREAM OF THE BROKEN HEARTED (1990) é mais um produto de TWIN PEAKS, dentre os vários que surgiram por ocasião da popularidade da série - eu mesmo fui um dos que compraram o "Diário Secreto de Laura Palmer". INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1 não é apenas um show de Julee Cruise, é também um espetáculo teatral que nos dá uma idéia de como seria se um dia fôssemos ao teatro para ver uma peça de Lynch. Não faltam as esquisitices características do diretor. O que pode diminuir um pouco o valor do trabalho é que Lynch não pôde movimentar sua câmera no teatro como ele faz no cinema. Desse modo, não dá pra encarar esse show como um espetáculo cinematográfico. Por isso que INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1 é mais indicado aos fãs do diretor, da série, ou de Julee Cruise.
As canções mais famosas que Julee canta, conhecidas de quem tem ou já ouviu a trilha sonora da série, são "Into the Night" (linda e misteriosa!) e "Rockin' Back Inside My Heart". Lynch também não abre mão da sensualidade, aspecto bastante presente em quase todos os seus filmes. Durante "Up in Flames", uma jovem dança com os seios de fora, e durante o "discurso" de Michael J. Anderson, o anão da série, uma outra jovem se toca de maneira sensual.
INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1 começa com um o videotape de um diálogo entre Laura Dern e Nicolas Cage, retirado de CORAÇÃO SELVAGEM. Lynch, o grande mestre do mistério, faz com que nós captemos o medo da personagem de Laura Dern, que se sente sozinha com a partida do amado. Lynch preeche seus diálogos com silêncios aterradores ou ruídos perturbadores. Essa técnica seria ainda melhor desenvolvida em seus trabalhos posteriores.
Porém, quem brilha mais em INDUSTRIAL SYMPHONY é mesmo Julee Cruise e sua voz etérea. Seu timbre de voz tem algo de angelical, como se estivéssemos sonhando e adentrássemos um outro plano da existência. Sua parceria com Lynch e com Badalamenti é um desses casos de química perfeita. Julee aparece várias vezes flutuando no palco como a Sininho de "Peter Pan". Gosto também quando seu rosto aparece num televisor, talvez um das melhores momentos visuais do show. Lá pela metade, o espetáculo começa a cansar um pouco, mas acredito que com a revisão, essa impressão deve diminuir, já que música é melhor apreciada com as revisões.
Agradecimentos ao amigão Renato Doho, que gravou pra mim esse show em divx.
domingo, julho 30, 2006
O AMOR EM 5 TEMPOS (5x2)
O AMOR EM CINCO TEMPOS (2004) foi o primeiro filme que vi assim que cheguei em São Paulo, nessa viagem que já me deixa saudades. Gosto muito dos filmes de François Ozon. Esse é o quinto filme do diretor que eu tive o prazer de assistir. Uma das principais características de seus filmes está na dúvida que nos vêm à mente relativas à qualidade e à relevância de sua obra. No caso de O AMOR EM CINCO TEMPOS, qual o objetivo de se contar esse filme de trás para a frente, já que esse recurso não é totalmente novo? Os exemplos mais fáceis de lembrar são: AMNÉSIA, de Christopher Nolan, e IRREVERSÍVEL, de Gaspar Noé.
O filme de Ozon não tem a intenção de confundir a cabeça do espectador como o filme de Nolan, nem de chocar a audiência como o filme de Noé. Pode-se dizer que, assim como no filme de Noé, há um pessimismo ao mostrar o fim e depois o início de uma relação. Mas tudo é mostrado com certa naturalidade, como se aquilo tudo fizesse parte do curso natural da vida. O que podemos fazer é aproveitar a vida ao máximo. Há, é claro, uma certa melancolia presente no filme, mas, ao mesmo tempo, sentimos que o filme valoriza cada momento da vida do casal. Desde a transa no motel após o fim do divórcio até o momento em que os dois iniciam o namoro numa cidade litorânea, passando pela seqüência em que o homem não consegue enfrentar a mudança brusca da paternidade.
A mudança no aspecto físico dos dois protagonistas durante os cinco atos é muito bem trabalhada. Detalhes como o corte de cabelo de Marion (Valeria Bruni Tedeschi) ou o uso da barba no personagem Gilles (Stéphane Freiss) funcionam para sugerir a passagem do tempo. Como era de se esperar de Ozon, há uma tendência em explorar melhor a personagem feminina - Ozon disse numa entrevista que acha mais fácil trabalhar com atrizes. Por isso, dos momentos em que os protagonistas estão sozinhos, separados um do outro, os melhores são justamente aqueles que mostram Marion. Destaque para a cena da noite de lua-de-mel do casal, quando ela sai para fumar um cigarro e é abordada por outro sujeito. O AMOR EM CINCO TEMPOS é o tipo de filme em que todos os momentos são belos e importantes. O filme tem crescido bastante em minha memória afetiva.
A bela Valeria Bruni Tedeschi, o grande destaque de O AMOR EM CINCO TEMPOS está presente no próximo Ozon a estrear nos cinemas brasileiros: O TEMPO QUE RESTA (2005), filme que mostra os últimos momentos da vida de um rapaz gay que sofre de uma doença fatal. Será que é um pouco parecido com IRMÃOS, de Patrice Chéreau?
sábado, julho 29, 2006
A PALAVRA (Ordet)
Depois de diversas tentativas, finalmente consegui terminar de ver, aos trancos e barrancos, essa obra-prima espetacular chamada A PALAVRA (1955). Não que o filme seja cansativo, longe disso, o problema era do DVD da Magnus Opus, que apresentava inúmeras falhas, travando em diversos momentos. Quase desisti de assistir o filme depois de testar o disco em outros players. Mas hoje, ao colocar o disco novamente, eu consegui ver mais alguns minutos. Depois, o disco travou de novo. Resumindo: depois de várias tentativas, consegui chegar até o final. Sei que essa não é a melhor maneira de se ver um filme, ainda mais um filme como esse, que requer um mínimo de respeito do espectador. Mas ainda assim, apesar desses aborrecimentos, a meia-hora final de A PALAVRA me pegou tão forte que eu não pude conter as lágrimas. É o melhor filme sobre a fé já realizado, superando até aquelas duas obras de um certo cineasta indiano. É como muito bem escreveu André Bazin: o cinema em geral é uma forma de arte que fica menor perto dos melhores exemplares da música, da pintura e da literatura. Mas se pegarmos A PALAVRA, o cinema fica em pé de igualdade com qualquer manifestação artística.
Depois de ver DIAS DE IRA (1943), eu tinha minhas dúvidas de que Carl Th. Dreyer conseguiria se superar. Se bem que eu gosto tanto de DIAS DE IRA que eu ainda tenho dúvidas de qual dos dois filmes é o meu favorito, mas acho que por pouco A PALAVRA ganha, talvez por ter me atingido pela emoção e de ter trazido de volta, ao menos por alguns minutos, a minha fé perdida. Lembro que quando eu era criança, ao ouvir uma conversa entre meus pais, fiquei sabendo que meu pai estava muito doente. Não me lembro muito bem de que era, acho que era de pneumonia. Ele começou a fumar muito cedo, desde os nove anos, e foi o cigarro que acabou lhe matando. O fato é que eu fiquei preocupado com a doença de meu pai. Achava que ele ia morrer e fiz um acordo com Deus: pedi a Ele que curasse o meu pai em troca de uma gripe em mim mesmo. No dia seguinte, eu estava gripado. E perguntei à minha mãe sobre meu pai e ela falou que ele estava praticamente bom. Quando eu era criança, eu tinha mesmo fé. Hoje só sobrou o pessimismo e uma certa indiferença budista, que só tem servido para minimizar as frustrações. Hoje estou mais para Woody Allen que para Carl Dreyer.
Por isso, ao ver a seqüência da garotinha falando com o seu tio que acreditava ser Jesus Cristo, e dizendo que gostaria que sua mãe morresse apenas para vê-la ressucitar com o poder do tio, ao ver aquela cena, eu lembrei de como a criança pode ao mesmo tempo ser perversa e pura - eu lembro que quando criança eu era doido pra ver um avião caindo.
Pra quem ainda não sabe do que se trata, A PALAVRA conta a estória de uma família de fazendeiros de uma região da Dinamarca que vive com rivalidades com uma outra família. Ambas são cristãs, ambas são protestantes, mas elas têm diferenças de ordem dogmática. O patriarca de uma delas acha que a outra é muito ligada à morte e a vida após a morte, renegando os pequenos prazeres da vida terrena. Na família Borgen, um dos filhos enlouqueceu: de tanto estudar teologia, ele acredita agora que é Jesus Cristo. Nessa mesma família, o filho mais jovem se apaixona por uma moça da família rival. Mas a figura chave da trama é Inger, nora do patriarca, uma jovem mulher que está grávida e que terá complicações no parto. Mesmo que eu não conte mais sobre a trama, o desenrolar da mesma é até previsível. Embora eu já soubesse o que iria acontecer com Inger, nada me prepararia para a poderosa seqüência final.
A PALAVRA ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza de 1956. François Truffaut, que chegou a herdar uma poltrona usada do próprio Dreyer, dizia sem sombra de dúvida que nunca o prêmio foi tão justo. Ainda assim, na época, algumas pessoas chegaram a protestar contra o prêmio, sob a alegação de que o filme tinha uma estética antiquada, destituída de modernidade. O tempo, no entanto, deu o devido crédito a essa obra atemporal, que existe independente de modismos ou de movimentos estéticos. Fico imaginando como seria se Dreyer tivesse conseguido realizar o seu sonho de fazer um filme sobre a vida de Jesus. Seria "o" filme sobre Jesus.
P.S.: Por falar em Festival de Veneza, viram a quantidade de filmes maravilhosos da edição desse ano? De dar água na boca. Serão exibidos os novos filmes de Lynch, De Palma, Satoshi Kon, Aronofsky, Resnais, Straub & Huillet, Verhoeven, Weerasethakul, Karim Aïnouz, Kiyoshi Kurosawa, Ethan Hawke, Spike Lee, Manoel de Oliveira, Johnnie To, entre outros. Simplesmente humilharam Cannes.
sexta-feira, julho 28, 2006
VIAGEM MALDITA (The Hills Have Eyes)
Duas correntes do cinema de horror surgiram nos últimos anos. Uma delas é a derivação do filme de fantasma japonês surgido a partir de RING - O CHAMADO. A outra é inspirada no horror rural americano da década de 70, sendo que os filmes podem ser remakes ou apenas homenagens. Se até O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA recebeu uma refilmagem, era inevitável que QUADRILHA DE SÁDICOS (1977), um dos filmes mais importantes daquela safra, também fosse atualizado para as novas gerações. VIAGEM MALDITA (2006) desde o começo foi esperado com certa ansiedade pelos fãs do gênero. Diferente do novo MASSACRE, dessa vez um diretor respeitado e vindo de uma obra muito elogiada estava por trás das câmeras. O filme em questão é ALTA TENSÃO (2003) e o tal diretor é o francês Alexandre Aja. O que mais chama a atenção em ALTA TENSÃO é a beleza visual, a violência gráfica e a excelente habilidade do diretor em construir uma atmosfera de gelar a espinha.
No que se refere à violência gráfica, VIAGEM MALDITA recebeu uma pequena censura na cópia liberada para os cinemas. A versão sem cortes, talvez, só quando sair o DVD. Mas não tem problema não. Do jeito que ficou, o filme ainda é muito bom e é menos perverso e sombrio do que eu esperava. É até possível que agrade àqueles que detestaram os recentes WOLF CREEK e O ALBERGUE, embora eu ache pouco provável.
A trama não é nenhuma novidade, mesmo para aqueles que nunca assistiram o original de Wes Craven: uma família parte numa viagem de férias e tem que atravessar o deserto do Novo México para chegar na Califórnia. Seguindo as instruções de um malvado dono de um posto de gasolina, eles seguem um caminho perigoso e são vítimas do ataque de um grupo de psicopatas canibais com deformações físicas. No elenco, o rosto mais conhecido é o da belíssima Emilie de Ravin, do seriado LOST. O segundo rosto mais conhecido é o de Billy Drago, protagonista de IMPRINT, de Takashi Miike.
Um dos momentos fracos do filme está na seqüência em que o patriarca da família de viajantes volta ao posto de gasolina e lá vê recortes de jornais com notícias sobre os testes nucleares e o nascimento de crianças mutantes. Uma seqüência totalmente desnecessária e já muito utilizada em filmes de terror e policiais. Nos filmes, sempre tem alguém que coleciona recortes de jornais para que um dos personagens tenha como juntar o quebra-cabeças. Também sinto que esse subgênero está começando a cansar, já que o nível de medo, de horror mesmo, não é mais tão perturbador. Ainda assim, pode-se dizer que Alexandre Aja fez um bom trabalho. E ele vai continuar trabalhando em Hollywood. Seus próximos filmes se chamam INTO THE MIRROR, sobre um espelho misterioso que traz à tona o lado mau das pessoas (essa sinopse parece copiada do filme brasileiro ESPELHO DE CARNE) e THE WAITING, sobre uma mulher assombrada pelo fantasma de sua própria filha. Vamos ver como Aja vai se sair com filmes que aparentemente não trazem muito sangue.
quinta-feira, julho 27, 2006
POR AMOR OU POR DINHEIRO? (Combien Tu M'aimes?)
Confesso que vi esse filme por causa da Monica Bellucci em cenas de nudez. Mas fiquei mais tranqüilo quando vi que a direção era de Bertrand Blier, diretor de MEU HOMEM (1996), que já era um filme que abordava um pouco o sentimento de posse numa relação. POR AMOR OU POR DINHEIRO? (2005) ainda conta com a presença do gigante Gérard Depardieu, no papel de um cafetão.
Na trama, Bellucci é uma prostituta de luxo que recebe uma proposta difícil de recusar. Bernard Campan entra no prostíbulo e lhe oferece cem mil euros por mês, até que todo o dinheiro que ele diz ter ganhado na loteria acabe. Ele apenas quer que ela fique com ele, morando no mesmo apartamento, como sua mulher. O sujeito tem uns problemas cardíacos e um mulherão daqueles na sua frente não é muito indicado por seu médico particular. A situação por si só já é bastante divertida, mas o humor de Blier é um tanto estranho. A utilização da música, em determinados momentos, lembra UMA MULHER É UMA MULHER, do Godard. O melodrama está a todo instante batendo à porta dessa comédia que lida com paixões e fraquezas. De vez em quando, ouvimos uma ópera na trilha, aumentando, assim, o nível de dramaticidade do filme.
Monica Bellucci não está no auge da forma física, como estava em IRREVERSÍVEL (2002). Ela está um pouco gordinha por causa de uma gravidez recente. Mas ainda assim é aquele espetáculo de mulher mais carnuda, na tradição das atrizes italianas. Pena que as cenas de sexo não são tão boas quanto eu esperava que fossem. O negócio é não criar muitas expectativas nesse sentido e ver o filme mais como uma comédia um pouco esquisita.
Pena que os filmes de Betrand Blier não costumam chegar no circuito exibidor brasileiro. MEU HOMEM, eu lembro de ter visto no cinema. E se não me falha a memória, é um filme bem mais excitante do que esse seu novo trabalho. No entanto, seu título mais famoso talvez seja MEU MARIDO DE BATOM (1986), que fez relativo sucesso nas locadoras na época das fitas de vídeo. O DVD de POR AMOR OU POR DINHEIRO? não tem extras, mas ao menos o filme está na janela correta, em scope.
quarta-feira, julho 26, 2006
É RUIM, HEIN!
Um dia desses eu li uma frase, não me lembro de quem, que dizia que quem quer ver apenas filmes bons não gosta de cinema. Pois bem. Estou com uma lista enorme de filmes para despejar aqui no blog e quero me livrar logo dos ruins, aproveitando o gancho com o filme dos piratas que fez a cabeça de tanta gente.
FILHA DA LUZ (Bless the Child)
É o tipo de filme que eu vejo por teimosia, pois todo mundo desprezou ou xingou o dito cujo. Como eu tenho atração por filmes de terror, mesmo os ruins, acabei gravando quando passou no SBT para ver quando estivesse a fim de relaxar, antes de dormir. E o começo do filme é até legal. Kim Basinger não é má atriz e se esforçou para dar alguma carga de verdade à sua personagem. O problema é que só quem sabe transformar uma estória ruim num filme bom são os grandes diretores. Não é o caso de Chuck Russell, diretor do sucesso de bilheteria O MÁSCARA (1994) e que começou fazendo filmes de terror competentes como A HORA DO PESADELO 3 (1987) e A BOLHA (1988), mas que atingiu o fundo do poço mais recentemente com O ESCORPIÃO REI (2002). FILHA DA LUZ (2000) é o começo dessa fase descendente de Russell. Na trama, menina com poderes especiais, quase uma santa, está sendo procurada por um grupo de satanistas que deseja que ela se volte para o mal. Além de Kim Basinger, o filme ainda traz Rufus Sewell (tem cara de malvado esse sujeito), Ian Holm, Christina Ricci e Angela Bettis.
ELECTRIC DRAGON 80.000 V
Por incrível que pareça existem apreciadores desse filme. Agora mesmo fui pesquisar no IMDB e vi que utilizaram o termo "clássico" para ELECTRIC DRAGON 80.000 V (2001)! Fui ver esse filme na Mostra Japão Pop no CCBB, quando estava em São Paulo, na companhia dos amigos Marcelo V, Ana Paul e Michel Simões. Marcelo e Ana gostaram. Eu e o Michel detestamos. Fazer uma sinopse para o filme é uma tarefa difícil. Michel conseguiu, ao escrever sobre o filme no blog dele. Tentando descomplicar um pouco, a trama trata de um rapaz que, quando garoto, subiu numa torre de energia elétrica e foi sobrecarregado com uma carga enorme de eletricidade. Quando cresce ele tem poderes elétricos, lança raios pelas mãos e descarrega suas tensões tocando guitarra!! Aliás, se não fosse a guitarra, esse filme não teria a menor graça. É engraçado quando ele grita "guitaaarrr!!" e começa a fazer barulho com o instrumento. Inclusive, o filme gasta uns três minutos de sua curta duração (55 min) apenas mostrando o rapaz fazendo barulhinho com a guitarra. Mas a presepada não pára por aí: chega uma hora que entra em cena um outro sujeito que também tem poderes elétricos e os dois vão se enfrentar. Até daria pra eu ter me divertido, mas o problema é que em vários momentos eu não tinha a mínima idéia do que estava acontecendo. Compararam esse filme com TETSUO, mas é como eu falei pra turma: eu não acredito que TETSUO seja tão ruim. Guitaaaarr!!!
MÁSCARA DA ILUSÃO (MirrorMask)
Total decepção pra mim a estréia na direção de longa-metragens de Dave McKean. O artista é mais conhecido pelas excelentes capas que ele fez para "Sandman", a melhor e talvez única coisa realmente boa que Neil Gaiman fez. Gaiman é o roteirista do filme. Por causa de "Sandman", Gaiman ganhou fama e hoje é autor de romances que vendem milhões de exemplares no mundo todo. Eu custo a crer que as pessoas realmente estejam gostando dessa nova fase do autor. A última coisa boa que eu li dele foi "Criaturas da Noite", quadrinhos que têm um gostinho de "Sandman". Eu cheguei a comprar o livro "Deuses Americanos", mas até hoje não consegui terminá-lo de tão chato que ele fica no meio. Quem sabe um dia eu termino. Daí chegamos a esse MÁSCARA DA ILUSÃO (2005), que saiu numa bela edição em DVD pela Sony: qualidade da imagem excelente, comentários em áudio de McKean e Gaiman, entrevistas com os autores. Difícil é querer ver todos esses extras depois de agüentar uma estória tão boba e chata. No começo, o visual do filme até agrada, parecem as capas de "Sandman", mas depois a gente sente falta de uma narrativa boa. Se eu fosse dar um troféu para filme mais chato do ano, MÁSCARA DA ILUSÃO ganharia o prêmio fácil, fácil.
segunda-feira, julho 24, 2006
PIRATAS DO CARIBE: O BAÚ DA MORTE (Pirates of the Caribbean: Dead Man's Chest)
Eu me considero um cinéfilo bastante aberto a todos os gêneros e estilos de filmes. Gosto dos filmes do verão americano, dos blockbusters, do cinema como grande evento, ainda que em grande parte das vezes esse filmes funcionem como mera diversão descartável. Alguns filmes, porém, embora eu veja tanta gente elogiando, só me causam sono e desinteresse. PIRATAS DO CARIBE: O BAÚ DA MORTE (2006), assim como o seu antecessor de 2003, é um exemplo típico. Não dá pra dizer que eu sinto desprezo pelo filme, pois eu me dei ao trabalho de sair de casa e de comprar um ingresso para assistí-lo, mas é um sentimento que se aproxima disso.
A melhor seqüência, na verdade a única que me deixou realmente entretido, é aquela dos piratas sendo capturados por uma tribo canibal. Foi quando eu percebi o grande potencial de Gore Verbinski para filmes que se assemelham a desenhos animados. O que me lembrou de UM RATINHO ENCRENQUEIRO (1997), filme infanto-juvenil que o cineasta dirigiu no início da carreira e antes do sucesso de O CHAMADO (2002). Dizem que o filme é bem divertido. E deve ser mesmo. Verbinski é um bom diretor, mas virou um pau mandado de Jerry Bruckheimer, produtor que se especializou em diversão escapista e acéfala. Vejam só: não estou pedindo um blockbuster intelectual ou coisa do tipo: o que eu queria era pelo menos uma estória que fizesse sentido e não um amontoado de situações onde o mais importante são os efeitos especiais e o enorme barulho que o filme promove durante sua interminável metragem (duas horas e meia!), capaz de atrapalhar até mesmo o sujeito que está assistindo a um filme mais calminho na sala ao lado.
Outra coisa que me incomoda é ver um dos melhores atores da geração anos 90 - Johnny Depp - envolvido com essa trupe. Depp foi sugado pelo "lado negro" de Hollywood. Não resistiu aos milhões na conta bancária, ao apelo popular, à indicação ao Oscar. Uma pena, mas dá pra entender. Tem certas coisas que são mesmo difíceis de resistir. Dinheiro é uma delas. Mas sabe qual o maior problema disso tudo? É que o filme está fazendo um sucesso estrondoso. É, até o momento, a maior bilheteria de 2006, tendo ultrapassado títulos como X-MEN: O CONFRONTO FINAL e SUPERMAN - O RETORNO. Mas e daí que o filme está rendendo horrores? Daí que os executivos de Hollywood cada vez mais vão pensar que o público é idiota, que ninguém está nem aí para uma boa estória, para uma direção decente, para um pouco mais de sensibilidade. A impressão que eu tenho, vendo um filme como esse, é que o bom cinema está cada vez mais restrito a salinhas minúsculas, sendo cada vez mais achatado por esses monstros. Enquanto isso, A DAMA NA ÁGUA, do M. Night Shyamalan, está recebendo péssimas críticas e uma bilheteria que ainda não conseguiu se pagar. O principal motivo para o fracasso do filme do Shyamalan tem sido o boca-a-boca negativo. Quer dizer que todo mundo está espalhando que esse filme dos piratas é um filmaço, então? Não dá pra entender.
P.S.: Recomendo a leitura da crítica de Kleber Mendonça Filho no Cinemascópio. Kleber escreveu exatamente o que eu pensei sobre o filme, só que ele escreve muito melhor. Mas como não sei ficar sem meu jabá, aviso que tem coluna nova no CCR: 10 Road Movies. E já que estamos falando de números, aproveito também para recomendar a coluna do Leonardo Heffer sobre as maiores bilheterias do momento.
domingo, julho 23, 2006
MALDITO CORAÇÃO (The Heart Is Deceitful above All Things)
Quem diria que Asia Argento, a "filha do homem", depois de uma estréia pouco elogiada - SCARLET DIVA (2000) - mandaria tão bem na direção com esse ótimo drama sobre como não educar uma criança. MALDITO CORAÇÃO (2004) é desses filmes que incomodam e ao mesmo tempo atraem o espectador. Depois de eu ter visto o filme, falei pra minha irmã: "olha, tem um filme legal no player, acho que você vai gostar." No fundo, eu fui um pouco perverso com ela, pois sei que a minha irmã é daquelas que só gosta de comédia romântica e que é muitas vezes atraída por títulos, digamos, mais românticos. No entanto, ela assistiu até o final, embora tenha sido tentada a interromper o filme a cada situação perturbadora pelo qual o garoto passava.
MALDITO CORAÇÃO não dá trégua. O começo do filme já joga o pequeno Jeremiah na casa de sua mãe biológica (a própria Asia), uma mulher viciada em drogas e totalmente irresponsável. Para Jeremiah, aquela mulher é uma estranha, o que ele mais quer é voltar para os seus pais adotivos. Em vez disso, ele é entregue a uma mulher que não hesita em lhe dar drogas químicas, além de deixar o garoto com um estranho que lhe abusará sexualmente. Até mesmo quando Jeremiah é resgatado por seus avós, a realidade para ele não deixa de ser bastante cruel. A repressão gerada pela família de fundamentalistas religiosos muito provavalmente foi uma das razões para o estado caótico em que se encontra a mãe de Jeremiah.
Interessante que quem interpreta os avós de Jeremiah são Peter Fonda e Ornella Muti. Imagina só: Ornella, que até o começo dos anos 90 era uma das mulheres mais lindas e gostosas do cinema, agora é avó, mãe da Asia Argento. Se bem que ela já passou mesmo dos cinqüenta anos. A gente é que fica sem noção de como o tempo passa rápido. Quanto ao filme, parece que sexo, drogas e rock and roll é mesmo uma obsessão para Asia, já que SCARLET DIVA transita por esse território, assim como também é um filme sobre autodestruição. Não é pra menos que ela foi chamada para dirigir um vídeoclipe de Marilyn Manson, o censurado "s(Aint)". Quer entender porque razão o vídeo foi censurado? Tem "s(Aint)" no YouTube.
sexta-feira, julho 21, 2006
MARTHA
Felizmente a Versátil, com o apoio da Fundação Fassbinder, começou desde maio a trazer os filmes do cineasta para o Brasil. Rainer Werner Fassbinder foi o maior discípulo de Douglas Sirk. No entanto, fez filmes extremamente pessoais. MARTHA (1974), embora tenha sido creditado como adaptação de um livro de Cornel Woolrich, segundo uma das entrevistas presentes nos extras do DVD, foi baseado na vida dos pais de Fassbinder. Imagino que, de propósito, Fassbinder deve ter pintado de forma exagerada o casal, já que eu não consigo conceber seres humanos daquela maneira. Principalmente o sádico, representado por Karlheinz Bohm, ator conhecido pelo papel do psicopata de A TORTURA DO MEDO, de Michael Powell.
O filme conta a história de Martha (Margit Carstensen), uma mulher nos seus trinta e poucos anos, ainda solteira, que tem um pai dominador. Passando as férias na Itália, o pai tem um ataque cardíaco e morre. Ela fica num misto de excitação e tristeza com a morte do pai. Logo em seguida, ela conhece um homem que vai mudar a sua vida. A seqüência em que os dois se encontram pela primeira vez é uma das mais memoráveis do filme. A câmera gira 360 graus em torno dos dois. O resultado conseguido por Fassbinder e seu diretor de fotografia foi fantástico. Aos poucos, a relação do casal vai atingindo um grau de sadismo e submissão insuportáveis. Entre as cenas mais chocantes, tem aquela em que Martha adormece enquanto toma sol. Helmut, o marido, não interfere e deixa a pobre mulher dormir até que seu corpo fique totalmente cheio de queimaduras. E ainda assim, ele ainda faz sexo com a mulher enquanto ela grita de dor. Chega uma hora que o principal sentimento que o filme passa é raiva e indignação. Raiva tanto da mulher, por ser excessivamente submissa, quanto dele. Poucas vezes o cinema mostrou um personagem tão frio e perverso.
Tudo isso é contado em cores bem interessantes. Fassbinder usa o technicolor de modo a deixar o seu filme parecido com um melodrama dos anos 50. A homenagem ao principal mestre de Fassbinder aparece de maneira explícita numa cena em que é mencionada uma certa Rua Douglas Sirk. Uma outra forte influência em MARTHA é a obra-prima O ALUCINADO, de Luis Buñuel. O filme do Buñuel também trazia um marido dominador, com a diferença que o protagonista do filme de Buñuel era, ao mesmo tempo, dominador e vítima. Não sei se pode-se dizer o mesmo do Helmut de MARTHA.
Espero que a locadora onde eu aluguei MARTHA também tenha comprado O DESESPERO DE VERONIKA VOSS (1982), LOLA (1981) e O CASAMENTO DE MARIA BRAUM (1979). Espero que lancem também BERLIN ALEXANDERPLATZ (1980), mini-série grande demais para ser vista no cinema - mais de 15 horas de duração! O DVD seria a mídia perfeita, nesse caso. Aguardemos, então.
quinta-feira, julho 20, 2006
O CINEMA INDEPENDENTE AMERICANO EM 4 FILMES
Quando estava na noite de abertura do I Festival Latino de Cinema, em São Paulo, não lembro quem foi que falou, acho que o João Batista de Andrade, que o nosso cinema precisava brigar por um espaço dentro do pouco espaço que o cinema americano deixava. E que dentro desse espaço pequeno, que abrigam filmes de todas as partes do mundo, haviam também filmes americanos, pertencentes ao cinema independente. Sei que é realmente uma luta desleal, mas diante de filmes tão interessantes vindos da cinematografia americana, eu não consigo vê-los como inimigos. Até porque uma das principais características desse cinema é o fato de que ele é simpatizante dos tipos marginais, das pessoas rejeitadas, das pessoas estranhas. Pode-se dizer que o que há de mais ousado no cinema americano hoje se encontra nessas produções de menor orçamento e nas produções das televisões por assinatura. Da semana que eu estive em Sampa, tive a oportunidade de ver três filmes independentes e quando retornei para Fortaleza, vi que estava passando A LULA E A BALEIA (2005) no Espaço Unibanco daqui. Como estou com uma quantidade enorme de filmes pra comentar aqui no blog, vou ter que fazer de vez em quando esses posts "coletivos".
FACTOTUM - SEM DESTINO (Factotum)
Foi o terceiro filme que eu vi inspirado na vida do escritor maldito Charles Bukowski. Como já era de esperar, não falta bebedeira, sarjeta e falta de rumo na vida. Se comparado com CRÔNICA DE UM AMOR LOUCO, de Marco Ferreri, e BARFLY - CONDENADOS PELO VÍCIO, de Barbet Schroeder, FACTOTUM (2005) sai perdendo. Há mais coisas em comum na trama com o filme de Ferreri, mas uma das principais diferenças é que FACTOTUM foca mais nas tentativas do protagonista de conseguir um emprego normal, enquanto tenta arranjar um editor para o seu livro. O problema é que ele rapidamente fica entediado ou aborrecido com o trabalho e sai para o bar mais próximo tomar umazinha. Talvez um dos problemas do filme seja a escolha de Matt Dillon para o papel. Ele, em nenhum momento, parece estar na pior, por mais que a maquiagem tente. Quem desempenha muito melhor essa função é Lili Taylor, que interpreta uma das amantes de Henry Chinaski. Senti falta de uma mulher linda como a Ornella Muti, mas nem sempre se pode ter tudo. E, se tivesse, aí que o filme não ia funcionar mesmo.
EU, VOCÊ E TODOS NÓS (Me and You and Everyone We Know)
Um dos filmes mais belos a aportar nas telas. Há uma ternura neste EU, VOCÊ E TODOS NÓS (2005) que não se vê mais nos filmes de hoje. Fiquei curioso para saber quem é essa simpatia chamada Miranda July, que debuta na direção de filmes e também comparece como uma das personagens principais. Pois bem, antes de fazer sucesso no circuito alternativo, Miranda era uma artista performática e uma escritora de contos. Soube também que ela escolheu o sobrenome "July" porque esse é o mês que mais facilita a sua vida. Até achei que ela fosse canceriana por causa disso, mas não: ela é aquariana. O filme apresenta um grupo de quatro pessoas que se conectam por alguma razão. Tem a artista solitária interpretada por Miranda, o recém-separado vendedor de sapatos que tem dois filhos; os dois garotos também têm importância fundamental na trama. Inclusive, o mais novo é responsável por um dos momentos mais engraçados do filme, quando ele e o irmão estão no chat com uma estranha, na internet. Já a seqüência do peixe em cima do carro em movimento é tão cheia de amor que faz com que uma energia toda especial contamine toda a sala de exibição. Magia pura.
BUBBLE - UMA NOVA EXPERIÊNCIA (Bubble)
Steven Soderbergh é talvez o principal nome surgido no cinema independente americano nos últimos vinte anos. Com o tempo ele foi sugado para o cinemão hollywoodiano, mas ele conseguiu reverter a situação e hoje faz o que bem entende na indústria. Nada como ter amigos na praça. E ele tem muitos, entre eles, astros do primeiro escalão, como Brad Pitt, George Clooney e Julia Roberts. Apesar disso, ele preferiu voltar às origens nesse BUBBLE (2006), que nos Estados Unidos foi lançado simultaneamente em cinema, DVD e tv a cabo. O elenco é formado por atores não profissionais. Como é um projeto menor, o próprio Soderbergh foi responsável pela fotografia e pela edição do filme, embora não tenha sido creditado. BUBBLE é desses filmes que causam angústia no espectador. A trama gira em torno de duas pessoas, um rapaz e uma senhora de meia-idade que trabalham numa fábrica de bonecas. Sua rotina triste é modificada com a chegada de uma jovem na fábrica. Não dá pra dizer muita coisa para não estragar o filme. Mas adianto que ver BUBBLE é entrar triste e sair deprimido.
A LULA E A BALEIA (The Squid and the Whale)
Qualquer filme que tenha a Laura Linney já vale a pena ser visto. Taí uma atriz extraordinária. A LULA E A BALEIA trata da repercussão de uma separação na vida de um casal e seus dois filhos adolescentes. O filme foi baseado nas experiências de vida do próprio Noah Baumbach (o diretor) quando adolescente. Tanto que o filme até se passa no começo dos anos 80, ficando, assim, mais próximo do que realmente pode ter acontecido. Mas, independente de ser ou não baseado em fatos reais, trata-se de um belo filme e que tem personagens cativantes e cheios de defeitos e problemas. Jeff Daniels é o pai mão-de-vaca e dominador que se separa depois de levar uns pares de chifre da esposa (Laura Linney). O filho mais velho é um dos personagens mais interessantes. Ele é o exemplo de uma pessoa que não busca suas próprias experiências. Ele copia uma canção do Pink Floyd e diz que é sua para participar de um concurso de música na escola; ele pergunta ao pai sobre as principais obras de determinados autores, para não "perder tempo" lendo. Hilária a cena dele discutindo "A Metamorfose", de Kafka, com uma garota. Pior que existe mesmo pessoas assim. Dia desses, estava esperando ônibus lendo "O Código Da Vinci" quando um sujeito estranho se aproxima para debater o livro comigo. Detalhe: ele nunca leu o livro. Interessante que, no filme, quem mais parece saber o que quer da vida e que tem mais sabedoria é a personagem de Laura Linney. A mulher traidora é quem sai melhor na fita.
quarta-feira, julho 19, 2006
DOIS FILMES DE INTÉRPRETES
É muito comum na época do Oscar a gente ver filmes em que os intérpretes se sobressaem. Muitos desses filmes são até subvalorizados pela crítica, às vezes com razão. Não acho que seja o caso desses dois filmes, da safra do Oscar 2006 e que só agora eu pude conferir. TRANSAMÉRICA (2005) estreou na última sexta-feira nos cinemas paulistanos, enquanto que RITMO DE UM SONHO (2005) estreou por lá já faz algum tempo, mas que nem chegou a passar nos cinemas aqui de Fortaleza. Só pude vê-lo agora, com o lançamento do DVD da Paramount, que vem com um bom documentário sobre as filmagens e comentário em áudio do diretor Craig Brewer. Os dois filmes trazem como destaque seus protagonistas: Felicity Huffman e Terrence Howard. Nenhum dos dois chegou a ganhar o Oscar - perderam para Philip Seymour Hoffman (CAPOTE) e Reese Whiterspoon (JOHNNY & JUNE). Vamos aos comentários rápidos e rasteiros sobre os dois filmes.
TRANSAMÉRICA (Transamerica)
Road movies sempre me agradam. Até mesmo os mais fracos me passam uma sensação de liberdade e de excitação que poucos filmes produzem. Talvez TRANSAMÉRICA não seja o melhor exemplo desse subgênero, mas é um bom filme, apesar de perder um pouco do brilho à medida que nos afastamos dele. Uma de suas maiores qualidades, entretanto, diz respeito ao fato de Felicity Huffman convencer de verdade na pele de um transexual louco para se livrar de seu pênis e se transformar numa mulher. Antes disso, porém, ele descobre que tem um filho adolescente, produzido numa noite de bebedeira e sexo "quase lésbico". Seguindo as recomendações de sua terapeuta, ela procura o tal garoto, que estava preso por vandalismo (ou algo do tipo, não lembro direito). Ele (ou ela, tanto faz) paga a fiança e sai com o filho em seu carro sem dizer para o rapaz que ele é na verdade seu pai, nem que ele tem um pênis por baixo do vestido. Falta ao filme uma maior densidade aos seus personagens. Quem tem um personagem mais aprofundado é só Felicity Huffman. Mas quem for ao cinema querendo apenas se divertir deve gostar do filme, que tem algumas seqüências bastante divertidas. TRANSAMÉRICA foi o longa-metragem de estréia de Duncan Tucker.
RITMO DE UM SONHO (Hustle & Flow)
Bem melhor que TRANSAMÉRICA é este RITMO DE UM SONHO, que tem uma direção elegante, um ator em estado de graça (Terrence Howard) e uma trilha sonora empolgante. A estória do filme trata de um cafetão que, cansado de sua "profissão", resolve perseguir o seu sonho, que é o de se tornar um rapper famoso e respeitado. Ele começa a criar expectativas quando encontra um amigo do passado que trabalha com aparelhagem de som. Sua intenção é gravar uma fita demo e mostrar para alguém que possa lhe ajudar a colocar uma canção no rádio. RITMO DE UM SONHO é um filme parente de outros como JOHNNY & JUNE e 2 FILHOS DE FRANCISCO, com a diferença que aqui se trata de um personagem totalmente fictício, inspirado na vida do próprio diretor, Craig Brewer. No documentário presente no DVD, Brewer conta das dificuldades que teve para conseguir financiamento para seu filme. Ele também quis prestar uma homenagem à tradição musical da cidade de Memphis, que no passado brilhou com os primeiros cantores de rock. John Singleton, o produtor, parece que teve uma influência muito forte no filme, também.
terça-feira, julho 18, 2006
SUPERMAN - O RETORNO (Superman Returns)
Superman nunca foi dos meus heróis favoritos. Sua invencibilidade, seu poder que parece não ter limites, tudo isso contribui para que ele não ganhe a simpatia de muita gente. Por isso que quando a Marvel surgiu com seus heróis mais humanos e cheios de falhas foi um grande sucesso. Sabendo disso, os roteiristas de SUPERMAN - O RETORNO (2006) procuraram trazer um Superman que tivesse suas falhas ou seus momentos de fraqueza. E eles acertaram em cheio. Talvez eu esteja exagerando um pouco ao dizer que o filme de Bryan Singer é a mais bem sucedida adaptação para o cinema de um personagem da DC Comics. Singer nos mostra um Superman que sofre de dor de cotovelo e que usa seus poderes para invadir a privacidade de Lois Lane, numa das melhores cenas do filme. Há também outros momentos mais sutis como aquele em que Superman salva Lois e usa sua visão de raio-x para verificar se sua amada estava bem. Isso acontece com o marido de Lois do lado. Ele sabe que aquele alienígena de roupa colante azul poderia muito bem estar olhando para o corpo de Lois por baixo das roupas.
Claro que SUPERMAN - O RETORNO não terá o mesmo impacto do filme de Richard Donnner, nem tem um décimo da quantidade de estrelas presentes. O maior astro do filme é Kevin Spacey, que faz um Lex Luthor mais malvado do que aquele de Gene Hackman. Se tem algum problema com o personagem de Spacey, ele está na falta de lógica de seus planos malévolos, mas isso é perfeitamente coerente com o histórico do personagem e da própria DC, que sempre se caracterizou por ser bem mais maniqueísta que a sua maior concorrente. O seu plano para a destruição da humanidade me pareceu bem idiota. Mas são assim quase todos os vilões e, quanto à sua megalomania, não daria para fazer algo de menores proporções em se tratando de Superman. Ele é tão super-poderoso que é preciso algo gigantesco para que seja verdadeiramente um desafio para ele.
Quanto à nova Lois Lane, interpretada por Kate Bosworth, ela é bem mais bonita que a Margot Kidder. Assim, fica mais fácil de a gente se identificar com o Super-Homem. Para um herói dotado de uma super-honestidade, cheguei a ficar surpreso com o fato de ele ter dado em cima de uma mulher casada. Alguns fãs dos quadrinhos do herói até reclamaram das ousadias do roteiro, principalmente com o fato de arranjarem um filho para Lois Lane. Mas é melhor eu não falar muito sobre esse assunto sob o risco de estragar um pouco as surpresas. Ainda não falei do ator que faz o Superman. Pois bem, claro que ele não chega a ser um Christopher Reeve, a maior encarnação do herói já surgida e que provavelmente jamais encontrará um concorrente à altura. Porém, Brandon Routh, desempenha muito bem sua função.
Uma coisa que a gente percebe claramente vendo esse filme é o extremo respeito que Singer tem pelo personagem. Há uma seqüência do filme que mostra fotos de Superman em ação que é uma réplica exata da capa de Action Comics #1, a revista que trouxe a primeira aparição do herói, em 1938. O respeito pelo filme original de Richard Donner também é notado, a começar pelos créditos de abertura que utilizam a mesma formatação do filme de 1978, inclusive com a música genial de John Williams.
Fico imaginando o que seria se o filme fosse dirigido por outros nomes que foram cotados anteriormente. No início, Tim Burton tinha um projeto chamado SUPERMAN LIVES e quem iria interpretar o herói era Nicolas Cage. Deveria ficar no mínimo ridículo, Cage na pele do Homem de Aço. Brett Ratner foi o primeiro cineasta cotado para dirigir o filme. Engraçado que nesse caso aconteceu uma espécie de troca: Singer ficou com o filme do Superman enquanto Ratner dirigiu o terceiro filme da franquia dos mutantes. McG também foi cotado para dirigir SUPERMAN - O RETORNO. Como eu sou fã dos dois filmes das Panteras, imagino que McG faria um bom trabalho, mas completamente distinto do filme de Singer, respeitoso e com um andamento que lembra muito o do filme de 1978, mais lento. Singer, inclusive, já foi escalado para dirigir a seqüência desse filme, prevista para estrear em 2009. Mas antes disso, o jovem cineasta vai dirigir duas produções de menor escala. Uma delas se chama THE MAJOR OF CASTRO STREET (2007), filme que conta a história de um homem famoso por sua luta pelos direitos dos homossexuais em São Francisco. Deve ser o filme que vai confirmar mais explicitamente a orientação sexual de Singer.
P.S.: Recebi ontem a TEOREMA #9. Além das sempre ótimas críticas, tem uma puta entrevista do Beto Brant que por si só já justifica a compra da revista. Quem é de Porto Alegre, São Paulo ou outra cidade que venda a revista não deve perder. Agradecimentos a Marcus Mello que me enviou a revista.
segunda-feira, julho 17, 2006
VIAGEM A SAMPA
E a viagem a Sampa foi um sucesso. Em resumo, me encontrei com o pessoal da Cinefelia, com o Aguilar e o Carlão, com o Marcelo e a Ana Paul e com a Dianah. Foi um grande prazer conversar e ver de perto pessoas tão especiais. Espero novamente um dia me encontrar com todos. Como foram muitos dias longe do blog, não vai ser possível eu fazer um relatório detalhado de todos os dias que estive em São Paulo, mas vou fazer um resumão do que aconteceu, também como forma de reviver na memória momentos tão especiais. Como adepto da narrativa clássica, começarei pelo começo.
Sexta-feira, dia 7. Pra quem ia passar tanto tempo longe de casa, até que eu estava bastante tranqüilão para essa viagem. Era dia do meu aniversário e eu nem ligaria se não ganhasse nenhum presente. Só a viagem já seria um baita de um presente que eu estava me dando. Mas ainda assim ainda ganhei vários presentinhos do pessoal aqui de casa e o namorado da minha irmã ainda foi me deixar no aeroporto. E olha que já era madrugada, início do dia 8.
Sábado, dia 8. O avião saiu atrasado mais de uma hora. Cheguei no aeroporto de Guarulhos por volta das 8 da manhã. A viagem foi horrível, super-desconfortável. Um sujeito ao meu lado estava passando mal e eu já achava que ele ia vomitar. O vôo estava lotadíssimo. O Michel me recebeu no sagüão e a gente foi dar uma volta pela Av. Paulista até que desse meio-dia e eu pudesse fazer o check-in no hotel. Andamos bastante e comemos umas esfirras no Habib's da Rua Augusta. Passamos pela 2001 da Paulista para ver o acervo, mas não comprei nada. Fiquei admirado com o preço exorbitante dos estacionamentos. Estranhei um pouco o sistema do Hotel (Formule 1), mas logo a impessoalidade do lugar passou a ser uma vantagem pra mim. Depois de almoçar e dormir, passei lá no Belas Artes e assisti O AMOR EM CINCO TEMPOS, de François Ozon. Belo filme. Adorei a cama do hotel, super-confortável. Uma beleza.
Domingo, dia 9. Dia de final da Copa do Mundo. Liguei para a Ana Paul, que tinha me deixado seus telefones. Resultado: a Ana ficou de me pegar na segunda à noite para que eu, ela e o Marcelo pudéssemos ir para a cerimônia de abertura do Festival de Cinema Latino no Memorial da América Latina. Claro que topei. A sessão de domingo à tarde foi no Unibanco Arteplex, no Shopping Frei Caneca. O filme: FACTOTUM - SEM DESTINO. Um fillme entre o bom e o mediano. Cheguei a tempo de ver a prorrogação do jogo Itália x França e a cobrança dos pênaltis. Zidane foi o grande protagonista do jogo. As duas imagens que vão ficar marcadas na memória: a cabeçada e a saída dele, ao lado do troféu. À noite, fui ao cinema com o Michel ver o ótimo EU, VOCÊ E TODOS NÓS, de Miranda July. Depois do filme, comemos uma deliciosa pizza na Rua Augusta, no Pedaço da Pizza. Acho que foi a melhor pizza que eu já comi na vida.
Segunda-feira, dia 10. Passei a manhã inteira em casa. Não parava de chover e nada parecia melhor do que aquela cama. Levantei às 7 para o café da manhã e voltei para a cama. Acordei perto do meio-dia para dar uma volta. Tive que comprar um guarda-chuva. Como o meu sapato não era à prova d'água, lá fui eu comprar outro. Comprei também o encadernado do Sandman - Um Jogo de Você. O filme da tarde foi o brasileiro A CONCEPÇÃO, no Belas Artes. Bem diferente, esse filme do Belmonte. Saí do cinema sem saber direito o que tinha achado do filme. À noite, conforme combinado, a Ana Paul foi me pegar lá no hotel. Passamos na casa do Marcelo, que é bem mais diferente (fisicamente) do que eu havia imaginado. Gostei demais deles dois. A noite de abertura do I Festival Latino foi bem interessante, com a exibição de ZA 2005 - O VELHO E O NOVO, de Fernando Birri. O velhinho estava lá e foi homenageado. O grande Nelson Pereira dos Santos também marcou presença, assim como Orlando Senna e João Batista de Andrade. Encontrei o Marcelo Lyra por lá também. Depois do filme, teve um coquetel e depois a Ana e o Marcelo me levaram para um bar bem interessante, onde tomamos um delicioso caldo de feijão. O papo foi muito bom.
Terça-feira, dia 11. Saí do hotel mais cedo com duas missões: 1) trocar o sapato que havia comprado no dia anterior pois o mesmo tinha ficado apertado; e 2) procurar um casaco de linha para uma colega de trabalho lá no Anhangabaú. Felizmente, as duas coisas deram certo, ainda que tenham dado um pouco de trabalho. O sapato, eu tive de ir lá na filial da loja no Shopping Metrô Santa Cruz. Aproveitei que estava lá para conhecer o lugar e aproveitei para assistir PREMONIÇÃO 3, filme bem fraquinho. Valeu mais para conhecer uma sala do Cinemark. À noite, fui com o Michel na Sala Cinemateca para assistir A MARSELHESA, de Jean Renoir. Antes do filme teve uma mini-palestra. Senti-me como se estivesse numa sala de aula de curso de cinema. Quando o filme terminou já era quase meia-noite, hora de dormir.
Quarta-feira, dia 12. O dia foi meio angustiante. O ar de São Paulo me pareceu hostil, senti saudades de casa, minha garganta não estava boa. Acessei a internet e li um e-mail do Renato que disse que achava que não viria para Sampa. A Dianah também acabou desmarcando o nosso encontro da quinta-feira e o PCC estava botando pra quebrar na cidade. Não foi bem um dia legal. De acordo com informação da Ana Paul, fui lá conhecer o Sebo do Messias, perto da Praça da Sé. Não vi muita coisa interessante. Levei apenas o VHS de A MARCA DA CORRUPÇÃO, de John Flynn. Voltei para a Consolação para almoçar e ver BUBBLE, de Steven Soderbergh, um filme totalmente em sintonia com o mau estar desse dia. Liguei para o Michel e ele me falou que a Fer estava chegando. Felizmente a noite foi bem melhor. Na falta de outra coisa pra fazer, eu e o Michel acabamos marcando uma outra sessão de cinema. Vimos o argentino HERÊNCIA, filme bastante simpático e agradável. Saí do cinema muito bem. Totalmente o oposto do filme do Soderbergh. Depois da sessão, encontramos a Fer, que estava com todo o pique, mas ao mesmo tempo também muito cansada da viagem. Fomos a um restaurante italiano e comemos um ótimo filé à parmegiana. Foi muito legal conhecer a Fer pessoalmente, depois de mais de cinco anos de convivência apenas via internet.
Quinta-feira, dia 13. Acho que esse foi o dia que eu mais andei. Acordei mais cedo e fui dar uma volta lá perto da estação do metrô República. Quis conhecer a Galeria do Rock, mas achei o lugar meio decadente. Acabei voltando para a Paulista e andei bastante. Encontrei por acaso o FNAC e achei o lugar muito legal. Dá vontade de ser rico quando a gente entra ali. Enquanto eu caminhava, a Dianah liga para mim avisando que dá certo o encontro para a sexta-feira. Legal. No cinema, vi o documentário O HOMEM URSO, de Werner Herzog. Achei que o filme fosse melhor, mas gostei assim mesmo. Vi lá no Cine Gemini, um lugar meio decadente e com a projeção meia-boca, mas que tem um sabor daquelas salas de cinema antigas. À noite, foi a vez de eu apresentar o Michel para a Ana Paul e o Marcelo e vice-versa. Fomos para o Centro Cultural Banco do Brasil ver um filme da mostra Japão Pop. O título: ELECTRIC DRAGON 80.000 V. Não gostei nem pouco. Sorte é que ele era curtinho: 55 minutos. Mas foi engraçado lembrar das presepadas do filme depois ("Guitar!"). Melhor mesmo foi o agradável papo depois da sessão. Fomos a um restaurante chileno onde eles servem um tipo de salgado cujo nome eu esqueci. O papo estava tão bom que deu meia-noite e a gente saiu do lugar e foi continuar a conversa num McDonalds para comer uma sobremesa. Se eu já havia gostado do Marcelo e da Ana na segunda, na quinta então eu virei fã deles.
Sexta-feira, dia 14. Acordei bem mais tarde e fui encontrar com a Dianah Barcelos, um amor de pessoa. Como ela é chegada em esoterismo, a gente bateu um ótimo papo sobre o assunto, sobre as dificuldades da vida, sobre SEINFELD (incrível como quase todos os dias essa sitcom era mencionada) e sobre nada - o que é quase a mesma coisa. Depois de subir e descer ladeira perto da Liberdade, almoçamos no Shopping Paulista e seguimos para o cinema para ver TRANSAMÉRICA, que havia estreado na sexta. Muito legal o filme. Depois, tive de voltar para o hotel a fim de me preparar para o tão aguardado Primeiro Encontro Nacional da Cinefelia. Pena que muitos não puderam comparecer. Senti falta do Renato, do Gustavo, da Cris, da Rosângela, do Leandro. Estavam presentes para a sessão de SUPERMAN - O RETORNO a Fer, o Michel, o Francisco, o Tiago e a Denise. A Ana (da lista) estava muito cansada e não conseguiu ficar para ver o filme. Depois de SUPERMAN, que eu gostei bem mais do que esperava, fomos para o restaurante América botar o papo em dia.
Sábado, dia 15. Sem ter o que fazer, fui passear de metrô. Quis ir até algumas estações por onde ainda não havia passado. No caminho, encontrei por um preço camarada O Monstro do Pântano - Vol. 3, do Alan Moore. Michel liga pra mim avisando que o Renato havia chegado. Fiquei feliz com a chegada do Renato, que é um dos amigos que eu mais gosto. Só que o encontro do sábado acabou sendo apenas do quarteto Fer, Renato, Michel e eu. Mas foi ótimo mesmo assim. Andamos pela Paulista até achar um lugar agradável para tomar um chopp. De lá, fomos comer um cachorro-quente no Black Dog e demos uma fuçada na FNAC. Lá, comprei os livros Seinfeld e a Filosofia e um do Elmore Leonard que estava na promoção - O Último Posto no Rio Sabre. Mas o dia ainda prometia, já que o Michel havia confirmado um encontro com o Eduardo Aguilar e ninguém menos que Carlos Reichenbach. Eu, Michel e Renato passamos para pegar o Aguilar e o Carlão e fomos para uma pizzaria. A pizza estava maravilhosa, a cerveja estava de dar gosto, mas a conversa e a companhia deles é que me deixaram mais feliz. Carlão contava cada história e falava de cada pérola cinematográfica que a gente ficava até meio perdido e tendo a certeza de que ainda falta muita coisa legal para se ver antes de morrer. Os momentos mais engraçados da noite foram aqueles em que o Carlão mostrava o seu pouco interesse por Wong Kar-wai e Lucrecia Martel. Ficamos lá na Pizzaria conversando até perto da meia-noite, rindo muito. Depois de deixar o Carlão, o papo ainda se estendeu até a casa do Aguilar, quando tivemos o prazer de ver em primeira mão o seu mais recente curta: OFERENDAS. Talvez seja o seu melhor trabalho. Adorei. E só quando eu saí de lá que me caiu a ficha: os filmes do Aguilar têm uma atmosfera muito parecida com os filmes do Bergman. Ajudou o fato de o Aguilar falar pra mim: "Ailton, você tem que gostar do Bergman, ele é o grande cineasta canceriano". Algo assim. Aliás, um dos momentos mais divertidos da noite foi quando começamos a falar sobre astrologia. Foi quando eu vi o quanto eu e o Edu somos parecidos. Tudo bem que nascemos no mesmo dia do ano (7 de julho), mas daí a descobrir que ele também classifica os amigos e as namoradas por signos do zodíaco foi uma baita de uma surpresa! Se eu já achava o Aguilar uma figura e tanto tendo o conhecido só pela internet, conhecê-lo pessoalmente me tornou um fã do cara. A conversa estava tão boa que eu fui chegar no hotel só depois das três da manhã!
Domingo, dia 16. A ressaca da semana começava a me abater. E a festa se aproximava do final. A Fer bateu na minha porta para se despedir. Ela foi almoçar com o Tiago e a Denise. Não deu pra eu ir, já que também teria que fazer o check-out do hotel ao meio-dia. O Michel e o Renato fizeram a gentileza de me acompanhar nessas últimas horas em Sampa. Fomos assistir ao brasileiro TAPETE VERMELHO, filme simpático e inocente. Depois bateu um sono e um cansaço. Andamos um bocado pela Paulista, onde encontrei o DVD de O PODEROSO CHEFÃO por apenas 15 pilas. Depois de jantar e conversar um bocado, o Michel foi me deixar no Aeroporto. Taí um cara fantástico. Sou eternamente grato ao Michel pelo tanto que ele me aturou nesses dias, pelo exemplo de companherismo e pela capacidade de organizar eventos. Foi ele que contatou todo esse pessoal. O Michel é mais uma prova de que os capricornianos são pessoas notáveis e generosas. Sem dúvida, ele entrou para a minha seleta lista de melhores amigos. Ao chegar no aeroporto, fui surpreendido por um overbook. A TAM me indenizou com 300 reais em créditos para passagem e me colocou num vôo com conexão em Recife. Quando peguei o avião em Recife, eu fiquei sobrando no avião. Overbook a bordo. Um senhora aceitou 300 reais para descer do avião e me ceder o lugar. O que eu mais queria era chegar logo em casa, coisa que só aconteceu às 9h30 da manhã desta segunda-feira. É isso aí. Estamos de volta. Foi um belo começo de férias.
Para ver as fotos, clique AQUI.
sexta-feira, julho 07, 2006
MOUCHETTE, A VIRGEM POSSUÍDA (Mouchette)
Provavelmente o blog vai passar alguns dias sem atualização. Vou hoje para Sampa e, quando voltar, farei um pequeno relatório do que rolou por lá, além das fotos que pretendo tirar da turma. Espero que seja muito legal. Mesmo se eu não fosse me encontrar com ninguém, Sampa por si só já seria um paraíso, com aquele monte de salas de cinema e aquela diversidade de opções. Devo ver ao menos um filme por dia nos cinemas. Antes de sair, contudo, deixo um texto sobre mais um filme do genial Robert Bresson. Um texto de alguém despreparado para a obra de Bresson, é verdade, mas o filme não poderia passar em branco.
Dos filmes de Bresson que vi, MOUCHETTE (1967) mais se assemelha a A GRANDE TESTEMUNHA (1966), o título anterior do cineasta. Inclusive, um dos atores/modelos, Jean-Claude Guilbert, até reprisa o papel de bêbado marginal do filme anterior. Uma das principais diferenças que eu mais notei entre os dois filmes é que MOUCHETTE tem menos personagens e uma trama menos complexa. Ainda assim, demorei a compreender certas situações relacionadas à personagem título. Isso porque Bresson é o rei da sintetização. Além de só apresentar cenas fundamentais para a trama, há as famosas elipses, que nos deixam com algumas dúvidas: teria Arsene matado Mathieu? Mouchette fez sexo com Arsene na cabana? Sem falar no comportamento estranhíssimo dos personagens, fazendo com que o elemento surpresa esteja presente ativamente do início ao fim.
Mouchette é uma menina pobre que é rejeitada pelas colegas e ridicularizada pelos vizinhos e pela professora. Ela tem a mania de jogar pedras em suas colegas de classe que, em vez de brigar com ela, preferem sair do lugar e fingir que ela não existe. Um dia, ela decide demorar mais a chegar em casa. Se ela chegasse em casa, teria que amamentar o filho da mãe doente e encarar a triste realidade. É quando, numa noite de tempestade, ela conhece um bêbado que acredita ter matado um homem. Por ter passado a noite com esse homem, a jovem passa a ser tratada com desrespeito pela vila. Lembra um pouco o que acontece com o sacerdote de DIÁRIO DE UM PADRE (1951). Tanto o padre, quanto Mouchette ou o jumento de A GRANDE TESTEMUNHA são exemplos de criaturas que sofrem por causa da intolerância, da maldade ou da ignorância do povo. Com a diferença que Mouchette não apresenta a mesma pureza dos dois. A menina tem uma natureza malévola que mais a aproxima de Michel, o batedor de carteiras de PICKPOCKET (1959). E como não poderia deixar de ser em se tratando de um Bresson, o final trágico está à espreita.
Estou baixando atualmente O DIABO PROVAVELMENTE (1977) e já tenho no ponto para ver L'ARGENT (1983). Mas o ideal seria eu ver antes os três filmes que antecedem esses dois. Só não sei se vou conseguir baixá-los.
quinta-feira, julho 06, 2006
HEIST
Acabei de ver o quinto e último episódio exibido de HEIST (2006), série policial sobre grupo de assaltantes profissionais, produzida pela NBC. O que me dá mais tristeza é que a série estava melhorando a cada episódio. O quinto episódio, inclusive, é o meu favorito e ainda por cima termina com um gancho. O sexto chegou a ficar pronto, mas nunca foi exibido pela emissora. Esse é o problema da indústria televisiva: por mais que a série seja ótima, se não der audiência, ela precisa ser tirada do ar.
O episódio piloto foi dirigido por Doug Liman, diretor de VAMOS NESSA (1999) e IDENTIDADE BOURNE (2002). Gostei da série desde o piloto. Só não fiquei tão entusiasmado porque não sou muito fã de filmes sobre roubos inteligentes e milionários. Mas aos poucos a série foi me conquistando, graças a seus personagens carismáticos, às duas atrizes bonitas do elenco, à química dos personagens e ao progressivo aprofundamento da trama e dos personagens. Uma coisa que eu aprendi sobre séries de televisão é que a gente não deve desistir tão rápido delas. A problematização da trama pode elevar a série a níveis estratosféricos, como foi o caso de PRISON BREAK.
No caso de HEIST, o piloto foi filmado com muita elegância por Liman, mas ainda faltava aprofundar e problematizar mais o drama dos personagens. Só com o tempo que ficamos sabendo a verdadeira motivação de Mickey (Dougray Scott) para executar o assalto; o grave problema de saúde de Pops (Seymour Cassel); só com o tempo o romance de Mickey com a policial Amy Sykes (Michele Hicks) passa a se tornar algo pelo qual a gente torce. A personagem que não deu tempo de ser minimamente aprofundada foi a Lola (Marika Dominczyk), a gostosa membro da gangue de Mickey. Do jeito que a série terminou, ela é apenas uma mera peça do tabuleiro. Em compensação, as cenas envolvendo a dupla de policiais só melhoraram com o tempo. Não é nenhuma novidade mostrar dois policiais (um negro e um branco) que a princípio não se entendem e que aos poucos vão criando um vínculo de amizade, mas a sacada de HEIST foi colocar o policial branco como um homem gordo e engraçado.
Agora, resta esperar que os episódio filmados sejam lançados em DVD para que possam um dia aparecer na internet, já que não há mais esperanças de que série volte ao ar.
Agradecimentos ao Renato, que foi quem me apresentou a essa ótima série.
P.S.: Saiu o ranking anos 70 da Liga dos Blogues Cinematográficos. A exemplo do ranking da década de 80, tem mini-textos sobre os vinte primeiros colocados.
quarta-feira, julho 05, 2006
SEPARADOS PELO CASAMENTO (The Break-Up)
Tenho impressão que a comédia romântica americana é um subgênero em ascensão. Acusado por muitos de ser água com açúcar ou filme de mulherzinha, esse subgênero tem mostrado cada vez mais sinais de inteligência. Os americanos estão se tornando mais e mais mestres nisso. Acho que se um dia fossem fazer uma comparação entre gêneros cinematográficos e gêneros musicais, a comédia romântica se equivaleria à música pop. Esse pensamento meio besta me veio à mente por causa do constante flerte do gênero com canções pop, que costumam embelezar com freqüência alguns dos melhores momentos desses filmes. No caso de SEPARADOS PELO CASAMENTO (2006), os créditos iniciais ao som de "You're My Best Friend", do Queen, é de causar entusiasmo no espectador a um filme que está mal começando. E olha que a canção é até um pouco manjada, mas, ouvindo no cinema, é impressionante como certas canções crescem.
Outro detalhe que conta pontos a favor do filme é o esforço no sentido de evitar os clichês e as fórmulas batidas. Em vez de um filme sobre dois namorados que brigam e depois se apaixonam, o que é mais comum, Peyton Reed fez um filme sobre o desgate de uma relação e o processo de separação. O diretor já havia travado uma guerra dos sexos no seu filme anterior, o criativo ABAIXO O AMOR (2003). Aqui, Reed prefere um estilo mais econômico e sem estilizações.
O filme traz dois astros que escolheram a comédia como gênero mais importante de suas carreiras. Vince Vaughn se firma como o líder do chamado "frat pack", grupo meio estranho e de caráter duvidoso cujos membros nunca estiveram todos juntos no mesmo filme. Já Jennifer Aniston, do elenco de FRIENDS, ela é a que mais se deu bem em Hollywood. Jennifer sempre me agradou - embora eu suspeite que na vida real ela não deve ser flor que se cheire -, mas Vaughn custou a conquistar a minha simpatia. Afinal, o tipo de humor que ele faz não é exatamente aquele que nos faz cair da cadeira de rir. Ele não é nenhum Ben Stiller ou Steve Carell. Mas com o tempo a gente se acostuma com o jeito dele e até passa a gostar. SEPARADOS PELO CASAMENTO tira proveito do talento cômico singular de Vaugh.
Engraçado que o tema da separação costuma me afetar, a me incomodar até. Lembro que sofri bastante vendo a crise amorosa do casal de DOMICÍLIO CONJUGAL, de Truffaut. Quase como se estivesse acontecendo comigo. Com o filme de Peyton Reed, as coisas não são assim tão dramáticas, mas, para um filme do gênero, a opção pelo final amargo até que foi bastante corajosa. Identifiquei-me com o personagem de Vaughn, um sujeito que tem dificuldade de se organizar na vida, de ser pragmático, de fazer coisas de que não gosta pelo bem da relação. Ele precisa da mulher para que sua vida entre nos eixos. Pode-se dizer que SEPARADOS PELO CASAMENTO é um filme sobre a dificuldade de comunicação e a necessidade de, sempre que necessário, engolir o orgulho e abrir o coração. Nem sempre a vida tem que ser um jogo onde os parceiros precisam de blefar para conseguir seus objetivos.
terça-feira, julho 04, 2006
CACHÉ
CACHÉ (2005) era um dos filmes mais aguardados do ano pra mim. Desses com potencial para encabeçar a lista de melhores do ano. De repente, até mesmo o fato de eu ter visto os filmes ateriores de Haneke com o pé atrás deixa de ser um fato relevante. Suspeito que isso tenha ocorrido por causa da semelhança do enredo do filme com o ponto de partida de A ESTRADA PERDIDA, uma das obras-primas de David Lynch. Mesmo com essas comparações, sabia que Michael Haneke entregaria um tipo diferente de obra e que eu também deveria estar preparado para uma possível decepção. De certa maneira, Haneke é mais subversivo do que Lynch. Ele pega um gênero popular, o thriller, e transformou numa obra estranha. O cineasta engana muitas vezes o espectador, que corre o risco de sair do cinema revoltado ou frustrado. Como aconteceu com o grupo de senhoras que estavam sentadas na fila detrás da minha. Elas saíram xingando o filme e os franceses. Uma delas chegou a dizer: "como é que pode, eu sair de casa em pleno domingo à noite para ver uma merda dessas, logo depois de ter apanhado dos franceses no jogo de ontem?".
Quanto a mim, saí do cinema sem entender direito o que Haneke quis dizer com seu filme, mas ciente de que era necessário tempo para que eu pudesse digerí-lo. Também me pareceu óbvia a importância da discussão sobre a culpa dos franceses em relação aos argelinos. Pra quem não sabe - eu também não sabia -, em 1961 aconteceu em Paris um massacre dos argelinos da Frente de Libertação Nacional (FLN). O grupo fazia passeata com o objetivo de protestar contra o toque de recolher que os proibia de sair às ruas. Por causa disso, cerca de 400 argelinos foram espancados até a morte pela polícia e seus corpos foram jogados no Rio Sena. Esse fato é uma das maiores vergonhas da história da França e está ausente da maioria dos livros de História do pais. Não saberia dizer se esse acontecimento seria o eixo central da trama ou se Haneke usou esse fato apenas para ilustrar o sentimento de culpa, independente de qualquer nacionalidade. Lembrando que Lynch, tanto em A ESTRADA PERDIDA quanto em CIDADE DOS SONHOS, também usou a culpa como eixo temático.
Na trama de CACHÉ , casal de classe média alta - o excelente Daniel Auteuil e a cada vez mais maravilhosa Juliette Binoche - recebe fitas-cassete contendo imagens da fachada de sua casa. A cada vez o conteúdo das fitas vai mudando e, aos poucos, o personagem de Auteuil vai suspeitando de quem poderia estar por trás desses atos. Durante vários momentos, Haneke frustra nossas expectativas. Quando esperamos que algo assustador aconteça, como na seqüência em que Auteuil apaga as luzes para se deitar, nada acontece. O oposto também ocorre, mas em bem menor número, embora uma cena em especial pegue todo mundo de surpresa. O plano final é daqueles que provocam sentimentos diversos no público, em geral, muito acostumado à narrativa clássica e aos finais convencionais. Algumas risadas são inevitáveis, como se o espectador se sentisse vítima de uma pegadinha do diretor. Mas é preciso prestar bastante atenção e, se possível, rebobinar a fita, para perceber o que de fato acontece nessa seqüência final, que, parece, dá uma pista de quem estaria por trás do terrorismo das fitas. Pena que no cinema, não dá pra pedir para o projecionista rebobinar a fita pra gente ver de novo. Mais um motivo para rever o filme em DVD.
Tudo indica que CACHÉ representa para Michael Haneke o que ELEFANTE representou para Gus Van Sant, isto é, um momento de genialidade que pode fazer com que toda a sua filmografia pregressa seja reavaliada. Seria Haneke um autor incompreendido?
segunda-feira, julho 03, 2006
O MONSTRO DO ÁRTICO (The Thing from Another World)
Primeiro filme de Howard Hawks que eu não gostei. Ao menos existe a desculpa de que Hawks não o dirigiu de fato. O cineasta idealizou o projeto e passou a bola para Christian Nyby, o montador de RIO VERMELHO (1948). A idéia para a realização de O MONSTRO DO ÁRTICO (1951) surgiu quando Hawks estava na Alemanha rodando a comédia A NOIVA ERA ELE (1949) e leu um conto de quatro páginas publicado numa revista de ficção científica chamado "Who Goes There?".
Hawks visitou o set durante os ensaios e ajudou nos diálogos superpostos. E como Hawks foi co-autor (não creditado) do roteiro, poderia-se dizer que o filme também é dele. Além da rapidez dos diálogos que é a sua cara, temos um grupo de homens enfrentando uma ameaça, que lembra um pouco o clima de O PARAÍSO INFERNAL (1939). Há também a típica mulher hawksiana, segura de si e bastante ativa na relação. Destaque para a cena em que ela algema um sujeito - com o seu consentimento - para beijá-lo. Considero essa cena a melhor do filme pelo erotismo sugerido. E tenho certeza de que o filme seria uma maravilha se fosse mesmo dirigido pelo Hawks. E o cineasta ainda teria tido a chance de acrescentar mais um gênero à sua já diversificada filmografia.
O MONSTRO DO ÁRTICO conta a história de uma expedição ao Ártico para investigar um estranho incidente: uma espaçonave alienígena havia sido encontrada no Polo Norte. Debaixo do gelo, encontra-se o corpo do piloto. Nota-se claramente que não se trata de um humano. O corpo do E.T., ainda dentro do gelo, é enviado para a estação para que seja descongelado e estudado por um grupo de cientistas. O que eles não imaginavam era que o bicho ainda estava vivo.
O MONSTRO DO ÁRTICO custou muito barato e fez bastante sucesso de bilheteria. Além de não contar com nenhum ator famoso, os sets custaram pouco, já que a equipe trabalhou dentro de um refrigerador. O filme cai um pouco quando o monstro aparece. Os efeitos especiais e de maquiagem estão um tanto defasados e o monstro hoje parece até meio ridículo. Bem diferente da refilmagem caprichadíssima a cargo de John Carpenter - O ENIGMA DE OUTRO MUNDO (1982). Inclusive, estou com muita vontade de rever o filme do Carpenter em DVD, na janela correta, e aproveitar para ver os extras da edição especial.
Acho que o fato de as legendas estarem fora de sincronia contribuiu para eu não ter gostado mais do filme. Visto em divx.
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