terça-feira, agosto 30, 2011

PLANETA DOS MACACOS – A ORIGEM (Rise of the Planet of the Apes)



Desde o primeiro O PLANETA DOS MACACOS, em 1968, que o universo governado por chimpanzés e outros símios tem causado fascínio, chegando a gerar quatro continuações, uma série de televisão, bonecos, desenho animado, um remake dirigido por Tim Burton e até um filme dos Trapalhões. E os macacos estão de volta, desta vez com a tecnologia da captura de movimento, dando bastante realismo às cenas e às expressões faciais – embora eu ainda considere os macacos das décadas de 60 e 70 mais assustadores.

A boa sacada de PLANETA DOS MACACOS – A ORIGEM (2011) é saber inventar um bom motivo para o surgimento dos macacos inteligentes e o declínio da raça humana. Tudo surgiu a partir da vontade de um cientista (James Franco) de encontrar uma cura para o Mal de Alzheimer. Isso porque seu pai (John Lithgow) sofre dessa doença degenerativa. O estudo é feito inicialmente com macacos. Um deles – na verdade, uma fêmea - se mostra bastante receptivo à nova droga, mas também bastante selvagem. Ela morre, mas seu pequeno macaquinho é levado para ser criado pelo personagem de Franco. Como esperado, o jovem César se mostra cada vez mais inteligente. Como César vai transformar a Terra num lugar habitado pelos símios, só vendo o filme para conferir.

Outro ponto positivo do filme está em nos colocar no ponto de vista de César durante a maior parte de sua duração. Assim, nos aproximamos mais do personagem, entendemos quando ele se sente humilhado, ao ser tratado como um bicho de estimação e principalmente ao ser levado preso e entrar em contato com outros de sua espécie. Talvez o problema do filme esteja em seu clímax, que apesar de bom, não causa o mesmo instigar do início. No mais, não deixa de ser interessante notar como Hollywood ainda é capaz de oferecer a direção de filmes de alto orçamento a diretores de filmes pequenos, como é o caso de A ESCAPADA (2008), trabalho anterior de Rupert Wyatt. Quanto a Andy Serkis, impressionante como ele está ficando especialista em personagens de performance de captura. Depois do Gollum da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS e de KING KONG, ei-lo novamente fazendo o mesmo serviço. Deve ser a sua sina.

P.S.: O blog hoje, dia 30, está aniversariando. 9 anos se passaram desde que ele nasceu, sob o signo de Virgem. O espaço tem servido não apenas para exercitar a escrita e o crescente interesse pelos filmes, mas também para me socializar com pessoas que também amam o cinema e têm contribuído para o meu crescimento. A todos o meu muito obrigado.

segunda-feira, agosto 29, 2011

COMIC BOOK CONFIDENTIAL



Quem me conhece de longa data já deve ter ouvido eu contar do dia em que descobri a leitura. Talvez até já tenha escrito a respeito aqui no blog, mas não lembro. O fato é que eu tinha por volta de cinco ou seis anos, quando escrevia nas paredes da minha casa o meu próprio nome. Até que, ao pronunciar as primeiras letras do meu nome, veio como um estalo. Era como se eu tivesse me esquecido de algo e de repente lembrava. Algumas pessoas até dizem que aprender é relembrar, embora eu veja isso como uma referência à reencarnação. Enfim, logo após a descoberta, corri para contar a novidade à minha mãe, que não comemorou tanto quanto eu. E eu corri para uma caixa de revistas em quadrinhos que estava em cima do guarda-roupa. Devo ter passado o dia inteiro lendo as revistas, a maioria da Disney.

Só por esse pequeno e resumido parágrafo, dá para notar a força e a importância que os quadrinhos tiveram em minha vida. E ainda têm até hoje, pois ainda acompanho alguns títulos da Marvel e compro alguns encadernados de outras editoras. Os quadrinhos estão cada vez mais saindo das bancas e se instalando nas livrarias. E, assim como prevê Milo Manara, parece ser esse o futuro da nona arte. Mas sem querer me alongar, falemos um pouco do documentário COMIC BOOK CONFIDENTIAL (1988), que narra um pouco da história em quadrinhos nos Estados Unidos, desde o seu surgimento na década de 1930 até meados dos anos 1980, quando Frank Miller reinventou o Batman em "Batman – O Cavaleiro das Trevas" e "Batman – Ano Um".

Aliás, uma das coisas mais interessantes do documentário é poder ver grandes mestres dos quadrinhos dando depoimentos. Homens como Stan Lee, Charles Burns, Robert Crumb, Will Eisner, Jack Kirby, Harvey Pekar e Art Spielgelman mostram suas caras, além de outros artistas que eu não conheço o trabalho e que representam um tipo de quadrinho mais underground. Inclusive, duas mulheres mostram que nem sempre os quadrinhos são uma arte dominada por homens.

Resumindo o filme, nos anos 30, a popularização dos quadrinhos veio com Superman e Batman. Will Eisner cria o Spirit como tira de jornal. Jack Kirby passa a criar seus quadrinhos de forma independente. Na década de 40, é tempo de guerra e surge o Capitão América. Depois da guerra, quadrinhos mais leves como os de Archie, Luluzinha e os da Disney surgem. Assim como os quadrinhos de horror da EC Comics. Foi quando começaram os ataques aos quadrinhos. Acusavam-nos de serem prejudiciais às crianças. Na verdade, os ataques já começavam desde quando criaram o Superman, pois acreditava-se que alguma criança poderia querer experimentar voar e morrer. (De todo modo, eu quando criança, lembro de ter ficado chocado com a cena da morte da Elektra pelas mãos do Mercenário.)

Depois do código que trouxe a censura para os quadrinhos, surge a Mad, trazendo anarquia e ridicularizando a tudo e a todos. Na década de 1960, voltam os super-heróis, tanto da DC quanto as criações de Stan Lee, que vinham com um tom mais realista que o da concorrente. Também na década de 60, surgem exemplares mais alternativos como Robert Crumb e seu gato Fritz. O filme ainda fala de Harvey Pekar (“American Splendor”), "Love and Rockets", "Girls and Boys", "Raw" e "Maus", de Art Spielgman, Charles Burns (do qual tive o prazer de ler recentemente "Black Hole", obra-prima) e finalmente Frank Miller.

Fica a impressão de ter faltado muita coisa. E realmente faltou. Uma hora e meia é pouco para contar uma história tão rica. Mas o filme é uma boa e rápida viagem pelo trabalho de muita gente que acreditava que os quadrinhos tinham futuro. Não é para menos que o filme termina com um depoimento de Will Eisner, o primeiro a pensar os quadrinhos como uma arte avançada, próxima a um romance.

domingo, agosto 28, 2011

AMOR A TODA PROVA (Crazy, Stupid, Love.)



Steve Carell deve demorar ainda um bocado para se livrar da sombra do personagem Michael Scott (THE OFFICE), mas talento ele tem para fazer tipos diferentes, como já pudemos comprovar em PEQUENA MISS SUNSHINE. Ainda não é o caso de seu papel em AMOR A TODA PROVA (2011), dirigido pelos mesmos diretores de O GOLPISTA DO ANO (2009), Glenn Ficarra e John Requa. Mas em AMOR A TODA A PROVA Carell tem a oportunidade de contracenar com gente boa como Julianne Moore, Ryan Gosling e Emma Stone, e coadjuvantes de peso como Marisa Tomei e Kevin Bacon. Sem falar nos jovens atores: o garotinho que interpreta o filho de Carell e a baby-sitter, que também têm os seus momentos de brilho.

A história é simples e até um pouco manjada, a do sujeito que sofre por causa da separação e dá a volta por cima para reconquistar a mulher. Aqui, a diferença está na presença de um sujeito mais jovem e hábil nas conquistas (Gosling), que aparece como uma espécie de conselheiro para levantar o astral daquele sujeito patético que vai, todos os dias, ao mesmo bar para reclamar da vida e se autoproclamar um corno. Enquanto vemos a subida do homem decadente, vemos a infelicidade da personagem de Julianne Moore, a mulher que tomou a iniciativa de pedir o divórcio. Em paralelo, a trama da jovem vivida pela bela Emma Stone, que se torna a mulher que faz a diferença na vida de Gosling.

O filme tem o mérito de se equilibrar em momentos constrangedores. Não me refiro a situações constrangedoras, como a cena da masturbação, mas a momentos de puro clichê de comédias românticas. AMOR A TODA PROVA consegue manter-se de pé mesmo na cena do discurso do garotinho, por mais embaraçosa que possa parecer. O bonito do filme é que ele assume o amor como estupidez, como quando Fernando Pessoa diz que todas as cartas de amor são ridículas. E é com essa coragem e essa graça, além da boa condução da narrativa, que o filme mantém o espectador interessado nos personagens. Um alívio, diante de tantas comédias românticas bobas da safra recente.

sexta-feira, agosto 26, 2011

QUATRO CURTAS



Vou ter que ser objetivo, pois o tempo urge. Recentemente vi esses quatro curtas e vou tentar comentá-los rapidamente. Os curtas de Rohmer e Allen são curtinhos mesmo. Entre dois e quatro minutos de duração, cada. Os outros têm aproximadamente vinte minutos de duração.

THE HOUSE IS BLACK (Khaneh Siah Ast)

Um filme difícil de assistir, THE HOUSE IS BLACK (1963, foto acima) mostra uma colônia de leprosos no norte do Irã. A diretora é a poeta Farugh Farrokhzad, autora de um poema que inspirou Abbas Kiarostami em seu O VENTO NOS LEVARÁ. O grande mérito do filme é a contraposição das imagens tristes dos leprosos tentando sobreviver e a narração da própria diretora, que inclui trechos do Antigo Testamento e do Alcorão, geralmente palavras de agradecimento. O que torna tudo ainda mais doloroso. É quase como um tapa na nossa cara, pois se um grupo de pessoas que perdem os dedos, o nariz, a visão e tudo o mais e ainda assim se reúnem para agradecer por suas vidas, imagina como não ficamos. Há também trechos de poemas da diretora e uma narração de um homem que oferece uma visão mais científica da doença, ao afirmar que não é hereditária e que tem cura. A obra é considerada como a grande precursora do cinema iraniano contemporâneo.

NEGÓCIO DE ARROMBA (Big Business)

Meu interesse em ver este curta da dupla O Gordo e o Magro foi mais pela presença de Leo McCarey nos créditos. No IMDB, ele aparece como um dos diretores, mas nos créditos do filme, ele é apenas assistente. De qualquer maneira, NEGÓCIO DE ARROMBA (1929) é bem divertido e já mostra a boa química da dupla Stan Laurel e Oliver Hardy na época do cinema mudo. Neste pequeno filme, eles trabalham vendendo árvores de natal de porta em porta. Humor físico e destruidor dos bons.

BOIS TON CAFÉ

Este curta de Eric Rohmer não teria sido visto por mim se não fosse o diretor. BOIS TON CAFÉ (1986) é uma espécie de videoclipe que mostra um casal em momentos de intimidade matinal. Pareceu-me diferente de tudo que eu já vi de Rohmer. Eu acreditaria mais se fosse um curta de François Ozon. De qualquer maneira, o pequeno musical tem o seu charme, graça e sensualidade.

SOUNDS FROM A TOWN I LOVE

É a cara de Woody Allen, mas uma pena que é curto demais. Foi realizado imediatamente após os ataques de 11 de setembro, como uma declaração de amor do cineasta a Nova York. Mostra um grupo de pessoas passeando pelas ruas da cidade com seus celulares, falando de problemas corriqueiros, bem próximos das neuroses tão familiarmente vistas nos filmes de Allen. SOUNDS FROM A TOWN I LOVE (2001) serve mais para dar vontade de ver outro trabalho do diretor, mas acredito que na época de sua realização deve ter deixado muito novaiorquino emocionado.

quinta-feira, agosto 25, 2011

NÓ NA GARGANTA (The Butcher Boy)



Lendo o livro "Introdução à teoria do cinema", de Robert Stam, vi um curioso capítulo que fala de várias visões psicanalíticas do cinema. Entre elas, a que mais me chamou a atenção foi a de Christian Metz, que lida com a questão do prazer e do desprazer no cinema. Geralmente costumamos gostar de um filme que nos dá prazer, ainda que esse filme seja repulsivo para a maior parte da audiência. Segundo Metz, "os espectadores-críticos confundem uma questão estética – a qualidade do filme – com uma questão psicanalítica: por que esse filme desagradou a mim?".

Sem querer entrar num território que estou longe de dominar, o da psicologia, esse questionamento é válido para a minha relação com diversos filmes, que racionalmente vejo qualidades, mas que me provocam mal estar. É o caso deste NÓ NA GARGANTA (1997), de Neil Jordan, filme que já havia assistido na época de sua exibição nos cinemas, mas que tive a oportunidade de rever num cineclube promovido pela amiga Beatriz Saldanha. Novamente o mal estar persistiu: o filme é barulhento, o ritmo supostamente de "história em quadrinhos" associado a um humor negro e a sorrisos amarelos contribuíram para isto.

E isso nem é uma característica do diretor, que já dirigiu obras que muito me agradaram, no sentido do prazer de se ver um filme mesmo, como em ENTREVISTA COM O VAMPIRO (1994), FIM DE CASO (1999), TRAÍDOS PELO DESEJO (1992) e em um mais recente dele, VALENTE (2007). Admiro o diretor, mas não sou entusiasta de seu trabalho, a ponto de acompanhar todos. Não vi, por exemplo, CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO (2005), geralmente citado como um dos mais interessantes do cineasta e comentado como um dos favoritos do debatedor do cineclube. Aliás, quem ficou para o debate pôde assistir a uma análise de alto nível, a do professor Orlando. O amigo Carlos Primati estava lá e fez, inclusive, umas interessantes observações.

Curiosamente, ao ver a história do garotinho nada bonzinho que tinha de cuidar da família, pois a mãe sofria de depressão e o pai era alcóolatra, e de ver principalmente a sua amizade com Joe como sendo a coisa mais importante do mundo, acabei associando esse amor devotado pelo amigo a certos filmes do diretor que lidam direta ou indiretamente com a homossexualidade. Caso de TRAÍDOS PELO DESEJO, de CAFÉ DA MANHÃ EM PLUTÃO e de ENTREVISTA COM O VAMPIRO, pelo menos. Ainda assim, como o filme não entra no aspecto sexual da relação dos dois garotos, talvez não seja o caso de fazer esse tipo de diálogo.

De qualquer maneira, o debate após a sessão, que serviu como um alento após tanto barulho, ajudou a ver o filme sob outras óticas, a valorizá-lo mais, a ver suas inúmeras qualidades e especificidades. Por exemplo, a total anarquia e a coragem de mostrar a falência de instituições como o Estado, a Igreja e a família. Mas, como disse no início do texto, uma coisa não dá pra negar: o mal estar persistiu. Poderia até falar mais do filme – coisa que faltou no texto -, mas, pra usar um termo psicanalítico, nosso tempo acabou.

quarta-feira, agosto 24, 2011

A CRUZ DOS ANOS (Make Way for Tomorrow)



Um dos momentos mais belos de A CRUZ DOS ANOS (1937) acontece quando o protagonista vivido por Victor Moore pede para um amigo dono de um comércio ler a carta que acabara de receber da esposa distante e ele começa a ler e não aguenta de emoção. Para não chorar, ele diz: "melhor você mesmo ler o restante quando estiver com os óculos". Esse coadjuvante também é responsável por outro momento lindo, que é quando ele chama a esposa, que está ocupada na cozinha, apenas para se certificar de que ela ainda está lá. E sentir gratidão por isso.

A CRUZ DOS ANOS é um dos mais importantes e belos filmes já feitos sobre a terceira idade, equiparado a UMBERTO D., de Vittorio De Sica. O filme já começa mostrando o casal de idosos em reunião com os filhos na casa contando-lhes da delicada situação em que se encontram: devido a dívidas contraídas pelo patriarca, eles perderam a casa. Os filhos, já casados, procuram um meio para resolver o problema. Assim, um deles fica com a mãe; a outra, com o pai. Mas os dois ficam muito distantes um dos outro, sendo difícil até mesmo se comunicar por telefone por causa do custo da ligação.

O filme mostra mais uma vez a sensibilidade de Leo McCarey para tratar de assuntos delicados, de tocar nos coração do espectador. Por mais que eu ainda prefira OS SINOS DE SANTA MARIA (1945), que me fez chorar bem mais e sem aviso prévio, A CRUZ DOS ANOS já trata desde o início de um assunto muito triste, que é de como os pais idosos podem ser considerados um estorvo para os filhos. O registro de McCarey é mais realista do eu esperava, quase um precursor do neorrealismo italiano, principalmente pela pouca presença de música e pela falta de astros no elenco. A sequência final, por exemplo, de Beulah Bondi na estação de trem, é de cortar o coração. É um momento perfeito e diria até que bastante moderno para os padrões de Hollywood da época.

P.S.: Está no ar a edição da Revista Zingu! de agosto! E depois de participar algumas vezes como convidado, dessa vez entrei como redator fixo. Espero poder fazer jus ao convite generoso do Adilson Marcelino para poder me juntar a esse grupo de pessoas que tanto entendem de cinema. Para essa edição, que conta com o Dossiê Ênio Gonçalves e o Especial Rodolfo Arena, contribuí com dois textos: um sobre AS INTIMIDADES DE ANALU E FERNANDA, de José Miziara, e outro sobre CHUVAS DE VERÃO, de Cacá Diegues. Dois filmes, aliás, ótimos e dignos de estar em listas de melhores do cinema brasileiro.

segunda-feira, agosto 22, 2011

LANTERNA VERDE (Green Lantern)



Infelizmente não será com LANTERNA VERDE (2011) que a DC Comics conseguirá se equiparar ao sucesso de sua principal concorrente, a Marvel, que desde 2000 vem se saindo bem nas bilheterias com suas adaptações de seus super-heróis para o cinema. Na verdade, isso também é um reflexo do que a DC vem enfrentando no mercado de quadrinhos atual: para ter que chamar a atenção de novos clientes, tomou a atitude de zerar seus números e mudar várias coisas da cronologia clássica de seus heróis, o que foi motivo de indignação para muitos fãs.

A possibilidade que LANTERNA VERDE tinha de dar certo no cinema estava nas mãos do habilidoso Martin Campbell, que já havia feito dois bons filmes de James Bond – 007 CONTRA GOLDENEYE (1995) e 007 – CASSINO ROYALE (2006) - e dois bons filmes da série Zorro – A MÁSCARA DO ZORRO (1998) e A LENDA DO ZORRO (2005). Isso, só para citar exemplos de filmes que se aproximam do universo dos super-heróis. Além do mais, Campbell mostrou competência em vários outros filmes de ação. Seu LANTERNA VERDE não é de todo ruim e é fiel ao universo do herói.

Então, o que faltou para o filme não ter decolado, mesmo com todo o cuidado em agradar aos fãs e trazendo uma mocinha pra lá de bela (Blake Lively)? Para começar, os diálogos são muito ruins. Parecem retirados de teatrinhos infantis amadores. Talvez tenha-se perdido tanto tempo caprichando no visual do planeta Oa que esqueceram desse "pequeno detalhe", que pode parecer irrelevante para um filme de ação ou de super-heróis, mas não é quando eles passam a se tornar evidentes.

O filme ficou mais tempo do que se esperava na sala de edição, mas já se imagina o porquê: estavam tentando salvá-lo, procurando um meio de fazê-lo funcionar, dar ritmo e não deixar com que, a meia-hora de duração, o espectador já estivesse aborrecido. A escolha de Ryan Reynolds não foi das melhores, mas acredito que isso não seja o principal problema. Ele teria dado certo, já que é um ator versátil. Faz bem tanto comédia quanto drama. Talvez a própria natureza do herói, que possui poderes bem pouco "realistas", é que tenha deixado os roteiristas e produtores na dúvida sobre que tom adotar para o filme, não acreditando no tom solene que o personagem recebe nos quadrinhos.

Essa série de fatores pode ter contribuído para que o filme de um dos super-heróis mais queridos do universo DC tenha diminuído ainda mais a chance de as produtoras de Hollywood apostarem em outros heróis menos conhecidos do mundo de Superman e Batman.

domingo, agosto 21, 2011

O PODER E A LEI (The Lincoln Lawyer)



É impressionante como o atual circuito de cinema vem cada vez mais deixando de lado obras que em outras ocasiões teriam sido sucessos de público e objetos de grande repercussão. É o caso de O PODER E A LEI (2011), segundo filme do ainda desconhecido diretor Brad Furman, e que conta com um elenco excepcional e um enredo muito bem amarrado. O diretor cria um suspense de tribunal (e fora do tribunal também) que há muito não se via nos cinemas.

O PODER E A LEI já conquista o espectador a partir dos créditos iniciais retrôs e da canção que abre o filme, "Ain’t No Love in The Heart of the City", da Bobby Blue Band. Aliás, como têm feito falta os créditos de abertura. Atualmente os filmes já começam sem créditos, sem estabelecer um clima inicial, como se já esperasse falta de paciência do público. Os créditos de O PODER E A LEI nos remetem aos anos 1970, muito embora o filme se passe nos dias atuais. O protagonista vivido por Matthew McConaughey usa seu velho e luxuoso Ford Lincoln como escritório. Ele é um advogado "de porta de cadeia" separado, mas que mantém uma relação amistosa com a ex-esposa (Marisa Tomei), também advogada, mas de acusação.

A imagem do protagonista é a de um homem seguro de si, com o qual a plateia masculina gostaria de se identificar, ou que almeja ser, e que a plateia feminina deve gostar bastante. Cool sem parecer arrogante, já que demonstra afeto pela família despedaçada e consideração pelos seus parceiros, ele ainda conta com a malandragem das ruas para sobreviver. O caso principal do filme é o de um jovem rico (Ryan Phillippe) que é acusado de espancar uma prostituta. Ele alega inocência e quer contratar os serviços do advogado, mas as coisas complicam um bocado. Dizer mais pode estragar a bela trama, que ainda conta com uma participação bem especial de William H. Macy, como um detetive particular.

Sorte de quem pôde ou puder ver o filme no cinema, já que foi lançado com poucas cópias e já está saindo em dvd. A experiência de ver em conjunto esse thriller com um grupo de pessoas mais maduras é algo que dificilmente se tem podido experimentar na atual conjuntura. Ver esse filme no cinema é compartilhar os momentos em que a nossa respiração é suspensa nas diversas situações mais intensas. É também testemunhar o grande papel da carreira de Matthew McConaughey. Lembrando que um dos filmes que o colocou para o primeiro time de Hollywood foi TEMPO DE MATAR (1996), também no papel de um advogado. Em O PODER E A LEI, o ator teve a chance de pegar de volta o que é seu. E com muito mais estilo.

sexta-feira, agosto 19, 2011

ONDE ESTÁ A FELICIDADE?



Há filmes que fazem a gente sair do cinema muito constrangido. ONDE ESTÁ A FELICIDADE? (2011) é um deles. A comédia, em geral, é um território muito mais complicado do que muitos pensam e como ela geralmente é bem recebida e é algo mais leve para o público que vê o cinema apenas como um passatempo, acabou virando um bom negócio, inclusive para o cinema brasileiro. E não dá para dizer que o filme de Carlos Alberto Riccelli com roteiro de sua esposa e atriz Bruna Lombardi não provoque alguns risos. Mas apesar de alguns momentos até divertidos, ao final da sessão a vontade que se tem de sair daquela sala o mais rápido possível não pode ser um bom sinal.

A segunda parceria de Riccelli e Bruna até que foi interessante. O SIGNO DA CIDADE (2007) é um filme-painel bem conduzido, embora tenha as suas falhas. Já este ONDE ESTÁ A FELICIDADE? apela para o humor fácil e Riccelli parece não ter timing para o gênero, mesmo tendo um bom ator como Bruno Garcia com experiência em comédia no papel do marido da personagem de Bruna. Na trama, ela flagra no computador um chat bem safado do marido com outra mulher. Isso é motivo para que ela entre em parafuso e veja a ideia de seguir o Caminho de Santiago de Compostela uma esperança para sua vida.

O caminho de Santiago já foi explorado em filmes mais nobres (A VIA LÁCTEA, de Luis Buñuel) e não deixa de ser bonito ver as belas paisagens da Espanha. Não à toa, o filme foi coproduzido com dinheiro espanhol e conta com alguns coadjuvantes do país de Almodóvar. A brincadeira em torno da onda new age não aparece apenas nas cenas de Bruna Lombardi, mas também em algumas sequências com Bruno Garcia, que no Brasil tenta com uma terapeuta alternativa um caminho para ser uma pessoa melhor e poder reconquistar a esposa. O que acaba gerando algumas boas piadas, envolvendo a região traseira do rapaz. Outra piada que também lida com o aspecto homofóbico aparece com o personagem de Marcello Airoldi. Claro que o filme sai de fininho no que se refere a qualquer brincadeira ofensiva, até porque quem acaba sendo alvo das piadas são os machistas. De qualquer maneira, quem não é nada exigente até que pode gostar do filme. Eu, do meu lado, desejo mais sorte ao casal Riccelli/Bruna no próximo trabalho.

quinta-feira, agosto 18, 2011

CAMINHO DA LIBERDADE (The Way Back)



Depois de sete anos afastado das telas, bem que Peter Weir poderia ter voltado com um trabalho mais pungente. Não que CAMINHO DA LIBERDADE (2010) não seja bom. Apenas não faz jus à carreira de um diretor que tem no currículo obras como SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (1989), SEM MEDO DE VIVER (1993) e A TESTEMUNHA (1985). Sem falar nos elogiados filmes da fase australiana, que eu tanto adio para ver. Mas uma coisa CAMINHO DA LIBERDADE tem em comum com todos os seus filmes, seu aspecto humano.

O filme acompanha a longa jornada que um grupo de prisioneiros do Gulág soviético fizeram ao escapar de uma prisão cuja maior dificuldade de fugir era justamente por causa da natureza. A jornada do pequeno grupo parte da Sibéria, passa pelo deserto da Mongólia, pelas cordilheiras do Himalaia no Tibete, até chegar na Índia. É um caminho que, além de longo, é tortuoso e selvagem e que, como podemos ver no filme, poucos conseguem sobreviver. A lei do mais forte aqui se aplica.

CAMINHO DA LIBERDADE também é um filme de grandes interpretações. Jim Sturges é o mais próximo de um protagonista. Ele faz um personagem generoso, ao contrário de Ed Harris, que acha que para sobreviver é preciso ser um tanto quanto egoísta. Colin Farrell é que não está muito bem como um prisioneiro criminoso, que vive manipulando sua faca para mostrar poder. Ficou um pouco caricato e deixou a desejar em comparação com os demais. Saoirse Ronan é uma garota que encontra o grupo de fugitivos no caminho e decide segui-los. Isso para ficar apenas entre os atores mais conhecidos.

Apesar de a trama ser bem conduzida e de CAMINHO DA LIBERDADE ser um filme no qual o percurso é mais importante do que o seu fim, fica difícil não ficar um tanto desapontado com o resultado final. No final, percebe-se a intenção de mostrar os soviéticos como monstros quase tão desprezíveis quantos os nazistas. Talvez até o filme tenha razão, mas chutar comunistas hoje é mais ou menos como chutar cachorro morto. Se o filme fosse realizado na época da Guerra Fria, com certeza não seria bem recebido pelos intelectuais de esquerda e ganharia maior visibilidade.

quarta-feira, agosto 17, 2011

GODARD, TRUFFAUT E A NOUVELLE VAGUE (Deux de la Vague)



O documentário GODARD, TRUFFAUT E A NOUVELLE VAGUE (2010), de Emmanuel Laurent, até por sua curta duração, não tem a ambição de abarcar tão detalhadamente os detalhes envolvendo os trabalhos e os bastidores dos realizadores, quanto menos citar outros cineastas do movimento, embora ainda se possa ver uma sequência de A RELIGIOSA, de Rivette. Mas dá para se ter um panorama do que foram aqueles tempos e de como se iniciou a rixa entre os dois mais famosos cineastas do movimento cinematográfico que mudou o mundo.

O documentário se utiliza mais de imagens de arquivo para compor a sua estrutura. Uma das estratégias para que ele não pareça tão datado é mostrar duas pessoas estudando a Nouvelle Vague, através de jornais e revistas, como se fosse uma espécie de espelho do espectador. No entanto, isso mais incomoda do que ajuda. Mas como é algo que aparece pouco durante o filme, pode ser relevado.

O filme destaca o começo de tudo para os dois cineastas. Mas qual seria esse começo? Antes de voltar no tempo e mostrar um pouco de como foi a formação familiar e cultural de François Truffaut e de Jean-Luc Godard, o filme começa mostrando o grande triunfo de Truffaut, quando ganhou a Palma de Ouro em Cannes por OS INCOMPREENDIDOS em 1959. Curiosamente, Truffaut havia sido banido do festival no ano anterior por suas ferrenhas críticas ao cinema francês de sua época. Sua vitória teve sabor de revanche.

Por outro lado, Godard ficou um pouco enciumado com a vitória do amigo, mas isso não impediu que os dois trabalhassem juntos em ACOSSADO. O roteiro de Truffaut se transformou em um filme bem diferente na direção de Godard, uma obra que fez muito espectador sair do cinema indignado. Alguns espectadores disseram que o filme era grotesco, repulsivo. Poucos estavam preparados para tanta inovação.

Outra coisa que o documentário destaca é a figura de Jean-Pierre Léaud, chamado de filho da Nouvelle Vague. Estreou em OS INCOMPREENDIDOS, ficou marcado pelo personagem Antoine Doinel, que apareceria em cinco filmes de Truffaut, mas também foi ator de várias produções de Godard. Quando os dois diretores assumiram a rivalidade e se tornaram inimigos públicos, Léaud ficou no fogo cruzado. O filme segue mais ou menos até o ano de 1968, que foi o ano que abalou o mundo, que mostrou que a saída de um diretor da Cinemateca Francesa poderia render uma rebelião da juventude.

Depois de 68, enquanto Godard se tornou cada vez mais hermético, com um cinema cada vez mais politizado e inacessível para muitos, Truffaut permaneceu seguindo o estilo clássico. A Nouvelle Vague é um assunto que dá muito pano pra manga, para muitos livros e tratados. Por isso, melhor ficar por aqui para não me estender. Até porque tudo isso que eu escrevi já é de conhecimento de muitos.

terça-feira, agosto 16, 2011

A FLOR DO MEU SEGREDO (La Flor de Mi Secreto)



Alguns filmes perdem um pouco a aura quando revistos. Creio ser o caso de A FLOR DO MEU SEGREDO (1995). Da primeira vez que o vi eu já havia achado o filme inferior às três obras-primas subsequentes de Pedro Almodóvar. E essa impressão permanece, embora eu o tenha visto em melhores condições, num formato digital que valoriza as cores da bela fotografia de Affonso Beato e o formato da janela original, em vez da versão em vhs vista em 2003 e já comentada muito brevemente aqui no blog.

Porém, o que mudou de lá pra cá foi a minha percepção dos filmes de Almodóvar. Antes de partir para uma peregrinação por sua obra, de ler o livro "Conversas com Almodóvar" e de redescobrir os seus filmes como obras sinceramente dolorosas, para mim, eles não passavam de comédias kitsch debochadas. Uma vez que eu percebi que praticamente todos os seus trabalhos - por mais que tenham elementos de humor - possuem algo que deve ser levado a sério, um filme excessivamente sóbrio como A FLOR DO MEU SEGREDO perdeu muito da graça pra mim.

Continuo vendo o filme como uma porta de entrada para os maravilhosos CARNE TRÊMULA (1997), TUDO SOBRE MINHA MÃE (1999) e FALE COM ELA (2002), os pontos altos da carreira do diretor. E é nisso que eu vejo o seu principal valor. Ainda assim, A FLOR DO MEU SEGREDO tem momentos de extrema beleza, como a cena em que Leo (Marisa) encontra o seu amado marido e o abraça e o beija com saudades, enquanto a câmera mostra uma série de pequenos espelhos, como para nos mostrar a relação já despedaçada do casal. Ou quando ela está no bar, arrasada depois do fim do relacionamento, e na televisão toca "En el ultimo trago", cantada por Chavela Vargas.

Almodóvar parecia estar tentando provar a seriedade de suas obras. Por isso, a dor da personagem de Marisa Paredes é mostrada de maneira tão crua, tão despida de exageros. Se DE SALTO ALTO (1991), por exemplo, era um melodrama, A FLOR DO MEU SEGREDO é um drama sóbrio. Provavelmente o filme deve ter afastado muitos espectadores que esperavam algo mais familiar de Almodóvar, principalmente depois de uma comédia tão movimentada como KIKA (1993).

segunda-feira, agosto 15, 2011

SUPER 8



Em seu terceiro filme para cinema, J.J. Abrams mostra que tem mantido o seu padrão de qualidade. Mas uma coisa que parece comum entre esses três trabalhos é a falta de originalidade, ou melhor, o fato de serem derivações ou continuações de projetos alheios. Foi assim com MISSÃO: IMPOSSÍVEL III (2006) e com STAR TREK (2009). O mesmo pode ser dito de SUPER 8 (2011). Por mais que desta vez seja uma história "original", há fortes ligações com E.T. – O EXTRATERRESTRE e OS GOONIES, além de ligações óbvias com uma criação sua, a série LOST.

Ainda assim, trata-se de um filme bem bonito, estilo "diversão para toda a família", como as citadas produções de Steven Spielberg. SUPER 8 também pega pelo coração aqueles que gostam de cinema, ao acompanhar um grupo de pré-adolescentes que procuram fazer o seu próprio filme de zumbis. O fato de o filme se passar no final da década de 1970 e não nos dias atuais ajuda a dar um ar mais romântico à tecnologia utilizada para captar as imagens. As atuais câmeras digitais banalizaram um pouco a apreensão das imagens.

Os garotos são o elo de identificação com o espectador, principalmente o garotinho Joel Courtney, que faz o personagem Joe. Ele é filho de um policial e carrega consigo a falta da mãe, que morreu num acidente. Algo mais próximo de uma família que ele encontra está na casa do amigo gordinho Charles. Ambos se apaixonam por uma bela garota da escola, Alice, interpretada por uma cada vez mais brilhante Elle Fanning. Elle já começa arrasando em sua primeira aparição, dirigindo um daqueles modelos de carros setentistas que os mais saudosistas adoram.

Ela é a única garota convidada a participar das filmagens do filminho caseiro dos meninos. E é durante uma das gravações que acontece o estranho acidente de trem que tem ligação direta com uma enigmática criatura que demorará a aparecer na tela. Observa-se que Abrams copiou direitinho algumas características de Spielberg: a família incompleta, a criatura que só se mostra aos poucos e o clima quase apocalíptico que se instaura na cidade, que lembra GUERRA DOS MUNDOS.

Os efeitos especiais são ótimos, como não poderia deixar de ser para uma produção de Spielberg, mas o melhor do filme mesmo é o seu lado humano, saudosista e romântico – as sequências em que Joe e Alice estão juntos são sempre especiais. Ainda assim, se for para botar defeito no filme, eu diria que faltou mais emoção. Pelo menos as cenas que são mostradas durante os créditos de encerramento são bem divertidas e ajudam a equilibrar um pouco o sentimento de decepção que o espectador pode sentir no final.

domingo, agosto 14, 2011

ROCKY, UM LUTADOR (Rocky)



Sinceramente, foi um baque pra mim. Não imaginava que ROCKY, UM LUTADOR (1976) fosse um filme tão belo, tão poético, tão carregado de emoções. Como alguém fala num dos documentários presentes na edição especial em dvd – acho que a Talia Shire -: é como se o universo conspirasse para a criação daquele filme, como se os astros estivessem todos posicionados a fim de que o jovem Sylvester Stallone criasse e interpretasse um personagem tão cheio de amor quanto Rocky Balboa, contratasse um diretor perfeito para a função (John G. Avildsen), convidasse um elenco perfeito em todos os sentidos para seus papéis e ainda contasse com um músico como Bill Conti, que faria uma trilha capaz de nos conectar com o filme muito além da sessão. Tudo isso gera tal carga de emoções no espectador muito difícil de se encontrar em outro filme.

Hoje em dia, várias pessoas têm preconceito com Stallone e não acreditam que um filme seu chegou a ganhar o Oscar principal, mas o fato é que essas pessoas não se deram a chance de rever ou ver esta obra de primeira grandeza, produzida com poucos recursos. Por causa do pouco dinheiro para a realização do filme, os produtores tinham tudo para se identificar com a figura de um boxeador decadente que recebe a chance de lutar com o campeão nacional de boxe, Apollo Creed (Carl Weathers). O que muita gente não sabe é que ROCKY é muito mais do que uma história sobre boxe, é principalmente uma das mais belas histórias de amor que o cinema já nos proporcionou. Amor principalmente de Rocky com Adrian (Talia Shire), mas também do jovem para com seu velho treinador Mickey (Burgess Meredith) e do público para com todos aqueles personagens, inclusive o irmão de Adrian, Paulie (Burt Young).

Aliás, ver no making of Burt Young chorando de tão emocionado ao lembrar as mais emocionantes cenas do filme, do amor que ele ainda sente por todos os envolvidos no projeto, só não chora quem tem coração de pedra. As tais cenas mais emocionantes do filme são o primeiro beijo entre Rocky e Adrian e o momento em que Mickey vai implorar a Rocky para ser seu treinador. E esses são apenas dois grandes momentos de um filme que parece perfeito em tudo. Todo o desabrochar de Adrian, por exemplo, de uma garota extremamente tímida para uma mulher feita e forte, a ponto de enfrentar o irmão numa cena de violência doméstica, tudo isso foi feito com uma sensibilidade incrível.

Num dos minidocumentários presentes no dvd, fala-se que o boxe é o esporte mais presente no cinema, que o boxe é quase uma representação do cinema, além de mostrar duas pessoas enfrentando-se totalmente sozinhas, como na vida; como se estivessem nuas diante de centenas ou milhares de pessoas. Charles Chaplin, Buster Keaton, Alfred Hitchcock, Leo McCarey, King Vidor, Robert Wise, Stanley Kubrick, Martin Scorsese, Michael Mann, Norman Jewison, Clint Eastwood, entre outros, usaram o boxe para falar de algo maior. Prova de que o próprio esporte, por mais brutal e violento que seja, tem o seu encanto e acelera as nossas frequências cardíacas. E quando tudo é feito com o coração, como em ROCKY, UM LUTADOR, aí, então, o espectador agarra o filme como a um ente querido.

E o mais bonito de tudo é que Sylvester Stallone é Rocky Balboa. Por isso que ele nunca fez outro personagem tão bem. Por mais que ele seja um ator-autor e elementos recorrentes estejam presentes em outros personagens seus como Rambo ou o presidiário de CONDENAÇÃO BRUTAL, para citar dois ótimos exemplos, nenhum deles será tão completo quanto o lutador romântico Rocky.

sábado, agosto 13, 2011

CADA UM VIVE COMO QUER (Five Easy Pieces)



Quando ensaiei meu retorno à leitura de "Easy Riders, Raging Bulls – Como a Geração Sexo-Drogas-e-Rock’n’Roll Salvou Hollywood", vi que tinha parado justamente quando o autor Peter Buskind estava falando sobre CADA UM VIVE COMO QUER (1970), de Bob Rafelson. Mas as informações sobre o filme e seus bastidores são mínimas, já que os destaques do capítulo são mesmo A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, de Peter Bogdanovich, e sua vida com as mulheres, e as presepadas de Dennis Hopper com seu THE LAST MOVIE.

Mesmo assim, CADA UM VIVE COMO QUER era uma lacuna para mim. Por que não aproveitar então a oportunidade para vê-lo? Até porque foram poucos os filmes de Rafelson que vi e que realmente me agradaram. Na verdade, ele foi um dos diretores da Nova Hollywood que não fizeram tanto sucesso assim nos anos posteriores. Mas, curiosamente, eu guardo uma boa lembrança de O MISTÉRIO DA VIÚVA NEGRA (1987), quando o vi na televisão, cerca de vinte anos atrás. Debra Winger e Theresa Russell foram suficientes para me deixar ligado. Taí um filme que merece uma revisão da minha parte.

Uma das grandes vantagens de CADA UM VIVE COMO QUER é ver Jack Nicholson formando a persona que se manteria presente nos filmes seguintes do ator, mas que aqui ainda aparece sem nenhum excesso. Ele interpreta um sujeito que veio de família rica, mas que prefere largar tudo para viver longe dali, nem que seja para trabalhar como operário. Ele é uma espécie de rebelde e que também não tem muita paciência com a namorada, a garçonete meio burrinha mas cheia de amor para dar interpretada por Karen Black.

O produtor do filme, Bert Schneider, era um dos mais influentes da nova Hollywood, tendo produzido boa parte dos filmes mais importantes dessa turma. Ele achou que estava fazendo um excelente negócio ao trazer um grande ator como Jack Nicholson por pouca grana. Nicholson ainda não se tocava o quão bom ele era. E realmente no filme ele está magistral. E CADA UM VIVE COMO QUER tem um ar europeu, que requer do espectador um pouco mais de boa vontade e uma boa noite de sono, mas que oferece em troca momentos de poesia visual. Destaque para a cena em que o personagem de Nicholson conversa com a mulher por quem ele realmente se apaixona (ou algo próximo disso).

Um fato curioso que consta no livro de Buskind é que Rafelson e Schneider controlavam a performance de Nicholson com drogas. Dependendo da cena, eles dariam a ele maconha ou haxixe. Não deixa de ser uma técnica interessante.

sexta-feira, agosto 12, 2011

ALMA EM SUPLÍCIO (Mildred Pierce)



Que me perdoem os fãs de Michael Curtiz e Joan Crawford, mas este ALMA EM SUPLÍCIO (1945) perde feio para a belíssima minissérie da HBO dirigida por Todd Haynes, MILDRED PIERCE. Talvez o problema esteja no fato de eu ter visto antes a minissérie, que possui por natureza um tempo maior para a construção e desenvolvimento dos personagens e do enredo, para só então conferir esta adaptação que carrega consigo o espírito dos anos 1940, mas que carece de emoção, por mais eficiente que sejam a direção de Curtiz e a atuação de Joan Crawford, que ganhou o Oscar por este papel.

A década de 40 é uma das mais curiosas do cinema americano. Impressionante como até cineastas que realizavam apenas melodramas e comédias se renderam e tiveram que adentrar no terreno do film noir, como foi o caso de George Cukor, por exemplo. Era o espírito da época, tempos sombrios. Por mais que em 1945 a Segunda Guerra Mundial já estivesse no fim, uma outra guerra, dessa vez de nervos, iria se estender por pelo menos mais umas três décadas.

ALMA EM SUPLÍCIO começa com um assassinato. Não vemos quem atira, mas vemos um homem levando algumas balas. Joan Crawford leva um homem para a casa onde aconteceu o crime, com o objetivo de incriminá-lo, mas seu plano não dá muito certo e ela acaba tendo que ir para a delegacia prestar esclarecimentos. É a partir daí que a história de sua vida, começando com a separação do marido, vai sendo contada em flashback, recurso muito utilizado pelo cinema hollywoodiano da época. É aí que vemos a sua luta para manter a família, composta por suas duas filhas, a volta por cima com a construção de um restaurante e o relacionamento com um esnobe playboy.

Tudo acontece muito rápido, como se a condensação do romance de James M. Cain fosse narrada em flashforward. Porém, novamente digo, essa impressão pode ser puramente por causa da minissérie de Haynes. Mas, de todo modo, nunca fui mesmo fã de Michael Curtiz. Um dia eu revejo CASABLANCA (1942), só para procurar entender o culto à obra. Por enquanto, meu favorito dele continua sendo ANJOS DE CARA SUJA (1938), mas aí é por causa do monstruoso talento de James Cagney.

quinta-feira, agosto 11, 2011

OS SONHOS ERÓTICOS DE UMA MULHER INSACIÁVEL (Tutti i Colori del Buio / All the Colors of the Dark)



Sergio Martino, bem como a musa deste belíssimo filme, Edwige Fenech, voltaram a ganhar destaque nos últimos anos, graças a Eli Roth e seu O ALBERGUE – PARTE II, que trazia de volta a bela estrela, bem como fazia uma homenagem a uma obra de Martino, TORSO (1973). ALL THE COLORS OF THE DARK (1972), que aqui no Brasil ganhou o apelativo título de OS SONHOS ERÓTICOS DE UMA MULHER INSACIÁVEL, quando de seu lançamento nos cinemas em 1975, é um dos mais belos e intrigantes gialli já produzidos. Combina a beleza das cores vivas da caprichada direção de arte e fotografia em scope e o clima psicodélico e viajante, no qual a protagonista tem constantes sonhos e visões de um homem de olhos estranhamente azuis com uma faca na mão para matá-la.

ALL THE COLORS OF THE DARK (optemos pelo título internacional, que é mais famoso) é um exemplo de como o espírito da época, aliado a mentes criativas, pode criar uma obra tão singular. Não à toa, Tim Lucas, quando foi dar título à biografia de Mario Bava, escolheu justamente este título, embora não seja uma realização do mestre do horror italiano. Mas com certeza é uma obra devedora do estilo de Bava, e que bebeu em sua preciosa fonte.

A trama se inicia com um clima de paranoia da protagonista, mas cada vez mais o sobrenatural vai tomando conta. Edwige Fenech é Jane, uma jovem mulher perturbada que devido aos sonhos e visões recorrentes tem se sentido um estorvo para o marido (George Hilton), que dá a ela uma bebida azulada, que segundo ele lhe ajudaria no processo de cura. Ele não acredita em psicanalista, uma opção que a irmã de Jane tanto insiste. Ela chega a visitar o psicanalista, mas a sua vida muda mesmo quando ela conhece a sua vizinha, que lhe propõe uma solução muito mais radical, a magia negra.

Nota-se que ALL THE COLORS OF THE DARK é um giallo atípico, sem um assassino misterioso de luvas negras. O filme sai mais do suspense e entra direto no horror sobrenatural e também não destaca tanto a violência gráfica. O vermelho aparece bastante, mas poucas vezes é do sangue, mas nos móveis e nas roupas dos membros do culto satânico. Também o azul é uma cor bastante recorrente na paleta de cores, muito provavelmente para combinar com o azul dos olhos do assassino. A beleza plástica do filme é um aliado junto à beleza de Edwige e à sempre instigante trama e às soluções formais de Martino, simples mais inventivas.

Agradecimentos ao pesquisador e especialista em cinema de horror Carlos Primati, que fez a gentileza de pesquisar o título brasileiro do filme. Como se vê, o filme não tem nada de sonhos eróticos, nem muito menos uma mulher insaciável.

quarta-feira, agosto 10, 2011

NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO!



O mais novo filme de Hugo Carvana tem um ar anacrônico. Parece uma produção dos anos 1970, década em que o diretor ficou famoso e respeitado pelo filme VAI TRABALHAR, VAGABUNDO (1973), que até ganhou uma continuação nos anos 1990, porém sem o mesmo sucesso. Carvana é mais conhecido como ator e tem um currículo pequeno de filmes como diretor. Nunca me esqueci de BAR ESPERANÇA (1985), talvez por causa da cena de strip-tease de Sílvia Bandeira. Também nunca me esqueci de ver um cinema como o São Luiz lotado para ver a sua versão de O HOMEM NU (1998), com o público gargalhando como eu jamais vi antes num filme nacional.

NÃO SE PREOCUPE, NADA VAI DAR CERTO! (2011) procura o seu espaço na safra atual de comédias, e por mais bobo que possa parecer, o filme de Carvana é muito mais digno do que a grande maioria das comédias juvenis atuais. A atual safra dificilmente colocaria um grande e veterano ator como Tarcísio Meira como protagonista. Dos novos diretores, só quem tem apostado em atores mais velhos e às vezes esquecidos é Selton Mellon, como se pode notar em seus dois trabalhos na direção.

O filme de Carvana pode ser dividido em duas partes. A primeira investe mais numa comédia ingênua, em que pai (Tarcísio Meira) e filho (Gregório Duvivier) trabalham como itinerantes em lugares remotos e pequenos do Nordeste do Brasil. O filho aproveita a moda das stand-up comedies, geralmente fazendo piadas ligadas às presepadas do pai. Enquanto isso, o pai faz suas "cagadas", para usar o termo que o personagem de Tarcísio Meira costuma dizer. A segunda parte inicia-se a partir de uma reviravolta na trama, que se dá com características policialescas, o que o torna até mais interessante nessa história de farsantes.

O resultado final é de poucos risos, o que depõe muito contra o filme, mas que em certo sentido lembra a leveza de algumas comédias francesas e ainda conta com a beleza da fotografia de Lauro Escorel, além da exuberência de Flávia Alessandra. Quer dizer, para um filme que se vende muito mal no trailer, até que o resultado final não é ruim.

segunda-feira, agosto 08, 2011

QUERO MATAR MEU CHEFE (Horrible Bosses)



Mais uma comédia desbocada e sexualmente ousada chega para engrossar a safra de comédias adultas americanas. QUERO MATAR MEU CHEFE (2011), de Seth Gordon, não chega a ir tão longe nas ousadias como PASSE LIVRE, dos irmãos Farrelly, ou SE BEBER, NÃO CASE II, de Todd Phillips, para citar os exemplos de 2011. Não há, por exemplo, cenas de nudez no filme, mas isso é compensado com a oportunidade de ver Jennifer Aniston, mais sexy no que nunca e no seu habitat natural, a comédia, falando coisas que não se esperaria de uma atriz como ela, estilo "dirty talk" . E Jennifer de cabelo preto ficou melhor ainda.

Ela é um dos três chefes que são alvo de três empregados extremamente insatisfeitos que, a exemplo de PACTO SINISTRO, de Alfred Hitchcock, resolvem trocar os assassinatos, e cada um se livrar do chefe do outro, sob a "supervisão" de um sujeito que se autodenomina "Motherfucker" Jones (Jamie Foxx). Aliás, a cada vez que é pronunciado o nome dele, é motivo de risos no cinema. Pena que a tradução para o português nas legendas ("Ferra-Mãe") seja tão infeliz. O divertido no filme é que os três protagonistas (Jason Bateman, Jason Sudeikis e Charlie Day) são bastante trapalhões e o roteiro do filme, ainda que um pouco trôpego, ajuda, construindo situações engraçadas, como a cocaína no apartamento, os assédios sexuais de Jennifer Aniston, o corte de pessoal do chefe politicamente incorreto Colin Farrell.

Aliás, a produção do filme pode se dar ao luxo de ter Farrell como um coadjuvante quase irreconhecível, Donald Sutherland numa participação pequena e Kevin Spacey como o mais odioso dos chefes, além dos já citados astros. QUERO MATAR MEU CHEFE é uma comédia despretensiosa que deve ficar mais forte na mente dos espectadores graças a Jennifer Aniston e Kevin Spacey, que são os dois que definitivamente roubam a cena, cada um com suas próprias armas. E também, claro, por Jamie Foxx, o Motherfucker Jones, mesmo que num papel pequeno. Foxx parece estar retornando à comédia, gênero que o revelou para o mundo e do qual ele esteve afastado por uns tempos em busca de uma carreira como ator sério. Agora que não precisa provar mais nada pra ninguém, já pode relaxar.

sábado, agosto 06, 2011

FILHOS DE JOÃO – O ADMIRÁVEL MUNDO DOS NOVOS BAIANOS



O filão dos documentários musicais ainda não acabou. O mais recente exemplar desta safra é FILHOS DE JOÃO – O ADMIRÁVEL MUNDO DOS NOVOS BAIANOS (2011), que procura mostrar um retrato de uma época, a história do grupo, através de depoimentos e imagens documentadas dos envolvidos, mas com a intenção de provar que os Novos Baianos só se tornaram um sucesso graças a João Gilberto. Na falta do depoimento do recluso e enjoado João, Tom Zé faz as vezes de "apresentador" do documentário. Curiosamente, ao final do filme, uma frase encerra afirmando que todos os trechos com depoimentos de Baby Consuelo (ou Baby do Brasil, como ela prefere ser chamada) foram retirados a pedido dela. Fiquei curioso para saber o porquê e li numa resenha que foi porque ela havia pedido cachê e o diretor Henrique Dantas não deu (como não pagou para nenhum outro, creio eu). Pegou mal pra ela, hein?

Dentre os documentários sobre a história da música brasileira, FILHOS DE JOÃO foi um dos que menos me agradou. Tudo bem que ele funciona bem como retrato de uma época e é quase didático para o público que desconhece ou conhece pouco a banda, mas um pouco de antipatia da minha parte surge quando vejo que eles também foram responsáveis pelo carnaval dos trios elétricos da Bahia. Aí vejo que o meu problema com o filme é mesmo a falta de identificação. E identificação é algo forte para mim em se tratando de música. Se não é através da letra, é através da música – em geral, as guitarras do rock me atraem, não importando muito o que a letra quer dizer. Porém, curiosamente, dentre as canções dos Novos Baianos, "Acabou chorare" é uma das que mais me agradam, apesar de sua letra não me dizer nada. A melodia é que é agradável. No filme, Galvão, o principal letrista da banda, conta um pouco do processo de realização da canção, através de uma conversa por telefone com João Gilberto.

Como geralmente acontece nesse tipo de documentário, o fim da banda é sempre mostrado como um momento tão importante ou até mais do que o início. Se o início da banda foi com Tom Zé apresentando Galvão a Moraes Moreira e logo em seguida a visita-chave de João Gilberto como guru e transformador do som da banda, o final começou a se formar a partir da saída de Moraes Moreira. Pepeu Gomes, no grupo desde a primeira formação, até que conseguiu "substitui-lo" no posto e a banda duraria mais alguns anos. E da forma fria e paulatina como foi o fim da banda, assim também se deu o final do documentário, sem impacto. Não chega a ser um filme mais apropriado àqueles que vivenciaram a época, como TITÃS – A VIDA ATÉ PARECE UMA FESTA, mas acredito que, mesmo procurando um viés mais didático, FILHOS DE JOÃO – O ADMIRÁVEL MUNDO DOS NOVOS BAIANOS deve ser mais apreciado pelos fãs da banda.

sexta-feira, agosto 05, 2011

FAMÍLIA SOPRANO – A QUARTA TEMPORADA COMPLETA (The Sopranos – The Complete Fourth Season)



Se não é tão empolgante quanto a temporada anterior, a quarta temporada de FAMÍLIA SOPRANO (2002) traz um dos melhores episódios de toda a série. Trata-se de "Whoever did this", em que um personagem importante sai de cena de maneira surpreendente, para não dizer chocante. Na quarta temporada, também podemos ver a evolução do filho de Tony Soprano, Anthony Jr., que cada vez mais se aproxima do pai em comportamento. Como as temporadas têm um ano de intervalo, os filhos de Tony, Anthony e Meadow, crescem a olhos vistos. Meadow torna-se cada vez mais bela e mais independente da família. O que de certa forma é ruim, pois sua participação diminui.

A quarta temporada também mostra o cerco aumentando em torno dos negócios escusos dos Sopranos, com a polícia dessa vez pegando Adriana para ser uma espécie de espiã. Acompanhamos o seu processo de raiva, medo e paranoia diante da situação. Afinal, todos temem Tony, por mais que ele pareça um sujeito simpático. Aliás, como não gostar de Tony, até mesmo quando ele pratica os atos mais brutais? Sei que o próprio cinema tem um histórico forte de mafiosos carismáticos desde os tempos de James Cagney, passando pelo Al Pacino de O PODEROSO CHEFÃO, mas FAMÍLIA SOPRANO traz a figura do chefão mais próxima da audiência, ao vermos também suas fragilidades contadas diante de uma psicanalista, ainda que saibamos que ele omite uma série de fatos a ela.

A quarta temporada também marcou a crise no relacionamento de Tony com Carmela, que se apaixona pelo guarda-costas de Tony, o italiano Furyo. Ao mesmo tempo, Tony continua seu envolvimento com outras mulheres, sem ter o menor sentimento de culpa quanto a isso. A não ser, claro, quando uma de suas ex-amantes comete suicídio. O episódio que lida com esse problema, "Everybody hurts", é o que mais aprofunda as questões de culpa e tentativa de compensar o pecado. Ainda assim, diria que, pelo menos até o momento, FAMÍLIA SOPRANO não é uma série que necessariamente se aprofunde nas questões católicas.

No mais, FAMÍLIA SOPRANO, mesmo numa temporada mais irregular como esta, permanece sendo um exemplo de excelência em dramaturgia na televisão e que deixa muitos filmes do gênero para trás. Até porque não se fazem mais muitos filmes sobre a máfia ultimamente. A impressão que se tem é que a maioria dos diretores tem medo das comparações com Coppola, Scorsese, Ferrara e agora com FAMÍLIA SOPRANO.

quinta-feira, agosto 04, 2011

THE YAKUZA PAPERS VOL. 3 – PROXY WAR (Jingi Naki Tatakai: Dairi Sensô)



Faz pouco mais de dois anos que eu vi a segunda parte desta série de cinco filmes de Kinji Fukasaku, BATTLES WITHOUT HONOR AND HUMANITY (1973, 1974), lançado em dvd nos Estados Unidos como THE YAKUZA PAPERS. Falha minha ter passado tanto tempo no intervalo entre um filme e outro. Até porque uma série como essa, além de ter uma infinidade de personagens, não se preocupa muito se você está acompanhando a dança de assassinatos e de entradas e saídas de novas famílias de mafiosos, que se agregam e se confrontam como quem troca de roupa.

O primeiro filme, BATTLES WITHOUT HONOR AND HUMANITY (1973) mostra o início do surgimento das primeiras famílias Yakuza, logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, focando no personagem de Shozo Hirono, vivido por Bunta Sugawara. O segundo filme, DEADLY FIGHT IN HIROSHIMA (1973) muda um pouco o foco, centrando num personagem menos heróico e mais passional e tímido vivido por Shoji Yamanaka, dando a impressão de fazer parte de outra série, podendo até ser visto separadamente sem prejuízo de compreensão. Bunta Sugawara reaparece como protagonista neste PROXY WAR (1973).

É começo dos anos 1960 e seu personagem, recém-saído da prisão, retorna às atividades e já é uma espécie de chefe. Logo no início do filme, ele cobra o dinheiro de um de seus subordinados, que havia gastado com um aparelho de televisão para a esposa. Como que para comprovar a sua falha ao seu chefe, ele corta a própria mão como forma de autopunição. Foi o momento mais forte do filme pra mim, em termos de violência, embora a cena do corte da mão não seja mostrada explicitamente. Anos depois, outro cineasta, Takashi Miike, mostraria algo muito pior em ICHI, O ASSASSINO, com um sujeito cortando um pedaço da própria língua na frente de seu chefe. Essa cena, sim, me deixou bastante perturbado.

Em THE YAKUZA PAPERS, os chefes, em geral, são covardes e chorões. Daí que homens fortes como Hirono, o personagem de Sugawara, entram com disposição e ousadia para enfrentá-los, baseado naquilo que acreditam. Hirono não é necessariamente um herói, mas é o mais próximo do que se pode chegar num filme como esse, pois ele tem um código de honra que os demais não têm. No mais, o maior problema do filme é mesmo o fato de ser ainda mais confuso que os anteriores, já que as intrigas entre as diversas famílias Yakuza de várias cidades do Japão são passadas muito rapidamente e a maioria dos personagens secundários sai de cena tão rápido quanto aparecem, em geral, através de tiroteios à luz do dia. Isso tira um pouco a vontade de acompanhar com interesse a série, de tão perdido que se fica. Mas faltam só dois para acabar e eu chego lá. Só não quero levar novamente dois anos para ver o próximo.

Agradecimentos ao amigo Renato Doho pela cópia.

quarta-feira, agosto 03, 2011

S. BERNARDO



É muito interessante o processo de se ler um livro e, logo em seguida, ver a sua tradução para o cinema. Antes de conferir S. BERNARDO (1972), de Leon Hirszman, fiz questão de ler o romance homônimo de Graciliano Ramos. E foi uma leitura prazerosa, com aquele estilo seco do autor e um personagem-narrador que ao mesmo tempo provoca fascínio e repúdio: Paulo Honório. Mas é a tal coisa, quando lemos um livro idealizamos em nossa mente o nosso próprio filme. Quanto ao Paulo Honório interpretado por Othon Bastos, eu até que gostei, achei perfeito até, mas a imagem que eu tinha de Madalena era outra. A Madalena de Graciliano Ramos me parecia uma mulher muito mais forte do que a apresentada no filme por Isabel Ribeiro. Acho que eu esperava uma mulher ao mesmo tempo forte e extremamente bela.

Mas isso não quer dizer que a Madalena de Isabel Ribeiro não tenha a sua graça. Hirszman quis destacar o aspecto mais misterioso da personagem, uma espécie de Capitu moderna. E isso a atriz fez muito bem. Outro ponto forte de S. BERNARDO está nos diálogos; a maioria, retirados do romance de Graciliano, com pouquíssimas alterações, dando ao filme um rigor nas falas que combina com a direção firme e a câmera geralmente estática e muitas vezes distante dos personagens. Para quem está acostumado a ver filmes com muitos close-ups, pode estranhar este trabalho de Hirszman, feito mesmo para ser visto no cinema.

Diferente de "Vidas Secas", que não dispunha de muitos diálogos e que necessitava de uma tradução muito mais inventiva da parte de Nelson Pereira dos Santos, em "S. Bernardo", diálogos não faltam, mas isso não quer dizer que Leon Hirszman se aproveitou desse fato para fazer um cinema preguiçoso. Ao contrário, seu filme parece uma pintura em movimento, de tão belos que são os enquadramentos, muitos deles em planos gerais, outros com cores distintas, outros aproveitando apenas a luz natural para obter um resultado brilhante, outro lembrando John Ford (a cena em que Paulo Honório adentra a casa de Padilha). É cinema de gente grande. E que ainda trata de assuntos muito delicados para a sua época, como a figura do grande proprietário de terras opressivo em relação aos seus trabalhadores e discussões simpatizantes ao comunismo.

Felizmente a cópia restaurada em dvd traz o filme em sua janela original (1.66:1), coisa que nem sempre podemos contar em se tratando de cinema brasileiro. Em geral, os filmes aparecem em "tela cheia" mesmo e temos que nos dar por satisfeitos. O dvd ainda conta com alguns curtas de Hirszman, como A MAIORIA ABSOLUTA (1964), no qual ele aborda o problema do analfabetismo e, o mais importante, o descaso do Governo com relação a esse povo que dá tudo de si e que não recebe nada em troca. Os outros curtas são menos interessantes, mas ainda assim valem ser conferidos. Com narração de Ferreira Gullar, CANTOS DE TRABALHO - CACAU, CANTOS DE TRABALHO - CANA-DE-AÇÚCAR e CANTOS DE TRABALHO – MUTIRÃO, todos de 1976, servem mais como registro de um tipo de trabalho mais braçal e que contava com uma tradição dos trabalhadores de cantarem durante o trabalho, um hábito herdado dos escravos, mas que também guarda raízes indígenas e europeias. MUTIRÃO é o mais interessante, principalmente para quem nunca viu o processo de se fazer uma casa de taipa. O dvd ainda conta com pequenas entrevistas de Othon Bastos e Nildo Parente (atores), Caetano Veloso (compositor), Eduardo Escorel (editor) e Lauro Escorel (diretor de fotografia).

terça-feira, agosto 02, 2011

A ÁRVORE DA VIDA (The Tree of Life)



Um filme novo de Terrence Malick é sempre um acontecimento digno de se ver no cinema e com todo o respeito. Seus filmes têm um ar solene que pedem isso. Há quem veja isso como um problema, que um bom cineasta tem que ter o mínimo de senso de humor. Mas Malick prefere usar o cinema como uma janela para a alma, para o exercício do olhar. Olhar profundamente através de imagens editadas de uma maneira tão cuidadosamente trabalhadas que levam anos para ficarem prontas, tal o perfeccionismo do diretor.

A ÁRVORE DA VIDA (2011) já era um antigo projeto de Malick, que remonta aos anos 1970, mas que só pôde ser realizado agora, graças às novas possibilidades tecnológicas que o cinema de hoje pode proporcionar. Ainda assim, o supervisor de efeitos especiais é o mesmo de 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO. O filme é mais um desfile de imagens viajantes do que uma história linear (ou não linear). O que não quer dizer que o fio principal da trama não seja importante. Ele é muito importante para tentarmos entender as intenções do diretor.

Depois de quatro filmes abordando a natureza tão próxima do espiritual, finalmente Malick mostra Deus, ainda que invisível, como uma energia ou como elemento sempre presente nas reflexões dos personagens. A ÁRVORE DA VIDA se inicia com uma citação do Livro de Jó, justamente o personagem da Bíblia que mais sofreu provações, sofrimentos e perdas. No filme, uma família de uma cidade do interior do Texas recebe a triste notícia da morte de um dos filhos. A dor do pai (Brad Pitt) e principalmente da mãe (Jessica Chastain, luminosa) é muito bem mostrada por Malick. A tal ponto que é como se o filme já começasse pelo seu momento de catarse.

A edição mostra momentos do passado, desde o nascimento do primogênito, passando pelo crescimento dos três garotos e sua relação pouco amigável com o pai, figura opressiva, e vai até o futuro, com um dos filhos (Sean Penn) relembrando momentos do passado, com um aspecto sempre pesado no olhar. Rodeado de prédios e com um sucesso profissional aparentemente conseguido, ele segue em busca de si mesmo para preencher o vazio existencial. Tanto o fracasso do pai como o "sucesso" do filho trazem esse sentimento de mal estar.

A comparação do pai terreno com o pai celestial se pode ver na cena em que o personagem de Brad Pitt parte para uma viagem a negócios e as crianças gritam de felicidade. Com a ausência do pai, os filhos poderão fazer o que bem entender, inclusive quebrar as vidraças das casas dos vizinhos ou magoar a própria mãe. Para um cristão, não ter que prestar contas com a Igreja e com o Deus em que ele acredita é um ato de liberdade, ainda que posteriormente possa surgir um sentimento de arrependimento. A culpa surge de maneira mais explícita na sequência do vestido e é um elemento que acompanha o próprio diretor em sua vida. Ele carrega o peso do suicídio do irmão, que ele poderia ter evitado se obedecesse o pai.

Os arquétipos do homem como criador e destruidor e da mulher como mantenedora, que mantém a harmonia do lar, estão presentes. A figura da mãe seria equivalente à Mãe Natureza e ela passa um amor no olhar tão forte que chega a ser comovente. Em um curto momento do filme, ela surge flutuando, como um ser superior. Ela, assim como o marido, também não entende porque Deus tirou o seu filho. Como mãe nenhuma entenderia. Há também a incompreensão de saber por que algumas pessoas más têm uma vida boa, enquanto pessoas boas sofrem. Por outro lado, as cenas que mostram o universo em seus estágios iniciais, visões de vulcões em erupções, imagens pré-históricas e visões do cosmos mostram o quão pequenos são os problemas dos homens diante da vastidão do universo.

Enfim, há muito o que falar do filme. É uma obra que não se esgota e que merece ser vista mais de uma vez, pelo menos. Não é para menos que Malick passou três anos na sala de edição até se dar por satisfeito. Se é que ele ficou mesmo totalmente satisfeito.

segunda-feira, agosto 01, 2011

CAPITÃO AMÉRICA - O PRIMEIRO VINGADOR (Captain America – The First Avenger)



Os estúdios Marvel têm feito tudo direitinho até o momento. Seria (ou está sendo) a realização de um sonho de um fã do Universo Marvel. Mas a materialização dos heróis dos quadrinhos em produções classe A, feitas com a intenção de ganhar um corpo coeso, um universo em que os heróis se cruzam como acontece em seu habitat original, ainda aguarda um grande filme. E espera-se que seja o dos Vingadores, previsto e aguardadíssimo para o próximo ano. Agora que Homem de Ferro, Thor, Hulk e outros heróis secundários, como a Viúva Negra e o Gavião Arqueiro, já deram as caras, faltava apenas o primeiro grande herói da companhia para que o tabuleiro ficasse completo.

CAPITÃO AMÉRICA – O PRIMEIRO VINGADOR (2011) teve um diretor escolhido sabiamente pelo estúdio. Joe Johnston é cria de Spielberg e já mostrou muito talento em filmes como QUERIDA, ENCOLHI AS CRIANÇAS (1989) e JURASSIC PARK III (2001). Tudo bem que ele pisou na bola em O LOBISOMEM (2010), mas a principal razão de ter sido Johnston o escolhido foi muito provavelmente o fato de ele ter dirigido ROCKETEER (1991), um belo filme de super-herói passado na década de 1930, o que o tornaria perfeito para comandar o filme do Sentinela da Liberdade. E ao mesmo tempo sem ter uma carga autoral forte demais que pudesse atrapalhar as intenções do estúdio e manter um certo padrão. Que por enquanto tem funcionado.

A trama segue em busca das origens do herói. Steve Rogers (Chris Evans) é um rapaz franzino que deseja lutar na Segunda Guerra Mundial, dar sua contribuição para a pátria que tanto respeita. Mas ele é rejeitado diversas vezes por ser muito magro e ainda sofrer de asma. Até que um senhor (Stanley Tucci) percebe sua persistência e o leva para um grupo especial de treinamento. Dali ele seria o escolhido para ser o primeiro a experimentar o soro do Supersoldado que o transformaria num homem de força e habilidade físicas sobre-humanas. E isso é logo demonstrado na cena seguinte ao fim da experiência: uma perseguição nas ruas – Rogers a pé, perseguindo um carro nas ruas. Isso já mostra para o espectador que o Capitão América é muito mais do que um sujeito vestido de bandeira com um escudo no braço.

Embora tenha o Caveira Vermelha, a Hidra e o Dr. Arnin Zola, o que falta no filme é mais sentimento. Mais sentimento da amizade de Rogers por Bucky Barnes, que mal aparece e já é seu melhor amigo. Mais sentimento do amor por Peggy Carter, por mais que a cena crucial de despedida dos dois tenha tido a intenção de comover. É um elemento que têm parecido secundário nos filmes do estúdio. E é isso que tem faltado para que esses projetos resultem em algo próximo do ideal, capazes de fazer chorar o espectador. Mesmo assim, CAPITÃO AMÉRICA – O PRIMEIRO VINGADOR tem um agradável sabor de matinê. E talvez tenha sido essa uma das principais intenções dos produtores em relação ao filme.