terça-feira, agosto 02, 2011

A ÁRVORE DA VIDA (The Tree of Life)



Um filme novo de Terrence Malick é sempre um acontecimento digno de se ver no cinema e com todo o respeito. Seus filmes têm um ar solene que pedem isso. Há quem veja isso como um problema, que um bom cineasta tem que ter o mínimo de senso de humor. Mas Malick prefere usar o cinema como uma janela para a alma, para o exercício do olhar. Olhar profundamente através de imagens editadas de uma maneira tão cuidadosamente trabalhadas que levam anos para ficarem prontas, tal o perfeccionismo do diretor.

A ÁRVORE DA VIDA (2011) já era um antigo projeto de Malick, que remonta aos anos 1970, mas que só pôde ser realizado agora, graças às novas possibilidades tecnológicas que o cinema de hoje pode proporcionar. Ainda assim, o supervisor de efeitos especiais é o mesmo de 2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO. O filme é mais um desfile de imagens viajantes do que uma história linear (ou não linear). O que não quer dizer que o fio principal da trama não seja importante. Ele é muito importante para tentarmos entender as intenções do diretor.

Depois de quatro filmes abordando a natureza tão próxima do espiritual, finalmente Malick mostra Deus, ainda que invisível, como uma energia ou como elemento sempre presente nas reflexões dos personagens. A ÁRVORE DA VIDA se inicia com uma citação do Livro de Jó, justamente o personagem da Bíblia que mais sofreu provações, sofrimentos e perdas. No filme, uma família de uma cidade do interior do Texas recebe a triste notícia da morte de um dos filhos. A dor do pai (Brad Pitt) e principalmente da mãe (Jessica Chastain, luminosa) é muito bem mostrada por Malick. A tal ponto que é como se o filme já começasse pelo seu momento de catarse.

A edição mostra momentos do passado, desde o nascimento do primogênito, passando pelo crescimento dos três garotos e sua relação pouco amigável com o pai, figura opressiva, e vai até o futuro, com um dos filhos (Sean Penn) relembrando momentos do passado, com um aspecto sempre pesado no olhar. Rodeado de prédios e com um sucesso profissional aparentemente conseguido, ele segue em busca de si mesmo para preencher o vazio existencial. Tanto o fracasso do pai como o "sucesso" do filho trazem esse sentimento de mal estar.

A comparação do pai terreno com o pai celestial se pode ver na cena em que o personagem de Brad Pitt parte para uma viagem a negócios e as crianças gritam de felicidade. Com a ausência do pai, os filhos poderão fazer o que bem entender, inclusive quebrar as vidraças das casas dos vizinhos ou magoar a própria mãe. Para um cristão, não ter que prestar contas com a Igreja e com o Deus em que ele acredita é um ato de liberdade, ainda que posteriormente possa surgir um sentimento de arrependimento. A culpa surge de maneira mais explícita na sequência do vestido e é um elemento que acompanha o próprio diretor em sua vida. Ele carrega o peso do suicídio do irmão, que ele poderia ter evitado se obedecesse o pai.

Os arquétipos do homem como criador e destruidor e da mulher como mantenedora, que mantém a harmonia do lar, estão presentes. A figura da mãe seria equivalente à Mãe Natureza e ela passa um amor no olhar tão forte que chega a ser comovente. Em um curto momento do filme, ela surge flutuando, como um ser superior. Ela, assim como o marido, também não entende porque Deus tirou o seu filho. Como mãe nenhuma entenderia. Há também a incompreensão de saber por que algumas pessoas más têm uma vida boa, enquanto pessoas boas sofrem. Por outro lado, as cenas que mostram o universo em seus estágios iniciais, visões de vulcões em erupções, imagens pré-históricas e visões do cosmos mostram o quão pequenos são os problemas dos homens diante da vastidão do universo.

Enfim, há muito o que falar do filme. É uma obra que não se esgota e que merece ser vista mais de uma vez, pelo menos. Não é para menos que Malick passou três anos na sala de edição até se dar por satisfeito. Se é que ele ficou mesmo totalmente satisfeito.

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