sábado, janeiro 31, 2004

ENCONTROS E DESENCONTROS (Lost in Translation)



Acabei de voltar do cinema. Estava tentando escrever sobre o filme nesse momento mas com a minha irmã vendo a novela eu não estava conseguindo me concentrar. Nem o nome do filme eu conseguia me lembrar.

Depois de ter lido tanta coisa a respeito - a maioria, elogios - fui lá conferir o filme da Sofia Coppola esperando algo do naipe de um ANTES DO AMANHECER (1995), do Linklater. Talvez por causa da expectativa, eu não tenha achado o filme a oitava maravilha do mundo. Mas com certeza é ótimo. Especialmente depois que a gente sai do cinema e pensa sobre o que o filme aborda.

ENCONTROS E DESENCONTROS é bem representativo dos tempos em que vivemos. Podia ser em qualquer metrópole cosmopolita, mas o fato de a história do filme ser em Tóquio, amplia ainda mais a coisa. O contraste entre a explosão visual, o excesso de cores e de propaganda nas ruas, como se estivéssemos na internet, e a solidão e a expressão blasé nos rostos das pessoas não encontra paralelos em nenhuma outra cidade. Não que eu tenha estado no Japão, mas é essa a sensação que o filme passa.

O início do filme já mostra uma imagem bonita, que eu não vou falar aqui pra não estragar a surpresa de quem pretende ver.

O rosto fechado e entediado de Bill Murray é sempre uma constante no filme. Em compensação Scarlett Johansson é um achado. (Daqui a pouco vou conferir sua performance em O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ no DVD que aluguei ontem. )

Pena eu não ter me identificado com o personagem de Murray. E o problema não é nem com ele não. Lembro que quando vi FEITIÇO DO TEMPO (1993), que tem o Murray, eu me senti um pouco no lugar dele. Mas FEITIÇO DO TEMPO é um dos meus filmes favoritos e talvez eu esteja fazendo comparações injustas.

Uma das cenas que mais gostei no filme da Sofia Coppola, além dos minutos finais ao som de Jesus and Mary Chain, foi a cena do karaokê, com Murray cantando “More than this”. Apesar do tom desafinado, ele deu uma dimensão mais dolorida à canção.

O fato é que com essa super-exposição antecipada dos filmes, com muita gente vendo nas mostras e já falando um monte de coisas do filme antes de ele estrear no circuito comercial, isso deixa a gente com expectativas altíssimas para certas obras. Mas deixa pra lá, a culpa é minha, ninguém me obriga a ler.

quinta-feira, janeiro 29, 2004

BUENA VISTA SOCIAL CLUB



Em 1999, Wenders recebeu elogios de crítica e público com esse documentário sobre a velha guarda de músicos cubanos. Lembro que não quis ver no cinema porque era um documentário e porque era um filme sobre um tipo de música que eu não conhecia nem me sentia atraído. Achava que não ia gostar. E depois, fiquei achando tudo muito hype, o disco com a trilha sonora vendeu milhões de cópias no mundo todo e os músicos saíram do anonimato e começaram a fazer shows em tudo quanto era lugar. Mas o filme é bem melhor do que eu esperava.

A estrutura inicial do documentário é até pouco criativa. Entrevista com o músico tal, depois uma música, e assim por diante. Só do meio pro final é que o filme ganha mais inventividade, talvez por se livrar da obrigação de apresentar o músico através da entrevista. Mas isso não chega a ser um problema. É bom para que possamos saber um pouco sobre o passado do músico.

Outra coisa interessante é que Wenders também foca o filme na sociedade cubana. Ele mostra o empenho do Governo de Fidel em apoiar o esporte, por exemplo. Mas o filme também acaba fazendo um contraste: quando os músicos vão conhecer Nova York, sentimos uma grande diferença entre a arquitetura velha e os carros velhos de Cuba e a modernidade da metrópole americana. Mostra também que os cubanos não tem contato com a cultura americana por causa da rixa entre os dois governos. O que eu acho uma pena - os caras não sabiam nem quem era Marylin Monroe. Com o filme, também temos uma noção das crenças religiosas dos cubanos, que lembram um pouco a mistura de religiões daqui do Brasil.

Sobre os músicos, a ponte entre os americanos e os cubanos era Ry Cooder, o cara que compôs a belíssima trilha de PARIS, TEXAS (1984), do Wenders e que também trabalhou com ele em O FIM DA VIOLÊNCIA (1997). Os principais músicos cubanos eram Imbrahim Ferrer e Compay Segundo (que morreu no ano passado). O tipo de música às vezes soa meio cafona para ouvidos acostumados a música pop, como eu, mas dá sim pra ver a beleza da musicalidade deles. Um problema é que quando Cooder tocava com os cubanos, às vezes a guitarra dele não combinava com o estilo e a guitarra ficava só fazendo barulhinho.

A minha cena preferida do filme é uma em que Wenders usa uma steady-cam quando boa parte dos músicos estão próximos de um lago. Lindona aquela cena. Tive vontade de revê-la. Pena que eu assisti o filme meio que em partes, porque parava de vez em quando pra botar uns cd's pra gravar no computador.

O documentário é meio que uma volta por cima no cinema de Wim Wenders, já que os filmes dele andavam bem capengas. Fez tanto sucesso que ele foi chamado para participar do projeto "The Blues", fazendo o documentário THE SOUL OF A MAN, sobre blues. Será que é melhor que o do Eastwood, que eu tive oportunidade de ver na Mostra de São Paulo?

De qualquer maneira, só vou sossegar quando vê-lo fazendo um filme de ficção de primeira de novo. A lembrança do horroroso O HOTEL DE UM MILHÃO DE DÓLARES (2000) continua presente. Ele já tem um drama na agulha chamado LAND OF PLENTY que deve estrear esse ano. Fica a expectativa.

quarta-feira, janeiro 28, 2004

PERFECT BLUE



Roger Corman chegou a dizer sobre esse filme: "Se Alfred Hitchcock se juntasse a Walt Disney, eles fariam um filme como esse." Assim como Corman comparou esse anime a Hitchcock, a maioria das pessoas que o assistem falam de Dario Argento e Brian DePalma (dois discípulos do mestre do suspense). De Argento, o filme lembra SUSPIRIA (1977) ou A MANSÃO DO INFERNO (1980), justamente os filmes que mais têm clima de pesadelo e que mais deixam dúvidas na cabeça de quem assiste.

O diretor de PERFECT BLUE (1997) é Satoshi Kon, considerado o mestre da nova geração de animes. Os filmes seguintes dele também foram super-elogiados e comentados mundo afora. Cogitou-se que MILLENNIUM ACTRESS (2001) seria um dos indicados ao Oscar de animação desse ano, mas a academia acabou preferindo colocar IRMÃO URSO, como bem falou o Marcelo, lá nos comentários sobre o Globo de Ouro. TOKYO GODFATHERS (2003) é sua mais recente obra e que foi igualmente louvado. Será o novo Miyazaki?? Em certo sentido pode ser, mas os dois diretores têm obras de características muito diferentes.

A trama do filme é bem intricada, mas Kon foi esperto o suficiente para não confundir a cabeça da gente até metade do filme. A partir da segunda metade é que o bicho começa a pegar. Na trama, Mima é uma garota que canta num grupo pop de sucesso, tipo Spice Girls, e que decide sair do grupo para iniciar uma carreira de atriz. Enquanto inicia a nova carreira, ela passa a ser atormentada pela figura dela mesma vestida de cantora pop, ao mesmo tempo que assassinatos estranhos passam a acontecer no set, além de ela descobrir que existe alguém que fez um website sobre ela contando coisas praticamente impossíveis de alguém - além dela mesma - saber. Um sujeito estranho e com deformações físicas é fã da atriz e é o principal suspeito dos assassinatos.

O problema é que o filme é bem cheio de mistérios e no IMDB o que existe é gente tentando teorizar sobre o que realmente acontece no filme. Há teorias que dizem que o filme é narrado sob três pontos de vista diferentes. Na verdade, às vezes não sabemos se o que está acontecendo é cena do filme dentro do filme, alucinação da Mina ou alucinação de outra personagem da trama (Rumi, a empresária de Mina).

Entre as minhas cenas preferidas estão: a) a cena em que Mima interpreta uma cena de estupro no filme dentro do filme e b) quando Mima é perseguida pela "Mima-ilusão" flutuando - a música que ouvimos durante essa cena é sensacional e apavorante. Aliás, a trilha sonora do filme é excelente e no final uma belíssima canção toca enquanto sobem os créditos.

Um outro filme a que costumam comparar PERFECT BLUE é ABRE LOS OJOS (1997) e seu remake VANILLA SKY (2001). Com a diferença que no final desses filmes, a trama complicada é quase que didaticamente explicada. Já os japoneses não deixam mole pra gente não. Há também uma cena da banheira que serviu de inspiração para o filme RÉQUIEM PARA UM SONHO (2000).

Consegui esse filme com o chapa Marcelo Reis, do site Animehaus. Marcelão, conta aí tuas teorias sobre o mistério desse filme! Já conseguiu o divx de MILLENIUM ACTRESS??
EM NOME DE DEUS (The Magdalene Sisters)



No último sábado fui conferir o vencedor do Leão de Ouro no último Festival de Veneza. É um bom filme. Nem é aquela maravilha toda que o Pablo Vilaça falou no Cinema em Cena, nem é aquela coisa horrorosa que os críticos dos jornais de São Paulo escreveram.

É claro que o filme tem problemas e algumas cenas são mesmo ruins, como as cenas em que o dinheiro era mostrado. Ou aquela cena do café da manhã, que fazia questão de mostrar que a alimentação das freiras era melhor que a das "noviças". A tal cena da freira gorda curtindo com os defeitos físicos das meninas quando elas estavam nuas também não ficou boa.

Mas vamos às qualidades do filme. O time de atrizes é muito bom e a garota que faz a menina rebelde e sensual é a mais interessante das quatro principais. A cena final também achei muito boa. Mexe com a gente, dá aquele sentimento de indignação que obras como essa precisam dar. E a gente torce por elas, quer que elas saiam daquela prisão.

Na história, um grupo de garotas irlandesas é internada pela própria família num convento que usa as noviças para trabalhos forçados. A maioria dos casos acontecia quando a garota era estuprada, ou engravidava ou era muito sexy. O pior de tudo é que isso aconteceu em pleno século XX. EM NOME DE DEUS é um filme sobre intolerância e ignorância, como o brasileiro BICHO DE SETE CABEÇAS. Em certo sentido, também é um filme de prisão, como FUGINDO DO INFERNO, ALCATRAZ ou UM SONHO DE LIBERDADE, por exemplo. A diferença aqui é que a prisão tem a fachada de um convento.

Eu fiquei um pouco incomodado com os comentários constantes de uma senhora que estava do meu lado no cinema. Ela ficava o tempo todo dizendo: "em nome de Deus...tá vendo que Deus não quer isso...". Mas tudo bem. Pior foi quando eu fui ver MAGNOLIA e uma senhora ficava fazendo sons de nojo e levantando as pernas na cena dos sapos. Hehehe.

É um bom filme pra exercitar o ódio à Igreja Católica e seu histórico de barbaridades, ignorância, ganância e falta de respeito para com a humanidade.

terça-feira, janeiro 27, 2004

O DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO (Le Déclin de l'empire américain)



No último domingo o amigo Zezão trouxe pra gente ver dois vídeos enquanto copiávamos uns cd's no pc: O DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO e BUENA VISTA SOCIAL CLUB. Estava mesmo bem interessado em conferir o filme do Denys Arcand e aproveitei a oportunidade.

Quem viu e gostou de AS INVASÕES BÁRBARAS certamente vai querer ver esse filme que introduziu os personagens. Os dois filmes são bem parecidos, tem o humor peculiar de Arcand, as discussões acerca de política, sexo, relacionamentos, mas o segundo filme é mais dramático (claro, né?, já que trata da morte de um dos personagens). Esse primeiro filme é mais bem humorado.

Eu curto bastante a idéia de atores interpretarem os mesmos personagens em filmes diferentes e em intervalos de tempo relativamente longos (vide a minha paixão pelos filmes de Truffaut do ciclo Antoine Doinel).

Em O DECLÍNIO DO IMPÉRIO AMERICANO (1986), quatro professores universitários se juntam para preparar o jantar e conversar, enquanto as mulheres aguardam fazendo ginástica numa academia. No começo o filme faz uma distinção dos dois tipos de conversa, a dos homens e a das mulheres, mas sem agir com preconceito com nenhum personagem e sem querer julgar os seus atos. À medida que os personagens vão conversando fica-se sabendo um pouco mais do passado seja pelas conversas seja por cenas enxertadas. Os papos-cabeça são dos mais agradáveis.

Tenho impressão que em AS INVASÕES BÁRBARAS o tema das ideologias políticas é mais comentado. Deu até vontade de rever o Invasões por causa dos personagens, que conquistam os espectadores, e rever o destino de cada um deles. Todos eles tem características diferentes: tem o casado e galinha (Remy), o homossexual (Claude), o coroa solteirão e que namora meninas mais jovens (Pierre) e o rapaz jovem e solteiro (Alain). Entre as personagens femininas o destaque é mesmo Diane, a tarada por sexo selvagem.

Uma das melhores cenas é uma em que Pierre vai a uma casa de massagens e recebe uma masturbação de uma das atendentes da casa. Seria normal se a moça não fosse tão culta e estivesse falando de História enquanto executava o ato. A impressão que a gente tem é que no Canadá todo mundo é culto - até as prostitutas. Hehehe. Pior é que Pierre ficava ainda mais excitado ao ouvir a mulher falando. Hehehe.

Só agora percebi que alguns dos nomes dos personagens são os mesmo nomes dos atores: Rémy (Remy Girard), Pierre (Pierre Curzi) e Dominique (Dominique Michel). Por que será?

Lá em São Paulo, o Declínio.. foi relançado em cópia nova e masterizada por ocasião do sucesso de Invasões... Será que vai passar nos cinemas daqui também?
NARRADORES DE JAVÉ


Uma das coisas boas de se estar solteiro e desimpedido é poder sair do trabalho e decidir de última hora o caminho que quer seguir, sem ter que dar satisfação pra ninguém . Como geralmente fico com preguiça de ir ao cinema durante a semana depois do trabalho, acabo sempre decidindo pelo impulso do momento.

Ontem fui prestigiar o elogiado filme de Eliana Caffé. Acho que esse é um dos filmes de que eu mais li a respeito recentemente. Li entrevistas com a diretora e com José Dumont quando eles estavam aqui em Fortaleza para promover a pré-estréia, li críticas dos jornais locais e de São Paulo. Mesmo assim, NARRADORES DE JAVÉ me surpreendeu. Pelo que eu li estava esperando um filme muito centrado no contar histórias, quer dizer, um trabalho mais pra teatro do que pra cinema. Mas não. O filme é cinema mesmo e Eliana Caffé tem talento até pra dirigir filmes de terror se quiser. Sério. Tem duas seqüências no filme que são assustadoras. Uma delas é de gelar a espinha. E como o som do filme e da sala de exibição estavam ótimos, o efeito fica bem melhor.

Na história principal, José Dumont é um ex-funcionário dos correios de uma pequena cidade do interior que, por ser a única pessoa "letrada" da cidade, é chamado para escrever um livro sobre a história e a mitologia dos habitantes de Javé. Isso porque a cidade está para ser invadida pelas águas de uma represa. O problema é que o pobre do Biá (Dumont) vai ficando meio doido com as narrativas estranhas do povo.

José Dumont está excepcional. Há tempos não vejo um ator tão bem no cinema nacional. O elenco de apoio também é ótimo: Gero Camilo, Rui Rezende, Nelson Xavier, Matheus Nachtergaele e os atores amadores habitantes da região onde foi feito o filme.

Conta-se que o filme foi bem difícil de ser feito e que a diretora às vezes ficava chorando pelos cantos, escondida, esperando um desastre total. Imagina só: conseguir financiamento com o Governo Federal e com patrocinadores estrangeiros e de repente o filme naufragar feito a cidade de Javé... Felizmente não foi isso que aconteceu e o que vemos é um filme gostoso de ver e ouvir. Pena que deve ficar só uma semana em cartaz por falta de público. Talvez se tivesse em cartaz no Espaço Unibanco e não nos cinemas do circuitão, ficasse mais semanas sendo exibido. Mas de qualquer forma valeu pela coragem de lançarem o filme dessa forma.

segunda-feira, janeiro 26, 2004

KASDAN, JENNIFER CONNELLY E PARÓDIA VAMPÍRICA



Enquanto não saem os comentários dos filmes do fim de semana, mando sobre alguns que eu comecei a ver no final de 2003 e só agora estou comentando.

DR. MUMFORD - INOCÊNCIA OU CULPA? (Mumford)

Belo filme de 1999 de Lawrence Kasdan, um diretor que eu aprecio muito. Gosto de todos os seus filmes, até mesmo os mais problemáticos - como O APANHADOR DE SONHOS, por exemplo. DR. MUMFORD é desses filmes que deixam a gente com um sorriso no rosto depois de assistí-lo. Sem contar que o filme lembra às pessoas que o assistem que vários dos problemas de saúde que existem tem como causa a falta de uma paixão na vida. Digo isso lembrando da personagem de Hope Davies, uma moça cheia de problemas de saúde, mas que fica boazinha assim que se apaixona pelo doutor. A história de DR. MUMFORD é sobre um psicanalista (Loren Dean) de uma pequena cidade do interior dos EUA que se vê às voltas com os problemas de seus pacientes, até encontrar um cara com quem ele também pode se abrir (Jason Lee) e uma paciente por quem se apaixona (Hope Davies). O filme tem aquela direção gostosa e sem pressa de Kasdan. Quem viu O TURISTA ACIDENTAL (1988), O REECONTRO (1983) ou GRAND CANYON (1991), entre outros, sabe do que eu estou falando. Coisa fina. Gravado da TNT.

DURO APRENDIZADO (Higher Learning)

Filme de John Singleton, diretor de BOYZ N THE HOOD (1991), JUSTIÇA POÉTICA (1993) e SHAFT (2000). Singleton poderia ser uma espécie de Spike Lee - diretor ligado a assuntos de preconceito racial - se tivesse mais talento. Na verdade, me interessei em ver o filme simplesmente pela presença de Jennifer Connelly. Mas pra quê? Vi na Record e estava todo cortado. Cortaram a cena de sexo de La Connelly! Malditos! No IMDB consta que o filme tem 127 minutos. Na tv acho que só tinha uma hora e meia. Uma merda, né? Acho que vou cortar a Record de opção como canal pra se gravar filmes. Já não basta o que fizeram cancelando THE SHIELD depois de três episódios?? De qualquer maneira, o filme é bem meia boca, com a Jennifer fazendo um papel lésbico, mas do jeito que "editaram", as cenas com ela ficaram quase nulas.

VAMPIRA (Vampira / Old Dracula)

VAMPIRA (1974) é um besteirol dirigido por Clive Donner e que traz David Niven no papel de Dracula. Poderia ser engraçado, mas o filme envelheceu demais. Se bem que eu acho que o filme já nasceu sem graça. Na história, Drácula, procurando reviver sua esposa vampira, faz transfusões de sangue com jovens que visitam o castelo. Acontece que uma das moças era negra e a tal vampira fica negra também. O velho Drácula vai, então, com seu assistente à cidade pra tentar desfazer o "feitiço". O final é horrível. Hehehee. Tenho impressão que aquele filme com o Leslie Nielsen como Drácula deve ser bem mais engraçado. Gravado da Globo.
GLOBO DE OURO 2004



O fim de semana foi legal, tranqüilo. Vi apenas um filme no cinema, dois em vídeo e um no pc. Não vou descarregar minha "munição" toda aqui com o risco de ficar sem assunto durante toda a semana. Vou começar, então, pelo assunto mais fresco (no bom sentido): a premiação de ontem à noite dos Golden Globes.

Uma das coisas maravilhosas da internet é a possibilidade de você assistir por exemplo a uma cerimônia dessas comentando ao vivo com alguém que também está assistindo e está a milhas de distância de você. Foi muito divertido ontem assistir a premiação com um chat aberto com o Renato. É claro que saiu muito comentário sobre a beleza ou a ridicularidade das estrelas da festa. Hehehe..Como o Globo de Ouro não tem shows musicais ou espetáculos super-produzidos, a diversão está em poder ver os astros sentados em mesas bem servidos de drinks e esperando as premiações ou os micos.

O SENHOR DOS ANÉIS - O RETORNO DO REI foi o grande vencedor da noite, papando quatro prêmios. Em segundo lugar, ficou o filme da Sofia Coppola - ENCONTROS E DESENCONTROS venceu os prêmios de filme (musical ou comédia), roteiro e ator para Bill Murray. Bill é um cara bem estranho pra esse tipo de premiação. Ele, assim como Johnny Depp e Sean Penn, não combina com esse tipo de premiação. Mas a aura cult do ator atingiu um grau de popularidade nunca vista. Ele é chamado de gênio por muita gente boa. Ah, e por falar em Sean Penn, ele não foi receber o prêmio que ganhou pelo filme SOBRE MENINOS E LOBOS. O filme do Eastwood só ganhou os prêmios de ator e ator coadjuvante (Tim Robbins).

A "monstruosa" Charlize Theron estava linda e parece que valeu a pena ter se enfeiado pra ganhar o prêmio pelo papel em MONSTER. (Ah se aparecesse um monstro desses pra me assustar de noite!) E as chances de ela ganhar o Oscar estão crescendo. Curiosamente, na festa, as mais bonitas eram a Charlize e a Christina Ricci.

Na parte de televisão, ANGELS IN AMERICA papou quase todas. Trata-se de uma mini-série para a HBO, dirigida pelo Mike Nichols, e com um grande elenco que inclui Al Pacino, Merryl Streep, Emma Thompson e Mary Louise Parker. Sobre essa última soube através do Renato que o marido a largou com 8 meses de grávida. Ela estava muito bonita na festa e tinha acabado de dar à luz. Quanto à mini-série, fiquei curiosíssimo pra assistir, mas deve passar primeiro na HBO pra quem sabe depois ser lançada em DVD.

Ainda falando de televisão, não teve como a Jennifer Aniston fingir o desapontamento quando leu que o vencedor do prêmio de melhor ator de série não foi o seu amigo Matt LeBlanc de FRIENDS, e sim o ator da série THE OFFICE. Aliás, essa série está bem popular nos EUA. Deve chegar aqui no Brasil em breve.

Voltando ao cinema. Uma das cenas mais respeitosas da noite foi a premiação de OSAMA, filme do Afeganistão, no prêmio de melhor filme estrangeiro. Difícil entender como num lugar onde as pessoas não tem o que comer, e às vezes nem tem pernas pra andar por causa das mutilações das bombas, ainda têm forças pra fazer cinema. As pessoas da festa ficaram bem sérias, como se se sentissem um pouco culpadas por estarem no "bem-bom", enquanto que tem gente no mundo passando por um inferno. Ironicamente, quem depois lembrou o quanto aquelas pessoas que estavam na festa tinham sorte foi o Jim Carrey, que apareceu careca e simpático como sempre. Hehehe

Outro momento memorável foi quando Nicole Kidman foi anunciar o prêmio de melhor ator da noite. Quanto citou o nome do Tom Cruise como um dos indicados, ele sorriu pra ela com carinho, como se tivesse saudade do tempo em que estavam juntos. Do jeito que canceriano romantiza o passado...

Ah, e viva Jack Bauer e o elenco completo de 24 HORAS!!!

A lista dos vencedores:

Cinema
Melhor Filme - Drama
O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei


Melhor Filme - Musical/Comédia
Encontros e Desencontros

Melhor Direção
Peter Jackson, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

Melhor Roteiro
Sofia Coppola, Encontros e Desencontros

Melhor Ator - Drama
Sean Penn, Sobre Meninos e Lobos

Melhor Atriz - Drama
Charlize Theron, Monster

Melhor Ator - Musical/Comédia
Bill Murray, Encontros e Desencontros

Melhor Atriz - Musical/Comédia
Diane Keaton, Alguém Tem Que Ceder

Melhor Ator Coadjuvante
Tim Robbins, Sobre Meninos e Lobos

Melhor Atriz Coadjuvante
Renée Zellweger, Cold Mountain

Melhor Trilha Sonora Original
Howard Shore, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

Melhor Canção Original
`Into the West`, Annie Lennox, O Senhor dos Anéis: O Retorno do Rei

Melhor Filme Estrangeiro
Osama, Afeganistão

Televisão

Melhor Mini-Série ou Filme Feito para TV
Angels in America, HBO

Melhor Série - Drama
24 Horas

Melhor Série - Musical/Comédia
The Office

Melhor Ator de Série - Drama
Anthony Lapaglia, Without a Trace

Melhor Atriz de Série - Drama
Frances Conroy, A Sete Palmos

Melhor Ator de Série - Musical/Comédia
Ricky Gervais, The Office

Melhor Atriz de Série - Musical/Comédia
Sarah Jessica Parker, Sex And The City

Melhor Ator de Mini-Série ou Filme Feito para TV
Al Pacino, Angels in America

Melhor Atriz de Mini-Série ou Filme Feito para TV
Meryl Streep, Angels in America

Melhor Ator Coadjuvante de Série, Mini-Série ou Filme Feito para TV
Jeffrey Wright, Angels in America

Melhor Atriz Coadjuvante de Série, Mini-Série ou Filme Feito para TV
Mary Louise Parker, Angels in America

quinta-feira, janeiro 22, 2004

ADEUS, LÊNIN! (Good Bye, Lenin!)



O cinema alemão já faz tempo que anda em decadência. Desde a morte de Fassbinder e da queda de qualidade dos filmes de Wenders que não se vê mais aquelas maravilhas que apareciam na década de 80. Se existe filme alemão realmente de primeira está escondido. Não chega aqui. Por isso, o que tem chegado no Brasil são esses filmes mais leves e feitos para agradar o público, sem maiores pretenções.

Só sei que não consegui gostar de verdade de ADEUS, LÊNIN!. Sei que o filme é simpático, leve. Reconheço que a sacada dos telejornais é legal mesmo, mas não consegui esconder meu desapontamento.

Talvez não tenha gostado porque fico incomodado com a mentira. Não consigo mentir e quando minto me sinto mal. É horrível ver uma mentira durar tanto tempo como nesse filme. Se ao menos tivesse um propósito maior como em A VIDA É BELA.

De qualquer maneira, esse fime é bem popular nos lugares onde passa. Foi sucesso na Mostra de São Paulo. Lá na sala onde estava, no Espaço Unibanco Dragão do Mar, ele foi até aplaudido, coisa que é difícil de ver em sessões normais, fora de festival. Uma pena eu não poder compartilhar dessa alegria que o povo sentiu vendo esse filme. Fazer o quê, né??

quarta-feira, janeiro 21, 2004

GLAM - ROTEIRO DE UMA OBSESSÃO (Glam/Gangster Glam )



Acho difícil falar de filmes que eu não entendo muito bem. Afinal, o que é esse GLAM?? É um lixo sem sentido e pretensioso ou é uma é uma obra genial e incompreendida? Há quem compare com David Lynch e seu surrealismo, mas falta nesse filme aquela coisa atraente que é uma das marcas do cinema de Lynch.

GLAM (1997) é às vezes irritante e, como o roteiro é quase que incompreensível, é fácil chamar logo o filme de bosta e pronto. Mas como eu sou teimoso, e ainda não sei direito se gostei ou não desse filme, quero lançar aqui algumas perguntas em busca de um sentido para esse trabalho.

Na história(?), William McNamara é um sujeito meio esquisito e que nunca fala que, depois de ter perdido um de seus familiares, vai morar com o primo (Frank Whaley), um cara tagarela e chato (e quase tão estranho quanto o primo), que trabalha na indústria de cinema de Hollywood. Ao perceber que o primo calado tem uns escritos bem interessantes fica logo interessado em transformar o livro dele em filme.

Interessante mesmo são os pares românticos dos rapazes. O par de McNarama é uma atriz chamada Natasha Gregson Wagner, que no filme é mostrada de maneira quase angelical. Realmente em algumas tomadas elas está linda. (Vi no IMDB que ela está em VAMPIROS: OS MORTOS (2002), suposta continuação do filme de John Carpenter. ) A outra moça é a francesinha Valérie Kaprisky. Quem assistiu A FORÇA DO AMOR (1983), de Jim McBride, com certeza não deve se esquecer das tórridas cenas de sexo daquele filme. Mas naquele tempo ela era mais jovem e mais bonita. Em GLAM ela curte mesmo é amor sadomasoquista, ainda que o filme não explore bem esse detalhe.

Pelo que eu pude entender Sonny (McNamara) é uma espécie de deus. Ele sabe o que acontece mesmo estando em outro lugar. Ele não fala com ninguém, mas ouve. Ele ganha a simpatia e o respeito das pessoas mesmo não falando uma palavra sequer. Às vezes, os personagens repetem as mesmas frases como num disco arranhado. Algumas tomadas são repetidas constantemente, como a cena de Sonny escrevendo a sua obra. No final das contas eu acho que não entendi mesmo nada.

O diretor, Josh Evans, ainda não fez filmes que emplacam. Ele só tem três filmes no currículo e um deles - INSIDE THE GOLDMINE (1994) - tem a Drew Barrymoore encabeçando o elenco. Não sei se esse filme chegou a ser lançado no Brasil. Pelo visto todos esses filmes dele são considerados lixo por boa parte das pessoas que os assistiram.

Ah, GLAM foi indicado pelo Renato, que também deve ser um cara bem perturbado. (Just kidding, fella..hehehe.)
ALGUÉM ATRÁS DA PORTA (Someone Behind the Door / Quelqu'un derrière la porte )



Antes de falar desse filme, uma pergunta: vocês estão comprando a Cine Monstro?? A revista está cada vez melhor e agora na quarta edição eles acertaram de vez. Na edição passada, entre os lançamentos em dvd/vhs, ALGUÉM ATRÁS DA PORTA (1971) foi um dos destaques. Aluguei o DVD e pude conferir esse filme no fim de semana. O dvd não está lá essas maravilhas em termos de imagem e, vendo os comentários dos usuários da Amazon, parece que a edição americana teve melhor sorte. De qualquer maneira, vale a pena a locação.

Pra quem curte Hitchcock, esse filme é imperdível. É claro que não é como uma obra-prima do mestre, mas é um filme que tem uma ótima trama de suspense e ainda tem o velho Anthony Perkins, o eterno Norman Bates, encabeçando o elenco. O outro protagonista é o bom e velho Charles Bronson, que fez seus melhores filmes na década de 70. Pra quem acha que ele só interpreta o mesmo papel, vale conferir a versatilidade de Bronson nesse filme, ainda que suas habilidades de ator sejam mesmo limitadas.

Na trama, Bronson é um homem que perdeu a memória e vai parar num hospital psiquiátrico onde um Anthony Perkins mal intencionado o leva para sua casa a fim de fazer uma espécie de implante de personalidade e fazer com que ele mate sua esposa (Jill Ireland), que o está traindo.

Li agora no IMDB que no romance em que o filme se baseia, o neurocirurgião interpretado por Perkins é um escritor e o homem desmemoriado é na verdade um personagem fictício de seu romance. Interessante, não? De qualquer maneira, a adaptação mais realista do romance ficou muito boa.

terça-feira, janeiro 20, 2004

O RIO (He Liu)



Já que o dia hoje é pra falar de coisa séria, nada melhor do que escolher O RIO (1997), de Tsai Ming-Liang para comentar. Não me sinto capaz de analisar esse filme, que é tão cheio de simbolismos e riqueza de detalhes. Por isso, inicialmente indico o ótimo texto de Marcelo Ikeda sobre o filme. Mas é um texto indicado apenas a pessoas que já viram o filme, já que esclarece vários pontos que podem passar batido pro espectador.

Como eu estava meio febril por conta de inflamação na garganta, o filme foi especialmente difícil pra mim. Quando a gente está com febre, perde um pouco a vontade de viver plenamente. Você só quer ficar ali deitado, vendo tv ou dormindo. Por isso eu acabei me identificando com o personagem principal do filme.

Na história, um rapaz é convidado para fazer uma cena rápido em um filme que está sendo rodado nas águas púdridas de um rio de Taiwan. Ninguém da equipe do filme tinha coragem de "interpretar" um cadáver flutuando na água e acabaram chamando o rapaz que estava de bobeira. Acontece que depois desse incidente ele contrai uma dor no pescoço que incomoda tanto a ele quanto aos espectadores do filme. É uma agonia vê-lo tentando de todos os métodos possíveis se curar. E ele tenta porque o pai o leva, porque por ele mesmo, talvez preferisse ficar sozinho, enfermo, com vontade de morrer. Enquanto isso, seu pai freqüenta saunas gay e sua mãe é viciada em fitas pornô. Os três vivem numa casa que está com problema de infiltração de água (um dos simbolismos chave), quase como se fossem estranhos, como zumbis, apenas satisfazendo suas necessidades básicas.

O filme é narrado de uma maneira bem diferente do comum e com poucos diálogos. A câmera geralmente é estática, deixando uma sensação bem incômoda no ar. Ajuda também o fato de os personagens viverem apenas por viver, sem vontade ou sem obstinação. Até mesmo quando o pai leva o filho pra tentar curá-lo da dor no pescoço, a sua busca é sem fé, como que apenas aceitando o que a maré trouxer. Seja isso bom ou ruim. E geralmente é ruim pra quem não tem alegria de viver.

O RIO não é um filme indicado a quem procura apenas entretenimento. A pessoa pode odiar o filme ou desistir dele já no meio. É um filme que cresce bastante na sua mente com o tempo. Você o valoriza mais depois que vê do que enquanto vê, o que o diferencia de produções mais comerciais, que funcionam ao contrário: enquanto você está assistindo, está curtindo; depois, esquece facilmente.

Fiquei interessado em conhecer outros filmes de Ming-Liang, como VIVE L'AMOUR (1994), O BURACO (1998) e o mais recente ADEUS, DRAGON INN (2003), fime que passou na Mostra de Cinema de São Paulo (ou foi do Rio?) e que o Renato colocou entre os seus favoritos no ranking de 2003. O tema é bem interessante pra quem é cinéfilo: a história de uma tradicional sala de cinema que um dia acaba.
ÔNIBUS 174



- Ailton, você viu "ÔNIBUS 174"??? Estava pensando em ver hj no North Shopping, quer ir?
- Márcio, já ia chamar vc pra ir ver o EM NOME DE DEUS no Aldeota às 19 hs. Hehehe... É que eu tenho que entregar umas fitas lá na King Vídeo depois do trabalho e ia dar certo pra mim. Não quer trocar o ônibus por Deus?? hehehhe
- Não posso trocar pois tenho um compromisso lá pelas bandas da Bezerra às 19:00h, por isso optei pelo ônibus. Faz o seguinte: deixa tuas fitas lá na king, vai para casa, toma banho, come e depois me encontra no NS lá pelas 9:00. Além do mais, o ônibus só tem hj, já Deus vai ficar mais um tempo à disposição.

Esse foi um diálogo por e-mail ontem com o Márcio. Acabei mudando de idéia (filme malhado por filme malhado, né?) e fui lá conferir o documentário nacional. Liguei para o Zezão, que falou que já ia mesmo ver o filme com a Juliana e a Marcélia. Legal. Fui então encontrar todo mundo no North Shopping ontem para a re-estréia das tradicionais sessões de arte aqui em Fortaleza.

Estava temendo encontrar um filme chato. Ainda por cima a duração do filme era de 133 minutos. Se até os ótimos documentários do Eduardo Coutinho são às vezes cansativos, imagina esse que já foi tão malhado. Por sorte, o filme tem um bom ritmo, não aborrece em instante algum.

A história é velha conhecida da população brasileira: aquele assalto num ônibus que aconteceu no bairro do Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, e que culminou com a morte de uma cearense e com a posterior morte do assaltante, asfixiado pelos policiais. O assaltante tinha várias mulheres como reféns.

O interessante é que esse filme provocou sentimentos contraditórios em mim. Em certa altura do assalto/seqüestro eu já estava impaciente e queria mesmo era que matassem logo o filho da puta. Mas vendo o pobre coitado do Sandro sendo enterrado em caixão simples e com apenas a sua mãe adotiva no enterro pra chorar por ele... Puxa, é triste, hein. Fico comovido com amor de mãe. Talvez por isso que tenha chorado tanto vendo CARANDIRU. No fim das contas o que aquela estudante de comunicação falou pra ele na tensão daquele momento era verdade: a principal vítima daquilo tudo era ele mesmo.

Outro assunto relevante que é abordado pelo filme é o da "invisibilidade". A maioria de nós passa pelos mendigos nas ruas e apesar de se sentir incomodado pela presença deles, procura esquecer, fazer de conta que eles não estão lá. É mais cômodo. O que acontece é que geralmente só nos sentimos solidários com quem nos identificamos e acabamos ajudando apenas as pessoas que vivem em situação semelhante à nossa. Eu sei que tem gente que ajuda mesmo, que tem consciência e deixa de ter um pouco de luxo na vida porque pensa em quem não tem o que comer. Como é o caso, por exemplo, da Soninha, ex-vj da MTV.

Também é interessante que enquanto Sandro estava com o revólver na cabeça de uma das moças do ônibus, ele citava os incidentes da Candelária e de Vigário Geral, culpando os policiais pelos massacres. Ele era um dos meninos de rua que dormiam na praça da Candelária quando aconteceu a chacina que vitimou dezenas deles. Morreram como baratas. Para a sociedade foram 60 marginais a menos. Mas o foda é que as pessoas só enxergam o ponto de vista delas. Quem está vivendo miseravelmente não quer desaparecer não. Quer é lugar pra morar, uma casa, uma cama pra dormir, comida todo dia. Isso pra essas pessoas é felicidade. E a gente tem essa felicidade e nem sabe, né?

segunda-feira, janeiro 19, 2004

NARC



E já que o assunto hoje é Tom Cruise, comento a seguir um dos mais badalados policiais do ano passado: NARC (2002), de Joe Carnahan. Se não fosse por Tom Cruise, que fez uma bela distribuição desse filme nos EUA, o filme não teria tido tanta repercussão e, conseqüentemente, o diretor não teria sido escalado pra dirigir MISSÃO IMPOSSÍVEL 3.

Pode não ser uma obra-prima, mas o filme de Carnahan tem um vigor raro de se encontrar em filmes policiais atuais. Aliás, o próprio diretor na mini-entrevista que vem no dvd, conta que sente falta daqueles bons policiais da década de 70, estilo CONEXÃO FRANÇA, e que a televisão absorveu pra si as boas histórias policiais. Uma verdade o que ele disse: é mais fácil você ficar entusiasmado vendo uma série de tv como THE SHIELD ou 24 HORAS (se é que dá pra enquadrar essa com um policial) do que vendo um filme policial feito para o cinema. Eu pelo menos, só me lembro de dois fillmes policiais que me deixaram entusiasmado: 15 MINUTOS (2001) e DIA DE TREINAMENTO (2001). A maioria é puro tédio.

Talvez o problema de NARC seja ironicamente o que ele tem de mais interessante: a estilização. Isso faz com que a gente preste mais atenção no jeito inovador de direção e montagem e esqueça um pouco a história. Que na verdade nem é tão interessante assim, mas os personagens são muito bons. Trabalhar na divisão de narcóticos como agente infiltrado no meio das drogas não é brincadeira. Quase todo policial que se mete nesse esquema acaba se viciando também. É o que aconteceu com o três policias da história: o cara que foi morto e os policiais chamados pra investigar o assassinato, interpretados brilhantemente por Jason Patric e Ray Liotta. Liotta, inclusive, está bem diferente, de barba, mais gordo e com um jeitão ainda mais opressor. E o Patric é macaco velho nesse jogo. Já tinha feito um papel de policial que se vicia em droga em RUSH: UMA VIAGEM AO INFERNO (1991).

Mas falando na beleza das imagens, a minha cena preferida é aquela em que os dois agentes estão conversando no carro e a câmera, do lado de fora, mostra o reflexo do vidro, revelando a paisagem de outono, enquanto a conversa que rola é sobre perdas. Ray Liotta é desses caras durões que se dedica totalmente ao trabalho depois de ter perdido a esposa. Já Jason Patric teme também perder a família por causa do trabalho. É uma espécie de tragédia grega, como acentuou Tom Cruise, na mini-entrevista do DVD. Foi o que ele achou quando foi apresentado a esse filme. Provavelmente esse Carnahan vai ter futuro no cinema.
O ÚLTIMO SAMURAI (The Last Samurai)



O fim de semana foi tranqüilo, sem nada de importante ou empolgante acontecendo, o que não é de todo ruim. Pude ver 6 filmes - 2 em vhs, 2 em dvd e 2 no cinema. Vou comentando aos poucos cada um deles separadamente à medida que vou tendo tempo e disposição. Começo, então, pelo primeiro visto no cinema.

O ÚLTIMO SAMURAI, de Edward Zwick, é uma agradável surpresa. Não chega a ser ótimo, mas é um filme bem agradável, fluido e até didático no que se refere ao estudo dos samurais e da história do Japão do final do século XIX. O fato de ter um personagem estrangeiro em terras japonesas nos deixa à vontade e enxergando o mundo japonês e o universo dos samurais pelo ponto de vista dele. Dessa forma, já temos com quem nos identificarmos.

Na história, Tom Cruise é um oficial americano do final do século XIX que vive amargurado pelo fato de ter matado montes de índios e ainda assim ser considerado um herói. Mesmo assim, ele reconhece sua própria "maldade" e se admite como sendo um matador a serviço do dinheiro, ao aceitar a proposta de treinar o exército japonês para exterminar os últimos samurais existentes no Japão. A coisa muda de figura quando ele é capturado pelos samurais e passa a simpatizar com os habitantes da aldeia e a se sentir atraído pelo modo de vida samurai.

O filme tem cenas de batalha bem boas, sem a utilização de muito CGI, tem uma música excelente, tem um coadjuvante que rouba a cena (Ken Watanabe), tem uma japonesinha linda (Koyuki), momentos de emoção de deixar os olhos marejados, fotografia linda e até momentos engraçados para descontrair. Não dá pra reclamar. Principalmente levando-se em consideração que quem está na direção é Edward Zwick, um diretor que não tem nenhum filme ótimo no currículo.

Tom Cruise continua com a fama de só participar de projetos de primeira. Lembrando que desde ENTREVISTA COM O VAMPIRO (1993), ele não dá uma bola fora, além de ter trabalhado com grandes diretores como Kubrick, Spielberg, P.T. Anderson, John Woo e Cameron Crowe. E nos próximos meses ele ainda vai aparecer em COLLATERAL, de Michael Mann, e em 2005 tem MISSÃO IMPOSSÍVEL 3, de Joe Carnahan. Cruise é o grande astro do cinema na atualidade.

sexta-feira, janeiro 16, 2004

THE SHORT FILMS OF DAVID LYNCH



Esta coletânea de curtas-metragens de David Lynch é uma pérola pra quem é fã dos trabalhos do homem e quer ver tudo que ele já fez. Outra coisa que torna esse especial imperdível é que o próprio Lynch comenta esses trabalho, contando detalhes do que aconteceu nos bastidores. Inclusive, boa parte do que eu escrevi aqui foi retirado dos depoimentos do diretor. E olha que ele é bem reservado pra falar dos próprios trabalhos, evitando revelar segredos e mistérios que pontuam suas obras. Vou falar aqui um pouquinho de cada curta dessa coleção.

SIX FIGURES GETTING SICK (1966, 4 min) é uma animação experimental, mostrando homens vomitando, enquanto sirenes perturbadoras são usadas como trilha sonora. Foi o primeiro curta de Lynch. Não apresenta uma história.

Um sujeito viu esse curta, gostou e pediu pra que Lynch fizesse um pra ele. Ele lhe ofereceu mil dólares. Lynch não era rico e não tinha nem uma câmera. Com metade do dinheiro, comprou a câmera. Ele conta que passou a noite sem dormir de tão ansioso pra comprar essa câmera. Mas um desagradável incidente aconteceu e ele perdeu o filme.

Isso o levou a filmar THE ALPHABET (1968, 4 min), seu segundo curta, que é bem mais ousado e criativo. Não tem uma história, mas tem imagens fortes misturando animação e cenas em live action, com participação de sua então esposa, Peggy Lynch. E continuam as esquisitices. Eu gosto bastante desse curta.

Uma idéia fixa fez com que Lynch filmasse THE GRANDMOTHER (1970, 34 min). Como ele não tinha dinheiro, preparou um roteiro e participou de um concurso. A certa altura, ele achava que não teria a menor chance. Alguns vencedores até já tinha sido chamados. Até que ele recebeu uma ligação que mudou sua vida: ele conseguira o prêmio para fazer o seu filme.

THE GRANDMOTHER é um filme inquietante, arrastado. Ainda não é o Lynch maduro que a gente conhece. Mas é um filme que tem muitas qualidades. Foi o primeiro trabalho de Lynch com atores, com dramaticidade, apesar de o curta não ter nenhum diálogo. Isso contribui ainda mais para a estranheza. A maquiagem dos atores faz com que eles pareçam atores do cinema mudo, com aquele rosto pálido, contrastando com os tons escuros do filme. Há algumas seqüências de animação, como que um escape para a falta de mais recursos financeiros. Mesmo assim, foi um salto em termos de produção de THE ALPHABET para THE GRANDMOTHER, ainda que eu prefira THE ALPHABET. A história de THE GRANDMOTHER envolve um garoto que vive com os pais (o pai sempre bate nele porque ele mija na cama). O garoto consegue umas sementes e começa a regá-las em cima da cama. Uma árvore cresce e surge uma velha de dentro da árvore. Não sei o que isso significa.

Em 1973 Lynch filmou durante um ano o seu primeiro longa – ERASERHEAD – mas o dinheiro acabou e as filmagens foram interrompidas. Enquanto o projeto estava parado, surgiu THE AMPUTEE (1974, 5 min), um curta de menor orçamento que o anterior que mostra uma garota que tem as pernas amputadas e escreve uma carta enquanto um enfermeiro trata do que restou de suas pernas. Nesse caso, o espectador procura estabelecer uma relação entre o que ela está escrevendo e sua atual condição. Há aquele senso de humor característico de Lynch nesse curta. Acho que ele pode ter servido de inspiração para a filha de Lynch dirigir ENCAIXOTANDO HELENA (1993).

Já THE COWBOY AND THE FRENCHMAN (1988, 22 min) foi dirigido logo após o término de VELUDO AZUL (1986), quando Lynch estava em Paris e já mostra um diretor bem mais seguro. Foi a partir desse filme que o “namoro” de Lynch com a França começou (basta lembrar que os últimos dois longas dele foram finalizados graças ao apoio dos franceses). O curta faz parte do projeto LES FRANÇAIS VUS PAR, que incluía também curtas dos cineastas Jean-Luc Godard, Luigi Comencini, Werner Herzog e Andrzej Wajda. Na história, Harry Dean Stanton é um cowboy meio surdo que fica grilado quando aparece um francês no lugar onde ele mora. Lynch explora comicamente vários dos clichês dos tipos americano e francês. É o trabalho mais engraçado de Lynch. Difícil não rir das falas do cowboy, da cena da mala e da cena final do scargot. Vale lembrar que vendo o cowboy meio surdo não pude deixar de me lembrar do próprio Lynch fazendo o papel de um agente do FBI também meio surdo em TWIN PEAKS: OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER (1992).

O último curta da coletânea é um de apenas 55 segundos feito para o projeto LUMIÈRE ET COMPAGNIE (1995), quando foram convidados vários diretores consagrados de todo o mundo para comemorar os cem anos do cinema. Todos os diretores tinham que trabalhar de acordo com as restrições apresentadas pelos franceses organizadores do projeto. Tinham que utilizar no máximo três takes, tinham que usar luz natural, não poderiam usar som sincronizado e a câmera utilizada era bem parecida com as primeiras câmeras usadas pelos irmãos Lumière. O curta de Lynch, que se chama PREMONITIONS FOLLOWING AN EVIL DEED, tem imagens assombrosas de tão boas. Pena que dura apenas 55 segundos. Seria uma boa se Lynch pudesse desenvolver a idéia para um longa.

Em breve vou comentar mais duas obras feitas para a internet: DUMBLAND e DARKENED ROOM. Uma boa notícia é que ouvi boatos de que ERASERHEAD (1977), o primeiro longa de Lynch deve ser lançado em DVD no Brasil ainda esse ano. Bom, né?

terça-feira, janeiro 13, 2004

KEN PARK



Quando eu fui pra São Paulo, visitei com o Renato um desses lugares onde vendem piratões em vcd ou divx de filmes ainda inéditos no Brasil. Foi quando eu comprei WRONG TURN e KEN PARK em vcd pra poder ver no meu aparelho de dvd. Mas a porcaria do vcd de KEN PARK estava em preto e branco e com a imagem ruim. Lá se foram dez reais com essa brincadeira. Perdi o tesão de ver o filme e só pude ver agora quando baixei da internet o divx do tal filme. Mas que bosta que é esse KEN PARK, hein!

E olha que eu gostei de KIDS (1995). Acho um filme importante e que, polêmicas à parte, é bem resolvido e cheio de vigor. Lembro que eu achei a cena da piscina super-excitante. Sem falar no drama da garota que transa pela primeira vez e já pega AIDS. Um retrato trágico da juventude atual.

Já KEN PARK é cheio de problemas. Todos os personagens - adultos e adolescentes - são estúpidos. A vida deles é besta, não fazem nada de produtivo. Levam a vida a beber, se drogar, se masturbar ou implicar com os outros. Sinceramente não acho que isso seja um retrato fiel da realidade não. Há uma cena de masturbação masculina totalmente desnecessária e estúpida e a câmera ainda focaliza no pênis melado do perturbado rapaz.

Em se tratando das tais cenas de sexo explícito que funcionam como atrativo para o filme, até que não são tão ruins. O que faz valer o filme é uma linda atriz chamada Maeve Quilan. Ela é maravilhosa, hein! A personagem dela é bem sem vergonha: transa com o namorado da filha, traindo, dessa forma, tanto o marido quanto a filha. Corajosa mesmo é a jovem Tiffany Limos que teve a ousadia de fazer uma menage à trois explícito no final do filme, mesmo sabendo que a repercussão de um filme desses é bem maior que a de um filme pornô. Mas a cena é bem ruim, mesmo em se tratando de erotismo.

O final só serve mesmo pra comprovar que foi um erro ter feito um filme desses. E o que é aquele papo de paraíso para os jovens onde eles ficam transando o tempo todo?? Deprimente.
TODO MUNDO EM PÂNICO 3 (Scary Movie 3)



Ficou pior do que eu esperava esse terceiro filme da franquia criada pelos irmãos Wayans. Pena que eles entregaram a sua criação pra outro diretor. No caso, David Zucker. Não que eu não goste do Zucker (eu adoro CORRA QUE A POLÍCIA VEM AÍ, TOP SECRET, TOP GANG etc), mas é que esse tipo de humor anos 80 já está meio gasto.

Do elenco dos dois primeiros filmes só tem a Anna Faris e a Regina Hall. As piadas escatológicas ficaram quase que de fora no filme. Poucas das gags realmente funcionam. As melhores cenas acabam sendo as de humor físico, que são mais antigas do que o cinema, mas que ainda são eficientes.

Não gostei da paródia em torno de 8 MILE. A piada em cima desse filme se extendeu muito e na minha opinião nem deveria ser usado. Por que não ficam só nas paródias dos filmes de terror mesmo?? Os outros filmes parodiados são SINAIS (legal quando aparece o Shyamalan...hehehhe), O CHAMADO (os peitos da Pamela Anderson são um atentado) e OS OUTROS (o trailer já entregava a cena do Michael Jackson), mas ainda há piadas em cima de MATRIX e uma piada discreta envolvendo O SENHOR DOS ANÉIS.

As participações de Charlie Sheen e Leslie Nielsen, colaboradores do trio ZAZ nos anos 80, dão o tom saudosista (ou decadente) do tipo de humor da época.

Parece que o quarto filme também vai ser dirigido pelo Zucker. Pra mim, isso significa o fim da franquia. Mas até que tá durando muito pra uma paródia de PÂNICO, já que a trilogia de Wes Craven já deixou de ser influente no cinema de horror americano. Ainda bem. Chega de sub-Pânicos.

segunda-feira, janeiro 12, 2004

21 GRAMAS (21 Grams)



No fim de semana vi poucos filmes. Apenas um filme novo valeu a pena: 21 GRAMAS, do Iñarritu. Os outros - KEN PARK e TODO MUNDO EM PÂNICO 3, são ruins. Também revi a fita da warner de TWIN PEAKS. Puxa, já tinha esquecido como aquilo ali é bom. Lynch é foda. Cada vez curto mais o trabalho dele. E em breve vou ver os seus curtas, aproveitando que ganhei novo entusiasmo por causa de RABBITS.

No fim de semana foi duro aguentar o calor aqui de Fortaleza. Ainda bem que começou a chover hoje. O sábado foi bem legal. Além de ir ver 21 GRAMAS, ainda fui pra comemoração do aniversário da Valéria lá no bar Mestre de Obras. Além de rever os amigos e conhecer mais gente, a banda que tocou lá era de dar gosto. Excelente repertório, ótimos músicos. Rolou só banda legal no repertório: Radiohead, Los Hermanos, Beatles, Led Zeppelin, Kid Abelha, Travis, Coldplay, Janis Joplin, Gun n' Roses e outras coisas que o álcool não me deixa lembrar.

Mas agora é parar um pouco pra pensar sobre 21 GRAMAS.

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O novo filme de Alejandro González Iñárritu é uma espécie de reedição de AMORES BRUTOS (2000), o filme que pegou de surpresa as platéias naquele ano. Isso porque o ponto de partida é bem parecido: a conseqüência que um acidente de carro pode ter na vida de três pessoas que não se conheciam. Antes de conferir esse segundo longa, pude ver dois curtas seus: um muito bom, feito para a BMW, chamado THE POWDER KEG (2001), e um de qualidade questionável para o projeto 11 DE SETEMBRO (2002) - o tal curta com a tela preta. Até hoje eu me pergunto se aquilo ali é cinema.

Felizmente, Iñárritu está de volta à grande forma com o seu 21 GRAMAS. O que está sendo mais questionado (leia-se "malhado") nesse novo filme é o final. Eu também não gostei do final não, com o monólogo de Penn, mas o trabalho excepcional, construído ao longo de duas horas, não pode ser desmerecido.

Vendo o filme, me peguei pensando sobre a evolução do cinema, a modernização, a quantidade de filmes com estilos de narrativas alternativas que estão surgindo nos últimos anos. No princípio, no tempo do cinema mudo, David W. Grifith ficava se perguntando se o espectador ia entender se a flecha que atingia uma pessoa era a mesma flecha que tinha sido arremessada na cena anterior. Na época ainda se duvidava da capacidade de o espectador entender o que o autor estava querendo passar. O cinema era uma linguagem nova. Por isso os filmes eram tão bem explicadinhos. Basta pegar um exemplar dos anos 40 ou 50 pra ver um cinema bem estruturado e explicado, com início, meio e fim. Mesmo quando se utilizava inúmeros flashbacks, eles eram tão bem explicados que não tinha como se perder.

Hoje em dia, tenta-se de tudo: filme contado de trás pra frente (AMNÉSIA, IRREVERSÍVEL), filmes com pluralidade de pontos de vista (PULP FICTION, AMORES BRUTOS, VIOLAÇÃO DE CONDUTA, VAMOS NESSA!), com narrativas circulares (A ESTRADA PERDIDA, CIDADE DOS SONHOS) e até com diálogos fora de ordem (RABBITS). Legal ver que tem gente que não subestima a inteligência do público.

21 GRAMAS tem uma estrutura narrativa que apesar de não mostrar os acontecimentos na ordem cronológica, não confunde o espectador. Há de se louvar o belo trabalho de edição do filme, feito por Stephen Mirrione, que já fez edição de filmes como VAMOS NESSA (1999), TRAFFIC (2000), ONZE HOMENS E UM SEGREDO (2001) e CONFISSÕES DE UMA MENTE PERIGOSA (2002). O cara é dos bons e ninguém dá o devido crédito. Até agora não vi nenhum crítico falando do trabalho dele.

Depois tem o elenco, que é espetacular: Sean Penn, Naomi Watts e Benicio Del Toro. Com um elenco desses, fica difícil um filme sair ruim. Eu gostei mais da performance de Penn nesse filme do que em SOBRE MENINOS E LOBOS. Sério. É angustiante ver Penn sofrendo de falta de ar por causa do coração que está pra pifar. Naomi está aí fazendo esse sucesso todo por causa do Lynch que a revelou. Ela é ótima. O Del Toro está fantástico como o ex-presidiário crente que tem sua fé abalada a partir de desgraças que lhe aparecem.

Terrível ver pessoas encontrando uma estabilidade na vida depois de passar por um inferno e depois ver que o inferno está ali à espreita de novo pra te dizer: te enganei, otário, achou que estava tudo bem?? Como se Deus fosse um sádico que dá um pouco pra depois tirar. Mas ou menos como na fábula de Jó. Por isso a indignação do personagem de Del Toro. Por isso a desistência do personagem de Penn. Cada um reage de maneira diferente às desgraças pessoais.

Se não fosse o final, eu ia considerar esse filme melhor que AMORES BRUTOS. Talvez as cinqüenta versões que o roteiro teve não tenham sido suficientes. Mesmo assim, é um filme impressionante. O melhor que eu vi nesse comecinho de ano.

sexta-feira, janeiro 09, 2004

RABBITS



Na madrugada de hoje pude finalmente assistir RABBITS, um dos mais controversos trabalhos que Lynch realizou e disponibilizou na internet. Até então, tudo que eu sabia era que se tratava de um curta em episódios onde parte do elenco de CIDADE DOS SONHOS (2001) aparece vestido de coelho. E só. Não tinha a menor idéia que RABBITS iria me deixar aterrorizado. Lynch mais uma vez mostra a sua capacidade de nos assustar utilizando-se do irracional, trazendo direto do mundo dos sonhos e do inconsciente elementos que cineasta nenhum é capaz de trazer.

No site de Lynch ele descreve RABBITS assim: "In a nameless city, deluged by continuous rain, three rabbits live with a fearful mystery." Esse mistério continua sendo um mistério assim que terminamos de ver os oito episódios do filme. Somos surpreendidos várias vezes e em algumas delas, eu confesso que me arrepiei de medo, tive calafrios. Ajudou o fato de eu estar vendo às três da manhã, sozinho na escuridão do meu quarto.

RABBITS começa mostrando duas coelhas numa sala (as beldades Naomi Watts e Laura Elena Harring). A câmera está estática o tempo todo. Na trilha sonora, a música perturbadora de Angelo Badalamenti e ruídos estranhos e difíceis de reconhecer. Uma coelha está passando roupa, a outra está sentada no sofá, como que olhando pra gente. Surpresa quando entra o terceiro coelho (Scott Coffey) pela porta e é cumprimentado por aplausos por um público fictício. Aí que notamos que Lynch está fazendo uma brincadeira com as sitcoms. A partir dos primeiros diálogos ouvimos risadas nos momentos mais inoportunos. Já tinha visto algo do tipo na obra-prima pornográfica FRESH MEAT (1994), de John Leslie. Filme pornô com risadinhas de sitcom também é um troço bizarro. Fico me perguntando se Lynch chegou a ver esse filme.

Um outro detalhe que deixa a coisa ainda mais confusa é que os diálogos estão todos trocados. Às vezes eles se referem a eventos que ainda estão pra acontecer. Depois que a gente fica mais ou menos acostumado até dá pra prever alguma coisa, criando assim mais suspense. Por exemplo, quando uma das personagens pergunta quem era no telefone, a gente fica sabendo que a qualquer momento o telefone vai tocar. Isso porque em nenhum momento anterior o telefone tinha tocado. Por isso, acredito que a cada vez que assistimos RABBITS, mais descobrimos novas coisas.

Acredito que algumas pessoas até já devem ter tentado colocar na ordem correta o quebra-cabeças que é o diálogo de RABBITS. Lynch, experimenta mais uma vez a inversão do tempo a exemplo do que fizera em A ESTRADA PERDIDA (1997) e CIDADE DOS SONHOS. Só que de maneira ainda mais intrincada.

Comparando com outras obras de Lynch, a cortina que mostra o título do filme lembra imediatamente a cortina do "black lodge" de TWIN PEAKS (1990). O clima claustrofóbico dentro da casa lembra HOTEL ROOM (1993), outra série de tv de Lynch. A cena de Rebeka Del Rio, no episódio 3, lembra o Club Silenzio de CIDADE DOS SONHOS.

Lynch tem o dom de trazer à tona nossos medos mais profundos através de personagens misteriosos que desafiam nossa compreensão. Teve o Bob em TWIN PEAKS, o "homem misterioso" em A ESTRADA PERDIDA e o homem detrás da lanchonete em CIDADE DOS SONHOS. Em RABBITS, o que faz a gente mijar de pavor é o "Red Rabbit". (Esse nome foi usado pelo próprio Lynch durante chats de seu site.)

Quem é fã do trabalho de Lynch, não pode deixar de conhecer de jeito nenhum mais essa obra de gênio.

terça-feira, janeiro 06, 2004

BOORMAN, RAFELSON E ZINNEMANN



Esses são filmes que eu vi ainda no ano passado. Portanto, já devo ter esquecido muita coisa que gostaria de falar sobre eles. Todos eles são filmes da década de 70. Comento os três rapidamente.

AMARGO PESADELO (Deliverance)

Esse filme de 1972 é super-famoso e ultimamente anda sendo bem mais citado por conta de alguns filmes novos de terror e suspense que guardam algumas similaridades com esse clássico. O diretor é John Boorman, homem que costuma assinar quase sempre ótimos filmes (A SANGUE FRIO, EXCALIBUR, ESPERANÇA E GLÓRIA). Na trama, quatro amigos decidem atravessar de barco um rio numa cidade do interior dos EUA e são atacados por nativos do lugar. Engraçado os americanos criarem essa lenda de que o povo do interior é doido, psicopata. No elenco, John Voight, Burt Reynolds e Ned Beatty. Eletrizante. Gravado da TNT.

O DIA DOS LOUCOS (The King of Marvin Gardens)

Bob Rafelson já tem fama de cineasta chato. Ou sou só eu que acha isso?? O fato é que um dos seus filmes mais aplaudidos - O DESTINO BATE À SUA PORTA (1981) - não me agradou muito. O filme que mais gosto dele é aquele da Viúva Negra, cujo título não me lembro. Esse O DIA DOS LOUCOS (1972), que tem Jack Nicholson como protagonista, é bem chatinho, arrastado e cheio de situações nonsense. Acho que esses diretores nos anos 70 tinham muita droga na cabeça. Ellen Burstin está no elenco desse filme e eu já nem agüento olhar mais pra cara dela que eu começo a me lembrar da expressão de doida de RÉQUIEM PARA UM SONHO. Gravado da BAND.

O DIA DO CHACAL (The Day of the Jackal)

Delicioso filme de Fred Zinnemann, O DIA DO CHACAL (1973) é empolgante ao mesmo tempo que é relaxante, uma característica de vários filmes da década de 70, como A CONVERSAÇÃO, de Coppola, por exemplo. Baseado no romance de Frederick Forsyth, o filme conta a história do Chacal, um assassino profissional contratado para matar o presidente da França Charles De Gaulle. Muito legal ver a trama tanto do lado de quem está do lado do presidente, quanto da turma de rebeldes. Eita presidentezinho difícil de matar, hein!. Só queria que alguém me dissesse o que há de realidade e o que há de ficção nessa história. Zinnemann nos anos 70 já era diretor veterano. Ele já dirigia desde os anos 30 e são dele clássicos como ESPÍRITOS INDÔMITOS (1950), MATAR OU MORRER (1952) e A UM PASSO DA ETERNIDADE (1953). Gravado da Globo.

segunda-feira, janeiro 05, 2004

OLHOS FAMINTOS 2 (Jeepers Creepers II)



O ano começou bem em matéria de cinema em 2004. Ontem, mesmo cansado da viagem, fiz questão de ir ver OLHOS FAMINTOS 2, a continuação de um dos filmes de horror mais legais dos últimos tempos. Lembro que no dia em que fui ver o primeiro filme, não tinha a menor idéia do que se tratava. Não tinha lido nenhuma crítica. Nem sabia que era um filme "de monstro". Foi uma bela surpresa.

Quem gostou do primeiro filme, vai gostar também desse segundo, que é até melhor que o primeiro em alguns aspectos. Sente-se que foi injetado mais dinheiro na produção. Os efeitos especiais e a maquiagem estão excelentes e as tomadas dos vôos do monstro são fantásticas.

A partir desse segundo filme começa a se criar uma espécie de mitologia para a série. Victor Salva traz mais informações sobre o tal monstro. Mas pra falar a verdade, achei meio furada a trama. Então, é melhor não levar muito a sério a história da garota paranormal que vê os mortos vítimas do monstro e fica sabendo de certas coisas, por exemplo. O importante é curtir as ótimas cenas de tensão dentro do ônibus e no meio da estrada.

Pra quem é fã de TWIN PEAKS (como eu), é legal ver Ray Wise (o pai de Laura Palmer na série) como o caçador do monstro. Ele perde o filho no início do filme, numa seqüência no milharal muito bacana e se prepara pra pegar o bicho. Até lembrei de SINAIS, do Shyamalan.

O filme tem algumas seqüências que comentam por cima o homossexualismo de alguns personagens. O próprio monstro dá preferência em pegar meninos, e não meninas. O diretor Victor Salva tem o seu passado negro. Ele mesmo já molestou um garoto de 12 anos e ainda teve a cara de pau de filmar. Não sei de mais detalhes, se ele foi preso por isso ou não, mas é o que dizem por aí desse cara. De qualquer maneira, não acho que seja nenhuma coincidência esse seu passado com as cenas sugestivas nos seus filmes. Basta notar que ele gosta de mostrar os rapazes sem camisa, mijando ou tomando sol, enquanto que as meninas do filme são quase destituídas de sensualidade.

Antes de começar o filme passou o trailer de WRONG TURN, que aqui no Brasil vai se chamar PÂNICO NA FLORESTA. Esse é muito bom e eu já comentei aqui quando vi em divx. O cinema americano de terror está numa fase especialmente boa.
JERI SO COOL



Da esquerda para a direita: Danilo, Israel, Juliana, Samila, Ailton, Rejane, Zezão, Marcélia, Murilo, Valéria e Igor.
Mais perto do chão: "gringo" e Bárbara.


De volta à vida normal, depois dos dias no paraíso chamado Jericoacoara. Antes de voltar a comentar sobre filmes quero deixar aqui uma espécie de relatório do que houve nesses cinco dias. O título acima é em homenagem à expressão mais usada pela turma durante o período.

Novos amigos

Foi legal conhecer o Danilo, um cara que me lembra o meu pai, tanto pelo aspecto físico quanto pelos gostos musicais (Núbia Lafaiete é um ícone pra ele. Hehehe). Gente finíssima. Também fiz amizade com o Zezão. Agora tenho mais um amigo pra conversar sobre quadrinhos, cinema, música e coisas da vida. E ele estava no show do Los Hermanos. Sinal de bom gosto. Hehehe. A Bárbara é outra pessoa especial. Já pude checar o blog dela e ela escreve com o coração. Chega a ser comovente os seus escritos. Pra quem quiser conhecê-la um pouco mais, é só visitar o blog www.barbaramonte.blogger.com.br . Achei bonita a amizade dela com o Danilo. Logo na ida conheci o Ricardo e a Samila. O Ricardo é um cara engraçado ainda que nem sempre pretenda ser. Hehehe. A Samila podia ser uma modelo, posar pra capas de revistas masculinas, se quisesse. Além de bonita, é super simpática e atenciosa.

Momento mais engraçado

Definitivamente foi às 2 e meia da manhã de sexta (ou do sábado?), quando a turma se juntou pra ir conhecer a famosa padaria da cidade. Forma-se fila lá toda madrugada pra experimentar os pães com sabores de banana, coco e queijo. Pois bem. Quando estávamos na fila, o Danilo confundindo uma mulher com alguém da turma, fala: "e aí, doidinha, me arranja aí o baseado." Quando percebeu com quem estava falando, ele ficou sem jeito e isso rendeu as maiores gargalhadas do passeio. Danilo é o maior "presepeiro" da turma e fazia questão de beber todos os dias. Hehehe.

Passeios

Os passeios pra Lagoa Azul e pra Pedra Furada foram bem legais. A caminhada pra Pedra Furada ficou ainda mais memorável por conta do cansaço que abateu o grupo devido às subidas na areia fofa. Eu quase fico no meio do caminho. Estava me sentindo o Frodo no caminho para Mordor. Parte da turma ainda foi tirar fotos à noite no cemitério da cidade. Será que vai aparecer algum fantasma nas fotos?? hehehe

Festas

As festas não foram tão animadas assim pra mim. No dia 31 a cidade estava tão cheia de gente que era difícil transitar pela praia. Fiquei fascinado com os olhos de Jennifer Connelly de uma garota que vi lá e até tentei uma abordagem direta, mas isso nunca foi o meu forte e fiquei um pouco frustrado, mas desencanei rápido. A vida não é um ensaio como no filme FEITIÇO DO TEMPO, mas a gente aprende com os erros, apesar de ser bem mais fácil desaprender tudo.

Álcool e Sorvete

A bebida que mais pegou lá na casa foi o vinho de catuaba. Aquilo é gostoso, desce macio e reanima. Hehehe.. O álcool traz alegrias e tristezas pra quem toma. É bom, ajuda a socializar e potencializa os sentimentos. O foda é quando se está triste. Aí o que vem é uma leve depressão. Exagerar ou misturar bebidas fez alguns da turma vomitaram ou se sentirem mal (Murilo, Camila, Juliana, Bárbara). Normal. Já o sorvete de lá me deixou mal acostumado. Cheguei em casa ontem, almocei, aí perguntei pelo sorvete da sobremesa. Hehehe.

Momento "sozinho mas em paz"

Foi no dia 1o. quando o sol tava se pondo, o céu estava avermelhado e bonito, o clima ficava mais ameno e o mar ficava mais misterioso por causa da noite que chegava. Bom demais. Melhor do que o sol causticante do dia que me deixou tostado.

Papos legais

As conversas bacanas sobre os mais diversos assuntos foram prazeirosas. Com o Rafael e o Zezão, a conversa foi sobre espiritualidade, tempo, filosofia etc. Com a Érica, rolou um papo legal sobre cinema. E com o pessoal que se conhece há mais tempo, mais coisas sobre a mitologia da turma.

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É isso. Deve ter mais alguma coisa pra comentar, mas tá bom, né?? Ninguém tá a fim de ler um jornal mesmo. Mais informações nos blogs da Valéria e da Bárbara. Isso quando elas resolverem falar sobre o assunto.

Abraços a todos e feliz 2004! Aliás, 2004 numerologicamente tem tudo pra ser muito bom, hein. 2+4=6, número do amor e da paz. Cool!