quarta-feira, março 31, 2010

PAIXÃO E SOMBRAS























Os últimos dias não foram fáceis pra mim. Quando a saúde não está bem, as demais áreas de nossa vida são todas afetadas e não conseguimos produzir nada bem, nem nos socializarmos bem. Foi num desses dias meio que tenebrosos que resolvi matar a saudade de Walter Hugo Khouri. É o meu cineasta brasileiro favorito e fazia um tempão que não via um filme seu. Resolvi recomeçar a ver seus filmes com uma obra completamente inédita para mim: PAIXÃO E SOMBRAS (1977), um de seus trabalhos menos conhecidos, mas que talvez seja o que mais explicita as suas angústias e obsessões como cineasta.

O protagonista é novamente Marcelo, o alter-ego de Khouri, aqui interpretado por Fernando Amaral. No filme, Marcelo é também um cineasta - o que aproxima ainda mais o personagem de seu criador. Assim, algumas frases de Marcelo são fundamentais para entender como Khouri via a relação entre seus filmes e o público. "Não quero compreensão; quero recepção, se houver", ele diz para sua assistente de direção em tom meio melancólico. Ele também questiona a natureza do cinema, de como ele queria que a sua arte fosse tão importante quanto a literatura ou a pintura.

Marcelo, mesmo diante de sérias restrições orçamentárias, da falta de um roteiro, da falta da atriz que ele diz ser fundamental para a existência do filme (Lilian Lemmertz), o diretor dentro do filme não perde a pose, ainda que seu sorriso seja sempre triste. Não estamos aqui diante do Marcelo comedor de menininhas de filmes como EU (1987) ou EROS – O DEUS DO AMOR (1981), filmes que, aliás, lidam com problemas ligados a relacionamentos familiares, a questões que vão fundo no psicológico. Em PAIXÃO E SOMBRAS o foco está menos no sexo e nas questões paternas e maternas e mais no amor obsessivo por uma mulher e em questões estéticas.

Mas mesmo esse amor é também pintado de forma enigmática. Marcelo não explicita fisicamente esse amor, que se confunde com mais uma obsessão do cineasta. E talvez o seja. O que a gente percebe também é que Marcelo está em busca de algo que não sabe ainda direito o que é. Como se estivesse esperando o acaso resolver as coisas por ele. É assim que ele resolve, de uma hora para a outra, fazer de sua bela assistente de direção uma atriz; é assim que ele resolve se inspirar nos desenhos sadomasoquistas de Buda (Carlos Bucka) para fazer um filme totalmente diferente.

No elenco, o Marcelo de Fernando Amaral está longe de estar entre os meus preferidos, mas Monique Lafond está adorável. Já Lilian Lemmertz, como a estrela amada pelo diretor e que o rejeita, nem tanto. A jovem Aldine Muller aparece num papel pequeno.

O filme tem aquele andamento lento e agradável, aquela mistura de classe, sensualidade e mistério, que se potencializam com a música de Rogério Duprat, John Coltrane e Franz Schubert. A cópia que eu consegui da internet foi ripada de uma boa cópia em VHS. Infelizmente ainda temos que nos contentar com essas versões. Alguém precisa se mexer para fazer um trabalho de restauração das obras de Khouri. Antes que seja tarde.

P.S.: O blog coletivo Multiplot iniciou um trabalho deveras interessante: escrever sobre todos os filmes do genial Anthony Mann, dos dramas noir dos anos 40 aos épicos dos anos 60. Não deixem de conferir diariamente.

segunda-feira, março 29, 2010

LEMBRANÇAS (Remember me)























Hoje foi um dia bem agitado. Cheio de afazeres, consegui um espaço no começo da tarde para ver um filme no cinema. Mas sabe aquelas vezes em que você paga pra ver o filme e pensa que talvez fosse melhor negócio ficar em casa? Pois é. Até preferiria ver O LIVRO DE ELI, mas quando cheguei a sessão já tinha começado. Então, foi este LEMBRANÇAS (2010) mesmo. A boa notícia é que, mesmo com todas as expectativas baixas e com uma baita má vontade, o filme até que que me tocou em alguns momentos. E ainda gostei do final, que foi pra mim, que tenho uma memória fraca, até surpreendente. Lembrei que alguém tinha comentado por alto o final do filme pelo twitter. Que eu não vou entregar aqui, podem ficar tranquilos.

Outra coisa: eu ando tão desligado – pra não dizer que ando cheio de preocupações – que ficava dizendo para mim mesmo: "essa menina é a cara da Emilie de Ravin", a Claire de LOST. Se não checasse a ficha do filme na internet agora há pouco meu texto conteria algo como: "a protagonista do filme é uma espécie de versão mais jovem da Emilie de Ravin." Acho que a atriz iria gostar de saber que convenceu na idade menor do que ela tem.

LEMBRANÇAS é o tipo de filme que jamais estaria sendo veiculado nos cinemas se não fosse o sucesso de Robert Pattinson. A produção, bastante modesta, é muito parecida com alguns filmes lançados diretos em vídeo. Allen Coulter, o diretor, também não lembrava quem era. Vi que ele tem no currículo a direção de doze episódios de FAMÍLIA SOPRANO. Fora isso, ainda dirigiu episódios de SEX AND THE CITY, DAMAGES, ROMA, A SETE PALMOS, NURSE JACKIE e nos anos 90 ARQUIVO X e MILLENNIUM. Muita coisa boa.

Também impressionante o fato de a estreia brasileira acontecer no mesmo dia da estreia americana. Lembro que a filha de um amigo meu, uma adolescente que adora Pattison e CREPÚSCULO, havia me perguntado, através dele, quando o filme estrearia. Vi no IMDB a data e imaginei que aqui demoraria mais tempo para chegar. Estou ficando velho e ingênuo para entender a política de mercado, mesmo de algo de que eu gosto tanto.

O melhor aspecto do filme é mostrar dois jovens com profundas mágoas e traumas. O primeiro deles é mostrado logo na introdução, quando vemos a pequena Ally vendo sua mãe ser assassinada por dois ladrões de bolsa numa estação de metrô. O segundo trauma, o do personagem de Pattinson, não é mostrado. Ficamos sabendo com o desenrolar da trama. Ela, filha de um policial (Chris Cooper) que encarcera Pattison por causa de uma briga de rua; ele, filho de um advogado bem sucedido (Pierce Brosnan). Ele guarda mágoa do pai principalmente por ele não dar a devida atenção à sua irmã caçula, uma garotinha que sofre com a maldade das colegas da escola.

Por incrível que pareça, a performance que eu mais gostei no filme foi de Pierce Brosnan, ator que eu nunca gostei, nem mesmo como James Bond. Na figura de um pai ausente, mas que também sente a dor da ausência do filho mais velho, ele rouba as cenas nas vezes em que aparece. Já Cooper, por melhor que seja, me pareceu um pouco deslocado. No saldo geral, o filme poderia ter arriscado mais, ter apostado mais no melodrama rasgado. Vai ver o diretor Allen Coulter, que pode ser considerado já um veterano da televisão, não esteja acostumado a condensar dramas num intervalo de apenas duas horas de duração.

sábado, março 27, 2010

HALLOWEEN II























Os primeiros 25 minutos estão entre os mais impressionantes do cinema de horror contemporâneo, mostrando uma noite de chuva intensa como pano de fundo para o ataque sangrento de Michael Myers, um dos psicopatas mais famosos da história do cinema. Se todo o filme seguisse o mesmo grau de excelência, HALLOWEEN II (2009) seria um clássico instantâneo. Mas como Rob Zombie tem a tarefa de também contar uma história, logo o filme volta a ficar próximo do normal, ainda que seja uma obra bastante pessoal, lembrando os primeiros filmes do diretor – A CASA DOS 1.000 CORPOS (2003) e REJEITADOS PELO DIABO (2005).

HALLOWEEN (2007), o filme que deu início ao reboot da franquia do assassino, havia sido interessante enquanto mostrava a infância de Michael Myers. Depois, se tornaria mais um slasher como outro qualquer. Nesta segunda parte, ainda que preso a um personagem criado por outra pessoa, Zombie faz uma obra ainda mais autoral. O que não deixa de ser uma surpresa para um filme que narra basicamente os ataques do assassino a suas vítimas e o desespero da irmã de Myers e seu pai adotivo ao saber que ele está novamente à solta.

A trama propriamente dita começa dois anos após os eventos mostrados no primeiro filme, poucos dias antes do próximo Halloween. A irmã de Myers, Angel, é a protagonista. Quem também retorna em papel de destaque é o psiquiatra que conheceu a fundo o psicopata, interpretado por Malcolm McDowell. Ele acabou de escrever um livro e está lançando no dia de Halloween para ganhar dinheiro em cima das atrocidades.

Há um curioso anacronismo. Ao mesmo tempo em que os televisores são antigos e passam programação da década de 70, na sequência em que vemos a casa do psiquiatra, há um televisor gigante de LCD – ou algo parecido. Esse recurso de deslocamento temporal que nos deixa confusos também podia ser sentido nos dois primeiros filmes de Zombie. Até mesmo a fotografia lembra a de alguns exemplares do horror rural americano do período. E um personagem-chave de A CASA DOS 1.000 CORPOS aparece na sequência da festa à fantasia.

Felizmente a cópia a chegar aos cinemas brasileiros não sofreu os cortes que ocorreram quando da exibição do primeiro filme. A violência brutal de Michael Myers está presente dessa vez de forma integral.

sexta-feira, março 26, 2010

TRÊS FILMES "DO BEM"























Atualmente estou fazendo um curso de Inteligência Emocional e o palestrante recomendou alguns vídeos. Nem preciso explicar porque não tive muita boa vontade com os filmes. E olha que nem me considero um sujeito de gosto assim tão sofisticado. Dos vários que ele passou, alguns eu já tinha visto e acabei escolhendo apenas os que mais me interessavam por alguma razão. Também ajudou o fato de a minha irmã ter em seu acervo alguns dos títulos. Procurar ver os filmes mais pela temática do que por suas qualidades fílmicas ajuda um pouco na apreciação.

DUAS VIDAS (The Kid)

Lembro de ter visto o trailer nos cinemas há dez anos e de não ter gostado nada. Lembro também de um amigo meu ter visto o filme e ter gostado bastante. Visto hoje, além de ter estranhado os cabelos de Bruce Willis, estranhei também o fato de o filme ser extremamente suave; de não mostrar personagens bebendo bebidas alcoólicas, nem mencionar sexo, violência ou qualquer outro conteúdo adulto. Será que eu ando vendo filmes violentos demais a ponto de estranhar algo assim? A trama de DUAS VIDAS (2000) é uma espécie de atualização de "Um Conto de Natal", de Charles Dickens. Homem de negócios que não lida bem com as pessoas, maltrata o pai e não consegue ter um relacionamento estável com a garota que o ama recebe a visita de si mesmo aos oito anos de idade. O filme tem bom andamento, uma trilha sonora bem interessante e alguns momentos que servem de lição. Uma boa sessão da tarde.

PODER ALÉM DA VIDA (Peaceful Warrior)

Diferente de DUAS VIDAS, PODER ALÉM DA VIDA (2006) é um tanto aborrecido. Difícil comprar a trama de um jovem ginasta que conhece um estranho senhor que trabalha numa loja de conveniência (Nick Nolte). O senhor é uma espécie de mestre espiritual que mostra ao jovem o caminho da vitória, mesmo depois que o rapaz sofre um acidente e quebra sua perna em várias partes. Mais interessante do que Nick Nolte dando uma de mestre é a bela Amy Smart no papel de sua filha – ou algo do tipo. O filme é um sucesso nas locadoras.

O FAZENDEIRO E DEUS (Faith like Potatoes)

Outro sucesso nas locadoras, O FAZENDEIRO E DEUS (2006) deve mais isso ao fato de ser um filme evangélico. Apesar de eu ter sido criado lendo a Bíblia e indo a escolas dominicais, sempre tive preconceito com esse tipo de filme. E acho que ainda tenho. Mas como um dos meus filmes favoritos de todos os tempos (A PALAVRA, de Carl T. Dreyer) lida com a fé de maneira profunda e eu me emocionei de verdade com a cena da conversão do bandido em CARANDIRU, de Hector Babenco, não custa dar uma chance ao filme. Que não é ruim. Apenas não me emocionou o necessário para que eu possa dizer que gostei. O fato de se passar na zona rural da África do Sul ajuda a manter o interesse, pelo exótico e pelo diferente.

quinta-feira, março 25, 2010

O FANTÁSTICO SR. RAPOSO (The Fantastic Mr. Fox)






















A estranheza dos filmes de Wes Anderson sempre esteve entre suas principais qualidades e encontrou no rosto um tanto apático de Bill Murray uma espécie de marca registrada. Por isso não foi nenhuma surpresa quando anunciaram que o quinto longa-metragem de Anderson seria uma animação em stop motion. Numa animação, naturalmente, os personagens demonstram menos expressividade do que em um filme em live-action. Uma animação mostrando animais falantes não seria muito diferente de longas como OS EXCÊNTRICOS TENEBAUMS (2001) e A VIDA MARINHA COM STEVE ZISSOU (2004). Além do mais, trata-se de uma animação baseada numa obra de Roald Dahl, o criador de "A Fantástica Fábrica de Chocolate".

Na trama, o Sr. Raposo (George Clooney), a pedido da esposa (Meryl Streep) que se diz grávida do primeiro filho, deixa sua vida de assalto a galinheiros para poderem se estabelecer como uma família normal e honesta. Anos depois e já com o filho adolescente, ao se mudarem para uma árvore em frente às fábricas dos maiores criadores de galinhas, perus e cidras da região, ele não resiste à tentação e resolve armar um plano para assaltar os empresários. Astros mais familiares ao universo de Anderson, como Bill Murray, Jason Schwartzman e Owen Wilson, participam como coadjuvantes importantes.

Como em seus filmes em live-action, os personagens de O FANTÁSTICO SR. RAPOSO (2009) também se mostram anestesiados mesmo diante de situações dolorosas da vida. Apesar de ter gostado do filme, especialmente da primeira metade, acho que já perto do final a apatia me contagiou. Ainda assim, fica a apreciação dos belos quadros criados pelo diretor, com o predomínio dos tons marrons e avermelhados, mais próximos das cores das raposas e da terra.

quarta-feira, março 24, 2010

A FITA BRANCA (Das Weiße Band- Eine Deutsche Kindergeschichte)






















Acabei de voltar da sessão de A FITA BRANCA (2009) e ainda não sei direito o que achei do filme. Até porque ele não é lá muito fácil de compreender. Mas é uma obra ímpar. Não dá pra sair do mesmo jeito depois de assisti-lo. Michael Haneke se firma como o maior instigador do cinema contemporâneo. Seus filmes podem ser convites à reflexão, bem como convites ao ódio à própria obra. Ele vem incomodando desde seus primeiros trabalhos. E esse é mais um motivo para se respeitar o cinema de Haneke.

O filme mostra uma aldeia alemã no início do século XX, antes de a Europa explodir com o nazismo. Haneke analisa os estragos que uma ideologia - no caso, a doutrina protestante – pode causar numa sociedade. Com uma bela fotografia em preto e branco, o filme nos apresenta a diversos personagens da aldeia, sendo que um deles é o narrador do filme, o professor. O filme começa mostrando alguns estranhos acontecimentos que perturbam a aparente paz daquela sociedade, como o acidente envolvendo o médico do vilarejo, que é derrubado junto com o cavalo, ao passar por um arame imperceptível. Outros incidentes virão.

A sociedade cheia de regras possui algumas figuras de mais autoridade, como o barão, o homem que emprega mais da metade da população da aldeia, e o pastor, que pune seus filhos severamente com frequência. Uma das punições mais impressionantes é a que recebe o seu filho adolescente, que tem seus braços amarrados à noite para não se masturbar novamente. O variado número de personagens às vezes confunde, bem como a utilização de várias elipses, de modo a tornar o filme mais misterioso. Mas isso faz parte de seu charme.

A FITA BRANCA ganhou a Palma de Ouro em Cannes no ano passado.

terça-feira, março 23, 2010

UM HOMEM SÉRIO (A Serious Man)























As minhas férias começaram. Não exatamente da maneira que eu queria e com alguns problemas de saúde me afligindo, mas já estou melhor e vamos que vamos que o tempo não espera ninguém. Recomecemos com este UM HOMEM SÉRIO (2009), dos irmãos Joel e Ethan Coen, um dos concorrentes à categoria principal do Oscar 2010. Na verdade, tratava-se de um peixe fora d'água entre os demais. Porém, como os irmãos Coen já ganharam Oscar duas vezes – por FARGO (1996) e ONDE OS FRACOS NÃO TÊM VEZ (2007) -, com essa moral, eles conseguiram mais uma vez ser indicados numa categoria importante com um trabalho menor, mais pessoal.

UM HOMEM SÉRIO é um filme estranho. Isso, levando-se em consideração que todos os filmes da dupla são estranhos. Mas, para o bem e para o mal, de vez em quando eles se superam. Trata-se de uma comédia que se confunde com uma tragédia. Eu, pelo menos, não consegui rir em momento algum. Pra mim, todo o drama do pai de uma família judia que é chifrado pela mulher não tem nada de engraçado. Ao mesmo tempo, também vemos o drama do filho desse senhor, uma criança rebelde e que pode representar o novo país que estaria surgindo.

Pena que o filme não deixe muitas lembranças, apesar de ser formalmente muito interessante. O que fica de mais forte é sempre a expressão do protagonista, que fica se perguntando o que está acontecendo com sua vida, diante das várias chibatadas que recebe de todas as frentes. Assim, é com um misto de resignação e revolta que acompanhamos a sucessão de eventos desagradáveis na vida desse homem. Como se ele representasse a raça judia, que traz uma história tão cheia de desventuras e desgraças. E tão poucas glórias. Não deixa de ser uma triste ironia para um povo que se diz o escolhido de Deus.

quinta-feira, março 18, 2010

ENTRE IRMÃOS (Brothers)























Foi uma sessão agradável, a de ENTRE IRMÃOS (2009). O diretor, Jim Sheridan, ainda que com filme cheio de problemas, mostra-se capaz de manter a atenção da audiência sem aborrecer e com boa fluidez narrativa. A presença luminosa de Natalie Portman sempre ajuda e o filme ainda conta com uma belíssima fotografia. O diretor de fotografia é Frederick Elmes, parceiro de Ang Lee em alguns de seus melhores trabalhos. Mas talvez eu só tenha me deleitado com as imagens projetadas pelo fato de ter visto uma projeção tosca em digital no dia anterior (a de DIREITO DE AMAR). Por isso, quando cheguei lá no cinema do Iguatemi e vi aquela belezura em scope, foi de dar gosto.

A trajetória de Sheridan é curiosa. Estreou com um grande filme, o intenso MEU PÉ ESQUERDO (1989), que rendeu o primeiro Oscar para Daniel Day-Lewis. Depois, veio com um bom drama político muito íntimo de seu país, a Irlanda, EM NOME DO PAI (1993). Sheridan perdeu o prestígio a partir do fraco O LUTADOR (1997). Não vi os dois trabalhos seguintes dele. Dizem que TERRA DOS SONHOS (2002) é muito bom e não tive a mínima vontade de ver FIQUE RICO OU MORRA TENTANDO (2005), que me parece um trabalho que o desvincula de suas raízes e o tornou definitivamente um diretor de encomenda em Hollywood.

O primeiro problema de ENTRE IRMÃOS já começa pela falta de necessidade de se fazer um remake de uma obra tão recente - BROTHERS (2004), de Susanne Bier. Que eu não vi, mas a julgar pela apreciação do ótimo DEPOIS DO CASAMENTO, de Bier, já me arrependi de não ter conferido quando passou nos cinemas daqui. Mas não adianta mais ficar reclamando de refilmagens. Outro problema está no deslocamento do elenco, principalmente Tobey Maguire, no papel do capitão do exército americano que é dado como morto na guerra do Afeganistão e quando volta desconfia que sua esposa (Natalie Portman) o está traindo com o seu irmão (Jake Gyllenhaal). Maguire não convence, ainda que se mostre esforçado fazendo olhar de louco. A trama tinha tudo para causar grande impacto emocional, mas infelizmente falhou nesse aspecto. E ainda pode estragar um pouco o prazer de ver o filme original.

quarta-feira, março 17, 2010

BANQUETE DE SANGUE (Blood Feast)























Acabei vendo BANQUETE DE SANGUE (1963) depois de me sentir atraído pelos belos cartazes dos filmes de Herschell Gordon Lewis que o Primati postou em seu blog, o fundamental Cine Monstro. Os cartazes, em preto, branco e vermelho, resumem o apelo exploitation que fez a fama do diretor, tido hoje como o "pai do gore". Gordon Lewis começou a carreira fazendo filmes de nudismo, que no início dos anos 1960 era uma febre. Com a banalização do "gênero", o diretor apelou para a violência explícita, para o "sangue e tripas". E em cores, para destacar o vermelho vivo.

BANQUETE DE SANGUE está longe de ser um bom filme. Na verdade, as atuações são horríveis e não há de fato suspense, algo que seria muito bem vindo num filme de serial killer. Mas a intenção da produção é mesmo de puro entretenimento, ou causar repulsa em estômagos fracos. Para a época, deve ter sido um choque mesmo. Entre os momentos mais memoráveis, destaco a cena em que o assassino arranca a língua de uma de suas vítimas, sempre mulheres.

É possível se divertir com as falhas do filme, que o tornam mais próximo de uma comédia do que de um horror. A sequência final, com o policial explicando como conseguiu pegar o assassino é de provocar gargalhadas. A trama é bem simples: assassino serial ataca as vítimas sempre levando consigo parte de seus corpos. Ele é um devoto da deusa Ishtar e sua intenção é fazer um banquete e ofertar a ela um último sacrifício. Que aconteceria numa festa de aniversário de uma jovem estudiosa entusiasta de cultura egípcia.

Os filmes de Hershell Gordon Lewis, todos de orçamento irrisório, eram exibidos na época em sessões grindhouse (duplas) e em drive-ins e fizeram muito sucesso entre o público jovem, apesar de desprezados pela crítica. Os filmes seguintes de Lewis, MANÍACOS (1964) e COLOR ME BLOOD RED (1965) integram, junto com BANQUETE DE SANGUE, a chamada trilogia gore do cineasta.

terça-feira, março 16, 2010

LES AMOURS D'ASTRÉE ET DE CÉLADON























O filme-testamento de Eric Rohmer é o mais iluminado de todos os seus trabalhos. Como se ele, ao final da vida, já estivesse vendo a luz que dizem ver as pessoas do bem em seus momentos finais. O filme tem a maioria das cenas se passando em exteriores iluminados pela luz do sol ou por interiores iluminados por grandes janelas. Também iluminado é o rosto branco e os cabelos loiros da bela Astrée. Não por acaso o filme se passa na Gália, antes da invasão romana e da chegada do Cristianismo. Há, portanto, uma pureza maior, especialmente porque Rohmer não pinta de forma negativa nenhum aspecto das crenças celtas da época. Mas, por outro lado, senti meio que uma tentativa de justificar o paganismo numa sequência que mostra um sacerdote druida dizendo o quanto todos aqueles deuses são várias facetas de um Deus único.

LES AMOURS D'ASTRÉE ET DE CÉLADON (2007) foi adaptado de um romance pastoral do século XVII e conta a história de amor entre um casal de pastores de famílias rivais. Com diálogos e direção que remetem a Robert Bresson e que podem causar estranhamento em quem não está muito familiarizado com o estilo, o filme começa com Astrée flagrando seu amado Céladon com outra moça. Porém, ela sai antes de ver o desfecho da situação, isto é, Céladon rejeitando o amor da outra, pois seu coração já pertence a Astrée. Com o coração ferido, Astrée, ao encontrar o namorado, diz que nunca mais quer vê-lo. E lhe diz para nunca mais se aproximar dela. Ele, não vendo mais motivos para viver, resolve agir de forma dramática e se atira no rio. Seu corpo não é encontrado pelo pastores, indo parar na costa de uma mansão habitada por um grupo de ninfas druidas. A líder delas se encanta com a beleza do rapaz e faz o possível para mantê-lo lá. Enquanto isso, Astrée descobre a fidelidade de Céladon e chora amargamente.

Uma das coisas que mais se destaca nessa aparentemente ingênua história de amor é a maneira devotada com que os jovens nutrem seus amores. Especialmente Céladon, que renega qualquer tentativa de trair a amada, por mais tentadora que seja a oferta. Mas foi Astrée quem mais me comoveu. Cada aparição dela, chorando e falando de maneira teatral e poética do amado, me transportava para séculos atrás. Como se eu estivesse dentro de um teatro muito antigo numa encarnação passada. Impressionante como Rohmer procura ser fiel ao momento histórico que decide mostrar, como já podemos ver em outras obras-primas suas, como A INGLESA E O DUQUE (2001) e A MARQUESA D'O (1976). Inclusive, LES AMOURS D'ASTRÉE ET DE CÉLADON já começa com uma observação da tentativa de ser fiel ao espírito da época, lamentando até mesmo a impossibilidade de não filmar nos locais onde a história se passa, por já ter sido o lugar totalmente dominado pela geografia urbana.

A trama tem um quê de inocente, mas não sem destacar o belo corpo das mulheres, seja de Astrée, seja das ninfas druidas que resgatam Céladon. No terceiro ato, quando Céladon se disfarça de mulher para se aproximar de Astrée, o filme acentua um leve erotismo, que não é nenhum objeto estranho na filmografia de Rohmer, que já fez tantas vezes as batidas de nossos corações pulsarem mais forte.

Agradecimentos ao Sergio Alpendre, que acabou dando um empurrãozinho na minha vontade de ver o filme. Sergio o incluiu em segundo lugar em seu top 100 de filmes dos anos 2000.

segunda-feira, março 15, 2010

ILHA DO MEDO (Shutter Island)























Sempre que um cineasta de primeiro escalão resolve dirigir um filme de horror, o resultado é carente de sustos quase na mesma proporção que é rico em sofisticação visual. Pense em O ILUMINADO, de Stanley Kubrick, DRÁCULA DE BRAM STOKER, de Francis Ford Coppola, ou mesmo DESAFIO DO ALÉM, de Robert Wise. Com ILHA DO MEDO (2010), chega a vez de Martin Scorsese experimentar o gênero. Ainda que ele já tenha dirigido um thriller com resultado ainda mais impactante - CABO DO MEDO (1991) -, é a primeira vez que o diretor abraça um horror sobrenatural num longa para cinema. Na televisão, Scorsese chegou a dirigir um episódio de horror para a série AMAZING STORIES - HISTÓRIAS MARAVILHOSAS chamado "Mirror, mirror" (1986).

Há quem diga que ILHA DO MEDO é um falso terror, um veículo para que o diretor exponha mais uma vez o seu elogio à loucura, visto de maneira genial em O AVIADOR (2004). Para isso, o diretor se utiliza dos variados clichês do gênero, tomando o cuidado para não banalizá-los. Na verdade, há poucos momentos de sustos no filme. Scorsese aposta mais na atmosfera. A fotografia de Robert Richardson é de encher os olhos. Ajuda a tornar o ato de ver o filme agradável desde os primeiros fotogramas, que mostram um cenário nebuloso, onde vemos um barco e uma ilha. No barco, o detetive vivido por Leonardo DiCaprio vomita por causa dos enjoos causados pelo balanço do mar. Ele está acompanhado de um novo parceiro (Mark Ruffalo). O destino: Shutter Island, uma ilha-presídio-hospício que abriga criminosos perigosos e com sérios problemas mentais. O caso a ser resolvido envolve o desaparecimento de uma paciente.

O clima de pesadelo crescente vai se instalando aos poucos, quando o personagem de DiCaprio passa a questionar a própria sanidade. Seria culpa das pílulas para enxaqueca que o diretor do hospital (Ben Kingsley) lhe deu? Alguns momentos são especialmente memoráveis, como a sequência dos rochedos, onde Scorsese homenageia filmes de horror do passado, como no momento em que o protagonista se vê cercado de ratos. Aliás, passado e sonho são duas palavras valiosas para o cinema de Scorsese. Quase como uma forma de negar o presente, de negar a realidade. A busca pela fuga da verdade dolorosa, tão comum em filmes de horror de temática espiritualista, é recebida com um forte abraço por Scorsese.

Os problemas do filme se devem mais ao excesso de diálogos e explicações e a uma trama que parece um pouco banal e que se estende além do necessário, provocando sonolência a certa altura. O trabalho de interpretação do elenco também é um pouco problemático, mas isso se deve mais às amarras do gênero. Nos momentos em que o filme se entrega totalmente ao clima de total desapego com a realidade e finca os pés quase em definitivo no delírio, difícil não lembrar de alguns momentos não muito felizes de LOST, até porque ambas as obras se passam numa ilha e possuem um clima de mistério. A diferença é que Scorsese parece saber muito bem aonde quer chegar. Ou aonde não quer chegar.

sexta-feira, março 12, 2010

A ALCOVA (L'Alcova)























Joe D'Amato é um dos mais versáteis cineastas do underground. Fez filmes de horror, inclusive do ciclo canibal, vários com a Emanuelle Negra, alguns softcores não tão soft assim e até mesmo filmes de sexo explícito. A ALCOVA (1984) traz duas estrelas do softcore dos anos 70 e 80 em momentos tórridos e em situações divertidíssimas. Logo no começo do filme, vemos Lili Carati conversando com sua amante (Annie Belle), aguardando o marido voltar da guerra. As duas escondem o fato de que estão tendo um caso e essa situação por si só já renderia pano pra manga. Mas acontece que D'Amato apimenta ainda mais a trama, já que o marido traz uma escrava de guerra (Laura Gemser, a famosa Black Emanuelle, estrela de tantos filmes exploitation). Ódio, desejo sexual e violência se misturam nesse quadrado complicado envolvendo um homem e três mulheres.

A minha curiosidade maior em relação a esse filme se deve principalmente à presença de Lili Carati, a morena fogosa de AVERE VENT'ANNI, filme que tanto me agradou. Pena que em A ALCOVA Carati não está tão bem quanto na obra de Fernando di Leo, realizada seis anos antes. No filme de Di Leo, ela já mostrava com orgulho os seios de bicos protuberantes. E nas cenas eróticas de A ALCOVA, os bicões se destacam. Mas ela não está mais tão bonita, lembrando um pouco a Asia Argento. A mais bela do filme é a menos conhecida Annie Belle, a amante lésbica e secretária do militar. Inclusive, para compor o cenário bestial já característico do cinema de D'Amato, Belle ainda se faz presente numa cena de estupro.

Quem espera de A ALCOVA um softcore convencional é porque não conhece ainda o cinema de D'Amato. Só o fato de ter uma escrava, pronta para satisfazer os desejos de seu dono - ou sua dona, já que a certa altura ela passa para as mãos de Carati -, já torna o filme bem interessante no quesito sexo. Mas que me perdoem os fãs de Laura Gemser, ela não está tão atraente no filme, não. Ainda assim, é graças à sua personagem que o filme ganha força. Destaque para os momentos em que a escrava Gemser procura se impor e inverter a situação.

Provavelmente o próximo filme de D'Amato que verei será outra parceria com Gemser: EMANUELLE AND THE LAST CANNIBALS (1977), que deve ser mais um desfile de depravação e selvageria. O legal de D'Amato é que ele não está nem aí para o bom gosto. :)

Agradecimentos especiais a Carlão Reichenbach.

P.S.: Sabe aquele ranking dos 100 melhores filmes que eu postei no mês de fevereiro? Pois bem. Eu e mais doze convidados do Chico Fireman integramos o resultado final, que pode ser conferido no Filmes do Chico.

quinta-feira, março 11, 2010

DIREITO DE AMAR (A Single Man)






















Eis um filme que poderia ser muito melhor apreciado no cinema se não fosse a tosca cópia digital da Rain. Pelo menos o projecionista do Cine Aldeota teve a inteligência de dar um zoom, evitando que víssemos um filme em scope num pedacinho de tela cercado por tarjas pretas por todos os lados. Diminuiu um pouco o incômodo, mas a imagem escura e as cores sem vida causam até uma leve dor de cabeça. Esse tipo de projeção, dependendo do filme, até que não incomoda. O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG, por exemplo, já que foi filmado em câmera digital e já sabemos que a imagem é ruim mesmo, dá pra relaxar. Acredito não ser o caso de DIREITO DE AMAR (2009), que tem suas belas imagens (acredito eu) muito prejudicadas. A certeza disso vem quando leio textos sobre o filme, comparando seu visual com Wong Kar-wai e Douglas Sirk.

Se a fotografia não pode ser apreciada em sua totalidade, a performance de Colin Firth não deixa de chamar a atenção. Firth é um ator que até então não tinha mostrado todo o seu talento. Foi no papel de um depressivo professor de inglês homossexual que ele mostrou do que é capaz e recebeu uma indicação ao Oscar. Mas DIREITO DE AMAR é mais do que um filme de ator. O trabalho delicado de Ford merece atenção. Por mais que parte do público esteja achando todo o fetichismo do diretor com roupas, óculos, carros e objetos de decoração pura frescura. Alguns dizem que o filme parece um longo comercial de óculos ou roupas. Não concordo. Pra mim, o estilista/diretor tem futuro no cinema, se desejar seguir mesmo o caminho. A narrativa lenta, os closes, o tom melodramático, a música de fundo de Abel Korzeniowski, com muitos violinos, tudo contribui para um belo resultado.

O filme mostra um dia na vida do professor George Falconer e sua decisão de tirar a própria vida. Há tempos ele vive infeliz. Desde a morte de seu companheiro num acidente de carro. Flashes de momentos do passado de George nos situam. Mais do que um filme sobre relacionamentos homossexuais, DIREITO DE AMAR é sobre um homem que deseja tirar a própria vida. Como O DIABO PROVAVELMENTE, de Robert Bresson, e O GOSTO DE CEREJA, de Abbas Kiarostami. Julianne Moore é uma coadjuvante de luxo, no papel da melhor amiga de George, também viúva e que sente atração física pelo amigo gay. O desfecho é muito bonito.

quarta-feira, março 10, 2010

CIDADÃO KANE (Citizen Kane)























PB: O que você achou quando ganhou o Oscar de melhor roteiro original?
OW: Você é um inferno. Sempre neguei isso. Sempre fingi não ter ganho um Oscar.
PB: Bom, o filme foi indicado a nove categorias, aquele ano, para diretor e...
OW: Esqueça. Está estragando tudo.
(Entrevista de Orson Welles a Peter Bogdanovich em "Este É Orson Welles")


Acho que nunca consegui amar de verdade CIDADÃO KANE (1941) pelo fato de o filme ser muito escuro. A fotografia excessivamente contrastante acaba me dando dor de cabeça e diminui o prazer que geralmente se sente vendo um grande filme. Também não me emociono com o drama dos personagens e acaba sendo um filme que vejo com certo distanciamento, de forma analítica. Mas é o tipo de obra que deve ser revista pelo menos de dez em dez anos. Das duas vezes que tinha visto, foi em vhs, o da Continental e aquele da coleção Altaya, lançado em banca. Já faz um tempão. Com o tempo, com o conhecimento de cinema que a gente vai adquirindo, os aspectos formais que tornaram o filme tão famoso vão se tornando mais visíveis.

Desta vez, a apreciação do filme veio com um pacote, contendo o livro de entrevistas "Este É Orson Welles" e o documentário presente no dvd duplo da Warner A BATALHA POR CIDADÃO KANE (1996). Com o documentário, eu fiquei sabendo até mesmo o que é "rosebud". Seriam as "partes pudendas" de uma das esposas de William Randolph Hearst. Uma das várias provocações de Welles a Hearst. Não é pra menos que o magnata ficou tão puto com o diretor. E por pouco o negativo não foi destruído. A palavra "rosebud" é discutida até hoje, como sendo um dos maiores enigmas do filme.

O que mais impressiona, vendo CIDADÃO KANE e sabendo a trajetória de Orson Welles, é o quanto o diretor se tornaria parecido com o protagonista de seu mais famoso filme. É como se ele tivesse sido possuído pelo espírito de sua criatura. Interessante que, durante a entrevista, Welles demonstrou muita má vontade de falar sobre seu primeiro filme. Talvez porque seja sempre o filme de que todo mundo quer falar a respeito. Ainda assim, Bogdanovich conseguiu tirar muita coisa dele. E histórias interessantes aparecem, como a luta pelo seu filme; a má distribuição que teve, por causa da forte influência de Hearst nos meios de comunicação; o dia do encontro de Welles com Hearst; a importância do diretor de fotografia Greg Toland; entre outras curiosidades.

CIDADÃO KANE sofre da síndrome de primeiro filme, da vontade de mostrar muito serviço. Mas é justamente por isso que é tão admirado por cinéfilos e estudiosos de cinema. A profundidade de campo realmente impressiona. Principalmente numa das primeiras cenas, a que mostra a infância de Kane. Welles também usou muitas trucagens, que ficaram perfeitas na fotografia em preto e branco. Outra coisa inédita foi não mostrar os créditos no início. O filme já começa com aquele falso documentário ("A Marcha do Tempo"), que na minha memória era muito mais longo. Depois entra a sequência de Kane morrendo com tomadas de teto e outras aproximadas, da mão e da boca. Pensando no filme, ele cresce muito mais do que assistindo.

terça-feira, março 09, 2010

VÍRUS (Carriers)






















Filmes apocalípticos sempre nos deixam tranquilos quanto às várias possibilidades de destruição do nosso planeta. Pode ser através de uma guerra de proporções nucleares, de grandes desastres naturais ou por um potente vírus ou bactéria que é contraído no ar e tem efeito instantâneo. O cinema oferece outras opções de fim de mundo, como invasões alienígenas e ataques de zumbis, mas como até o momento não houve ameaça real de nenhum desses dois casos, fiquemos com as três primeiras opções, que já causam estrago suficiente.

VÍRUS (2009), dos espanhóis Àlex e David Pastor, mostra o que aconteceria se o planeta fosse atacado por um vírus letal. Lembra os filmes de zumbis romerianos, ainda que traga uma abordagem bem própria. Começa com dois rapazes e duas moças dentro de um carro numa estrada. Não há nenhuma apresentação inicial do que está ocorrendo no mundo nem diálogos muito explicativos. Através do curso da ação, os irmãos Pastor nos situam no que está havendo. Logo nos primeiros minutos uma caminhonete interrompe a passagem do carro do grupo na estrada. Um homem está querendo ajuda. Sua filha pequena está com uma máscara cobrindo nariz e boca, o que já é indício de que ela está contaminada. Instala-se um clima de tensão e medo e é a partir daí que vemos a gravidade da situação. A luta é pela sobrevivência, custe o que custar. A gasolina vale mais do que água nesse mundo.

Entre os vários méritos de VÍRUS está o de não banalizar os clichês dos filmes de horror. Isso o torna bem diferente da maioria dos filmes do gênero. A atmosfera instalada é de constante tensão e mesmo os alívios cômicos não causam tanto alívio assim, como na sequência do golfe. Interessante também a inversão de papéis quanto a quem a gente imagina que seja o protagonista, com uma mudança de ênfase do meio para o final. Trata-se de uma estreia e tanto para uma dupla de estrangeiros nos Estados Unidos, que até então só tinham no currículo dois curtas-metragens. Esperamos que a carreira dos dois irmãos seja próspera e brilhante, de preferência dedicada ao cinema de horror.

segunda-feira, março 08, 2010

OSCAR 2010

























A principal mudança do Oscar 2010 todo mundo já sabe: o número de indicados para a categoria de melhor filme, de cinco para dez. Quanto às mudanças na cerimônia, a mais sentida foi a completa retirada dos números musicais. Por um lado, fiquei feliz com isso, afinal, a maioria das canções indicadas são meio xarope mesmo e deviam significar o maior índice de saídas para ir ao banheiro ou fazer uma boquinha. Mas, pô, eu estava ansioso para ver a Marion Cotillard cantando e dançando na festa e nem ela eu vi. Sacanagem. Mas tudo bem. O que compensou um pouco essa falta foram os apresentadores. Há tempos não escalavam uma dupla que desse tão certo. Steve Martin e Alec Baldwin estavam perfeitos e brincaram com Meryl Streep na plateia, lembrando o triângulo amoroso de SIMPLESMENTE COMPLICADO. Brincaram também com os demais indicados, atores, atrizes e diretores. E a piada dos óculos para enxergar o James Cameron foi ótima. :)

Aliás, James Cameron foi zoado pelo menos mais duas vezes durante a cerimônia. E acabou perdendo o Oscar para a ex-esposa e o seu GUERRA AO TERROR. O que pra mim foi uma vitória bem satisfatória. O Oscar não tem obrigação de premiar o filme mais caro, como deu a entender Rubinho, dizendo que a Academia deu um tiro no próprio pé, ao não dar os prêmios principais para AVATAR. Falando em Rubinho, não sou muito de pegar no pé dele, mas na hora que James Taylor cantou "In my life" em homenagem aos mortos do ano passado, eu fiz questão de calar a boca do apresentador com a tecla SAP. O cara ficar tagarelando atrapalha a beleza de um momento tão bonito.

Outro momento especial, o melhor da noite, na verdade, foi a homenagem feita a John Hughes. Quem tem mais ou menos a minha idade tem um carinho especial pelos filmes dirigidos por ele nos anos 80. Deu uma vontade de rever aquilo tudo. Mas a homenagem que pra mim não funcionou foi a dos filmes de horror. Foram escolhidos só obras bem conhecidas e na "falta de outras opções", colocaram várias cenas de O ILUMINADO. A melhor "homenagem" ao cinema de horror foi mesmo a piada que Steve Martin e Alec Baldwin fizeram em cima de ATIVIDADE PARANORMAL. Mas triste mesmo foi a homenagem às avessas a Roger Corman e Lauren Bacall. Puta falta de respeito com dois nomes tão importantes da história do cinema.

Quanto aos prêmios, o que me deixou mais feliz foi, de longe, o Oscar para Sandra Bullock. Que mulher encantadora e cheia de senso de humor. Jeff Bridges foi outra pessoa querida que foi recebida de pé. Todo mundo gosta do "Dude". Como o prêmio para Christoph Waltz já era certeza, o legal mesmo foi ver Kathryn Bigelow tomando o prêmio das mãos do ex-marido e entrar para a história como a primeira mulher a vencer o prêmio de melhor diretor. E com um filme de ação. A Imagem Filmes vai agora ter que ampliar o circuito de exibição de GUERRA AO TERROR nos cinemas.

O saldo final foi positivo. Apesar dos prêmios para PRECIOSA, do número de dança chato e da pressa de Tom Hanks para falar o nome do filme campeão. Abaixo, Rachel McAdams e Demi Moore, as mais belas da noite.


Lista dos vencedores

Melhor filme - GUERRA AO TERROR
Melhor diretor - Kathryn Bigelow (GUERRA AO TERROR)
Melhor ator - Jeff Bridges (CORAÇÃO LOUCO)
Melhor atriz - Sandra Bullock (UM SONHO POSSÍVEL)
Melhor ator coadjuvante - Christoph Waltz (BASTARDOS INGLÓRIOS)
Melhor atriz coadjuvante - Mo'Nique (PRECIOSA)
Melhor animação - UP - ALTAS AVENTURAS
Melhor roteiro original - GUERRA AO TERROR
Melhor roteiro adaptado - PRECIOSA
Melhor filme estrangeiro - O SEGREDO DE SEUS OLHOS (Argentina)
Melhor direção de arte - AVATAR
Melhor fotografia - AVATAR
Melhor figurino - A JOVEM RAINHA VITÓRIA
Melhor edição - GUERRA AO TERROR
Melhor maquiagem - STAR TREK
Melhores efeitos visuais: AVATAR
Melhor trilha sonora - UP - ALTAS AVENTURAS
Melhor canção original - "The Weary Kind" (CORAÇÃO LOUCO)
Melhor edição de som: GUERRA AO TERROR
Melhor mixagem de som: GUERRA AO TERROR
Melhor curta de animação: LOGORAMA
Melhor curta-metragem: THE NEW TENANTS
Melhor documentário de longa-metragem - THE COVE
Melhor documentário de curta-metragem - MUSIC BY PRUDENCE

sexta-feira, março 05, 2010

EDUCAÇÃO (An Education)























Um dos mais simpáticos entre os dez indicados a melhor filme da edição do Oscar 2010, EDUCAÇÃO (2009) é o representante inglês da vez e entra em sintonia com a série MAD MEN, ao abordar os costumes de uma sociedade no início dos anos 1960. Na trama, Jenny, jovem adolescente do subúrbio de Londres (Carey Mulligan), com ótimas notas, que adora filmes e canções francesas e é pretendente a uma vaga na Universidade de Oxford, conhece David, homem com o dobro de sua idade (Peter Sarsgaard), e se apaixona. Apesar da educação rígida que recebe dos pais - especialmente do pai (Alfred Molina) -, David tem lábia e consegue tudo o que quer: levá-la para um concerto, clubes de jazz e até mesmo Paris. A jovem fica encantada com o novo estilo de vida que leva e passa a questionar a importância de entrar na universidade, de ter que aprender latim e coisas do tipo.

O filme, dirigido pela dinamarquesa Lone Scherfig, de ITALIANO PARA PRINCIPIANTES (2000), tem um andamento tão agradável dentro de um duração acertada que está entre as melhores surpresas da temporada. Somos mais do que meros observadores na trama. Acompanhamos com interesse e certa identificação a euforia de Jenny, mesmo sabendo que em algum momento a trama daria uma reviravolta e a garota quebraria a cara. O filme também se destaca pela beleza visual, pelo cuidado com a direção de arte, ao mesmo tempo que não exibe o luxo de grandes produções. É uma produção modesta e bem conduzida que acabou por agradar a muitos. O que pode incomodar a alguns é o final um tanto moralista, mas não vejo isso como problema. Pelo menos, não no caso de EDUCAÇÃO.

Carey Mulligan tem 24 anos e faz o papel de uma menina de 16. A comparação com Audrey Hepburn levou a moça a ser convidada para o remake de MY FAIR LADY. Mesmo se o resultado não for dos melhores, pelo menos os produtores já garantiram uma jovem atriz que tem tudo para fazer bonito.

EDUCAÇÃO foi indicado a três Oscar: filme, atriz (Carey Mulligan) e roteiro (Nick Hornby). Das três indicações, a única com chance de ganhar um prêmio é a de roteiro, já que Nick Hornby tem uma boa legião de fãs. Fica faltando ver só o filme dos Coen agora pra eu fechar os dez indicados à categoria principal.

quinta-feira, março 04, 2010

O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG























"O segredo não é descobrir o que as pessoas escondem, e sim entender o que elas mostram."
Benjamin Schianberg


Alguém que entra na sala de cinema para assistir O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG (2010) sem saber do que se trata vai encontrar um objeto bem estranho pela frente. A começar pelo título: afinal, quem é B. Schianberg? O que ele diz do amor? Por que a imagem é tão granulada, o som ruim e os enquadramentos estranhos? Além do mais, o filme começa sem muitas explicações. O espectador desinformado não sabe da experiência de Beto Brant de fazer uma espécie de reality show alternativo. E mesmo para quem sabe um pouco do projeto, vêm as dúvidas. Até onde vai a liberdade que o diretor dá para que seus "atores" façam o que quiserem? Teria ele dado instruções? Ou ao menos incentivado algo? Ou deixou para o jovem casal pintar e bordar e esperar pelo elemento acaso gerar grandes momentos? Ainda não tenho respostas para todas essas perguntas, mas fiquei sabendo que o tal sujeito do título é Benjamin Schianberg, que só existe como personagem do romance "Eu receberia as piores notícias dos seus lindos lábios", de Marçal Aquino. O personagem é uma espécie de filósofo do amor e achei que o trecho descrito acima resume um pouco o sentido do filme. Aquino já tem um forte vínculo com Brant, tendo roteirizado o próprio romance em O INVASOR (2002), uma das melhores obras do cineasta e um filme que fechou um ciclo de flerte com o cinema policial, iniciado com OS MATADORES (1997).

A partir de CRIME DELICADO (2005) e CÃO SEM DONO (2009), Brant passou a seguir outro rumo. Um rumo bem mais ousado, experimental, distante do cinema comercial. CRIME DELICADO, por exemplo, namorava explicitamente o teatro. O AMOR SEGUNDO B. SCHIANBERG flerta com as artes plásticas também. Traz discussões interessantes sobre a importância da arte em detrimento da vida. Gero Camilo, que aparece como um dos amigos do casal no filme, fala que a arte nunca será mais importante que a vida, já que sem a vida a arte não existiria. Mas até que o filme não tem muito papo-cabeça, não.

Os protagonistas são um ator de teatro e uma videomaker. A beleza dos corpos, que já havia sido explorada nos dois trabalhos anteriores de Brant continua no novo filme. Seus corpos nus são expostos e há um interessante diálogo acerca do valor da juventude. A bela videomaker beija o próprio corpo, mesmo sabendo de sua efemeridade. Inclusive, confesso que um dos pontos altos do filme para mim é a sequência em que ela tira a roupa para filmar uma de suas experimentações como artista. O resultado da experiência do espelho quebrado pode ser visto no final, quando vemos o trabalho dela como videoartista.

Pensei que ia achar o filme mais monótono, mas até que é bastante interessante, embora no final não tenha me dito muita coisa. Permaneceu um objeto estranho. Por outro lado, eu gosto de objetos estranhos. E uma experiência desse tipo, mesmo que não tenha resultado numa grande obra, é bastante válida. E diferente de um Big Brother, que dá tempo para que o espectador se familiarize com os participantes, a ponto de ficar ollhando-os dormindo ou não fazendo nada de interessante num pay-per-view, tanto o filme quanto a minissérie são trechos de um vasto material, filmado de várias câmeras espalhadas pelo apartamento. O meu lado fã de filmes exploitation sentiu mais falta de momentos mais eróticos. Mas valeu pelo enigmático do que é mostrado e do que é escondido e pela experiência original.

quarta-feira, março 03, 2010

UM SONHO POSSÍVEL (The Blind Side)























Não deve ter sido muito bom para a Academia ter mudado o número de indicados à categoria principal justo num momento em que a safra de filmes é tão fraca. Se normalmente apenas dois dentre os cinco indicados a melhor filme chegavam mesmo a ser ótimos, essa diferença se torna ainda mais evidente quando se tem dez títulos. E os dramas, aqueles com mais cara de Oscar mesmo, estão muito aquém, em qualidade, da média normalmente vista. Não faz muito tempo que os primeiros meses do ano estavam entre os melhores em quantidade de ótimos lançamentos no circuito. Neste ano, porém, a situação não é das melhores. Mas diante desse quadro ainda é possível ver algo de bom. No caso de UM SONHO POSSÍVEL (2009), está o desempenho de Sandra Bullock, que aos poucos está conquistando o respeito de votantes e crítica.

Sempre gostei muito de Bullock. Foi a partir da comédia romântica ENQUANTO VOCÊ DORMIA que eu passei a prestar mais atenção nela. Sua filmografia é bem irregular, mas mesmo em filmes menores, ela frequentemente se destaca, mostra o que torna uma pessoa normal em estrela. Algo que vai além da beleza física. Em UM SONHO POSSÍVEL ela está ótima, como uma mulher que resolve cuidar de um enorme rapaz negro que não tem onde morar e está se esforçando para continuar numa escola, apesar de suas notas baixas e da dificuldade de se comunicar com os demais alunos e com os professores.

A história de alguém que foi sempre rejeitado pela sociedade, que só conheceu o sofrimento e que encontra enfim amor e conforto tem como seu melhor representante O HOMEM ELEFANTE, de David Lynch. A semelhança me ocorreu na cena em que Big Mike ganha um quarto, que é pra mim o momento mais emocionante do filme. Principalmente pela interpretação contida de Sandra Bullock, que quer se mostrar durona e sempre sai de cena quando os canais lacrimais parecem querer entrar em ação.

UM SONHO POSSÍVEL também pode ser categorizado como "filme de esporte", já que há muitas cenas envolvendo futebol americano. Muito do filme, aliás, é bem próprio da cultura americana, como os nomes dos times, das universidades e o fato de a protagonista ser republicana e a personagem de Kathy Bates, democrata. O filme até nada contra a corrente, pintando uma visão bem mais simpática dos republicanos. Não chega a ser um bom filme, mas também não aborrece. O problema está principalmente no fato de todos da família que adota o rapaz não apresentarem nenhuma resistência a aceitar o estranho na família, o que me pareceu inverossímil, embora seja baseado em fatos reais. Fica parecendo mais filme indicado para se ver em escolas, para formação de um cidadão melhor.

Vi o filme antes da estreia nos cinemas como forma de protesto. Sua estreia está marcada para o dia 19 de fevereiro, duas semanas depois da cerimônia de entrega do Oscar.

UM SONHO POSSÍVEL foi indicado a dois prêmios da Academia: filme e atriz.

terça-feira, março 02, 2010

NINE























Tempos estranhos esses. O mundo anda louco. Terremotos, maremotos, calor ao extremo por essas bandas. E, pra completar, eu gostei de um filme do Rob Marshall! CHICAGO (2002) e MEMÓRIAS DE UM GUEIXA (2005) estão entre os piores filmes que eu já vi. Mas o que NINE tem de bom? Antes de mais nada, tem Daniel Day-Lewis. Que é um ator que sempre me impressiona, que enche a tela com sua força extraordinária. Em NINE ele me pareceu mais magro e corcunda, mais estranho. E ainda que os melhores números musicais não sejam dele, mas das mulheres, nos momentos dramáticos, nas pausas constantes entre um número musical e uma cena falada, ele está lá com alguma mulher bonita, ou com um par de óculos escuros bonito ou um carrão bonito, dentro de um cenário italiano bonito. Aliás, tudo parece tão bonito que às vezes fica meio brega. Mas só às vezes. Marshall faz um mix do estilo usado em CHICAGO - mais de simples transposição da peça da Broadway - e adiciona outros recursos, mais estilosos e cinematográficos. Afinal, se a peça queria homenagear 8 E 1/2, de Fellini, o filme deveria fazer isso com muito mais propriedade, não é?

Quanto às canções e interpretações, nenhuma supera a de Marion Cotillard. De longe, a minha favorita de todas as musas mostradas no filme. Ela interpreta a esposa de Guido (Day-Lewis), o cineasta que se encontra numa crise criativa, mas que tem a cara de pau de anunciar um filme de título bem ambicioso: "Itália". Perguntado numa entrevista coletiva se o título não seria por demais pretensioso, ele afirma que o cinema é uma arte muito cara; é preciso ser pretensioso mesmo. Não tiro a sua razão. Mas voltando a Marion Cotillard, além de ela estar linda em todos os momentos, as melhores canções são cantadas por ela.

As outras musas a tornarem o filme atraente até para quem não gosta de musicais são: Nicole Kidman (parecendo muito com certa musa italiana dos anos 60); Penélope Cruz, que tem os momentos mais próximos do erótico do filme, com a câmera se aproximando bastante de seu corpo; Fergie, num número interessante que usa o preto e branco e forte vermelho; Kate Hudson, um pouquinho acima do peso, mas ainda assim linda, cantando a mais lembrada do filme, "Cinema Italiano"; Judi Dench, bem mais simpática do que o normal; e Sophia Loren funcionando mais como uma figura mítica, mas também quase como uma peça de museu. Assisti o filme uma poltrona à frente de um crítico de cinema de um jornal local e ele bateu palmas sozinho em certa cena com Sophia.

NINE foi indicado a quatro Oscar: atriz coadjuvante (Penélope Cruz); direção de arte; figurino; e canção original. A canção escolhida foi "Take it all", cantada, adivinhem por quem? Marion Cotillard. Torcendo pra que seja ela a cantar na cerimônia. Confiram o clipe.

segunda-feira, março 01, 2010

SIMPLESMENTE COMPLICADO (It's Complicated)























Nancy Meyers tem se firmado como uma das mais importantes diretoras de comédias românticas da atualidade. Não exatamente pela qualidade de suas obras, mas porque seus filmes têm regularidade, temas recorrentes e a marca da autora. Vendo SIMPLESMENTE COMPLICADO (2009) eu percebi o quanto os seus filmes têm um "feel good" e um cuidado que poucos filmes do gênero têm. Estão longe de serem geniais, mas também não merecem o desprezo da audiência. E com SIMPLESMENTE COMPLICADO - assim como aconteceu com ALGUÉM TEM QUE CEDER (2003) - pode-se dizer que ela já tem um público certo e amplo, já que também conta com a turma que já passou dos cinquenta e pode se identificar e se divertir com os personagens e as situações.

Na trama, Meryl Strep é uma mulher divorciada que aos poucos está ficando sozinha em casa, já que seus filhos crescidos estão saindo para cuidarem de suas vidas. Ela tem uma relação mais ou menos amigável com o ex-marido (Alec Baldwin), que hoje é casado com uma mulher bem mais jovem que ela. Ela e o ex-marido cometem uma loucura numa viagem para Nova York, quando viajam para a festa de formatura do filho mais novo. Carentes de afeto e com umas bebidas na cabeça, os dois vão parar na cama e passam a ter um caso. Ao mesmo tempo, surge um interesse romântico com o também divorciado arquiteto interpretado por Steve Martin. E forma-se um divertido triângulo amoroso.

O barato do filme é que há momentos de comédia escrachada, como a sucessão de cenas envolvendo um baseado. A sequência da webcam também se destaca e já é conhecida de quem viu o trailer nos cinemas. Mas no geral, SIMPLESMENTE COMPLICADO se preocupa em mostrar com carinho as necessidades sexuais e afetivas de pessoas que já passaram da meia-idade. Detalhes como a nudez ou a maior fragilidade física que o tempo traz quando leva embora a juventude são mostrados de modo a causar empatia com o espectador, ainda que ele não tenha chegado lá ainda. Outro trunfo do filme é John Krasinski, o Jim Halpert de THE OFFICE, que tem pelo menos três grandes e engraçados momentos.

Curiosamente, apesar de ter sido bem cotado no Globo de Ouro, SIMPLESMENTE COMPLICADO não recebeu nenhuma indicação ao Oscar 2010.

P.S.: Saiu a nova edição da Revista Zingu!, que continua o precioso resgate de figuras importantes e pouco lembradas do cinema brasileiro. Desta vez, o homenageado é José Lopes, o Índio. Destaque também para o especial Anselmo Duarte e a eleição dos melhores de 2009 pela equipe da revista. Boa leitura!