domingo, fevereiro 29, 2004

CRONOS



Acabei de assistir CRONOS (1993), o primeiro filme de Guillermo Del Toro. E, ao contrário dos seus filmes feitos em Hollywood, esse trabalho independente realizado no México é excelente e um dos filmes sobre vampirismo mais originais e envolventes que eu tive o prazer de ver.

E olha que eu nunca fui muito fã do diretor. Até então só tinha gostado de A ESPINHA DO DIABO (2001), drama histórico com elementos sobrenaturais dos mais interessantes. Mas tenho que dar o braço a torcer. Mesmo em filmes como MUTAÇÃO (1997) e BLADE II (2002), ele coloca uma marca sua, que é, principalmente, a figura do escaravelho. Parece que há uma obsessão do autor por esse inseto.

Em CRONOS, há um besouro dentro de um mecanismo em forma de escaravelho que ao contato com a pele injeta um fluido de sangue no corpo da pessoa e ela pode ter sua vida prolongada. Esse mecanismo foi criado por um antigo alquimista, de acordo com a introdução mostrada logo no início do filme. Passam-se anos e um vendedor de antigüidades encontra o tal objeto de metal e experimenta do seu poder.

Gostei bastante do andamento do filme, das atuações, dos efeitos especiais e maquiagens (apenas usados quando necessários) e dos momentos finais. Especialmente do final. Geralmente a maioria dos filmes de terror me desapontam no final, quando tudo vira uma salada de clichês tediosa. Aqui não. O filme consegue ser até poético apesar de toda a tragédia aterradora. Outra coisa interessante é que o filme não recorre à religiosidade cristã como na maioria dos filmes de vampiro. Mais um ponto a favor – deixando claro que eu não estou reclamando dos filmes de vampiro da Hammer ou de outros clássicos. Só acho que um pouco de criatividade e originalidade é sempre bem vindo.

Lendo as resenhas no site da Amazon, soube que o filme, quando estreou no México, passou em apenas 10 salas de cinema e apenas na Cidade do México. E rapidamente saiu de cartaz. Depois, o filme passou no Festival de Cannes e ganhou o prêmio da semana da crítica. Mas, apesar dessa falta de respeito com o filme, CRONOS hoje é considerado o primeiro grande filme de horror mexicano. Tomara que HELLBOY seja pelo menos tão brilhante quanto o filme de estréia do diretor.

Filme visto em divx, cortesia do amigo Herbert.

sábado, fevereiro 28, 2004

CONTO DE VERÃO (Conte D’Eté)



Hoje foi dia de conferir mais um filme dos “Contos das Quatro Estações” de Eric Rohmer. Tenho achado extremamente prazeirosas essas manhãs de sábado na companhia desses filmes maravilhosos. Pra vocês terem uma idéia, nesse ano, que ainda considero fraco em relação a cinema, as melhores coisas que eu vi foram justamente os filmes do Rohmer. E espero que continuem a exibir vários outros filmes dele aqui na cidade. Surpreendentemente, a sala de cinema estava cheia hoje, apesar da chuva que varreu a cidade pela manhã. O que mostra que há um público fiel a esse tipo de filme. (Se bem que a maioria das pessoas eram de mais idade. Havia poucos adolescentes.)

Em CONTO DE VERÃO (1996), Rohmer dá um tempo nos diálogos filosóficos vistos em CONTO DE INVERNO (1992) e coloca jovens comuns, não-intelectuais, no seu jogo do acaso. O acaso parece ser uma característica forte nesses Contos. Na história do filme, Gaspard é um jovem que vai passar o verão numa praia na Bretanha, esperando por Léna, uma moça por quem está apaixonado. Ela demora a aparecer e ele conhece uma garota chamada Margot. Eles tornam-se amigos e passeiam todos os dias na praia. Numa festa, Gaspard conhece Solène, uma sensual morena por quem ele fica interessado. A coisa complica quando Léna aparece e ele começa a achar que gosta de Margot. Gaspard fica na dúvida sobre com qual das três moças ficará. (Se fosse eu, ficaria na dúvida só entre Margot e Solène.) O filme vai ficando engraçado à medida que as confusões da vida amorosa do rapaz vão se tornando mais complicadas.

É um filme sobre a dúvida e o acaso, sobre personagens que agem diferentemente do que falam, sobre a dificuldade de se fazer escolhas. Interessante ver esse tipo de personagens no cinema. Normalmente, os filmes mostram pessoas determinadas, decididas, o que não é uma realidade na vida real. Por isso que a impressão que temos ao ver esse filme é que a câmera está capturando uma situação real, quase um reality show.

Assim como em CONTO DE INVERNO havia uma protagonista se esforçando para escolher entre os pretendentes, aqui temos um jovem diante duma situação parecida. Comparando os dois filmes, acho que ainda gosto mais de CONTO DE INVERNO, por causa do amor idealizado, do romantismo e do clima de fábula. Mas em se tratando de imagens, o CONTO DE VERÃO é bem melhor.

Mais um belo exemplar da simplicidade complexa desse grande diretor já octogenário.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

MILLENNIUM ACTRESS (Sennen Joyu)



O segundo longa-metragem de Satoshi Kon é impressionante. Depois do ótimo PERFECT BLUE (1997), ele surpreende com um filme de gênero diferente: MILLENNIUM ACTRESS (2001). Sai o suspense inspirado em DePalma e Argento e entra uma história sobre o amor que insiste em continuar apesar de todos os sofrimentos e obstáculos. Não que não haja pontos em comum entre os dois filmes, mas aqui há uma leveza de espírito que contrasta com a paranóia pesada de PERFECT BLUE.

Na história do filme, Chiyoko é uma famosa atriz japonesa que está aposentada das telas aos seus 70 anos de idade. Ela abandonara o cinema trinta anos atrás. Genya é o homem que pretende dirigir um documentário sobre a vida da estrela. Ele chega acompanhado de seu cameraman Kyoji para uma entrevista com Chiyoko. Ela se surpreende quando ele lhe traz uma antiga chave, um objeto muito importante pra ela. Essa chave é a porta para uma viagem na história de Chiyoko, do cinema e até do próprio Japão.

A exemplo do que fez Bergman em MORANGOS SILVESTRES (1957), Kon utilizou o recurso dos espectadores dentro da ação no próprio flashback (no caso os espectadores são Genya e Kyoji).

O filme é tão envolvente que, mesmo nos momentos em que mal sabemos se o que está na tela é real ou faz parte de um dos filmes da atriz, ainda assim nos sentimos absorvidos de tal maneira que é como se fôssemos de verdade projetados para aquele mundo, para aquelas diferentes épocas. Entramos em contato com o Japão feudal, com a revolução Meji e a industrialização, com a 2ª Guerra Mundial e o progresso no pós-guerra. Tudo paralelamente à história de amor de Chiyoko e sua busca incessante pelo homem misterioso por quem se apaixonara.

O mais impressionante de tudo é que praticamente esquecemos que estamos vendo um desenho animado. Os “movimentos de câmera” são impressionantes. Há uma cena em particular que me emocionou pela beleza do conjunto animação + música: a cena em que Chiyoko corre desesperada para a estação a fim de ainda encontrar o homem por quem se apaixonara. É como se tivesse de fato uma câmera na frente dela, enquanto a neve cai na cidade. Aquilo é lindo, hein. Outra sacada genial acontece quando vemos as cenas pela perspectiva do cameraman, quando vemos a imagem tremer sutilmente.

Tremer também é outra palavra chave no filme. A protagonista nasceu durante um terremoto e os tremores de terra acontecem com freqüência durante o filme. Indiretamente, isso acaba servindo pra mostrar a força do povo japonês, que mesmo com tantos terremotos e guerras (incluindo duas bombas atômicas) foi capaz de se levantar e se tornar uma potência mundial.

Agora é esperar que apareça em minhas mãos o mais recente filme de Satoshi Kon: o premiado TOKYO GODFATHERS. Hoje soube na lista Cinefelia que ele está com um novo filme que estreou há pouco tempo na tv a cabo japonesa. Chama-se PARANOIA AGENT. Na trilha sonora, o mesmo músico de MILLENIUM ACTRESS. Te cuida, Miyazaki!

Filme visto em divx, cortesia do amigo e especialista em animes Marcelo Reis.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

ERASERHEAD



Finalmente, depois de anos de expectativa e graças à camaradagem dos amigos (no caso, o Herbert) e às facilidades que a internet proporciona, consegui uma cópia muito boa de ERASERHEAD (1977), o filme de estréia de David Lynch. E o que eu tenho a dizer? Que Lynch começou arrebentando e já emplacou uma obra-prima logo no comecinho da carreira. Ele pertence ao grupo dos que chegaram abalando de que fazem parte Tarantino, Truffaut, Godard, Leone e Romero.

Com pouquíssimos diálogos, andamento lento, belíssima fotografia em preto e branco e as esquisitices típicas do cinema de Lynch, ERASERHEAD dá início a uma série de símbolos que apareceriam em várias outras obras do diretor.

Algumas das características presentes em várias obras de Lynch e que estão presentes no primeiro longa-metragem:

- O zoom adentrando a escuridão surge em ERASERHEAD, revelando ou penetrando um mundo misterioso, assim como acontece nas cenas da orelha escondida na grama em VELUDO AZUL (1986) e da caixa azul em CIDADE DOS SONHOS (2001).

- A loira e a morena. Em VELUDO AZUL, Jeffrey se divide entre o amor inocente da loira Sandy e a explosão de sensualidade da morena Dorothy. Na série TWIN PEAKS (1990), Sheryl Lee personifica tanto a misteriosa Laura Palmer (loira) quanto a sua prima Madeline(morena). Em A ESTRADA PERDIDA (1997), Patricia Arquete é uma loira que morre e retorna no corpo de uma morena na mente do protagonista. Em CIDADE DOS SONHOS e DARKENED ROOM (2002), também vemos as figuras de uma loira e uma morena fazendo contraste. Tudo isso, já estava presente em ERASERHEAD: o protagonista tem um filho com uma loira e sente-se atraído pela prostituta morena que mora no apartamento vizinho.

- A planta no quarto já era uma idéia presente e explorada mais profundamente no curta THE GRANDMOTHER (1970).

- O próprio título do filme (eraserhead, cabeça de apagador) já é um símbolo na filmografia de Lynch. Numa cena espetacular de ERASERHEAD, a cabeça de Henry é reciclada e transformada num apagador de lápis. Apagar é verbo chave. Apagar da memória lembranças traumáticas. Como Bill Pullman, que depois de matar a esposa em A ESTRADA PERDIDA, muda de personalidade para fugir do inferno da realidade. Da mesma forma, Naomi Watts, depois de matar a mulher amada, decide inventar uma nova vida pra si em CIDADE DOS SONHOS.

- As cortinas escuras (geralmente vermelhas) como num teatro. Como na abertura de cada episódio de RABBITS (2002). Como no Clube Silenzio de CIDADE DOS SONHOS ou no Red Room de TWIN PEAKS e TWIN PEAKS: OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER (1992).

- A figura de uma mulher cantando também se inicia em ERASERHEAD. No caso desse primeiro filme, Lynch preferiu colocar uma mulher com deformações no rosto, em vez das mulheres bonitas ou de voz angelical presentes nos filmes posteriores, como Isabella Rosselini (VELUDO AZUL), Julee Cruise (TWIN PEAKS: OS ÚLTIMOS DIAS DE LAURA PALMER) e Rebekah Del Rio (CIDADE DOS SONHOS e RABBITS).

Na trama de ERASERHEAD, Henry Spencer (interpretado por Jack Nance, ator assassinado em 1996) é obrigado a se casar com Mary X, que segundo a família da moça, acabou de ter um filho seu. O problema é que o filho deles tem uma aparência monstruosa e Henry vê a sua vida se tornar um pesadelo, forçando-o a procurar um paraíso dentro de seu inconsciente, de seus sonhos.

O filme levou cinco anos pra ficar pronto. No meio das filmagens, acabou o dinheiro e Lynch teve que suspender a produção durante um tempo. Lynch tem um histórico de dificuldades de conseguir financiamento para seus filmes que continua até os dias de hoje.

Sobre a interpretação dos simbolismos presentes no filme, o cineasta não falava nada nem para o elenco. Segundo ele, seus filmes são comparados ao teste de Roscharch e a interpretação de qualquer espectador é válida. Até mesmo os efeitos especiais usados na criatura são guardados em segredo. Lynch não quer que seu trabalho seja analisado apenas como um efeito técnico, mas como algo tão misterioso quanto a temática do filme.

Bom, agora já posso dizer que vi todos os curtas e longas do Lynch. Mas pra ficar completo precisaria ver os episódios da série ON THE AIR (1992) e da segunda temporada de TWIN PEAKS, bem como o musical surrealista feito para a tv INDUSTRIAL SYMPHONY No. 1: THE DREAM OF THE BROKEN HEARTED (1990). Espero um dia conseguir vê-los.

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

PEIXE GRANDE (Big Fish)



Eita mas que diazinho dos infernos. Voltei a trabalhar. Acabaram-se as férias e como tentei ignorar minha conta-corrente para evitar me estressar nas férias, quando chego, vejo que pra botar a casa em ordem é preciso mais dinheiro do que eu supunha. Isso me deixou tenso pra caramba. Ainda bem que eu não viajei. Se tivesse feito isso estaria mais fudido ainda. Uma massagem nas costas bem que podia ajudar a aliviar. Mas deixa pra lá.

Está faltando eu comentar PEIXE GRANDE, de Tim Burton, que vi na segunda-feira. Vamos lá, então.

É o seguinte: sempre que muitos falam que certos filmes são bastante emotivos e capazes de levar o espectador às lágrimas eu fico logo animado pra vê-lo. Pois bem, depois dos comentários nos blogs da Fer Guimarães e do Rodrigo, lá fui eu conferir o novo Burton esperando uma sessão de choros e lenços. Não foi bem isso que aconteceu. De certa forma, eu até fiquei decepcionado com esse novo trabalho dele.

PEIXE GRANDE é um filme cujo ritmo irregular estraga o ótimo começo. Mesmo assim, destaco ótimos momentos. O melhor momento pra mim é a cena em que Ewan McGregor encontra a mulher da vida dele (a ótima Alison Lohman). Ele fala que quando a gente encontra a nossa cara-metade, o tempo para. «Curiosamente, eu me lembrei de imediato de uma grande paixão que eu tive quando eu tinha dezoito anos. Eu me lembro que eu tenho até hoje uma fotografia daquele momento na minha memória. O sorriso, a jovialidade e a beleza daquela menina ficaram eternizados no meu HD cerebral. Como se o tempo tivesse mesmo parado.» Burton acertou em cheio nessa seqüência ao tornar literal a expressão "o tempo parou". De uma beleza que chega a ser poética.

O filme é repleto de cenas memoráveis, graças às histórias inventadas (ou não) pelo pai do personagem de Billy Crudup. Eu gostei muito da seqüência da bruxa e do olho mágico; da cidade secreta; do gigante; e principalmente da cena do circo. A parte em que Ewan McGregor resolve trabalhar de graça num circo em troca de informações sobre sua amada durante muito tempo remete à história bíblica de Jacó e Raquel.

Até aí, beleza. O problema é que a parte do relacionamento entre pai e filho e a conseqüente morte do pai não despertaram em mim nenhum sentimento forte. É bonito. E só.

Meu Tim Burton favorito ainda é ED WOOD (1994), seguido pelA LENDA DO CAVALEIRO SEM CABEÇA (1999). O próximo filme dele promete. Afinal, vai ter parceria com o Johnny Depp de novo...

terça-feira, fevereiro 24, 2004

BETO BRANT, OZON E RINGU 0



Comento rapidamente três fitas alugadas durante o carnaval. Que, aliás, tem sido produtivo em se tratando de cinema. Vejam só! 1) Na última semana consegui comprar o livraço AFINAL, QUEM FAZ OS FILMES, de Peter Bogdanovich, graças à dica do Zezão. O livro custa 89 pilas na Submarino e eu comprei pela pechincha de 20 reais. 2) Adquiri também através de escambo digital com o Herbert filmes excelentes que há tempos queria ver, em divx, além de toda a série BAND OF BROTHERS. 3) Também ganhei outro anime imperdível do Marcelo. 4) Ontem a Valeria me emprestou o box da primeira temporada de FRIENDS, depois de uma tarde regada a “jogo, mulher e bebida” com a turma. 5) O Renato gravou pra mim uma fita com três filmaços de Truffaut, Mann e Brass. 6) E, pra completar, hoje comprei na King em promoção o DVD de SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, um dos filmes da minha vida. Pena que as minhas férias acabam junto com o carnaval e terei bem menos tempo de curtir essas delícias. Mas voltando aos filmes da locadora...

AÇÃO ENTRE AMIGOS

Ótimo filme de Beto Brant, que funcionou como exercício de estilo antes de ele se preparar pra dirigir O INVASOR (2002), o melhor filme brasileiro dos últimos cinco anos. Nesse filme de 1998, Brant faz um drama sobre quatro amigos que estão na casa dos 50 anos e que sofreram nas mãos dos terroristas da ditadura militar na época da repressão. A ação gira em torno da descoberta de que o sujeito que os torturava está vivo – o que lembra um pouco A MORTE E A DONZELA, do Polanski. O filme é curtinho, funciona muito bem com o jogo de flashbacks e termina de maneira inteligente. Beto Brant é o cara. Que projeto ele estará arquitetando agora? Pena que no Brasil o artista nunca sabe se conseguirá viabilizar o seu próximo trabalho.

SOB A AREIA (Sous le Sable)

Diferente dos outros filmes de Ozon que vi, sempre com toques de humor, esse é seríssimo. O humor é deixado de lado na história de uma mulher (Charlote Rampling, de SWIMMING POOL) que fica desesperada quando seu marido desaparece no dia em que eles vão à praia. Achei que fosse um filme parecido com A LIBERDADE É AZUL, do Kieslowski, ou com O TURISTA ACIDENTAL, do Kasdan, dois filmes que mostram pessoas tentando levar a vida após uma dolorosa perda. Mas, diferente desses dois filmes, Ozon preferiu mostrar a mulher tendo sua sanidade mental no limite: ela finge que o seu marido não desapareceu e conversa com ele todo dia. Não é o meu filme preferido do diretor, mas comprova que o cara é dos grandes no cinema francês atual.

RING 0: O CHAMADO – BIRTHDAY (Ringu 0: Bâsudei)

O terceiro filme japonês da série Ringu. Esse filme - que não é dirigido pelo Hideo Nakata dos anteriores - é um prequel da aterrorizante história de Sadako. É com esse filme que ficamos sabendo quem era a garotinha que ficava presa no poço no primeiro filme. RINGU 0 tem alguns momentos realmente arrepiantes, especialmente se você o assiste à noite. Difícil não sentir um calafrio na cena em que Sadako se movimenta assustadoramente para pegar uma vítima (os efeitos especiais funcionaram perfeitamente), ou sempre que sentimos a presença dos mortos. Nos EUA, O CHAMADO vai ter uma continuação. Será que farão um remake desse prequel também? Infelizmente no dia que fui alugar, RING 2 não estava disponível. Fica pra próxima. O horror japonês está em alta e até Walter Salles já se rendeu ao talento nipônico. Além de ter adorado RINGU 0, ele agora fazendo um remake de DARK WATER, de Nakata, com um elenco internacional encabeçado pela maravilhosa Jennifer Connelly.

segunda-feira, fevereiro 23, 2004

DOGVILLE



DOGVILLE, o filme-polêmica do momento, é filme irmão de DANÇANDO NO ESCURO (2000), do mesmo Lars Von Trier. Acho que por isso não gostei – por se parecer com seu antecessor. Se no filme ganhador da Palma de Ouro, o sofrimento e a submissão da protagonista Björk chegava ao nível do insuportável, aqui a coisa se torna menos mau por termos uma excelente atriz como Nicole Kidman encabeçando o elenco e dando mais credibilidade à trama.

DOGVILLE é um filme às vezes bonito plasticamente. Gostei bastante da cena da Nicole no meio das maçãs e das cenas de cima, mostrando o mapa de Dogville. Também não dá muito pra reclamar da inovação, que tem sido uma marca do cinema desse diretor. Se por um lado seus filmes podem ser chatos ou politicamente estúpidos, por outro, não dá pra negar que o homem está sempre fazendo coisas originais no que se refere à forma. É só lembrar da narrativa em segunda pessoa e os mixes de fotografia em preto e branco e colorida de EUROPA (1991); das canções dos anos 70 entrecortando a trágica história da personagem de Emily Watson em ONDAS DO DESTINO (1996); da utilização inteligente e marketeira dos preceitos do Dogma 95 em OS IDIOTAS (1999); e do melodrama musical utilizando-se de uma cantora pop em DANÇANDO NO ESCURO. Em DOGVILLE, Von Trier resolve fazer um teatro filmado sem paredes. Apenas com alguns móveis e linhas brancas no chão para delimitar as casas e as ruas da cidade.

Mas se na forma, Von Trier está bem, o mesmo não se pode dizer com certeza do conteúdo. O que dizer de um filme que exalta a morte dos americanos? Não foi isso que o diretor tentou dizer no final de DOGVILLE? Aí é que está. O filme deixa muitas dúvidas. Afinal de contas, o que o diretor quis dizer? Seria Grace uma espécie de deus com o poder de destruir a todos com seu poder? Ou uma espécie de Jesus Cristo enviada ao mundo para sofrer e conhecer a natureza ruim do ser humano? E se a bronca não é apenas com os americanos mas com toda a raça humana, porque esse sentimento anti-americano? Afinal, não somos todos maus e arrogantes?

Aliás, aquela seqüência final de Grace com o chefe dos gângsters, conversando sobre quem é mais arrogante é de dar nos nervos de tão chata que é. Naquela hora me deu uma vontade de ir embora. Ir embora, inclusive, era uma das palavras que eu mais ouvi do público durante a sessão. Tinha uma moça sentada atrás de mim que falou que ia embora quando o filme ainda estava em uma hora e meia. (Mas se eu não me engano, ela resistiu às três horas de duração do filme.)

Porém, o que me fez desgostar desse filme foi principalmente a falta de um sentimento de prazer da minha parte. Dizem que o filme homenageia o espetacular BARRY LYNDON (1975), do Kubrick, mas no filme do mestre eu senti um prazer tremendo. Em DOGVILLE, há um clima de mau estar generalizado durante a projeção. É como se o filme tivesse sido feito sem amor. É um filme do mau, como dizem.

Acima eu falei que achei DOGVILLE bastante parecido com DANÇANDO NO ESCURO, mas vendo uma crítica de Kleber Mendonça Filho, vi que ele fala que este é um filme que inicia uma trilogia: a “U, S e A”, com histórias passadas nos EUA. Isso significa que vem mais merda no ventilador por aí.

sábado, fevereiro 21, 2004

LINHA DO TEMPO (Timeline)



Ontem fui me juntar ao grupo de gatos pingados que foram para o cinema em plena sexta-feira de Carnaval. Pouca gente, ainda mais porque o preço promocional lá dos cinemas do North Shopping vai ser só a partir de segunda.

Estranhamente o filme LINHA DO TEMPO não teve (nem está tendo) uma divulgação que filmes desse tipo geralmente tem. Um amigo meu que leu o livro de Michael Crichton, o Herbert, adorou o livro, mas achou o filme fraco. Logo, eu já estava esperando um filme meia-boca mesmo.

LINHA DO TEMPO é um bom passatempo que ainda tem a vantagem de nos dar uma visão, ainda que um pouco pobre, da Guerra dos Cem Anos. O início do filme lembra os inícios de bons episódios de ARQUIVO X: um homem é encontrado no meio da estrada ferido e que não resiste e morre. O detalhe é que todo o corpo dele está desconjuntado – as veias, os ossos, os músculos. Como se ele tivesse sido colado desajeitadamente, como se fosse um boneco de papel.

O astro do filme, Paul Walker (de VELOZES E FURIOSOS), não tem muito carisma e força. Acho que não vai resistir durante muito tempo em Hollywood se continuar sem graça desse jeito.

O filme começa muito bem. A cena de preparação para a viagem no tempo é bem divertida. Talvez porque a idéia de viagem no tempo seja muito fascinante pra gente. O problema é quando o filme vira uma aventura medieval e fica cansativo. LINHA DO TEMPO é melhor que o mais recente MÁQUINA DO TEMPO, mas isso não chega a ser um grande elogio.

Só fiquei com dúvida se a personagem de Lady Claire existiu mesmo. Alguém que sabe um pouquinho dessa parte da História pode me dizer?

sexta-feira, fevereiro 20, 2004

O ÚLTIMO BEIJO (L’Ultimo Bacio)



Incrível como um simples filme pode mexer tanto com nossas emoções. Não sei porque diabos eu não quis ver esse filme no cinema. Talvez porque o trailer não era tão atraente e que dava a impressão de uma comédia boba. Aí ele chegou em vídeo e só depois de muito tempo eu alugo. Antes tarde do que nunca.

Ao ver O ÚLTIMO BEIJO, de Gabrielle Muccino, me deu vontade de fazer disso aqui um confessionário. De lembrar de 2001, quando eu acabei um namoro de um ano e meio, depois de ter conhecido uma garota de 18 anos no carnaval. O ruim foi que uma vez terminado o namoro, eu não quis ficar com a menina. Preferi ficar sozinho, longe de tantas emoções que estavam acabando comigo. Preferi as emoções seguras e catárticas dos filmes.

O personagem principal do filme é Carlo (Stefano Acorse), um sujeito que tem uma mulher linda, a Giulia (Giovanna Mezzogiorno), que espera um filho seu. Acontece que ele está apavorado com a idéia de casar e ter um filho. Não se acha preparado pra isso. Aí quando ele conhece uma atraente garota de 18 anos, ele se sente tentado a agarrar a menina. Ela era um tesão e estava dando um bolão pra ele. O ruim é que a mulher dele descobre. E Carlo não é um cafajeste. Ele não sabe mentir direito e põe em risco seu relacionamento com Giulia.

Não precisa nem dizer que eu me identifiquei pra caramba com o personagem de Carlo. Além desse drama principal, o filme ainda tem outros personagens interessantes, como os três amigos de Carlo: há o sujeito que fica toda noite com uma mulher diferente, o que vive de dor de cotovelo por uma mulher que não lhe quer mais e o que decide deixar a esposa com um filho pequeno porque não há mais sentimentos fortes entre eles. Há também a personagem de Stefania Sandrelli, mãe de Giulia, que quer deixar o marido porque ele não demonstra que a ama.

É um mosaico muito bem dirigido e com personagens apaixonantes. Não à toa eu me lembrei da obra-prima DOMICÍLIO CONJUGAL, de Truffaut. Em ambos os filmes chorei rios de lágrimas. E, nesse, ainda me apaixonei pela Giovanna Mezzogiorno. Taí um excelente filme italiano pra quem acha que o cinema de lá está quase morto.
TRINCA DE SUSPENSES



Comento rapidamente três filmes de suspense vistos em vhs.

HORAS DE DESESPERO (Desperate Hours)

Refilmagem do thriller homônimo de William Wyler. Engraçado como hoje em dia o Wyler não é bem visto pelos críticos em geral. Tá certo que o cara não tinha um estilo, por assim dizer, mas ele assinou tanta coisa boa. Qualquer dia eu faço um festival dele aqui. Não lembro se eu cheguei a ver o filme original, mas esse remake que o diretor Michael Cimino fez em 1990 é muito bom. A trama é simples: um ladrão (Mickey Rourke) e seus dois parceiros invadem a casa de uma família rica para assaltar e os usam como reféns. As cenas externas funcionam tão bem quanto as internas e há um belo trabalho de interpretação. Também no elenco: Anthony Hopkins, Mimi Rogers, Kelly Lynch e Elias Koteas. Cimino foi o cara que quebrou um estúdio com o filme O PORTAL DO PARAÍSO. Hoje ele sente dificuldade em fazer filmes em Hollywood, o que é compreensível.

UM CLARÃO NAS TREVAS (Wait Until Dark)

A bela Audrey Hepburn é uma cega que tem sem saber em sua casa uma boneca cheia de pacotinhos de heroína nesse filme de 1967 de Terence Young. Três sujeitos tentam de todo jeito enganá-la e pegar de volta a tal boneca. O filme se passa quase que totalmente dentro da casa, o que fica na cara que é a adaptação de uma peça teatral. Achei um pouco arrastado na primeira hora, mas depois o filme desperta o interesse à medida que a protagonista fica sabendo que está sendo enganada. Além do mais, Alan Arkin como o vilão sádico está ótimo. Gravado do canal Mundo. Saiu em DVD recentemente pela Warner.

SEDUÇÃO FATAL (Eye of the Beholder)

Estranho filme de 2000 em que Ewan McGregor é um detetive especial que tem a tarefa de vigiar pessoas suspeitas. Até que ele se apaixona por uma delas (Ashley Judd). Na verdade, a moça nem era suspeita. Era uma assassina mesmo. Ele passa a protege-la como um anjo. A estranheza do filme aumenta porque o personagem de McGregor está de vez em quando do lado do fantasma de uma garotinha (sua filha). Além do mais, a tecnologia que ele usa para a espionagem é futurista. É um filme interessante, mas que não chega a ser bom. Gostei das referências astrológicas que o filme de vez em quando menciona. Gravado da FOX.
O SORRISO DE MONA LISA (Mona Lisa Smile)



"Cinema é como sexo: até ruim é bom." Mas às vezes a gente fica com tanta vontade de deixar a salinha escura antes de o filme acabar que essa frase deixa de ser confiável. Aliás, essa é uma variação da frase "Sexo é como pizza..." do filme TRÊS FORMAS DE AMAR. Hoje tinham poucas boas opções nos cinemas e como eu não queria ficar em casa (ontem só faltei pirar), resolvi encarar esse.

Difícil acreditar que o mesmo diretor de QUATRO CASAMENTOS E UM FUNERAL tenha assinado um filme tão ruim. E o filme tem a Julia Roberts que, por mais que muita gente torça o nariz pela moça, ela ainda é a maior estrela de Hollywood na atualidade. Acredito que ela não estava prevendo tal fracasso. Incomoda ver todos os elementos do bom melodrama serem usados nessa xaropada que só provoca tédio.

Na história, que se passa nos anos 50 pré-rock n’ roll, Julia Roberts é uma professora novata que sente dificuldade em trabalhar de maneira livre numa escola tradicional para moças. O que mais a incomoda é o fato de que as meninas são todas nascidas para o casamento, jogando, pro ralo toda a boa educação que elas têm na escola.

Eu geralmente gosto desses filmes “de professor”. Mais recentemente pude ver o ótimo ESCOLA DE ROCK. Tiveram outros legais como MENTES PERIGOSAS, com a Michelle Pffeifer; ou MR. HOLLAND, com o Richard Dreyfuss (Xi, esse eu chorei pra caramba). Teve também NUNCA TE AMEI, de Mike Figgis. E o melhor de todos: o maravilhoso SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS.

Quanto aO SORRISO DE MONA LISA, é pura perda de tempo e dinheiro. Bom, salvam-se as performances de Julia Stiles e Maggie Gyllenhaal. Kirsten Dunst não é boa atriz e está perdendo a beleza que tinha nos tempos de AS VIRGENS SUICIDAS.

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

CURTAS: LYNCH, CRONENBERG, VALENTE E MIYAZAKI



Alguns curtas comentados rapidamente. Todos eles foram vistos no PC.

DARKENED ROOM

Esse curta de David Lynch tem muito em comum com RABBITS e com CIDADE DOS SONHOS, ainda que seja inferior a esses trabalhos. De RABBITS temos o quarto escuro com uma moça loira chorando de desespero por algo que não sabemos o que é. Apesar de não termos conhecimento do que ela está passando, sentimos uma certa empatia, como se no fundo entendêssemos o que é aquele seu desespero. Algo de muito ruim aconteceu e ela está sozinha e com medo. Uma outra moça (morena e ainda mais bonita) entra pela porta e fala acerca de sonho e realidade e sobre simbolismos de significado oculto. Essa é a parte que lembra bastante CIDADE DOS SONHOS. Lynch cada vez me deixa mais ansioso pelo seu próximo trabalho em longa-metragem.

DUMBLAND

Série de curtas em animação em 8 episódios, onde Lynch volta às origens (Lynch começou fazendo animação com o curta SIX FIGURES GETTING SICK). A animação de DUMBLAND foi realizada em flash e os traços estão bem toscos. O personagem principal é um sujeito bem grosseiro, uma espécie de Seu Lunga de subúrbio americano. O que eu me surpreendi nessa série de curtas foi a extrema violência, o humor negro e, principalmente, a escatologia (o surrealismo já era de se esperar). Destaque para o episódio 5, em que o grosseiro protagonista vai tentar tirar um espeto da boca de um homem. Esse episódio é especialmente violento e perturbador. O som também contribui para o clima enervante. É bom evitar ver esses curtas quando se estiver estressado.

CAMERA

Esse curta de 6 minutos de David Cronenberg (foto) é um trabalho intimista sobre a natureza do cinema, o envelhecimento e a memória. Nele, um homem idoso comenta para o espectador o fato de que as crianças da casa encontraram e botaram para funcionar uma velha câmera. O curta foi eleito um dos dez melhores filmes de 2002 por Daniel Caetano, da Contracampo. É um trabalho interessante para estudantes de cinema.

UM SOL ALARANJADO

Esse filme de estréia de Eduardo Valente, também redator da Contracampo, ganhou até prêmio no Festival de Cannes. E a felicidade foi maior ainda para o diretor ao receber o prêmio das mãos de ninguém menos que Martin Scorsese. Não dá pra contar muito da história com o risco de estragar a surpresa, mas é um filme praticamente sem diálogos, com grande poder nas imagens e que mostra um relacionamento entre filha e pai. No final, a belíssima canção do Los Hermanos, “Quem Sabe”.

ON YOUR MARK

Videoclipe de 1995 que o mestre Hayao Miyazaki fez para a banda pop japonesa Chage & Aska . Quem acha aqueles clipes em animação do Daft Punk sensacionais precisa ver a maravilha que é esse trabalho do maior diretor de animação do mundo. Dos temas recorrentes na obra de Miyazaki temos aqui a magia de voar, como um impulso que nosso espírito tem de transcender os limites do mundo físico. Já nos emocionamos com seqüências de vôo em vários filmes do diretor como LAPUTA: CASTELO NOS CÉUS, NAUSICAÄ DO VALE DOS VENTOS, PORCO ROSSO e no mais recente A VIAGEM DE CHIHIRO. A história desse filme, toda contada através de imagens e auxiliada pelo poder da canção "On your mark", é sobre dois sujeitos que encontram um anjo ferido(se anjo tiver sexo, então esse é feminino) e começam a ser perseguidos pelo exército. Emocionante.

Agradeço aos amigos Pablo e Marcelo que, de uma forma ou de outra, me cederam essas obras.

terça-feira, fevereiro 17, 2004

HORROR



Esse é um filme que é difícil até fazer sinopse. Primeiro porque não tem bem uma história. Não é um filme "de história" por assim dizer. É mais uma sucessão de imagens de horror dentro de uma trama incompreensível. Se é que existe mesmo uma trama. Nesse sentido, lembra A CASA DO ALÉM (1981), de Lucio Fulci, que também é um filme que despreza um plot, em detrimento de suas imagens e atmosfera.

Mas diferente dos filmes de Fulci, esse HORROR (2002), de Dante Tomaselli, não tem preferência por seqüências gore. Os efeitos utilizados são simples e se você não entrar no clima do filme, pode ficar até indiferente às cenas de horror. Pelo menos, foi o que aconteceu comigo. Apesar de o filme só ter uma hora e quinze minutos de duração, pra mim parecia durar mais que isso. O que me incomodou foi justamente essa tentativa de pegar o espectador apenas pela atmosfera e acabar não levando a lugar nenhum.

No filme acontece a repetição de certas coisas, como a porta que se fecha sozinha, a aparição do bode misterioso e as três vezes em que a protagonista põe a mão debaixo da cama para pegar uma chave. Aliás, essa cena da cama foi a única que me assustou de fato. Ela lembra a inesquecível cena da garota mergulhando num poço para pegar uma chave em A MANSÃO DO INFERNO (1980), do Argento. Mas só lembra – passa longe da genialidade do filme do maestro.

Esse é o segundo longa de Tomaselli, jovem diretor americano, que começou com DESECRATION e cujo próximo projeto é SATAN’S PLAYGROUND. Esse diretor já tem muitos fãs dentro do cenário underground de filmes de terror. Numa entrevista que li dele, o entrevistador (da einsiders.com) o elogiava tanto que chegou a dizer que o filme é a mais visionária obra do gênero desde SUSPIRIA (1977), do Argento. Puro exagero. Ou então eu deixei passar muita coisa.

Filme visto em divx.
CLINT EASTWOOD EM DOIS FILMES



Assisti gravados da tv esses dois filmes de fases diferentes da carreira do Eastwood ator e diretor.

IMPACTO FULMINANTE (Sudden Impact)

Esse filme de 1983 ainda não tem aquela sofisticação da obra de Eastwood que se iniciou a partir de CORAÇÃO DE CAÇADOR (1990), mas é um ótimo filme de investigação criminal, que de certa forma antecipa o que veremos no badalado SOBRE MENINOS E LOBOS (2003). Esse é o único filme da série “Dirty Harry” que foi dirigido pelo próprio Clint. Fica atrás do primeirão, PERSEGUIDOR IMPLACÁVAL (1971), do mestre Siegel, mas mantém a cara dos primeiros filmes. É sempre bom ver o velho Harry Calahan chutando traseiros dos bandidos e resolvendo muita coisa na porrada mesmo. Na trama, Calahan investiga uma série de assassinatos cujo modus operandi é sempre um tiro na genitália e outro na cabeça da vítima. O filme não é um whodunit, como o filme mais recente do homem: esse já entrega a assassina e suas razões logo no início do filme. É mais do mesmo da série, mas quem quer coisa diferente num filme de Dirty Harry? Gravado da Globo.

CRIME VERDADEIRO (True Crime)

Em 1999, Eastwood já era diretor consagrado e de sensibilidade, ganhador de Oscar por OS IMPERDOÁVEIS (1992) e que já tinha feito muita gente chorar com UM MUNDO PERFEITO (1993), AS PONTES DE MADISON (1995). E o pior é que assim como em UM MUNDO PERFEITO, o meu favorito do diretor, CRIME VERDADEIRO é um filme que faz você chorar mesmo. Na história, Clint é um jornalista encrenqueiro que vai fazer uma reportagem sobre um homem que vai morrer de injeção letal por assassinato. Acontece que pelo seu faro, o homem é inocente. E restam poucas horas para que ele possa encontrar evidências que o inocentem. O filme é sempre carregado de nervosismo, já que Clint está com a própria vida bem bagunçada e prestes a perder a mulher e o emprego. Emocionante as cenas do condenado à morte e sua esposa e filha. Eu sempre choro nesses filmes de condenação, tipo OS ÚLTIMOS PASSOS DE UM HOMEM e À ESPERA DE UM MILAGRE. Agora tem mais um pra aumentar as fileiras. Gravado da TNT.

Por falar em nervosismo, hoje estreou a 3a temporada de 24 HORAS na Fox. O nível da série continua o mesmo. Resta saber se no desenvolvimento dos outros 22 episódios, a série vai conseguir superar a sua excelente 2a temporada em ação e emoção.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

SWIMMING POOL – À BEIRA DA PISCINA (Swimming Pool)



Antes de eu sair de férias tinha deixado no HD do computador da empresa uma cópia em divx desse filme de François Ozon, mas resolvi não vê-lo na telinha do PC. Ainda bem. Que prazer que é ver esse filme na telona do cinema.

SWIMMING POOL (2003) é mais uma bola dentro de Ozon, que pode não agradar a todos, mas faz filmes sempre inteligentes e de uma maneira peculiar. O primeiro filme que vi dele foi GOTAS D’ÁGUA EM PEDRAS ESCALDANTES (2000). Nesse ótimo filme, relacionamentos homossexuais são tratados com muito humor, o que até lembra um pouco o cinema de Almodóvar. Mas para a alegria da comunidade hetero, o filme tinha a maravilhosa e gostosa Ludivine Sagnier nua ou de lingerie. Ela apareceu também em 8 MULHERES (2002), mas estava vestida o tempo todo; logo, não foi tão emocionante.

Em SWIMMING POOL ela está com os seus lindos seios de fora quase o tempo todo. E que beleza que é aquilo. Chego a imaginar se existem seios mais belos que aqueles. Se Salomão estivesse vivo nos dias de hoje poderia dedicar o trecho do livro de Cânticos para ela. (“Os teus dois seios são como duas crias, gêmeas de uma gazela, que se apascentam entre os lírios.” Cântico 4.5). Mas chega de falar dos peitos dessa mulher. E eu nem falei de outras partes do corpo dela ainda.

A história do filme também é bem envolvente. A inglesa Charlote Rampling é uma escritora de romances policiais que vai passar um tempo numa casa de campo de seu editor na França a fim de parir a sua mais nova obra. A tranqüilidade do lugar é interrompida com a chegada de Julie (Ludivine), a filha do editor. As duas mulheres vão entrar em conflito e o filme vai ganhando novos contornos até se tornar um filme de suspense.

O final deixa a gente coçando a cabeça, tentando entender o que de fato aconteceu, mas isso é um ponto positivo para o filme, que continua na cabeça do espectador por um bom tempo. Quando eu saí do cinema, fui tomar um chope com o Zezão para refrescar as idéias e procurar entender a trama. Ele tem uma teoria interessante e eu acho que é a correta. Mas não vou deixar spoilers aqui.

Como é quase certeza eu não ir viajar no carnaval, devo pegar pelo menos mais um filme do Ozon na locadora. Ainda falta eu ver SOB A AREIA (2000) e SITCOM (1998).

sábado, fevereiro 14, 2004

CONTO DE INVERNO (Conte d’hiver)



Hoje pela manhã fui novamente para a sessão de arte prestigiar a mostra dos filmes de Eric Rohmer, que prosseguem até o mês de março. Nessa semana começou a exibição do ciclo de filmes das estações do ano. O primeiro filme escolhido para dar o start foi CONTO DE INVERNO (1992), o segundo filme desse ciclo.

Lá no cinema, estava o Governador Lúcio Alcântara, que falou alguma coisa sobre um melhor acesso para os estudantes com o organizador Pedro Martins Freire. Não sei direito o que foi que eles falaram, mas se for para baratear o preço do ingresso, eu dou o maior apoio.

Vendo os primeiros dez minutos de CONTO DE INVERNO você não imagina que vai gostar tanto do filme, já que o filme é muito centrado nos diálogos. Na história, Felicie conhece Charles numas férias de verão, os dois se apaixonam, mas na hora de passar o endereço, ela acidentalmente troca o nome da cidade e eles não têm como se comunicar. Passados cinco anos, ela está com uma filha desse encontro e vive desiludida por não encontrar amor de verdade nos atuais pretendentes (Maxence, o cabeleireiro e Loic, o intelectual). Para ela, o importante é estar com alguém quando se ama de fato, completamente, loucamente.

No início fiquei meio distante da trama, mas com o tempo a gente simpatiza com os personagens, principalmente com a Felicie e o Loic. Os diálogos são muito bons, especialmente quando dissertam sobre vidas passadas, almas gêmeas, moralidade e fé.

Depois do carnaval vai ser exibido o CONTO DE VERÃO (1996). Se for tão bom quanto esse, vou virar fã desse tal de Rohmer.

Só fiquei desanimado hoje porque descobri que o meu dvd player não está funcionando. Porra, ontem mesmo ele tava legal... E como eu dependo do aparelho para ouvir meus discos, estou desolado. Gripado, liso, triste e sem ter como ouvir músicas a não ser pela caixinha de som do computador, o que é bem frustrante. Tomara que não seja nada grave e eu não precise comprar um novo aparelho.
TAXI DRIVER



"The whole conviction of my life now rests upon the belief that loneliness, far from being a rare and curious phenomenon, is the central and inevitable fact of human existence."

Thomas Wolfe
"God's Lonely Man"

Essa é a frase que abre o documentário de Laurent Bouzereau presente como o principal extra do DVD de TAXI DRIVER – Edição de Colecionador. Engraçado que a primeira vez que vi esse filme eu não tinha notado que era um filme sobre a solidão. Talvez por ser difícil identificar-se com o personagem perturbado de Robert DeNiro. Eu mesmo há uns cinco anos me comportava como se tivesse ódio da humanidade. Tudo por causa da solidão, da insatisfação, da sensação de abandono. Ainda bem que eu nunca quis pegar uma arma e sair atirando nos meus desafetos. Hoje em dia eu banco o bom rapaz e não tenho mais raiva de ninguém.

Voltando pro filme, rever em DVD, com som original e digital e em widescreen, é outra coisa. Se bem que eu achei a fotografia um pouco escura, mas acho que o filme foi feito assim mesmo. A intenção era mesmo fazer um filme cru, sem muitos enfeites nos diálogos, tentar aproximar o filme da vida. Tanto que DeNiro pra se preparar para o papel, dirigiu uns táxis. Inclusive, um passageiro que pegou o taxi reconheceu o ator e diz a lenda que o cara falou: “você ganhou o Oscar por O PODEROSO CHEFÃO II e está agora trabalhando de taxista?” Quem também aprendeu com alguém das ruas foi Jodie Foster, que teve o auxílio de uma verdadeira prostituta. Inclusive, a prostituta é aquela que aparece do lado da Jodie no filme.

O personagem de DeNiro era meio estranho em relação a sexo: ia para cinemas pornô, mas assistia o filme comendo pipoca como se fosse um filme de aventura. E ainda fez a besteira de levar uma garota pra esse tipo de lugar. Ele tinha algo de inocente.

O contraponto da sujeira nas ruas é a personagem de Cybill Shepherd. Meu Deus, aquela mulher nos anos 70 era gatíssima. Acho que no ano do filme, 1976, ela estava no auge da beleza. Ela já tinha estreado em A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA (1973), do Bogdanovich, e parece que o Scorsese gostou dela. Esse pessoal é tudo da mesma geração mesmo: Scorsese, DePalma, Spielberg, Lucas, Coppola, Bogdanovich. São todos da mesma panelinha.

Inclusive, foi DePalma quem apresentou Paul Schrader a Scorsese. E o Schrader já tinha o roteiro de TAXI DRIVER pronto há algum tempo. Depois dá pra saber o que aconteceu.

No documentário MAKING TAXI DRIVER, de 70 minutos, há a presença de muita gente boa: além do diretor e do roteirista, tem a Cybill, o DeNiro, o Keitel, a Jodie Foster, o Albert Brooks.... Nossa, quanta gente boa num filme só. E ainda tem mais: o cara que fez a trilha sonora é ninguém menos que Bernard Hermann, que estava muito doente quando trabalhou nesse filme e acabou morrendo logo. Mesmo assim, foi indicado ao Oscar pela trilha sonora, concorrendo com ele mesmo, pelo OBSESSION do DePalma.

Além desse documentário, há também o script original do Schrader, storyboard e uma galeria de fotos com um comentário em áudio do Laurent Bouzereau. Ele entrega um monte de coisas, como de onde surgiram os nomes dos personagens, histórias sobre Scorsese, Truffaut e Schrader etc. Sobre os nomes, por exemplo, soube que Travis vem de “travel” (viagem) e Betsy era o nome de uma antiga namorada de Schrader. E por aí vai. Quem quiser saber mais que alugue o DVD e afine os ouvidos, porque os extras não vêm com legenda. Uma pena, principalmente quando é o Schrader que está falando. Aquele cara parece que tá com uma batata quente na boca. E eu que já não tenho um listening skill lá muito bom, penei pra entender. Mas valeu. Valeu também os dez reais que paguei por esse disquinho. Uma pechincha.

Só pra completar: TAXI DRIVER nem é o meu preferido do Scorsese. Na frente, ficam TOURO INDOMÁVEL, OS BONS COMPANHEIROS, A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO e GANGUES DE NOVA YORK.

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

COLD MOUNTAIN



Hoje era pra eu ter ido ver SWIMMING POOL, mas por causa de um compromisso anterior, acabei me atrasando e resolvendo de última hora ver logo COLD MOUNTAIN. A má notícia foi a gripe que me pegou de novo. Argh.

Quanto ao filme de Anthony Minghella, é até melhor do que eu esperava. Está melhor que os filmes anteriores (O PACIENTE INGLÊS e O TALENTOSO RIPLEY), o que não quer dizer muito, mas Minghella continua fazendo filme burocrático e pouco satisfatório. A Miramax vive insistindo em enganar o público dizendo que ele é um grande cineasta. Esse ano, eles não conseguiram enganar nem a Academia. O filme nem foi indicado aos Oscar de filme e direção e nem a Nicole Kidman foi indicada dessa vez. Melhor sorte tiveram Jude Law e Renée Zellweger (essa tá cada vez mais feinha), conquistando suas indicações.

Aliás, a melhor coisa do filme é mesmo o elenco. Além do belo casal e da Renée, podemos conferir participações especiais de Jack White (dos White Stripes), Donald Sutherland, Kathy Baker, Philip Seymour Hoffman e a belezura da Natalie Portman. É dela o melhor momento do filme. Eu cheguei a torcer para o Jude Law esquecer a Nicole e ficar logo com a mãe do Luke Skywalker.

As primeiras cenas de guerra são boas, o retrato dos EUA do Sul também é bem feito. E no final o filme adquire até uma cara de western. O problema é que é um filme que quer emocionar mas não consegue. A história do cara que abandona a guerra para se encontrar com sua amada é até legal, mas que final mais sem graça aquele, hein.

Dá saudade de ...E O VENTO LEVOU, esse sim o melodrama definitivo sobre a Guerra Civil americana. Esse clássico é batata. É assistir e chorar. Coisa que o Minghella não consegue fazer com a sua arte barata.

quarta-feira, fevereiro 11, 2004

A ENCANTADORA DE BALEIAS (Whale Rider)



Engraçado. Quando eu estava voltando da sessão desse filme, estava lendo no ônibus o livro O INVENTOR DA SOLIDÃO, de Paul Auster, e há no livro uma citação ao Livro de Jonas (da Bíblia), que o autor menciona como uma das mais poderosas estórias sobre medo e solidão. Aí, eu lendo sobre esse livro do Jonas, que ficou dias na barriga de uma baleia, lembrei que vi num filme recentemente outra menção a esse mítico profeta. Mas em que filme era? Terá sido num dos dois Khouris que eu vi recentemente? Ou terá sido num sonho ou era apenas impressão minha? O fato é que nesse momento em que eu me sinto acovardado diante da vida, me deu uma vontade de reler esse livro. Acho que vou fazer isso nesses dias. É curtinho. Paul Auster me despertou essa vontade.

Ao contrário de Jonas, que se acovardou e fugiu com medo de ser um mensageiro de Deus, em A ENCANTADORA DE BALEIAS, de Niki Caro, vemos Paikea (Keisha Castle-Hughes) uma garotinha com espírito de liderança, que perdoa o avô pelos maus tratos, que o ama e o entende mais do que a grande maioria dos adultos do vilarejo. A menina é descendente de uma linhagem nobre de um subgrupo dos maoris. Ela seria imediatamente posta como futura líder, se não tivesse nascido mulher. A partir dessa situação, o filme mostra uma sutil revolução feminina, que não afronta os mais velhos e suas tradições mas que, ao mesmo tempo, se impõe para mostrar o seu valor.

Eu confesso que fiquei bastante emocionado com esse filme. Não estava esperando tanto assim. O filme é um sensível drama que se diferencia daqueles made in Hollywood, que a gente está acostumado a ver.

A garotinha de 13 anos, Keisha Castle-Hughes, foi indicada ao Oscar pelo papel, o primeiro e por enquanto único de sua carreira. E entrou para a história da premiação como a mais jovem atriz a concorrer na categoria de atriz principal. Difícil não se derreter na cena em que ela faz um discurso na escola e confessa o seu profundo respeito e amor pelo avô.

Outro tópico de discussão que o filme propõe é a respeito da sobrevivência de certas tradições. Eu não me considero uma pessoa tradicional, por assim dizer. Não ligo pra Bumba-meu-boi, não gosto de música tradicional brasileira, não respeito os feriados etc. Por isso, enquanto assistia ao filme, ficava imaginando se aquela tradição não teria nascido da mentira e da ignorância, como várias outras. Mas quem sou eu pra julgar uma coisa tão antiga e que é capaz de manter vivo um povo que está praticamente em extinção?

Esse é apenas o segundo filme que eu vejo dos candidatos a melhor atriz no Oscar. E até prefiro Keisha a Naomi Watts, indicada por 21 GRAMAS. Ainda falta estrear na cidade os filmes ALGUÉM TEM QUE CEDER, TERRA DE SONHOS e MONSTER, para que eu possa apreciar a performance de Diane Keaton, Samantha Morton e da favorita Charlize Theron.

P.S.: Lembrei!!! O filme que faz menção a Jonas é MESTRE DOS MARES, naquela seqüência em que um dos jovens da embarcação sente-se culpado pela má sorte do navio.
A ÚLTIMA GARGALHADA (Der letzte Mann)



Trilha sonora utilizada:
Radiohead - HAIL TO THE THIEF


Nesses dias, botei na cabeça que queria ver um filme mudo com uma trilha sonora moderna para ver que barato dava. E não é que funcionou? A idéia era ignorar a trilha constante no DVD, e experimentar ver o filme aproveitando-me também de momentos emocionantes da música. Escolhi o Radiohead pós-OK COMPUTER exatamente por já se parecer por si só com uma trilha pra cinema. (Ou vocês não acharam “Everything in its right place” em VANILLA SKY um dos pontos altos do filme?). O Radiohead dos novos tempos não tem a preocupação de fazer melodias assobiáveis e fáceis, o que tiraria a atenção do filme. Acho que fiz uma boa escolha pra trilha, apesar de preferir KID A.

Sobre trilhas sonoras diferentes usadas em filmes mudos, nos anos 80, METROPOLIS (1926), de Fritz Lang, foi reexibido nos cinemas com uma trilha modernosa. Não é filme mudo, mas há a lenda de que DARK SIDE OF THE MOON, do Pink Floyd, é um disco que funciona muito bem se posto como trilha sonora do filme O MÁGICO DE OZ. Dizem que acontece uma surpreendente sincronia entre as duas obras.

Bom, é claro que não houve uma excelente sincronia entre esse disco do Radiohead e a obra-prima de Murnau, mas quero comentar aqui algumas coisas interessantes. Algumas faixas funcionaram bem e causaram uma “quase sincronia”, especialmente “Sit down, stand up”, uma canção angustiante que combinou com a rotina do personagem principal, o porteiro, no início do filme. “We suck young blood” coincidiu com a sensacional seqüência do sonho do protagonista. Além do mais, auxiliado pela música, eu sentia certas palpitações no coração quando ângulos de câmera “milagrosos” me pegavam de surpresa várias vezes durante o filme. O que mais me impressiona é que esse filme foi feito em 1924!!!

Essencial pra quem leva cinema a sério, A ÚLTIMA GARGALHADA, de F. W. Murnau, é uma dessas obras que continuam impressionando apesar do passar dos anos. Também é um filme que comprova o poder das imagens, quando sabiamente utilizadas. O filme não tem as legendas que serviam de muletas para vários filmes mudos. No filme inteiro há apenas uma legenda semi-explicativa na reviravolta final, depois de uma hora de filme. Fora isso, parte da trama é “explicada” por palavras somente através de uma carta e de um jornal. Diferente de D.W. Grifith, por exemplo, que precisava de muitas palavras para ser entendido.

Na trama, um porteiro de um hotel luxuoso, por estar muito velho, é destituído de sua função e passa a trabalhar como atendente de toalete, uma posição que para ele era humilhante.

Mas como já dizia Hitchcock: menos importante é a história; mais importante é a maneira como ela é contada. E nisso Murnau era gênio. Ele é talvez o mais importante dos cineastas inventores do Impressionismo Alemão. Seus outros filmes mais famosos são NOSFERATU (1922), FAUSTO (1926) e AURORA (1927).

Vendo os comentários no IMDB, soube que esse filme teve um remake em 1955, sendo que, no lugar do porteiro, a protagonista era a linda Romy Schneider. Fica como curiosidade. Há muito o que analisar nessa obra, como o simbolismo da humilhação e do uniforme presentes no filme, mas não ouso tentar.

terça-feira, fevereiro 10, 2004

ANTHONY MANN, POLANSKI E VON TRIER



Comento a seguir três filmes de três cineastas consagrados. Vamos começar pelo melhor filme da trinca.

E O SANGUE SEMEOU A TERRA (Bend of the River)

Obra-prima de Anthony Mann, esse western de 1952 já está entre os meus favoritos desse tão nobre gênero. Esse é o melhor filme que eu vi esse ano, contando filmes vistos no cinema e na telinha. Na trama, James Stewart é um homem encarregado de guiar um grupo de pessoas à procura de um lugar para se estabelecer. Stewart tem um passado de fora-da-lei, mas anda querendo mudar de vida. O rumo das coisas muda quando, no meio do caminho, Stewart salva Arthur Kennedy de ser enforcado. Os dois ficam relativamente amigos, ganham respeito mútuo por serem ambos famosos pela bandidismo. No elenco, ainda vemos Rock Hudson num papel meio apagado.

Uma das coisas agradáveis de ver filmes como esse, além do primor na narrativa, é poder testemunhar o surgimento de uma sociedade. Assim, podemos ver que aqueles que nos precederam sofreram muito para que hoje a gente possa ter esse conforto. O filme é o segundo western que o diretor fez com James Stewart. O primeiro foi WINCHESTER 73, que eu infelizmente ainda não vi. Ver um filme desses deixa a gente com vontade de pegar um monte de westerns de Mann, Ford, Wellman e Sturges para se esbaldar. Gravado da BAND.

A DANÇA DOS VAMPIROS (The Fearless Vampire Killers)

Depois da expectativa de mais dez anos, finalmente pude ver A DANÇA DOS VAMPIROS (1967), hoje um clássico de Roman Polanski. O filme é uma comédia de humor negro sobre dois caçadores de vampiros desastrados (um deles é o próprio Polanski) que vão “prestar serviços” num vilarejo ameaçado pelos dentuços. O destaque do filme, além da direção com poucos diálogos e imagens exuberantes, é a presença da lindíssima Sharon Tate, a esposa de Polanski que foi assassinada pelo bando de Charles Mason. Aliás, essa história, junto com toda a biografia do Polanski daria filmes quase tão grandes quanto os melhores da filmografia do homem. No DVD tem, de extras, centenas de fotos do filme, dos bastidores e principalmente de Sharon. Inclusive, há uma foto dela grávida (e linda) pouco tempo antes do massacre. Apesar de ser muito bom, A DANÇA DOS VAMPIROS não é nem um dos meus preferidos da filmografia do diretor.

EUROPA (Europa / Zentropa)

Enquanto DOGVILLE não chega aqui em Fortaleza, resolvi conferir em VHS esse filme de 1991 de Lars Von Trier. A ironia da coisa é que com tanta gente chamando o homem de manipulador, EUROPA já começa com uma narração em 2ª pessoa de Max Von Sidow, hipnotizando o protagonista do filme. Dessa forma, tanto o espectador quanto o personagem principal são jogados numa trama doida como se tivessem saltado de um pára-quedas. A estranheza aumenta com a trama, que se passa na Alemanha pouco depois do término da 2a Guerra Mundial. Há um grupo de nazistas autodenominado “lobisomens” que tem como objetivo matar os alemães que estão fazendo o jogo dos americanos. O filme tem uma atmosfera bem estranha e uma fotografia em preto e branco mas com partes em cores (às vezes no mesmo fotograma). O filme não fez a minha cabeça, fiquei confuso, mas de uma coisa é certa: esse Von Trier pode ser um filho da puta, mas que é sempre original, isso ele é.
SEABISCUIT - ALMA DE HERÓI (Seabiscuit)



Hoje fui conferir o filme que faltava eu ver dos indicados na categoria “Melhor Filme” do Oscar desse ano: SEABISCUIT, dirigido por Gary Ross, de A VIDA EM PRETO E BRANCO (1998).

No fim das contas, achei o mais fraco dos cinco indicados. Estava até satisfeito com a qualidade dos filmes até agora: todos ótimos. Eis a exceção. SEABISCUIT é apenas um bom filme que tem a qualidade de trabalhar relativamente bem os clichês do sub-gênero “melodrama esportivo”. Acontece que são muitos clichês. E americano tem essa mania de querer ser vencedor, de contar histórias de gente que consegue ultrapassar barreiras e obstáculos para conseguir seus objetivos.

Pra começar, eu não me interesso por esporte, muito menos por corrida de cavalos. E daí que o cavalo vai ganhar?? Nem em futebol eu me animo tanto. Em copa do mundo, por exemplo, fico contagiado com o clima e tal, mas depois que o time ganha, dá aquela sensação de vazio, fico me perguntando pra que isso tudo, o que foi que eu ganhei torcendo. E a resposta é: nada. Não sou lá muito competitivo mesmo.

Na história do filme, três pessoas, nos EUA da Grande Depressão, se conhecem e formam um time que vai se tornar campeão nas pistas de corrida de cavalos. Jeff Bridges (sempre muito bom) é um homem de negócios que conhece Chris Cooper, um velho caubói que sabe amansar cavalos selvagens. Esse, por sua vez, conhece o jovem briguento Tobey Maguire, que vai se tornar o jóquei do cavalo manco e enfezado Seabiscuit. A trama do filme é bem delineada e tem umas elipses de tempo inteligentes. Mas se o filme não se estendesse tanto ficaria melhor. Achei que mais de duas horas foi tempo demais para ele.

Sendo assim, aí vai o meu ranking de favoritos na categoria Melhor Filme para o Oscar do próximo dia 29.

1. SOBRE MENINOS E LOBOS (Clint Eastwood)
2. O SENHOR DOS ANÉIS: O RETORNO DO REI (Peter Jackson)
3. MESTRE DOS MARES: O LADO DISTANTE DO MUNDO (Peter Weir)
4. ENCONTROS E DESENCONTROS (Sofia Coppola)
5. SEABISCUIT - ALMA DE HERÓI (Gary Ross)

Mandem bombas à vontade!!

domingo, fevereiro 08, 2004

KHOURI EM DOIS FILMES



“Houve um tempo que eu pensei que tinha capacidade e talento pra fazer qualquer coisa. Era uma euforia besta. Hoje eu sinto que o tempo vai passar e me engolir sem que eu faça nada. Mas não me importo muito. Antigamente ficaria doente de pensar em passar em branco pelo mundo. Hoje tanto faz. O que eu quero agora é conseguir experimentar uma vivência interior realmente intensa, que seja ela mesma uma finalidade total, absoluta. Deve haver algo equivalente ao equilíbrio das estrelas, ao fogo e à chuva, que não termine necessariamente no desencanto e na frustração.”

Esse é um pequeno monólogo que Marcelo, interpretado por Paulo José em AS AMOROSAS, fala em certa altura do filme. Achei isso bem representativo de Walter Hugo Khouri, das angústias e inquietações de seu cinema. Foi vendo esse filme, que eu entendi porque a pessoa que escreveu a biografia de Khouri colocou como título do livro “O equilíbrio das estrelas”.

A qualidade do DVD não está tão boa, mas isso porque não foi feito um trabalho de remasterização dos negativos originais. A imagem até que está bem bonita, num preto e branco lindo, mas o som é que é bem prejudicado. Às vezes nem dá pra entender o que os atores falam. Mesmo assim, adorei colocarem esses títulos nas prateleiras. Afinal, não tinha outra maneira de eu vê-los mesmo. Comento a seguir um pouco desses dois filmes.

O CORPO ARDENTE

Quando Khouri fez O CORPO ARDENTE (1966), ele já tinha feito a obra-prima NOITE VAZIA e conquistado muita gente com o seu estilo. Se o filme não consegue atingir a excelência de seu antecessor, Khouri aqui faz um trabalho mais complexo na montagem, alternando passado e presente, e não entregando de bandeja a personalidade fechada de seus personagens. Na trama, Barbara Laage é uma mulher inquieta numa festa chique e regada a jazz (tinha que ser, né?). Aos poucos ficamos sabendo dos jogos de infidelidade dela e do marido. O diretor usa o cavalo como metáfora do homem, que sempre tem uma besta dentro de si. Esse é um tema recorrente em sua obra e em EROS – O DEUS DO AMOR (1981) pode-se ver algo bem parecido. Faz parte do elenco, além de Laage, Dina Sfat e Lilian Lemertz, que se tornaria uma das musas de Khouri, trabalhando em vários de seus filmes. A atriz Barbara Laage é brasileira, mas tinha carreira internacional. Já trabalhou ao lado de Paul Newman, Kirk Douglas e Gene Kelly, por exemplo.

Nos extras, a melhor coisa é a entrevista da viúva do diretor. Ela conta da personalidade ímpar de Khouri, de sua inteligência polêmica e do gosto por autores depressivos como Nietzche e Shopenhauer. Falou do quanto era feliz com ele, quando íam para festivais de cinema na Europa, de quando o marido trouxe para Gramado o diretor Josef Von Steinberg. Gostei dessa entrevista, podia ser mais longa que os poucos dez minutos.

AS AMOROSAS

Esse filme de 1968 é ainda melhor que o primeiro. Mostra o alter-ego do diretor, Marcelo, dessa vez interpretado pelo brilhante Paulo José. Nesse filme, Marcelo ainda não era um sujeito rico e esbanjador. Mas a natureza de mulherengo não podia deixar de faltar.

As tais amorosas do título do filme são as irmãs de Marcelo como também as amantes. Quem aprecia as obras do autor vai se esbaldar com montes de referências a livros que faziam a sua cabeça, e com as discussões filosóficas de Marcelo.

Um dos destaques do filme é a participação dos Mutantes. Eu fiquei admirado com a beleza de Rita Lee quando jovem - ela era linda.

A entrevista de dez minutos nos extras, dessa vez, é do filho de Khouri, mas não é tão boa quanto a da esposa. Ele focaliza mais detalhes técnicos, ao contrário da esposa que mostrou mais o Khouri humano.

Esses três filmes do box (o outro é NOITE VAZIA) são “vendidos” na apresentação como os melhores filmes do mestre. O que não é verdade. Mas não deixam de serem filmes brilhantes de um cara que era verdadeiramente um autor.

Assisti esses filmes do Khouri em momentos especialmente introspectivos, quando me sentia deslocado do mundo. Na sexta-feira, então, eu estava me sentindo um peixe fora d’água na escola, um estranho que não consegue se relacionar normalmente com o universo e que cada vez mais se sente atraído pela solidão. Ver esses filmes tão cheios de inquietação espiritual do meu cineasta brasileiro preferido funcionou como um alento nessas horas.
ESCOLA DE ROCK (The School of Rock)



Ontem fui para a pré-estréia de ESCOLA DE ROCK, o novo longa de Richard Linklater. Como era uma sessão única, achei que a sala ia estar lotada, mas tinham poucas pessoas e a maioria eram adolescentes.

O filme não é um trabalho pessoal de Linklater, como ANTES DO AMANHECER (1995), WAKING LIFE (2001) ou AMARGO REENCONTRO (2001). É um filme de pura diversão, mas que é possível ler algo mais nas entrelinhas. Linklater já tinha homenageado o rock setentista em JOVENS, LOUCOS E REBELDES (1993).

Um aviso: quem acha Jack Black um chato, passe longe desse filme. O filme é puro Black, para o bem e para o mal.

Na história, ele é um cara que foi expulso da própria banda de rock que criou que se faz passar pelo colega de quarto e arranja um emprego de professor substituto numa escola de ensino fundamental. Acontece que ele não tem a menor vontade de dar aula. As coisas começam a se animar quando ele tem a idéia de ensinar aos alunos a tocar rock. A intenção é fazer tudo às escondidas, sem que os pais das crianças ou a direção da escola tenha conhecimento.

O final é emocionante até pra quem não curte rock. Mas quem ama rock n´ roll vai curtir muito mais, tentando “adivinhar” as várias canções constantes na trilha sonora. Ao sair do cinema, a vontade que a gente tem é ir pra um show de rock foderoso ou então voltar pra casa e tocar air guitar ouvindo Led Zeppelin ou Ramones!!

Yeah!!!

sábado, fevereiro 07, 2004

A INGLESA E O DUQUE (L´Anglaise et le Duc)



Eu já estava ficando puto com essa história de só São Paulo exibir um monte de filmes de Eric Rohmer e aqui em Fortaleza ficarmos privados de ver suas tão elogiadas obras. Pois eis que, finalmente, graças ao esforço de Pedro Martins Freire em trazer de volta as sessões de arte, não apenas A INGLESA E O DUQUE (2001), como também todos os "Filmes das Estações" vão ser exibidos aqui na cidade. Se fizerem sucesso, pode ser que outros filmes do diretor cheguem aqui também.

Isso é motivo de comemoração, pois o que eu pude ver hoje de manhã foi um espetáculo diferente de tudo que eu já vi no cinema. A INGLESA E O DUQUE é um filme sobre os violentos primeiros anos da Revolução Francesa, mas feito de uma maneira bem diferente. Pra começar, o cenário é todo feito a partir de pinturas, que foram inseridas digitalmente. Os atores, dessa forma, interagem com esse cenário artificial. O resultado é de encher os olhos, pois a primeira sensação que temos é que estamos vendo um quadro se mexendo, uma pintura virando cinema.

Mas fora esse aspecto técnico, o tema do filme é interessantíssimo. Vemos os primeiros anos da Revolução pela ótica de uma inglesa que vive na França desde os tempos da Monarquia, bem antes da Queda da Bastilha. Ela é uma “herdeira” da velha França, amiga do rei e da rainha, e fica chocada quando os aristocratas começam a ser guilhotinados pelos revolucionários. Ela tem uma estranha relação afetiva com o Duque de Orleans, figura importante dentro da história francesa. A partir dessa relação e dos eventos que acontecerão, é que a história toma rumos trágicos.

Em certo momento senti falta de não ter estudado mais História Geral, mas nunca é tarde para pesquisar sobre essa fase tão importante da história da humanidade.

Entre as críticas que eu li sobre o filme, a que mais me chamou a atenção foi a de Ruy Gardnier, publicada na Contracampo. De uma lucidez impressionante. Vale a pena dar uma lida. Melhor do que ler esse meu texto. Hehehe.

Quem sabe, com o tempo, eu adquiro mais intimidade com o cinema de Rohmer para poder falar com um pouco mais de segurança sobre os seus filmes. Por enquanto esse é só o primeiro filme que vejo dele. E olha que estamos falando de um dos pais da Nouvelle Vague, que faz filmes desde o final da década de 50.

sexta-feira, fevereiro 06, 2004

REVELAÇÕES (The Human Stain)



As férias continuam tranqüilas. Talvez porque eu esteja tentando ignorar os problemas que continuam presentes. Ontem depois de me atrasar para a sessão de REVELAÇÕES no Shopping Del Paseo, fui devolver uns DVDs na King Video, pegar novos na Distrivideo (adorei a atendente, linda e simpática.. heheheh) e parti para o Iguatemi, outra sala onde o filme estava passando.

O diretor do filme, Robert Benton, tem poucos filmes no currículo, sendo que o mais respeitado e premiado é KRAMER VS KRAMER (1979). Para esse filme, convidou Nicole Kidman, com quem havia trabalhado em BILLY BATHGATE (1991), e Anthony Hopkins para fazerem os protagonistas desse interessante drama sobre o preconceito racial e social na era do politicamente correto.

O filme tem uma estrutura interessante, sendo que as alternâncias entre passado e presente do personagem de Hopkins contrastam com o passado duvidoso de Nicole, nunca mostrados em flashback, apenas contados oralmente por ela, o que deixa o espectador com um pé atrás no romance entre os dois. Os outros dois coadjuvantes que ajudam a tecer a teia do filme são Gary Sinise, como o amigo escritor de Hopkins e o narrador do filme, e Ed Harris, como o violento ex-marido de Nicole. Harris há tempos rouba a cena sempre que aparece.

Talvez o problema maior do filme seja a falta de um aprofundamento maior na psicologia dos personagens, mas isso é comum em adaptações de obras literárias. Por falar nisso, fiquei bem interessado em ler o livro de Philip Roth, “A Marca Humana”, em que o filme é baseado. E olha que é bem difícil eu ficar querendo ler um livro depois de ter visto o filme.

Apesar dos problemas, é um filme agradável de ver, tem um andamento lento e gostoso de acompanhar, traz temas atuais e interessantes, um ótimo elenco e alguns movimentos de câmera bem interessantes. Lembro especialmente da cena da morte da mulher de Hopkins, com a câmera se afastando aos poucos. Aquilo não é original, mas que ficou bonito, ficou.

quinta-feira, fevereiro 05, 2004

TRÊS CLÁSSICOS DO HORROR



Eu tenho um fraco por filme de horror. Geralmente quando vou a uma locadora acabo dando uma olhadinha mais cuidadosa nessa prateleira. Dessa última vez que visitei a locadora, peguei esses três clássicos do gênero.

O VAMPIRO DA NOITE (Horror of Dracula / Dracula)

Esse é o segundo filme que a Hammer fez “homenageando” os monstros clássicos dos filmes da Universal da década de 30. O mesmo time que fez A MALDIÇÃO DE FRANKENSTEIN (1957), entrega pra gente essa belíssima versão do conde vampiro de Bram Stoker. Eu diria que é a melhor das versões para cinema da história de Drácula. O VAMPIRO DA NOITE (1958) é dirigido pelo mais respeitado cineasta da companhia inglesa, Terence Fisher. No elenco, Christopher Lee como Drácula, Peter Cushing como Van Helsing e Michael Gough, como Arthur Holmwood. A fotografia em technicolor é lindona, assim como a direção de arte está caprichadíssima, mas sem descambar para exageros como a versão do Coppola. A única desvantagem é que a história já é bem conhecida, mas, mesmo assim, ainda é possível ter boas surpresas. Além do mais, não existe Drácula melhor do que o do Christopher Lee.

SEXTA-FEIRA 13 (Friday the 13th)

Suspeitava que não tinha visto esse filme. E realmente, se vi quando criança, não me lembro. SEXTA-FEIRA 13 (1980) é o filme que deu início à série de terror que mais teve continuações no cinema (dez até agora). Lá pelo final, o filme lembra PSICOSE em alguns aspectos, inclusive na trilha sonora. Não é lá uma obra-prima, mas é um dos melhores da série, junto com a deliciosa Parte VI. Para quem quer ver o Jason, aqui vai se decepcionar, que nem é ele quem mata a garotada não. O filme tem o Kevin Bacon em início de carreira. O documentário com o making of é até mais divertido que o filme, com a equipe rindo ao falar das péssimas atuações do elenco e do roteiro primário, feito descaradamente para ganhar dinheiro no rastro do sucesso de HALLOWEEN (1978). Pena que o DVD travou com dez minutos de documentário e eu nem sei qual a real duração desse extra.

A COMPANHIA DOS LOBOS (The Company of Wolves)

Segundo filme dirigido por Neil Jordan, A COMPANHIA DOS LOBOS (1984) é uma versão moderna da estória de Chapeuzinho Vermelho. O filme tem toda uma atmosfera de pesadelo, auxiliada pela direção de arte que deixa o ambiente com clima de fábula infantil. Os efeitos especiais estão um pouco ultrapassados, não superando nem de longe os revolucionários efeitos de maquiagem de Rick Baker em O LOBISOMEM AMERICANO EM LONDRES (1981). Por isso, as cenas de transformação em lobisomem não são tão boas para os atuais padrões. Sarah Patterson, a garotinha protagonista, parece uma versão adolescente de Jacqueline Bisset, de tão bela que é. Hoje em dia, não se sabe do paradeiro da menina. Curiosamente, depois que fez esse filme, ela fez mais dois: um sobre a Branca de Neve e outro sobre a Cinderella. (Que coisa, hein?). Como não poderia deixar de ser, o ator fetiche dos filmes de Jordan, Stephen Rea, está presente no elenco.

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

JOHN FORD EM DOIS FILMES



Assim que terminei de ver o DVD de DEPOIS DO VENDAVAL fiquei tão animado pra ver outro Ford que peguei imediatamente pra ver MISTER ROBERTS, que tinha gravado da BAND há alguns meses. Seguem aqui os comentários rápidos sobre esses dois filmes do mestre.

DEPOIS DO VENDAVAL (The Quiet Man)

Ótimo filme de Ford. Um pouco atípico tanto pra Ford quanto para John Wayne que, quando se juntavam, quase sempre era pra fazerem westerns. DEPOIS DO VENDAVAL (1952) é quase um western, mas como não se passa em terreno americano do final do século XIX e nem tem tiroteio, então, pode ser considerado como uma comédia romântica. Olha que legal. Uma comédia romântica de John Ford. Bom, hein? Na história, Wayne é um rapaz que veio dos EUA para a Irlanda para se estabelecer no lugar onde saiu quando criança. Assim que chega lá, logo se apaixona pela bela Maureen O´Hara, mas o problema é que, como ele pegou a propriedade que o irmão da moça tanto queria, os dois se tornam inimigos, complicando, assim, um possível casamento. Há também um trauma no passado do personagem de Wayne que o impede de lutar. Do meio pro final o filme cresce bastante e é até possível dar boas gargalhadas no final. DEPOIS DO VENDAVAL é dessas obras que deixam a gente com um sorriso de orelha a orelha. O filme deu o Oscar de melhor direção para Ford. Pena que o DVD traz o filme em fullscreen e sem nenhum extra. Enquanto isso, nos EUA saiu pela Artisan uma edição especial de colecionador cheinha de extras bacanas, incluindo o comentário em áudio da própria Maureen O´Hara.

MISTER ROBERTS

Esse é outro Ford atípico. É um filme quase teatral que se passa praticamente todo dentro de um navio nas águas do Pacífico, durante o final da 2ª Guerra Mundial. Isso porque o filme é uma versão para o cinema de um sucesso de Henry Fonda na Broadway. Ator constante nos filmes de Ford, Fonda é o personagem título do filme e parece que ele se desentendeu com o diretor e Ford abandonou o filme antes de finalizá-lo. A outros diretores (Mervyn LeRoy e Joshua Logan) coube a finalização, deixando o filme um pouco irregular. A trama de MISTER ROBERTS (1955) se concentra na rixa entre os dois oficiais do navio, Fonda e James Cagney e na simpatia que Fonda exerce sobre os marinheiros. Entre os outros nomes célebres no elenco estão o jovem Jack Lemmon e o veterano William Powell. A coisa só fica incômoda quando se passa mais de uma hora de filme e nada acontece. Nada de batalhas ou lutas contra os japoneses ou coisa assim. Quando a gente descobre que a ação do filme é só aquilo mesmo, o negócio é relaxar e torcer a favor de Fonda e contra Cagney.

terça-feira, fevereiro 03, 2004

TUBARÃO (Jaws)



Até pouco tempo atrás quando me perguntavam qual filme todo mundo tinha visto, menos eu, eu respondia TUBARÃO (1975), de Steven Spielberg. Pois agora vou ter que pensar em outro título, pois finalmente pude conferir o filme em DVD. Um dia desses na lista Cinefelia, falei que ia gravar o filme da TNT para assistí-lo, mas o Renato falou que não era uma boa idéia, que o filme teria que ser visto em DVD. Tenho que concordar com ele.

A edição especial de comemoração dos 25 anos traz um documentário de quase uma hora de duração sobre as filmagens do filme. O documentário foi feito pelo mesmo Laurent Bouzereau que dirigiu os documentários presentes nos DVDs dos filmes do Hitchcock para a Universal e que também dirigiu os maravilhosos extras de A NOITE AMERICANA, do Truffaut.

Uma das coisas mais interessantes que a gente descobre vendo esse documentário é quando o Spielberg conta que quando ele filmou ENCURRALADO (1971), ele utilizou na cena do caminhão caindo ladeira abaixo o som de um tiranossauro de um filme B. Esse mesmo som ele usou quando o tubarão morre no final do filme. Será que ele usou o mesmo som quando fez JURASSIC PARK (1993)?

Spielberg tem uma excelente capacidade de causar suspense. Pena que ele utilize esse seu dom em poucos filmes. Mas foi como especialista em suspense que ele se projetou para o mundo, com ENCURRALADO, o segmento “Eyes” do filme NIGHT GALLERY (1970) e TUBARÃO.

TUBARÃO é outro exemplo de filme filmado nas águas e que deu um trabalhão para ser feito. Além das preocupações com a câmera, o tubarão mecânico quase não funcionou. Mas no final deu tudo certo e é difícil distinguir qual é o tubarão mecânico e qual é o de verdade. Os três atores do filme - Richard Dreyfuss, Roy Scheider e Robert Shaw - são ótimos e a seqüência final é realmente chocante. A idéia de não mostrar o bicho até a metade do filme foi muito boa e ele repetiu isso quando fez JURASSIC PARK. Tanto que na primeira vez que os dinossauros foram mostrados o público ficou embasbacado.

No mais, TUBARÃO rendeu muito dinheiro, se tornou durante muito tempo o filme mais rentável do mundo e ainda trouxe, sem querer, um monte de tubarões bastardos. Além das continuações oficiais do filme, na Itália, alguns diretores fizeram vários filmes picaretas de tubarão, se aproveitando da popularidade do filme pra ganhar alguns trocados.

Sobre as cenas inéditas contidas nos extras do DVD, a única que merece atenção é a cena dos pescadores correndo nas lanchas para pegar o peixão. Essa cena mereceu mesmo ser cortada do filme, mas não deixa de ser bem curiosa e bem feita.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

MESTRE DOS MARES: O LADO DISTANTE DO MUNDO
(Master and Comander: The Far Side of the World)




Hoje à tarde fui conferir esse filme do Peter Weir. Gosto de ir ao cinema durante a semana. Os shoppings estão mais vazios, não tem muita preocupação com fila. É o máximo que eu estou fazendo para aproveitar as férias do trabalho, apesar da pouca grana.

MESTRE DOS MARES é filmão. Peter Weir já tem no currículo obras apaixonantes como SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS (1989), SEM MEDO DE VIVER (1993) e O SHOW DE TRUMAN (1998). Agora ele comanda um projeto mais caro, uma super-produção passada nos mares.

Todo mundo sabe o trabalho que dá filmar no mar. Kevin Costner quase teve um prejuízo com o seu WATERWORLD e o recordista de bilheteria TITANIC quase que naufragou feito o navio, de tantos problemas que teve durante as filmagens.

Mas Weir se saiu muito bem. O filme tem um apanhado de seqüências emocionantes, além de ainda servir de pesquisa histórica para quem quiser saber como eram as coisas na época das guerras napoleônicas.

Até o Russel Crowe está simpático no filme. Eu gostei pra caramba do personagem dele: um comandante do navio da marinha britânica que é obstinado e corajoso a ponto de desafiar uma embarcação francesa muito maior que a dele. Os 139 minutos do filme se justificam. É mesmo necessário esse tempo para que possamos nos acostumar com o ambiente no navio e para nos apegarmos um pouco com os sofridos e heróicos personagens.

MESTRE DOS MARES lembra um pouco filmes de submarino como U-571 e K-19: THE WIDOWMAKER, que pretendem mostrar a bravura dos homens diante dos vários obstáculos que lhes são apresentados. É um filme “de homem” – não tem mulher no elenco – e que mostra a camaradagem masculina com entusiasmo.

Outro traço positivo do filme é a maneira como Weir mostra aquele recorte do tempo e espaço, como se fosse um pesquisador naturalista. Nesse sentido, o personagem de Paul Bettany é quase como um alter-ego do autor, ou o elo de identificação com o público. Não custa lembrar que Weir é especialista nesse “recortar o tempo e espaço”. Basta lembrar da maneira como ele mostrou o grupo de religiosos radicais em A TESTEMUNHA (1985) ou o carinho com que ele trata um grupo de estudantes americanos da década de 50 em SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS.

Por tudo isso, eu ainda acredito que Peter Weir seja um autor. Só não é muito respeitado como sendo um nas revistas de cinema e nos cadernos de cultura dos jornais. Quem sabe um dia ele não recebe o devido reconhecimento...
MINHA PARA SEMPRE (Forever Mine)



Ontem na FOX passou esse filme de Paul Schrader. Acho que foi a primeira exibição comercial do filme no Brasil. O filme continua inédito em cinema e em vídeo no país. Gosto de todos os filmes de Schrader. Ele não tem a genialidade e a mão firme do seu amigo Scorsese, mas é um grande roteirista e tem muitos filmes bons no currículo como diretor. Acho até difícil dizer qual dos filmes dele gosto mais.

MINHA PARA SEMPRE é um melodrama com toques de suspense. É muito bizarro para ser descrito como uma história de amor. Digo bizarro, mas principalmente por causa de Joseph Fiennes, um sujeito que é um ator horrível, é feio, sem charme e, mesmo assim, esse já é o segundo papel que eu vejo dele, em que ele interpreta um cara que possui o dom de atrair mulheres bonitas (lembram de MATA-ME DE PRAZER?).

Nesse filme a coisa piora ainda porque os seus gestos no filme são de assustar qualquer mulher que tenha o mínimo de bom senso. Outra coisa: o par romântico do sujeito é a linda Gretchen Mol.

Na história, ele é um garçon de barraca de praia que se apaixona pela mulher de um político (Ray Liotta). A paixão vira obsessão e a cara de pau do sujeito faz com que ele se meta em encrenca, já que o tal político é um “escroto”, definição do próprio. (Em certa hora do filme, Liotta diz pra Fiennes que no mundo só existem dois tipos de homens: os babacas e os escrotos. Fiennes era o babaca; ele, o escroto. Liotta é um bom ator, mas o problema é que ele repete muito o tipo que vem fazendo desde TOTALMENTE SELVAGEM em 1986.)

O filme é uma história de vingança, estilo “O conde de monte cristo”. Tem a qualidade de manter o interesse até o fim, mas a melhor coisa do filme é mesmo a Gretchen Mol, que - pensando bem - justifica qualquer comportamento insano.

domingo, fevereiro 01, 2004

O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ (The Man Who Wasn’t There)



Acabei de ver esse filmaço dos irmãos Coen. E pensar que eu já peguei o DVD desse filme nas locadoras tantas vezes e depois acabava deixando de lado e escolhendo outro filme... Não sei porque tinha botado na cabeça que o filme tinha 3 horas de duração. Tô ficando velho mesmo.

O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ agora é o filme que eu mais gosto dessa criativa dupla (antes era FARGO). Billy Bob Thorton está excelente como o barbeiro que por causa da vontade de mudar de vida - ele quer montar uma firma de lavagem a seco - desencadeia uma série de eventos que vão por em risco a vida de todos os envolvidos. Acho que esse é o primeiro personagem de Thorton que eu realmente simpatizei, apesar de ele não ser bem um exemplo de homem íntegro e honesto.

Além de Bob Thorton, o que eu gostei no filme: a linda fotografia em preto e branco de Roger Deakins (coloborador habitual dos Coen), dando um gostoso clima de filmes noir dos anos 40, auxiliado pela voz over do protagonista; a trama contada de maneira lenta e agradável; o ótimo desempenho dos outros atores (Frances McDorman, Scarlett Johansson, Tony Shalhoub, James Gandolfini); e pra completar, o filme ainda se utiliza de sonatas ao piano de Beethoven. Assim é até covardia.

O humor ácido e a bizarrice dos Coen está bem mais escondido nesse filme, que é carregado de uma seriedade impressionante. Além da cena final, uma das cenas mais memoráveis do filme é a seqüência em que a viúva do cara assassinado visita Bob Thorton. É de arrepiar essa cena.

No DVD tem de extra: um making of de 18 minutos com entrevistas com diretores e elenco, trailer de cinema, dois spots de tv, algumas cenas deletadas (na verdade só uma é a sério) e uma entrevista de quase uma hora com o diretor de fotografia. O chato é que a entrevista demorou tempo demais. O próprio entrevistado já estava querendo ir embora e o cara não parava de fazer perguntas. O problema é que eram abordados muitos detalhes técnicos, interessantes mais para quem trabalha com câmera e fotografia. Ah, e a imagem do filme no dvd, em wide, está lindona!