sexta-feira, fevereiro 27, 2004

MILLENNIUM ACTRESS (Sennen Joyu)



O segundo longa-metragem de Satoshi Kon é impressionante. Depois do ótimo PERFECT BLUE (1997), ele surpreende com um filme de gênero diferente: MILLENNIUM ACTRESS (2001). Sai o suspense inspirado em DePalma e Argento e entra uma história sobre o amor que insiste em continuar apesar de todos os sofrimentos e obstáculos. Não que não haja pontos em comum entre os dois filmes, mas aqui há uma leveza de espírito que contrasta com a paranóia pesada de PERFECT BLUE.

Na história do filme, Chiyoko é uma famosa atriz japonesa que está aposentada das telas aos seus 70 anos de idade. Ela abandonara o cinema trinta anos atrás. Genya é o homem que pretende dirigir um documentário sobre a vida da estrela. Ele chega acompanhado de seu cameraman Kyoji para uma entrevista com Chiyoko. Ela se surpreende quando ele lhe traz uma antiga chave, um objeto muito importante pra ela. Essa chave é a porta para uma viagem na história de Chiyoko, do cinema e até do próprio Japão.

A exemplo do que fez Bergman em MORANGOS SILVESTRES (1957), Kon utilizou o recurso dos espectadores dentro da ação no próprio flashback (no caso os espectadores são Genya e Kyoji).

O filme é tão envolvente que, mesmo nos momentos em que mal sabemos se o que está na tela é real ou faz parte de um dos filmes da atriz, ainda assim nos sentimos absorvidos de tal maneira que é como se fôssemos de verdade projetados para aquele mundo, para aquelas diferentes épocas. Entramos em contato com o Japão feudal, com a revolução Meji e a industrialização, com a 2ª Guerra Mundial e o progresso no pós-guerra. Tudo paralelamente à história de amor de Chiyoko e sua busca incessante pelo homem misterioso por quem se apaixonara.

O mais impressionante de tudo é que praticamente esquecemos que estamos vendo um desenho animado. Os “movimentos de câmera” são impressionantes. Há uma cena em particular que me emocionou pela beleza do conjunto animação + música: a cena em que Chiyoko corre desesperada para a estação a fim de ainda encontrar o homem por quem se apaixonara. É como se tivesse de fato uma câmera na frente dela, enquanto a neve cai na cidade. Aquilo é lindo, hein. Outra sacada genial acontece quando vemos as cenas pela perspectiva do cameraman, quando vemos a imagem tremer sutilmente.

Tremer também é outra palavra chave no filme. A protagonista nasceu durante um terremoto e os tremores de terra acontecem com freqüência durante o filme. Indiretamente, isso acaba servindo pra mostrar a força do povo japonês, que mesmo com tantos terremotos e guerras (incluindo duas bombas atômicas) foi capaz de se levantar e se tornar uma potência mundial.

Agora é esperar que apareça em minhas mãos o mais recente filme de Satoshi Kon: o premiado TOKYO GODFATHERS. Hoje soube na lista Cinefelia que ele está com um novo filme que estreou há pouco tempo na tv a cabo japonesa. Chama-se PARANOIA AGENT. Na trilha sonora, o mesmo músico de MILLENIUM ACTRESS. Te cuida, Miyazaki!

Filme visto em divx, cortesia do amigo e especialista em animes Marcelo Reis.

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