terça-feira, maio 31, 2011
TRÁGICA OBSESSÃO (Obsession)
Incentivado pelos tops que o Sergio Alpendre anda postando em seu blog, lá fui eu preencher essa lacuna enorme, que era o fato de nunca ter visto TRÁGICA OBSESSÃO (1976), o primeiro grande filme, possivelmente a primeira obra-prima, de um dos cineastas mais geniais da atualidade, Brian De Palma. O diretor faz parte dessa geração de pós-modernos que recriam suas obras a partir de obras alheias, mas com características próprias e autorais. E escolher Alfred Hitchcock como seu ponto de apoio não deixa de ser uma ousadia. Outros tantos já tentaram emular Hitchcock, mas nunca com tanto brilho e com tantos elementos claramente e propositalmente em comum.
Assim, TRÁGICA OBSESSÃO está para UM CORPO QUE CAI, assim como VESTIDA PARA MATAR (1980) está para PSICOSE. Ambos são releituras feitas com vigor e um toque de genialidade. Em TRÁGICA OBSESSÃO, temos a história de um homem rico, Michael (Cliff Robertson), cuja esposa, Elizabeth (Genevieve Bujold), e filha são sequestradas, depois de uma festa em sua casa. Os bandidos pedem uma grande quantia, ele chama a polícia, que sugere entregar uma mala com dinheiro falso e um interceptador para pegar os sequestradores. Acuados, os bandidos fogem levando as reféns e as consequências em seguida da ação são trágicas. Passados 16 anos, o homem encontra numa igreja na Itália uma mulher espantosamente idêntica à sua esposa e é aí onde entra a semelhança e o ponto mais importante de encontro de TRÁGICA OBSESSÃO com a obra-prima de Hitchcock.
Com movimentos de câmera que já mostravam seu virtuosismo, De Palma faz a diferença, mesmo que para isso tenha que usar de alguns excessos formais e de doses de inverossimilhança e ironia. Tudo isso é reforçado pelo músico favorito e mais famoso dos filmes de Hitchcock, Bernard Hermann, que casa a trilha sonora com a trama como se fosse uma ópera, uma tragédia moderna, que mexe com os nossos corações com força. O que dizer da sequência dos sequestradores invadindo a casa do protagonista? Impressionante e aterrorizante. Há também algo de REBECCA, A MULHER INESQUECÍVEL no filme, quando a "sósia" de Elizabeth adentra a casa e vê os quadros da ex-esposa de Michael. Com o auxílio de Paul Schrader na condução do roteiro, De Palma faz um de seus mais belos e mais intensos trabalhos. E pensar que eu levei tanto tempo para conferir essa maravilha.
Brian De Palma anda meio parado desde GUERRA SEM CORTES (2007), mas parece que o seu próximo projeto, PASSION, remake do francês CRIME D'AMOUR, de Alain Corneau, vai enfim se materializar.
segunda-feira, maio 30, 2011
SE BEBER, NÃO CASE! - PARTE II (The Hangover – Part II)
Praticamente uma refilmagem do primeiro filme, SE BEBER, NÃO CASE! – PARTE II (2011) traz algumas pequenas mudanças: Las Vegas por Bangkoc, na Tailândia; o bebê por um macaquinho; um dente arrancado por uma tatuagem no rosto; e um casamento por outro. Aliás, sorte da turma que fez o bem sacado título nacional, já que o título original não fala de casamento nenhum. O que torna esta continuação tão interessante é o fato de ser um pouco mais sombria, juntando a comédia com o suspense, e provando que Todd Phillips, se quiser enveredar pelo mundo dos filmes de horror, até pode se sair muito bem.
O trio de protagonistas continua o mesmo, afinal, em time que está ganhando não se mexe. Bradley Cooper continua o sujeito mais controlado diante de situações adversas. Ed Helms é o cara que está com o casamento pronto e que tem umas crises de nervosismo que torna o filme mais divertido. O ator, aliás, aproveitou a boa vocação para cantar mostrada em THE OFFICE para uma das cenas mais divertidas do filme, quase um extra. E Zach Galifianakis repete o mesmo papel de sujeito sem-noção e sem limites do primeiro filme e de UM PARTO DE VIAGEM (2010), também dirigido por Phillips.
SE BEBER, NÃO CASE! – PARTE II já está fazendo um sucesso extraordinário nas bilheterias americanas: mais de 86 milhões de dólares em apenas três dias de exibição. Só não deve liderar a bilheteria anual por não competir com as produções que multiplicam sua renda por causa das cópias em 3D (a maioria, picaretas). A familiaridade com os personagens ajuda bastante a tornar o filme atraente aos espectadores, afinal, a repetição pode ser um elemento importante para o sucesso de uma comédia ou de um quadro humorístico. E curiosamente o filme não é uma comédia romântica, em que se atribui o sucesso às namoradas que levam seus namorados para assistir, mas uma comédia masculina e suja.
Ainda assim, podemos dizer que esta continuação tem uma cara própria. É o tipo de comédia em que se vê muito dinheiro gasto na produção – algo que já se notava em UM PARTO DE VIAGEM, mas que aqui é ainda mais explicitado. As ruas caóticas de Bangkoc e o clima mais sombrio instalado são dois elementos novos muito bem-vindos, assim como a coragem de fazer uma comédia para adultos, com nudez frontal masculina e cenas não aconselháveis para se ver com toda a família. Não deixa de ser um triunfo de Phillips nesses tempos em que o politicamente correto predomina. Ainda assim, o primeiro trailer disponibilizado, que mostrava o macaquinho sugando uma garrafa colocada no bolso de um monge idoso, como se fosse um pênis ereto, chegou a ser proibido nos Estados Unidos.
sexta-feira, maio 27, 2011
OS AGENTES DO DESTINO (The Adjustment Bureau)
Percebe-se de cara que OS AGENTES DO DESTINO (2011) tinha uma pretensão maior. O tema em si já é pretensioso: o do livre arbítrio, do destino, tema tão discutido e debatido por filósofos, teólogos e em conversas de botequim. Um tema que sempre rendeu muita discussão e que faz a alegria de muitos filmes que tratam de viagens no tempo. Não é o caso da estreia na direção de George Nolfi, roteirista de O ULTIMATO BOURNE (2007), que não traz tanta alegria assim, embora o resultado final seja o de um filme pelo menos simpático.
Afinal, Matt Damon e Emily Blunt formam um belo casal e o espectador torce por eles. Não é todo dia também que temos um filme baseado em Philip K. Dick que fala de amor. Se bem que BLADE RUNNER já tinha a relação de amor entre Deckard e Rachael. Mas não era algo que figurava em primeiro plano, como acontece em OS AGENTES DO DESTINO. O mais importante do filme é a luta do herói para ter aquilo que mais deseja: a mulher de sua vida. Os homens de chapéu, que são como anjos que governam o destino das pessoas mais importantes do planeta, querem impedi-lo, a fim de que aquilo que está escrito no "livro da vida" siga o rumo certo, previsto.
Assim, segundo tal livro, não era para o personagem de Damon ter encontrado pela segunda vez aquela mulher encantadora que ele conheceu (não por acaso) em um banheiro masculino, enquanto treinava um discurso para uma grande multidão. O interessante do filme é lidar com o preenchimento que um amor pode gerar na vida de alguém, a ponto de ele não se interessar por coisas "grandes", como ter um elevado cargo político. Existe mesmo esse amor que torna tudo o mais pequeno e desprezível? É esse tipo de questão transcendental que faz com que o filme seja pequeno demais para um assunto tão grande. Ainda assim, é um belo trabalho. Destaque para a sequência da fuga através das portas.
quinta-feira, maio 26, 2011
O GUERREIRO SILENCIOSO (Valhalla Rising)
O Festival de Cannes deste ano não se resumiu ao escândalo envolvendo Lars Von Trier. A quantidade de filmes interessantes selecionados para esta edição foi uma das melhores dos últimos anos. E em meio a obras de destaque como os novos trabalhos de Pedro Almodóvar e Terrence Malick (que ganhou a Palma de Ouro), o prêmio de melhor diretor foi para o dinamarquês Nicolas Winding Refn, que apresentou o seu novo filme, DRIVE (2011). O cineasta vem ganhando a admiração de muitos cinéfilos mais antenados, com filmes como BRONSON (2008) e este O GUERREIRO SILENCIOSO (2009).
O GUERREIRO SILENCIOSO, que saiu no Brasil direto em DVD, é de uma beleza plástica impressionante, além de conter cenas de violência gráfica muito boas, especialmente as iniciais. Trata-se de um filme que tem algo de épico em sua estrutura, mas que vai se mostrando mais introspectivo, dando à figura do herói o caráter mais problemático da modernidade. O herói, ou anti-herói, vivido por Mads Mikkelsen, de DEPOIS DO CASAMENTO, é One Eye, um guerreiro quase invencível que é tido como escravo por um grupo de homens, que se divertem com suas lutas brutais e o guardam como um animal em uma jaula. Depois que ele alcança a liberdade e mata quase todos do grupo, ele é seguido apenas por uma criança, o garoto que costumava alimentá-lo.
Como o filme se passa próximo do ano 1.000 d.C, a região da Dinamarca estava começando a ser povoada pelos primeiros cristãos - chamados vikings cristãos nos créditos finais -, os homens que convidam One Eye para se juntar a eles numa ida à Jerusalém. One Eye não fala, mas por alguma razão, outros, como o garoto, por exemplo, respondem por ele, como se recebessem dele mensagens telepáticas.
O filme é mais contemplativo do que se espera, com momentos de completo silêncio. A fotografia em scope é destaque, com sua paleta de cores diversa e bonita, que valoriza tanto as paisagens, quanto cenas mais artificiais, resultado dos momentos de interiorização do protagonista. Faltou muito pouco para que O GUERREIRO SILENCIOSO se tornasse um grande filme, o que não quer dizer que ele não mereça uma apreciação devida e respeitosa.
quarta-feira, maio 25, 2011
HOMENS E DEUSES (Des Hommes et des Dieux)
Hoje é um daqueles dias em que meu cérebro parece que não pega nem no tranco. Ando lendo um texto superdenso e difícil e que requer um background bem considerável de filosofia e conhecimento de epopeia que eu infelizmente não tenho. Sem falar na linguagem do sujeito (Georg Lukács), que é muito complicada. Dando uma pausa para atualizar o blog, escolhi um filme que há tempos estou postergando, por um simples motivo: eu dormi em vários momentos da projeção. E nisso não quero colocar a culpa no filme, só para deixar claro. Portanto, o que pretendo descrever abaixo são apenas pequenas impressões esparsas do pouco que absorvi.
Vi HOMENS E DEUSES (2010), de Xavier Beauvois, em São Paulo, numa dessas sessões logo após o almoço. E como o filme tem um ritmo bem lento, o convite às cochiladas foram quase inevitáveis. Pelo menos, antes do filme seguinte (TURNÊ) (era uma "sessão dupla"), eu tomei uma xícara de café para ficar mais alerta. Quanto ao filme, não deixa de ser estranho ver aquele grupo de monges franceses confinados num mosteiro em plena Argélia mulçumana. Há uma guerra que assola o país e um grupo de fundamentalistas acaba pegando os monges para Cristo.
Porém, embora esse contexto político seja importante, ele é muito pouco explicitado. E como se trata de uma história baseada em fatos reais e falando de uma guerra real num lugar real, acho importante ficar sabendo. Talvez fosse o caso de eu ter lido a respeito antes de entrar para ver o filme, coisa que tenho feito cada vez menos ultimamente. Mas acho que vou fazer isso sempre com filmes que tratam de questões político-religiosas em países sobre os quais eu sei pouco. Outro problema do filme para mim diz respeito à própria falta de interesse em relação ao modo de vida dos monges. HOMENS E DEUSES tem um tom bastante respeitoso para com a coragem e o sentimento de amor fraternal – e até mesmo o amor maior cristão – desses monges.
E isso é algo que não costumamos ver no cinema contemporâneo, que tem o hábito de descer a lenha na Igreja Católica. Que nunca foi uma igreja que frequentei e cujo interesse de minha parte é apenas em sua História, que em geral é cheia de sujeira e motivos de vergonha, mas não se deve, de modo algum, generalizar. Eu mesmo sou fã de OS SINOS DE SANTA MARIA, de Leo McCarey, e da genialidade dos escritos de Padre Antônio Vieira.
HOMENS E DEUSES ganhou o Grande Prêmio do Júri do Festival de Cannes de 2010.
terça-feira, maio 24, 2011
DEIXE-ME ENTRAR (Let me in)
Essa mania de Hollywood insistir em mais e mais remakes já está se tornando ridícula. Eles nem bem deixam o filme original esfriar e já tratam de fazer uma versão falada em inglês, já que a maioria dos americanos não vê filmes com legendas. Perdem eles e perdemos um pouco nós também, que temos que aturar esses filmes-repeteco, que nada têm para acrescentar. Ao contrário, desrespeitam a obra original, banalizando seu enredo e seus personagens. Foi assim que eu me senti vendo DEIXE-ME ENTRAR (2010), dirigido pelo mesmo Matt Reeves de CLOVERFIELD – MONSTRO (2008).
O original de Tomas Alfredson, DEIXA ELA ENTRAR (2008), foi aclamado mundialmente como um dos filmes de horror mais belos e bem orquestrados dos últimos anos. Tinha potencial para conquistar grandes bilheterias se fosse bem assessorado, mas ficou restrito ao circuito independente e ainda assim sofrendo o preconceito que os filmes de horror sofrem dentro desse circuito limitado.
Talvez o único destaque da refilmagem de Reeves seja o fato de se passar na década de 1980 e fazer questão de enfatizar isso. Seja nos figurinos, seja na música que toca ao fundo, como "Let’s Dance", de David Bowie, e "Do You Really Want to Hurt me", do Culture Club, para citar as mais conhecidas. O prólogo também adianta um dos momentos-chave do filme, para começar "de verdade" logo em seguida, quando vemos o garotinho vivido por Kodi Smit-McPhee, de A ESTRADA, bricando de malvado em seu quarto, com uma máscara parecida com a de Michael Myers. Ele é uma criança que sofre bullying na escola e sua fantasia secreta é poder revidar. A chegada de uma estranha garota muda sua vida. Chloe Moretz (KICK-ASS - QUEBRANDO TUDO), como a vampirinha, não ficou tão bem no papel. Talvez por parecer muito madura para o garoto; talvez careça de um pouco mais daquela mistura de sedução e inocência que a jovem do filme sueco possuía.
A trama basicamente não foi mexida, mas Reeves diminuiu na quantidade de sangue derramado nas cenas que exigiriam mais força, além de dar para trás na cena mais íntima do casal de garotos. Talvez ele achasse que menos sangue tornaria o filme tão poético quanto o original, quando na verdade uma coisa não tem nada a ver com a outra. DEIXA ELA ENTRAR, de Alfredson, era ao mesmo tempo assustador e poético, sangrento e romântico. O filme sueco extrai poesia de cabeças cortadas afundando na piscina. A refilmagem põe tudo a perder e deixa a gente voltar para a casa com a sensação de não ter visto nada.
segunda-feira, maio 23, 2011
EL JUSTICERO
"O filme é mediocre e se encerra com uma explosão de masoquismo."
Jean-Claude Bernadet
Um filme desprezado pelo próprio diretor. Assim podemos descrever EL JUSTICERO (1967), o trabalho que sucedeu a obra-prima VIDAS SECAS (1963). Alguns críticos consideraram como uma espécie de conclusão da trilogia iniciada com RIO, 40 GRAUS (1956) e RIO, ZONA NORTE (1957), por mostrar a zona sul do Rio de Janeiro, mas o próprio Nelson Pereira dos Santos nega essa afirmativa. E realmente trata-se de outro registro, com o espírito da época do ano de 1967, o ano mais psicodélico do século. Quem sabe se tivesse sido fotografo em cores e não em preto e branco, EL JUSTICERO teria sido mais lembrado, pois o cenário dos interiores é cheio de estilo.
Porém, não resta dúvida de que é um filme menor do diretor, bem irregular. A história por trás das filmagens, que diz que o diretor não estava gostando nem um pouco de estar fazendo aquele filme, já entrega que um trabalho feito dessa maneira raramente sai bom. Assim, o aspecto de desleixo na caracterização dos personagens, na história e na edição está presente do início ao fim. A melhor coisa do filme é Adriana Prieto, em sua estreia como atriz, fazendo o papel da jovem loira que conquista o coração do playboy El Justicero, vivido por Arduíno Colassanti. Ele ficaria famoso em outro trabalho de Nelson, COMO ERA GOSTOSO O MEU FRANCÊS (1972), por causa de sua nudez e das batalhas contra a censura.
A censura também pegou no pé de EL JUSTICERO, que tira o sarro do regime militar, antes de a coisa esquentar de verdade. Em certo momento, El Jus diz que está com uma assessoria tão ruim quanto a de Jango; em vários outros momentos, uma jovem comunista é mostrada com simpatia, falando mal dos burgueses e do capitalismo. O próprio pai de El Jus é um velho general da aeronáutica que gosta de resolver as coisas no jeitinho brasileiro. Por causa da repressão e do fato de a censura ter sumido com os negativos do filme, só sobrou uma cópia em 16 mm. Talvez por isso as imagens que temos são tão ruins e talvez nunca teremos uma cópia realmente boa do filme. Fica, porém, como um interessante registro de época e um caso interessante de "filho rejeitado" de um diretor.
P.S.: A edição de maio da Revista Zingu! já está no ar. O destaque da edição é o montador Luiz Elias, que já editou alguns dos melhores trabalhos de José Mojica Marins, Ozualdo Candeias, entre outros. A veterana atriz Liana Duval também ganha um dossiê.
domingo, maio 22, 2011
THE OFFICE – SÉTIMA TEMPORADA (The Office – Season Seven)
No ano passado, ao escrever sobre a sexta temporada de THE OFFICE, eu falei que eles haviam chegado ao fundo do poço. O que dizer agora, então, se a sétima temporada (2010-2011) conseguiu ser ainda mais vazia e sem graça, a ponto de o próprio Steve Carrell pular fora do barco? Pelo menos, a temporada ficou marcante por isso: por contar com a despedida do gerente sem-noção Michael Scott, que tanto fez a alegria e o desconforto dos espectadores nas primeiras e brilhantes temporadas da série.
O episódio "Goodbye, Michael" foi emocionante, um daqueles de causar mesmo lágrimas nos fãs, ou naqueles que um dia já foram fãs de THE OFFICE. E tudo foi feito com um cuidado para não exagerar no sentimentalismo, com delicadeza, para que o personagem saísse de maneira digna. Não vou negar que me identifiquei com Michael, que ficou na empresa por 19 anos. Eu me desliguei de uma que trabalhei durante 20 anos e sei o quanto foi difícil sair.
Depois da saída de Carell, a sua ausência é claramente sentida. Não vê-lo nos créditos iniciais depois de todos esses anos, como se ele não tivesse existido, é muito estranho. Mas os episódios finais não são de todo ruins, principalmente os que mostram a loucura do Will Ferrell, o sujeito que o substitui, em participações especiais. Os episódios de despedida de Michael, já apresentando Ferrell, também são bem interessantes. Mas o que dizer dos anteriores, que já até saíram de nossa memória? Vamos tentar lembrar alguns no top 5 desta que foi a temporada de adeus para muitos espectadores também.
Top 5
1. "Goodbye, Michael". Não é preciso nem ver a lista dos outros episódios. Este é o mais marcante e que melhor honra os personagens e o passado glorioso da série. Michael engana a todos dizendo que vai embora no dia seguinte, sendo que ele já está prestes a sair de fininho naquele mesmo dia.
2. "The Search". Jim sai com Michael, mas é obrigado a deixá-lo numa loja de conveniência para resolver uma emergência. Um grupo resolve sair em sua procura. O final é emocionante, com Holly o encontrando na sacada de um prédio.
3. "Michael's Last Dundies". A última premiação dos Dundies com Michael teve seus momentos divertidos, com ele passando o cetro para DeAngelo, que se mostra cada vez mais perturbado.
4. "Andy’s Play". Andy ainda gosta muito de Erin e a presença dela em sua peça é muito importante. Mas Erin decide ficar com a filha pequena de Jim e Pam.
5. "Costume Contest". Um ex-namorado de Pam aparece no escritório e ela quer saber por que ele nunca a ligou de volta. Jim toma suas dores e tem uma conversa com o sujeito.
sábado, maio 21, 2011
BIG BANG: A TEORIA – A QUARTA TEMPORADA COMPLETA (The Big Bang Theory – The Complete Fourth Season)
E a curva de BIG BANG: A TEORIA é como uma onda senoidal, sendo que as temporadas mais altas, isto é, as melhores, são as de número par. E que delícia que foi essa quarta temporada. A terceira, com toda aquela história do namoro de Leonard e Penny, acabou não gerando momentos realmente engraçados. Nesta quarta temporada (2010-2011) de 24 episódios, as coisas voltam à normalidade entre a turma e o namoro encerrado com Penny e a tentativa de serem novamente amigos geram também momentos interessantes. Em especial nos episódios finais, quando a irmã de Raj aparece para reacender a chama de Leonard e deixar Penny um tanto enciumada.
Aliás, muito bom o espaço maior que é dado a Raj nesta temporada. Trata-se de um personagem cada vez mais querido e que ganhou mais força do que o próprio Sheldon. Howard também teve seus momentos de brilho. E pela primeira vez eu percebi que a relação dele com a mãe, que nunca aparece – apenas a voz -, lembra muito Norman Bates. Vai ver a série quis homenagear PSICOSE o tempo todo e só agora eu percebi.
A quarta temporada também se destacou pela entrada em cena de mais garotas. Bernadette, a namorada de Howard; Amy Farrah Fowler, a nerd quase namorada de Sheldon; e Priya, a irmã de Raj, e interesse amoroso de Leonard. Alguns episódios, inclusive, revezam a noite das meninas com a dos rapazes. A temporada mostra um amadurecimento maior dos personagens no que se refere a relacionamentos e a segurança deles muitas vezes acaba sendo motivo de muita diversão. Quase uma volta por cima da fase "nerd totalmente solitário" da primeira temporada. Porém, senti falta de mais referências da cultura pop, que apareciam bem mais nas temporadas anteriores.
Top 5 da temporada:
1. "The Justice League Recombination". A turma de amigos vai para uma festa à fantasia e seus trajes são da Liga da Justiça. Raj não fica nada contente com a sua ridícula fantasia de Aquaman.
2. "The Zarnecki Incursion". Alguém rouba um jogo virtual de Sheldon e ele pede ajuda aos amigos para descobrir quem foi o ladrão. O negócio é criar coragem de encarar o sujeito.
3. "The Herb Garden Germination". É o episódio das fofocas. Sheldon e Amy tentam ver até onde as fofocas podem chegar. Os resultados são hilários.
4. "The Roomate Transmodification". Cansado de ouvir os barulhos de Leonard e Priya fazendo sexo em seu quarto, Raj pede para ficar dormindo na casa de Sheldon. Uma bebedeira entre Raj e Penny provoca uma situação inesperada.
5. "The Thespian Catalyst". Raj começa a ter "pensamentos impuros" com Bernadette, a namorada de seu melhor amigo.
sexta-feira, maio 20, 2011
YOU MUST REMEMBER THIS – A HISTÓRIA DA WARNER BROS. (You Must Remember This – The Warner Bros. Story)
Richard Schickel é crítico veterano da revista Time e autor de três livros que me pareceram bem interessantes: um sobre Clint Eastwood, intitulado "Clint: A Retrospective", outro chamado "Conversations with Martin Scorsese" e um que saiu naquela famosa lista dos cinco favoritos de Woody Allen, "Elia Kazan: A Biography". Na falta, pelo menos por enquanto, destes livros, resolvi finalmente assistir a este documentário que celebra os 85 anos de um dos estúdios mais importantes de Hollywood.
YOU MUST REMEMBER THIS – A HISTÓRIA DA WARNER BROS. (2008) tem esse caráter promocional, afinal, não deixa de ser uma propaganda do estúdio. Mas, por outro lado, se hoje em dia, a Warner já não tem algo que a distinga das demais companhias, quando começou, tinha uma característica forte e foi muito importante para a liberdade de expressão no cinema americano, tendo forte influência como apoio nas vozes daquelas pessoas marginalizadas pela sociedade, como os mais pobres e que sofriam com a Grande Depressão e até mesmo os gângsters.
É por isso que quando se fala em Warner, lembra-se rapidamente de filmes como ALMA NO LODO, INIMIGO PÚBLICO e FÚRIA SANGUINÁRIA, que elevaram o status de atores como Edward G. Robinson e James Cagney à categoria de lenda. O documentário, dividido em cinco segmentos destacados cronologicamente, apresenta um pouco da história por trás dos filmes, desde o começo, com os irmãos Warner, passando pelo período em que o estúdio passou para outras mãos.
A primeira estrela do estúdio foi um cachorro: Rin Tim Tim, que fazia muito sucesso na década de 1920, em filmes seriados para o público juvenil. O estúdio foi ficando importante com a contratação de John Barrymore, ganhou prestígio ao trazer Ernst Lubistch e ao fazer a primeira experiência com som com O CANTOR DE JAZZ, que podia não ser lá essas coisas, mas a novidade do som gerou uma bilheteria gigante, ainda que nem todas as salas dos Estados Unidos estivessem equipadas com o novo aparelho. O estúdio também teve a coragem de produzir uma superprodução que naufragou nas bilheterias, A ARCA DE NOÉ.
Uma forte característica da Warner nos anos 1930 eram os diálogos crus, anteriores ao Código Hayes, que depois veio para acabar com a festa e proibir uma série de coisas. Enquanto isso, temas como mulheres que se vendiam, drogas sendo usadas e até um filme em que o pai é cafetão da filha eram usados. A Warner também foi o primeiro estúdio a reconhecer que os Estados Unidos estavam à beira de uma revolução, ao mostrar a onda de protestos que varriam o país naquela época.
Até mesmo os musicais da Warner tinham o seu diferencial em relação aos da concorrente MGM. Havia uma beleza de orquestrações e do visual, das tomadas, dos efeitos de câmera. Exemplo maior desse tipo de musical é RUA 42. Havia também a rainha da época, Bette Davis, bela e selvagem, mas que com o tempo foi se tornando menos bela. A CARTA tem uma cena forte de Bette atirando, que até hoje é marcante.
A Warner também foi pioneira a lidar com temas como o antisemitismo, questões sociais, como a luta interna e a Ku Klux-klan. Fez o primeiro filme antinazista, CONFISSÕES DE UM ESPIÃO NAZISTA, com Edward G. Robinson. E com esse filme eles sabiam que podiam estar perdendo boa parte dos ganhos no mercado europeu, já dominado pelo avanço do nazismo. E quando a guerra chegou, filmes como ÁGUIAS AMERICANAS e SARGENTO YORK, de Howard Hawks, foram importantes não só pela qualidade, mas por levar a guerra para o público. ÁGUIAS AMERICANAS, em especial, eu considero um marco. Aquelas cenas de batalhas aéreas são simplesmente fantásticas.
E quem nunca ouviu falar em CASABLANCA, hein? O título do documentário é retirado da canção-tema do filme. Que infelizmente eu ainda não aprendi a gostar. Mas prometo que vou dar mais uma chance ao filme, de preferência pegando alguma cópia em alta resolução para melhor apreciá-lo. Mas é interessante ver o amargo das interpretações de Humphrey Bogart, que marcou presença na Warner também em obras fortes como SEU ÚLTIMO REFÚGIO, de Raoul Walsh, em pelo menos dois filmes de Howard Hawks, UMA AVENTURA NA MARTINICA e À BEIRA DO ABISMO, e em mais uma série de outros trabalhos, como o brilhante O TESOURO DE SIERRA MADRE.
No ciclo noir a rainha da Warner passou a ser Joan Crawford, com filmes como ALMAS EM SUPLÍCIO, OS DESGRAÇADOS NÃO CHORAM e ACORDES DO CORAÇÃO. Eram anos sombrios os da década de 1940. Mesmo com o filme da guerra, veio o macarthismo, pronto para despachar para a Rússia os cineastas e roteiristas simpatizantes do comunismo. A Warner não teve outra alternativa a não ser aderir ao macarthismo.
Engraçado que vendo o documentário foi que eu soube de onde veio o "Stelaaa", que a Elaine da série SEINFELD grita num episódio engraçadíssimo. Deve ter sido uma homenagem a Marlon Brando e Vivien Leigh em UM BONDE CHAMADO DESEJO, filme que teve forte repercussão por causa da sensualidade, poucas vezes vista no cinema, até então.
Os anos 1950 trouxeram os musicais coloridos com Doris Day, a chegada da tv que veio junto com o fechamento de várias salas de cinema, a busca por uma alternativa com o 3D, a chegada da ficção científica nuclear, os desenhos do Pernalonga, o advento do cinemascope, com o estúdio se antecipando com O CÁLICE SAGRADO e trazendo, segundo Scorsese, o filme com a melhor utilização do scope, VIDAS AMARGAS, de Elia Kazan, além de James Dean em obras inesquecíveis como JUVENTUDE TRANSVIADA, de Nicholas Ray, e ASSIM CAMINHA A HUMANIDADE, de George Stevens. Foi também a era dos autores: John Ford (RASTROS DE ÓDIO), Howard Hawks (ONDE COMEÇA O INFERNO), Alfred Hitchcock (PACTO SINISTRO, O HOMEM ERRADO), entre outros.
A violência, marca da companhia na década de 1930, voltaria com força com a nova Hollywood: BONNIE & CLYDE (nunca deixo de me impressionar com a violenta saraivada de balas no final do filme), MEU ÓDIO SERÁ TUA HERANÇA, PERSEGUIDOR IMPLACÁVEL, QUANDO OS HOMENS SÃO HOMENS, LARANJA MECÂNICA, AMARGO PESADELO, CAMINHOS PERIGOSOS, passando pelo território do horror com o incrível sucesso de bilheteria de O EXORCISTA, no começo da década de 1970.
A Warner começou a perder um pouco de sua aura e de seu diferencial ao aderir ao gênero mais pop, como em SUPERMAN – O FILME e, mais recentemente, a série "Harry Potter". Depois de STAR WARS, o cinema não teve muitas alternativas a não ser a aderir à fórmula mais juvenil, com filmes baseados em quadrinhos, como os da série "Batman", que até hoje rende bastante. Ainda que se destaque obras importantes como OS IMPERDOÁVEIS, OS BONS COMPANHEIROS, DE OLHOS BEM FECHADOS, SOBRE MENINOS E LOBOS, entre outros das últimas duas décadas, o estúdio, nesses anos que coincidiram com o início de minha cinefilia, não se diferenciou tanto, por exemplo, da Fox, da Universal, da Columbia ou da Paramount. Mas não deixa de ser curioso ver um documentário assim extenso e que valoriza a história marcante do estúdio.
O documentário é narrado por Clint Eastwood e conta com comentários muito bem-vindos de Martin Scorsese.
quinta-feira, maio 19, 2011
PADRE (Priest)
Quando vi o trailer de PADRE (2011) pela primeira vez, fiquei logo cismado. Aquilo não podia ser bom. Mas aí apareceram alguns amigos dizendo que o filme era interessante, digno ou algo do tipo, e lá fui eu ver o dito cujo. Não posso dizer que não vejo algumas qualidades no mais recente trabalho de Scott Charles Stewart, diretor do também malhado LEGIÃO (2009). Mas no caso de PADRE, as melhores ideias são fruto de sua fonte original, os quadrinhos coreanos "Priest", de Min-Woo Hyung. O resultado é uma mistura de ficção científica com western, MAD MAX com BLADE RUNNER e vampiros monstruosos criados em computação gráfica que parecem saídos de videogames. Além disso, há um discurso sobre fé que até lembra um filme do ano passado de que eu gostei muito, O LIVRO DE ELI, que também conta com elementos semelhantes e se sai muitíssimo melhor no resultado final. Ambos os filmes trazem protagonistas movidos pela fé.
Mas o mais curioso de PADRE é a influência de RASTROS DE ÓDIO, de John Ford, coisa que eu não havia percebido quando vi o filme, mas que, lendo comentários de um grupo de amigos numa rede social, foi que percebi que era óbvio demais para não ter notado. Na trama, garota é raptada por vampiros e um padre (Paul Bettany) vai em busca da menina, nem que para isso tenha que matá-la, caso ela já esteja contaminada pelos sanguessugas. Ao lado dele, vai um interesse romântico da garota e que não aprova a ideia de matar a garota, não importa como ela esteja. Os dois seguem, mesmo sem a autorização da Igreja, que nesse futuro hipotético se tornou uma ditadura que prega, numa cidade em neon e separada do deserto, que "trair a Igreja é trair a Deus".
Há também outra personagem feminina importante para ajudar a compor o personagem de Bettany, vivida por Maggie Q, uma das melhores coisas do filme, mas que inevitavelmente lembra a Trinity de MATRIX, por sua indumentária e pelas sequências de ação. PADRE, como se pode ver, é essa salada de referências que até poderia render bem em outras mãos, mas que infelizmente não passa de mais um filme de ação genérico feito também com a intenção de capitalizar com cópias em 3D. Lamentável.
quarta-feira, maio 18, 2011
O HOMEM DO PLANETA X (The Man from Planet X)
Edgar G. Ulmer é o homem por trás de um dos filmes mais cultuados do ciclo noir americano dos anos 1940: CURVA DO DESTINO (1944). Ele, assim como quase todos os cineastas americanos da época, havia aderido ao espírito dark daquela década, quando as sombras eram mais importantes do que a luz, o que não se via era tão importante quanto o que se via. E assim como Anthony Mann passou o seu registro noir quando se tornou um diretor de westerns na década de 1950, Ulmer fez o mesmo numa ficção científica B chamada O HOMEM DO PLANETA X (1951).
Peguei o livro de entrevistas de Peter Bogdanovich ("Afinal, Quem Faz os Filmes") para vê-lo falando a respeito da obra, mas infelizmente, ele teve um derrame e logo depois morreu, não dando tempo para que os dois cineastas pudessem falar sobre as obras da década de 1950 em diante. Uma pena. Mas o filme está aí para ser apreciado e descoberto, já que não é tão famoso quanto outros trabalhos do gênero da mesma década quanto A MOSCA DA CABEÇA BRANCA, GUERRA DOS MUNDOS, VAMPIROS DE ALMAS e o recentemente comentado aqui A MULHER DE 15 METROS.
Porém, trata-se de coisa fina. Obra feita em poucos dias, com poucos recursos e atores desconhecidos, mas com um clima pegajoso e uma narrativa intrigante e divertida. Na trama, repórter resolve ir até uma ilha escocesa a fim de se aproximar de um cientista que investigava a aproximação de um planeta que estaria prestes a se chocar com o nosso. Chegando lá, ele faz logo amizade com a filha do cientista. Numa estrada daquele vilarejo ela encontra uma nave espacial e, dentro dela, um alienígena cabeçudo. Teria ele vindo em paz? Diferente de O DIA EM QUE A TERRA PAROU, de Robert Wise, ficção científica classe A do mesmo ano, a comunicação entre o E.T. e os terráqueos não nada fácil. Mas, mais importante do que a trama, é o clima de suspense que impregna todo o filme, com o medo, a paranoia e o mistério sempre presentes.
terça-feira, maio 17, 2011
POESIA (Shi)
Tenho o hábito de ler trechos do livro "Psicologia do Esotérico", de Osho, quase todo dia. Abro o livro aleatoriamente em determinada página e sempre fico fascinado com as palavras de sabedoria desse guru indiano que me instiga há mais de quinze anos. Quando eu digo "instigar" é porque às vezes eu me assusto - ou pelo menos me assustava - com o que ele dizia. Hoje, eu entendo até mesmo as contradições dele, pela quantidade de livros que já li.
Ontem li um trecho no qual ele fala sobre as tensões do futuro. Estamos sempre angustiados com o que devemos fazer ou com o que será de nós daqui a um ano ou mesmo daqui a uma semana ou mês. Segundo ele, a existência em si não é tensa. "A tensão é sempre por causa das possibilidades hipotéticas, não existenciais. Não há tensão no presente." Então, ele fala sobre a possibilidade de a gente imaginar algo que não esteja relacionado ao futuro, mas algo relacionado ao presente. Isso vem na forma de criação, da imaginação construtiva. Se você é pintor, a explosão será na pintura; se você é poeta, na poesia. Acho que por isso que escrever para esse blog, mesmo sendo sobre algo do passado, é como uma terapia pra mim. Posso não ser poeta, mas estou criando, nem que seja à sombra do trabalho artístico de outros.
A personagem de POESIA (2010), do sul-coreano Lee Chang-dong, é uma senhora idosa que tem a intenção de escrever um poema. Matricula-se num curso de poesia e o professor, ao falar sobre estados poéticos, lembra muito a meditação, de estar em contato com o presente e com o esvaziamento da mente. Pelo menos daquilo que não importa para a poesia. Ele dá como exercício para os alunos examinarem uma maçã. E ela leva isso a sério. Fica horas olhando para a maçã ou olhando para uma árvore, em busca de inspiração para o tão desejado poema.
Há outro detalhe interessante sobre a personagem: ela sofre de Mal de Alzheimer. E o buscar nas palavras – que já começam a desaparecer de sua memória a cada dia – se torna uma maneira de retardar o esquecimento. Há também uma subtrama envolvendo o neto, adolescente suspeito de participar de um grupo de violadores de uma jovem, que se suicida. A subtrama é bem costurada dentro da trama principal e serve para vermos o comportamento da personagem frente a algo tão brutal. A narrativa é lenta, agradável e bem próxima do que a gente pode chamar de cinema-poesia.
POESIA ganhou o prêmio de roteiro em Cannes em 2010.
P.S.: Já deveria ter mencionado, mas estava esperando que a Revista Zingu! voltasse com os acertos que faltavam para finalmente anunciar a edição de abril. Entre os acertos, um dos textos que contribuí para a última edição, que destaca o trabalho de Inácio Araújo, mais conhecido como crítico da Folha de São Paulo, no cinema brasileiro. Ele só dirigiu de fato um filme, o segmento "Uma Aula de Sanfona", do coletivo AS SAFADAS, mas contribuiu em outras áreas, como pode ser conferido nos vários e ricos textos sobre ele na revista. A Zingu! também lembra do índio, que costuma ser objeto de reflexão no mês de abril. Contribuí com os textos sobre A INFIDELIDADE AO ALCANCE DE TODOS, de Aníbal Massaini Neto e Olivier Perroy, e YNDIO DO BRASIL, de Sylvio Back. Confiram!
segunda-feira, maio 16, 2011
COMO VOCÊ SABE (How Do You Know)
James L. Brooks vai ser sempre lembrado por mim como o homem que me fez chorar com LAÇOS DE TERNURA (1983). E isso já faz um bom tempo. E lá naquele filme, cheio de delicadeza, Jack Nicholson estava presente também. Não nesse corpo inchado e envelhecido que ele se encontra aprisionado hoje, pois o tempo é cruel até com os astros de Hollywood. Nicholson também fez parceria com Brooks em um papel que talvez seja um dos mais importantes de sua carreira, o do sujeito com TOC de MELHOR É IMPOSSÍVEL (1997). Nota-se que o diretor Brooks, embora trabalhe bem menos do que o produtor Brooks, em geral acerta o tom. E se COMO VOCÊ SABE (2010) talvez esteja longe do seu melhor, carrega a classe e o amor pelos personagens característicos de seus melhores filmes.
Na trama, Reese Whiterspoon é uma mulher dedicada desde a infância a um esporte que ela ama, o softball. Acontece que trabalhar como esportista pode ser uma tarefa ingrata, pois rapidinho a pessoa vai ficando velha demais para aquilo. Desencantada e desiludida da vida, ela recebe o apoio e o flerte do esportista milionário vivido por Owen Wilson. Que é até um sujeito legal, mas que por ser mulherengo e acostumado à vida cheia de confortos que leva, talvez não seja o sujeito ideal para a moça. Ao mesmo tempo, ela encontra um outro rapaz, que não tem nada de esportista e está passando por uma crise no trabalho muito pior do que ela (Paul Rudd). Ele está sendo acusado de crime financeiro. O pai (Jack Nicholson) é uma figura chave nessa situação.
Interessante no filme é que Paul Rudd, que é um personagem que começa fraco e bobo, vai se tornando aos poucos o elo de ligação com o público, o homem por quem a gente torce no final. Menos por sua situação de desvantagem em relação ao concorrente, mas pelo fato de ele parecer estar de fato apaixonado pela moça. E assim como ele cresce no olhar da personagem de Reese, ele também cresce em cena. Cresce como a aura pessimista que persegue como uma sombra ameaçadora a vida desses dois personagens, o que diferencia COMO VOCÊ SABE de outras comédias românticas aguadas. Pode não ser o melhor de Brooks – também adoro NOS BASTIDORES DA NOTÍCIA (1987) -, mas é muito mais do que se espera. E se destaca como um diferencial de qualidade nesse território atualmente infértil e tão cheio de clichês das comédias românticas. Brooks está mais interessado nas dores e no comportamento de seus personagens do que em seguir os padrões do gênero e agradar a grande massa.
sexta-feira, maio 13, 2011
AS DOZE ESTRELAS
Provavelmente um filme que será execrado pela crítica. Aliás, até já foi, quando exibido no Festival de Paulínia, no ano passado. Diria que o público interessado em AS DOZE ESTRELAS (2011) é aquele que conhece um pouco de astrologia, que reconhece os arquétipos de cada signo do zodíaco. Esse tipo de filme é muito raro de se ver no cinema. Tinha visto algo parecido apenas em A MONTANHA SAGRADA, de Alejandro Jodorowsky.
Longe da linhagem nobre do enigmático filme do lendário cineasta-bruxo chileno, a obra de Luiz Alberto Pereira é até bastante didática, funcionando como uma espécie de "aula" ou brincadeira com o zodíaco. A trama é boba, mas isso não vem ao caso quando se está gostando da viagem.
Na história, astrólogo renomado (Leonardo Brício) é convidado a formar ou entrevistar um grupo de doze atrizes de signos diferentes para uma telenovela chamada "As Doze Estrelas". Antes disso, porém, ele recebe uma visita do Destino em pessoa (Paulo Betti), numa sequência um tanto constrangedora, mas que já dá o tom do filme. Já se sabe a partir daí que não é filme pra ser levado tão a sério. A ordem das atrizes que ele encontra obedece (exceto em uma ocasião) a ordem da roda zodiacal, começando com Áries e terminando com Peixes. Uma série de situações surreais acontece no caminho.
Alguns signos são melhores retratados, outros não. As leoninas, por exemplo, não devem gostar nada de como são representadas. Em compensação, as taurinas (favoritas da casa) mereceram tratamento especial. Como canceriano que sou, senti mais falta de outros elementos ricos da constituição do signo, mas pelo menos não retrataram a mulher como uma chorona. Há alguns rostos conhecidos entre as nativas de cada signo e o interessante é que todas as atrizes são mesmo nativas dos signos que interpretam – exigência do diretor. A ideia seria dar mais credibilidade ao filme. Entre as belas moças, destaque para a que faz Libra, uma surpresa em todos os sentidos.
Segue a lista de atrizes com seus respectivos signos: Áries (Lívia Guerra), Touro (Paula Franco), Gêmeos (Mylla Christie), Câncer (Martha Meola), Leão (Gabrielle Lopez), Virgem (Francisca Queiroz), Libra (Carla Regina), Escorpião (Leona Cavalli), Sagitário (Adriana Alves), Capricórnio (Rosanne Mulholland), Aquário (Silvia Lourenço) e Peixes (Djin Sganzerla).
quinta-feira, maio 12, 2011
CONTOS ERÓTICOS
Bem que o cinema poderia nos oferecer mais desses filmes em antologias. Na literatura, o formato de conto é muito utilizado e valorizado. No cinema, ainda predomina o longa-metragem convencional. O cinema brasileiro, então, até parece ter perdido o interesse por esse formato de vários pequenos filmes reunidos em um único longa-metragem, que era tão comum nas décadas de 70 e 80.
CONTOS ERÓTICOS (1977) era um filme que eu queria ver desde o início de minha cinefilia. Tinha visto a resenha na revista SET, mas nunca encontrei a fita para alugar nas locadoras daqui. Só agora, com a boa vontade de pessoas que disponibilizam na internet essas raridades é que pude me beneficiar com a possibilidade de, então, poder assisti-lo.
Ao contrário do que parece – e até do que eu esperava – CONTOS ERÓTICOS não tem tanto erotismo, não. Acredito que a preocupação do cinema brasileiro na década de 1970 ainda não era pelo exploitation. Por isso que os filmes mais eróticos, digamos assim, desta década, são mais sutis, diferente da década de 1980, quando tudo foi mais escancarado. Ou deliciosamente escancarado. A grande vantagem de CONTOS ERÓTICOS está em poder ver diretores do primeiro escalão do cinema brasileiro dirigindo pequenos filmes adaptados de contos premiados de leitores da revista Playboy.
O que eu mais gostei foi o primeiro, "Arroz com Feijão", dirigido por Roberto Santos. Nele, Joana Fomm é uma mulher que recebe o sobrinho que vem do interior e que vem à sua casa diariamente para almoçar. Enquanto o marido está longe, ela fica tentada a agarrar o rapaz. Erotismo suave e andamento narrativo agradável. "As Três Virgens", de Roberto Palmari, mostra uma bela jovem que é enviada para três velhas tias solteironas para se esconder do namorado proibido. Bom filmete, mas tirando a nudez final, o erotismo passa longe. O mesmo se pode dizer de "O Arremate", de Eduardo Escorel. A não ser que alguém curta cena de velho (Lima Duarte) tentando estuprar garota indefesa por causa de uma dívida com o pai da moça. Finalmente, o mais famoso de todos é "Vereda Tropical", de Joaquim Pedro de Andrade, que mostra Cláudio Cavalcanti mandando ver numa melancia. Além das cenas dele "namorando" e dando um trato na fruta, há também as conversas divertidas com Cristina Aché sobre as vantagens do sexo hortifrutigrangeiro. O cartaz do filme, inclusive, traz uma melancia com um corte aberto em formato de vagina. Genial.
quarta-feira, maio 11, 2011
A MULHER DE 15 METROS (The Attack of the 50 Foot Woman)
Nem estava nos meus planos ver este A MULHER DE 15 METROS (1958), mas o que me chamou a atenção foi a morte de uma das atrizes do filme, Yvette Vickers, encontrada morta em sua casa recentemente, aos 82 anos, e com o corpo em estado de mumificação, o que indica que ela já estava morta há cerca de um ano. Isso me deixou triste. Não pela atriz, que sequer conhecia, mas pela situação de extrema solidão. A aposentada atriz era provavelmente tão solitária que ninguém procurou visitá-la durante todo esse tempo. Aliás, eu já vejo a velhice como solidão, quando a pessoa passa a ver seus amigos todos morrendo e as pessoas mais jovens pouco ligando para ele ou ela. Claro que existem exceções, mas em meus olhos machadianamente pessimistas é assim que eu vejo.
Quanto ao filme, diria que o cartaz é melhor. Deve ter sido um desses vários casos de cartazes feitos antes do filme ou do roteiro, mostrado para um desses produtores de quinta categoria para exibi-lo em drive-ins. Acontecia muito nas décadas de 40 e 50. Os anos 50, inclusive, foram a década em que o filme de horror foi substituído – ou acrescido – pela ficção científica. Era a era atômica, quando os Estados Unidos viviam sob o pavor de sofrerem o mesmo mal que afligiram ao Japão na Segunda Guerra Mundial. Assim, havia muitos filmes sobre radiação que transformava as pessoas.
No caso de A MULHER DE 15 METROS, Allison Hayes é uma mulher milionária que é chifrada pelo marido, que só quer saber do seu dinheiro e fica o tempo todo no bar com a outra (Yvette Vickers). Ela já tem um histórico de alcoolismo e visitas a sanatórios e quando diz que viu um homem gigante em uma nave no meio da estrada ninguém acredita. A coisa se complica quando o corpo dela passa a adquirir dimensões gigantescas, como a do alienígena que ela vira.
Infelizmente o filme mais promete do que cumpre e os efeitos especiais envelheceram bastante. A mão gigante, então, é horrível. Qualquer escola de samba do Rio de Janeiro faria melhor. Os melhores momentos ficam para o final, quando o filme já está pertinho de acabar, que são as imagens icônicas de Allison perto de postes de energia elétrica ou arrancando o teto do bar à procura do marido. No mais, o filme perde para vários outros exemplares da sci-fi produzidos naquela década.
A MULHER DE 15 METROS ganhou um remake em 1993, estrelado por Darryl Hannah. Nunca vi, mas parece que também não é grande coisa.
terça-feira, maio 10, 2011
VELOZES & FURIOSOS 5 – OPERAÇÃO RIO (Fast Five)
O Rio de Janeiro está cada vez mais presente nos filmes de Hollywood. Não é de hoje que isso acontece, mas creio que nunca ocorreu com tanta frequência. Além da animação RIO, lembremos que O INCRÍVEL HULK começou com uma sequência no morro carioca, assim como OS MERCENÁRIOS, de Sylvester Stallone. Deve ser influência de filmes como CIDADE DE DEUS e TROPA DE ELITE nos Estados Unidos. Mas sem querer desmerecer as produções gringas, as nossas, pelo menos essas duas citadas, são bem melhores do que os supracitados filmes americanos.
O caso de VELOZES & FURIOSOS 5 – OPERAÇÃO RIO (2011) é especial porque se trata de uma franquia até que bastante querida. Mesmo sendo bem irregular desde o primeiro filme, a cinessérie sempre teve o seu público, em geral a turma que gosta de carros envenenados e não liga muito para outros aspectos de um filme. Nem mesmo se a história é boa ou ruim. Na verdade, praticamente todas as histórias desses filmes são ruins. O que interessa aqui acaba sendo as sequências de ação. Quanto mais exageradas melhor. Mas a vantagem desses filmes é que as tais sequências são feitas com pouca utilização de computação gráfica, à moda antiga, dando às cenas de porrada um peso necessário para torná-las minimamente críveis e até empolgantes.
Com o tempo, há também uma espécie de vínculo que se cria com os personagens, por mais rasos que eles sejam. Se diretores e roteiristas mais competentes comandassem a série, a falta, por exemplo, da personagem de Michelle Rodriguez, que deu adeus em VELOZES E FURIOSOS 4 (2009), seria mais fortemente sentida. Do jeito que ficou, o sentimento de perda do personagem de Vin Diesel é quase nulo. Mas como se trata de um filme pra macho, esse negócio de sentimento deve ser só frescura.
Porém, há que se dar um crédito para o diretor Justin Lin. Não apenas por ele estar tendo um sucesso absurdo com esse filme nos Estados Unidos, mas por ter feito o que talvez seja o melhor da franquia. Trata-se de uma espécie de ONZE HOMENS E UM SEGREDO sem sutilezas. O grupo de George Clooney e Brad Pitt, por exemplo, jamais sairia arrastando um cofre cheio de dinheiro pelas ruas de uma grande cidade, sendo perseguido por um monte de carros da polícia. Mas os dois filmes guardam as suas similaridades, como o fato de ter aquele ar despretensioso e malandro.
E a malandragem combina com o cenário do Rio de Janeiro. Por mais que alguns diálogos fiquem toscos e o vilão seja português (Joaquim de Almeida), pelo menos uma das protagonistas, Jordana Brewster, por ter passado boa parte da infância no Brasil, fala fluentemente o nosso português. Jordana, aliás, emagreceu um pouco além do ponto e isso a deixou um pouco menos bela do que nos filmes anteriores.
Quanto ao duelo Vin Diesel versus Dwayne Johnson, não deixa de ser curioso, mas é tão bom quanto os mais vagabundos filmes policiais dos anos 80. Vale pelo duelo de titãs, mas decepciona e não convence. Talvez porque Johnson esteja muito canastrão e pouco à vontade no papel. Ou talvez porque ele estivesse apenas só se divertindo mesmo. Na trilha sonora, várias canções brasileiras, inclusive, uma do Marcelo D2 ("Desabafo/Deixa Eu Dizer").
domingo, maio 08, 2011
A SALVO (Safe)
A última estada em Sampa foi mais tranqüila, no sentido de não haver uma agenda tão cheia como nas vezes anteriores. Assim, pude ver alguns filmes na casa do camarada Michel. Ele dizia para eu escolher qualquer filme, entre os vários que ele dispunha em seu HD. A vantagem é que qualquer filme que estava ali, ele veria mesmo de uma maneira ou de outra. Optei por A SALVO (1995), de Todd Haynes, filme que há tempos eu deveria ter visto. Quase levo num saldão de vhs tempos atrás, mas pra quê, se hoje em dia está quase tudo disponível em dvdrip para download? O amigo Davi Pinheiro até tinha feito uma cópia do filme para mim tempos atrás, e eu não tinha visto até então.
A SALVO é uma espécie de antecipação dos anos 2000, era da síndrome do pânico, da paranoia, das doenças psíquicas do novo século em grande escala. Na música, muita gente antenada já havia também previsto esse mal, como o Radiohead e seu OK, COMPUTER e o Garbage com VERSION 2.0. No cinema, a tarefa coube a Haynes, que ao mostrar o processo de uma doença misteriosa dá ao filme um ar extremamente sombrio, muito próximo de um filme de horror. A sequência em que Julianne Moore está deitada na cama e pergunta, desorientada, ao marido onde ela está me deixou arrepiado. Outra sequência especialmente perturbadora a mostra dirigindo tossindo e sem fôlego. Fico imaginando uma pessoa com problema de asma vendo o filme, já que eu mesmo já estava me sentindo mal com aquilo.
Por isso, gosto especialmente da primeira metade do filme, que tem mais aspecto de terror misturado com filme de doença. A SALVO, pelo menos em seu primeiro momento, guarda semelhança com outro filme de Haynes, LONGE DO PARAÍSO (2002), também protagonizado por Julianne Moore. A semelhança está no falso bem-estar de uma vida rica, dentro dos padrões do american way of life, quando o mal - ou a verdade - está à espreita. Mas a segunda metade talvez seja a razão de ser do filme, o momento em que ele expande o seu significado.
sábado, maio 07, 2011
A GAROTA DA CAPA VERMELHA (Red Riding Hood)
A história da Chapeuzinho Vermelho é uma das fábulas que mais está presente no inconsciente coletivo. Mesmo em tempos em que os pais, em sua maioria, perderam o hábito de ler livros infantis para as crianças, a fábula permanece fortemente conhecida por todos, como que por mágica. Já deve ter sido adaptado inúmeras vezes para o cinema e a mais interessante versão talvez seja a de Neil Jordan, A COMPANHIA DOS LOBOS (1984).
A GAROTA DA CAPA VERMELHA (2011), de Catherine Hardwicke, apesar de já não prometer muito, até que começa bem, com a câmera passeando pela vastidão gelada em belos planos aéreos. A direção de arte e a fotografia também são destaques, especialmente quando vemos o detalhe do vermelho da capa da jovem vivida por Amanda Seyfried e o branco da neve. Amanda, com seus belos olhos verde-claros, tem se destacado e conseguido um bom número de fãs desde a primeira temporada de BIG LOVE.
Infelizmente, a fragilidade da trama põe tudo a perder nesta fantasia com misto de horror dirigida por uma cineasta que parece ter encontrado o jovem como seu tema recorrente. Atualmente ela é mais lembrada por CREPÚSCULO (2008), mas foi com AOS TREZE (2003) que ela debutou, já tratando do adolescente. Até quando dirigiu JESUS – A HISTÓRIA DO NASCIMENTO (2006), ela tratou de mostrar uma Maria adolescente.
Talvez o filme não tivesse mesmo que ver a luz do dia. Ainda mais em tempos em que lobisomens já não são mais bem-vindos. Já se tem que aturá-los nos filmes da "saga Crepúsculo" e na série TRUE BLOOD. Assim, alguns atores de respeito como Gary Oldman e Julie Christie acabam tendo que pagar mico em cenas constrangedoras. Lá pela metade do filme, não interessa mais quem é o lobisomem, nem qual dos garotos vai conquistar o coração da mocinha. O que interessa mesmo é saber se o filme está perto de acabar.
sexta-feira, maio 06, 2011
UM CÉU DE ESTRELAS
Mais um filme visto no "cineclube" do amigão Michel Simões. Trata-se da estreia na direção de longas de Tata Amaral. Lembro que UM CÉU DE ESTRELAS (1996) foi bem premiado e teve sucesso de crítica na época de sua exibição nos cinemas, mas que acabei deixando passar por algum motivo. Foi exibido em Fortaleza numa daquelas mirradas sessões do Cinema de Arte. Antes os horários disponíveis eram apenas três e bem inconvenientes. Mas em compensação, os filmes que passavam não eram comerciais como os de hoje em dia e tinha um público cativo e fiel.
Quanto a UM CÉU DE ESTRELAS, o filme não superou as minhas (altas) expectativas, mas é sem dúvida um filme intenso, com um excelente trabalho de movimentação de câmera num espaço pequeno – uma casa pobre de subúrbio. Na trama, sujeito (Paulo Vespúcio) volta para atazanar a vida de sua jovem ex-esposa ou companheira (Leona Cavalli). Sua visita não é apenas para tomar um cafezinho, mas para fazer inferno mesmo. Ao mesmo tempo, a mulher, talvez para se ver livre do sujeito, talvez por ainda sentir tesão, aceita fazer sexo com ele.
E as cenas de sexo estão entre os melhores momentos do filme, tanto por sua selvageria, quanto pelo baile da câmera aproximando-se do casal. Talvez o ponto fraco do filme esteja em sua conclusão, que culmina em tragédia, mas que não alcança a catarse pretendida. Suspeito que ver no cinema, na época da exibição, deve ter sido bem mais impactante. O filme foi baseado num romance de Fernando Bonassi e conta com Jean-Claude Bernadet entre os roteiristas.
quinta-feira, maio 05, 2011
INCÊNDIOS (Incendies)
Representante canadense na corrida ao Oscar de filme em língua estrangeira deste ano, INCÊNDIOS (2010), de Denis Villeneuve, foi um filme que me pegou de surpresa e, mesmo reconhecendo suas falhas e sua intenção de surpreender o espectador com um final chocante – e ainda assim, em certo ponto, já é possível adivinhar a tal surpresa -, mesmo reconhecendo essas falhas, não vou negar que me deixei levar, quase fascinado, por sua narrativa.
O fato de ser confuso, curiosamente, não atrapalhou. Ao contrário, era algo que me deixava ligado. Terá sido culpa do café expresso que tomei entre uma sessão e outra para espantar o sono? Digo isso porque já havia passado alguns anos sem provar café, pois da última vez havia me causado taquicardia e acho que pressão baixa. Resolvi arriscar o cafezinho – na verdade, não sou fã do sabor, mas com um quiche, vai que é uma beleza. E funcionou. Porém, em certo momento do filme, na tal cena da revelação chocante, quando os dois irmãos estão sentados na cama, eu tive um susto tal que desde CIDADE DOS SONHOS não sentia. Meu coração foi a mil, fiquei branco como gelo no Alasca.
A trama de INCÊNDIOS gira em torno da morte de uma mulher e uma série de cartas que ela deixou para seus filhos. As cartas, porém, não poderiam ser abertas até que fosse encontrado o filho desaparecido dela. A partir daí, o filme segue como um misto de thriller com drama familiar, com uma série de idas e vindas no tempo para mostrar também o passado dessa mulher misteriosa, enquanto acompanhamos as investigações em torno do paradeiro do "filho perdido".
A jornada envolve as complicadas questões envolvendo a Guerra do Líbano nos anos 70 e 80, o que tornou a parte política um pouco difícil de ser assimilada com clareza por mim. Mas vejo isso como um dos charmes do filme. O fato é que, entre INCÊNDIOS e o vencedor do Oscar, o dinamarquês EM UM MUNDO MELHOR, nado contra a maré e fico com o impacto das imagens e a fluidez narrativa do filme de Villeneuve.
quarta-feira, maio 04, 2011
ESSENTIAL KILLING
Interessante ver um drama de guerra nestes tempos de "guerra ao terror" que seja narrado do ponto de vista de um "terrorista". ESSENTIAL KILLING (2010), de Jerzy Skolimowski, mostra Vincent Gallo como um sobrevivente, depois de ter jogado uma bomba e dilacerado os corpos de um grupo de soldados americanos. A partir daí, o filme segue na busca dos americanos por este homem perigoso, que consegue fugir e se esconder, sobrevivendo à fome, à dor, aos cães farejadores e o que mais aparecer pela frente - se precisar, inclusive, até leite materno ele toma.
Visto hoje, em tempos de morte (suspeita) de Bin Laden, ESSENTIAL KILLING não deixa de ser um tanto provocador, ainda que Skolimowski não tome nenhum partido explicitamente no conflito. E, se eu não me engano, nem mesmo o local do conflito é mencionado. Vendo no IMDB, vi que mencionam que o local é o Afeganistão e que o protagonista é membro do talibã.
O diretor polonês, cujo trabalho conheço muito pouco, faz um filme praticamente sem diálogos, todo construído de imagens. E imagens fortes e produção bem cuidada para um filme fora do eixo hollywoodiano. As sequências de explosões e tiroteios são impressionantes e o trabalho de som é primoroso. Tive o prazer de ver o filme em alta resolução e com som 5.1. Na sequência dos cachorros, Ricky, o cão aqui de casa, ficou pensando que havia mesmo outros cães por perto e ficou logo à procura dos invasores. Grande filme, ótima performance de Gallo e uma bem-vinda, ainda que curta, participação de Emmanuelle Seigner.
terça-feira, maio 03, 2011
AMOR?
Desde PRO DIA NASCER FELIZ (2006) - filme que eu adoro - que se percebe semelhanças entre o cinema de João Jardim e o de Eduardo Coutinho. Quase como uma relação de discípulo e mestre. Se Coutinho teve uma longa história de documentários com pessoas conversando e até se confessando diante das câmeras, Jardim tem pouco tempo nesse caminho. Mas mesmo num filme como LIXO EXTRAORDINÁRIO (2010), onde ele é apenas parcialmente creditado como diretor, percebe-se fortemente a sua mão, o seu contato com os catadores de lixo e aquelas emocionantes cenas proporcionadas por aquelas pessoas extraordinárias.
Com AMOR? (2011), Jardim parece mais uma vez seguir os passos do mestre Coutinho, que mudou o rumo de sua carreira com JOGO DE CENA, ao questionar o que é verdade e o que é mentira, misturando atrizes famosas com pessoas anônimas, contando histórias muito particulares de suas vidas. Em AMOR?, Jardim faz algo semelhante, ao contratar atores e atrizes profissionais e conhecidos para interpretar o papel de pessoas entrevistadas previamente. O tema: relacionamentos cheios de violência e paixão. Para não ficar tão parecido, o diretor utiliza em alguns momentos closes em mãos e outras partes do corpo do entrevistado, cenas dos atores tomando banho etc. Aliás, a água é uma constante no filme. Se ele acredita ou não em astrologia, teve a sensibilidade para exibir o simbolismo da água, representando as emoções e o amor, para o seu filme.
Alguns depoimentos, obviamente, se destacam mais. E a presença de atores no lugar de "pessoas reais" acaba se justificando quando vemos declarações de homens que confessam seu vício em causar violência nas mulheres que passaram por suas vidas, como na forte sequência de Ângelo Antônio. Entre as mulheres, interessante Jardim usar duas atrizes para interpretar uma mesma personagem. Sílvia Lourenço e Fabíula Nascimento se alternam no papel da moça lésbica que fala de seu mais intenso relacionamento e de sua destruidora experiência com as drogas. Também merece destaque a interpretação de Júlia Lemmertz, uma das várias mulheres violentadas e que sentem dificuldade de se impor perante a violência brutal de seus companheiros. Ela fecha bem o filme, que também tem o mérito de renovar o interesse do espectador, quando ele imagina que já está cansado do formato e dos depoimentos.
segunda-feira, maio 02, 2011
MARY
Interessante o início da década de 30. Com o advento do cinema falado, alguns estúdios acreditavam que a barreira da língua ainda era muito forte e que as legendas não eram suficientes para ajudar a importar um filme de um país para outro. Vai ver também não se pudesse fazer legendas ou houvesse ainda muito analfabetismo. Foi por isso que a Universal fez uma versão para o mercado espanhol de DRÁCULA - que dizem que é até melhor que a de Tod Browning. E foi por isso que Alfred Hitchcock fez uma versão alemã de um de seus primeiros filmes falados, ASSASSINATO (1930). Chama-se MARY (1931).
Tenho pouca lembrança de ASSASSINATO (vi em 2003, conforme arquivos do blog), mas pelo que dizem MARY tem a trama igualzinha, só mudando mesmo os atores e a metragem, que é um pouco menor. Deve ser mais interessante ver os dois filmes seguidos para sentir a diferença e os detalhes. Alguns movimentos de câmera de Hitchcock nessa fase inicial falada parecem curiosamente mais hesitantes do que os da fase muda, como, por exemplo, na cena da câmera aproximando-se do rosto do dramaturgo Sir John, numa conversa dele com um casal de amigos a fim de investigar o caso e salvar Mary. Esse tipo de detalhe ajuda a construir ou antecipar o suspense.
E ASSASSINATO e MARY são os únicos filmes de Hitchcock do tipo "quem é o culpado?". O diretor não curtia esse tipo de narrativa, que considerava iguais a palavras cruzadas, que uma vez resolvidas acaba-se a graça. Mesmo assim, não estando entre suas melhores obras, não deixa de ter o seu grau de interesse. Sem falar que os filmes da fase europeia tinham mais bizarrices, como o sujeito que se veste de mulher para fazer o seu número de trapezista no circo.
Outro detalhe curioso está na presença de cena de Mary, a acusada de ter matado uma mulher e sentenciada à pena de morte. Em alguns momentos, ela lembra uma espécie de Joana D'Arc, uma santa prestes a pagar pelo pecado de alguém. Quer dizer, já no começo da carreira, o tema da transferência da culpa, tão presente nas obras posteriores de Hitchcock, já se manifestava de maneira forte.
domingo, maio 01, 2011
MISTÉRIOS E PAIXÕES (Naked Lunch)
A ideia de fazer uma peregrinação pela obra de David Cronenberg foi ótima. Assim pude atestar o quanto gosto de seus filmes, o quanto eles crescem na revisão, o quanto ele pode ser considerado, já desde o início da carreira, um cineasta genial. Mas MISTÉRIOS E PAIXÕES (1991) sempre foi uma pedra no meu sapato. A minha lembrança da primeira vez que vi o filme não era nada agradável. De alguma maneira, ele tinha causado em mim um sentimento de aflição bastante incômodo. E eu suspeito que isso se deva ao aspecto kafkiano do filme, pois filmes baseados em Kafka, como O PROCESSO, de Orson Welles, e o próprio KAFKA, de Steven Soderbergh, despertaram em mim algo semelhante.
Mas os tempos mudaram e a nossa recepção perante os filmes vai mudando também. E MISTÉRIOS E PAIXÕES passou de perturbador e desagradável a sonífero. Muito interessante e bem realizado, mas difícil de me manter acordado por mais de vinte minutos. Impressionante. Tive que rever, claro, por partes. E como algumas partes eu vi em estado de sonolência, muito do filme vai para o semiconsciente, assim como acontece com VIDEODROME (1983). Com a diferença que VIDEODROME me deixa ligado. Talvez a trilha sonora jazz de MISTÉRIOS E PAIXÕES também contribua para esse efeito em mim. Enfim, são apenas especulações sobre um filme e seus efeitos.
A livre adaptação da obra mais conhecida de William Burroughs, "O Almoço Nu", é, como o próprio Cronenberg diz, uma junção de Burroughs com Cronenberg. Como se os dois autores tivessem se juntado numa daquelas máquinas de teletransporte de A MOSCA (1986). E um detalhe que eu achei interessante na entrevista contida no livro "Cronenberg on Cronenberg" é quando o cineasta diz: "Uma das coisas que eu disse para ele [para Burroughs] foi ‘Você sabe, eu não sou gay e nem minha sensibilidade é. No que se refere à sexualidade do filme, vai haver outra coisa. Eu não tenho medo da homossexualidade, mas ela não nasceu em mim e eu provavelmente vou querer mulheres no filme.". Não deixa de ser uma negação curiosa, já que muitos de seus filmes possuem elementos muito próximos da homossexualidade.
No caso de MISTÉRIOS E PAIXÕES, temos não apenas os gays da Interzone, mas também a máquina de escrever que fala pelo ânus e que adora quando colocam um pouco de veneno de barata pelo seu meio de falar. Na mesma entrevista, também achei curioso o fato de o próprio Burroughs ter dito que escrever "The Naked Lunch" o curou de sua homossexualidade e que ele estava realmente atrás de uma boceta. Outro autor contemporâneo de Burroughs, Allen Ginsberg, chegou a dizer que fez terapia para se curar do homossexualismo. Vê-se que, na época, mesmo em artistas como esses, havia uma tendência em considerar a homossexualidade como doença.
O filme apresenta elementos da vida real de Burroughs, que foi viciado em drogas, atirou na própria esposa, esteve na prisão e viveu exilado. Assim, por mais fantasiosas que pareçam as cenas envolvendo centopeias gigantes, criaturas disformes, máquinas de escrever que se transformam em insetos gigantes e veneno para insetos que vicia e proporciona uma "viagem literária", havia uma intenção de mostrar um pouco da vida de Burroughs. Pena que MISTÉRIOS E PAIXÕES não suscite em mim paixões. Apenas um respeito crescente e contínuo pela obra de Cronenberg.
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