sexta-feira, julho 30, 2010
TOKYO!
Filmes de segmentos, apesar de já nos deixar preparados para ver um produto irregular, ao mesmo tempo passa a sensação de que estamos pagando para ver três pelo preço de um, quando é o caso de trabalhos como TOKYO! (2008), que conta com três médias-metragens dirigidos por Michel Gondry, Leos Carax e Bong Joon-ho. Cineastas de estilos totalmente distintos envolvidos num projeto que aparentemente só tem Tóquio como elemento comum e um pouco de cinema fantástico em suas histórias. Lembrando que os últimos trabalhos que vi, desses do tipo três em um, foram EROS (Antonioni, Soderbergh e Kar-wai) e AS SAFADAS (Reichenbach, Araújo, Meliande), comentado aqui no blog há poucos dias.
TOKYO! inicia-se com o trabalho de Michel Gondry, o mais pop dos três realizadores. Pelo menos, quando se fala em BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS (2004), quase todo mundo sabe do que se trata. Em seu segmento, intitulado "Interior Design", ele mostra as dificuldades de um jovem casal de conseguir emprego e moradia na grande cidade. Os minúsculos apartamentos de Tóquio não oferecem muito espaço e nem sempre dá pra abusar da boa vontade dos amigos. O casal consegue estadia temporária na casa de uma amiga, enquanto se arranjam. O rapaz tem vontade de ser cineasta. Até tem um filme trash pronto para ser mostrado. Ele curte obras com monstros e efeitos especiais. Mas nada nos prepara para o desfecho do filme, que me pegou de surpresa. É fantástico, é poético e é triste.
"Merde" é o segmento de Leos Carax. É o mais desagradável de ver dos três. E foi bem posicionado no meio. Carax, aproveitando o título de seu filme, faz um trabalho sujo. Não apenas o personagem, mas a fotografia também tem algo de suja. O Sr. Merda é uma espécie de monstro do esgoto. Um homem feio, fedido, com os cabelos estranhos, unhas como as do Zé do Caixão, olhos cegos. E ainda por cima sai atacando a multidão, comendo flores e dinheiro. O filme fica ainda mais bizarro quando entra em cena o advogado do Sr. Merda, que se parece bastante com ele e o único que entende a sua língua. É o corpo estranho num filme que já é um corpo estranho.
O segmento de Bong Joon-ho ("Shaking Tokyo") traz de volta a melancolia, ao contar a história de um "hikikomori", um sujeito que nunca sai de casa. Pode haver desses aqui no Brasil, mas no Japão, ao que parece, há muitos. O protagonista recebe mensalmente o dinheiro do pai pelo correio, fica em sua casa o dia inteiro lendo livros, revistas, dormindo ou satisfazendo suas necessidades fisiológicas, totalmente alheio ao mundo. Aos sábados, ele pede uma pizza por telefone. Nem sequer olha nos olhos do entregador e o ritual continua até o dia em que ele olha para os olhos de uma jovem entregadora de pizza. Um terremoto chacoalha literalmente naquele instante a casa e a vida do rapaz. Belíssimo trabalho de Joon-ho, que encerra com elegância e delicadeza este bizarro trabalho coletivo.
quinta-feira, julho 29, 2010
PREDADORES (Predators)
A primeira impressão que fica de PREDADORES (2010), logo a partir da cena de Adrien Brody caindo em queda livre, seguido do título gigante do filme preenchendo toda a tela, é de que estamos diante de um produto bem desleixado. O que não é de se admirar, sabendo-se que o produtor é Robert Rodriguez. Que quando quer, até faz uns trabalhos bem legais, mas a tendência dele é mesmo fazer tudo de qualquer jeito. Mesmo assim, não vai faltar público para o filme, tanto gente que gostou dos dois primeiros da franquia, quanto os fãs dos games. PREDADORES, aliás, tem até um clima de jogo eletrônico. E talvez se a gente estivesse com o joystick na mão fosse até interessante. O fato é que a criatividade passa longe do filme. Que é apenas mais um título ruim que deveria ser lançado direto em dvd por alguma distribuidora de segunda linha, mas que por razões óbvias consegue espaço nos cinemas.
A semelhança com LOST no início logo se dissipa quando a ação começa a ficar quase que initerrupta. E também mais banal, o tipo de ação que não empolga. Tanto porque os personagens são rasos e estereotipados, quanto porque o diretor Nimród Antal não tem a manha de dirigir boas sequências de ação. Adrien Brody como o protagonista, como o homem forte e inteligente do grupo, chega a ser uma escolha inusitada e interessante, mas os diálogos são tão ruins e o personagem é tão mal construído que não dá pra comprar o papel. E bem que Alice Braga podia estar numa produção melhor, mas pelo menos a atriz, como segunda mais importante do elenco, ganha mais visibilidade. Os outros membros do grupo também fazem papéis bem caricatos: o calado membro da yakuza, o negro africano, o homem das ciências e frágil na selva (Topher Grace), Danny Trejo como o mexicano rude, e Oleg Taktarov como o russo meio bobão.
Quanto aos monstrengos, eles já se tornaram familiares, mesmo continuando feios como o diabo. E acabaram por perder a força que pareciam ter no primeiro O PREDADOR (1987). Aqui, sendo em maior número, parecem mais fáceis de serem mortos, mesmo estando em seu próprio território (o filme se passa no planeta dos predadores) do que um único alienígena em território terrestre. Um ator conhecido surge como convidado especial e que traz alguma surpresa para o filme. No final, PREDADORES se encerra de maneira ridicula e com uma canção nos créditos ("Long Tall Sallly", de Little Richard) que nada tem a ver com aquilo tudo. Talvez apenas funcione como uma maneira de fazer com que nos esqueçamos o mais rápido possível daquela tosqueira.
quarta-feira, julho 28, 2010
REVEALING SASHA
Uma observação com relação a filmes pornôs em geral: é preciso estar com o estado de espírito propício para apreciá-los. Aliás, nem sei se "estado de espírito" é o termo adequado para o caso, mas está valendo. Uma das grandes diferenças entre REVEALING SASHA (2010) e os tradicionais filmes de sexo só com mulheres é que este tem tesão de verdade. Não é como aquelas coisas horríveis dirigidas pelo Bruce Seven no começo dos anos 90. Aqui as meninas beijam muito. E o beijo entre elas é algo tão belo de se ver que chega a ser, além de excitante, também hipnotizante. O vídeo de Viv Thomas também tem classe. A cada apresentação da nova parceira sexual de Sasha, vemos uma foto desenhada e colorida da moça, com o seu nome, prenunciando o próximo segmento. A fotografia é caprichada, mas de nada adiantaria sem os corpos lindos e o tesão vibrante dessas lindas mulheres.
Escrever sobre as cenas, não sei se adianta, mas vou tentar descrever um pouco de cada segmento. O filme começa com um homem perguntando a Sasha sobre transar com mulheres. Ela demonstra disposição, com aquele lindo sotaque britânico e um sorriso encantador. Corta para cena de Sasha deitada de bruços sobre uma toalha num gramado verde, com um pirulito na boca, uma presilha no cabelo, brincando com sua câmera digital. A câmera acompanhará Sasha ao longo de todo o vídeo. Chega Antonia e tira toda a roupa para tomar um banho de sol. Pelo breve diálogo, vê-se que Antônia não entende muito bem o inglês. Sasha elogia o corpo da moça, pede para tirar uma foto dela, oferece um pouco do seu pirulito e logo logo está experimentando a boceta daquela mulher que apareceu meio que do nada. Coisas de filmes pornôs. E de sonhos. Como fazer sexo em ambiente público é proibido, ela leva a moça para sua casa. Elas podem até estar fingindo, mas no fim das contas, isso pouco importa. Em REVEALING SASHA, as cenas de sexo oral feminino, que raramente são tão boas nos pornôs hetero, se revelam também uma atração à parte. E depois do "amor", como diria Roberto Carlos, elas ainda ficam se beijando, se acariciando, tirando mais fotos. Coisa linda de ver.
O segundo segmento traz Carie. A cena já começa na cama, com as duas se beijando e em trajes íntimos. Não há aqui a paquera, como na primeira sequência, mas os beijos chegam a ser hipnotizantes, as chupadas de língua são dadas com gosto. A pressa é uma tentação controlada, a fim de prolongar o prazer. Assim, demora um pouco, por exemplo, para conferirmos o belo par de seios de Carie, que aparece com um decote matador. A câmera se aproxima e se afasta, mas a intimidade das duas parece cada vez maior para o espectador. Carrie fica sem a parte de cima, mas Sasha adianta em certo momento, tirando logo a calcinha e deixando-se ser acariciada pela parceira, exibindo sua maravilhosa genitália com orgulho.
O terceiro bloco apresenta Blue Angel. Já há uma pequena trama. Sasha brinca com sua máquina fotográfica e tira fotos de si mesma na cama da mansão em que se encontra. Usa um vestido supercurto e abre a porta. Vê que um homem está espiando-a pelo buraco da fechadura e logo espanta o sujeito. Em um pornô convencional, logo aquele homem entraria na brincadeira. Mas não no vídeo de Viv Thomas. Os homens são descartados. Tanto que nas cenas não há dildos, strap-ons ou algo do tipo para mostrar a falta do falo. Sasha desce as escadas e vai parar num outro quarto, onde uma bela loira está dormindo. Ela tira fotos dela, de lingerie e espera vários minutos (mais de quarenta), até que ela acorde e perceba a sua presença. Sasha é linda demais para ser rejeitada por qualquer mulher. Blue Angel é mais bela ainda acordada, sorrindo e tirando fotos com Sasha. A cena com Blue Angel talvez seja a mais longa do vídeo. Acho que excederam um pouco, mas tudo bem.
Depois de uma rápida cena solo com o uso de um vibrador, temos a volta de Carie, a dos beijos mais ardentes. Que paga aqui como namoradinha de Sasha. No lugar de um quarto, um ambiente aberto, à beira de um rio. Em certo momento, Sasha pega a namorada de quatro e dá um banho de língua que é uma verdadeira aula. Fantástico! A sexta (ou quinta, se descontarmos a dupla participação de Carie) é Nikita, uma húngara de cabelos loiros. Quando Sasha a vê tomando sol, fica louquinha de vontade. Detalhe: as duas usam roupas cor-de-rosa, combinando com o visual ora branco dos interiores, ora verde das árvores. Sasha tem uma abordagem bem agressiva. Na cozinha, tira uma foto da bunda da moça sem pedir, dá-lhe umas palmadinhas, diz que ela tem uma bunda linda, lábios lindos, pede pra tirar foto, diz que adoraria beijar os seus lábios ("preciso aprender a usar essa abordagem", eu pensei). E ainda pede para ela dizer em húngaro: "Sasha, you are beautiful". A cena das duas é das melhores, e termina com orgasmos bem convicentes e bonitos. Se eu tinha qualquer preconceito com pornôs lésbicos, eles se foram com REVEALING SASHA.
Não sei se o vídeo de Viv Thomas foi lançado no mercado de dvd no Brasil. Mas desde já agradeço a Carlão Reichenbach pela dica preciosa.
terça-feira, julho 27, 2010
RUY GUERRA EM TRÊS FILMES
Já se contam mais de quarenta adaptações para o cinema e para a televisão de obras de Gabriel García Marquez. Não sei sei se alguma delas conseguiu traduzir o realismo mágico que é característico da maioria de suas obras para as telas. Na verdade, conheço muito pouco de Gabo. Do escritor colombiano só li "Cem Anos de Solidão" (sua obra-prima, das maiores obras da literatura mundial), "Amor nos tempos do cólera" (que eu não gostei tanto e que gerou uma adaptação meia-boca com um elenco internacional) e "Memórias de minhas putas tristes" (aparentemente seu último livro de ficção). Vendo os três filmes que o corajoso Ruy Guerra adaptou de Gabo, tenho sempre a sensação de que se eu estivesse lendo o livro eu estaria no mínimo me divertindo muito mais. Ainda assim, são filmes que merecem ser conferidos.
ERÊNDIRA (Eréndira)
Na época de ERÊNDIRA (1983), Ruy Guerra esteve casado com Cláudia Ohana. Um casamento que duraria de 1981 a 1984, mas que não atrapalharia a parceria que ele teve com a atriz, mesmo depois da separação. A parceria ainda rendeu ÓPERA DO MALADRO (1986), A BELA PALOMERA (1988) e KUARUP (1989). ERÊNDIRA é adaptado do conto "A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada". O filme é uma co-produção França-México-Alemanha Ocidental e há muitas sequências no deserto mexicano, o que passa um ar meio EL TOPO (Jodorowsky) à fita. Ohana é a personagem título que bota fogo acidentalmente na casa de sua avó (Irene Papas). Para pagar o enorme prejuízo, ela só tem o próprio corpo. Assim, a avó a leva para a prostituição. A fama de Erêndira vai se espalhando e todos querem experimentar da jovem. A avó é carregada por seus escravos como uma espécie de rainha, numa cadeira imponente, deserto adentro. Obediente à avó, ela só passa a se rebelar, quando encontra um garoto com aspecto angelical e que a convida para fugir com ele. Alguns diálogos do filme me chamaram a atenção e lamento não ter parado para tomar nota. Mas o que mais ficou na minha mente foi o diálogo entre Erêndira e um político (Michael Lonsdale). Ele pergunta a ela qual o seu signo. Ela diz que é de Áries. Ele fala: "ah, você é uma solitária, como eu". Consegui cópia da internet de estado razoável, com áudio em espanhol e legendas fixas em inglês de um vhs.
A BELA PALOMERA / FÁBULA DA BELA PALOMERA (Fábula de la Bella Palomera)
Como o Cine Ceará deste ano promoveu uma mostra de filmes do Ruy Guerra, o único que pude ver foi este A BELA PALOMERA (1988), em película. E talvez por isso, foi o mais agradável de ver. Apesar de ser uma co-produção Brasil-Espanha, A BELA PALOMERA é bem mais brasileiro. O elenco de rostos conhecidos (Cláudia Ohana, Ney Latorraca, Tônia Carrero, Dina Sfat, Chico Diaz, Cecil Thirré, Tonico Pereira e Rui Resende) só ajuda nisso. Aliás, o clima do filme me faz lembrar EU, O BOTO, de Walter Lima Jr., mas com um erotismo um pouco mais comportado. Mas assim como o anterior, o belo corpo nu de Ohana é também, vez ou outra, valorizado. O que não combina ou que até dá um pouco de ar surreal à trama é o fato de vermos Ney Latorraca apaixonado por ela e se comunicando através de pombos-correio. Porém, como o filme também tem um senso de humor todo próprio, dá pra encarar isso numa boa. Uma das histórias mais fluidas da carreira de Ruy Guerra.
O VENENO DA MADRUGADA (La Mala Hora)
Se os dois primeiros filmes foram agradáveis de ver, jamais poderia dizer o mesmo deste O VENENO DA MADRUGADA (2006), que mais parece uma tortura. Ruy Guerra foi o cineasta que me fez sair do cinema no meio da sessão de seu ESTORVO (2000). Mas quanto a ESTORVO posso culpar duas coisas: a ansiedade de ligar pra namorada e o sistema de som horrível que não me ajudava em nada a entender o portunhol do cubano Jorge Perrugoria. Em O VENENO DA MADRUGADA, o problema do som se resolve com uma dublagem geral, à moda antiga. O que dá ao filme um ar retrô. Como Leonardo Medeiros está quase que irreconhecível, a impressão que tive inicialmente é de que ele estava dublando outro ator. Inclusive, vi nos créditos que atores como Milton Gonçalves e outros são creditados como dubladores de atores estrangeiros. O filme é mais uma vez uma co-produção (Brasil-Argentina-Portugal). O cenário é de desolação. O VENENO DA MADRUGADA poderia muito bem ser um ótimo filme pra mim, que gosto de chuva em filmes, pois chuva é o que não falta. É como se o mundo estivesse acabando. E ainda assim as poucas pessoas que preferem continuar no vilarejo se preocupam com os pasquins, bilhetes anônimos que denunciam ou fazem fofoca, causando inúmeras intrigas. O personagem principal é o Alcaide (Medeiros), um delegado autoritário que sofre de dores de dente horríveis. O que o impede de ir ao dentista é que este é seu inimigo. Lá pelo final, o filme tem um recurso interessante de repetição e mudança de eventos, narrando de diferentes maneiras os fatos, que envolvem sempre mortes. Isso causa na cabeça do espectador uma confusão. Acho que foi um dos filmes que eu mais torci para acabar nos últimos anos.
segunda-feira, julho 26, 2010
O BEM AMADO
O melhor e o pior de O BEM AMADO (2010), a terceira encarnação da obra de Dias Gomes, são justamente os seus brilhantes diálogos, especialmente os de Odorico Paraguaçu, aqui interpretado por Marco Nanini. Guel Arraes, com seu cinema excessivamente verborrágico, não nos deixa tempo para respirar com tantas falas e montagem corrida. Apesar de não questionar a inteligência e a espirituosidade do vocabulário de Odorico, foram poucas as vezes que ri de verdade. O que já é comum nas comédias de Arraes. Assim, O BEM AMADO guarda muitas semelhanças com O AUTO DA COMPADECIDA (1999) e LISBELA E O PRISIONEIRO (2003). O personagem de Caio Blat, por exemplo, parece estar imitando o Selton Mello o tempo inteiro.
O BEM AMADO (1973) foi uma das telenovelas mais bem sucedidas da história da televisão brasileira. Tanto que deu origem a uma série semanal (1980), que fez com que gerações se familarizassem com seus personagens divertidos. No filme, por questão de tempo, só os personagens principais aparecem. Há o inimigo de Odorico, seu concorrente político e dono do jornal "A Trombeta", Vladimir (Tonico Pereira). Ele representa a esquerda, com todos os cacoetes de quem já participou de sindicatos e partidos comunistas, enquanto Odorico seria a direita demagoga no poder. Ambos são vistos como caricaturas, mas obviamente Odorico é melhor explorado, até por ser um personagem bem mais rico.
Muito bem sacada a ideia de fazer um paralelo em registro documental sensacionalista da cidade de Sucupira com o painel brasileiro dos anos 1960, quando o Brasil passou a ser dirigido pelos militares. Desse modo, o filme já conquista a simpatia do espectador logo no início. José Wilker ficou bem como o Zeca Diabo, imortalizado na televisão por Lima Duarte. E é ele quem dá o pontapé inicial na trama, matando o prefeito e deixando espaço para a entrada em cena de Odorico, que se aproveita do funeral do prefeito recém-falecido para dizer que sua principal meta de governo é construir um cemitério para Sucupira. A ironia é que ninguém morre na cidade e ele não consegue inaugurar o bendito cemitério. Prato cheio para Vladimir, que se aproveita para denegrir a imagem do político.
Não podiam faltar as irmãs Cajazeiras (Andréa Beltrão, Zezé Polessa e Drica Moraes), como as mulheres loucas para casar com Odorico; além do braço direito do prefeito, o seu Dirceu Borboleta. Matheus Nachtergaele faz bem em não imitar o estilo gago-gay eternizado por Emiliano Queiroz na novela e na série. Ficou muito bom, mas não tão marcante, deixando mais espaço para Odorico brilhar. Completando o grupo principal, Caio Blat e Maria Flor tentam dar conta dos momentos mais românticos e sensuais do filme.
Com tantos personagens interessantes e uma trama já toda pronta, fica até difícil fazer um trabalho ruim. E Guel Arraes tem experiência o suficiente para comandar um espetáculo desses. Pena que a certa altura o filme se torne cansativo, o humor vai se dissipando e o resultado final seja pouco satisfatório.
domingo, julho 25, 2010
JERI 2010
Depois de uma semana de retorno da viagem para Jericoacoara é que venho escrever algumas linhas. Afinal, o blog é de filmes, mas também já tornei os relatos de viagens uma rotina por aqui também. Serve mais para mim e para quem viajou, mas acredito que há quem curta lê-los, mesmo não conhecendo os envolvidos. Só de Jeri, acho que tem três relatos aqui no blog. É só conferir no índice.
Acho que esta foi a sexta vez que visitei o lugar. A quinta com esta turma. Como falei para o Murilo, enquanto a gente voltava de ônibus para Fortaleza, as amizades que mais marcaram esta década pra mim foram eles e o pessoal que eu conheci virtualmente, a grande comunidade de cinéfilos que moram em outros estados. Ainda que o tempo que passei lá tenha sido bem curto, dá pra contar algumas coisas que marcaram.
No caminho de ida, fui conversando no ônibus com Max, o amigo paraguaio-alemão da Valéria. O sujeito tem uma experiência de vida bem intensa. Filho de pai alemão e mãe paraguaia, ele passou alguns anos em Moçambique, que foi quando teve contato com a língua portuguesa, e hoje mora nos Estados Unidos. Ele nos contou de quando conheceu uma garota chinesa, que devido ao governo ditador de seu país, só foi saber da existência de Beatles e Star Wars, só pra citar duas coisas que representaram bastante a cultura ocidental, quando visitou os Estados Unidos. A turma praticamente concordou que isso é um crime. Imagina o que mais essa menina também foi proibida de conhecer.
A viagem também ficou marcada pela vergonha alheia. E Manéu soube muito bem demonstrar esses momentos THE OFFICE. O que é que o álcool não é capaz, hein? A viagem para a Lagoa do Paraíso rolou como de costume, mas dessa vez parece que todo mundo estava liso. Talvez ainda repercussão da última crise financeira. Da vez passada a gente pôde se dar ao luxo de comer e se hospedar em lugares mais chiques e a não ficar se autopoliciando com dinheiro. Mas não deixa de ser bom, pois faz com que valorizemos mais as coisas.
Pra variar, não rolou passeio à Pedra Furada nem visão do pôr-do-sol na grande duna. Pelo menos pra mim, que tive de ir embora no domingo à tarde. Foi bom, pra variar, ainda que o pôr-do-sol na duna seja muito mais emocionante. No mais, ganhei de presente de aniversário um DVD duplo dos Rolling Stones (STONES IN EXILE) do Murilo e um calendário permanante super-bonito e com temática de cinema da Valéria. Vou ficar olhando pra ele todos os dias agora, já que ele está aqui na mesinha do computador. Mas o maior presente mesmo foi a companhia dessa turma. Deixo o meu muito obrigado a Valéria, Erika, Murilo, Mano, Manéu, Bárbara, Amanda, Max e Davi. Aprendi e me diverti muito com vocês.
Segue link para algumas fotos da viagem, que podem ser vistas maiores com um clique.
sexta-feira, julho 23, 2010
DIRIGIDO POR JOHN FORD (Directed by John Ford)
Há tempos eu procurava legendas, fossem em inglês ou em espanhol, para DIRIGIDO POR JOHN FORD (1971/2006), documentário sobre o lendário cineasta, dirigido por Peter Bogdanovich. Até que uma alma caridosa postou na internet uma cópia de uma exibição brasileira de um canal pago com legendas em português mesmo. Quer dizer: maravilha! Aprendi a gostar de John Ford com o tempo e vendo seus filmes quase que semanalmente quando fiz a primeira peregrinação por sua obra. Ainda pretendo fazer uma segunda, já que consegui outros filmes dele, inclusive da fase muda. Mas deve haver uma terceira também lá pela frente. Afinal, o homem tem 140 filmes no currículo, contando os tempos em que ele assinava Jack Ford.
O fato é que quanto mais se vê Ford, mais se gosta. Sinto como se aquela persona que ele criou de velho ranzinza fosse só uma máscara para cobrir um sentimentalismo inerente. E o fato de ele não conseguir expressar em palavras essa sua riqueza emocional e estética só aumenta o poder do quanto ele é capaz de mostrar através de imagens e sons. Não deixa de ser engraçada a tentativa de Bogdanovich entrevistá-lo e ele só responder como se não estivesse levando a sério aqueles questionamentos mais profundos e ainda mandar cortar quando ficou de saco cheio daquilo. As respostas eram bem "Seu Lunga": "How did you shoot that?" "With a camera."
A versão restaurada do documentário conta com alguns minutos a mais e traz depoimentos de figuras ilustres, como Martin Scorsese, Steven Spielberg, Clint Eastwood, Walter Hill, além do próprio Bogdanovich. Dos depoimentos da versão original, podemos ver John Wayne, Harry Carey Jr., James Stewart, Maureen O'Hara e Henry Fonda. E a narração original é de Orson Welles, o homem que respondeu à pergunta sobre quais os seus cineastas favoritos com "John Ford, John Ford e John Ford". Cada depoimento e cada trecho de filme apresentado ajuda a enriquecer o nosso amor por Ford e o nosso conhecimento tanto do homem quanto do cineasta. Se já tivermos visto o filme principalmente. Inclusive, até aumenta a vontade de rever alguns.
Scorsese começa afirmando que o primeiro diretor que fez com que ele, quando jovem, passasse a prestar atenção nos créditos de um filme foi John Ford. Se estivesse escrito "Directed by John Ford", ele podia se preparar que vinha coisa boa ali. O primeiro cineasta da nova Hollywood a falar no documentário é Clint Eastwood, considerado o principal herdeiro de Ford. E a primeira cena mostrada é a clássica e bela chegada do personagem de John Wayne em RASTROS DE ÓDIO (1956). Já Steven Spielberg tem uma história bem interessante para contar, do dia em que conheceu pessoalmente Ford. O velho cineasta e aquele que ainda se tornaria um em frente a fotografias de quadros de westerns. O assunto em destaque dos dois era o modo como o horizonte se apresentava naquelas fotos. E Spielberg passou no teste.
Spielberg também destaca os rituais encontrados nos filmes de Ford, como as danças, os momentos de funeral, a música seresteira ou o canto indígena. Aliás, que lindo que é a cena dos seresteiros cantando para o casal em crise John Wayne e Maureen O'Hara em RIO GRANDE (1950), hein! Spielberg também faz uma observação interessante sobre os planos gerais dos filmes de Ford, como se fossem pinturas. Em seguida, vemos um trecho de RASTROS DE ÓDIO com a câmera parada e muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Mas Ford consegue disfarçar a sua grandiloquência plástica, concentrando as atenções na trama. Quer dizer, no fim das contas, dos cineastas convidados da nova Hollywood é Spielberg quem faz as melhores observações.
O documentário ensaia um pouco do começo da carreira de Ford, dirigindo filmes mudos, mas não aprofunda muito. Até porque é preciso correr para dar conta de uma filmografia tão extensa e tantos temas a serem abordados. Daria um bom filme ou minissérie de cinco horas ou mais de duração. Apesar disso, Bogdanovich não nos priva de alguns planos-sequência relativamente longos, como o da conversa de James Stewart e Richard Widmark em TERRA BRUTA (1961). São apenas dois homens conversando na beira de um rio, mas há algo a mais no ar. É como se o tempo parasse naquele momento.
Outra coisa que eu gostei foi quando John Wayne destacou a melancolia que Ford imprimia sem a utilização de diálogos. Apenas com as imagens e o uso da música. O próprio Wayne, tantas vezes subestimado como ator, aparece em diversos desses momentos melancólicos e belos, em diversos filmes. E numa sequência falada, como não ficar com um nó na garganta ao ver a despedida de Wayne em LEGIÃO INVENCÍVEL (1949)? No momento em que ele recebe uma lembrancinha de seus soldados. Bastante sentimental. E falando em sentimentalismo, o documentário ainda guarda uma surpresinha, quando vemos uma conversa entre Ford e Katharine Hepburn, por quem foi apaixonado. Já distantes um do outro, eles não sabiam que o gravador estava ligado. E não é sempre que podemos ver um "eu te amo" saindo da boca do próprio John Ford.
quinta-feira, julho 22, 2010
O GRÃO
Estreia na direção de longas-metragens de Petrus Cariry, O GRÃO (2010) tem tido uma boa trajetória em festivais nacionais e internacionais desde 2007. Trata-se de um belo filme, que faz uma ponte entre o cinema tradicional e o mais moderno. A narrativa também faz uma ponte: dessa vez, entre a vida e a morte. Se o filme fosse feito em Dublin, talvez se falasse da influência de James Joyce, o escritor que mais falava sobre a paralisia de sua cidade, além de flertar também com temas mórbidos. Mas esse tema é universal e cai como uma luva numa cidade pobre do interior do Nordeste brasileiro.
O tempo que passa vagarosamente é visto tanto através das imagens quanto numa das falas, quando a câmera destaca a moça e a sua mãe lavando roupas num açude tratando de explicitar o "tempo que não passa", além da vontade de sair daquele "fim de mundo". O núcleo familiar é composto por um pai desanimado, pastor de cabras e homem de poucas palavras; uma esposa insatisfeita com o pouco dinheiro que entra na casa; a avó às portas da morte; uma moça que está prestes a se casar; e um menino, que gosta de ouvir as fábulas sobre rainhas e elementos mágicos, contadas pela avó.
A velhinha cansada conta a história em pedaços. Há provavelmente uma intenção do diretor de fazer uma espécie de paralelismo entre o que acontece na fábula e o que acontece no desenrolar do filme. A velhinha doente pode representar o fim de uma era. O fim de uma geração que cresceu de forma mais simples, onde histórias contadas oralmente ainda despertavam o interesse das pessoas. Apesar de já haver ali naquela casa uma televisão, com uma antena bem ruim, mas que já conecta aquele povo com a "civilização", ainda há uma necessidade por parte do garoto de ouvir com atenção aquelas histórias fabulosas da avó. Há também as crenças tradicionais em rezadeiras, que parece uma mistura de elementos indígenas com o catolicismo.
No aspecto formal, há poucos closes e praticamente não há contraplanos. A maior parte das sequências é com câmera parada, onde se pode ver os movimentos de diversos personagens ao mesmo tempo, como na cena da cozinha, com praticamente toda a família junta, fazendo diversas coisas ao mesmo tempo, lembrando o cinema de Hou Hsiao-hsien. O belo trabalho de som também é digno de destaque.
O GRÃO mostra que Petrus é um diretor com potencial para se tornar, quem sabe, um dos grandes cineastas brasileiros, ainda que se perceba uma vontade de ser mais "vanguardista", o que o tornaria, no máximo, querido de cinéfilos e críticos. A não ser que ele abra mão - pelo menos em parte - do experimentalismo e utilize no futuro um estilo mais clássico. Se bem que esse tipo de concessão não é tão saudável. O público precisa experimentar novas estruturas.
quarta-feira, julho 21, 2010
A MOSCA DA CABEÇA BRANCA (The Fly)
Em minha lenta peregrinação pela obra de David Cronenberg, resolvi aproveitar para fazer um parênteses. Antes de rever A MOSCA (1986), de Cronenberg, por que não ver A MOSCA DA CABEÇA BRANCA (1958), de Kurt Neumann? Não duvidava que me divertiria com o filme, mas não esperava que fosse gostar tanto. Pra começar, trata-se de uma obra bem diferente da que foi gerada por Cronenberg. A presença sempre bem vinda e simpática de Vincent Price também ajuda a tornar a apreciação do filme uma beleza. Sem falar que trata-se de um belo representante da cultura e do comportamento americanos da época. Tempos em que os filmes de horror deram lugar à ficção científica por causa do medo da bomba atômica e que as famílias pareciam saídas de comercial de sabão em pó, de tão belas e certinhas que pareciam.
Contudo, A MOSCA DA CABEÇA BRANCA não oferece esse painel paradisíaco do american way of life de início. O filme já começa com uma estranha morte. Patricia Owens é Helene Delambre, a esposa do cientista Andre Delambre (David Hedison), liga para o cunhado (Vincent Price) e pede para que ele ligue para a polícia, pois ela havia acabado de matar o marido. Já nota-se aí um grande mistério, que torna-se ainda mais instigante com as circunstâncias da morte do cientista, com a cabeça e um de seus braços completamente esmagados por um instrumento de metal.
Só saberemos a verdade a partir do flashback de Helene, que é quando finalmente vemos similaridades entre este filme e a refilmagem de Cronenberg. Ambos os filmes mostram o cientista lidando com uma máquina de teletransporte. Ambos os cientistas mostram suas experiências malucas e revolucionárias para suas parceiras e ambos cometem o erro de utilizarem a si mesmos como cobaias do experimento. No caso do filme de Cronenberg, a mudança do homem em mosca acontece gradualmente, como uma doença. No filme de Neumann, a mudança é bem mais brusca. O momento da mulher tirando o pano que cobre o rosto transformado do marido e a sua visão já estão entre os momentos mais impactantes do cinema fantástico de todos os tempos. O final também é bem memorável.
Agradecimentos ao amigo Amsterdan, que me emprestou o dvd. Vale dizer que o dvd da ClassicLine está em scope e com um technicolor de dar gosto.
terça-feira, julho 20, 2010
FACA NA ÁGUA / A FACA NA ÁGUA (Nóz w Wodzie)
Já nem sei como anda a situação de Roman Polanski. De vez em quando aparece notícia nova, desde sua prisão em setembro do ano passado, por ter mantido relações sexuais com uma menina de 13 anos nos Estados Unidos em 1977 e de ter feito a tradicional saída pela direita, como o Leão da Montanha, procurando abrigo na França. Neste mês ele foi libertado da prisão domiciliar, mas do jeito que as coisas mudam, nada garante que ele seja ou esteja novamente preso. Independente do ocorrido, o diretor passou a ser visto com bons olhos novamente, pelo menos por seu ofício, com o elogiado O ESCRITOR FANTASMA (2010). Mas voltemos uns bons anos no passado, quando FACA NA ÁGUA (1962) marcou a estreia na direção em longas-metragens de Polanski e lhe garantiu passaporte para torná-lo uma espécie de cidadão do mundo. Além de ter sido indicado ao Oscar de filme estrangeiro, o filme ainda faturaria prêmios no Festival de Veneza e daria ao diretor capa da revista Time. FACA NA ÁGUA é considerado por muitos como uma das melhores estreias de um cineasta até hoje, junto com CIDADÃO KANE, de Orson Welles, e ACOSSADO, de Jean-Luc Godard, o que eu acho um pouco de exagero.
Trata-se de um thriller bem econômico, mas que já demonstra a habilidade do diretor na construção de climas de tensão, que atingiria o máximo com a obra-prima O BEBÊ DE ROSEMARY (1968). O fato de o filme se passar quase que inteiramente dentro de um barco já revela uma capacidade de driblar dificuldades que poucos cineastas enfrentariam. Na trama, um casal oferece carona a um rapaz. Os dois pretendem velejar, mas apesar da antipatia que o marido nutre pelo rapaz, ele o convida para ficar com eles no barco. Até para ajudar em algumas tarefas. O homem rico faz questão de mostrar a sua superioridade e tenta de vez em quando irritar o jovem, principalmente quando nota a troca de olhares entre ele e sua esposa. A jovem mulher tem algo de enigmático e olha sempre com um ar meio que de reprovação, meio que de familiaridade com o jeito rude e arrogante de o marido tratar o sujeito.
A proximidade da câmera e o fato de a ação se passar no barco (eu não chamaria de iate aquele barco pequeno) faz lembrar tanto LIMITE, de Mario Peixoto, quanto UM BARCO E NOVE DESTINOS, de Alfred Hitchcock. Há pouco espaço para movimentação de câmera e devem ter sido necessários alguns malabarismos para que o resultado final fosse satisfatório. O filme de Polanski ainda conta com uma boa trilha sonora jazzy que ajuda a situar e a mostrar o espírito da época. Tudo isso e mais uma série de momentos memoráveis torna-o uma bela estreia. É fato que eu esperava mais de FACA NA ÁGUA, mas dá para encará-lo como um filme-irmão de ARMADILHA DO DESTINO (1966), pelo menos no que se refere ao clima. Nem sei explicar direito a comparação. Talvez porque as sensações que os dois filmes me provocaram tenham sido semelhantes.
segunda-feira, julho 19, 2010
QUINCAS BERRO D'ÁGUA
Antes que complete dois meses do dia que eu vi o filme no cinema, segue mais um exercício de memória. Desta vez, em relação a um filme que não me deixou satisfeito. Aliás, fiquei bastante desapontado com o novo trabalho do diretor do ótimo CIDADE BAIXA (2005). Pra começar, ele poderia ter escolhido outra obra de Jorge Amado para adaptar. Uma mais interessante. Além disso, se a intenção era fazer uma comédia para fazer rir, Machado fracassa de forma retumbante. Inclusive nas piadas mais escatológicas. QUINCAS BERRO D'ÁGUA (2010) é a segunda adaptação da novela de Jorge Amado para as telas. A primeira foi feita pela Rede Globo em 1978, conservando o título original da obra do escritor bahiano ("A Morte e a Morte de Quincas Berro d'Água"). Na produção da Globo, quem fez o Quincas foi Paulo Gracindo. Suspeito que seja bem melhor que este longa.
No cinema, é Paulo José quem faz o papel do boêmio alcóolatra que morre e tem seu cadáver raptado pelos amigos para uma farra final, em sua homenagem. O filme é também uma crônica sobre os costumes do povo bahiano e a divisão entre a classe alta, hipócrita, e a classe baixa, mais cheia de liberdade para aproveitar a vida. O Camdomblé, tão forte na obra de Jorge Amado, aparece na trama, até como forma de realçar a separação de classes.
O problema é que eu não simpatizei com nenhum dos personagens. Nem com os vagabundos que raptam Quincas, nem com a família do morto, representada principalmente pela filha (Mariana Ximenes). Alguns bons atores que costumam se sair muito bem com o humor, como Vladimir Brichta, não conseguem brilhar no filme. Outros grandes nomes, como Milton Gonçalves e Othon Bastos também passam batidos, como coadjuvantes de luxo, num filme que fracassou até mesmo nos métodos "econômicos" de fazer propaganda - através de blogs. Pra mim, pouco importa se QUINCAS BERRO D'ÁGUA é uma celebração da vida. O que importa é que a tal celebração proposta não repercutiu do lado de cá da tela. Infelizmente.
quinta-feira, julho 15, 2010
VITTORIO DE SICA - MINHA VIDA, MEUS AMORES (Vittorio D.)
Senti-me meio que enganado durante a sessão de VITTORIO DE SICA - MINHA VIDA, MEUS AMORES (2009). Não só pela qualidade do documentário, que não é lá essas coisas, mas porque o filme parece um extra de algum dvd que não saiu ainda no Brasil e que uma distribuidora picareta aproveitou para vender aqui, aproveitando as facilidades da exibição digital. Tanto que a janela do filme é 1,33:1 e não 1,85:1, como normalmente se vê nas projeções da Rain. Claro que não dá pra comparar este filme com o excepcional MINHA VIAGEM À ITÁLIA, o documentário de Martin Scorsese sobre o cinema italiano. Mas a obra de Scorsese, ainda que apresentando apenas dois filmes de Vittorio De Sica - LADRÕES DE BICICLETA (1948) e UMBERTO D. (1952), justamente os dois mais famosos -, é muito mais feliz em descrever a força do cineasta em manipular as emoções da audiência. Não uma manipulação fria: como bom canceriano que é, De Sica devia ser bastante emotivo mesmo.
A única vantagem que eu vejo em VITTORIO DE SICA - MINHA VIDA, MEUS AMORES é mostrar outros trabalhos do diretor, além de também nos apresentar ao homem, com suas falhas e qualidades. O documentário é dividido em diversas partes que destacam coisas como a relação de De Sica com Sophia Loren e Marcello Mastroianni. A relação com Sophia foi bem produtiva, tendo rendido, inclusive, um Oscar à atriz, pela produção DUAS MULHERES (1960). Já o casal mais famoso do cinema italiano trabalhou junto em três obras de De Sica: ONTEM, HOJE E AMANHÃ (1963), MATRIMÔNIO À ITALIANA (1964) e OS GIRASSÓIS DA RÚSSIA (1970). Não cheguei a ver nenhum dos três.
Aliás, tenho lacunas imensas com o cinema italiano de modo geral. Recentemente, antes de ver o doc sobre De Sicca, até tentei ver QUANDO A MULHER ERRA (1953), uma co-produção Itália/Estados Unidos, com uma dupla de protagonistas americanos e diálogos escritos por Truman Capote. Mas quando passei o filme para o meu dvd ficou dando problemas de sincronia de som. Isso é terrivelmente irritante. Engraçado que no computador aparece normal. Bom, mas chegará a vez de eu me dedicar mais ao cinema italiano, que já foi o melhor do mundo. Ah, e o documentário também dá destaque ao De Sica ator, que começou como um galã. Achei até parecido com o Anselmo Duarte. Ele seria, portanto, um Anselmo Duarte que deu certo.
P.S.: Finalmente estou disponibilizando ao lado um índice de todos os filmes (e séries e viagens e tops e dvds musicais etc.) comentados aqui no blog. O link não vai necessariamente direto para o filme em questão, mas vai para o mês em que ele foi resenhado, facilitando a vida de quem quer saber se eu vi ou o que eu achei de determinado filme. E facilita a minha vida também. Deem uma olhada e me digam se ficou legal ou se os links estão funcionando. Alguns textos são vergonhosos de tão ruins, especialmente os mais antigos, mas preferi deixá-los como registro, ao invés de apagá-los.
quarta-feira, julho 14, 2010
O OLHO MÁGICO DO AMOR
Não quero ser saudosista, até porque eu gosto dos filmes recentes também e era muito novo naquela época, mas os filmes produzidos no Brasil nos anos 70 e 80 eram bem mais gostosos. Tudo bem que muito lixo deve ter sido feito naquela época e hoje a gente pode fazer peneira fina na escolha dos títulos, mas por enquanto tenho tido muita sorte nas escolhas. O OLHO MÁGICO DO AMOR (1981), de José Antônio Garcia e Ícaro Martins, já era um filme que eu queria ver há muito tempo. Ter encontrado uma cópia em bom estado na internet me deixou muito feliz. Só o fato de rever Carla Camurati na flor da idade num filme pra lá de atraente já me deixou bem animado. O filme é uma espécie de trilogia que Camurati fez com os dois diretores. A parceria continuaria em ONDA NOVA (1983) e A ESTRELA NUA (1984). De ESTRELA NUA, eu lembro da famosa cena do cigarro feito os com pêlos pubianos da Camurati. Sensacional, hein! Aquele povo devia fumar muito naquela época. :) E quero rever A ESTRELA NUA, assim que possível.
Em O OLHO MÁGICO DO AMOR, Carla Camurati é Vera, uma jovem de família suburbana que aceita o emprego de secretária num estranho escritório em uma tal Associação Paulista de Ornitologia, onde Sérgio Mamberti é o responsável. E também um velho tarado, que come a garota com os olhos assim que ela se apresenta. Mas o velho e simpático doutor não é tão importante assim na história, já que ele passa o tempo todo fora do escritório. Assim, sozinha na pequena sala, Vera fica olhando aqueles estranhos quadros de pássaros, que na cabeça dela parecem emitir barulhos. É na vontade de trocar um quadro do lugar que ela encontra um buraco, que dá acesso ao quarto de uma prostituta (Tânia Alves). Ela passa a ficar obcecada pelo ato de olhar aquela mulher, recebendo os mais diferentes e estranhos clientes. Aquilo mexe com a cabeça e com a libido de Vera. O namorado logo percebe a diferença numa noite tórrida de sexo dentro do carro.
E o filme passa esse tesão dos personagens para o lado de cá da tela de maneira impressionante, ao mesmo tempo que também nos deixa instigados com a trama, com elementos de film noir. Aquela época, quando a Boca do Lixo ainda não havia sido dominada pelos filmes de sexo explícito, foi um período glorioso para o cinema paulista. Havia muita gente de talento envolvida e as atrizes se doavam nos papéis. Caso de Carlinha Camurati, linda, com seus 21 aninhos. Sua personagem é meio como um anjo caído, entregue aos desejos carnais. Contrasta, de certa forma, com a prostituta vulgar vivida por Tânia Alves, que passa o filme inteiro praticamente nua, deitada na cama, mas quase sempre sorrindo de satisfação. E o interessante é que a porta dela está sempre aberta. Entre os clientes, há a participação do jogador de futebol Casagrande e de Jorge Mautner, que aparece tocando violão e cantando.
A trilha sonora tem John Lennon, Luiz Gonzaga, Mautner e Roberto Carlos. Na cena de sexo no carro, por exemplo, ouvimos "Mother", de Lennon, sei lá porque motivo. Filme nenhum hoje em dia pode-se dar ao luxo de colocar tudo isso sem ter que prestar contas com os direitos autorais. Entre as várias cenas antológicas, destaco: Vera deitada no chão da Rua do Triunfo, depois de estuprada; Vera andando nua pelo escritório e fazendo gestos estranhos, como se possuída por um espírito; a vingança ao cafetão; e a conclusão, próxima do genial, e não só pela metalinguagem. Não é para menos que o filme acumulou tantos fãs.
terça-feira, julho 13, 2010
ENCONTRO EXPLOSIVO (Knight and Day)
A campanha publicitária de ENCONTRO EXPLOSIVO (2010) destacando a parceria de Tom Cruise e Cameron Diaz num mesmo filme é tão forte que cheguei a imaginar que era a primeira vez que os dois astros estavam trabalhando juntos. Na verdade, Cruise e Diaz estiveram em VANILLA SKY (2001), de Cameron Crowe, mas a participação como coadjuvante da bela loira não foi tão memorável assim. O fato é que o segundo encontro dos dois não podia ser mais bem sucedido. ENCONTRO EXPLOSIVO é desses filmes tão divertidos e aparentemente descompromissados que fica difícil não sair da sessão com um sorriso no rosto. Tom Cruise tenta se recuperar do processo de diminuição de sua popularidade, devido aos fracassos comerciais de GUERRA DOS MUNDOS e MISSÃO: IMPOSSÍVEL 3 e de uma aparição constrangedora num programa de tv. Mas isso são águas passadas e Cruise esbanja simpatia e segurança, exibindo o mesmo sorriso dos tempos de TOP GUN. O tempo tem estado a favor do astro.
ENCONTRO EXPLOSIVO pode ser visto como uma brincadeira em torno da cinessérie MISSÃO: IMPOSSÍVEL. Uma mistura de comédia com thriller de ação e espionagem. E já vimos que Cruise também é capaz de se dar bem no humor (vide TROVÃO TROPICAL). Cameron Diaz, nem se fala. A menina é moleca desde criança. Na trama, Cruise é um enigmático e super-habilidoso agente que aparece na vida de uma garota normal (Diaz). Os dois se esbarram num aeroporto e isso muda a vida daquela moça, que tinha como única intenção ir ao casamento da irmã (Maggie Grace, de LOST). Ela fica encantada com ele já no avião. E é nesse avião que acontece a primeira cena de ação do filme. As cenas são divertidas por desafiarem as leis da física, por não se importarem com verossimilhança, elementos que tornam comédias de ação muito divertidas, se conduzidas por um diretor habilidoso. E se James Mangold não é lembrado como um dos melhores de sua geração, sua filmografia de apenas oito longas-metragens deve deixá-lo orgulhoso. Ele é uma espécie de cineasta "invisível", que tem experimentado variados gêneros com sucesso.
O filme teve pré-estreia em Sevilha, na Espanha. Não por acaso, já que uma das sequências mais divertidas envolve Cruise e Diaz em cima de uma moto numa rua repleta de touros, num dia de tourada. E não é apenas Sevilha que aparece para abrilhantar o filme com cartão postal. Outras cidades da Europa são pano de fundo para a trama. Destaque para Salzburgo, na Áustria. Dá vontade de estar lá, num hotel chique daqueles, de preferência. O filme não tem muito tempo para elaborar o romance entre o casal, mas os poucos momentos são bons. Há uma boa química entre os astros. Tanto Tom Cruise quanto Cameron Diaz criaram personas sorridentes e seguras de si. E o filme brinca com isso muito bem, inclusive na reviravolta final. Dos filmes lançados em 2010, feitos com o objetivo único de divertir, ENCONTRO EXPLOSIVO se destaca até o momento como o melhor.
segunda-feira, julho 12, 2010
O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III (The Godfather: Part III)
Mais de vinte anos separam a primeira vez que vi O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III (1990) no cinema e a revisão que fiz recentemente em dvd. Na verdade, demorei a escrever sobre o filme, que vi já faz alguns meses, porque estava querendo terminar de ouvir/ler os comentários em áudio de Francis Ford Coppola, assim como fiz com os dois primeiros filmes. Acontece que os comentários desta terceira parte não são tão interessantes quanto foram nas demais - em certo momento, Coppola dá uma receita de gnocchi! - e aí fui acompanhando com preguiça e com um intervalo de tempo bem maior. Preferia ver outro filme a encarar a "obrigação" de continuar a acompanhar o Coppola falando. Mas felizmente concluí tudo nessa semana. O que mais se destaca e que ao mesmo tempo irrita e enternece é o modo como o papai coruja Coppola fala bem o tempo todo de sua filha Sofia, que na época sofreu muito com as críticas da mídia.
O cineasta diz que quis Sofia Coppola para o papel de filha de Michael Corleone (Al Pacino) para se aproximar ainda mais da dor de Michael, que seria também a sua dor, já que ele amava tanto Sofia, que foi tão criticada. Ela chegou a ficar durante as filmagens com a autoconfiança lá embaixo. Todos consideravam um equívoco a sua escalação. Mas mesmo com a quantidade de vezes que Coppola cita Sofia, não deixa de ser bonito vê-lo dizendo: "É duro pra mim ver minha filha chorar", na sequência em que ela chora no teatro, ao saber que o pai proibiu seu romance com Vincent (Andy Garcia), aquele que substituiria o posto de Michael.
Outro momento bonito dos comentários de Coppola é quando ele fala da tentativa de Michael de se reconciliar com Kay (Diane Keaton). Ele diz: "É uma pena que tão pouca gente esteja disposta a aguentar as dificuldades do casamento para chegar a um ponto em que estão com alguém por mais da metade da vida. É uma pena que mais pessoas não paguem pra ver o que um casamento pode vir a ser." Acaba sendo uma espécie de crítica ou lamento às novas gerações, que se separam rapidamente, pelos mais variados motivos. Também é um modo de ele demonstrar o respeito que ele sente pela instituição da família.
Para encerrar essa parte do texto, que deveria ser sobre o filme e não sobre os comentários em áudio, destaco a curiosidade que Coppola conta sobre seus ancestrais, afinal, não é muita gente que tem saco de ler/ouvir os tais comentários. A bisavó de Coppola bordava e fazia crochê e coçava o nariz com a agulha de costura. O nariz infeccionou e a única saída foi amputá-lo. "Essa linda jovem sem nariz" foi forçada a casar com um primo para não ficar solteira. E assim nasceram os Coppolas. Coppola finaliza, dizendo que é por isso que toda a família é louca.
Quanto ao filme em si, considero-o inferior aos demais, o que não diminui o seu valor e o seu impacto. Ainda assim, é uma das melhores obras de Coppola. Lembro que na época da premiação do Oscar, O PODEROSO CHEFÃO - PARTE III disputou a categoria principal com outro filme de gângster, que eu considerava melhor: OS BONS COMPANHEIROS, de Martin Scorsese. Ambos acabaram perdendo para DANÇA COM LOBOS, de Kevin Costner. A título de curiosidade, e até para refrescar a minha memória, os demais concorrentes eram TEMPO DE DESPERTAR e GHOST - DO OUTRO LADO DA VIDA. Bons tempos aqueles, não?
Comparei o filme de Coppola com o de Scorsese porque ambos tratam de gângsters, mas o filme de Coppola é muito mais uma crônica familiar. As cenas de tiros e violência são poucas e o diretor optou por um andamento mais lento e contemplativo, com vários paralelismos com o primeiro filme da trilogia. A começar pela cena de uma festa familiar. Agora, Michael Corleone está velho e cansado. Não é mais aquele homem com sede de sangue dos anteriores. Há até espaço para crise de consciência, de uma necessidade de expiar os seus pecados. Mesmo que a Igreja seja mostrada como um antro de corrupção. Como a trama se passa nos anos 70, vemos um pouco da conspiração no Vaticano para matar o Papa João Paulo I, que Coppola acreditava ser um homem bom e progressista. E que também sabia coisas demais.
A presença de Andy Garcia como o sobrinho que toma o lugar de Michael como líder dos negócios da família é brilhante. O ator foi muito bem escolhido, ainda que não tenha sangue italiano. Gostei também da presença curta, mas bela de Bridget Fonda, como uma repórter que vai pra cama com Vincent, o personagem de Garcia. Aliás, a primeira (e ótima) cena de tiroteio do filme envolve os dois. Também inesquecível a sequência do helicóptero. Há uma necessidade de fechar todas as pontas, já que são vários os personagens. E Coppola consegue isso com muita habilidade. O final nas escadarias é trágico e dramático e ainda conta com uma música linda e triste ao fundo. Podemos dizer sem sombra de dúvida que Coppola fechou com estilo a sua obra máxima.
sexta-feira, julho 09, 2010
O AMANTE DE KATHY TIPPEL (Keetje Tippel)
Quando penso que já vi todos os grandes filmes de Paul Verhoeven, eis que me deparo com este fantástico O AMANTE DE KATHY TIPPEL (1975). Na época de sua realização, foi o filme mais caro já produzido na Holanda. A produção de época é estrelada pela bela Monique van de Ven, que repete a parceria com o diretor e com Rutger Hauer. O fato de terem bancado uma produção tão cara só pode ter sido por causa do sucesso de LOUCA PAIXÃO (1973). Mas se no trabalho anterior, ambos os astros pareciam ter o mesmo tempo em cena, em KATHY TIPPEL, a estrela é Monique van de Ven.
Inicialmente, o filme tem um quê de western americano, pela trajetória dificil dos personagens, pelo fato de se passar na segunda metade do século XIX e por mostrar um mundo em construção. Pelo menos, para aqueles que chegam. O filme mostra a chegada de uma família pobre que foge da fome de sua cidade natal para arranjar trabalho em Amsterdã. A chegada no barco é complicada e a casa onde eles se instalam é bem pobre, com a privada praticamente no meio da casa. Na primeira noite na casa, a chuva deixa o lugar completamente alagado. No dia seguinte, o pai consegue um subemprego, Keetje, a filha mais nova (van de Ven) vai para um trabalho duro numa fábrica de tecidos e a mais velha vai ser prostituta.
Mas o foco está em Keetje, nossa heroína. Sua trajetória inicial lembra a de Justine do Marquês de Sade. Ela é inocente e bela, mas não tem consciência disso. E todos os homens são tarados, doidos para se aproveitar da pobre jovem. Que não se faz de boba. Logo na fábrica de tecidos, ao ser humilhada pelas outras mulheres, entra numa briga que aparentemente deixa cega uma delas. Ao trabalhar numa loja de chapéis, ela é estuprada pelo patrão. Não demoraria ter que substituir a irmã como a prostituta da família. É aquilo ou ficar roubando pão na rua. Mas o destino faz com que ela conheça o bancário Hugo (Rutger Hauer), que mudaria a sua vida. Ela sai da completa pobreza para o universo burguês.
Como não poderia faltar nos filmes de Verhoeven, um pouco de sexo, violência e escatologia aparecem para divertir o público. Algumas sequências se destacam e ficam fincadas em nossa memória, queiramos ou não. Como a cena da irmã de Keetje limpando a bunda com um livro seu; a cena do espelho no teto no bordel; o jogo de sombras na loja de chapéis. Tudo isso convive com a doçura de Monique van de Ven. O belo e o repulsivo convivendo lado a lado. Agora é torcer para que um ou mais dos quatro projetos de Verhoeven saiam, especialmente a sua muito controversa versão para a história de Jesus. Periga de o crucificarem. Vejam este vídeo.
quinta-feira, julho 08, 2010
A SAGA CREPÚSCULO: ECLIPSE (The Twilight Saga: Eclipse)
Até já comentei isso pelo twitter, mas deixem-me registrar o ocorrido aqui também. Até porque no blog eu tenho mais espaço para escrever mais detalhadamente. Na segunda-feira, saí do trabalho resolvido a desviar o caminho de casa para ver ECLIPSE (2010) lá no North Shopping, já que os cinemas do Iguatemi estão com problema na central de ar condicionado. Chegando lá, vi aquela fila enorme de adolescentes. Pensei logo comigo: gastei dinheiro com estacionamento à toa. Ou mais ou menos à toa, já que ainda faria um pagamento e compraria um novo mouse, pois havia quebrado o meu na madrugada anterior, deixando-o cair despedaçado no chão. Mas o ideal seria aproveitar a noite para fazer as três coisas. Cheguei na bilheteria, que misteriosamente estava livre e perguntei: "ainda tem ingresso para a sessão de 18h50 de ECLIPSE?". A moça respondeu que tinha, mas que era legendado. Eu falei: "sim, é esse mesmo que eu quero", com um misto de alegria e irritação. Aí perguntei a ela: "o que é aquela fila enorme ali?". "É para a sessão de 18h20, dublada". Ver aquela molecada toda numa fila gigantesca pra ver a versão dublada me deixou triste com a preguiça e os rumos dessa nova juventude na faixa dos quinze anos. E também um pouco preocupado com essa onda de versões dubladas dos filmes multiplicando-se feito preás. De todo modo, pelo menos não precisei pegar fila para entrar, pude fazer um lanchezinho rápido e tranquilo e o filme é melhor do que eu esperava, ainda que inferior aos anteriores.
O problema é que os roteiristas esticam demais o já vazio enredo, enchendo uma trama básica em cinco filmes de mais de duas horas. De quem seria a culpa? Da escritora dos best-sellers ou da roteirista Melissa Rosenberg, já habituada a escrever para séries de tv? Em séries, tem-se a vantagem de explorar mais os personagens. Mas no caso da "Saga Crepúsculo" (acho meio idiota esse termo, mas que outro usar?) parece não haver muito a explorar, pois não há muita liberdade de improviso ou invenção, por causa da busca pela "fidelidade" à obra, para não desagradar aos fãs. Por isso, por mais que mudem os diretores, a base é a mesma, os filmes têm um aspecto parecido.
Ainda assim, é possível estabelecer paralelos com as principais obras dos diretores e o resultado das produções. Se Catherine Hardwicke tem com AOS TREZE sua obra mais marcante, lidando com a adolescência feminina, em CREPÚSCULO ela destacou esse período complicado da vida humana, que é ainda pior para quem se sente deslocado. Chris Weitz, por sua vez, tem em UM GRANDE GAROTO sua obra mais consistente. E Weitz foi muito feliz em mostrar isso no mais romântico dos filmes da série. E eis que chega a vez de David Slade, o diretor de 30 DIAS DE NOITE (2007). Que seria uma escolha adequada. Afinal, o terceiro filme teria mais ação, mais elementos de terror, mais ambientes gelados.
O problema é que, devido ao público-alvo, os tais elementos de terror são bem suavizados. Os inimigos dos vampiros Cullen, por exemplo, que querem matar Bella, são perigosos e tal, mas em vez de mostrar um banho de sangue na briga entre os vampiros, tendo os lobisomens como aliados, os tais novos vampiros se quebram feito pedra. Plasticamente o efeito é até interessante, mas não deixa de ser mais uma forma de evitar que os jovens espectadores se sintam incomodados com o sangue. Vale lembrar que a maior parte do público desses filmes consiste de meninas. Que preferem ver as cenas românticas do trio.
E, nesse aspecto, o filme ganha ao acrescentar o fato de a garota também ter sentimentos por Jacob, o garoto lobisomem, que também luta pelo seu objeto de afeto. Isso diminui um pouco o sentimento geral de não ir a lugar nenhum que paira no ar. E diverte, ainda mais com a participação do público, que chama Edward de corno quando Bella se agarra a Jacob. Principalmente na divertida cena da barraca. A novidade no elenco está na participação de Bryce Dallas Howard, que agora é a vampira vilã Victoria, substituindo Rachelle Lefevre. Como ambas são belas ruivas, talvez pouca gente perceba a troca. Os Cullens também são vistos com mais proximidade no novo filme, que sofre com más interpretações ainda mais do que os outros dois. Ainda assim, considero uma boa diversão, mesmo para aqueles que o veem como uma comédia involuntária.
Seguindo o exemplo da franquia Harry Potter, a adaptação do livro "Amanhecer" será dividida em dois filmes, lançados em 2011 e 2012. O negócio é capitalizar.
quarta-feira, julho 07, 2010
TUDO PODE DAR CERTO (Whatever Works)
Quando esteve em Cannes para promover seu mais novo filme - YOU WILL MEET A TALL DARK STRANGER (2010) - Woody Allen, 74, fez piadas sobre a velhice. Foi muito engraçado ver e ouvir o cineasta dizendo que os benefícios que a velhice traz, como a sabedoria, a maturidade etc., não compensam as dores no corpo, as indigestões, a visão pior, entre outros sintomas da passagem do tempo. Ele falou que envelhecer é um mau negócio e não aconselha isso a ninguém. Fala ainda que tem evitado atuar em seus próprios filmes porque não tem mais idade para bancar o sujeito que conquista as garotas. "Imagine minha frustração ao trabalhar com Scarlett Johansson, Naomi Watts, e ver outros caras conseguirem a garota", Allen diz. Eu mesmo, lembro de ter achado bem ousada a cena do beijo de Allen com Juliette Lewis em MARIDOS E ESPOSAS (1992). E já são dezoito anos de lá pra cá!
O tema do sujeito mais velho que tem um relacionamento com uma garota jovem está de volta em TUDO PODE DAR CERTO (2009), que é quase um misto de um episódio de CURB YOUR ENTHUSIASM com as tradicionais obras de Allen. Larry David é uma versão agressiva e ainda mais corrosiva do diretor. Agora não basta ser neurótico e hipocondríaco: tem que ter paranoia e um pouco de TOC também. O velho personagem de David, além de ter uma visão totalmente pessimista do mundo e das pessoas, ainda tem algumas manias bem estranhas - e engraçadas. Como ter que cantar "Happy birthday to you" sempre que lava as mãos. Segundo ele, para espantar os germes.
E quer figura mais adorável e bela do que Evan Rachel Wood? Se Woody Allen não pode ficar na frente das câmeras, lá está o seu alter-ego, embora cenas íntimas entre os dois sejam totalmente evitadas pelo cineasta. Que quando quer, consegue fazer suas musas transpirarem sex appeal - como Charlize Theron, em CELEBRIDADES (1998) ou Scarlett Johansson em MATCH POINT (2005) -, mas em geral ele até parece um pouco pudico. A personagem de Evan Rachel Wood, por exemplo, tem uma inocência graciosa ao ficar encantada com aquele velho doido e ranzinza. Ele mesmo inicialmente não quer a relação. Acredita que as diferenças geracionais poriam tudo a perder, que ela devia procurar alguém de sua idade.
TUDO PODE DAR CERTO, ainda que se aproxime mais do Allen tradicional - bem diferente das mudanças estilísticas mais radicais e (geográficas) que ele fez entre MATCH POINT e VICKY CRISTINA BARCELONA (2008) -, ainda assim é diferente. Há algo de mais teatral nas performances, os cenários são econômicos, como se a intenção fosse mesmo fazer um filme menor. Em TUDO PODE DAR CERTO, a ênfase nos diálogos dos personagens - deixando tudo mais falastrão do que já era antes de ele fazer filmes na Europa - pode incomodar plateias jovens. Ou não. Já que há também divertidas reviravoltas na trama, como quando surgem em cena os personagens de Patricia Clarkson e Ed Begley Jr.
O fato de o protagonista conversar diretamente com a plateia também é bem interessante, não apenas pela aproximação e pela referência a uma cena clássica de NOIVO NEURÓTICO, NOIVA NERVOSA (1977), mas para demonstrar uma espécie de superioridade intelectual do protagonista, que pode ver além do seu mundo. No mais, quem não se incomodar com a total falta de naturalidade de Larry David como ator, vai curtir o filme e ainda sairá da sessão quase tão feliz quanto depois de TODOS DIZEM EU TE AMO (1996). Bom, talvez eu esteja exagerando um pouco na comparação, mas se um pessimista arrogante e irritante pode se mostrar um quase otimista no fim, nem tudo está perdido, não é?
terça-feira, julho 06, 2010
SEAMS
Do livrinho "Ilha Deserta - Filmes", publicado pela PubliFolha, os textos mais ricos, interessantes e informativos são os escritos por João Moreira Salles. Não se considerando um cinéfilo por causa das grandes lacunas, ele se tornou, além de um grande documentarista, um especialista em documentários. E me fez ficar bastante interessado em conhecer vários filmes do gênero. Cada texto seu se lê com prazer e a vontade de ver o filme descrito é imediata. Ele não fez um inventário dos dez (no caso, onze) melhores documentários, mas os dez que ele mais tem prazer em apresentar. Por isso, alguns deles são obscuros ou difíceis de encontrar. SEAMS (1993), de Karim Aïnouz, feito quase dez anos antes de sua estreia na direção de longas com MADAME SATÃ (2002), foi um dos que mais me chamou a atenção, não apenas pelo interesse na filmografia do diretor, mas pela própria proposta do filme.
SEAMS é um projeto que levou três anos para ser concluído. Aïnouz morava em Nova York e fez as entrevistas com a mãe, as tias e a a avó, quando vinha passar uns dias em Fortaleza. Por isso o filme é narrado em inglês e legendado em inglês nos depoimentos das mulheres. A intenção de Aïnouz é mostrar para os americanos como é - ou pelo menos como era - ser mulher no Brasil, em especial, no Nordeste brasileiro, onde o machismo é mais dominante, onde os homens são mais preconceituosos com os homossexuais e onde as mulheres tinham que casar cedo e obedecer as regras da sociedade, abdicando de suas próprias vontades. Casar por amor, então, é algo que simplesmente não existe para essas mulheres. Uma delas, inclusive, conta que o falecimento de um homem foi encarado por sua esposa como um alívio.
O que me deixou intrigado no filme foi justamente esse incômodo que o homem provoca em algumas mulheres. Não tive como não me lembrar de meu pai e de como em seus últimos anos de vida ele foi tratado quase que como um intruso. E de como sua morte tornou o ambiente familiar mais harmônico, por mais cruel que essas palavras possam soar. Depois que ele morreu, eu, minha mãe e minhas irmãs passamos a comemorar o dia das mães, passamos a ter ceia de natal, coisa que praticamente não havia antes.
No caso do filme de Aïnouz, sua intenção é mostrar de maneira perjorativa a figura do macho (que no vocabulário gay do filme, é traduzido como "bofe"). Aliás, uma das poucas coisas que me incomodam em SEAMS é esse aspecto meio de gueto homossexual. O que eu mais gostei foi uma espécie de "bate-bola" involuntário que ocorreu entre Karim e sua velha tia solteira. Ele pergunta a ela se ela nunca tinha dormido com um homem. Ela responde, com certa doçura e inocência, que nunca se casou. Meses depois, é ela que faz uma pergunta pessoal a Karim: se ele tem uma namorada. Ele diz que não. Pelo menos, não exatamente. Que é complicado. E "a vida é tão complicada" é uma frase que a mãe de Aïnouz diz ao longo do filme. Com menos de meia hora de duração, SEAMS me fez refletir sobre uma série de coisas.
segunda-feira, julho 05, 2010
AS SAFADAS
Não teria visto AS SAFADAS (1982) se não fosse o interesse pelo segmento de Carlos Reichenbach, o pouco citado e subestimado "Rainha do Flipper". Acabei encontrando uma cópia na internet desse filme em episódios produzido por um dos mais importantes nomes da Boca do Lixo, Antônio Polo Galante. A cópia, ripada do Canal Brasil, não é das melhores, mas os filmes são tão bons, especialmente os de Carlão e Inácio Araújo, que a gente até nem se incomoda tanto com aqueles pixels saltando pela tela. AS SAFADAS foi a quarta das cinco parcerias entre Carlão e Galante, que dava ao diretor toda a liberdade, contanto que colocasse as habituais cenas de sexo e nudez.
"Rainha do Flipper" me encantou. As cenas de sexo têm tesão, mas também há sensibilidade, delicadeza. Coisa de mestre. Carlão transcende o erotismo puro e simples, a sacanagem pela sacanagem. E mesmo quando há apenas puro tesão, como nas cenas da loira companheira da "rainha", elas são de alta voltagem erótica. Na trama, Zilda Mayo é a rainha do fliperama do título. Seu meio de vida é através de apostas feitas por aficionados no jogo. Ela é como uma prostituta, agenciada por Giba, seu namorado, um sujeito um tanto grosseiro e que fica logo cabreiro quando entra em cena Tenório, um antigo namorado da "rainha", que a chama pelo seu verdadeiro nome, Reginéia. Ela fica feliz com a chegada do velho amigo, que se mostra muito tímido aos costumes mais libertinos na casa da antiga namorada. Ele representa para Reginéia o seu passado deixado para trás. Há uma bela sequência de saudosismo, quando os três, Reginéia, Tenório e Giba, passeiam de carro pelas ruas de São Paulo e veem as mudanças na paisagem. Carlão aproveita para fazer brincadeiras carinhosas com os nomes de Fritz Lang e Kenji Mizoguichi. No filme, a modernidade (os jogos eletrônicos, a libertinagem) encontra o passado (nas canções que tocam na vitrola, nas memórias dos personagens). O presente duro da protagonista e principalmente do homem fracassado são dolorosos. Pra completar, o próprio Carlão ainda recita, numa das cenas perto do final, trechos do poema "O Marinheiro", de Fernando Pessoa. Sensacional.
Depois do excelente segmento de Carlão, não esperava que veria novamente outro grande filme. E eis que me deparo com "Uma Aula de Sanfona", de Inácio Araújo. O filme já começa com uma homenagem explícita a JANELA INDISCRETA, de Alfred Hitchcock. A câmera mostra um prédio com algumas janelas abertas. A intimidade de um casal chama logo a atenção e é para lá que a câmera se dirige. Uma loirinha linda recebe uns tapas do namorado, antes do sexo. Depois, ela reclama de não ter novamente chegado ao orgasmo. Ele apenas diz que um dia ele vem. Pouco depois, ela briga com o sujeito, diz que não quer vê-lo nunca mais. No dia seguinte, acorda incomodada com o vizinho de cima, que toca sanfona. Ela trata o gordo sanfoneiro (Cláudio Mamberti) de maneira humilhante, ao mesmo tempo que o deixa excitado, com seu belo corpo. O desenrolar e o desfecho do enredo é coisa de mestre. Nem parece o único trabalho na direção. Sem querer desmerecer o que ele nos deixou como crítico de cinema, Inácio Araújo deveria ter seguido carreira de cineasta!
"Belinha a Virgem" (assim mesmo, sem vírgula) é o terceiro e menos inspirado episódio de AS SAFADAS. Diferente dos trabalhos de Carlão e Inácio, o segmento dirigido por Antônio Melliande não tem muitas pretensões. Vale mais pela beleza e pela graça de Vanessa Alves, que aqui faz o papel de uma garota bem safada que pretende, antes de se casar com um rapaz, membro da alta sociedade, cometer vários golpes, utilizando-se de seus dotes físicos. E sempre com a desculpa de ser virgem. Desculpa que também usa para o namorado, que tem que esperar até o casamento para poder usufruir do tão almejado brinquedo. O segmento é pura sacanagem, bem típica das que eram feitas na época e deve ter agradado bastante ao produtor Galante. Entre uma e outra pornochanchada, Vanessa Alves se tornaria a atriz mais presente nos filmes de Carlos Reichenbach.
P.S.: Procurando matérias sobre a obra solitária de Inácio, dei de cara com uma das saudosas colunas do Carlão. Ele elogia o filme do colega, fazendo comparações com Bresson e Hawks e outros segmentos antológicos do cinema mundial. E não é que eu dei de cara também com um dos e-mails que eu costumava enviar para a sua coluna há dez anos! Uma cápsula do tempo.
sexta-feira, julho 02, 2010
HOUSE - TERCEIRA TEMPORADA (House M.D. - Season Three)
Comecei a ver a terceira temporada de HOUSE (2006-2007) sem o mesmo ânimo das anteriores. Mas, como sempre, quando vai chegando na reta final, os episódios vão ficando cada vez mais empolgantes e só de saber que eu veria HOUSE antes de dormir, depois de um dia cansativo, já era um alento. A temporada começou um pouco diferente. O tiro que House recebeu no final da segunda repercutiu de maneira espantosa nele. Para começar, ele ficou bom das dores na perna e até passou a praticar jogging! Mas, como é de se esperar em quase toda série, as coisas mudam para depois voltarem a ser o que eram antes. O que não torna a série melhor ou pior por isso. Se os produtores e roteiristas conseguem manter o pique, trazendo sempre ideias novas e inspiração, então, não há com o que reclamar. E não dá pra dizer que faltou inspiração nessa temporada. Que talvez só tenha sido um pouco aborrecida naquele arco em que um policial pega no pé de House até levá-lo aos tribunais. Tudo por causa de uma dedada desnecessária!
Casos escabrosos solucionados por House: ele descobre que um desequilíbrio hormonal numa mulher (que tem bigode) pode afetar também crianças, fazendo com que uma menstruação possa surgir numa menina de seis anos. E a tal mulher com testosterona a mais era amante do pai das crianças! Um desses casos difíceis de acreditar. O caso apresentado no último episódio ("Human Error") também é bastante curioso. É possível mesmo uma mulher ter o coração parado por quase 24 horas e logo em seguida voltar a bater? Se bem que eu já tinha ouvido falar em estado catatônico, mas não sei se seria o caso, afinal, dentro de um hospital é possível diagnosticar isso. Ou não? O fato é que a série desmitifica ainda mais a figura do médico, mostrando que, por mais que ele tenha muitos conhecimentos na área, ele estará sempre lidando com casos desafiadores. Mesmo quando o médico é Gregory House.
Enfim, são 24 episódios e a maioria deles, interessantes. Logo, não dá pra falar num único post sobre a temporada completa sem esquecer momentos fundamentais. Fiquei impressionado com o episódio da mulher grávida que sabe os sintomas iniciais de quando vai ter um derrame e inicia um processo mnemônico para minimizar as sequelas. E como esquecer de quando House não consegue urinar, por consequência das drogas que usa, e aplica uma sonda na própria uretra para conseguir se livrar das dores na bexiga? Como esquecer as suas crises de abstinência e irritabilidade? Como esquecer do episódio em que Foreman comete um erro e uma paciente morre? Dá pra sentir um pouco do que é ter o peso de uma vida humana sobre os ombros.
A terceira temporada também destaca mais os relacionamentos entre os personagens. Já que eles são tão dedicados ao trabalho a ponto de não terem uma vida social, é lógico que as relações de amor e ódio entre eles acabam por trazer situações interessantes, como o namoro entre Chase e Cameron, as perseguições de House à sua chefe Cuddy ou a relação pouco amistosa de Foreman em relação aos demais. Mas nada tão divertido quanto as brincadeiras "saudáveis" entre os amigos House e Wilson. Destaque para o episódio em que House coloca três anfetaminas no café de Wilson para deixá-lo "ligado", sem conseguir sequer colocar as luvas para um exame ou falar certas palavras. E depois Wilson dá o troco, fazendo com que House tome um antidepressivo e dê a notícia de que uma garota só tem algumas horas de vida com um sorriso no rosto. Nada como esses momentos divertidos para aliviar a tensão no hospital.
A série também me fez questionar sobre a química do cérebro e o quanto isso pode ou não alterar a personalidade e o humor das pessoas. No episódio "The Jerk", constata-se que o paciente grosseiro e metido à besta não é assim por culpa de algum mal funcionamento bioquímico que pudesse ser ajustado, mas porque ele era mau por natureza. Achei interessante esse tipo de posicionamento. Mas é melhor eu não ficar achando certas coisas "interessantes" sob o risco de ficar parecido com House. Em alguns episódios, confesso ter me identificado com ele.
Agradecimentos especiais ao amigo Zezão, o dono do box. Obrigado pela paciência e pelo tempo, buddy!
quinta-feira, julho 01, 2010
O PRISIONEIRO DO SEXO
O título um tanto apelativo desta obra de Walter Hugo Khouri prenuncia o início de um processo onde cada vez mais o sexo e a nudez se fariam mais e mais presentes nas obras do diretor. O cartaz pouco sutil, mostrando a bunda de uma mulher, também contribuiu para que o filme fosse vendido como uma pornochanchada como tantas que eram produzidas na época. No entanto, O PRISIONEIRO DO SEXO (1979) é mais um estudo psicológico do alter-ego do diretor, o mulherengo existencialista Marcelo, neste filme, vivido por Roberto Maya. Afinal, sem querer menosprezar as comédias eróticas da época, o sofisticado Khouri estava acima daquilo tudo.
O PRISIONEIRO DO SEXO foi o primeiro filme de Khouri a explorar o aspecto mais insaciável de Marcelo. A vontade de transar com todas as mulheres do mundo complementa o vazio existencial do personagem mostrado desde AS AMOROSAS (1968). Destaque para o desejo que ele nutre pela filha Berenice, aqui representada por Nicole Puzzi, jovem, mas que já tinha no currículo títulos como ESCOLA PENAL DE MENINAS VIOLENTADAS, PENSIONATO DAS VIGARISTAS e DAMAS DO PRAZER. Quer dizer, mesmo no pouco tempo que a atriz aparece, ela desperta mais tesão do que qualquer outra no filme. Nos pensamentos de Marcelo, a câmera passeia por seu corpo com um olhar de volúpia. Ela olha para a câmera com jeito de ninfeta sedutora e exibe o livro que está lendo, o romance "Mulheres Apaixonadas", de D.H.Lawrence. Esse desejo nutrido pela filha só seria materializado num dos mais eróticos trabalhos da carreira do diretor, EU (1987).
O PRISIONEIRO DO SEXO já antecipa o Marcelo rodeado de mulheres por todos os lados: tarado pela filha, agarrando a secretária (Aldine Muller) no horário do expediente, querendo persuadir a esposa (Sandra Bréa) a fazer um ménage à trois com uma desconhecida (Maria Rosa) e ainda tentando agarrar à força a vizinha (Kate Lyra). Tudo isso acaba fazendo com que os comentários de Marcelo sobre sua visão de vida sejam eclipsados pelo calor do erotismo. Se bem que o filme pode frustrar a quem for esperando uma de suas obras mais eróticas. O PRISIONEIRO DO SEXO é quase uma obra de transição entre uma fase mais filosófica e uma fase onde o sexo falará mais forte.
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