quarta-feira, julho 14, 2010

O OLHO MÁGICO DO AMOR



Não quero ser saudosista, até porque eu gosto dos filmes recentes também e era muito novo naquela época, mas os filmes produzidos no Brasil nos anos 70 e 80 eram bem mais gostosos. Tudo bem que muito lixo deve ter sido feito naquela época e hoje a gente pode fazer peneira fina na escolha dos títulos, mas por enquanto tenho tido muita sorte nas escolhas. O OLHO MÁGICO DO AMOR (1981), de José Antônio Garcia e Ícaro Martins, já era um filme que eu queria ver há muito tempo. Ter encontrado uma cópia em bom estado na internet me deixou muito feliz. Só o fato de rever Carla Camurati na flor da idade num filme pra lá de atraente já me deixou bem animado. O filme é uma espécie de trilogia que Camurati fez com os dois diretores. A parceria continuaria em ONDA NOVA (1983) e A ESTRELA NUA (1984). De ESTRELA NUA, eu lembro da famosa cena do cigarro feito os com pêlos pubianos da Camurati. Sensacional, hein! Aquele povo devia fumar muito naquela época. :) E quero rever A ESTRELA NUA, assim que possível.

Em O OLHO MÁGICO DO AMOR, Carla Camurati é Vera, uma jovem de família suburbana que aceita o emprego de secretária num estranho escritório em uma tal Associação Paulista de Ornitologia, onde Sérgio Mamberti é o responsável. E também um velho tarado, que come a garota com os olhos assim que ela se apresenta. Mas o velho e simpático doutor não é tão importante assim na história, já que ele passa o tempo todo fora do escritório. Assim, sozinha na pequena sala, Vera fica olhando aqueles estranhos quadros de pássaros, que na cabeça dela parecem emitir barulhos. É na vontade de trocar um quadro do lugar que ela encontra um buraco, que dá acesso ao quarto de uma prostituta (Tânia Alves). Ela passa a ficar obcecada pelo ato de olhar aquela mulher, recebendo os mais diferentes e estranhos clientes. Aquilo mexe com a cabeça e com a libido de Vera. O namorado logo percebe a diferença numa noite tórrida de sexo dentro do carro.

E o filme passa esse tesão dos personagens para o lado de cá da tela de maneira impressionante, ao mesmo tempo que também nos deixa instigados com a trama, com elementos de film noir. Aquela época, quando a Boca do Lixo ainda não havia sido dominada pelos filmes de sexo explícito, foi um período glorioso para o cinema paulista. Havia muita gente de talento envolvida e as atrizes se doavam nos papéis. Caso de Carlinha Camurati, linda, com seus 21 aninhos. Sua personagem é meio como um anjo caído, entregue aos desejos carnais. Contrasta, de certa forma, com a prostituta vulgar vivida por Tânia Alves, que passa o filme inteiro praticamente nua, deitada na cama, mas quase sempre sorrindo de satisfação. E o interessante é que a porta dela está sempre aberta. Entre os clientes, há a participação do jogador de futebol Casagrande e de Jorge Mautner, que aparece tocando violão e cantando.

A trilha sonora tem John Lennon, Luiz Gonzaga, Mautner e Roberto Carlos. Na cena de sexo no carro, por exemplo, ouvimos "Mother", de Lennon, sei lá porque motivo. Filme nenhum hoje em dia pode-se dar ao luxo de colocar tudo isso sem ter que prestar contas com os direitos autorais. Entre as várias cenas antológicas, destaco: Vera deitada no chão da Rua do Triunfo, depois de estuprada; Vera andando nua pelo escritório e fazendo gestos estranhos, como se possuída por um espírito; a vingança ao cafetão; e a conclusão, próxima do genial, e não só pela metalinguagem. Não é para menos que o filme acumulou tantos fãs.

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