domingo, outubro 31, 2004
HISTÓRIAS MÍNIMAS (Historias Mínimas)
"Não deseje a felicidade
Porque este desejo atrapalha o caminho,
Viva a vida desacorrentado do desejo
E sem olhar para um objetivo.
Viva livre!
Viva momento a momento!
E não tenha medo,
Seja livre do medo
Porque não há nada a perder -
E nada a ganhar
- e no momento em que você entender isto
a totalidade da vida será alcançada.
Mas nunca se aproxime dos portões da vida como
Um mendigo, nunca mendigue,
Porque aqueles portões nunca se abrem para
Mendigos!"
(Osho - "Uma Xícara de Chá")
Depois que assisti HISTÓRIAS MÍNIMAS (2002), de Carlos Sorin, li por acaso esse trecho de um livro do Osho que estou lendo de maneira aleatória, como se estivesse lendo um livro de poesias. As palavras desse guru são quase sempre polêmicas, quase sempre deixando as pessoas com um pé atrás. Diferente por exemplo de um Dalai Lama, que fala coisas que parecem óbvias, Osho sempre nos leva à reflexão, às vezes falando coisas que não gostaríamos de ouvir.
Sempre queremos a felicidade, sempre queremos que as coisas sejam do nosso jeito. E por isso ficamos frustrados. Mas quem já conhece os princípios budistas até que não estranha essas palavras. Mesmo assim, sempre me perguntei se essa coisa de negar o desejo para negar a dor não seria apenas uma maneira de evitarmos a tristeza. Mas sei por experiência própria que esse é o caminho. Além do mais, o Cristianismo também tem um pouco disso aí ("seja feita a Vossa vontade", hein?).
Sem querer me alongar em discussões religiosas ou filosóficas, achei por bem colocar essas palavras aí de cima por HISTÓRIAS MÍNIMAS se tratar de um filme sobre três pessoas em busca da felicidade. Ou, ao menos, de momentos felizes. Todas elas saem de uma mesma cidade em busca de coisas diferentes: temos o velho que sai à procura de seu cachorro, "perdido" há três anos; temos a jovem senhora que é sorteada num programa de tevê estilo Silvio Santos para participar de um outro sorteio onde se ganham objetos medíocres; temos o vendedor que sai em busca de uma viúva que, quem sabe, vai poder acalmar o seu coração solitário. E a sensação que eu tive, ao término do filme, foi justamente de que eles estavam mendigando a felicidade. O que os três ganham são apenas esmolas. E isso torna o filme ainda mais triste do que já aparentava no início. Ao mesmo tempo, vemos um belo exemplo da hospitalidade do homem, especialmente na história do velho.
Para atenuar ainda mais a tristeza, a história se passa na Patagônia, uma região desolada da Argentina, um lugar deserto e frio que tem um céu lindo, apesar de triste, e onde as pessoas vivem quase que isoladas do mundo. (O clima e a paisagem do filme me lembraram PARIS, TEXAS, de Wim Wenders.)
Vendo o segundo filme argentino num intervalo de oito dias, começo a perceber o quanto esse país tem de melancolia, até parecendo um pouco com Portugal. Diferente do tom alegre e ensolarado da maioria dos filmes brasileiros (mesmo aqueles que mostram pessoas muito pobres). Mas posso estar me precipitando com essa comparação e pretendo conhecer mais filmes da terra do Maradona para ter uma visão um pouco mais global, especialmente os trabalhos da nova geração de cineastas argentinos, como os tão cultuados Pablo Trapero e Lucrecia Martel. Oportunidades surgirão.
sexta-feira, outubro 29, 2004
LARRY COHEN, JOHN McNAUGHTON E ROB SCHMIDT
No velho esquema 3 em 1, três filmes de diretores que em comum tem apenas o fato de já terem dirigido filmes de terror em algum momento de suas carreiras. Larry Cohen é o autor da famosa trilogia NASCE UM MONSTRO (1974,1978,1987) e é considerado um mestre dos filmes B; John McNaughton estreou com o chocante HENRY: RETRATO DE UM ASSASSINO (1986) e também já fez filmes do gênero ficção científica e w.i.p. (women in prison); Rob Schmidt é o mais jovem dos três: ficou famoso depois de dirigir o ótimo PÂNICO NA FLORESTA (2003), filme com referências ao clássico O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA, de Tobe Hooper. Minhas breves impressões de três filmes desses diretores.
TÃO BOM QUANTO A MORTE (As Good as Dead)
Uma coisa que ao mesmo tempo incomoda e agrada em TÃO BOM QUANTO A MORTE (1995) é que as coisas acontecem muito rapidamente, o que tira um pouco a verossimilhança da trama. Mas depois que a gente se acostuma, foda-se a verossimilhança. Esse filme de Larry Cohen é uma delícia. Não dá pra falar nada da história sob o risco de estragar as surpresas que acontecem ao longo do filme, mas já adianto que se trata de uma trama envolvendo troca de identidades e traições. Traci Lords aparece num papel importante no filme, com aquele visual de piranha dos anos 80. Até parece que Cohen queria que ela estivesse como nos tempos em que era atriz pornô. Beleza de filme. Gravado da Globo.
LANSKY - A MENTE DO CRIME (Lansky)
Feito para a tv, LANSKY (1999) seria um filme biográfico convencional se McNaughton não optasse por mostrar Meyer Lansky como um homem de negócios como outro qualquer, evitando mostrar o lado mau do homem. Lansky, interpretado no filme por Richard Dreyfuss, foi um grande chefão do crime organizado da mesma época de Charlie 'Lucky' Luciano e Bugsy Siegel. Quem assistiu ao filme BUGSY (1991), de Barry Levinson, sobre o homem que construiu Las Vegas, pode comparar um pouco com o modo como ele é mostrado nesse filme, mas aqui Bugsy é apenas um coadjuvante. O filme dá um geral na vida de Lansky, desde a infância até a velhice. O roteiro do filme, com excelentes diálogos, foi escrito por David Mamet. Gravado da Warner.
CRIME E CASTIGO (Crime and Punishment in Suburbia)
Livre adaptação do romance de Dostoiévski, CRIME E CASTIGO (2000) traz Monica Keena, gracinha que apareceu em FREDDY VS JASON (2003), como pivô de uma história de amor e crime. Depois de ser estuprada pelo padrasto, ela convence o namorado a matar o velho. Mal sabia ela que sua própria mãe (interpretada por uma ainda sexy Ellen Barkin) é que iria ser considerada culpada pelo assassinato. O filme tem um andamento muito gostoso de acompanhar e não tem pretensões de fazer uma grande adaptação do texto do escritor russo. Gravado da TNT.
quarta-feira, outubro 27, 2004
MAR ABERTO (Open Water)
MAR ABERTO (2004) é o filme que logo após ter sido exibido no Festival de Sundance foi chamado pela imprensa de "Bruxa de Blair com tubarão". Isso por causa do baixo custo da produção (apenas U$ 120.000,00) e também por se tratar de um filme de terror, ainda que não tenha elementos sobrenaturais. (Por falar em A BRUXA DE BLAIR, parece que os diretores finalmente estão fazendo um novo filme. Chama-se HEART OF LOVE e trata-se de uma comédia!) O diretor de MAR ABERTO, Chris Kentis, usou câmera digital e dá logo pra se notar a baixa qualidade da imagem. O filme foi produzido devagarinho durante dois anos e é interessante notar que esse grande intervalo de tempo não é sentido no filme.
O Gustavo Cavinato chegou a dizer que na hora em que o casal de protagonistas está à deriva no mar, ele sentiu a desagradável sensação de que eles estavam representando. Bom, eu achei a performance dos atores até convincente. Especialmente da atriz, a bela Blachard Ryan, que lembra um pouco a Sharon Stone quando jovem e aparece lindamente nua no começo do filme. Mais um ponto positivo para o filme que ganha ares de produção exploitation italiana de terror - inexistência de efeitos especiais por conta de baixo orçamento, cena de mulher pelada e seqüência final mostrando um tubarão de verdade sendo cortado por pescadores.
Como filme de horror pode não ser tão assustador quanto A BRUXA DE BLAIR (1999), mas causa muita tensão, especialmente na cena em que, pra piorar ainda mais a situação desesperadora do casal, começa uma tempestade em alto mar. Aí já viu, né? Tubarão, águas vivas, sensação de abandono, fome, frio, desespero, tudo ao mesmo tempo. O final é totalmente diferente do que se esperaria de um filme convencional. Merece ser conferido.
segunda-feira, outubro 25, 2004
LUGARES COMUNS (Lugares Comunes)
Ultimamente não ando nos meus melhores dias. Aliás, já faz algum tempo que venho andando com uma nuvem negra sobre minha cabeça. O que mais tem me afligido atualmente é o meu problema de saúde. Desde maio que venho lutando contra uma L.E.R. Os sintomas mudaram com o passar dos meses. Agora, por exemplo, a tendinite no braço foi embora e deu lugar à bursite e a uma desagradável sensação de tontura e enjôo em menos de meia hora de utililização do computador. Por isso, tenho diminuído consideravelmente o tempo que passo à frente do PC. Tenho saudade, por exemplo, do tempo em que passava horas conversando com os amigos pelo MSN/ICQ. Só me resta, então, continuar o tratamento à base de acupuntura e fisioterapia e torcer pra que eu fique curado o quanto antes. Para uma pessoa que não tem tanto prazer em escrever, isso talvez não fosse tão dramático, mas pra mim isso é perturbador e tem me deixado bem deprimido. Foi nessas circunstâncias que saí de casa no sábado pela manhã, com dores no corpo feito um velho com reumatismo, para ir ver o belo LUGARES COMUNS (2002), de Adolfo Aristain.
Não foi difícil me identificar um pouco com o protagonista, o professor de literatura interpretado pelo grande Federico Luppi, veterano ator que já trabalhou com Guilhermo Del Toro em seus melhores filmes - CRONOS (1993) e A ESPINHA DO DIABO (2001). O personagem se vê num beco sem saída quando é obrigado a se aposentar da universidade em que leciona. Aposentar-se na Argentina, como no Brasil, é uma situação delicada: o trabalhador tem a sua renda diminuída consideravelmente e é obrigado a cortar mais e mais gastos. Some-se isso tudo ao estado de saúde delicado em que se encontra o professor, que insiste em fumar e beber para diminuir as frustrações.
Seu relacionamento com a esposa é uma das coisas mais bonitas do filme. Ela é interpretada pela ótima atriz Mercedes Sampietro, que chegou ser premiada em três festivais diferentes só por esse papel - ela ganhou prêmios em Gramado, San Sebastian e no Goya, que na verdade não é um festival, mas uma espécie de Oscar espanhol.
O filme, a exemplo de AS INVASÕES BÁRBARAS, de Denys Arcand, fala sobre a geração de intelectuais que nos anos 60 tentou achar soluções para os problemas do mundo através do comunismo/marxismo/socialismo e hoje se sente vencido pelos poderosos capitalistas, que até permitem a existência de uma esquerda, já que ela não incomoda mais ninguém. Por isso, há no filme essa amargura, essa sensação de sonhos naufragados.
A morbidez e a melancolia andam lado a lado com a ternura, como na cena em que a esposa, vendo o marido dormindo no sofá, diz baixinho: "por favor, não me deixe só"; ou na cena em que ele, ao flertar com outra mulher, confesa que nunca jamais encontrou outra mulher que se equiparasse à sua própria esposa, mas que ele sempre tivera a dificuldade de expressar o seu amor verbalmente. Essas são apenas duas das várias seqüências cheias de lirismo em que o filme se apóia.
Nos últimos anos tive o prazer de ver três pérolas do cinema argentino: UMA NOITE COM SABRINA LOVE (2000), de Alejandro Agresti, O FILHO DA NOIVA (2001), de Juan José Campanella, e KAMCHATKA (2002), de Marcelo Piñero. Além de contar com um elenco excepcional, esses filmes são extraordinariamente bem dirigidos e de narrativa deliciosa. Até dá uma pontinha de inveja dos argentinos - aparentemente o cinema de lá está muito melhor do que o nosso.
O filme faz parte de uma mini-mostra que o Cinema de Arte está promovendo. Os próximos filmes serão HISTÓRIAS MÍNIMAS, de Carlos Sorin, DO OUTRO LADO DA LEI, de Pablo Trapero e VALENTIN, de Alejandro Agresti. Tenho a intenção de ver todos eles.
domingo, outubro 24, 2004
RESIDENT EVIL 2: APOCALIPSE (Resident Evil: Apocalypse)
Acabei de voltar da sessão de RESIDENT EVIL 2, filme que nem pretendia ver nos cinemas. Saí de casa para ver MENINA DOS OLHOS, de Kevin Smith, mas o horário da sessão estava diferente do horário do meu roteiro.
Como estava esperando um filme ruim (estava até com um pouco de má vontade), acabei gostando mais do que esperava. Essa continuação perde para o filme original em vários aspectos, exceto pela presença de Sienna Guillory, que faz a Valentine, personagem quase tão forte quanto a Alice (Milla Jovovich), e até mais sexy - o cabelo e o figurino ajudam. Para um filme com personagens e enredo tão superficiais, isso é louvável.
Como filme de ação até que convence um pouco, mas os elementos de terror são bem mal empregados. O filme evita mostrar cenas gore, evita mostrar os zumbis - que na trama são bem menos perigosos em comparação com os monstros super-velozes e os cães raivosos -, e ainda por cima não consegue trazer nenhum suspense para a trama.
Paul W. S. Anderson dessa vez, assina apenas o roteiro, deixando a direção a cargo do desconhecido Alexander Witt. RESIDENT EVIL (2002), o original de Anderson, continua sendo o melhor filme baseado em videogames já realizado.
Pelo menos o preço do ingresso foi justo para o filme (R$ 2,50) e eu acabei assistindo numa das salas maiores do multiplex, o que melhora um pouco filmes razoáveis. Ainda assim, sinto que um filminho romântico "água com açúcar" até que teria caído melhor pra mim hoje.
sexta-feira, outubro 22, 2004
HORROR ORIENTAL EM DOIS FILMES
Vi nos últimos dias dois filmes de horror vindos do Japão e de Hong Kong. O horror oriental tem renovado o gênero, que no ocidente, com raras excessões, estava usando sempre os mesmos temas batidos. A criatividade vinda dos japoneses, por exemplo, já chamou a atenção da indústria cinematográfica americana, que lucrou milhões de dólares com a refilmagem de RINGU, de Hideo Nakata, dirigida por Gore Verbinski. A continuação está a caminho, dessa vez dirigida pelo próprio Nakata. O que me deixa com o pé atrás é que da última vez que um mesmo diretor aceitou fazer remake de seu próprio filme em Hollywood, o resultado foi desastroso. Basta lembrar da obra-prima holandesa O SILÊNCIO DO LAGO (1988), de George Sluizer. Hollywood chamou o sujeito e fez uma refilmagem asquerosa e com um final feliz. Acabaram com todo o horror e a poesia da obra original. Espero que Hollywood não acabe com a carreira de Nakata também. Aliás, Nakata talvez seja recordista de remakes americanos, já que Walter Salles está dirigindo a refilmagem de DARK WATER (2002).
RING 2 - O CHAMADO (Ringu 2)
Foi um grande erro meu ter visto a trilogia RINGU separadamente em intervalos de tempo muito longos. Era pra eu ter visto os três em seqüência. Por isso, acabei não entendendo direito a história dessa continuação. Os momentos apavorantes desse filme ainda são de arrepiar os cabelos, mas deu a impressão de terem esticado demais a história. Aqui, já sabemos que quem assiste a fita amaldiçoada pode ter a chance de não morrer em 7 dias caso mostre a fita para outra pessoa. RINGU 2 (1999) acompanha a jornada da garota Mai, que quer descobrir mais sobre o mistério da morte de seu namorado, vítima da fita de Sadako. Ao mesmo tempo, o filho do namorado morto está adquirindo poderes psíquicos semelhantes aos da garotinha de cabelos longos. Lá pelo meio da história eu me perdi e nem sabia mais o que estava acontecendo. Mas as imagens de Mai caindo dentro do poço de Sadako no final do filme impressionam. Fico imaginando como pode ter ficado na versão americana, com mais dinheiro envolvido. Visto em VHS.
THE EYE (Jian gui)
Fez muito sucesso esse filme made in Hong Kong. Tanto que o remake americano (agora virou moda, né?) está a caminho para 2005, ainda sem diretor definido. THE EYE (2002) lembra muito O SEXTO SENTIDO, de Shyamalan. E isso é um dos pontos fracos do filme, que perde em originalidade. Na história, uma jovem cega desde criança se submete a uma cirurgia de transplante de córnea. A cirurgia é bem sucedida, exceto pelo fato de que a jovem passa a ter a capacidade de ver "dead people". Confesso que a primeira vez que um espírito apareceu pra ela no hospital, eu quase me borrei nas calças, mas depois os sustos não são tão fortes. Uma qualidade do filme está em sua belíssima fotografia. Uma cena de acidente na estrada lembra a cena de PREMONIÇÃO 2, ainda que seja bem menos virtuosa. Gostei da parte dramática do início do filme, mostrando a dificuldade que o cego tem de se adaptar à vida com luz, algo que já tinha sido feito com mais profundidade no melodrama americano À PRIMEIRA VISTA, com Val Kilmer. O clímax do filme é interessante, mas segue a fórmula clássica tradicional. Visto em DIVX, fornecido pelo Davi. O filme está inédito em cinema e vídeo no Brasil.
quarta-feira, outubro 20, 2004
MATADORES DE VELHINHA (The Ladykillers)
Uma das boas notícias do fim de semana foi a da promoção que os cinemas UCI estão fazendo aqui. Nas primeiras sessões de sábado e domingo, o preço do ingresso é R$ 5,00 (inteira)/R$ 2,50 (meia). Uma boa. Nessas condições, fui lá conferir, baratinho, o novo filme dos irmãos Coen - MATADORES DE VELHINHA (2004), que está chegando aqui atrasado em relação ao lançamento no Sul do país. Tanto que já está entre os lançamentos de vídeo do mês.
Não sou fanático pelos filmes dos Coen, mas quase todos me agradaram. Só E AÍ, MEU IRMÃO, CADÊ VOCÊ? (2000) que achei irritante e chato. MATADORES DE VELHINHA, se não está entre os melhores filmes da dupla, é um bom filme, ainda que não tenha me deixado realmente empolgado. É uma comédia com poucos momentos pra se gargalhar e com aquele humor negro característico da dupla.
Um dos pontos que é ao mesmo tempo positivo e negativo dos filmes dos Coen é a pouca simpatia que os seus personagens esquisitos despertam no público. Eu, por exemplo, dentre os filmes da dupla, só consegui simpatizar com os personagens de Billy Bob Thornton em O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ (2001) e de Nicholas Cage em ARIZONA NUNCA MAIS (1987). Em MATADORES DE VELHINHA, o personagem de Tom Hanks é tão irritante, com aquele vocabulário do século XIX, quanto a velha que aluga o quarto para os bandidos.
A trama, que lembra um pouco o ponto de partida de TRAPACEIROS, de Woody Allen, é mais ou menos assim: Tom Hanks é um criminoso que aluga um quarto numa pensão, onde junto com sua gangue planeja cavar um túnel e roubar o dinheiro de um cassino. Mas a dificuldade maior é driblar a velha, que sempre aparece para atrapalhar a operação.
Gostei do cenário da ponte, com aquela gárgula sinistra. Gostei também do papel de Marlon Wayans, que é quem se dá melhor no território do humor, entre os membros da gangue. Destaque para a cena em que ele vai tentar matar a velha e se lembra da sua mãe.
Meu top 5 Coen Brothers:
1. O HOMEM QUE NÃO ESTAVA LÁ
2. FARGO
3. BARTON FINK
4. O GRANDE LEBOWSKY
5. AJUSTE FINAL
segunda-feira, outubro 18, 2004
BERSERK (Kenpû denki Berserk)
O fim de semana foi de dor e tristeza, mas alguma coisa de boa tem que se destacar: além de eu ter tido o prazer de readquirir o álbum Acid Eaters, dos Ramones, pude finalmente terminar de assistir uma das mais espetaculares séries que já vi: BERSERK (1997), de Naohito Takahashi.
Tive a chance de conferir essa série graças ao amigo Marcelo Reis, que me conseguiu todos os 25 episódios em divx. O prazer que eu tive acompanhando BERSERK só é comparável ao que tive vendo NEON GENESIS EVANGELION.
A trama se passa na Europa, na época da Guerra dos 100 Anos. A série começa em tons super-escuros e pesados e parte para um longo flashback que conta a história de Gatsu, um poderoso espadachim que anda com uma espada maior do que ele, que junta-se ao bando de Griffith, um homem com aparência de quem pertence à nobreza da época e que tem ambições de governar o mundo. O modo como Gatsu entra no Band of the Hawk (o nome do bando de mercenários chefiados por Griffith) é bem pouco espontâneo, bem violento e com fortes conotações homossexuais. Entre os membros do bando está Caska, uma bela jovem de pele escura, que morre de ciúmes de Griffith, que parece dar mais atenção ao seu novo parceiro do que a ela.
BERSERK tem muitas seqüências memoráveis, com ganchos nos finais de cada episódio que nos faz querer saber como as coisas vão se resolver ou se complicar nos episódios seguintes. As imagens estáticas, formando belas pinturas, e que aparecem em momentos importantes da trama, também merecem destaque.
As canções de abertura e encerramento da série são bem legais e ajudam a nos deixar ainda mais empolgados. Inclusive, o tema final, "Waiting So Long", dos Silver Fins, lembra um pouco Smashing Pumpkins, uma banda do coração desse que vos escreve.
O final, com uma impressionante virada da trama nos dois últimos episódios, é literalmente infernal. O modo como a série termina é de cair o queixo. Trágico, violento, desesperador. Obra-prima!!
sábado, outubro 16, 2004
O ASSASSINATO DE TRÓTSKY (The Assassination of Trotsky)
Primeiro filme que vejo de Joseph Losey. O ASSASSINATO DE TRÓTSKY (1972) é um filmão e está bem valorizado no DVD da ClassicLine. É o DVD de melhor qualidade de imagem da distribuidora que eu peguei até agora.
Sobre Losey, para compensar um pouco minha ignorância sobre a obra do diretor, li um texto do site Senses of Cinema, na seção Great Directors, e qual não foi minha surpresa ao saber que Losey, em geral, nem é tão louvado assim como um grande diretor. O próprio O ASSASSINATO DE TRÓTSKY é um filme pouco valorizado dentro da filmografia de Losey, que dizem ter entre os seus melhores filmes, os primeiros, os que vão da década de 50 até a metade da década de 60. Bom, se O ASSASSINATO DE TRÓTSKY é um dos filmes da fase fraca do diretor, eu preciso urgentemente ver mais filmes de Losey.
No filme, Alain Delon é o sujeito contratado pelo grupo de Stálin para matar o seu maior inimigo, o ex-parceiro de revolução Trotsky, exilado no México, representado no filme por Richard Burton. Quem assistiu recentemente FRIDA pode identificar esse momento histórico. Frida não aparece no filme, mas podemos ver as pinturas de Diego Rivera bem destacadas nos muros.
Muito interessantes também as palavras de Trotsky, suas idéias, expostas de maneira pouco natural, mas de certa forma poética, pela boca de Burton. Também muito bonita a demonstração de afeto que ele tem pela esposa e pela vida, mesmo tendo passado por muitas tragédias, tendo seus filhos e amigos já mortos pelo ditador soviético, na Europa.
Além dos belos enquadramentos e da bela fotografia em technicolor, o personagem de Delon destaca-se no filme. Soube que, assim como Nicholas Ray, Joseph Losey era bissexual e, talvez por isso, a sua câmera tenha dado tanto valor à figura do galã francês, aqui num de seus melhores papéis. Seu personagem é totalmente diferente, por exemplo, do assassino frio de UM SOL POR TESTEMUNHA. Aqui nesse filme, ele é um homem inseguro e perturbado.
Quem faz o par de Delon é a bela Romy Schneider. Nesse filme, ela já não está tão bela como quando fez os filmes da série SISSI. Se bem que no mesmo ano (1972), ela estava muito bela em LUDWIG, de Luchino Visconti, se não me falha a memória. Vai ver Losey se preocupou mais com a performance de Delon e preferiu mostrar Romy como uma mulher envelhecida, trancada no quarto olhando para suas olheiras no espelho.
O filme cresce bastante a partir da segunda metade, quando a parte política do filme diminui, ao mesmo tempo em que ficamos mais próximos dos personagens e seus destinos vão atingindo um grau crítico. De uma coisa eu sei: a cena em que Delon fura a cabeça de Burton com um furador de gelo vai ficar pra sempre na minha memória.
sexta-feira, outubro 15, 2004
LUXÚRIA (Senso '45)
Uma decepção esse novo filme de Tinto Brass. Quer dizer, o mais novo filme dele chama-se FALLO! (2003), que, se eu não me engano, passou na última Mostra Internacional de Cinema do Rio. Mas o último a sair nas locadoras do Brasil é esse LUXÚRIA (2002). A direção de arte não é problema, é excelente. Brass já tinha realizado bons filmes de época antes como SALÃO KITTY (1976), AMOR E PAIXÃO (1988) e a super-produção CALÍGULA (1979). O problema principal desse filme é que dá a impressão que Brass ficou broxa. Esse filme tem pouco sexo e o pouco que tem não chega a animar.
LUXÚRIA tem uma história de amor meio sem graça de uma coroa italiana casada que se apaixona por um jovem oficial nazista alemão durante a Segunda Guerra Mundial. O filme só se recupera nos 70 minutos (eu já estava pra desistir do filme), quando acontece uma boa cena de orgia. Depois dessa cena, a trama melhora também, quando a mulher se descobre traída pelo oficial sacana. O final também é bem interessante e ajuda a balancear um pouco a primeira metade ruim: mostra o que uma mulher traída é capaz de fazer.
Tinto Brass precisa voltar a fazer filmes com mulheres lindas e gostosas como Claudia Koll, de TODAS AS MULHERES FAZEM (1992), ou Katarina Vasilissa, de O VOYEUR (1994) ou Yuliya Mayarchuk, de A PERVERTIDA (2000). Porque o que a gente quer ver nos filmes de Brass é mulher bonita e sacanagem. Não como em filmes pornôs, claro, mas aquela sacanagem típica do cinema do veneziano. Aquela sensação de estar vivo e pulsando. Se é que vocês me entendem.
quarta-feira, outubro 13, 2004
GUILHERME DE ALMEIDA PRADO EM DOIS FILMES
Minha intenção ao me dirigir à locadora na última sexta-feira era pegar uns dois ou três filmes de Nelson Pereira dos Santos para diminuir a dívida que eu tenho com sua obra. Mas sempre que pego naquela fita dupla de MEMÓRIAS DO CÁRCERE acabo desistindo por causa do volume (quem anda de ônibus sofre). Adiei novamente a minha incursão na obra de Nelson e resolvi pegar duas fitas de um diretor que me chamou bastante atenção quando assisti PERFUME DE GARDÊNIA (1992), talvez um dos meus dez preferidos filmes brasileiros da década de 90. Seguem minhas breves impressões sobre duas obras de Almeida Prado.
FLOR DO DESEJO
No IMDB consta como se esse fosse o primeiro filme do diretor, mas numa antiga ficha de cinema da revista SET vi que o seu primeiro filme chama-se AS TARAS DE TODOS NÓS (1981), que recebeu menção honrosa da Associação Paulista de Críticos de Arte. FLOR DO DESEJO (1984) é o seu segundo longa-metragem. Ainda não tem a excelência de seus trabalhos posteriores, mas já tem coisas que seriam vistas em A DAMA DO CINE SHANGHAI, por exemplo, como a voice over inspirada nos filmes noir das décadas de 40 e 50, e a trama de crimes. Na história, Caique Ferreira é um ladrão que se associa a uma prostituta (Imara Reis) para lucrar dos clientes - enquanto a mulher trepa com os caras, o ladrão fica embaixo da cama raspando a carteira da vítima. A história é contada a partir de um flashback. A principal diferença desse filme para os filmes noir americanos é que aqui vemos pouco luxo, pouca classe. Ao contrário, somos jogados na sarjeta, em puteiros baratos ao som de canções bregas dos anos 80. Há também muitos peitos e bundas já que o diretor vinha de trabalhos na pornochanchada - ele chegou a trabalhar com Ody Fraga. Seria, então, um trabalho de transição na carreira de Almeida Prado.
A DAMA DO CINE SHANGHAI
Primeira obra-prima de Almeida Prado e um dos filmes mais importantes do cinema brasileiro oitentista, A DAMA DO CINE SHANGHAI (1987) é uma homenagem escancarada à DAMA DE SHANGHAI, de Orson Welles, e aos filmes noir B hollywoodianos. De novo, há a voice over do protagonista (Antônio Fagundes) contando a intrincada estória de crimes misteriosos e mulheres fatais. O filme começa com Fagundes dentro de um cinema e sentindo-se atraído por uma linda mulher (Maitê Proença) que está assistindo ao filme ao lado do marido - a mulher tem uma espantosa semelhança com a atriz do filme. Vale destacar a beleza de Maitê nesse filme. Na época ela estava no auge do esplendor e aparece nua numa cena em que Fagundes a toma nos braços. A cena em que ela aparece no chuveiro é citação de PSICOSE, de Hitchcock. Ainda no elenco, nomes conhecidos como José Lewgoy, Jorge Dória, José Mayer, Miguel Falabella, Paulo Villaça, Sérgio Mamberti, Matilde Mastrange e Imara Reis. O filme faz referência a dois de seus trabalhos: há uma citação do bordel Flor do Desejo de seu segundo filme, assim como no título A HORA MÁGICA, que aparece no final, quando Fagundes sai de um cinema de rua. Almeida Prado só faria esse filme em 1998. A DAMA DO CINE SHANGHAI ganhou vários prêmios no Festival de Gramado em 1987.
terça-feira, outubro 12, 2004
SHOW DE VIZINHA (The Girl Next Door)
Quando Elisha Cuthbert apareceu em 24 HORAS, chamou logo a atenção pela beleza e sensualidade. Pena que a personagem dela, a Kim, foi ficando cada vez mais chata e sem razão de existir nas temporadas seguintes da série. No cinema, lembro de tê-la visto apenas numa ponta em SIMPLESMENTE AMOR. Até que enfim ela ganhou um papel principal nessa deliciosa comédia.
Quase deixo passar SHOW DE VIZINHA. Se não fosse o Renato, que comentou ter gostado bastante do filme, eu provavelmente não teria ido ver. Apesar de um dos meus lemas ser não ter preconceito com filme de gênero nenhum, eu freqüentemente acabo deixando de lado as comédias, preferindo filmes mais "sérios". Eu ia deixar passar uma das melhores comédias do ano, ao lado de ESCOLA DE ROCK, LIGADO EM VOCÊ, ALGUÉM TEM QUE CEDER, COMO SE FOSSE A PRIMEIRA VEZ e MENINAS MALVADAS.
A exemplo de ESCOLA DE ROCK, SHOW DE VIZINHA tem algo de subversivo. Não é sempre que a gente vê um filme em que um grupo de estudantes, prestes a entrar na faculdade, faz um vídeo com um trio de atrizes pornô. Tudo bem que era por uma causa nobre, mas não lembro de ter visto algo parecido antes. Legal também que o filme tem um sabor daquelas comédias estilo PORKY'S dos anos 80, ao mostrar cenas de nudez - coisa que as comédias recentes, mais comportadas, tinham evitado em favor do "bom gosto".
O filme conta a história de um jovem c.d.f. que tem sua vida sem graça completamente mudada ao se apaixonar pela vizinha gostosa que acabou de chegar. O seu mundo cai quando ele descobre que a mina é atriz de filme pornô.
Além de divertir, SHOW DE VIZINHA conseguiu mexer com os meus sentimentos, já que foi fácil pra mim me identificar com o rapaz e bem mais fácil ainda me apaixonar por Elisha.
segunda-feira, outubro 11, 2004
CHAMAS DA VINGANÇA (Man on Fire)
Pra um filme que começou me irritando bastante (achava que ia ser uma tortura de mais duas horas de duração), até que não achei ruim o resultado final desse CHAMAS DA VINGANÇA. Tony Scott continua com sua mania chata de fazer filmes com visual de videoclipe.
No elenco, num papel pequeno, está Gero Camilo, mais lembrado pelo papel de doido em BICHO DE SETE CABEÇAS. O filme chega a incomodar na cena em que Denzel Washington aponta uma arma pra cabeça de Camilo, tão pequeno e indefeso na frente dele. Dá até impressão que o filme quer mostrar a superioridade americana à frente dos pobres latinos. Também no elenco, a participação sempre radiante de Radha Mitchell.
Na trama, Denzel Washington é um ex-militar alcoólatra que começa a trabalhar de guarda-costas de uma garotinha na Cidade do México. No começo, ele acha a menina chata e tagarela, mas depois começa a se afeiçoar a ela, interpretada pela sempre simpática Dakota Fanning. Mas como já era de se esperar, a garota é seqüestrada, e Denzel pretende pegar os homens que fizeram isso. A morte de alguns dos bandidos por Denzel é uma atração à parte, realizada com requintes de crueldade. A trilha sonora de rock industrial ajuda a criar ainda mais essa atmosfera violenta e pesada.
Pela duração (146 minutos) até que o filme não cansa tanto e mantém o interesse até o final, que termina com a canção "Una Palabra", de Carlos Varela, a mesma que aparece no curta POWDER KEG, que Alejandro González Iñárritu dirigiu para a BMW.
sábado, outubro 09, 2004
KILL BILL: VOL. 2
O título de melhor filme do ano se confirma pra mim (pelo menos até agora) ao ver essa belezura espetacular que é KILL BILL VOL. 2. Tarantino baixa a bola nessa segunda parte, mas como eu já estava preparado pra isso, curti bastante as cenas mais lentas e de conversas típicas do diretor (destaque para a teoria do Super-Homem). Em certo sentido, dá pra comparar com a diferença de tons existente entre PULP FICTION (1994) e JACKIE BROWN (1997).
Quem reclamou da superficialidade dos personagens na 1ª parte, finalmente vai calar a boca ao ver toda a profundidade que eles ganham nessa conclusão. Sente-se o carinho que Tarantino tem pelos seus personagens, mesmo fazendo eles comerem o pão que o diabo amassou. Uma Thurman, a noiva, é cuspida, humilhada e até enterrada viva, numa das seqüências mais memoráveis do filme.
A violência continua, mas em tom menos exagerado. A cena de maior violência do filme acaba acontecendo na briga de Uma com a personagem de Daryl Hannah, mas que eu não vou contar como termina pra não estragar a surpresa de quem ainda não viu. Interessante como os homens no filme são mais "zen", enquanto as mulheres são mais piradas, mais violentas. Mesmo se tratando de malvados assassinos, os personagens de David Carradine e Michael Madsen são bem tranqüilões.
Eu não saí do cinema tão entusiasmado feito uma criança como aconteceu quando vi o Volume 1. Graças ao andamento mais lento do filme, acabei saindo do cinema menos excitado, mas bastante maravilhado. A primeira cena que me deixou de boca aberta foi aquela em que a câmera se distancia um pouco da Igreja, dando espaço para vermos a chegada do bando de assassinos de Bill. Aquela cena é sensacional. As cenas do aprendizado com o Pai Mei também são fantásticas - dá uma vontade de pegar uns filmes antigos de kung fu pra ver.
Aparentemente as citações e homenagens a outros filmes não são tão numerosas como na primeira parte. Dá pra perceber o óbvio: o western spaghetti, Lucio Fulci, THEY CALL HER ONE-EYE, filmes de kung fu, o seriado KUNG FU... Parece que Tarantino brinca menos com as referências e se preocupa mais em explorar melhor o passado e o futuro de seus personagens. O homem é sábio.
UPDATE: Deixo aqui o link de um ótimo texto sobre as referências em KILL BILL escritas pelo Otavio para o blog do Vebis, o Fotograma Experimental.
quinta-feira, outubro 07, 2004
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS (McCabe & Mrs. Miller)
Esse filme tem uma importância fundamental dentro do revolucionário cinema americano do período que durou do fim dos anos 60 ao início dos 80 e que produziu símbolos da contracultura como BONNIE & CLYDE (1967) e SEM DESTINO (1969).
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS (1971), de Robert Altman, é um filme dessa época, quando os estúdios começaram finalmente a valorizar o cinema de autor, a encarar os filmes como obras de arte, não apenas como um meio de se ganhar dinheiro. Tanto que os executivos da Warner, nessa época, exibiam entre si em sessões privadas filmes "de arte" de diretores como Akira Kurosawa, François Truffaut, Federico Fellini, Jean Renoir etc. Inclusive, foi nessa época que a Warner produziu filmes de diretores estrangeiros como Truffaut (A NOITE AMERICANA) e Visconti (OS DEUSES MALDITOS e MORTE EM VENEZA).
Assim como Peter Bogdanovich veio com um cinema parecido com o europeu no seu A ÚLTIMA SESSÃO DE CINEMA, Altman fez um western bem atípico, estrelado por dois dos maiores astros do momento: Warren Beatty e Julie Christie. Julie era conhecida por ser bem seletiva. Vivia esnobando muitas ofertas e aí deu no que deu: ela acabou não resistindo e hoje pouca gente lembra dela. (Parece que Hitchcock não gostou de trabalhar com a moça em CORTINA RASGADA.) Warren Beatty também era todo metido a estrela. Gostava de controlar as produções e já vinha do sucesso de BONNIE & CLYDE. Apesar disso, ele se entendeu bem com Altman.
Um dos maiores problemas das filmagens foram os métodos contrastantes de trabalho de Warren e Julie. Enquanto ele ficava melhor a cada tomada (ele só ensaiva nos primeiros takes), Julie já estava pronta na primeira e ia piorando com a repetição e o cansaço. O próprio Warren era exigente com o resultado de sua performance. Teve uma cena que foi repetida mais de 30 vezes por causa de exigências dele, e não de Altman.
Altman tinha fama de rebelde na época. Hoje em dia, ele não está mais com essa bola toda - até já vi alguém o chamando de "bunda-mole" num desses blogues amigos -, sendo que seu último filme rebelde foi mesmo O JOGADOR (1992). De qualquer maneira, sua carreira cheia de altos e baixos não muda a importância de ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS para o cinema americano. Outra coisa importante: Altman trouxe para Hollywood as lentes zoom, uma afronta pra os cameramen da época, por causa do risco de se perder o foco. Sem falar que os atores também não se sentiam muito à vontade com essas lentes.
ONDE OS HOMENS SÃO HOMENS é o tipo de filme em que o que vale mais é a direção. O roteiro não é tão importante. É até bem comum. Ainda assim, a história de um homem que funda uma cidade no meio de uma lamaçal com a ajuda de homens comuns e de um grupo de prostitutas não deixa de ser fascinante. A história de amor do casal protagonista seria tocante se o estilo de direção não fosse tão naturalista. A cena final em que Beatty luta contra seus inimigos é ótima, com aquele silêncio solene. Também não dá pra esquecer da maravilhosa trilha sonora, com canções do trovador Leonard Cohen. Já fiquei arrepiado nos créditos iniciais.
Pena que eu vi o filme em tela cheia, exibido pela BAND. A emissora todo domingo exibe um clássico com som original e com legendas. Vale a pena ficar de olho.
A maior parte dessas informações aí de cima foram retiradas do excelente livro Easy Riders, Raging Bulls, de Peter Biskind.
quarta-feira, outubro 06, 2004
O DRAGÃO CHINÊS (Tang shan da xiong / Fists of Fury / The Big Boss)
Enquanto aguardo ansiosamente a estréia da segunda metade de KILL BILL, nada como ver um dos filmes homenageados por Tarantino em sua obra-prima. O DRAGÃO CHINÊS (1971) pode não ser tão explicitamente citado como BRUCE LEE NO JOGO DA MORTE (1978), mas com certeza é um filme bem melhor, mais divertido, mais coeso. (O que cá pra nós não é tão difícil, já que JOGO DA MORTE é uma bagunça só.)
Na história, Bruce Lee é um rapaz que fez um voto de jamais lutar novamente. Ele vai com o tio para uma cidade, trabalhar numa fábrica de gelo. É quando se descobre que, na verdade, a fábrica é apenas fachada para o tráfico de drogas. Bruce Lee manda o seu voto de não violência para "a puta que pariu" quando alguns de seus amigos, que descobrem sobre o negócio de drogas, começam a desaparecer.
A música do filme é bem conhecida e foi usada na televisão brasileira várias vezes. Só não saberia dizer quando e em que programa. A cena de Bruce pulando para se esquivar dos cachorros é muito legal, assim como a cena em que ele briga com o chefão das drogas.
O DRAGÃO CHINÊS é um dos três filmes que fizeram um sucesso tremendo na Ásia - os outros são FÚRIA DO DRAGÃO (1972) e O VÔO DO DRAGÃO (1972) -, quando Bruce trabalhou para o produtor Raymond Chow. Depois de todo esse sucesso, ele foi convidado pela Warner a fazer um filme nos EUA, o famoso OPERAÇÃO DRAGÃO (1973), o último filme que ele fez antes de morrer, poucas semanas depois da estréia.
Andei tentando entender os títulos nacionais e em inglês de seus filmes no IMDB e achei uma bagunça. Quase escrevi para o Otávio, o maior especialista em filmes de artes marciais que eu conheço, mas vamos esperar ele se manifestar aqui no blog mesmo.
Pra quem quiser ver mais filmes-referência em KILL BILL, dêem uma olhada nesse link.
O filme foi gravado da Globo.
segunda-feira, outubro 04, 2004
A HAMMER EM TRÊS FILMES
Terminei de ver os três DVDs de filmes da Hammer que tinha comigo em casa há algum tempo. Os três disquinhos foram lançados em banca pela Dark Side já faz um par de anos. Pena que a empresa desistiu de lançar esses títulos nas bancas. Eles têm um monte de títulos legais em seu catálogo, mas têm uma distribuição péssima. Eu simplesmente não consigo achar em nenhuma locadora aqui da cidade os filmes não lançados em banca. Esses três filmes não são uma mostra do que de melhor a companhia inglesa produziu, mas dá pra sentir um pouco do que foi o auge e a decadência da Hammer. O único dos três filmes que deixa a desejar em se tratando de qualidade de imagem é justamente o melhor dos três filmes: CARMILLA: A VAMPIRA DE KARSTEIN.
EPIDEMIA DE ZUMBIS (The Plague of the Zombies)
Antes do revolucionário A NOITE DOS MORTOS-VIVOS (1968), de George Romero, os filmes de zumbis eram mais ligados aos rituais haitianos, estilo vodu, em que as vítimas eram colocadas em estado "zumbiesco" para agirem como escravos de alguém que colocou o tal feitiço. Wes Craven chegou a fazer um arrepiante filme sobre o tema - A MALDIÇÃO DOS MORTOS-VIVOS (1988). EPIDEMIA DE ZUMBIS (1966) é um autêntico filme da Hammer: visual gótico, figurinos de época, direção de arte caprichada, roteiro e direção sem muitas pretenções. Na trama, um professor é chamado para investigar uma estranha praga que está abatendo uma cidadezinha. Bem legal.
CARMILLA - A VAMPIRA DE KARSTEIN (The Vampire Lovers)
Esse filme é considerado a melhor adaptação de uma obra de Sheridan Le Fanu já realizada. Le Fanu, antes mesmo de Bram Stoker inventar o seu Conde Drácula no final do século XIX, já fazia sucesso com livros sobre vampiras sexies chupando o sangue dos mortais. O diretor de CARMILLA - A VAMPIRA DE KARSTEIN (1970) é o ótimo Roy Ward Baker, que no mesmo ano dirigiu O CONDE DRÁCULA, o meu preferido entre os Dráculas da Hammer, além do ótimo SEPULTURA PARA A ETERNIDADE (1967). (Isso, só pra ficar entre os filmes que eu vi.) Acho que ele merece ser tão celebrado quanto Terence Fisher. Quem já viu LUXÚRIA DE VAMPIROS (1971) primeiro, como foi o meu caso, pode até achar repetitiva a história, mas a direção de Roy Baker faz toda a diferença. O prólogo do filme, com um homem cortando a cabeça de uma vampira num castelo, seguido imediatamente dos créditos iniciais banhados em vermelho-sangue-technicolor, já valem o filme. Pena que a Carmilla desse filme (Ingrid Pitt) não é tão gostosa quanto a do filme seguinte, a loiríssima Yutte Stensgaard. E isso faz até uma grande diferença em se tratando de um filme da Hammer dos anos 70, período em que a companhia estava apelando para cenas de nudez e lesbianismo para atrair a atenção dos marmanjos. O filme tem a participação de Peter Cushing.
OS RITOS SATÂNICOS DE DRÁCULA (The Satanic Rites of Dracula / Count Dracula and His Vampire Bride)
Esse é o título que enterrou de vez o ciclo de filmes de Drácula da Hammer. A falta de criatividade de algumas fitas e a repetição da velha disputa Dracula vs Van Helsing começou a desgastar o personagem. Assim como o anterior DRÁCULA NO MUNDO DA MINI SAIA (1972), OS RITOS SATÂNICOS DE DRÁCULA (1974) se passa no mundo contemporâneo. É um filme bem esquisito: lembra um pouco os filmes de espionagem de James Bond (até a música é parecida), Christopher Lee aparece pouco, os membros do culto demoníaco que ressuscitam Drácula agem com armas de fogo durante o dia, dando a entender que a intenção era mesmo fazer um misto de thriller de espionagem com filme de vampiro. O começo do filme é até intrigante, mas o roteiro é tão cheio de furos e a direção é tão frouxa, que depois de quarenta minutos eu já tinha perdido o interesse. Assim, deu pra entender porque a Hammer não quis mais fazer filmes de Drácula.
sábado, outubro 02, 2004
REDENTOR
Até que enfim um filme brasileiro que me deixou entusiasmado esse ano. Em 2004, apenas três filmes brasileiros tinham me despertado uma certa simpatia: o mágico NARRADORES DE JAVÉ, o malhado ONDE ANDA VOCÊ e o ainda inédito no circuito comercial O QUINZE. REDENTOR, de Cláudio Torres, é o melhor filme brasileiro do ano (que eu vi) até agora. Ainda não pintaram por aqui nem GAROTAS DO ABC, do Carlão, nem FILME DE AMOR, do Bressane. Estou ansioso pra ver esses dois há tempos. (Esse tal de A DONA DA HISTÓRIA, do Daniel Filho, que está em cartaz em um monte de salas por aí, não faço questão de ver. Cada vez que vejo o trailer, me dá enjôo.)
Cláudio Torres foi bastante feliz nesse seu primeiro filme em longa-metragem. Fez cinema fantástico, gênero que tem pouca tradição aqui no Brasil. A história, nem é bom contar muito, pra não estragar as surpresas que o filme nos reserva a cada minuto. Mas contando em apenas uma frase: é a história de um homem que recebe de Deus/Jesus uma missão quase impossível. A história é fantástica, mas também é rica ao denunciar algumas atrocidades sociais do país, como o problema da reforma agrária, da corrupção imobiliária e da superlotação dos presídios.
Pedro Cardoso e Miguel Falabella conseguem se livrar da persona cômica e entregam-se em personagens sombrios. O uso de uma iluminação especial, de efeitos visuais, da voice-over pra deixar tudo com cara de film noir dos anos 40 e até dos efeitos visuais, tudo foi muito bem orquestrado pelo diretor.
Há uma cena, em especial, que os fãs dos quadrinhos do Demolidor, fase Frank Miller, vão adorar: a seqüência em que Pedro Cardoso vai parar numa prisão lotada é referência à história "Condenados", de Frank Miller, onde o Demolidor desce até os esgotos de Nova York para buscar Vanessa, a mulher do Rei.
Outra coisa espetacular no filme é a presença da maravilhosa Camila Pitanga. Essa moça linda e gostosa merece um filme só pra ela, pra que ela brilhe num filme inteiro. Se eu fosse cineasta, eu faria um filme com ela.
sexta-feira, outubro 01, 2004
O ATALANTE (L'Atalante)
Há tempos tinha curiosidade de ver esse filme, e só decidi ver recentemente, com o lançamento em DVD nacional. O ATALANTE (1934) está presente em várias listas de melhores filmes de todos os tempos. É considerado uma obra-prima por grande parte da crítica mundial. Truffaut, por exemplo, o considerava um dos dez melhores filmes do mundo. Jean Vigo, o diretor do filme, é comparado com freqüência ao poeta maldito Rimbaud: ambos morreram jovens, deixando uma obra curta mas fundamental dentro da cinematografia francesa. Jean Vigo morreu vítima da tuberculose, com apenas 29 anos de idade. Ele estava muito doente quando dirigiu O ATALANTE, que é o seu único longa-metragem. Seus trabalhos anteriores em curta e média metragens também são bastante louvados, especialmente o média ZERO DE CONDUTA (1933). Li num texto que devido ao seu problema de saúde, Vigo chegou a dirigir algumas cenas de ZERO DE CONDUTA numa cama!
A história do filme é simples: jovem moça se casa com um marinheiro e ambos vão morar num barco (o atalante do título), já que esse é o trabalho do rapaz. Os dois se amam e tudo, mas a rotina do barco todos os dias começa a incomodar a garota, que tem uma discussão com o marido e vai embora pra cidade. Ele entra em depressão e começa a se embriagar e a perder o gosto pela vida, por causa da falta que sente da mulher amada.
Até o momento em que ela está no barco, o filme não me disse muita coisa. O ATALANTE só me conquistou a partir do momento do sofrimento do rapaz. A partir daí o filme ganha dimensões dramáticas (antes mais parecia uma comédia) e mostra mais da sua beleza. As imagens capturadas pela câmera de Vigo são especiais. Há sempre uma vontade de inovar, de fazer cinema de maneira diferente, com ângulos diferentes. Não é um filme verborrágico, como muitas das produções francesas. É um filme em que a imagem é mais importante que a fala.
Um detalhe que me chamou a atenção no filme é o gosto dos franceses pelas tais "canções de marinheiro", que eu já tinha visto em CONTO DE VERÃO, de Eric Rohmer. Até mesmo as pessoas mais jovens parecem gostar desse "gênero" de música. A canção que é constantemente cantada no filme, no início me encheu o saco, mas depois passei a simpatizar com a alegria que ela traz.
A Magnus Opus, distribuidora que lançou O ATALANTE em DVD no Brasil, está fazendo um belo trabalho. Lançou recentemente três filmes clássicos japoneses - BOM DIA (Ozu), DUPLO SUICÍDIO EM AMIJIMA (Shinoda) e CEGA OBSESSÃO (Masumura) - e em breve estarão disponíveis LILION, de Fritz Lang, dois filmes do Murnau (TABU e TARTUFO) e HAXAN: A FEITIÇARIA ATRAVÉS DOS TEMPOS, de Benjamin Christensen. Parece que estamos começando a ter mais opções de filmes clássicos nas locadoras com a louvável iniciativa de distribuidoras como a Magnus Opus, a ClassicLine, a Versátil e até mesmo a famigerada Continental, que às vezes até que quebra o galho.
Pra terminar, deixo uma frase que eu gostei muito, que eu vi nos textos do DVD de O ATALANTE:
"A mulher é o ser que projeta a maior sombra ou a maior luz em nossos sonhos"
(André Breton, parafraseando Charles Baudelaire)
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