domingo, outubro 31, 2004

HISTÓRIAS MÍNIMAS (Historias Mínimas)



"Não deseje a felicidade
Porque este desejo atrapalha o caminho,
Viva a vida desacorrentado do desejo
E sem olhar para um objetivo.
Viva livre!
Viva momento a momento!
E não tenha medo,
Seja livre do medo
Porque não há nada a perder -
E nada a ganhar
- e no momento em que você entender isto
a totalidade da vida será alcançada.
Mas nunca se aproxime dos portões da vida como
Um mendigo, nunca mendigue,
Porque aqueles portões nunca se abrem para
Mendigos!"


(Osho - "Uma Xícara de Chá")

Depois que assisti HISTÓRIAS MÍNIMAS (2002), de Carlos Sorin, li por acaso esse trecho de um livro do Osho que estou lendo de maneira aleatória, como se estivesse lendo um livro de poesias. As palavras desse guru são quase sempre polêmicas, quase sempre deixando as pessoas com um pé atrás. Diferente por exemplo de um Dalai Lama, que fala coisas que parecem óbvias, Osho sempre nos leva à reflexão, às vezes falando coisas que não gostaríamos de ouvir.

Sempre queremos a felicidade, sempre queremos que as coisas sejam do nosso jeito. E por isso ficamos frustrados. Mas quem já conhece os princípios budistas até que não estranha essas palavras. Mesmo assim, sempre me perguntei se essa coisa de negar o desejo para negar a dor não seria apenas uma maneira de evitarmos a tristeza. Mas sei por experiência própria que esse é o caminho. Além do mais, o Cristianismo também tem um pouco disso aí ("seja feita a Vossa vontade", hein?).

Sem querer me alongar em discussões religiosas ou filosóficas, achei por bem colocar essas palavras aí de cima por HISTÓRIAS MÍNIMAS se tratar de um filme sobre três pessoas em busca da felicidade. Ou, ao menos, de momentos felizes. Todas elas saem de uma mesma cidade em busca de coisas diferentes: temos o velho que sai à procura de seu cachorro, "perdido" há três anos; temos a jovem senhora que é sorteada num programa de tevê estilo Silvio Santos para participar de um outro sorteio onde se ganham objetos medíocres; temos o vendedor que sai em busca de uma viúva que, quem sabe, vai poder acalmar o seu coração solitário. E a sensação que eu tive, ao término do filme, foi justamente de que eles estavam mendigando a felicidade. O que os três ganham são apenas esmolas. E isso torna o filme ainda mais triste do que já aparentava no início. Ao mesmo tempo, vemos um belo exemplo da hospitalidade do homem, especialmente na história do velho.

Para atenuar ainda mais a tristeza, a história se passa na Patagônia, uma região desolada da Argentina, um lugar deserto e frio que tem um céu lindo, apesar de triste, e onde as pessoas vivem quase que isoladas do mundo. (O clima e a paisagem do filme me lembraram PARIS, TEXAS, de Wim Wenders.)

Vendo o segundo filme argentino num intervalo de oito dias, começo a perceber o quanto esse país tem de melancolia, até parecendo um pouco com Portugal. Diferente do tom alegre e ensolarado da maioria dos filmes brasileiros (mesmo aqueles que mostram pessoas muito pobres). Mas posso estar me precipitando com essa comparação e pretendo conhecer mais filmes da terra do Maradona para ter uma visão um pouco mais global, especialmente os trabalhos da nova geração de cineastas argentinos, como os tão cultuados Pablo Trapero e Lucrecia Martel. Oportunidades surgirão.

Nenhum comentário: