terça-feira, junho 30, 2015
CINCO CURTAS BRASILEIROS
O universo dos curtas tem cada vez mais me encantado. Estes cinco pequenos filmes são exemplos do trabalho de jovens talentosos que representam o futuro do nosso cinema. Creio que estamos em boas mãos.
OS IRMÃOS MAI
Uma das vantagens dos curtas é justamente serem curtos. Daí a maior facilidade em revê-los e encontrar mais qualidades. Foi o caso deste OS IRMÃOS MAI (2013), de Thaís Fujinaga, que eu gostei bem mais agora, na revisão. O filme nos apresenta a dois irmãos de origem chinesa em um dia de rotina em São Paulo. Eles saem da escola, passam em uma confeitaria, encontram uma luminária na rua, procuram um lugar para urinar numa cidade cheia de chuva e se esforçam, à sua maneira, para chegarem em casa a tempo para o almoço. O filme tem uma dramaturgia caprichada, os atores que fazem os jovens irmãos são ótimos e a tensão entre os dois é muito bem dirigida. Foi um dos curtas brasileiros mais premiados em 2013.
E
Nunca pensei que um filme me deixasse tão incomodado com a questão dos estacionamentos. Não que eu não fique na vida real, mas como precisamos dos carros e de lugares para colocá-los, eles são um mal necessário. E (2014), de Alexandre Wahrhaftig, Helena Ungaretti e Miguel Antunes Ramos, tem mesmo a intenção de incomodar, além de fazer refletir, através de imagens dos locais e de depoimentos específicos. O filme poderia focar apenas na questão dos prédios que um dia foram belas casas (ou foram cinemas) e se transformaram em estacionamento, mas ele vai além.
O MEMBRO DECAÍDO
Em comparação com NUA POR DENTRO DO COURO (2014), o mais recente trabalho de Lucas Sá, O MEMBRO DECAÍDO (2012) se mostrava ainda cru, amador até, em sua intenção de fazer cinema fantástico. Mas o interessante é que muitos críticos já perceberam o potencial do jovem cineasta nesse filme. E com razão. Filmado em São Luís, no Maranhão, é um filme sobre violência e tensão cujo desconforto se dá no começo com o fato de quase não vermos os rostos dos personagens. É um filme que também lida com muito humor negro, o que acaba contando pontos para a criatividade do diretor.
MENINO DA GAMBOA
O curta de Pedro Perazzo e Rodrigo Luna já conquista pelas lindas primeiras imagens: da Praia de Gamboa, na Bahia, onde um grupo de rapazes simples esperam turistas a fim de levarem, em seus carros de mão, as bagagens para as pousadas. O pequeno menino de nove anos que protagoniza MENINO DA GAMBOA (2014) admira o trabalho do irmão e de seus colegas e procura um jeito de também ser útil, de ser tão bacana quanto o irmão. Mas será que ele achará o trabalho tão divertido assim como imagina? Trata-se de um dos curtas que abordam o universo infantil mais interessantes da safra recente.
QUINZE
Esse pessoal do Filmes de Plástico tem se mostrado muito talentoso, hein. QUINZE (2014, foto), de Maurilio Martins, conquista em cada momento. Seja no início, quando a filha de uma doméstica chega justamente quando a mãe está recebendo sexo oral da amante secreta no quarto, seja nos diálogos entre mãe e filha sobre intimidade, seja ao mostrar as dificuldades econômicas da mãe. Tudo de forma muito comovente, bonita. A gente quer continuar com as personagens. É também mais um exemplar de produção LGBT que atravessa as fronteiras do gueto. Se bem que cada vez mais vemos filmes dessa linha em festivais mais amplos.
segunda-feira, junho 29, 2015
O EXTERMINADOR DO FUTURO (The Terminator)
Por ocasião da estreia na próxima quinta-feira do quinto filme da franquia iniciada com O EXTERMINADOR DO FUTURO (1984), de James Cameron, resolvi rever o primeiro filme cuja lembrança andava um pouco nebulosa, já que o vi na televisão num momento pré-cinefilia. Ou seja, faz tempo pra caramba. Ainda assim, muitas cenas se tornaram clássicas e por isso mesmo ficaram guardadas na memória.
De todo modo, não é por ser um clássico (como é considerado hoje) que é um trabalho isento de falhas ou de críticas. Eu mesmo achei o andamento narrativo um tanto aborrecido e com uma história que lida com viagens no tempo que subestima a inteligência do espectador, como nas cenas envolvendo Sarah Connor (Linda Hamilton) e Kyle Reese (Michael Biehn) e o que nasceria dos dois. Sem falar que tem todo aquele visual anos 80, somado ao jeitão de aventura B lançada direto em vídeo, que estraga a beleza.
Claro que devemos levar em consideração o baixo orçamento. O EXTERMINADOR DO FUTURO foi a última produção "pobre", por assim dizer, de Cameron. Antes disso, ele havia dirigido o trash PIRANHAS 2 – ASSASSINAS VOADORAS. O dinheiro que ele ganharia com O EXTERMINADOR DO FUTURO mudaria sua vida, tornando-o cada vez mais obcecado em tecnologia a ponto de virar esse sujeito chato que só pensa em fazer filmes chatos como AVATAR e um monte de continuações disso. Creio que por causa disso o diretor acabou ganhando minha antipatia nos últimos anos.
Quanto a O EXTERMINADOR DO FUTURO, o filme também foi um divisor de águas para Arnold Schwarzenegger. Tudo bem que ele já havia feito CONAN, O BÁRBARO, de John Millius, mas o fato de ele ser aproveitado como um ciborgue do futuro que não precisa usar muitos recursos dramáticos para o papel foi genial para um Mister Universo carismático, mas de talentos limitados. Uma sacada e tanto.
Por isso, muita gente considera O EXTERMINADOR DO FUTURO o filme que alavancou a carreira do astro, tornando-o tão ou até mais popular que Sylvester Stallone, para citar os dois nomes mais importantes do cinema de ação da década de 1980. Ajudou o fato de Schwarzenegger ter construído sua carreira com cineastas do primeiro escalão.
Algumas cenas ninguém esquece: o exterminador tirando o próprio olho e disfarçando com óculos escuros; a explicação de Kyle Reese do futuro governado pelas máquinas; o assalto do exterminador à delegacia de polícia; as cenas de perseguição automobilística; o exterminador em forma de esqueleto de metal perseguindo incansavelmente o alvo de sua missão etc. São cenas tão clássicas que se tornaram até um tanto manjadas, como se tivéssemos acabado de ver o filme pouco antes da revisão. Não sei o quanto isso é bom ou ruim, na verdade.
domingo, junho 28, 2015
RAINHA & PAÍS (Queen and Country)
Diretor de filmes marcantes da Nova Hollywood como À QUEIMA-ROUPA (1967), AMARGO PESADELO (1972) e EXCALIBUR (1981), o veterano cineasta inglês John Boorman anuncia a aposentadoria depois deste belo RAINHA & PAÍS (2014), continuação de um de seus trabalhos mais premiados, ESPERANÇA E GLÓRIA (1987).
Em ESPERANÇA E GLÓRIA, um garoto de nove anos cresce na Londres afligida pela Segunda Guerra Mundial, num registro inspirado nas memórias de infância do diretor e roteirista. Em RAINHA & PAÍS, passa-se cerca de uma década e o agora rapaz Bill Rohan (Callum Turner) é convocado para o exército. A guerra do momento é a da Coreia.
O filme, no entanto, se passa mais dentro do quartel, com bem poucas locações externas, sinal tanto de uma produção de baixo orçamento quanto de um filme realizado por um cineasta octogenário, que sente mais dificuldade em lidar com muitas complicações de produção.
RAINHA & PAÍS é também um filme claramente clássico, sem muita intenção de ser inovador, o que não impede de ser uma obra de puro prazer em sua simplicidade narrativa. Por outro lado, é um trabalho que não esconde a complexidade na construção dos personagens e dos temas. Lida com a questão da amizade de maneira que remete a alguns dos melhores trabalhos de Howard Hawks. No caso, o melhor amigo de Bill é Percy (Caleb Landry Jones), que ele conhece no primeiro dia de exército, com direito à famosa citação final de CASABLANCA.
As citações a clássicos do cinema apontam à cinefilia do cineasta, mas também procuram dissecar os problemas psicológicos de alguns personagens, como é o caso do amor platônico de Bill, a bela e complicada moça vivida por Tamsin Egerton, que tem uma visão pessimista/realista de RASHOMON, de Akira Kurosawa, cujas várias versões do mesmo fato trazem algo em comum: em todas as versões, a mulher é sempre estuprada.
O personagem de Bill ama esta moça desde a vez em que ele a encontra, em um espetáculo de música erudita. Ele poderia seguir o exemplo do amigo mais brincalhão e ficar com as que estavam dando bola pra ele, mas quem é que manda no coração, afinal?
Outra questão importante é a da desobediência civil, a necessidade de ser indisciplinado em um período totalmente distinto ao da Segunda Guerra Mundial. Agora as circunstâncias são outras e a obrigação de ser contra o comunismo é também questionada pelo protagonista.
Por outro lado, o destino do personagem do oficial Bradley, vivido por David Thewlis, também faz com que o filme torne mais complexa a separação entre gerações e um leve maniqueísmo que parecia existir anteriormente. Por essas e outras razões que RAINHA & PAÍS é um dos filmes mais prazerosos e carinhosos lançados no circuito este ano.
sábado, junho 27, 2015
QUATRO FILMES FRANCESES
O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA (Journal d’une Femme de Chambre)
Do mesmo diretor do ótimo ADEUS, MINHA RAINHA (2012) e de 3 CORAÇÕES (2014), que deve ser exibido no Cinema de Arte em breve, O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA (2015) é mais uma boa adaptação da obra de Octave Mirbeau. A mesma que já foi adaptada em 1946 por Jean Renoir e em 1964 por Luis Buñuel. Perguntado sobre por qual dos dois (grandes) autores ele teria se inspirado para fazer o seu trabalho, o diretor Benoît Jaquot afirmou ter tentado fazer sua própria versão, pensando apenas no romance. Pode-se dizer que ele foi feliz em sua adaptação, até por poder contar mais uma vez com Léa Seydoux no papel principal. Como bem falou um amigo meu em homenagem à atriz, ela parece ter nascido para esses papéis de época, especialmente quando se mostra ao mesmo tempo recatada e fogosa. Em O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA ela é Célestine, uma jovem que, por força das circunstâncias, torna-se uma empregada doméstica de uma família rural. Ela odeia aquilo. Odeia principalmente sua patroa sádica. Há algumas cenas que são saídas de sonhos dela. Outras nos deixam na dúvida. É um filme que cresce à medida que pensamos nele, além de ser cheio de grandes momentos. Destaque também para Vincent Lindon, grande ator, que mais uma vez rouba as cenas em que aparece. Seu papel é importante para dimensionar a obra num período em que a sociedade europeia alimentava o ódio antissemita.
HIPÓCRATES (Hippocrate)
Basicamente um filme sobre o início da vida de médico, HIPÓCRATES (2014), de Thomas Lilti, se revela também uma bela obra sobre a amizade e a cumplicidade. Vincent Lacoste (que aparece em um papel pequeno, mas marcante, em O DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA) é Benjamin, filho do dono de um hospital que está dando início a suas primeiras experiências práticas na área médica. Sentimos uma certa aflição, por exemplo, ao vermos o personagem tentando efetuar uma punção lombar em um paciente. Abdel (Reda Kateb) é o sujeito que chega para salvar a pátria do paciente, mas também para deixar Benjamin desconcertado. Ele percebe que aquele imigrante ali tem muito mais experiência e segurança que ele, que ainda nem sabe direito se quer ou não ser médico. Divertidos os momentos em que os jovens médicos de plantão assistem HOUSE na TV. Trata-se de um filme de narrativa bem simples, clássica, mas bastante eficiente na construção dramática, em especial quando se aproxima do final e vemos a aproximação dos dois protagonistas em situações no mínimo perturbadoras para iniciantes.
GEMMA BOVERY - A VIDA IMITA A ARTE (Gemma Bovery)
Fico me perguntando o que seria de GEMMA BOVERY – A VIDA IMITA A ARTE (2014, foto), de Anne Fontaine, se não fosse a beleza, a sensualidade e o carisma de Gemma Arterton. Aliás, não pesquisei, mas o filme, a julgar pelo próprio título, foi feito para que a atriz inglesa brilhasse. E ela brilha como em nenhum outro filme, como uma espécie de versão contemporânea da personagem trágica de Gustave Flaubert. Ela faz o papel de Gemma, moça casada com um sujeito chamado Charles (Jason Flemyng). O nome do casal chama a atenção do francês apaixonado pela obra literária, interpretado por Fabrice Luchine, no papel aqui de um padeiro local que fica especialmente interessado na vida de Gemma, que, a seu ver, parece ter tudo para repetir os feitos da personagem literária, a começar por uma ou duas traições, que culminariam em sua morte. GEMMA BOVERY equilibra bem a comédia e o drama, mas o que fica mesmo na memória é Gemma Arterton, que faz com que mendiguemos cada parte de seu corpo a todo momento, como fez um tempo atrás Claudia Cardinale em O LEOPARDO, de Luchino Visconti.
SAMBA
Depois do sucesso popular de INTOCÁVEIS (2011), Eric Toledano e Olivier Nakache estão de volta, novamente contando com o carisma e a simpatia de Omar Sy, que interpreta o personagem título, um homem de Senegal que se encontra em situação ilegal na França. É em uma de suas prisões que ele conhece uma mulher (Charlotte Gainsbourg) que lhe dá carinho e atenção, ainda que com seu jeito reservado e um tanto desajeitado. Aliás, ambos são desajeitados e isso acaba por torná-los mais simpáticos ao espectador, embora o filme não consiga aprofundar muito bem seus personagens. SAMBA (2014) é um feel good movie que também tem algo de amargo em alguns momentos. E isso depõe a seu favor, compensando suas falhas (o final é bem problemático). Os diretores quase acabam desperdiçando o bom material que têm, os bons personagens que têm. Se Omar Sy não estivesse ali para salvar a pátria nem sei o que seria do filme. Ainda assim, é um desses trabalhos tão agradáveis de ver que é preferível relevar seus deslizes.
quinta-feira, junho 25, 2015
JAUJA
De vez em quando faz muito bem ir preparado psicologicamente para filmes mais densos, pesados, difíceis. Essa é a fama de JAUJA (2014), de Lisandro Alonso, filme mais odiado do que amado, inclusive por alguns críticos de cinema. O diretor argentino, acostumado a trabalhar com não-atores, dessa vez trouxe um ator internacional para o papel principal, Viggo Mortensen, que ganhou mais respeito nos últimos anos por suas colaborações com o cineasta David Cronenberg.
Aqui ele vive um dinamarquês que, no século XIX, viaja para a região da Patagônia, na Argentina, e se torna capitão de um exército. Traz junto a jovem e bela filha, desejada por todos os homens da região e até já mantém um romance com um jovem rapaz às escondidas. Apesar das tentativas do pai de protegê-la dos homens daquele lugar que parece separado de toda civilização, num lugar-nenhum, ela acaba por fugir com o tal rapaz certa noite. Assim, boa parte do filme é a busca do pai pela filha em locais ermos e perigosos – há ataque de índios, por exemplo.
JAUJA exige paciência do espectador por seu andamento lento, embora não seja exatamente um filme de planos longos. Os planos são curtos até, mas são narrados como pinturas, tal a beleza pictórica dos enquadramentos, das cores, das texturas. Por mais que não se goste do filme, as imagens são encantadoras e de encher os olhos. Há um momento, por exemplo, em que Mortensen se deita nas pedras, à noite, tendo apenas as estrelas como testemunha. De uma beleza espetacular, em sua janela 1,33:1 com bordas arredondadas.
A narrativa pode causar frustração em quem quer sempre ter respostas prontas ou se incomoda em sair do cinema com muitas perguntas, já que a trajetória final revela um trabalho que mais tem a ver com surrealismo do que com a jornada de busca de um homem. E por isso mesmo trata-se de um filme especial. Um dos melhores a serem lançados neste ano no circuito.
Como JAUJA causa estranhamento e tem em si uma consciência de ser cinema, acaba por nos distanciar dos personagens. Aqui, porém, esse distanciamento é necessário e positivo. Faz parte da experiência contemplativa, embora em certo momento possamos compartilhar do sentimento de perda do espaço e do tempo que o protagonista experiencia. Esse sentimento ou sensação se torna ainda mais forte na última parte, que nos leva para outro espaço-tempo, como se tivéssemos cruzado outra dimensão.
Teorias a respeito dessa conclusão devem haver em vários espaços, mas, talvez, mais importante do que tentar teorizar isso, é saborear esse trabalho tão estranho quanto belo. E sermos gratos pela chance de ver algo assim em nosso circuito.
Vi o filme no Cinema do Dragão numa cópia linda que valoriza tanto o claro quanto o escuro e fiquei feliz em ter visto lá, já que se trata de uma obra mais difícil para ser vista no Cine São Luiz, um espaço adorável, mas muito grande, muito fácil de se dispersar com obras que exigem um pouco mais de atenção do espectador. O filme foi exibido no segundo dia do 25º Cine Ceará e levou o prêmio de direção.
quarta-feira, junho 24, 2015
ESCOLA DA VIDA (School of Life)
“Filme de professor” já virou um gênero por si só, de tantos bons exemplos que surgiram ao longo dos anos. A maioria desses filmes ou estão com um pé no melodrama ou são comédias que depois mostram sua faceta dramática. E aí que mora o perigo, já que o diretor pode tornar o seu trabalho brega ou xarope. Como sou um fã de SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS, de Peter Weir, acabei ficando interessado também nesse subgênero que tantas emoções já trouxe para as audiências.
SOCIEDADE DOS POETAS MORTOS – até hoje eu conto – foi o único filme que eu paguei para ver três vezes no cinema. E nas três vezes saí emocionado. Nas três vezes o público aplaudiu de pé emocionado. Creio que foi um filme que formou gerações. Não duvido que tenha depois escolhido cursar Letras por influência do filme, já que meu amor pelo cinema também estava relacionado ao amor pelas letras, pela poesia.
Mas como também não lembrar da emoção de MR. HOLLAND – ADORÁVEL PROFESSOR, que conta com uma cena final tão comovente? Ou se imaginar no lugar do professor francês de uma turma extremamente indisciplinada em ENTRE OS MUROS DA ESCOLA? (O que não é difícil para quem ensina em escola pública, aliás.) Ou se imaginar no lugar de um sujeito que toma a liberdade de ensinar rock na escola em ESCOLA DE ROCK?
Não é bom esquecer do pouco lembrado (para o subgênero) NUNCA TE AMEI, em que Albert Finney faz um professor aparentemente pouco amado por não ser dos mais carinhosos com a turma e que acaba por lidar com uma vida fadada ao fracasso, já que junta também o problema de traição que ele sofre. Enfim, não faltam bons e emocionantes exemplos.
E enfim chegamos a ESCOLA DA VIDA (2005), um filme menor e talvez um pouco brega, mas que tem suas qualidades e que acaba por surpreender perto do final. O ponto de vista é interessante, que é o do professor Matt Warner (David Paymer), embora a narração seja de seu filho adolescente, Dylan (Andrew Robb). O filme começa durante uma cerimônia de encerramento de ano, quando, pela enésima vez, o veterano professor pai de Matt vai receber o prêmio de professor do ano. Acontece que ele acaba morrendo de infarto na ocasião.
Na falta do pai, Matt seria, então, o novo professor do ano. Para honrar o sobrenome da família e o fato de ele estar trabalhando lá há tantos anos. Acontece que ele não é tão popular com os alunos, que consideram suas aulas de biologia chatas também. Mas a pedra no sapato de Matt é mesmo o professor novato de História, que surge para substituir o seu falecido pai.
Ao contrário de Matt, o novo professor, vivido por Ryan Reynolds, logo apelidado de Mr. D., faz um sucesso tremendo com sua maneira simpática de lidar com os alunos e com os próprios colegas professores. Excetuando Matt, é claro, que começa a se sentir mal com aquela situação. Mr. D. também é criativo nas aulas, procurando maneiras de fazer com que a turma aprenda com facilidade e diversão.
Mas o interessante é que em certo momento de ESCOLA DA VIDA é possível ficar um pouco irritado com esse professor popular e cheio de lições de vida que inspiram os alunos, enquanto aquele pobre homem só sofre com a cada vez maior rejeição. O problema de Matt, no entanto, é a sua inveja do colega. Mas isso muda com os rumos finais da trama, que se encaminha para um final agridoce, interessante.
Uma das temáticas que ele aborda é a questão da competitividade tipicamente americana que é posta em questão. No início, vemos Matt obcecado com a ideia de perder o título de professor do ano para Mr. D. Logo depois, vemos a questão de perder com honra e bravura, quando Mr. D passa a ser o treinador do time de basquete. Para que ficar triste em perder quando é mais interessante comemorar até mesmo com os pontos do time adversário?
Trata-se de algo que anda na contramão do american way of life, de uma sociedade altamente competitiva e de elevado individualismo. Tempos atrás, Sylvester Stallone já havia feito algo parecido no maravilhoso ROCKY, UM LUTADOR, cuja luta final é tão emocionante que a gente até pensa que ele ganhou a luta. Ele perdeu, mas de maneira honrada, o que para ele e para nós foi uma vitória.
E é com essas lições que ESCOLA DA VIDA vai conquistando paulatinamente o espectador. É um filme que tem os seus problemas – a ideia de esnobar a professora chata não me pareceu muito bem resolvida, além de ser algo pouco recomendado para ensinar às crianças. Sem falar nos problemas de dramaturgia. Mas para o que se propõe, é agradável de ver e dá o seu recado.
O diretor de ESCOLA DA VIDA é William Dear, que chegou a fazer vários “filmes-família” nas décadas de 1980 e 1990, sendo talvez o mais famoso deles UM HÓSPEDE DO BARULHO (1987), que fez algum sucesso na época e depois em reprises na televisão. Acabou também se especializando em filmes sobre esportes, depois do relativo sucesso de OS ANJOS ENTRAM EM CAMPO (1994).
segunda-feira, junho 22, 2015
REAL BELEZA
A exibição de REAL BELEZA (2015) na noite deste sábado, no 25º Cine Ceará, foi um alívio, depois de ver tantos filmes fáceis de aborrecer ou dispersar o espectador num só dia. Não que REAL BELEZA seja um dos grandes filmes de Jorge Furtado. Mas notou-se, durante a projeção, o apelo popular da produção, o modo como ele convida gentilmente o espectador a apreciar sua trama simples, que acaba por remeter a um dos trabalhos mais antigos do cineasta, a minissérie LUNA CALIENTE (1999), que bem que merecia uma edição em DVD para melhor apreciação.
Isso porque ambos os trabalhos tratam de uma relação um tanto proibida na zona rural do Rio Grande do Sul, com suas belezas naturais admiráveis. E beleza é o tema principal do filme, que nos apresenta a um fotógrafo de modelos João (Vladimir Brichta) em busca de uma moça cuja beleza pudesse alçar solo internacional. Uma nova Giselle Bünchen, por assim dizer. E depois de muito esforço, ele acaba por encontrar na jovem de 16 anos Maria, vivida por Vitória Strada.
Integram o elenco também Adriana Esteves, como Anita, a mãe de Maria, e Francisco Cuoco como o pai Pedro, um homem envelhecido, amante de livros e que não quer que a filha viaje. Já a mãe aprova a viagem da filha e ainda tem um affair com João, quando ele visita a casa da menina, a fim de fazer um pouco mais de pressão e conseguir, enfim, autorização para levar a jovem para São Paulo.
Destaque para os momentos em que Anita se mostra cada vez mais oferecida e simpática a João e a câmera se aproxima dos seus rostos em capo e contracampo. Falando em aspectos técnicos, o filme tem uma fotografia belíssima em scope, com um colorido vivo que se destaca. Devido à relativamente longa experiência do cineasta e um currículo que inclui obras de valor, como HOUVE UMA VEZ DOIS VERÕES (2002), O HOMEM QUE COPIAVA (2003) e SANEAMENTO BÁSICO, O FILME (2007), já se esperava pelo menos um filme de agradável apreciação.
Por outro lado, há um problema de ritmo em sua segunda metade, depois que João se instala na casa por alguns dias a fim de obter resposta afirmativa do pai da menina. Nesse momento, o filme perde boa parte do vigor inicial, embora seja compensado pela participação bem especial de Francisco Cuoco, esse gigante da teledramaturgia brasileira. Há algo de trágico naquele homem cego vivendo em uma casa cheia de livros cujo prazer lhe é tão fundamental. A citação de Jorge Luis Borges, nesse sentido, não poderia ser mais feliz, já que o célebre escritor argentino também foi ficando cego ao longo da vida.
Outro problema se dá numa falta maior de química e tensão sexual na relação entre João e Anita (será que é por que o casal de atores já é casado?). Se no começo isso parece interessante, quando a relação dos dois passa a ser carnal, perde um bocado da graça, talvez pela escolha de Estevez no papel, talvez pelo fato de o filme focar principalmente na busca do fotógrafo pela jovem futuro modelo, e ser essa a sua principal obsessão. Ainda assim, REAL BELEZA não deve ser deixado de lado, como tudo o que Furtado dirige ou escreve para o cinema ou para a televisão.
sábado, junho 20, 2015
FERNANDA TAKAI NA CAIXA CULTURAL – FORTALEZA, 19 DE JUNHO DE 2015
É sempre muito gratificante quando temos a chance de ver um espetáculo de um artista que a gente admira muito. Aliás, gratificante não é um adjetivo suficientemente bom para descrever a experiência que é assistir a Fernanda Takai nesta linda turnê que está fazendo do álbum Na Medida do Impossível (2014), o primeiro solo dela que traz também composições próprias, misturadas a canções que marcaram sua vida em diversos momentos.
E é desse amor que ela sente por essas canções e o prazer de escolhê-las e cantar tão docemente que faz com que sejamos contagiados e extremamente gratos por esse trabalho. O trabalho de Fernanda é puro amor. As canções supostamente bregas são abraçadas com um respeito adorável e com arranjos sofisticados, especiais.
E é desse disco basicamente que se constrói o show que tive o prazer de ver na aconchegante e acolhedora casa de show da Caixa Cultural. O espaço é pequeno e faz a gente se sentir mais próximo da artista, que trouxe consigo, do Pato Fu, o grande tecladista Lulu Camargo.
Paradoxalmente o show começa com uma canção chamada "Partida", uma das mais belas do novo disco. Ela surge vestida de preto e utilizando um tecido estilo samurai em um palco decorado de maneira tão bela que é muito difícil de descrever em palavras. Depois dos primeiros acordes, ouvimos uma canção que lembra as melhores composições melancólicas do Pato Fu. Difícil não ficar arrepiado.
Depois veio uma canção que me lembrou muito meu pai, que gostava de Benito Di Paula, "Como dizia o mestre", sobre os homens metidos a valentões que choram quando perdem a mulher. Segue-se "Doce companhia", a canção de abertura do álbum; e uma composição em parceria com Marcelo Bonfá, "De um jeito ou de outro", cuja batida agradável Bonfá deixou a sua marca.
Chega o momento de uma canção de Onde brilhem os olhos seus (2007), "Diz que fui por aí". Linda demais. O coração já começa a apertar. Depois veio uma faixa maravilhosa do repertório do Pato Fu: "Nada pra mim", que ela fez questão de deixar claro que a canção fora escrita pelo John, seu marido, para ela, embora muita gente a associe à Ana Carolina. Mas o jeito que ela conta isso é de uma simpatia impressionante.
Muitas emoções ainda viriam, como "Mon amour, meu bem, ma femme", canção que curiosamente eu não gostava, mas que achei simplesmente fabulosa nesta versão meio latina. Ficou uma delícia. De encher o peito de alegria. Ela conversa com a plateia, contando de quando cantou esta música no carnaval de Recife e o Reginaldo Rossi estava presente, ainda vivo.
Depois de "Seu tipo", parceria com a Pitty, chega a vez de uma das surpresas da noite: "Fui eu", do José Augusto. É aquele tipo de canção que muita gente teria vergonha de ouvir ou cantar, mas que no fundo todo mundo gosta. Canção perfeita para um karaokê. E que ficou muito bem na voz dela. Como não consta em nenhum dos discos, ficamos na expectativa por um registro ao vivo com ela incluída.
Fernanda segue encantando e pede licença para cantar a faixa mais polêmica do disco, a canção católica "Amar como Jesus amou", do Pe. Zezinho. Qual não foi a minha surpresa quando eu me vi chorando justamente na hora desta canção, que também era daquelas que eu tinha birra quando criança e passei a gostar graças a ela. Talvez o que me passa na letra é um misto de tristeza com alegria, já que eu não consigo ver Jesus como um sujeito feliz. Então, é como uma canção feita para as crianças mesmo, com algo de uma ingenuidade perdida na nossa fase adulta.
Eu ainda estava me recuperando dessa canção quando ela vem com uma que eu considero uma verdadeira facada no coração: "Insensatez", do primeiro disco. Talvez seja uma das mais belas canções do mundo. E ela responde à altura com a doçura que lhe é característica. Também do primeiro disco, outra que me pegou de cheio, "Com açúcar, com afeto", que é canção narrativa, com final emocionante como os melhores melodramas. Senti por instantes que meu queixo estava tremendo ao fim da canção, mas não posso ficar contando essas coisas pra ninguém.
Depois de duas do disco novo, "Quase desatento" e "A pobreza" (com um arranjo estilo western spaghetti), ouvimos "Ritmo da chuva", que a gente pode ouvir em disco numa dessas coletâneas de banquinho e violão – ela canta com o Rodrigo Amarante. Ela convidou a plateia para fazer um solo de assobio. Que simpatia. Depois encerra com a linda “Pra curar essa dor”, versão de uma música do George Michael.
No bis, "Liz", do Trio Ternura, que eu preciso ouvir mais vezes (que canção linda); uma versão de "I don’t want to talk about it", do Rod Stewart, e fecha com "Debaixo dos caracóis dos seus cabelos", naquele andamento rapidinho do primeiro disco, pra sacudir a tristeza. Se a canção é triste, a ideia no show é outra: entender que devemos celebrar essas pequenas alegrias. Que na verdade são grandes, quando estamos tão acostumados a situações ruins ou coisas do tipo.
É como se Fernanda Takai viesse como uma emissária da alegria, com seu jeito tão seguro e ao mesmo tempo frágil de cantar. Um doce de pessoa que também se manifestou após o show, quando recebeu a todos que queriam tirar fotos com ela e autografar os discos ou lembrancinhas vendidas no stand. Eu, como já levei meus disquinhos, trouxe-os para torná-los, de certa forma, ainda mais valiosos.
Perguntei a ela sobre o show do Pato Fu em Fortaleza, que infelizmente teve que ser cancelado, mas ela disse que há previsão para janeiro. Quero vê-la também no Pato Fu (saudades imensas dos shows deles), uma banda do coração que merecia um espaço maior e está com um disco novo sensacional. E só pra deixar registrado: um dos melhores momentos da minha vida foi num show do Pato Fu, na turnê do Isopor (1999), em 2000.
Meus sinceros agradecimentos às companheiras de show Natércia Marreiro e Erika Bataglia.
terça-feira, junho 16, 2015
29 PALMS (Twentynine Palms)
Bruno Dumont é um dos cineastas franceses surgidos nos anos 1990 que eu mais admiro atualmente. Digo isso, apesar de ter odiado este 29 PALMS (2003), seu terceiro longa-metragem. Na época da realização deste longa eu já tinha ouvido falar dele, mas seus filmes não chegavam no circuito local – se eu não me engano – e eu tinha preguiça de ir atrás de suas obras iniciais por outras vias.
Aprendi a gostar de Dumont com apenas dois filmes: O PECADO DE HADEWIJCH (2009) e CAMILLE CLAUDEL, 1915 (2013). Este último, inclusive, chegou a encabeçar a minha lista de melhores filmes vistos naquele ano. São ambos filmes difíceis, tanto na narrativa quanto naquilo que requerem de suas sofredoras protagonistas, mas bastante recompensadores na forma e no quanto nos arrebata espiritualmente.
Conhecer esses dois filmes de Dumont é um dos motivos para eu não sair xingando 29 PALMS, ainda que continue achando que trata-se de um deslize feio em sua filmografia. A impressão que fica é a de que nem mesmo ele estava gostando do filme e de seus personagens e fez a questão de se autossabotar. Mas o problema é que o que funcionaria em um exploitation autêntico acaba por se tornar feio e enfadonho em uma obra do tipo arthouse, por mais que suponhamos que o autor tivesse mesmo a intenção de chocar a audiência.
Outros cineastas que frequentam grandes festivais, como Lars Von Trier e Michael Haneke, por exemplo, souberam chocar com classe e tornaram alguns de seus filmes incômodos, mas belos e fortes na memória afetiva. Difícil dizer o mesmo de 29 PALMS, cujas duas horas de duração não justificam o final. Aliás, até podem justificar: o cineasta deve ter tido seus motivos.
O filme acompanha um casal de namorados, um americano e uma moça que fala francês. Os dois falam mais francês que inglês. Ele se esforça. David e Katia passam a viagem, boa parte dela no deserto da Califórnia, fazendo sexo, conhecendo a geografia do lugar, brigando por ciúme ou qualquer outro motivo etc.
29 PALMS segue mostrando o desgaste da relação, o que é normal, especialmente quando o sujeito tem tendências violentas e ela tem tendências a arranjar motivos para brigar ou ficar magoada. Mas ela parece ser um pouco mais confiável que ele. Tem um ar doce, enquanto ele tem espírito perverso. Quanto às cenas de sexo, elas são frias e talvez só excitem os espíritos mais selvagens.
O filme prepara uma surpresa perto do fim. Mas algo que só pode ser visto como uma recompensa quando percebemos que o filme, chato que só ele, está se encaminhando para o final. Procurar uma lógica para a ação dos agressores talvez seja uma busca vã. Ou talvez não. Talvez sirva para encontrar um motivo dentro do conjunto da obra de Dumont, sua visão de vida, geralmente pautada por um vazio espiritual. No pior sentido do termo.
segunda-feira, junho 15, 2015
GAME OF THRONES – A QUINTA TEMPORADA COMPLETA (Game of Thrones – The Complete Fifth Season)
Provavelmente o que muita gente reclama desta temporada vem do fato de que a quarta foi quase perfeita, enquanto a quinta temporada de GAME OF THRONES (2015) demorou um pouco a empolgar os mais impacientes e passou praticamente os sete episódios iniciais se concentrando em conversas. Mas conversas interessantes e importantes para que o tabuleiro se transformasse e a vida dos personagens mudasse. Em geral, pra pior.
Sim, esta temporada foi a que mais lidou com a questão “quem colhe, planta”. O caso mais brutal e angustiante foi o de Stannis Baratheon, o homem que ajudou a salvar os Corvos no final da temporada passada com seu exército. O problema é que sabemos que ele não é exatamente um herói. E está do lado de uma bruxa tão malvada quanto sedutora, Melissandre. O que ele sacrifica para conseguir o tão sonhado trono é de dar dor no coração. Trata-se de uma trajetória bem trágica.
E tragédia não falta nesta quinta temporada. E nem casamentos. O autor da série, George R.R. Martin, adora casamentos. Temos dois. Um deles não chega a ser sangrento, o da ambiciosa Margaery com o garotinho Tommen, que se tornam rei e rainha justamente num momento em que o seu reinado passa a ser comandado por um grupo de fanáticos religiosos. E Cersei, como boa sogra que é, brinca com fogo e se queima bastante. O resultado pode ser visto num dos momentos mais dolorosos e memoráveis da série, quando a rainha mãe é obrigada a atravessar nua e destituída de qualquer ornamento uma turba enfurecida.
O outro casamento foi de uma Stark, Samsa: a estratégia de Mindinho de casá-la com o psicopata Ramsey Bolton acaba fazendo com que ela sofra bastante nas mãos do sujeito mais odioso da série atualmente. E o pobre diabo Theon é obrigada a ver sua meia-irmã ser estuprada na noite de núpcias. Mais um casamento vermelho para a coleção de GAME OF THRONES.
A outra Stark, infelizmente, em um lugar chamado Braavos, acaba não rendendo momentos interessantes. Ao contrário: suas cenas são as mais chatas da temporada. Felizmente o final pareceu satisfatório. Não para a personagem, mas para o desenrolar da história.
E o que dizer de Jon Snow? O personagem cresceu bastante ao longo das temporadas. Principalmente no ano passado e agora também neste, quando ele teve coragem de peitar os colegas pouco amistosos da Patrulha. E o fato de ele ter se tornado líder e se aliar aos selvagens do outro lado da Muralha acabou fazendo com que ele não se tornasse muito popular. Pelo menos fomos presenteados com uma bela batalha dos dois grupos contra um exército de mortos-vivos.
Outra sequência de impacto e que também envolve elementos fantásticos acontece em uma arena em que vemos um duelo com Jorah demonstrando o seu amor incondicional a Daenarys, seguida de uma emocionante reviravolta envolvendo rebeldes da cidade e da presença de um dos dragões. É dessas cenas de deixar o coração bombeando mais forte e o sangue intoxicado. Aliás, que bom que Daenarys se juntou a Tyrion, afinal. Que momento glorioso da série ver os dois conversando e armando para tomar o trono de ferro, juntos.
A season finale ainda traz alguns momentos de cortar o coração, como a cena envolvendo a filha de Jaime Lannister, e a última e arrebatadora sequência, que mexe justamente com um dos personagens mais queridos da série. E mexer, quando falamos de GAME OF THRONES, não é só cutucar. Enfim, são tantas resoluções e/ou ganchos que é melhor parar por aqui.
sábado, junho 13, 2015
JURASSIC WORLD – O MUNDO DOS DINOSSAUROS (Jurassic World)
Hollywood tem dessas coisas: de vez em quando uma superprodução de 150 milhões é entregue nas mãos de um cara desconhecido e de filmografia obscura como Colin Trevorrow. Claro que não vão simplesmente dar o filme para o sujeito dirigir e pronto. O produtor executivo Steven Spielberg está ali, com a mão firme, mas talvez um tanto temeroso de sujar o seu currículo com uma continuação que pode não ser lá muito digna para ele, já que O MUNDO PERDIDO – JURASSIC PARK (1997) não é bem um filme muito bem visto por todos, embora seja uma obra que mereça uma revisão.
O segredo de ver e curtir JURASSIC WORLD – O MUNDO DOS DINOSSAUROS (2015) é não esperar nada melhor do que os anteriores, principalmente comparar com o clássico JURASSIC PARK – O PARQUE DOS DINOSSAUROS (1993), mas uma diversão acima da média. E podemos dizer que o filme cumpre bem suas funções. O chefe Spielberg não ia deixar que algo verdadeiramente ruim saísse de sua produtora, especialmente sendo de uma franquia a que ele tem tanto carinho.
Claro que aquela mágica de ver o primeiro dinossauro lá no começo dos anos 1990 não vai mais se repetir. Nossas retinas já estão cansadas e acostumadas com os avanços da computação gráfica nas superproduções americanas. Tudo bem que o que vimos este ano em MAD MAX – ESTRADA DA FÚRIA foi algo especial. Mas ficamos impressionados com a excelência e a pureza da direção do filme de ação; não com seus efeitos especiais, por mais excelentes que eles também sejam.
Depois de JURASSIC PARK, tudo o mais pareceu banal aos nossos olhos. Pelo menos no que se refere à construção de um mundo totalmente novo (ou à reconstrução de um mundo supostamente antigo, no caso), e mostrar isso usando a glória da tela gigante para apresentar os primeiros dinossauros, os grandões, os herbívoros, inicialmente.
Depois veio o medo dos temíveis velocirráptores ou do majestoso e medonho tiranossaurus rex. O que fazer para repetir ou trazer algo de novo para as novas plateias, depois de já ter aparentemente esgotado a fórmula com o ótimo e pouco valorizado JURASSIC PARK III (2001), de Joe Johnston? Provavelmente fazendo como Johnston fez: não se levando tão a sério. E é assim que JURASSIC WORLD consegue o seu intento. Afinal, o que mais queremos ver num filme de criaturas jurássicas? Lagartões enormes e aterradores tocando o terror em cenas eletrizantes. Até poderiam ser os mesmos já mostrados.
E nesse sentido, os ráptores estão de volta (não podiam faltar), mas há uma novidade: um novo e mais perigoso dinossauro que foi criado unindo o DNA do t-rex com o de outros animais, numa fórmula secreta que a executiva vivida por Bryce Dallas Howard apresenta a alguns homens de negócios. O novo Jurassic World não quer repetir os trágicos incidentes do antigo parque, mas também quer trazer alguma novidade. E é esse bichão maior que o t-rex o grande monstro da história.
Chris Pratt faz o papel de um adestrador de raptores que já teve uma história ocasional com a personagem de Bryce. Ela, por sua vez, está recebendo os seus sobrinhos no parque - ou mal recebendo, já que não tem tempo de cuidar dos garotos. Assim, o filme segue nessas duas linhas: a dos garotos de interesses distintos por causa de suas idades que ganharam um passe VIP e a dos adultos, inclusive aqueles que estão interessados em tomar o espaço para si, caso do personagem de Vincent D’Onofrio. E temos aqueles que servirão de bucha de canhão. Ou melhor, de alimento para os bichos.
Uma coisa que sentimos falta neste novo filme é o medo nas cenas de perigo. Os ráptores, inclusive, até ganham a nossa simpatia. O foco está no grandão, que é interessante e tal, mas o que mais importa é quando o vemos duelar com outros dinossauros, o que faz lembrar alguns clássicos do cinema hollywoodiano, como O MUNDO PERDIDO, dos anos 1920, e KING KONG, dos anos 1930.
E há também de ponto positivo Bryce Dallas Howard em roupas esfarrapadas, depois de ser perseguida pelo lagarto gigante na floresta. Muito do humor, inclusive, está no fato de ela fazer tudo sem se livrar dos sapatos de salto alto. Há a figura do macho alfa em Pratt, mas os tempos são outros e a mocinha tem que desempenhar algum ato de heroísmo, o que é justo. Compensa um suposto sexismo a que poderiam acusar o filme.
quinta-feira, junho 11, 2015
DE CABEÇA ERGUIDA (La Tête Haute)
Há várias razões para encarar DE CABEÇA ERGUIDA (2015) como uma obra merecedora de nossa atenção. Além de conseguir o que MOMMY, de Xavier Dolan, não conseguiu, trata-se de uma obra cheia de momentos emocionantes. Há quem diga que se trata de um filme excessivamente panfletário da justiça francesa, mas esse detalhe em nenhum momento me incomodou, mesmo quando a diretora Emmanuelle Bercot (ELA VAI, 2013) torna-o bem explícito. Há tantos filmes patrióticos e belicistas americanos que são excelentes, não é?
O mérito desse posicionamento bem à esquerda no tratamento do problema da delinquência juvenil, mesmo quando tudo parece perdido, é perceber o quão árduo é o processo de fazer de um jovem violento e complicado uma pessoa normal, por assim dizer. Exagerar nos atos de violência do rapaz faz parte da construção da história, de modo que ela incomode, crie momentos em que odiamos e outros em que temos amor pelo jovem tempestuoso.
O filme já começa com a jovem mãe (Sara Forestier, de OS NOMES DO AMOR) em uma audiência com a juíza vivida por Catherine Deneuve e cansada de tentar tudo que sabia no tratamento da complicada criança de sete anos, que com o tempo acaba sendo cuidada pelo Estado. A juíza em si é um exemplo de autoridade, mas principalmente de bondade e justiça, personificação do que o sistema francês quer se fazer mostrar. Aliás, do que qualquer sistema jurídico gostaria de ser.
DE CABEÇA ERGUIDA dá um salto de alguns anos, quando jovem Malony (o estreante Rod Paradot) se torna um expert em roubar carros para fazer manobras perigosas. É o que ele mais gosta de fazer. Estudar é um caso complicado, para dizer o mínimo; trabalhar também, embora com algum esforço das autoridades e dos educadores ele consiga algum progresso.
O problema é que para cada passo de progresso, ele regride três, quatro passos com sua atitude sempre pendendo para a violência. Algumas crises de violência chegam até a assustar e provocar um sentimento de mal estar e uma vontade de tomar uma atitude mais punitiva para aquele garoto mal criado. Uma prisão, por exemplo. Na França, menores de 18 anos vão presos, ainda que para que isso ocorra se desenrole um longo processo. Na atual discussão brasileira sobre a possível diminuição da maioridade penal, ver DE CABEÇA ERGUIDA não deixa de ser uma boa ideia, embora não se trate aqui de um jovem criminoso que cometeu um homicídio ou algo do tipo. Trata-se de educar um garoto.
E educar não é fácil. Mesmo para jovens que não sejam garotos-problema como Malony. E essas tentativas na maioria das vezes frustradas dos educadores, da juíza, da mãe e do próprio garoto são exemplos de como é preciso ter espírito forte, pois a autoestima até do profissional fica em frangalhos diante de tantas dificuldades. Desistir parece o caminho mais fácil. Mas entra aí um elemento forte, que é o amor. E por isso talvez tenha sido necessário uma diretora, uma mulher, para contar essa história.
DE CABEÇA ERGUIDA foi o filme de abertura da edição deste ano do Festival de Cannes. Fato raro para uma obra quase obscura dentro de um festival que costuma prestigiar grandes autores e abrir com grandes produções.
segunda-feira, junho 08, 2015
GREMLINS
Dos cineastas hollywoodianos que faziam a festa dos fãs de horror na década de 1980 (e podemos incluir aí John Carpenter, George Romero, David Cronenberg, John Landis, Stuart Gordon, Larry Cohen, Tobe Hooper etc), o que eu menos aprecio é justamente Joe Dante, por cruzar mais o caminho do horror feito para adolescentes. Daí cair como uma luva sua parceria com Steven Spielberg aqui.
E GREMLINS (1984) é mais um desses filmes que todo mundo viu, menos eu. Como, aliás, acontece com vários outros clássicos pop dos anos 1980. São filmes que eu devo ter visto trechos na televisão ou até tenha visto completo, mas que não conto, pois não lembro e foi numa época que eu não ligava muito para cinema. Engraçado como eu vejo esse período como uma espécie de dark age na minha vida, embora haja alguns momentos bem memoráveis.
GREMLINS é um filme sobre saber obedecer regras e por isso é tão interessante para uma plateia mais jovem. Por outro lado, há um forte elemento de anarquia naqueles bichinhos endiabrados que os tornam também simpáticos. Por mais feios e malvados que eles sejam, eles ainda são mais legais que a velha mesquinha da cidade.
Na trama, que já deve ser conhecida de todos, um pai de família passa por uma loja na área de Chinatown e lá descobre um estranho bichinho, que acaba comprando para dar de presente para o filho. O jovem rapaz (Zach Galligan) não tem dinheiro (e nem o seu pai, com suas invenções que não servem pra nada), mas é uma simpatia e até já conquistou o coração da menina mais bonita da cidade (a doce Phoebe Cates, que eu devo ter visto inúmeras vezes em PARADISE, uma espécie de cópia descarada de A LAGOA AZUL).
Para cuidar do tal bichinho, não se pode colocá-lo em frente à luz forte, nem molhá-lo ou dar-lhe água ou alimentá-lo após a meia-noite. Ver cada uma dessas regras ser desobedecida faz parte da brincadeira, assim como também pode incomodar àqueles que gostam sempre das coisas muito bem certinhas. Nesse caso, provavelmente GREMLINS não é o seu filme ideal, uma vez que é preciso entrar no espírito da bagunça, como na cena em que os monstrengos vão parar num cinema, numa sessão privada da animação BRANCA DE NEVE E OS SETE ANÕES. A propósito, já vi gente menos educada do que eles em salas de cinema.
sexta-feira, junho 05, 2015
BRISAS DO AMOR / O INSACIÁVEL DESEJO DA CARNE
Acompanhar os filmes de Alfredo Sternheim é sempre um prazer, mesmo quando as cópias à disposição não são lá muito boas. No caso de BRISAS DO AMOR (1982), ou O INSACIÁVEL DESEJO DA CARNE, para usar o título que os produtores escolheram para o seu lançamento nos cinemas, até que não está ruim, ripada do Canal Brasil, com a beleza dos corpos nus a serem apreciados junto com a ciranda de amores que constitui o enredo.
Inclusive, um dos grandes méritos de Sternheim é conseguir lidar com vários personagens em várias subtramas e não se perder. Assim, temos a atriz de filmes eróticos (Sandra Graffi) que é importunada por um fã psicótico; a jovem (Eliana do Valle) que fica grávida de um rapaz da cidadezinha (Artur Leivas); o deputado (Luiz Carlos Braga) que teve sua vida dilacerada devido às presepadas da irresponsável e infiel (ex-)esposa (Maria Stela Splendore) e que agora vive um romance com uma moça bem mais jovem etc.
As tramas são bem amarradas e a locação é toda na bela cidade litorânea de Mongaguá, que serviria também de estadia para o trabalho seguinte do diretor, TENSÃO E DESEJO (1983). O local é paradisíaco e já no começo do filme vemos uma linda cachoeira com uma moça nua tomando banho e em seguida a praia que serve de vista para o hotel onde se passa boa parte da história.
Dentro da narrativa linear há três flashbacks muito interessantes e que enriquecem o conjunto da obra: o que mostra o início do relacionamento dos dois jovens; a queda do deputado; e, o melhor de todos: a história contada pelo ponto de vista do maníaco perseguidor.
E por falar nesse trecho, para quem já tinha ficado gamado em Sandra Graffi na primeira cena dela no quarto com o namorado, ver essas cenas do flashback só aumenta a admiração por aquela moça linda, de jeito meigo e que parece ao mesmo tempo segura de si e indefesa, o que a torna a personagem mais interessante deste filme-coral.
Sendo um pouco sexista, a vantagem de se ver esses trabalhos dos anos 1980 em comparação com os da década anterior é que a nudez gráfica é muito mais presente e havia muitos mestres do erotismo na Boca. Sternheim é um que sabe muito bem fotografar os corpos em toda naturalidade e beleza. Pena que o fim desse momento especial da primeira metade dos 80s estava próximo do fim, com a chegada iminente dos filmes de sexo explícito.
quarta-feira, junho 03, 2015
QUATRO FILMES FRANCESES
Na expectativa da próxima edição do Festival Varilux de Cinema Francês, e também precisando dar conta da quantidade enorme de filmes a comentar, falemos de quatro filmes franceses, todos bons e que mereceriam uma postagem exclusiva, mas como dificilmente eles estarão na lista de melhores do ano, vamos de textos curtos e grossos, mas com todo respeito às obras. Trata-se também de um exercício de memória e também de tentativa de escrever estando fisicamente fraco.
EDEN
Não deixa de ser uma ponta de decepção depois de ter visto uma obra tão linda quanto ADEUS, PRIMEIRO AMOR (2011), mas isso não quer dizer que EDEN (foto, 2014), o novo filme da cineasta Mia Hansen-Løve não mereça a devida apreciação, até para quem tem interesse no assunto. Sem falar que é também uma obra de natureza pessoal da diretora, já que é inspirado na vida do irmão, que trabalhava como DJ numa cena muito importante para a música eletrônica mundial das últimas décadas, a French House. Foi dessa cena, por exemplo, que surgiu o Daft Punk. Mas embora EDEN nos ofereça um bom panorama dessa cena, o que mais importa mesmo é a trajetória de Paul Vallée (Félix de Givry) e sua obsessão em procurar fazer aquilo de que mais gosta, não importando o quanto isso lhe custe e o quanto a sociedade capitalista lhe cobre.
GAROTAS (Bande de Filles)
Interessante ver um filme francês abordando o drama de garotas negras no país. GAROTAS (2014), de Céline Sciamma, foca especialmente em Vic, uma moça que sofre com os maus tratos do irmão machista e ciumento, mas que tem a coragem de se desvincular da família depois que conhece um grupo de garotas e ingressa numa gangue feminina, inclusive efetuando pequenos furtos com as outras. Porém, para se sentir mais independente, ela acaba se envolvendo com um traficantes, levando-a a uma queda pessoal. O filme tem interpretações realistas e algumas vezes seus diálogos parecem improvisado.
VIOLETTE
Como seria bom se todas as cinebiografias de narrativa convencional fossem como VIOLETTE (2013). O filme de Martin Provost foca na história de Violette Leduc (Emmanuelle Devos), uma escritora francesa do início do século XX que comeu o pão que o diabo amassou vendendo comida ilegal durante a Segunda Guerra Mundial, sendo rejeitada pelo marido que a despreza, e também por sofrer pelo seu desejo por mulheres, algo que se torna mais grave quando ela conhece a escritora feminista Simone de Beauvoir (Sandrine Kimberlain), a mulher que a incentivou a transformar os seus escritos em livros. Ela cria uma espécie de obsessão pela autora de O Segundo Sexo, e isso acaba por aumentar o seu sentimento de baixa autoestima, embora ela saiba o quanto deve àquela mulher, que a ajudou a mudar de vida.
UM JOVEM POETA (Um Jeune Poète)
O que mais mexeu comigo neste longa-metragem de estreia de Damien Manivel foi o quanto eu me identifiquei com o protagonista patético Rémi (Rémi Taffanel), um jovem rapaz que deseja se torna um grande poeta e para isso faz uma viagem para uma pequena cidade do litoral francês, onde procura manter contato com os habitantes locais a fim de conseguir inspiração para o seu trabalho. Porém, o protagonista de UM JOVEM POETA (2014) só consegue mesmo demonstrar suas inseguranças e seu jeito desastrado, especialmente quando tenta abordar bruscamente a jovem por quem fica interessado. Mesmo sendo um misto de drama e comédia, não deixa de ser uma obra amarga. Trata-se de um filme incômodo, e por isso mesmo especial.
segunda-feira, junho 01, 2015
MARROCOS (Morocco)
E minha admiração pelo cinema de Josef von Sternberg aumentou com MARROCOS (1930), segunda parceria do cineasta com Marlene Dietrich, depois da produção alemã O ANJO AZUL (1930). Após esses dois filmes a parceria se repetiria por mais seis títulos, tidos como ainda melhores e mais representativos da estética de Sternberg.
Pra mim foi muito mais agradável ver a história de amor de MARROCOS, com uma Dietrich totalmente devotada a um amor por um legionário do que ver um homem velho sofrendo humilhações, ao se apaixonar e se casar com uma cantora de cabaré em O ANJO AZUL. Em MARROCOS, Dietrich também é uma cantora de cabaré. Mas exalando muito mais poder e sex appeal no palco. Talvez por isso mesmo a sua "queda", pensando na expressão inglesa "fall in love", seja tão impactante, mesmo sabendo que o personagem de Gary Cooper também a ama.
A cena da primeira vez em que Amy Jolly (Dietrich) sobe ao palco, vestida com trajes masculinos (cartola e gravata branca em um terno preto), é maravilhosa. Em seu pouco tempo no palco, depois de ouvir as vaias daquele público feroz, com paciência e segurança, ela inicia o seu canto. E faz isso com um encanto que afasta qualquer ligação com a vulgaridade, algo de que ela não conseguiu fugir em O ANJO AZUL.
O momento em que Amy beija a boca de uma mulher mostra o quanto aquela criatura nova e estranha ali tinha o poder em suas mãos. Poder sobre homens e mulheres, ricos e pobres. Um dos ricos, inclusive, a pede em casamento. É o terceiro elemento do triângulo amoroso formado pelo legionário pobre que nada tinha a oferecê-la se não o amor.
Entra, então, uma batalha interior muito comum entre as mulheres, quando se refere a ter duas opções: o que escolher, o amor sem dinheiro ou a falta de amor e o conforto que o dinheiro pode trazer? Dionísio versus Apolo. E não resta dúvida do quanto ela prefere se entregar ao amor.
Dizem que os filmes de Sternberg são barrocos e sendo o Barroco muito mais próximo do Romantismo do que da racionalidade do Classicismo, é natural que seus trabalhos exalem paixão. Uma paixão que é perfeitamente apresentada na inacreditável sequência final, que lida com o amor devotado em uma maneira poucas vezes vista no cinema. E podemos dizer isso também do personagem de Adolphe Menjou, que nunca força Amy a ficar com ele e na maioria das vezes tem que engolir o seu orgulho por amor a ela.
Dizer isso não é o suficiente para descrever o quão poderosa é a tal cena final, que obviamente não terá muito sentido sem acompanharmos a jornada da heroína. Aliás, como este trabalho de Sternberg é feminista, mesmo apresentando uma mulher que parece se submeter a uma situação de muito pouco orgulho, para usar de eufemismo. Afinal, as decisões de Amy são de espontânea vontade, embora os mais cínicos possam dizer que se trata de uma cegueira ocasionada pela paixão.
Ao ler um texto sobre o filme, escrito por Andrew Sarris, especialista no cinema de Sternberg, há a afirmação de que nunca Dietrich faria uma personagem tão indefesa (ainda que cheia de charme) e tão acessível quanto Amy Jollie. Eu, pessoalmente, fiquei apaixonado por essa mulher, pelo seu amor, pela sua coragem. MARROCOS ajuda e muito a entender o fenômeno Marlene Dietrich.
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