terça-feira, junho 16, 2015

29 PALMS (Twentynine Palms)



Bruno Dumont é um dos cineastas franceses surgidos nos anos 1990 que eu mais admiro atualmente. Digo isso, apesar de ter odiado este 29 PALMS (2003), seu terceiro longa-metragem. Na época da realização deste longa eu já tinha ouvido falar dele, mas seus filmes não chegavam no circuito local – se eu não me engano – e eu tinha preguiça de ir atrás de suas obras iniciais por outras vias.

Aprendi a gostar de Dumont com apenas dois filmes: O PECADO DE HADEWIJCH (2009) e CAMILLE CLAUDEL, 1915 (2013). Este último, inclusive, chegou a encabeçar a minha lista de melhores filmes vistos naquele ano. São ambos filmes difíceis, tanto na narrativa quanto naquilo que requerem de suas sofredoras protagonistas, mas bastante recompensadores na forma e no quanto nos arrebata espiritualmente.

Conhecer esses dois filmes de Dumont é um dos motivos para eu não sair xingando 29 PALMS, ainda que continue achando que trata-se de um deslize feio em sua filmografia. A impressão que fica é a de que nem mesmo ele estava gostando do filme e de seus personagens e fez a questão de se autossabotar. Mas o problema é que o que funcionaria em um exploitation autêntico acaba por se tornar feio e enfadonho em uma obra do tipo arthouse, por mais que suponhamos que o autor tivesse mesmo a intenção de chocar a audiência.

Outros cineastas que frequentam grandes festivais, como Lars Von Trier e Michael Haneke, por exemplo, souberam chocar com classe e tornaram alguns de seus filmes incômodos, mas belos e fortes na memória afetiva. Difícil dizer o mesmo de 29 PALMS, cujas duas horas de duração não justificam o final. Aliás, até podem justificar: o cineasta deve ter tido seus motivos.

O filme acompanha um casal de namorados, um americano e uma moça que fala francês. Os dois falam mais francês que inglês. Ele se esforça. David e Katia passam a viagem, boa parte dela no deserto da Califórnia, fazendo sexo, conhecendo a geografia do lugar, brigando por ciúme ou qualquer outro motivo etc.

29 PALMS segue mostrando o desgaste da relação, o que é normal, especialmente quando o sujeito tem tendências violentas e ela tem tendências a arranjar motivos para brigar ou ficar magoada. Mas ela parece ser um pouco mais confiável que ele. Tem um ar doce, enquanto ele tem espírito perverso. Quanto às cenas de sexo, elas são frias e talvez só excitem os espíritos mais selvagens.

O filme prepara uma surpresa perto do fim. Mas algo que só pode ser visto como uma recompensa quando percebemos que o filme, chato que só ele, está se encaminhando para o final. Procurar uma lógica para a ação dos agressores talvez seja uma busca vã. Ou talvez não. Talvez sirva para encontrar um motivo dentro do conjunto da obra de Dumont, sua visão de vida, geralmente pautada por um vazio espiritual. No pior sentido do termo.

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