Você quer viver ou morrer? Essa pergunta é feita por um dos vários personagens de BACURAU (2019), filme-coral de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, em uma de suas cenas mais intensas. Escolher entre viver é a ideologia dos habitantes da cidadezinha que dá título ao filme, um lugar que é um exemplo de resistência em um Brasil distópico futurista que guarda algumas similaridades com o momento atual.
O interessante é que Kleber Mendonça Filho tem dito em entrevistas e debates que não é separatista, apesar de enaltecer o Nordeste com entusiasmo em seu filme. Seu trabalho, ainda que exibido apenas em 2019, provavelmente não deve ter antecipado a eleição de Jair Bolsonaro, que não venceu nos estados da região Nordeste. E por isso tem havido um movimento, ainda que muito tímido e às vezes em tom de brincadeira, em memes, de separar a região do restante do Brasil.
Como BACURAU flerta também com os filmes do cangaço e há momentos de banho de sangue, a chamada para reagir de forma violenta pode ser uma mensagem e tanto. E eis o seu potencial de dinamite, até por se vestir de uma roupa de filme de gênero, que muito provavelmente agradará a um público muito maior do que seus dois trabalhos mais art-house anteriores, O SOM AO REDOR (2012) e AQUARIUS (2016). Assim, a ambição do filme não é apenas de natureza formal ou no trato com a mensagem, mas ao saber de seu maior diálogo com o grande público.
A história começa com a ida de Teresa (Bárbara Colen, ótima) ao povoado. Ela está de carona no caminhão-pipa e usando um jaleco. O que ela carrega são vacinas, como iremos saber mais adiante, quando ela chega ao velório de sua mãe, a matriarca do vilarejo. Até o momento dessa chegada, muitas informações nos são passadas. E o filme demora um bom tempo nessa apresentação de personagens, até entrar efetivamente no suspense, quando eles percebem que estão sendo atacados.
Sônia Braga é uma médica no vilarejo e aparece inicialmente bastante transtornada no velório daquela senhora tão querida. Mas aos poucos vamos notando que, mesmo com uma rixa ou outra, aquele pequeno pedaço de civilização é formado por pessoas bem próximas e unidas. E essa união se torna ainda mais intensa quando eles se percebem vítimas de um ataque. Para nós, espectadores, ao ingressarmos em um universo novo e em uma cidade à margem dos grandes centros e do que está acontecendo no resto do Brasil, cada detalhe é interessante e muito bem recebido.
Como os diretores optaram por fazer um filme de ação bem próximo do cinema oitentista (não faltam referências a John Carpenter), há um tanto de caricatura nos vilões, em especial o alemão Udo Kier, um ícone do cinema europeu, com uma filmografia invejável e muitos filmes de terror também no currículo (ele até já foi o Conde Drácula na produção de Andy Warhol). E é trazendo Kier para essa mistura maluca que BACURAU se mostra como uma obra com um inegável senso de humor. É como se pudéssemos ver o sorriso no rosto de seus diretores em várias cenas, principalmente as que envolvem os estrangeiros, os vilões.
Por isso é possível ver BACURAU como uma grande aventura de mocinho contra bandido, um western feijoada moderno. Dessas que inspiram palmas do público em determinados momentos da narrativa. Quase um RAMBO, só que com vários personagens. Aliás, se olharmos para o cartaz do filme após vê-lo veremos o quanto cada personagem é importante para o enredo.
Dentre esses personagens, ainda não citei o cearense Silvero Pereira, que interpreta o fora-da-lei Lunga, amigo do pessoal de Bacurau, mas que vive escondido das autoridades. Até o momento em que ele finalmente surge, com uma aparência muito curiosa, com um misto de macho com queer. Isso faz com que o filme se aproxime tanto dos dias atuais quanto dos heróis parrudos dos filmes da década de 1980.
Outro cearense que não tem sido mencionado com frequência nas críticas é Rodger Rogério, compositor e intérprete da primeira geração do chamado Pessoal do Ceará. Ele interpreta uma espécie de cantador que está presente em uma das cenas mais divertidas do filme, quando do aparecimento dos forasteiros sudestinos. O diálogo dele com essas pessoas é impagável.
Como se vê, há tanto o que se falar sobre o filme, sobre cada personagem/ator/atriz, que até pode-se imaginar que BACURAU é uma obra de trama intrincada. Na verdade, o plot é muito simples e parece muitas vezes feito com ar de brincadeira. Porém, em se tratando de Kleber Mendonça Filho e do momento político brasileiro, pode haver uma interpretação de convite à luta.
Se ARÁBIA, outro dos filmes recentes de nossa cinematografia que vem conclamado as pessoas à luta, é uma obra com um tom bem melancólico; BACURAU transforma a melancolia em raiva, em ação, em luta. Não que o povo de lá seja de guerra. Mas a placa já diz tudo: "Bacurau: se for, vá em paz".
+ TRÊS FILMES
ESPERO TUA (RE)VOLTA
Mais um documentário que ajuda a pensar e lembrar de eventos importantes da história política brasileira. Este filme muito bem editado foca na ocupação dos estudantes nas escolas públicas secundaristas quando da ameaça do fechamento de várias pela secretaria de educação do estado de São Paulo. O filme volta no tempo em alguns anos e tenta pensar o papel dos jovens na luta, de 2013 até o início de 2019, com a eleição de Bolsonaro. As melhores partes são dos embates dos jovens com a polícia. Ótimos registros. Direção: Eliza Capai. Ano: 2019.
PASTOR CLÁUDIO
Desses filmes que a gente assiste e não acredita, por mais que já saibamos dos horrores que aconteceram nos porões da ditadura. Mas ouvir e ver alguém que participou de execuções e de sumiços de corpos de pessoas contrárias à ideologia do Estado é aterrorizante. Por mais que Cláudio Guerra diga ser agora um pastor evangélico que reconhece os erros do passado e colabora com a comissão da verdade, como de fato vem colaborando, é muito difícil tanto para quem o encara quanto para ele mesmo ouvir/contar aquilo tudo. E há coisas que ele conta por alto, envolvendo sociedades secretas que ainda existem. A elite brasileira. E tudo passa a fazer sentido no que se refere ao apoio de um cara como Bolsonoro. O desejo de poder e o pouco caso pela vida do outro ainda impera. Direção: Beth Formaggini. Ano: 2017.
DIVINO AMOR
Um filme que despertou em mim sentimentos mistos. Embora tenha me incomodado o modo como eles retrataram os evangélicos, como, aliás, é natural de se ver na maioria dos filmes brasileiros (acho que a exceção que eu vi foi em uma cena de CARANDIRU, do Babenco), ainda assim, o encaminhamento do filme torna-o mais complexo e interessante. A segunda metade é melhor no que traz. Plasticamente é muito bonito e gosto da ousadia das cenas de sexo (BOI NEON já tinha uma cena ousada e boa). Ainda estou pensando nas alegorias com o Brasil da era Bolsonaro a partir do final, mas ainda não cheguei a uma conclusão. O que, de certa forma, é bom. Direção: Gabriel Mascaro. Ano: 2019.
sexta-feira, agosto 30, 2019
segunda-feira, agosto 19, 2019
ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD (Once upon a Time in… Hollywood)
Cada novo filme de Quentin Tarantino é um acontecimento que movimenta tanto cinéfilos assíduos quanto esporádicos. Eis o motivo de seus filmes serem tão populares. Claro que a capacidade do cineasta de trazer astros do primeiro escalão também ajuda bastante. Ter Leonardo DiCaprio, Brad Pitt e Margot Robbie no mesmo filme, sem falar em participações muito especiais, como a de Al Pacino, é um chamariz e tanto. Um luxo e tanto. Mas as pessoas vão ao cinema principalmente para ver o novo filme do cineasta, certamente.
Seu novo trabalho, ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD (2019), é seu melhor filme desde BASTARDOS INGLÓRIOS (2009) e tira um pouco do gosto amargo que ficou com OS OITO ODIADOS (2015). Seja através dos diálogos sem pressa, seja com o modo como Tarantino brinca com o tempo mais uma vez, estendendo-o às vezes para causar suspense, como na cena de Cliff Booth (Brad Pitt) em um cenário rodeado pelos hippies liderados por Charles Manson; seja na sequência final, que nos leva à fatídica noite do dia 9 de agosto de 1969, quando ocorreu a chacina que pôs fim a vida de Sharon Tate; em todos os momentos do filme, Tarantino é dono do tempo e do espaço.
Um espaço que ele recria a partir de um já existente, o da Los Angeles do final dos anos 1960. Lembrando que boa parte de seus filmes se passam em um tempo indeterminado, mas com uma aura de apego ao passado muito intensa. O melhor exemplo disso é o de PULP FICTION - TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994). Aqui há um misto de eventos e pessoais reais com criações puramente tarantinescas. Em especial os protagonistas, o ator decadente Rick Dalton, vivido por DiCaprio, e seu dublê, o já mencionado personagem de Pitt.
Há um clima de bromance entre os dois que lembra alguns filmes da Velha Hollywood, como os dirigidos por Howard Hawks, ainda que a amizade dos dois se manifeste da maneira bruta de Tarantino. Cada pessoa oferece o afeto da sua maneira. Mas isso não quer dizer que não se veja amor no filme. Há bastante. Especialmente amor pelo cinema. Seja o cinema de Hollywood, seja o cinema feito na Itália para exportação, por mais que o personagem de DiCaprio ache que está chegando ao fundo do poço por não conseguir espaço melhor nos Estados Unidos e encontrar um caminho aberto no cinema italiano de gênero, para ele considerado muito inferior. Engraçada a cena em que o personagem de Al Pacino lhe explica que Sergio Corbucci é o segundo melhor diretor de western spaghetti do mundo.
Quanto à já famosa violência tarantinesca, seja por causa da pressão dos novos tempos, seja por maturidade mesmo, o novo filme do cineasta é o que menos busca uma violência gráfica, dentre todos os seus trabalhos. Aqui o que mais conta é a beleza do ir e vir dos carros, as ruas movimentadas com centenas de cinemas de rua, tudo muito lindo de ver com a exuberante fotografia de Robert Richardson, colaborador de Tarantino desde KILL BILL – VOLUME 1 (2003).
Falando em beleza, que acerto a escolha de Margot Robbie para viver Sharon Tate, hein! Linda demais a cena dela no cinema, satisfeita com a ótima recepção do filme em que trabalha por parte do público. Há quem ache que sua presença em cena é muito pequena, quase não lhe é dado texto, mas isso acaba tornando-a próxima de uma deusa, justamente por isso. E sua personagem é tão cheia de graça que é difícil não se encantar com seu sorriso, com sua alegria de passear pelas ruas e de dançar. Como se Tarantino quisesse nos mostrar o quanto a morte de uma mulher como essa é abominável.
Por isso a polêmica e incrível aposta do cineasta pela sua conclusão é tão bem-vinda. No mais, há também um elogio à inocência e à infância na figura da atriz mirim Julia Butters, a menina que dá uma lição no decadente astro Rick Dalton.
Está havendo uma confusão de percepções sobre a questão hippie. Não há por que acreditar que o diretor tem uma visão negativa dos hippies. Aqueles hippies em especial, os envenenados pelas mensagens de Charles Mason, esses sim representam o mal. E, nesse sentido, Tarantino não se furta de querer mostrar o mal como definitivamente mal, como fez com os nazistas em BASTARDOS INGLÓRIOS. Pode ser uma visão simplista, mas o modo como o diretor lida com isso é de uma beleza que transcende a necessidade de maiores problematizações.
+ TRÊS FILMES
LISA E O DIABO (Lisa e il Diavolo / Lisa and the Devil)
Pelo pouco que eu li de bastidores este parece ser o SOBERBA do Mario Bava, com a vantagem que foi um filme que conseguiu ter a suposta versão do diretor lançada posteriormente, já quando o cineasta faleceu. É uma obra estranha, bem delirante, que me lembrou CARNIVAL OF SOULS. Engraçado isso, já que CARNIVAL havia me lembrado um dos Bavas. Aqui se tem em comum a mulher perambulando perdida, a presença dos mortos que ressurgem, muitas cenas de climão, mas soma-se aí muitas cores na fotografia (bonita mesmo) e um romantismo que eu não esperava, lá pelo final. Romantismo no sentido amplo do termo, digo. Destaque para a participação da Alida Valli. Por mais que, de interpretação mesmo, só dê para destacar a naturalidade do Telly Savalas mesmo. Ano: 1973.
DUAS RAINHAS (Mary Queen of Scots)
Boa estreia de Josie Rourke, diretora mais ligada ao teatro. Ao contrário do que se pensa (inclusive pelo título brasileiro), a grande figura do filme é mesmo Saoirse Ronan. A rainha Elizabeth de Margot Robbie tem um papel importante, mas menor na trama, que tem o seu peso trágico, graças à própria história, aqui contada com muito mais minúcias do que no filme do John Ford. Ano: 2018.
SEVEN - OS SETE CRIMES CAPITAIS (Se7en)
Impulsionado pelo pessoal do Cinema na Varanda fui rever SEVEN, que tinha visto no cinema uma vez e outra em VHS. Mal lembrava do filme em si, só lampejos e do final impactante. Aliás, é engraçado isso: eu geralmente costumo esquecer dos finais dos filmes, menos dos impactantes. Com o tempo virou mesmo um clássico, embora eu ache que falte algo para se tornar excelente, não sei.. Mas é muito bom de ver e a trilha do Howard Shore é uma das mais felizes de sua carreira. Dramática e tensa, especialmente no final. Direção: David Fincher. Ano: 1995.
Seu novo trabalho, ERA UMA VEZ EM... HOLLYWOOD (2019), é seu melhor filme desde BASTARDOS INGLÓRIOS (2009) e tira um pouco do gosto amargo que ficou com OS OITO ODIADOS (2015). Seja através dos diálogos sem pressa, seja com o modo como Tarantino brinca com o tempo mais uma vez, estendendo-o às vezes para causar suspense, como na cena de Cliff Booth (Brad Pitt) em um cenário rodeado pelos hippies liderados por Charles Manson; seja na sequência final, que nos leva à fatídica noite do dia 9 de agosto de 1969, quando ocorreu a chacina que pôs fim a vida de Sharon Tate; em todos os momentos do filme, Tarantino é dono do tempo e do espaço.
Um espaço que ele recria a partir de um já existente, o da Los Angeles do final dos anos 1960. Lembrando que boa parte de seus filmes se passam em um tempo indeterminado, mas com uma aura de apego ao passado muito intensa. O melhor exemplo disso é o de PULP FICTION - TEMPO DE VIOLÊNCIA (1994). Aqui há um misto de eventos e pessoais reais com criações puramente tarantinescas. Em especial os protagonistas, o ator decadente Rick Dalton, vivido por DiCaprio, e seu dublê, o já mencionado personagem de Pitt.
Há um clima de bromance entre os dois que lembra alguns filmes da Velha Hollywood, como os dirigidos por Howard Hawks, ainda que a amizade dos dois se manifeste da maneira bruta de Tarantino. Cada pessoa oferece o afeto da sua maneira. Mas isso não quer dizer que não se veja amor no filme. Há bastante. Especialmente amor pelo cinema. Seja o cinema de Hollywood, seja o cinema feito na Itália para exportação, por mais que o personagem de DiCaprio ache que está chegando ao fundo do poço por não conseguir espaço melhor nos Estados Unidos e encontrar um caminho aberto no cinema italiano de gênero, para ele considerado muito inferior. Engraçada a cena em que o personagem de Al Pacino lhe explica que Sergio Corbucci é o segundo melhor diretor de western spaghetti do mundo.
Quanto à já famosa violência tarantinesca, seja por causa da pressão dos novos tempos, seja por maturidade mesmo, o novo filme do cineasta é o que menos busca uma violência gráfica, dentre todos os seus trabalhos. Aqui o que mais conta é a beleza do ir e vir dos carros, as ruas movimentadas com centenas de cinemas de rua, tudo muito lindo de ver com a exuberante fotografia de Robert Richardson, colaborador de Tarantino desde KILL BILL – VOLUME 1 (2003).
Falando em beleza, que acerto a escolha de Margot Robbie para viver Sharon Tate, hein! Linda demais a cena dela no cinema, satisfeita com a ótima recepção do filme em que trabalha por parte do público. Há quem ache que sua presença em cena é muito pequena, quase não lhe é dado texto, mas isso acaba tornando-a próxima de uma deusa, justamente por isso. E sua personagem é tão cheia de graça que é difícil não se encantar com seu sorriso, com sua alegria de passear pelas ruas e de dançar. Como se Tarantino quisesse nos mostrar o quanto a morte de uma mulher como essa é abominável.
Por isso a polêmica e incrível aposta do cineasta pela sua conclusão é tão bem-vinda. No mais, há também um elogio à inocência e à infância na figura da atriz mirim Julia Butters, a menina que dá uma lição no decadente astro Rick Dalton.
Está havendo uma confusão de percepções sobre a questão hippie. Não há por que acreditar que o diretor tem uma visão negativa dos hippies. Aqueles hippies em especial, os envenenados pelas mensagens de Charles Mason, esses sim representam o mal. E, nesse sentido, Tarantino não se furta de querer mostrar o mal como definitivamente mal, como fez com os nazistas em BASTARDOS INGLÓRIOS. Pode ser uma visão simplista, mas o modo como o diretor lida com isso é de uma beleza que transcende a necessidade de maiores problematizações.
+ TRÊS FILMES
LISA E O DIABO (Lisa e il Diavolo / Lisa and the Devil)
Pelo pouco que eu li de bastidores este parece ser o SOBERBA do Mario Bava, com a vantagem que foi um filme que conseguiu ter a suposta versão do diretor lançada posteriormente, já quando o cineasta faleceu. É uma obra estranha, bem delirante, que me lembrou CARNIVAL OF SOULS. Engraçado isso, já que CARNIVAL havia me lembrado um dos Bavas. Aqui se tem em comum a mulher perambulando perdida, a presença dos mortos que ressurgem, muitas cenas de climão, mas soma-se aí muitas cores na fotografia (bonita mesmo) e um romantismo que eu não esperava, lá pelo final. Romantismo no sentido amplo do termo, digo. Destaque para a participação da Alida Valli. Por mais que, de interpretação mesmo, só dê para destacar a naturalidade do Telly Savalas mesmo. Ano: 1973.
DUAS RAINHAS (Mary Queen of Scots)
Boa estreia de Josie Rourke, diretora mais ligada ao teatro. Ao contrário do que se pensa (inclusive pelo título brasileiro), a grande figura do filme é mesmo Saoirse Ronan. A rainha Elizabeth de Margot Robbie tem um papel importante, mas menor na trama, que tem o seu peso trágico, graças à própria história, aqui contada com muito mais minúcias do que no filme do John Ford. Ano: 2018.
SEVEN - OS SETE CRIMES CAPITAIS (Se7en)
Impulsionado pelo pessoal do Cinema na Varanda fui rever SEVEN, que tinha visto no cinema uma vez e outra em VHS. Mal lembrava do filme em si, só lampejos e do final impactante. Aliás, é engraçado isso: eu geralmente costumo esquecer dos finais dos filmes, menos dos impactantes. Com o tempo virou mesmo um clássico, embora eu ache que falte algo para se tornar excelente, não sei.. Mas é muito bom de ver e a trilha do Howard Shore é uma das mais felizes de sua carreira. Dramática e tensa, especialmente no final. Direção: David Fincher. Ano: 1995.
segunda-feira, agosto 12, 2019
BLOQUEIO
Quentin Delaroche já havia dirigido um ótimo filme sobre o cenário político recente do Brasil, CAMOCIM (2017), que funcionou como uma espécie de espelho da sociedade brasileira. Em BLOQUEIO (2018), somos reapresentados a um caso que aconteceu no ano passado e que gerou uma forte repercussão, a paralisação nacional dos caminhoneiros. E tem acontecido tanta coisa de 2018 para cá que quase esquecemos este momento em que o Brasil quase parou. O filme também lembra que o comportamento de boa parte dos grevistas era muito próximo de um bolsonarismo, como se aquela ação, de modo não deliberado, tivesse ajudado a chocar o ovo da serpente.
Assinado por Delaroche e por Victória Álvarez, o filme tem uma estrutura bastante simples: os diretores, ao verem que aquela situação poderia ser interessante o suficiente para gerar um filme para cinema, se dirigiram até um dos locais de concentração. Como o documentário é o gênero cinematográfico que mais depende do acaso para seu sucesso, podemos dizer que um dos problemas de BLOQUEIO está na ausência de personagens marcantes.
O que o documentário mais enfatiza na luta dos caminhoneiros por melhores condições de trabalho é o que há de mais controverso em seu discurso: o socorro através de uma intervenção militar. E isso acaba se tornando ridículo quando eles são forçados a encerrar a greve devido à chegada da polícia do exército. O próprio diretor pergunta a um deles, que é mal tratado por um dos militares: mas não é a eles que vocês estão pedindo socorro?
Depois de discursos desse tipo e orações de grupos evangélicos, um sopro de sobriedade surge quando dois professores chegam para discutir com o grupo, tratando justamente da questão da intervenção militar como solução para todos os problemas do Brasil, para o fim da corrupção etc. Ordem e progresso, a bandeira do Brasil, o Hino Nacional, todos esses símbolos que acabaram sendo apropriados pela direita, são abraçados pelos grevistas. E há um sentimento misto na cena em que eles cantam o Hino Nacional. Que momento esse em que vivemos, hein.
+ TRÊS FILMES
O OLHO E A FACA
Quanta mudança de RIOCORRENTE (2013), tão cheio de alegorias visuais, para este novo trabalho de Paulo Sacramento, um pouco mais simples na forma, mas que aposta no tom de opressão. Opressão no trabalho, opressão na família do personagem de Rodrigo Lombardi. O diálogo com Caco Ciocler é perturbador; a cena de sexo com Débora Nascimento é animadora, as cenas com a família são incômodas, mas muito boas. Algo parece ter se perdido, mas ainda assim é um filme que merece ser visto com interesse. Ano: 2019.
MARCIA HAYDÉE – UMA VIDA PELA DANÇA
Eu, como leigo que sou em matéria de dança, desconhecia a existência da maior bailarina do Brasil (pelo que entendi no documentário). Bom ter um documentário exibido nos cinemas para nos apresentar a ela, por mais que o formato seja um tanto quadrado. Acredito que seja um filme mais apreciado pelos fãs de ballet e dança moderna também, já que ela foi uma que "contaminou" o ballet clássico com a modernidade. Direção: Daniela Kullman. Ano: 2018.
FEVEREIROS
Faltam-me identificação e sentimento de proximidade para gostar mais deste filme. Já que nem sou de família católica e nem do candomblé, acho que acabei vendo tudo com muito distanciamento. Ainda assim, com algum interesse, principalmente pelo fato de a personagem em questão ser Maria Bethânia e o filme também tratar de sua infância (dela e de Caetano Veloso, que me interessa mais). E tem o fato de a Bahia ser um mundo singular. Direção: Marcio Debellian. Ano: 2017.
Assinado por Delaroche e por Victória Álvarez, o filme tem uma estrutura bastante simples: os diretores, ao verem que aquela situação poderia ser interessante o suficiente para gerar um filme para cinema, se dirigiram até um dos locais de concentração. Como o documentário é o gênero cinematográfico que mais depende do acaso para seu sucesso, podemos dizer que um dos problemas de BLOQUEIO está na ausência de personagens marcantes.
O que o documentário mais enfatiza na luta dos caminhoneiros por melhores condições de trabalho é o que há de mais controverso em seu discurso: o socorro através de uma intervenção militar. E isso acaba se tornando ridículo quando eles são forçados a encerrar a greve devido à chegada da polícia do exército. O próprio diretor pergunta a um deles, que é mal tratado por um dos militares: mas não é a eles que vocês estão pedindo socorro?
Depois de discursos desse tipo e orações de grupos evangélicos, um sopro de sobriedade surge quando dois professores chegam para discutir com o grupo, tratando justamente da questão da intervenção militar como solução para todos os problemas do Brasil, para o fim da corrupção etc. Ordem e progresso, a bandeira do Brasil, o Hino Nacional, todos esses símbolos que acabaram sendo apropriados pela direita, são abraçados pelos grevistas. E há um sentimento misto na cena em que eles cantam o Hino Nacional. Que momento esse em que vivemos, hein.
+ TRÊS FILMES
O OLHO E A FACA
Quanta mudança de RIOCORRENTE (2013), tão cheio de alegorias visuais, para este novo trabalho de Paulo Sacramento, um pouco mais simples na forma, mas que aposta no tom de opressão. Opressão no trabalho, opressão na família do personagem de Rodrigo Lombardi. O diálogo com Caco Ciocler é perturbador; a cena de sexo com Débora Nascimento é animadora, as cenas com a família são incômodas, mas muito boas. Algo parece ter se perdido, mas ainda assim é um filme que merece ser visto com interesse. Ano: 2019.
MARCIA HAYDÉE – UMA VIDA PELA DANÇA
Eu, como leigo que sou em matéria de dança, desconhecia a existência da maior bailarina do Brasil (pelo que entendi no documentário). Bom ter um documentário exibido nos cinemas para nos apresentar a ela, por mais que o formato seja um tanto quadrado. Acredito que seja um filme mais apreciado pelos fãs de ballet e dança moderna também, já que ela foi uma que "contaminou" o ballet clássico com a modernidade. Direção: Daniela Kullman. Ano: 2018.
FEVEREIROS
Faltam-me identificação e sentimento de proximidade para gostar mais deste filme. Já que nem sou de família católica e nem do candomblé, acho que acabei vendo tudo com muito distanciamento. Ainda assim, com algum interesse, principalmente pelo fato de a personagem em questão ser Maria Bethânia e o filme também tratar de sua infância (dela e de Caetano Veloso, que me interessa mais). E tem o fato de a Bahia ser um mundo singular. Direção: Marcio Debellian. Ano: 2017.
quinta-feira, agosto 08, 2019
DOR E GLÓRIA (Dolor y Gloria)
Um dos momentos mais bonitos de DOR E GLÓRIA (2019) acontece quando o cineasta Salvador Mallo (Antonio Banderas), em clara emoção, percebe o quanto tocou positivamente a vida de alguém ao resgatar uma pintura escrita por um jovem rapaz a quem ele alfabetizou já quando criança. Pode ser também uma cena representativa do quanto somos gratos ao próprio Pedro Almodóvar pelo tanto que ele nos proporcionou ao longo de três décadas de cinema. Um cinema transgressor e transbordante de emoções.
Curiosamente, o novo trabalho do mais popular dos cineastas espanhóis é um dos mais contidos no que se refere à sua tradicional veia intensa na dramaticidade, que se traduz tanto no uso das cores fortes quanto, principalmente, nas interpretações e nos sentimentos. Daí ele se encontrar na categoria de cineasta que ganhou um adjetivo: almodovariano.
Desde A FLOR DO MEU SEGREDO (1995), sua filmografia tem passado por mudanças que já sinalizavam um estilo mais maduro, com uma tendência a fazer menos comédias e mais dramas um pouco mais sóbrios. A única exceção dessa fase recente foi OS AMANTES PASSAGEIROS (2013), curiosamente não muito bem recebido por vários fãs e por boa parte da crítica.
Se esses filmes de 1995 pra cá representam uma fase madura, DOR E GLÓRIA transparece ainda mais, inclusive por ser costumeiramente chamado de bio-ficção, por misturar supostamente eventos da vida pessoal do cineasta com histórias e personagens fictícios. A questão dos problemas de saúde de Salvador é um dos primeiros pontos que o filme trata, e o modo como isso é mostrado é muito inteligente e divertido, mas também algo com que possamos tanto nos identificar quanto nos solidarizar com o personagem.
Paralelamente, as memórias de infância de Salvador nos são apresentadas, com um especial carinho pela figura da mãe do cineasta, na fase mais jovem interpretada por Penélope Cruz, e na fase idosa por Julieta Serrano. Essas memórias irão entrecortar toda a narrativa fílmica, enquanto vemos o avanço daquele momento de quase aposentadoria de Salvador, quando ele se vê cansado e doente o suficiente para não se sentir capaz de voltar a um set de filmagens.
O filme, então, passa a tratar de reencontros. O reencontro com um ator com quem ele não trabalhava há mais de vinte anos (Asier Etxeandia) e, de maneira mais emocionante, o reencontro com uma paixão da juventude (Leonardo Sbaraglia). O primeiro representou a busca do protagonista por uma nova experiência, a heroína; o segundo trouxe lembranças boas e a certeza de que os momentos em que estiveram juntos foram positivamente essenciais para a vida e a obra do artista.
Mas nada mais emocionante que a questão da mãe, ao final do filme. Os diálogos de Salvador com a mãe, próxima da morte e já dizendo como gostaria de ser enterrada, além de falar sobre questões sobre aceitação, no que concerne principalmente à orientação sexual do diretor, e à dificuldade do relacionamento entre os dois na fase adulta, tudo isso chega em um crescendo sutilmente intenso. Almodóvar trata isso com tanta delicadeza que as lágrimas descem de maneira também sutil.
Quanto a Antonio Banderas, ele vive o personagem de sua vida em DOR E GLÓRIA. E tendo em Almodóvar o principal responsável por apresentá-lo ao mundo, com filmes como MATADOR (1986), A LEI DO DESEJO (1987) e ATA-ME (1989), nada melhor do que tê-lo novamente, e que até então se mostrava um tanto limitado, dessa vez em um papel lindo e comovente como o de Salvador Mallo. Seu prêmio de melhor ator em Cannes foi mais do que merecido.
+ TRÊS FILMES
GRAÇAS A DEUS (Grâce à Dieu)
François Ozon tem domínio narrativo, mas, embora este filme pareça uma espécie de cruzamento entre SPOTLIGHT - SEGREDOS REVELADOS e 120 BATIMENTOS POR MINUTO, não tem o mesmo dinamismo do primeiro nem a mesma paixão do segundo. Também pode remeter ao MÁ EDUCAÇÃO, do Almodóvar, pela temática. Em outros tempos, poderia causar polêmica, mas hoje em dia os escândalos envolvendo padres pedófilos já se tornaram, infelizmente, comuns. O lado positivo é que as pessoas estão contando mais e se livrando um pouco mais de seus demônios pessoais. Bom o fato de o filme ter vários núcleos, sendo três os personagens mais importantes. Ano: 2018.
JORNADA DA VIDA (Yao)
Um filme que conecta os sentimentos que tivemos de algo de nossa vida a partir de cenas simples e ternas. A história do menino Yao que resolve ir de sua vila no meio do deserto do Senegal até Qatar para conhecer o ator famoso vivido por Omar Sy. Destaque para a química entre os dois, para os sorrisos que passam uma alegria de viver contagiante. Sy já é desses atores que esbanjam carisma. Um papel como esse lhe cai como uma luva. Mas o menino também é ótimo. Direção: Philippe Godeau. Ano: 2018.
QUERIDO MENINO (Beautiful Boy)
Gosto de muitas coisas do filme, mas ele não funciona direito como um todo. Acaba dependendo demais de seus atores e atrizes (adorei ver Maura Tierney na telona - baita atriz!). Queria ter me emocionado tanto quanto me emocionei com ALABAMA MONROE, o filme do diretor na Bélgica. Steve Carell cada vez mais à vontade em papéis sérios. Nesse eu não lembrei em nenhuma vez do Michael de THE OFFICE. Direção: Felix van Groeningen. Ano: 2018.
Curiosamente, o novo trabalho do mais popular dos cineastas espanhóis é um dos mais contidos no que se refere à sua tradicional veia intensa na dramaticidade, que se traduz tanto no uso das cores fortes quanto, principalmente, nas interpretações e nos sentimentos. Daí ele se encontrar na categoria de cineasta que ganhou um adjetivo: almodovariano.
Desde A FLOR DO MEU SEGREDO (1995), sua filmografia tem passado por mudanças que já sinalizavam um estilo mais maduro, com uma tendência a fazer menos comédias e mais dramas um pouco mais sóbrios. A única exceção dessa fase recente foi OS AMANTES PASSAGEIROS (2013), curiosamente não muito bem recebido por vários fãs e por boa parte da crítica.
Se esses filmes de 1995 pra cá representam uma fase madura, DOR E GLÓRIA transparece ainda mais, inclusive por ser costumeiramente chamado de bio-ficção, por misturar supostamente eventos da vida pessoal do cineasta com histórias e personagens fictícios. A questão dos problemas de saúde de Salvador é um dos primeiros pontos que o filme trata, e o modo como isso é mostrado é muito inteligente e divertido, mas também algo com que possamos tanto nos identificar quanto nos solidarizar com o personagem.
Paralelamente, as memórias de infância de Salvador nos são apresentadas, com um especial carinho pela figura da mãe do cineasta, na fase mais jovem interpretada por Penélope Cruz, e na fase idosa por Julieta Serrano. Essas memórias irão entrecortar toda a narrativa fílmica, enquanto vemos o avanço daquele momento de quase aposentadoria de Salvador, quando ele se vê cansado e doente o suficiente para não se sentir capaz de voltar a um set de filmagens.
O filme, então, passa a tratar de reencontros. O reencontro com um ator com quem ele não trabalhava há mais de vinte anos (Asier Etxeandia) e, de maneira mais emocionante, o reencontro com uma paixão da juventude (Leonardo Sbaraglia). O primeiro representou a busca do protagonista por uma nova experiência, a heroína; o segundo trouxe lembranças boas e a certeza de que os momentos em que estiveram juntos foram positivamente essenciais para a vida e a obra do artista.
Mas nada mais emocionante que a questão da mãe, ao final do filme. Os diálogos de Salvador com a mãe, próxima da morte e já dizendo como gostaria de ser enterrada, além de falar sobre questões sobre aceitação, no que concerne principalmente à orientação sexual do diretor, e à dificuldade do relacionamento entre os dois na fase adulta, tudo isso chega em um crescendo sutilmente intenso. Almodóvar trata isso com tanta delicadeza que as lágrimas descem de maneira também sutil.
Quanto a Antonio Banderas, ele vive o personagem de sua vida em DOR E GLÓRIA. E tendo em Almodóvar o principal responsável por apresentá-lo ao mundo, com filmes como MATADOR (1986), A LEI DO DESEJO (1987) e ATA-ME (1989), nada melhor do que tê-lo novamente, e que até então se mostrava um tanto limitado, dessa vez em um papel lindo e comovente como o de Salvador Mallo. Seu prêmio de melhor ator em Cannes foi mais do que merecido.
+ TRÊS FILMES
GRAÇAS A DEUS (Grâce à Dieu)
François Ozon tem domínio narrativo, mas, embora este filme pareça uma espécie de cruzamento entre SPOTLIGHT - SEGREDOS REVELADOS e 120 BATIMENTOS POR MINUTO, não tem o mesmo dinamismo do primeiro nem a mesma paixão do segundo. Também pode remeter ao MÁ EDUCAÇÃO, do Almodóvar, pela temática. Em outros tempos, poderia causar polêmica, mas hoje em dia os escândalos envolvendo padres pedófilos já se tornaram, infelizmente, comuns. O lado positivo é que as pessoas estão contando mais e se livrando um pouco mais de seus demônios pessoais. Bom o fato de o filme ter vários núcleos, sendo três os personagens mais importantes. Ano: 2018.
JORNADA DA VIDA (Yao)
Um filme que conecta os sentimentos que tivemos de algo de nossa vida a partir de cenas simples e ternas. A história do menino Yao que resolve ir de sua vila no meio do deserto do Senegal até Qatar para conhecer o ator famoso vivido por Omar Sy. Destaque para a química entre os dois, para os sorrisos que passam uma alegria de viver contagiante. Sy já é desses atores que esbanjam carisma. Um papel como esse lhe cai como uma luva. Mas o menino também é ótimo. Direção: Philippe Godeau. Ano: 2018.
QUERIDO MENINO (Beautiful Boy)
Gosto de muitas coisas do filme, mas ele não funciona direito como um todo. Acaba dependendo demais de seus atores e atrizes (adorei ver Maura Tierney na telona - baita atriz!). Queria ter me emocionado tanto quanto me emocionei com ALABAMA MONROE, o filme do diretor na Bélgica. Steve Carell cada vez mais à vontade em papéis sérios. Nesse eu não lembrei em nenhuma vez do Michael de THE OFFICE. Direção: Felix van Groeningen. Ano: 2018.
quarta-feira, agosto 07, 2019
FAIXA VERMELHA 7000 (Red Line 7000)
Mais um filme de Howard Hawks visto. Ainda bem que ele tem uma obra tão vasta que costuma faltar um ou outro para ver pela dificuldade de achar. FAIXA VERMELHA 7000 (1965) estava entre as minhas lacunas e é uma de suas obras menos inspiradas e mais problemáticas. Ele admite isso na entrevista a Peter Bogdanovich, presente no livro Afinal, Quem Faz os Filmes. Reclama da atriz que faz a moça azarada (Gail Hire), que quis dar uma de estrela nas filmagens depois que passou no teste e atrapalhou muito, fala que o filme não presta, embora seja uma obra tida entre os melhores trabalhos do cineasta por muitos críticos europeus.
No meu caso, é o seguinte: percebo que é um filme problemático, mas o fato de ser uma autêntico Hawks, por mais torto que seja, traz um prazer de ver especial. Além do mais, há cenas muito boas, especialmente as protagonizadas pelo jovem James Caan, um talentoso piloto de corridas, e por Marianna Hill, que faz a francesa que ingressa naquele novo mundo da velocidade e dos constantes acidentes automobilísticos.
O fato de o filme não ter uma trilha sonora acaba sendo um aspecto interessante. As cenas de corrida dão destaque para o arranque do motor e para o som dos freios e das batidas dos carros. Senti falta de mais emoção nas sequências dos pilotos dentro dos carros. Não nos sentimos lá. Bem diferente dos filmes de aviação de Hawks, que nos fazem entrar naqueles aviões frágeis e sentir um frio na barriga. Mas tudo bem, já que sabemos que as filmagens das corridas são autênticas e as dos pilotos dentro dos carros são coisas de estúdio.
Uma característica bem hawksiana que aparece também aqui é o fato de haver a presença da morte seguida de uma espécie de celebração da vida. Ou seja, mesmo depois que determinado personagem morre, como acontece logo no começo, todos os demais lamentam, ficam tristes, mas tentam jogar a tristeza para o alto e seguir vivendo a vida da melhor maneira possível. É a atitude que eles tomam. Por isso dois desses colegas temem conversar com a namorada do piloto falecido, mas acabam se surpreendendo com a moça ouvindo música alta no quarto, como se estivesse em uma festa.
Uma personagem que me agrada é a de Laura Devon, que interpreta uma mulher um tanto insegura. Gosto da cena em que ela está na cama com o namorado (John Robert Crawford) e faz rodeios para perguntar se ele a acha sexy, ou tão sexy quanto as outras mulheres que ele já encontrou na vida. Essas cenas de intimidade entre os personagens acabam sendo os pontos altos do filme, especialmente perto do final, com uma maior aproximação dos personagens de Caan e Hill.
Felizmente Hawks ainda faria mais outros dois filmes antes de encerrar sua carreira, mais dois westerns com John Wayne, EL DORADO (1967) e RIO LOBO (1970), encerrando, assim, uma das mais brilhantes obras do cinema mundial.
+ TRÊS FILMES
O PASSAGEIRO (The Commuter)
Impressionante este novo filme da parceria Jaume Collet-Serra/Liam Neeson. Ao mesmo tempo, parece muito ruim, graças aos seus diálogos e os efeitos especiais um tanto estranhos, mas é também muito admirável, do ponto de vista da direção, que inclusive tem a coragem de fazer uma cena tão incrível quanto a da cena da guitarra. Ano: 2018.
MIB: HOMENS DE PRETO - INTERNACIONAL (Men in Black - International)
O que salva o filme, em alguns aspectos, é apenas a química entre Chris Hemsworth (que encontrou o seu tom através da comédia) e Tessa Thompson, representando um novo momento para a franquia. Mas é uma franquia que nunca me agradou de fato. E este filme eme especial não tem um momento sequer que segure o espectador no chão. Tudo é contado de maneira tão descontraída que não nos importamos com nada ou ninguém. É filme para esquecer rapidinho. Direção: F. Gary Gray. Ano: 2019.
JOGADOR Nº 1 (Ready Player One)
Só pela homenagem genial a certo filme de Stanley Kubrick o filme já mereceria os aplausos. Há coisas que não me animaram tanto, como alguns excessos nas cenas de ação em animação, mas em outros momentos ficava maravilhado. Além do mais, nunca vi o próprio Steven Spielberg tão bem retratado em um protagonista de seus filmes como no personagem de Tye Sheridan. E vai ser nerd assim lá na casa do Chico, Spielba! Ano: 2018.
No meu caso, é o seguinte: percebo que é um filme problemático, mas o fato de ser uma autêntico Hawks, por mais torto que seja, traz um prazer de ver especial. Além do mais, há cenas muito boas, especialmente as protagonizadas pelo jovem James Caan, um talentoso piloto de corridas, e por Marianna Hill, que faz a francesa que ingressa naquele novo mundo da velocidade e dos constantes acidentes automobilísticos.
O fato de o filme não ter uma trilha sonora acaba sendo um aspecto interessante. As cenas de corrida dão destaque para o arranque do motor e para o som dos freios e das batidas dos carros. Senti falta de mais emoção nas sequências dos pilotos dentro dos carros. Não nos sentimos lá. Bem diferente dos filmes de aviação de Hawks, que nos fazem entrar naqueles aviões frágeis e sentir um frio na barriga. Mas tudo bem, já que sabemos que as filmagens das corridas são autênticas e as dos pilotos dentro dos carros são coisas de estúdio.
Uma característica bem hawksiana que aparece também aqui é o fato de haver a presença da morte seguida de uma espécie de celebração da vida. Ou seja, mesmo depois que determinado personagem morre, como acontece logo no começo, todos os demais lamentam, ficam tristes, mas tentam jogar a tristeza para o alto e seguir vivendo a vida da melhor maneira possível. É a atitude que eles tomam. Por isso dois desses colegas temem conversar com a namorada do piloto falecido, mas acabam se surpreendendo com a moça ouvindo música alta no quarto, como se estivesse em uma festa.
Uma personagem que me agrada é a de Laura Devon, que interpreta uma mulher um tanto insegura. Gosto da cena em que ela está na cama com o namorado (John Robert Crawford) e faz rodeios para perguntar se ele a acha sexy, ou tão sexy quanto as outras mulheres que ele já encontrou na vida. Essas cenas de intimidade entre os personagens acabam sendo os pontos altos do filme, especialmente perto do final, com uma maior aproximação dos personagens de Caan e Hill.
Felizmente Hawks ainda faria mais outros dois filmes antes de encerrar sua carreira, mais dois westerns com John Wayne, EL DORADO (1967) e RIO LOBO (1970), encerrando, assim, uma das mais brilhantes obras do cinema mundial.
+ TRÊS FILMES
O PASSAGEIRO (The Commuter)
Impressionante este novo filme da parceria Jaume Collet-Serra/Liam Neeson. Ao mesmo tempo, parece muito ruim, graças aos seus diálogos e os efeitos especiais um tanto estranhos, mas é também muito admirável, do ponto de vista da direção, que inclusive tem a coragem de fazer uma cena tão incrível quanto a da cena da guitarra. Ano: 2018.
MIB: HOMENS DE PRETO - INTERNACIONAL (Men in Black - International)
O que salva o filme, em alguns aspectos, é apenas a química entre Chris Hemsworth (que encontrou o seu tom através da comédia) e Tessa Thompson, representando um novo momento para a franquia. Mas é uma franquia que nunca me agradou de fato. E este filme eme especial não tem um momento sequer que segure o espectador no chão. Tudo é contado de maneira tão descontraída que não nos importamos com nada ou ninguém. É filme para esquecer rapidinho. Direção: F. Gary Gray. Ano: 2019.
JOGADOR Nº 1 (Ready Player One)
Só pela homenagem genial a certo filme de Stanley Kubrick o filme já mereceria os aplausos. Há coisas que não me animaram tanto, como alguns excessos nas cenas de ação em animação, mas em outros momentos ficava maravilhado. Além do mais, nunca vi o próprio Steven Spielberg tão bem retratado em um protagonista de seus filmes como no personagem de Tye Sheridan. E vai ser nerd assim lá na casa do Chico, Spielba! Ano: 2018.
segunda-feira, agosto 05, 2019
NO CORAÇÃO DO MUNDO
No cinema brasileiro contemporâneo é possível dizer que, se há uma cidadezinha que se tornou presente com bastante frequência em muitos filmes, é a cidade de Contagem, localizada próximo a Belo Horizonte, tendo aparecido em filmes diversos, especialmente os de André Novais Oliveira. Junto com André, Gabriel Martins, Maurílio Martins e Thiago Macêdo Correia, eles encabeçam a produtora Filmes de Plástico, que rendeu obras importantes como ELA VOLTA NA QUINTA (2015), TEMPORADA (2018) e vários curtas de sucesso de crítica e com participação em festivais nacionais e internacionais. Neste ano, a produtora está comemorando 10 anos de existência.
E o filme de comemoração desses 10 anos é um dos melhores da safra dessa turma de Contagem. NO CORAÇÃO DO MUNDO (2019), da dupla Gabriel Martins e Maurílio Martins, parece um trabalho de dois cineastas veteranos, tal a segurança narrativa. E não é fácil ter que dar conta de tantos personagens, lhes dar dimensões suficientemente profundas, trabalhando tanto com atores experientes quanto com iniciantes.
Mas NO CORAÇÃO DO MUNDO vai além de ser apenas um filme bem-feito. O que temos aqui é um trabalho que lida com questões sociais, econômicas e existenciais dos moradores de uma pequena cidade, feito por gente com intimidade na geografia humana do local. Até temos alguns momentos em que o sotaque e o jeito naturalista com que os atores/personagens dialogam soam um pouco difícil para ouvidos não-mineiros, mas aos poucos nos acostumamos.
A trama básica de golpe lembra um pouco a de COMO É CRUEL VIVER ASSIM, de Julia Rezende, mas o golpe em si, ainda que um dos pontos bem altos da trama, não é o mais importante. O filme constrói bases firmes para que nos importemos com personagens, mesmo sabendo que estão fazendo uma burrada atrás da outra. Um personagem como Marcos (Leo Pyrata), por exemplo, é incrivelmente interessante, mesmo sendo tão questionável do ponto de vista do caráter.
O filme começa com a comemoração do aniversário de Marcos. Sua noiva, a trocadora de ônibus Ana (Kelly Crifer), o surpreende com uma daquelas declarações de amor constrangedoras com carros de som. Isso já dá o tom do ambiente de periferia, que se explicita ainda mais quando adentramos as casas e os estabelecimentos comerciais daquelas pessoas. Todos os personagens vivem em função de trabalhos que rendem muito pouco para sua subsistência; outros tentam uma saída através de golpes, como é o caso do já citado Marcos.
O grande golpe, no entanto, terá como mentor intelectual Selma (Grace Passô), que, consciente de sua condição de negra, acredita que, para o melhor sucesso de seu plano, será necessária a presença ativa de Ana, a namorada de Marcos, que até então nunca havia participado das tretas dele. As cenas de suspense da tal cena do golpe são de prender a respiração.
No mais, como não destacar as cenas da cantora e ativista MC Carol, em suas conversas com Marcos? E as participações afetivas de dois atores já consagrados? E a presença de personagens tão carismáticos como Beto (Renato Novaes), Miro (Robert Frank) e Rose (Bárbara Colen)? Não é todo dia que vemos um filme como este. Não é sempre que vemos o cinema brasileiro tão pulsante, surgindo em um momento de tanto desmanche cultural. Sigamos em frente, que o futuro pode ser ainda mais brilhante.
+ TRÊS FILMES
PRAÇA PARIS
O filme inicialmente traz um interessante contraste entre o estilo de vida burguês da terapeuta vivida pela portuguesa Joana de Verona e da mulher (Grace Passô) que sofre na pele as dores da desigualdade social brasileira. Pena que depois o filme vai se transformando em outra coisa, acentuando os medos da portuguesa do Brasil. Isso chega a incomodar bastante, especialmente quando o filme se aproxima de sua conclusão. Aí o fado que inicia o filme e nos anima a ver a obra não tem o mesmo sabor quando encerra a história nos créditos finais. Melhor filme que eu vi da Lúcia Murat até agora foi o doc EM TRÊS ATOS (2015), mas não cheguei a ver muito de seu trabalho. Ano: 2017.
DESTERRO
Gosto de como o filme tem liberdades que não se vê em tantas obras. É uma obra intimista, feminina, com um pé no passado (a máquina de escrever) e outra no presente. Fiquei sem entender as cenas com os animais em ampliação do mundo micro em macro, mas talvez seja para ampliar os sentidos e sensações. As cenas retiradas de imagens de arquivo da família da diretora são ótimas e funcionam bem na colagem com as cenas novas, que se passam no Rio, no Ceará e na Paraíba. Só fiquei querendo me conectar mais com o sentimento da protagonista, mas não consegui. Mas isso vai de cada um. Direção: Caroline D'Ávila e Sandro Langer. Ano: 2019.
COMO É CRUEL VIVER ASSIM
Talvez o filme mais plasticamente bonito da Julia Rezende. E o que tem um compromisso menor com o comercial. A história é de um grupo de cabeças de vento que planejam um sequestro como forma de sair da merda. E o filme tem um ar de comédia misturado com tristeza que o torna bem único. Acredito que se visto no cinema eu teria me envolvido mais, tanto no aspecto cômico quanto no dramático. Excelente o elenco. Já conhecia bem a Fabiula Nascimento, mas fiquei impressionado com o Marcelo Valle. Não lembro dele de outro filme. Outro ponto positivo do filme é o quanto ele transgride o filão dos filmes de sequestro. Ano: 2018.
E o filme de comemoração desses 10 anos é um dos melhores da safra dessa turma de Contagem. NO CORAÇÃO DO MUNDO (2019), da dupla Gabriel Martins e Maurílio Martins, parece um trabalho de dois cineastas veteranos, tal a segurança narrativa. E não é fácil ter que dar conta de tantos personagens, lhes dar dimensões suficientemente profundas, trabalhando tanto com atores experientes quanto com iniciantes.
Mas NO CORAÇÃO DO MUNDO vai além de ser apenas um filme bem-feito. O que temos aqui é um trabalho que lida com questões sociais, econômicas e existenciais dos moradores de uma pequena cidade, feito por gente com intimidade na geografia humana do local. Até temos alguns momentos em que o sotaque e o jeito naturalista com que os atores/personagens dialogam soam um pouco difícil para ouvidos não-mineiros, mas aos poucos nos acostumamos.
A trama básica de golpe lembra um pouco a de COMO É CRUEL VIVER ASSIM, de Julia Rezende, mas o golpe em si, ainda que um dos pontos bem altos da trama, não é o mais importante. O filme constrói bases firmes para que nos importemos com personagens, mesmo sabendo que estão fazendo uma burrada atrás da outra. Um personagem como Marcos (Leo Pyrata), por exemplo, é incrivelmente interessante, mesmo sendo tão questionável do ponto de vista do caráter.
O filme começa com a comemoração do aniversário de Marcos. Sua noiva, a trocadora de ônibus Ana (Kelly Crifer), o surpreende com uma daquelas declarações de amor constrangedoras com carros de som. Isso já dá o tom do ambiente de periferia, que se explicita ainda mais quando adentramos as casas e os estabelecimentos comerciais daquelas pessoas. Todos os personagens vivem em função de trabalhos que rendem muito pouco para sua subsistência; outros tentam uma saída através de golpes, como é o caso do já citado Marcos.
O grande golpe, no entanto, terá como mentor intelectual Selma (Grace Passô), que, consciente de sua condição de negra, acredita que, para o melhor sucesso de seu plano, será necessária a presença ativa de Ana, a namorada de Marcos, que até então nunca havia participado das tretas dele. As cenas de suspense da tal cena do golpe são de prender a respiração.
No mais, como não destacar as cenas da cantora e ativista MC Carol, em suas conversas com Marcos? E as participações afetivas de dois atores já consagrados? E a presença de personagens tão carismáticos como Beto (Renato Novaes), Miro (Robert Frank) e Rose (Bárbara Colen)? Não é todo dia que vemos um filme como este. Não é sempre que vemos o cinema brasileiro tão pulsante, surgindo em um momento de tanto desmanche cultural. Sigamos em frente, que o futuro pode ser ainda mais brilhante.
+ TRÊS FILMES
PRAÇA PARIS
O filme inicialmente traz um interessante contraste entre o estilo de vida burguês da terapeuta vivida pela portuguesa Joana de Verona e da mulher (Grace Passô) que sofre na pele as dores da desigualdade social brasileira. Pena que depois o filme vai se transformando em outra coisa, acentuando os medos da portuguesa do Brasil. Isso chega a incomodar bastante, especialmente quando o filme se aproxima de sua conclusão. Aí o fado que inicia o filme e nos anima a ver a obra não tem o mesmo sabor quando encerra a história nos créditos finais. Melhor filme que eu vi da Lúcia Murat até agora foi o doc EM TRÊS ATOS (2015), mas não cheguei a ver muito de seu trabalho. Ano: 2017.
DESTERRO
Gosto de como o filme tem liberdades que não se vê em tantas obras. É uma obra intimista, feminina, com um pé no passado (a máquina de escrever) e outra no presente. Fiquei sem entender as cenas com os animais em ampliação do mundo micro em macro, mas talvez seja para ampliar os sentidos e sensações. As cenas retiradas de imagens de arquivo da família da diretora são ótimas e funcionam bem na colagem com as cenas novas, que se passam no Rio, no Ceará e na Paraíba. Só fiquei querendo me conectar mais com o sentimento da protagonista, mas não consegui. Mas isso vai de cada um. Direção: Caroline D'Ávila e Sandro Langer. Ano: 2019.
COMO É CRUEL VIVER ASSIM
Talvez o filme mais plasticamente bonito da Julia Rezende. E o que tem um compromisso menor com o comercial. A história é de um grupo de cabeças de vento que planejam um sequestro como forma de sair da merda. E o filme tem um ar de comédia misturado com tristeza que o torna bem único. Acredito que se visto no cinema eu teria me envolvido mais, tanto no aspecto cômico quanto no dramático. Excelente o elenco. Já conhecia bem a Fabiula Nascimento, mas fiquei impressionado com o Marcelo Valle. Não lembro dele de outro filme. Outro ponto positivo do filme é o quanto ele transgride o filão dos filmes de sequestro. Ano: 2018.
domingo, agosto 04, 2019
O BAR LUVA DOURADA (Der Goldene Handschuh)
Um dos grandes méritos de O BAR LUVA DOURADA (2019), o novo trabalho de Fatih Akin, é conseguir contar a história de um psicopata levando o espectador para um universo que muito se assemelha a um inferno na Terra, ao mais fundo que um ser humano pode chegar. Não apenas o drama do assassino alemão Fritz Honka (Jonas Dassler, soterrado em uma camada de próteses para compor a figura disforme do personagem), mas também as figuras que frequentam o tal bar que dá título ao filme.
A fotografia do filme, sem muitos filtros embelezadores, ajuda a tornar tudo muito feio. Assim, as mulheres que se prostituem no lugar são senhoras idosas dependentes de álcool que transam por uma ou mais doses. É assim que algumas delas vão parar na casa fétida de Honka. O mau cheiro se deve ao cheiro dos corpos das vítimas em estado de putrefação. Ele, por ser visto como um homem muito feio, é rejeitado por algumas mulheres. Outras não veem isso como um problema.
O filme já começa com uma cena em que Honka tenta se desfazer do corpo de uma delas, cortando em pedaços com um serrote. As imagens não são muito gráficas como em A CASA QUE JACK CONSTRUIU, de Lars von Trier, ou outros filmes mais explícitos, mas o mal estar é constante devido ao caráter grotesco das cenas e principalmente do próprio personagem, que responde com ainda mais violência sempre que se mostra frustrado sexualmente. Importante lembrar que a única personagem que aparece em um registro de beleza de modelo é uma moça loira que Honka encontra e que passa a povoar os seus sonhos.
Diferente do que acontece em um outro filme de serial killer recente, TED BUNDY - A IRRESISTÍVEL FACE DO MAL, de Joe Berlinger, que faz com que o público simpatize com o assassino, o assassino de O BAR LUVA DOURADA é totalmente despido de glamour. É ridicularizado em sua busca por mulheres que não consegue ter, no seu físico corcunda e em seu estrabismo, nas suas tentativas de ter uma ereção com fotos de mulher nua estampadas na parede de sua casa para penetrar, em vão, suas clientes/vítimas, e no modo violento com que trata em especial uma das mulheres que chega em sua casa para trabalhar para ele.
Ainda assim, há um olhar humano do diretor para o próprio Honka e principalmente para os outros personagens, todos eles solitários, desvalidos, alcoólatras, esquecidos pelo resto da humanidade. O Bar Luva Dourada parece uma espécie de oposto ao que se chama de oásis. Mesmo quando o filme muda de tom e Honka arranja um emprego de vigilante, as novas pessoas que se apresentam também são almas muito tristes, embora a ambientação mude positivamente, com uma luz mais clara do ambiente de trabalho.
Fatih Akin havia filmado algumas cenas do passado de Honka, de modo a mostrar os abusos que ele sofreu na infância, mas depois resolveu retirar essas cenas da edição final por achar que isso soasse como uma desculpa para uma pessoa se tornar um assassino serial. Assim o filme não tem essa preocupação em contar uma história do personagem nos moldes tradicionais, mas apenas de um determinado recorte no tempo.
Assim, por mais que saiamos do cinema sem saber direito se gostamos ou não do filme, o importante é que é dessas obras cujas imagens não sairão com muita facilidade de nossa memória.
+ TRÊS FILMES
TED BUNDY - A IRRESISTÍVEL FACE DO MAL (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile)
Uma surpresa positiva pra mim este filme sobre Ted Bundy, um dos mais famosos serial killers de todos os tempos. Conhecia muito pouco de sua história e aprendi bastante com este filme, que surpreende por até mesmo dar um benefício da dúvida sobre os crimes de Bundy durante praticamente toda sua duração. E por ser tanto um drama de tribunal, quanto um drama sobre a situação triste de uma mulher apaixonada. No caso, a mulher de Bundy, interpretada por Lily Collins. Zac Efron está muito bom como o sujeito bonito e conquistador. O diretor Joe Berlinger é especializado em documentários; fez, inclusive, aquele sobre o Metallica, SOME KIND OF MONSTER. James Hetfield aparece numa cena. O elenco de apoio também é cheio de curiosidades. Ano: 2019.
OBSESSÃO (Greta)
Um filme curioso em muitos aspectos, até pela presença de Isabelle Huppert no papel de uma psicopata. É mais um terror psicológico do que físico e nisso o diretor, um decadente Neil Jordan, se inspira um tanto em PACTO SINISTRO, de Alfred Hitchcock. Mas a semelhança acaba em determinado momento, quando a narrativa segue um outro caminho, mais interessante. Confesso que achei que o filme fosse dar um salto mais positivo, mas ao menos trouxe algo que não esperava apenas daquilo que o trailer apresenta. Ano: 2018.
UTøYA - 22 DE JULHO (Utøya 22. Juli)
O uso de um único plano-sequência com câmera na mão para contar a história de um ataque que pôs fim à vida de dezenas de jovens na ilha de Utøya em 2011 chega a impressionar como recurso técnico. E a atriz principal é ótima e dá pra ficar imaginando o trabalho que deu para montar tudo isso. Há também um filme de Paul Greengrass, que procura abordar o ocorrido de maneira mais convencional. No mais, nunca mais vou ouvir "True Colors" do mesmo jeito. Direção: Erik Poppe. Ano: 2018.
A fotografia do filme, sem muitos filtros embelezadores, ajuda a tornar tudo muito feio. Assim, as mulheres que se prostituem no lugar são senhoras idosas dependentes de álcool que transam por uma ou mais doses. É assim que algumas delas vão parar na casa fétida de Honka. O mau cheiro se deve ao cheiro dos corpos das vítimas em estado de putrefação. Ele, por ser visto como um homem muito feio, é rejeitado por algumas mulheres. Outras não veem isso como um problema.
O filme já começa com uma cena em que Honka tenta se desfazer do corpo de uma delas, cortando em pedaços com um serrote. As imagens não são muito gráficas como em A CASA QUE JACK CONSTRUIU, de Lars von Trier, ou outros filmes mais explícitos, mas o mal estar é constante devido ao caráter grotesco das cenas e principalmente do próprio personagem, que responde com ainda mais violência sempre que se mostra frustrado sexualmente. Importante lembrar que a única personagem que aparece em um registro de beleza de modelo é uma moça loira que Honka encontra e que passa a povoar os seus sonhos.
Diferente do que acontece em um outro filme de serial killer recente, TED BUNDY - A IRRESISTÍVEL FACE DO MAL, de Joe Berlinger, que faz com que o público simpatize com o assassino, o assassino de O BAR LUVA DOURADA é totalmente despido de glamour. É ridicularizado em sua busca por mulheres que não consegue ter, no seu físico corcunda e em seu estrabismo, nas suas tentativas de ter uma ereção com fotos de mulher nua estampadas na parede de sua casa para penetrar, em vão, suas clientes/vítimas, e no modo violento com que trata em especial uma das mulheres que chega em sua casa para trabalhar para ele.
Ainda assim, há um olhar humano do diretor para o próprio Honka e principalmente para os outros personagens, todos eles solitários, desvalidos, alcoólatras, esquecidos pelo resto da humanidade. O Bar Luva Dourada parece uma espécie de oposto ao que se chama de oásis. Mesmo quando o filme muda de tom e Honka arranja um emprego de vigilante, as novas pessoas que se apresentam também são almas muito tristes, embora a ambientação mude positivamente, com uma luz mais clara do ambiente de trabalho.
Fatih Akin havia filmado algumas cenas do passado de Honka, de modo a mostrar os abusos que ele sofreu na infância, mas depois resolveu retirar essas cenas da edição final por achar que isso soasse como uma desculpa para uma pessoa se tornar um assassino serial. Assim o filme não tem essa preocupação em contar uma história do personagem nos moldes tradicionais, mas apenas de um determinado recorte no tempo.
Assim, por mais que saiamos do cinema sem saber direito se gostamos ou não do filme, o importante é que é dessas obras cujas imagens não sairão com muita facilidade de nossa memória.
+ TRÊS FILMES
TED BUNDY - A IRRESISTÍVEL FACE DO MAL (Extremely Wicked, Shockingly Evil and Vile)
Uma surpresa positiva pra mim este filme sobre Ted Bundy, um dos mais famosos serial killers de todos os tempos. Conhecia muito pouco de sua história e aprendi bastante com este filme, que surpreende por até mesmo dar um benefício da dúvida sobre os crimes de Bundy durante praticamente toda sua duração. E por ser tanto um drama de tribunal, quanto um drama sobre a situação triste de uma mulher apaixonada. No caso, a mulher de Bundy, interpretada por Lily Collins. Zac Efron está muito bom como o sujeito bonito e conquistador. O diretor Joe Berlinger é especializado em documentários; fez, inclusive, aquele sobre o Metallica, SOME KIND OF MONSTER. James Hetfield aparece numa cena. O elenco de apoio também é cheio de curiosidades. Ano: 2019.
OBSESSÃO (Greta)
Um filme curioso em muitos aspectos, até pela presença de Isabelle Huppert no papel de uma psicopata. É mais um terror psicológico do que físico e nisso o diretor, um decadente Neil Jordan, se inspira um tanto em PACTO SINISTRO, de Alfred Hitchcock. Mas a semelhança acaba em determinado momento, quando a narrativa segue um outro caminho, mais interessante. Confesso que achei que o filme fosse dar um salto mais positivo, mas ao menos trouxe algo que não esperava apenas daquilo que o trailer apresenta. Ano: 2018.
UTøYA - 22 DE JULHO (Utøya 22. Juli)
O uso de um único plano-sequência com câmera na mão para contar a história de um ataque que pôs fim à vida de dezenas de jovens na ilha de Utøya em 2011 chega a impressionar como recurso técnico. E a atriz principal é ótima e dá pra ficar imaginando o trabalho que deu para montar tudo isso. Há também um filme de Paul Greengrass, que procura abordar o ocorrido de maneira mais convencional. No mais, nunca mais vou ouvir "True Colors" do mesmo jeito. Direção: Erik Poppe. Ano: 2018.
quinta-feira, agosto 01, 2019
14 CURTAS BRASILEIROS
EU QUERIA SER ARREBATADA, AMORDAÇADA E, NAS MINHAS COSTAS, TATUADA
Uma das coisas de que eu mais gostei neste filme foi da cena de sexo, não pelo sexo em si, mas pelo fato de os atores estarem tão bem, dialogarem de maneira dramática e intensa durante o ato. A trama me pareceu um tanto confusa, mas como é um curta, nada que uma revisão não possa ajudar na compreensão. Temos aqui a história de uma mulher cansada da vida que leva e precisa tomar alguma atitude urgente. Direção: Andy Malafaia. Ano: 2015. (foto)
AQUELES DOIS
Belo documentário sobre a situação de duas pessoas trans, a questão da aceitação perante à família e à sociedade, tudo isso mostrado com muita sensibilidade pelo diretor. Os relatos das mães e familiares às vezes entram em choque com a necessidade da identidade dos rapazes, mas por isso mesmo é importante que estejam presentes, especialmente nos dias de hoje, em que a intolerância está tão explícita. Direção: Émerson Maranhão. Ano: 2018.
AZUL VAZANTE
Um dos aspectos mais interessantes deste filme é o que ele causa de estranheza, inclusive para as pessoas que passam pela Praça da Sé, em São Paulo, onde fica deitada em uma cama de hospital uma mulher (alguns perguntam: é um homem ou uma mulher?) enquanto algumas pessoas supostamente chegam para cuidar dela. Demorei a entrar no filme e a comprar sua proposta, mas não há como negar que é uma obra que faz a gente ficar pensando depois. Direção: Julia Alquéres. Ano: 2018.
CATADORA DE GENTE
Um documentário extremamente simples, apenas contando com o depoimento de uma senhora que trabalha como catadora de lixo. Aos poucos vamos conhecendo e vendo o quanto essa mulher progrediu através da leitura e o quanto ela mudou as vidas das pessoas ao seu redor. É uma pedrada ouvir o que ela diz e vê-la ainda tentando sorrir e mostrar o quanto deixou de ser tão bruta como era antes. Direção: Mirela Kruel. Ano: 2018.
MAIS TRISTE QUE CHUVA NUM RECREIO DE COLÉGIO
Um filme que causa um mal estar intenso, sobrepondo imagens da reconstrução do Maracanã e também de um homem brincando com uma bola com áudios terríveis da história recente do Brasil. Desses que deixam a gente inconformado. Diria que ver isso condensado em um curta de 14 minutos foi muito mais incômodo para mim do que ver o longa da Petra Costa. Não tá fácil, Brasil. Direção: Lobo Mauro. Ano: 2018.
ADEUS À CARNE
Carnaval, diversão, maconha, tesão, tá tudo muito bom, tá tudo muito bem. Mas aí acontece algo para cortar o barato das três amigas. Um filme que engrossa o coro de obras que lidam com a questão da sororidade. Uma das meninas eu conhecia de CONFISSÕES DE ADOLESCENTE - O FILME. Direção: Julia Anquier. Ano: 2017.
ABISMO
Filme perfeito para quem tem medo de elevador: nunca mais vai querer entrar novamente. Com uns dois minutos a menos ficaria perfeito. Gosto muito da sensação de aflição em que se encontra o porteiro do prédio. O diretor sabe construir uma atmosfera de pesadelo admirável. Direção: Ivan de Angelis. Ano: 2018.
ALMA BANDIDA
Interessante como o filme consegue unir um tipo de dramaturgia próxima do documentário, como nos filmes vindos de Minas Gerais, com algo um pouco mais tecnológico, com a inclusão do videogame. Mas nem é por exibicionismo não, mas serve à narrativa de tentativa de vencer na vida do protagonista. Pena que eu não consegui comprar a proposta. Fiquei curioso para saber a repercussão internacional do filme lá em Berlim. Direção: Marco Antônio Pereira. Ano: 2018.
DE VEZ EM QUANDO, QUANDO EU MORRO, EU CHORO
Um filme que tem um quê de suspense na relação que surge a partir do encontro de dois completos estranhos para uma relação sexual. Boa a conversa inicial, bom o prólogo para o ato, e também gosto do modo simples como termina, embalado por uma melancolia. Mas o suspense parece ficar mais na tentativa ou ensaio, não sei. Talvez fosse eu tentando imaginar um filme que se tornaria algo diferente. Direção: R.B. Lima. Ano: 2017.
ALMAS
O poema "Não sei quantas almas tenho", de Fernando Pessoa, dá o tom de profundidade a esta animação. Mas também não podemos desmerecer o filme pela grandiosidade da obra que lhe serviu de inspiração. É tão bonita a animação, pintada e que cabe nos versos de Pessoa. Destaque também para a música de Zeca Baleiro. São apenas três minutos. Dá vontade de mais. Direção: Marco Faria. Ano: 2018.
BOLHA
Que filme bonito e viajante. Um claro exemplo do quanto se pode abstrair usando a animação, com resultados lindos. A história parte da descoberta de algo estranho no pescoço do protagonista. A partir daí o filme tanto segue por um caminho de paranoia dentro da sua vida cotidiana até chegar a uma viagem astral pelo universo ao som de uma música que muito lembra Pink Floyd. Não por acaso, a banda está entre os agradecimentos do diretor ao final dos créditos. Outro da lista de agradecimentos é Franz Kafka. Imagina-se o porquê. Direção: Mateus Alves. Ano: 2018.
CELULOUKOS
Animação bem divertida sobre dois celulares antigos relembrando os velhos tempos e reclamando do fato de estarem sendo abandonados. Além de a animação ser bem cuidada, ainda que simples, traz uma história com algumas situações bem engraçadas. Lembrei de quando eu parei de anotar os telefones das pessoas numa agenda de papel pois havia agora o celular. Mas depois corria-se o risco de perder tudo ao perder o celular. Direção: Oziel Pereira. Ano: 2018.
DISEXTA
Mais um filme que faz um apanhado dos absurdos da história política recente no Brasil, desde 2013 até 2018. Não fala de Bolsonaro, mas já se pode imaginar para onde ia chegar tudo aquilo. A animação é inspirada nas manchetes e chamadas dos telejornais e mostra alguns fatos marcantes, como a conversa de Aécio sobre matar fulano de tal, além de outras barbaridades que não deram em nada nesse país que parece não ter jeito. Direção: André Catoto. Ano: 2018.
SONDER
Um encontro de um menino "normal" e um outro cheio de estranhos símbolos no rosto e no corpo. A animação é simples mas bonita, com um apelo para a sentimentalidade por causa da música pianinho e um caminho para uma compreensão de mundo dos meninos. Cabe metáforas várias, mas que chegariam ao mesmo ponto, creio eu. Direção: Nicole Janér. Ano: 2018.
Uma das coisas de que eu mais gostei neste filme foi da cena de sexo, não pelo sexo em si, mas pelo fato de os atores estarem tão bem, dialogarem de maneira dramática e intensa durante o ato. A trama me pareceu um tanto confusa, mas como é um curta, nada que uma revisão não possa ajudar na compreensão. Temos aqui a história de uma mulher cansada da vida que leva e precisa tomar alguma atitude urgente. Direção: Andy Malafaia. Ano: 2015. (foto)
AQUELES DOIS
Belo documentário sobre a situação de duas pessoas trans, a questão da aceitação perante à família e à sociedade, tudo isso mostrado com muita sensibilidade pelo diretor. Os relatos das mães e familiares às vezes entram em choque com a necessidade da identidade dos rapazes, mas por isso mesmo é importante que estejam presentes, especialmente nos dias de hoje, em que a intolerância está tão explícita. Direção: Émerson Maranhão. Ano: 2018.
AZUL VAZANTE
Um dos aspectos mais interessantes deste filme é o que ele causa de estranheza, inclusive para as pessoas que passam pela Praça da Sé, em São Paulo, onde fica deitada em uma cama de hospital uma mulher (alguns perguntam: é um homem ou uma mulher?) enquanto algumas pessoas supostamente chegam para cuidar dela. Demorei a entrar no filme e a comprar sua proposta, mas não há como negar que é uma obra que faz a gente ficar pensando depois. Direção: Julia Alquéres. Ano: 2018.
CATADORA DE GENTE
Um documentário extremamente simples, apenas contando com o depoimento de uma senhora que trabalha como catadora de lixo. Aos poucos vamos conhecendo e vendo o quanto essa mulher progrediu através da leitura e o quanto ela mudou as vidas das pessoas ao seu redor. É uma pedrada ouvir o que ela diz e vê-la ainda tentando sorrir e mostrar o quanto deixou de ser tão bruta como era antes. Direção: Mirela Kruel. Ano: 2018.
MAIS TRISTE QUE CHUVA NUM RECREIO DE COLÉGIO
Um filme que causa um mal estar intenso, sobrepondo imagens da reconstrução do Maracanã e também de um homem brincando com uma bola com áudios terríveis da história recente do Brasil. Desses que deixam a gente inconformado. Diria que ver isso condensado em um curta de 14 minutos foi muito mais incômodo para mim do que ver o longa da Petra Costa. Não tá fácil, Brasil. Direção: Lobo Mauro. Ano: 2018.
ADEUS À CARNE
Carnaval, diversão, maconha, tesão, tá tudo muito bom, tá tudo muito bem. Mas aí acontece algo para cortar o barato das três amigas. Um filme que engrossa o coro de obras que lidam com a questão da sororidade. Uma das meninas eu conhecia de CONFISSÕES DE ADOLESCENTE - O FILME. Direção: Julia Anquier. Ano: 2017.
ABISMO
Filme perfeito para quem tem medo de elevador: nunca mais vai querer entrar novamente. Com uns dois minutos a menos ficaria perfeito. Gosto muito da sensação de aflição em que se encontra o porteiro do prédio. O diretor sabe construir uma atmosfera de pesadelo admirável. Direção: Ivan de Angelis. Ano: 2018.
ALMA BANDIDA
Interessante como o filme consegue unir um tipo de dramaturgia próxima do documentário, como nos filmes vindos de Minas Gerais, com algo um pouco mais tecnológico, com a inclusão do videogame. Mas nem é por exibicionismo não, mas serve à narrativa de tentativa de vencer na vida do protagonista. Pena que eu não consegui comprar a proposta. Fiquei curioso para saber a repercussão internacional do filme lá em Berlim. Direção: Marco Antônio Pereira. Ano: 2018.
DE VEZ EM QUANDO, QUANDO EU MORRO, EU CHORO
Um filme que tem um quê de suspense na relação que surge a partir do encontro de dois completos estranhos para uma relação sexual. Boa a conversa inicial, bom o prólogo para o ato, e também gosto do modo simples como termina, embalado por uma melancolia. Mas o suspense parece ficar mais na tentativa ou ensaio, não sei. Talvez fosse eu tentando imaginar um filme que se tornaria algo diferente. Direção: R.B. Lima. Ano: 2017.
ALMAS
O poema "Não sei quantas almas tenho", de Fernando Pessoa, dá o tom de profundidade a esta animação. Mas também não podemos desmerecer o filme pela grandiosidade da obra que lhe serviu de inspiração. É tão bonita a animação, pintada e que cabe nos versos de Pessoa. Destaque também para a música de Zeca Baleiro. São apenas três minutos. Dá vontade de mais. Direção: Marco Faria. Ano: 2018.
BOLHA
Que filme bonito e viajante. Um claro exemplo do quanto se pode abstrair usando a animação, com resultados lindos. A história parte da descoberta de algo estranho no pescoço do protagonista. A partir daí o filme tanto segue por um caminho de paranoia dentro da sua vida cotidiana até chegar a uma viagem astral pelo universo ao som de uma música que muito lembra Pink Floyd. Não por acaso, a banda está entre os agradecimentos do diretor ao final dos créditos. Outro da lista de agradecimentos é Franz Kafka. Imagina-se o porquê. Direção: Mateus Alves. Ano: 2018.
CELULOUKOS
Animação bem divertida sobre dois celulares antigos relembrando os velhos tempos e reclamando do fato de estarem sendo abandonados. Além de a animação ser bem cuidada, ainda que simples, traz uma história com algumas situações bem engraçadas. Lembrei de quando eu parei de anotar os telefones das pessoas numa agenda de papel pois havia agora o celular. Mas depois corria-se o risco de perder tudo ao perder o celular. Direção: Oziel Pereira. Ano: 2018.
DISEXTA
Mais um filme que faz um apanhado dos absurdos da história política recente no Brasil, desde 2013 até 2018. Não fala de Bolsonaro, mas já se pode imaginar para onde ia chegar tudo aquilo. A animação é inspirada nas manchetes e chamadas dos telejornais e mostra alguns fatos marcantes, como a conversa de Aécio sobre matar fulano de tal, além de outras barbaridades que não deram em nada nesse país que parece não ter jeito. Direção: André Catoto. Ano: 2018.
SONDER
Um encontro de um menino "normal" e um outro cheio de estranhos símbolos no rosto e no corpo. A animação é simples mas bonita, com um apelo para a sentimentalidade por causa da música pianinho e um caminho para uma compreensão de mundo dos meninos. Cabe metáforas várias, mas que chegariam ao mesmo ponto, creio eu. Direção: Nicole Janér. Ano: 2018.
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