terça-feira, agosto 16, 2011
A FLOR DO MEU SEGREDO (La Flor de Mi Secreto)
Alguns filmes perdem um pouco a aura quando revistos. Creio ser o caso de A FLOR DO MEU SEGREDO (1995). Da primeira vez que o vi eu já havia achado o filme inferior às três obras-primas subsequentes de Pedro Almodóvar. E essa impressão permanece, embora eu o tenha visto em melhores condições, num formato digital que valoriza as cores da bela fotografia de Affonso Beato e o formato da janela original, em vez da versão em vhs vista em 2003 e já comentada muito brevemente aqui no blog.
Porém, o que mudou de lá pra cá foi a minha percepção dos filmes de Almodóvar. Antes de partir para uma peregrinação por sua obra, de ler o livro "Conversas com Almodóvar" e de redescobrir os seus filmes como obras sinceramente dolorosas, para mim, eles não passavam de comédias kitsch debochadas. Uma vez que eu percebi que praticamente todos os seus trabalhos - por mais que tenham elementos de humor - possuem algo que deve ser levado a sério, um filme excessivamente sóbrio como A FLOR DO MEU SEGREDO perdeu muito da graça pra mim.
Continuo vendo o filme como uma porta de entrada para os maravilhosos CARNE TRÊMULA (1997), TUDO SOBRE MINHA MÃE (1999) e FALE COM ELA (2002), os pontos altos da carreira do diretor. E é nisso que eu vejo o seu principal valor. Ainda assim, A FLOR DO MEU SEGREDO tem momentos de extrema beleza, como a cena em que Leo (Marisa) encontra o seu amado marido e o abraça e o beija com saudades, enquanto a câmera mostra uma série de pequenos espelhos, como para nos mostrar a relação já despedaçada do casal. Ou quando ela está no bar, arrasada depois do fim do relacionamento, e na televisão toca "En el ultimo trago", cantada por Chavela Vargas.
Almodóvar parecia estar tentando provar a seriedade de suas obras. Por isso, a dor da personagem de Marisa Paredes é mostrada de maneira tão crua, tão despida de exageros. Se DE SALTO ALTO (1991), por exemplo, era um melodrama, A FLOR DO MEU SEGREDO é um drama sóbrio. Provavelmente o filme deve ter afastado muitos espectadores que esperavam algo mais familiar de Almodóvar, principalmente depois de uma comédia tão movimentada como KIKA (1993).
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