quarta-feira, agosto 24, 2011
A CRUZ DOS ANOS (Make Way for Tomorrow)
Um dos momentos mais belos de A CRUZ DOS ANOS (1937) acontece quando o protagonista vivido por Victor Moore pede para um amigo dono de um comércio ler a carta que acabara de receber da esposa distante e ele começa a ler e não aguenta de emoção. Para não chorar, ele diz: "melhor você mesmo ler o restante quando estiver com os óculos". Esse coadjuvante também é responsável por outro momento lindo, que é quando ele chama a esposa, que está ocupada na cozinha, apenas para se certificar de que ela ainda está lá. E sentir gratidão por isso.
A CRUZ DOS ANOS é um dos mais importantes e belos filmes já feitos sobre a terceira idade, equiparado a UMBERTO D., de Vittorio De Sica. O filme já começa mostrando o casal de idosos em reunião com os filhos na casa contando-lhes da delicada situação em que se encontram: devido a dívidas contraídas pelo patriarca, eles perderam a casa. Os filhos, já casados, procuram um meio para resolver o problema. Assim, um deles fica com a mãe; a outra, com o pai. Mas os dois ficam muito distantes um dos outro, sendo difícil até mesmo se comunicar por telefone por causa do custo da ligação.
O filme mostra mais uma vez a sensibilidade de Leo McCarey para tratar de assuntos delicados, de tocar nos coração do espectador. Por mais que eu ainda prefira OS SINOS DE SANTA MARIA (1945), que me fez chorar bem mais e sem aviso prévio, A CRUZ DOS ANOS já trata desde o início de um assunto muito triste, que é de como os pais idosos podem ser considerados um estorvo para os filhos. O registro de McCarey é mais realista do eu esperava, quase um precursor do neorrealismo italiano, principalmente pela pouca presença de música e pela falta de astros no elenco. A sequência final, por exemplo, de Beulah Bondi na estação de trem, é de cortar o coração. É um momento perfeito e diria até que bastante moderno para os padrões de Hollywood da época.
P.S.: Está no ar a edição da Revista Zingu! de agosto! E depois de participar algumas vezes como convidado, dessa vez entrei como redator fixo. Espero poder fazer jus ao convite generoso do Adilson Marcelino para poder me juntar a esse grupo de pessoas que tanto entendem de cinema. Para essa edição, que conta com o Dossiê Ênio Gonçalves e o Especial Rodolfo Arena, contribuí com dois textos: um sobre AS INTIMIDADES DE ANALU E FERNANDA, de José Miziara, e outro sobre CHUVAS DE VERÃO, de Cacá Diegues. Dois filmes, aliás, ótimos e dignos de estar em listas de melhores do cinema brasileiro.
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