quinta-feira, fevereiro 15, 2007

A RAINHA (The Queen)



E se acumulam os prêmios para Helen Mirren, que interpreta a Rainha Elisabeth II no filme de Stephen Frears e que também deu vida à Elizabeth I, rainha contemporânea de William Shakeaspeare, na mini-série de televisão ELIZABETH I. É ela quem dá o grande show neste A RAINHA (2006), de Stephen Frears, cineasta que não tem uma marca autoral, mas que provou ter certa sensibilidade para tratar de assuntos ligados à nobreza em LIGAÇÕES PERIGOSAS (1988), seu melhor filme até hoje. Um dos maiores trunfos de A RAINHA é justamente uma de suas maiores fraquezas, que é uma certa frieza ou um esforço de não parecer passional, mesmo num momento tão cheio de apelo popular e tristeza, como foi a morte da Princesa Diana.

Diana sempre teve um caso de amor com a imprensa desde o casamento com o Príncipe Charles em 1981, que foi televisionado e visto em todo o mundo. Foi a cerimônia matrimonial do século e Diana se tornou a mulher mais famosa do mundo. Para aumentar ainda mais a sua importância, Diana não era apenas bonita, famosa e ícone da moda, mas era envolvida em projetos sociais importantes, como o combate à AIDS e a campanha contra o trabalho desumano nas minas terrestres. A história de Diana daria um grande filme, sem dúvida. Mas apesar de sua persona querer a todo instante eclipsar a protagonista do filme de Frears, ela não consegue por causa da força da interpretação de Mirren como a discreta Elizabeth II. Não há uma atriz interpretando Diana no filme. A verdadeira "princesa do povo", alcunha que ficou famosa na boca de Tony Blair, aparece em imagens de arquivo.

Esse flerte com o documentário é uma das maiores qualidades de A RAINHA, dando ao filme uma aura de cinema-verdade. Desse modo, sentimos como se tivéssemos o privilégio de visitar as residências reais e de invadir a intimidade da rainha e de seu marido, o príncipe Philip (James Cromwell). Uma das cenas mais interessantes do filme é aquela em que Elizabeth tenta atravessar um rio num jipe e seu carro fica preso nas pedras. É a rainha fazendo uma atividade normal como dirigir um carro como qualquer ser humano. Engraçado a gente ficar surpreso em ver a rainha dirigindo um carro. Lembrei de um texto que François Truffaut fez sobre Orson Welles. Ele disse que Welles nunca se filmou comendo ou dirigindo, como se ele quisesse se apresentar sempre acima da humanidade.

Depois da Elizabeth de Helen Mirren, a principal figura do filme é o Tony Blair de Michael Sheen. Blair, que mais recentemente ganhou a antipatia de boa parte da humanidade graças à sua aliança com George W. Bush na Guerra do Iraque, é mostrado no filme como era na época de sua posse como Primeiro Ministro britânico. Na época, ele era festejado por trazer uma proposta diferente, quase revolucionária, para a Inglaterra. A monarquia, instituição que já vivia por um fio desde o início do século XX, estaria novamente correndo risco de vida. Acho que eu tenho uma certa simpatia pelos reis e pelas rainhas. Na Inglaterra, eles parecem meio sem função, como se fossem um enfeite e bastante obsoletos para o mundo de hoje. Mas lembro que sempre que eu estudava História, os momentos em que os reis mandavam eram bem mais divertidos do que estudar a complexidade política da república.

A RAINHA recebeu seis indicações ao Oscar, nas categorias de filme, diretor, atriz, roteiro original, figurino e trilha sonora.

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