terça-feira, dezembro 26, 2006

O RAIO VERDE (Le Rayon Vert)



Interessante como os parisienses têm essa obsessão pelo viajar nas férias. Quando se está de férias no verão, é obrigatória a ida a uma praia ou a uma região serrana ou a qualquer outro lugar. O que não se pode é ficar em Paris. Em O RAIO VERDE (1986), de Eric Rohmer, Delphine (Marie Rivière) está desesperada porque justo quando ela vai tirar férias, o seu então namorado termina a relação por telefone. Ela fica totalmente desolada e deprimida, sem saber o que fazer e sem ter com quem viajar. De vez em quando, uma crise de choro a sufoca e ela se sente a pessoa mais infeliz do mundo. Rohmer, como o cineasta da perambulação, mostra várias vezes Delphine andando sozinha. Supersticiosa que é, ela acredita que as cartas de baralho que encontra pelo caminho significam alguma coisa muito importante, são uma espécie de sinal. Ela também observa que a cor verde exerce sobre ela uma força diferenciada.

O RAIO VERDE seria um filme-irmão de CONTO DE INVERNO (1992), o filme de Rohmer que mais me emocionou. Em ambos, há uma protagonista que acredita no destino. Porém, em O RAIO VERDE, a protagonista não tem o mesmo otimismo e fé que a Felicie de CONTO DE INVERNO. Ela acredita nos sinais, mas seu semblante triste e desesperançado faz com que ela se afaste de muitas pessoas. Como na cena em que ela conhece uma sueca na praia. A sueca é adepta dos jogos de sedução e não tem a menor vergonha de passear na praia de topless. Ao contrário de Delphine, que se sente inferiorizada ao perceber a incrível capacidade da sueca de chamar a atenção para si. Delphine preferiu procurar o seu próprio caminho, a sua própria maneira de encontrar alguém. A angústia que ela sente sempre que desiste de estar em algum lugar talvez seja para ela uma intuição de que caminho deve seguir.

Essa angústia e essa vontade de sair o quanto antes de um lugar, eu também costumo experimentar às vezes. Já aconteceu de eu viajar para algum lugar e me sentir tão mal que precisei fugir de lá o quanto antes. Se é pra eu ficar deprimido, prefiro ficar deprimido em casa mesmo, não no meio de estranhos. A cena em que Delphine se encontra com a sua possível alma gêmea é um dos pontos altos e marca a força da temática do acaso no cinema de Eric Rohmer. Acontece que, diferente de CONTO DE INVERNO, o filme não termina ali. O grande momento do filme acontece nos instantes finais. Delphine ainda precisaria ver o tal raio verde do título. O raio verde é uma ilusão de ótica rara de se ver. Acontece em questão de segundos, quando o sol está saindo ou entrando na linha do horizonte. Diz a lenda que quem enxerga o raio, descobre o que se passa no coração do outro e jamais será enganado novamente nas questões sentimentais. O fenômeno é tão raro que Rohmer não conseguiu captar, tendo que realizá-lo através de efeitos visuais no laboratório.

Marie Rivière contribuiu com o roteiro de O RAIO VERDE, tendo provavelmente usado de improviso. Clássica a cena em que ela tenta explicar o porquê de ser vegetariana. O RAIO VERDE pertence ao ciclo "Comédias e Provérbios", que conta com os títulos: A MULHER DO AVIADOR (1981), UM CASAMENTO PERFEITO (1982), PAULINE NA PRAIA (1983), NOITES DE LUA CHEIA (1984), O RAIO VERDE (1986) e O AMIGO DE MINHA AMIGA (1987).

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