segunda-feira, julho 13, 2009

VALSAS DE VIENA (Waltzes from Vienna)























Foi ao mesmo tempo um alívio e um pouco de revolta constatar que VALSAS DE VIENA (1933) não é o filme ruim que pintam. Aliás, que principalmente Alfred Hitchcock pinta, ao dizer que é o seu ponto mais baixo. Eu já havia achado péssimo O MISTÉRIO DO Nº 17 (1932) e não conseguia imaginar que ele faria coisa pior. Felizmente, VALSAS DE VIENA não é apenas "um musical sem música", como afirmou o próprio cineasta em entrevista a François Truffaut. Não é assim que eu vejo o filme, que é claro não tem nada a ver com Hitchcock, está longe de ser um filme hitckcockiano e a anos-luz de suas obras-primas. Mas visto em separado, como se não fosse dirigido pelo mestre do suspense, o filme é um bem conduzido drama sobre a realização de um dos clássicos da música mundial, o "Danúbio Azul", de Johann Strauss, que se tornou especial na História do Cinema graças à sua inclusão em 2001 – UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO, de Stanley Kubrick.

Fiquei até um pouco aborrecido procurando nas duas entrevistas de Hitchcock que tenho referências sobre o filme e vendo o cineasta evitando falar a respeito, querendo falar logo de O HOMEM QUE SABIA DEMAIS (1934). O que é até compreensível, já que se trata de uma das obras mais importantes de sua carreira e uma das três melhores de sua fase britânica, além de ser o filme que finalmente impulsionou o seu status de mestre. Diante de tanta falação contra o filme, VALSAS DE VIENA chegou para mim como uma bela surpresa. Foi também uma maneira de eu entrar em contato com um momento especial da História da Música. Mesmo sabendo que tudo aquilo pode ter sido inventado, deve haver algum fundo de verdade no modo como a canção foi composta e na relação de Strauss-filho com o Strauss-pai, que na época já era um autor de grande sucesso.

Johan Strauss foi responsável pela popularização da valsa em Viena no século XIX e o filme, apesar de ter sido produzido com poucos recursos, tem um charme que remete a produções hollywoodianas requintadas. Diferente de O MISTÉRIO DO Nº 17, que parecia claramente uma produção barata, até que VALSAS DE VIENA disfarça bem, com seus belos figurinos e uma bem cuidada direção de arte, que em filmes de época é fundamental. Na trama, o jovem Strauss, ridicularizado pelo pai, mas sabendo que tem talento, compõe - graças ao empurrãozinho de uma condessa - a famosa valsa que até hoje permanece no inconsciente coletivo da humanidade. O seu maior obstáculo na carreira é justamente a mulher por quem ele é apaixonado, a mulher por quem ele é capaz de deixar o seu amor pela música para virar padeiro. O que é uma tremenda de uma maldade para um artista.

Lembro que, um dia desses, minha irmã estava comentando sobre a morte de Michael Jackson e falou algo como: será que valeu a pena a vida dele, será que valeu o sacrifício, o sofrimento etc.? Eu respondi que sim, claro que valeu. Ele deixou a sua arte, que dura muito mais do que a vida, que é breve e sempre passível de sofrimento, de qualquer maneira. Essa discussão vida versus arte é um pouco controversa e lembro que até já foi questionada de maneira inteligente num filme de Woody Allen - acho que em UM MISTERIOSO ASSASSINATO EM MANHATTAN -, onde, numa mesa de bar, intelectuais discutem sobre o que salvar num suposto incêndio: pessoas ou manuscritos de Shakespeare?

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