sexta-feira, julho 17, 2009

MATA, BEBÊ, MATA (Operazione Paura / Kill, Baby...Kill! / Kill, Baby, Kill)



Eu já estava achando o filme uma jóia preciosa, dessas raras de se ver, mas meu cérebro fritou quando vi a sequência do Dr. Paul Eswai (Giaccomo Rossi-Stuart) atravessando portas e mais portas da mansão da baronesa, sendo perseguido por ele mesmo. Caramba! Aquilo ali eu já tinha visto no episódio final de TWIN PEAKS! Fiquei extasiado, como geralmente fico quando vejo alguma referência "escondida" de obras de David Lynch. E fico sempre meio cabreiro quando o cineasta americano afirma não ter o hábito de ver muitos filmes. Havia acontecido algo parecido quando vi A MORTE NUM BEIJO, de Robert Aldrich, e dei de cara com assustadoras semelhanças com A ESTRADA PERDIDA. Mas essa semelhança de KILL, BABY...KILL! (1966) com a série de Lynch foi ainda mais impactante pra mim, embora considere a homenagem mais eficiente (e assustadora) do que o original, sem querer, claro, desmerecer a obra de Mario Bava, que já está entre os meus favoritos do diretor.

E já que falei em referências, a garotinha com a bola que aparece no filme também seria homenageada em obras tão importantes quanto HISTÓRIAS MARAVILHOSAS, especificamente no episódio "Toby Dammit", de Federico Fellini; em A ÚLTIMA TENTAÇÃO DE CRISTO, de Martin Scorsese; em ALMAS DESENCARNADAS, de Takashi Shimizu; além de ter influenciado também O ILUMINADO, de Stanley Kubrick. (Boa parte dessas informações, eu consegui através do amigo e pesquisador de cinema de horror Thomaz Albornoz.)

Agora, falemos especificamente de KILL, BABY...KILL! (melhor não usar o ridículo título brasileiro, até por ser menos popular que os títulos italiano e em inglês). O prólogo mostra uma mulher sendo forçada a cometer suicídio e uma garotinha descendo umas escadas, em seguida. Depois dos belos créditos de abertura, vemos um homem chegar numa vila - que lembra a dos filmes de Drácula - numa carruagem. O cocheiro diz que só vai até ali, que não quer entrar em território amaldiçoado. Sabemos, então, que estamos no território do sobrenatural, que no cinema de Mario Bava já havia rendido obras-primas como BLACK SUNDAY (1960), BLACK SABBATH (1963) e THE WHIP AND THE BODY (1963), todos com ambientação de época e aquele capricho na direção de arte e na fotografia que se tornou marca registrada do cinema do maior dos mestres italianos do cinema de horror.

O homem que desce da carruagem é um médico que foi enviado para fazer a autópsia da jovem morta. Ele dá de cara com uma comunidade em pânico e que se utiliza de métodos para evitar a presença de espíritos malignos que vão além da compreensão do médico, que vê aquilo como meras superstições. Logo saberemos que o que ocorre é fruto de uma maldição que a vila sofre há vinte anos, quando uma garotinha de sete anos de idade foi morta e até então o seu espírito passa a aterrorizar o vilarejo, com sede de sangue. E Bava utiliza esse enredo para criar sequências absolutamente geniais, como os travellings no cemitério, o uso do zoom como que para criar um sentimento de desorientação, a utilização de espelhos em cenas absolutamente originais, entre outros detalhes que, com uma revisão, seriam melhor captados. Em termos de construção do clima de horror, ainda acredito que BLACK SABBATH é insuperável, mas na utilização dos recursos cinematográficos, KILL, BABY...KILL! chega a novos patamares, que justificam o título de gênio dado pelos fãs, apreciadores e estudiosos da obra do cineasta.

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