quinta-feira, julho 16, 2009

SIMONAL – NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI



Esta atual safra de documentários sobre músicos tem proporcionado uma importante revisão de artistas até então esquecidos ou subvalorizados no cenário da música brasileira. Não chega a ser bem o caso do documentário dos Titãs, que eu acabei perdendo nos cinemas, mas é o caso, definitivamente, dos emocionantes LOKI - ARNALDO BAPTISTA e WALDICK - SEMPRE NO MEU CORAÇÃO. Acrescente-se aí o fundamental SIMONAL - NINGUÉM SABE O DURO QUE DEI (2009), dirigido por Claudio Manoel, Micael Langer e Calvito Leal. O filme traça um painel de um dos músicos mais populares do fim dos anos 50 ao início dos anos 70 e que de uma hora para a outra foi apagado da memória cultural do país. O filme analisa o incidente, mostrando o surgimento de Wilson Simonal, do apogeu ao declínio, ligado à fama que ele ganhou de ser dedo-duro dos militares. O documentário, além de ter essa característica mais convencional ao gênero, que é a utilização de imagens de arquivo, seguido de depoimentos de pessoas famosas como Chico Anísio, Toni Tornado, Pelé, Jaguar, Nelson Motta, Mieli e os filhos Max de Castro e Wilson Simoninha, tem também o seu lado investigativo, chegando até a entrevistar o contador torturado por ordem do cantor.

O que é mais triste em SIMONAL é ver o quanto as consequências da burrada do cantor foram severas, acarretando não apenas em danação pública, mas um "esquecimento" por parte da mídia, que deixou de recebê-lo nos programas, por sua associação com os militares, fruto de uma declaração ingênua do cantor. Simonal virou "um tabu, um leproso, um pária", como bem falou Nelson Motta no filme. Um dos pontos positivos do documentário é oferecer a chance para o espectador de tomar partido da situação, de até mesmo condenar os atos do artista e de achar que ele mereceu tudo o que passou. Claro que fica muito difícil pensar assim quando o documentário mostra a decadência do astro, tentando limpar o seu nome em programas de televisão de pouca repercussão, fazendo propagandas de produtos vagabundos para ganhar um dinheirinho e torcendo pelo sucesso artístico dos filhos. Foi sem dúvida uma pena longa demais pelo que ele fez.

Mas antes de tudo isso ser mostrado, o documentário é só alegria. Ou quase, já que aspectos do passado pobre do cantor e o evidente racismo no Brasil são passados a limpo. Wilson Simonal tinha um carisma impressionante e em certo momento de sua carreira, ele vendia tantos discos quanto Roberto Carlos. As cenas de arquivo dele abrindo um show para Sergio Mendes e do cantor fazendo uma parceria com a diva americana Sarah Vaughan são impressionantes. Simonal literalmente dominava o público, transformava-os num verdadeiro coral, a ponto de sair para tomar uma dose no bar da esquina enquanto o povo ficava lá cantando. Essa parte me pareceu mais um exagero do que um fato, mas não duvido que de fato tenha acontecido. Mas impressionante que mesmo com todas essas cenas dos momentos de glória do cantor o que fica no final é o amargo da derrota, a imagem do artista na decadência, morto em decorrência de uma cirrose, gerada pela depressão e pelo alcoolismo.

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