sexta-feira, abril 08, 2016
A BRUTA FLOR DO QUERER
Curioso como só neste ano três filmes brasileiros que entraram em cartaz no circuito mostraram, ainda que rapidamente, cenas de membros masculinos rijos explicitamente: BOI NEON, de Gabriel Mascaro, PARA MINHA AMADA MORTA, de Aly Muritiba, e agora este A BRUTA FLOR DO QUERER (2013), da dupla Andradina Azevedo e Dida Andrade. Isso pode ser um sinal de que o cinema brasileiro está vivo, pulsando, que ainda existe tesão. Pode até ser uma alegoria pobre, mas faz algum sentido, especialmente diante das citadas obras desses jovens e talentosos cineastas.
A BRUTA FLOR DO QUERER conta a história de um jovem cineasta (Dida Andrade) que, devido à dificuldade de conseguir sobreviver com sua arte, ganha alguns trocados trabalhando como cinegrafista de casamentos. Quando lhe é perguntado se ele gosta desse trabalho, ele diz: "óbvio", com aquele ar de escárnio. Aos poucos vamos sendo apresentados à sua vida pouco agradável de usar drogas para escapar dos problemas e da tentativa frustrada de se aproximar de uma moça por quem está apaixonado – uma paixão platônica.
Aliás, como a paixão platônica e o drama do rapaz em si, o filme tem a coragem de não parecer adolescente demais com isso. É possível, inclusive, se solidarizar e até entender bastante o drama do personagem, especialmente nas cenas tensas em que ele tenta se aproximar de Diana, a sua paixão, que para ele aparece ao som de "Baby", do Caetano Veloso, que aparece em duas versões: cantada por Gal Costa e, em inglês, pelos Mutantes.
Inclusive, as ótimas músicas da trilha sonora foram responsáveis pelo tempo decorrido de sua exibição premiada em Gramado, em 2013, até agora, com seu lançamento. Isso por causa da dificuldade em conseguir a liberação das músicas (há outras), que comeram 50% do valor da produção (R$ 100.000,00). Mas valeu a pena ter conseguido esse feito. O filme consegue passar um ar de maior sofisticação com elas.
E falando em sofisticação, há toda uma vontade explícita de emular Godard em várias cenas, especialmente as dentro do carro. Há também uma questão bastante godardiana, que é a tese de que o cinema morreu – e assistir ao filme em uma sala quase vazia contribui acreditar por um momento nessa teoria. Mas sabemos que seu desencanto com relação ao cinema vem do sentimento de frustração diante de sua condição.
Sentimos no ar que o longa de estreia de Andradina e Andrade poderia ter ousado mais, inclusive na cena de sexo na praia que acaba parecendo um pouco tímida, mas a inquietação, a frustração, a dor e a paixão são sentidas do lado de cá da tela. Isso e mais as boas cenas de conversa dos amigos no carro, que para alguns remetem a Cassavetes, faz valer a pena o esforço, ainda que saibamos que poucos são os interessados no filme, lançado em poucas cidades, em poucas cópias, sem nenhuma divulgação. Mas isso não é exclusividade deles, mas da grande maioria dos filmes brasileiros contemporâneos, que carecem de um maior apoio do público.
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