quarta-feira, março 15, 2017

TONI ERDMANN























O favorito da Cahiers du Cinéma do ano passado e um dos mais populares títulos da excelente edição do último Festival de Cannes finalmente entrou em circuito comercial para uma maior apreciação. TONI ERDMANN (2016), terceiro longa-metragem da realizadora Maren Ade, talvez seja evitado pelo grande público por sua duração longa para uma comédia. São duas horas e quarenta minutos, mas, uma vez que vemos o filme, além de não sentirmos o peso do tempo, temos a certeza que esse período de tempo se mostra bastante necessário para a construção dos personagens e para que algumas cenas tivessem a grandeza que ganharam, como é o caso da cena com a canção "The greatest love of all" ou a hilariante cena da festa, com uma profusão de gags atrás da outra que parecem inacreditáveis se pensarmos no naturalismo quase documental que Ade impõe ao seu filme.

TONI ERDMANN começa apresentando o personagem do pai, Winfried (Peter Simonischek), um sujeito que adora pregar pequenas peças nas pessoas. Sua maneira de ver a vida, na brincadeira, é totalmente oposta à da filha, Ines (Sandra Hüller), que vive uma rotina de trabalho pesado como executiva de uma multinacional. Depois ficamos sabendo que seu trabalho não é nada agradável, tendo que executar cortes e demissões de trabalhadores para enxugar a folha de pagamento das empresas.

A filha chega à Alemanha para uma rápida passagem e o pai não tem tempo de vê-la. Com a morte do cãozinho idoso de Winfried e o fato de ele ser praticamente aposentado, ele tem a ideia de visitá-la no local onde ela está trabalhando atualmente, em Bucareste, na Romênia. Como se trata de um país mais pobre do que a Alemanha e cheio de complexidades, o ambiente diferente (inclusive para os personagens) acaba funcionando também como mais um atrativo para o filme.

Temos aqui uma comédia bem pouco comum. Aliás, é raro vermos uma comédia alemã no circuito. O humor alemão talvez seja ainda muito estranho para nós. Talvez a imagem que temos deles seja de excessiva seriedade. O que importa é que o humor funciona que é uma beleza nesse registro mais pausado e quase sem música de contar uma história, o que só mostra o quanto o filme é bem-sucedido na maneira como faz rir (mesmo quando nem todo mundo ri das piadas). Trata-se de um humor de constrangimento, que encontra paralelos com a série THE OFFICE (tanto a versão britânica quanto a americana).

A escalada desse humor chega a um ponto inesperado. Aliás, cada cena de TONI ERDMANN é uma surpresa. Há, claro, o aspecto dramático do filme, que ganha ao menos duas cenas bem bonitas e que certamente estarão na memória afetiva dos apreciadores do filme. Talvez a parte dramática seja o seu ponto menos forte, embora seja rico em trazer reflexões sobre o modo como vivemos.

Já foi anunciada uma refilmagem americana de TONI ERDMANN, que por enquanto tem o mesmo nome, trazendo ninguém menos que Jack Nicholson para viver o pai, e Kristen Wiig para viver a filha. Será o inesperado retorno de Nicholson depois de já terem falado que o ator havia se aposentado. Porém, mais do que aguardar o remake americano, o mais importante é tentar ir atrás dos trabalhos anteriores da diretora Maren Ade, que não esteve à toa na competição oficial de Cannes.

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