segunda-feira, junho 22, 2020

WASP NETWORK - REDE DE ESPIÕES (Wasp Network)

Uma pena que Olivier Assayas tenha errado a mão. Ele é um dos cineastas franceses mais importantes surgidos nos últimos 40 anos. Vi cerca de uma dúzia de filmes dele e nunca vi nada tão desconjuntado até então. Talvez tenha faltado uma melhor amarração da trama, que por ser de espionagem, já se torna complicada. Mas as opções que ele toma não parecem ter sido felizes. Não há motivos práticos, por exemplo, para contar a história com jogos cronológicos de idas e vindas.

A primeira aparição de Gael García Bernal, quando o filme volta um pouco no tempo, serve para esclarecer para o espectador o jogo de espionagem que ocorre. Até então, ficava no ar uma sensação de falta de reais motivações por parte dos personagens cubanos que deixaram a terra natal para tentar algo melhor nos Estados Unidos. Pelo menos, é o que se poderia pensar a princípio: que se tratava de um filme que criticava o governo de Fidel Castro.

A narração fica à mercê de uma montagem confusa e alguns personagens secundários não parecem ter tanta importância assim. A importância de alguns deles só se materializa de fato no final, quando o filme vai falar dos destinos dos personagens reais. O próprio personagem do Leonardo Sbaraglia é um desses, que não diz muito a que veio. Coadjuvante de luxo.

De todo modo, foi bom ver tanta gente da América Latina e da Espanha junta, todos atores e atrizes muito bons, que mereciam um filme melhor, claro. Mas quem em sã consciência ia achar que WASP NETWORK - REDE DE ESPIÕES (2019) ia resultar em um desastre, tendo Olivier Assayas na direção e com um elenco de peso desses? Há quem diga que é um filme de produtor, do brasileiro Rodrigo Teixeira. Mas será que diriam o mesmo se fosse um sucesso?

Quanto ao elenco, é uma das poucas coisas que fazem valer a pena ver o filme, apesar de tudo. Temos representantes de peso de vários países: Penélope Cruz (Espanha), Edgar Ramírez (Venezuela), Gael García Bernal (México), Ana de Armas (Cuba), Wagner Moura (Brasil) e o já citado Leonardo Sbaraglia (Argentina). Ou seja, todos eles já muito conhecidos de produções internacionais de peso, sejam de Hollywood, sejam europeias ou mesmo brasileiras, no caso do nosso Wagner Moura.

Aliás, é bom perceber ao menos que Moura está melhor do que no horrível SERGIO, exibido recentemente também na Netflix. Inclusive, ele faz par romântico com Ana de Armas em ambos os filmes. E os momentos dos dois juntos funcionam melhor aqui do que as confusas situações envolvendo conspirações internacionais. Até uma cena sensual com eles novamente. E aqui parece menos gratuita, mais natural, com a beleza em flor de Ana.

Mas gigante mesmo é Penélope Cruz. Há pelo menos uma cena emocionante com ela. Uma das últimas é a mais tocante. Na trama, ela vive com o marido (Ramírez) em Cuba. Ele é piloto de aviões; ela trabalha em uma fábrica de borracha. Os dois têm uma filha pequena. Ele pega o avião e vai para Miami, deixando-a, e passa a ser visto no país como um traidor. As reais intenções do marido veremos a seguir.

A tal Wasp Network do título é uma rede de espiões cubanos que trabalham nos Estados Unidos para deter uma contrarrevolução que segue com força no início dos anos 1990 contra Cuba, uma espécie de guerra fria tardia. O filme é baseado no livro Os Últimos Soldados da Guerra Fria, de Fernando Morais.

Pelo que dizem algumas críticas de pessoas que puderam fazer uma comparação entre as duas obras (literária e cinematográfica), uma das armadilhas a que Assayas caiu foi tentar ser fiel demais ao livro e acabar não dando conta de tantos personagens e subtramas. Uma cena que lembra um pouco Assayas é a de um jovem que implanta bombas em hotéis. Um dos poucos momentos dignos do filme. Ainda assim, é uma obra que merece ser vista, nem que seja por consideração ao cineasta.

+ TRÊS FILMES

A GRANDE JOGADA (Molly's Game)

Se não fosse a Jessica Chastain eu não teria aguentado este filme. É o típico filme de roteiro e cujo enredo não é suficientemente interessante. No caso, todas as cenas de jogos eu achei desinteressantes, por mais que o filme se esforce para não aborrecer o espectador, com a rapidez típica dos americanos. Gostei da participação do Kevin Costner como o pai. Direção: Aaron Sorkin. Ano: 2017.

VERÃO 1993 (Estiu 1993)

Eu, que geralmente não tenho muita paciência para filmes com crianças, gostei bastante deste. A diretora Carla Simón foi muito feliz em contar essa história em que parece que nada acontece, mas justamente por isso há uma força nas imagens e no modo delicado como a mudança na vida da criança é retratada. Ano: 2017.

MA MA

Acho que fazia tempo que eu não via um filme recente que se entregasse de corpo e alma ao melodrama sem medo de ser cafona. Linda essa história, e linda a Penélope. Também gosto muito da montagem, do modo como Julio Medem intercala tempos diferentes num vai e vém temporal muito bem acertado. Além do mais, chorar um litro de lágrimas não faz mal a ninguém. É catarse bem-vinda. Ano: 2015.

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