Na época da realização de OS IMORAIS (1979), havia uma necessidade de os títulos fossem apelativos, a fim de que chamassem a atenção de um público maior, principalmente as produções paulistanas. Assim, o título deste filme de Geraldo Vietri, não representa exatamente o espírito da obra. Em parte, se justifica, se levarmos em consideração a família do personagem Mário (João Francisco Garcia). Sua mãe (Elizabeth Hartmann) transa com seu motorista particular e seu pai (Chico Martins) também transa com seu chofer, escondendo sua homossexualidade da sociedade, embora as más línguas já proclamassem essa fama da família em salões de beleza e outros lugares.
É em um salão de beleza que trabalha o personagem mais importante de OS IMORAIS, Gustavo (Paulo Castelli), jovem gay que trabalha como cabeleireiro e que costuma atender uma mulher burguesa elegante, Glória, vivida por Sandra Bréa. Passando pelo salão, Mário fica bem interessado em Glória, mas também se torna objeto de desejo de Gustavo, que passa a sonhar com o rapaz e usa de uma estratégia interessante para levá-lo para seu quitinete: para ficar sozinho com Mário, Gustavo prepara uma comemoração de seu aniversário avisando que Glória estaria também presente. Seria a chance de não só conhecê-la, mas até de transar com ela no apartamento.
Uma das coisas mais bonitas de OS IMORAIS é tratar com muito carinho seus dois personagens masculinos, um rapaz gay que sofre até um bocado de humilhação para se aproximar de seu amor; e um outro que é um poço de homofobia. Mas é justamente a tentativa de amizade dos dois, e a intenção de Mário de "converter" Gustavo à heterossexualidade que faz com que aconteça uma virada na vida dos dois, e no modo como eles passam a se ver.
A trilha sonora no piano é até um pouco cafona e parece herdeira de certos melodramas italianos, mas funciona muito bem para dar ao filme um tom de melancolia e de seriedade e respeito com aqueles personagens e suas situações. E eu vejo isso como um aspecto positivo.
Aliás, é vendo filmes como OS IMORAIS que a gente vai, cada vez mais, se convencendo da quantidade enorme de joias esquecidas em nossa cinematografia, do quanto o cinema brasileiro ainda é invisível para muitos, especialmente para quem não se permite ir além dos filmes recentes ou mesmo dos cânones, em geral representados pelo pessoal do cinema novo. Sugiro a ampliação dos horizontes.
+ TRÊS FILMES
BENZINHO
Belo filme sobre família, planos para o futuro e principalmente amor de mãe. Queria ter me envolvido mais emocionalmente, mas ainda assim reconheço que é uma obra admirável. Sem querer comprar briga com o pessoal que desgosta de CANASTRA SUJA, prefiro o filme mais "desgraça pouca é bobagem" do que este, para citar dois filmes lançados este ano, com família no meio e ambos com a presença de Adriana Esteves. Aliás, não consegui comprar a Esteves como pobre neste filme, ao contrário do outro. Direção: Gustavo Pizzi. Ano: 2018.
PELA JANELA
Na falta de Sergio Leone, vamos de Caroline Leone. :) Gosto muito do modo como a diretora constrói sua narrativa parecendo tudo tão real e documental, mas com o gosto também das boas ficções. Fiquei curioso para saber o processo de realização. Ano: 2017.
GOSTO SE DISCUTE
Comédia simpática e pouco comum no Brasil. Um dos poucos filmes brasileiros sobre os bastidores de uma cozinha de restaurante chique. No mais, gostei da Kéfera Buchmann, que eu nem sei direito quem é, mas só em estar disposta a fazer cinema no Brasil já me ganhou o respeito. E esse filme é decente, ela é bonita e o Cassio Gabus Mendes manda bem nos papéis, por mais que não seja versátil. Direção: André Pellentz. Ano: 2017.
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