segunda-feira, novembro 15, 2010

MINHAS MÃES E MEU PAI (The Kids Are Allright)



O cinema independente americano já ganhou fama de mostrar com frequência famílias disfuncionais ou pessoas diferentes do padrão considerado normal. Mas é desse cinema que saem algumas das melhores crônicas sociais e foi desse estilo de produção menor que surgiu este belo e interessante MINHAS MÃES E MEU PAI (2010), que retrata um novo modelo familiar. Já sabemos que o modelo "pai, mãe e filho(s)" está cada vez mais fora da realidade. O número de famílias sem pai ou sem mãe é cada vez maior. As pessoas não se aturam mais como antigamente. E cresce também, ainda que em menor grau, o número de famílias criadas por homossexuais, tanto por homens quanto por mulheres. A mulher tem a vantagem de ainda poder utilizar o próprio corpo e ter apenas um doador de esperma para que possa surgir uma gestação. E o que vemos no filme é um exemplo de família que se utilizou desses fins com sucesso.

Anete Benning e Julianne Moore são casadas há mais de 18 anos. Tanto é que já têm uma filha com essa idade (Mia Wasikowska) e um adolescente de 15 (Josh Hutcherson). As coisas funcionam às mil maravilhas no ambiente familiar, os filhos amam suas mães, não existe tabu na sexualidade das mães e há muito respeito entre todos. Mas a química daquela família muda quando entra em cena outra pessoa. No caso, o pai biológico dos dois filhos, aqui vivido por Mark Ruffalo. Os meninos têm a ideia de ligar para o doador e ter uma conversa com ele, só por curiosidade. Acontece que o encontro foi bem sucedido e a personagem de Mia gostou muito da figura paterna e quer encontrá-lo mais vezes. E assim ele meio que invade o seio daquela família.

Embora as duas atrizes mais veteranas estejam muito bem no filme e Mark Ruffalo sempre ganhe destaque, quem rouba a cena é Mia Wasikowska. Essa garota, que foi revelada na primeira temporada da série IN TREATMENT e que tanto emocionou as pessoas, além de ter entrado para o primeiro time de Hollywood com ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, de Tim Burton, agora está fazendo filmes independentes e o seu amadurecimento como atriz e como mulher é bem visível. Alguns dos melhores momentos de MINHAS MÃES E MEU PAI, momentos realmente tocantes, acontecem graças a essa garota.

Quanto às cenas mais cômicas, do relacionamento entre Ruffalo e Julianne Moore, elas funcionam mais para ganhar uma maior audiência. Tanto é que quem vê o trailer antes de ver o filme já sabe o que acontece entre os dois e é um chamariz para o público. Fica a questão da sexualidade, que pode ser bem mais complexa do que muita gente imagina. E o que surgirá dessa nova geração, criada com pais gays e desse novo modelo de sociedade para o futuro? Ao final, fica no ar, não necessariamente essa pergunta, mas, ao ver a personagem de Mia em seu próprio apartamento, finalmente se mudando para um lugar só seu, senti uma ponta de ansiedade diante do que há de vir.

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