segunda-feira, novembro 01, 2010

O PROFETA (Un Prophet)



Não sei se é porque eu estava com a cabeça cheia de problemas, mas o fato é que O PROFETA (2009), filme que tanto me interessava e que eu perdi na Mostra Varilux de Cinema Francês, acabou me causando um certo desapontamento. O filme de Jacques Audiard, que dirigiu anteriormente DE TANTO BATER, MEU CORAÇÃO PAROU (2005), foi considerado por muitos como "O PODEROSO CHEFÃO francês", o que é um grande exagero. Dizem isso porque é filme de máfia e porque é longo? Pra mim, o filme está bem distante da grandiosidade do épico familiar de Coppola. De todo modo, não deixa de ser uma obra de interesse.

Nos longos 155 minutos de filme, vemos a trajetória do presidiário Malik El Djebena. Francês de origem árabe, analfabeto, assim que chega à prisão, ele recebe logo uma proposta dos mafiosos córsicos. Ele deve matar um árabe recém-chegado ao presídio. Ou ele mata ou ele morre. Diante de tal fato, quase todo espectador iria entender a situação do sujeito. E do quanto ele sofreu para efetuar o mandado dos mafiosos. Todo o processo de preparação - a gilete no canto da boca, a chegada na cela do árabe até o momento do sangue jorrando aos litros na jugular da vítima, o que foi motivo para que um casal se ausentasse da sala -, todo essa sequência está entre os melhores momentos do filme.

O PROFETA tem alguns momentos bem curiosos, com a utilização de música que destoa do que é mostrado na tela, quase como uma maneira de tornar heróico todo e qualquer ato do protagonista, por pior que seja. Dá pra fazer comparação com alguns títulos brasileiros que se passam na prisão, como SALVE GERAL, CARANDIRU e o mais recente 400 CONTRA 1. A diferença que salta logo aos olhos é o quanto são mais equipadas as penitenciárias francesas, com uma cela individual e limpa. Diferente daquele emaranhado de homens presos e sujos, todos numa única cela no Brasil.

O filme é mais um a engrossar o painel de produções francesas que lidam com o aumento crescente de pessoas de diferentes nacionalidades vivendo no país. Há desde ENTRE OS MUROS DA ESCOLA, que trata do sistema educacional, até obras como A PEQUENA JERUSALÉM e CARAMELO. Ainda que a questão da xenofobia esteja sempre presente, O PROFETA não se preocupa tanto em lidar com os problemas sociais, dando mais ênfase no personagem e em sua trajetória, no quanto a prisão o modificou, para o bem e para o mal. E em procurar transformar a obra num thriller sempre que pode, principalmente nos momentos em que o personagem consegue dias de folga fora da prisão.

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