segunda-feira, novembro 29, 2010

UM HOMEM QUE GRITA (Un Homme qui Crie)



Não tem jeito: vou me lembrar sempre deste UM HOMEM QUE GRITA (2010), de Mahamat-Saleh Haroun, como o filme que assisti junto com a Alê Marucci, numa espécie de disputa para ver quem cochilava mais. O engraçado é que o filme tem tantos momentos de silêncio que era como se fosse a minha deixa para a cochilada. Acordava sobressaltado, com as falas dos personagens. O filme teve uma boa repercussão da crítica paulistana, foi bem recebido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e ganhou o Prêmio do Júri em Cannes este ano. Porém, nada disso importa se o filme não me toca. Além do mais, há problemas de dramatização. Como a própria Alê comentou ao sairmos da sessão para um café, a atriz que faz a mulher do protagonista é muito ruim. Tenho que concordar com ela, embora eu costume relevar esse tipo de aspecto em alguns filmes.

Ver UM HOMEM QUE GRITA é uma das raras oportunidades que se tem de ver um filme produzido no Chade. Aliás, são poucos os filmes africanos que são distribuídos comercialmente. Esse passou pela peneira por causa da premiação e pela coprodução com a França e com a Bélgica. Embora quase todo falado em francês, a língua do colonizador, alguns diálogos são ouvidos em árabe (idioma do outro "colonizador"). O filme retrata, do ponto de vista de quem está de fora, a guerra civil que tem abalado o país com frequência nos últimos anos.

Os personagens principais são Adam e seu filho Abdel. Ambos trabalham num hotel de luxo. Como tem acontecido em muitas empresas ao redor do mundo, devido à crise, os empresários e pessoas que trabalham na área de recursos humanos tendem a ver como uma solução o corte do número de empregados. E como o filme já começa mostrando pai e filho brincando na piscina do hotel, dá para se notar que dentro daquele país pobre, os dois são felizes com aquele emprego. O filho, inclusive, tem a mania de ficar tirando fotos com sua câmera digital, com o objetivo de registrar seus momentos felizes. A notícia de que um dos dois terá que sair da empresa cai como uma bomba, especialmente para o velho pai, que vê o seu posto como vitalício. Mas a tragédia começa mesmo quando o filho é levado à força para se unir a uma das milícias.

Sei que não sou a melhor das pessoas para julgar o filme, tendo em vista as condições em que o vi, mas acredito que UM HOMEM QUE GRITA tem o problema de explicitar demais a sua moral, principalmente usando de uma frase final que parece até subestimar a capacidade do espectador de pensar por si mesmo. Para completar, o sentimento de culpa do pai, em nenhum momento, me comoveu. O que restou foi a indiferença.

P.S.: Foi uma raras vezes que eu vi uma cópia digital de boa qualidade e em scope.
P.S.2: Tem edição nova da Revista Zingu! no ar, com Dossiê Francisco Ramalho Jr. e um especial sobre futebol no cinema brasileiro.

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