quarta-feira, julho 02, 2014

TRÊS FILMES BRASILEIROS



Quem nunca dormiu no cinema que atire a primeira pedra. Ainda mais levando em consideração três fatores: uma noite de sono deficitária, tendo que acordar bem cedo pela manhã para ir trabalhar; uma laringite alérgica que me persegue já faz muito tempo e que provoca sono em ambiente com ar condicionado; e uma sessão no começo da tarde, logo após o almoço. Assim, nem um bom café expresso resolve. Por isso, a memória desses filmes acaba ficando bem nublada, já que há buracos causados pelos cochilos. Os três filmes abaixo foram exibidos numa mostra especial de filmes brasileiros promovidos pelo Cinema do Dragão. Desses três, o único que não foi prejudicado pelo sono foi A MULHER QUE AMOU O VENTO (2014), de Ana Moravi, que foi exibido por volta das quatro da tarde e contou com debate com a diretora após a sessão.

BRANCO SAI PRETO FICA 

Adirley Queirós é o cineasta responsável por um dos filmes mais elogiados pela crítica entre os lançados no ano passado, A CIDADE É UMA SÓ? (2012). Mas foi um filme que recebeu uma distribuição muito ruim e poucos tiveram a chance de vê-lo no cinema. Muito provavelmente BRANCO SAI PRETO FICA (2014, foto) terá o mesmo destino. Trata-se de um misto de documentário com ficção científica que quebra com os paradigmas dos filmes documentais, ao apresentar uma história com um registro de ficção, mas com um naturalismo do cinema-verdade. Os personagens são pessoas que convivem diariamente com uma tragédia que os abateu durante uma noite e os tornou deficientes físicos. E para que o uso da ficção dentro da realidade se torne ainda mais forte, nada como usar Brasília, a cidade mais futurista e mais artificial do país, como cenário. É, certamente, um filme que vou querer rever, quando entrar em cartaz oficialmente.

A MULHER QUE AMOU O VENTO 

Trata-se, provavelmente, do filme mais fraco exibido na mostra. A MULHER QUE AMOU O VENTO, ainda assim, é digno de atenção por uma busca pela fábula e por um estilo narrativo que foge do convencional. Se a diretora foi bem-sucedida em sua intenção, aí já é outra história. Uma das coisas que eu mais gosto no filme é também algo que parece funcionar como uma muleta para a narrativa, que é a voice-over da narradora/diretora. Ainda que fundamental para criar um aspecto de conto de fadas à história de uma moça que tem fixação pelo vento, que aqui aparece como uma entidade, essa voz acaba funcionando como um complemento estritamente necessário para as imagens. Confesso que estava esperando algo de mais erótico neste trabalho, mas Ana Moravi optou pela sutileza. Há também o uso constante de um som artificial do vento, que, se no início é interessante, com o tempo se torna monótono.

A VIZINHANÇA DO TIGRE

Basta ver alguns minutos de A VIZINHANÇA DO TIGRE (2014), de Affonso Uchoa, para perceber as suas limitações orçamentárias, sua cara de curta-metragem estendido e amador. Digo isso não necessariamente como um defeito, mas como algo que transparece no modo como o filme se desenha e nas interpretações dos atores, todos pertencentes à periferia da cidade de Contagem, no interior de Minas Gerais. Poderia ser em qualquer lugar do Brasil, aliás. Há também um registro de documentário em parte desse projeto, já que ele foi feito tateando, sem saber muito bem que caminho traçar e mostrando bastante o espaço, antes de explorar os personagens. Isso se percebe logo no início e talvez seja o principal problema do filme, principalmente se não estamos conscientes de seus bastidores.

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