Quando se pensa que a cota de filmes lindos do ano já acabou, eis que surge essa história de amor de tirar o fôlego chamada LUNCHBOX (2013), dirigida por Ritesh Batra. Trata-se de um romance agridoce que também poderia ser descrito com uma complexidade maior de sabores, até por também tratar de um assunto muito caro ao cinema: a culinária.
Há vários filmes sobre a arte de conquistar pelo paladar e até podemos acrescentar LUNCHBOX a esse grupo. Assim como pintores, cineastas ou escritores querem que seus trabalhos sejam vistos, reconhecidos e elogiados, uma pessoa que capricha nessa arte mais efêmera (será?) quer também reconhecimento. Vai ficar triste se alguém não gostar da comida e vai ficar feliz da vida quando alguém elogiar.
Assim, de um lado temos um homem triste, viúvo e de poucas palavras, Saajan Fernandes (Irrfhan Khan, de AS AVENTURAS DE PI), que trabalha na contabilidade de uma grande empresa, e de outro, temos uma mulher jovem e bela, Ila (Nimrat Kaur), que sofre com a indiferença do marido. Ela capricha no almoço que envia através de um sistema de entrega de marmitas de Mubai. Apesar de ter um sujeito que pega várias marmitas em uma humilde bicicleta e essas marmitas passam depois por outros meios de transporte daquela cidade caótica da Índia, esse sistema é considerado infalível.
Acontece que nada é infalível e as marmitas que deveriam ser endereçadas ao marido de Ila vão parar na mesa de trabalho de Saajan, que na hora do almoço estranha o quanto o sabor melhorou em comparação com o que ele estava acostumado, e assim ele acaba se correspondendo com bilhetes e depois com cartas com a pessoa responsável por aquele manjar dos deuses.
Trata-se de uma variação de uma história de amor à distância, que já aconteceu com tantas pessoas antes e depois do advento da internet. O bonito do filme é o quanto ficamos encantados com esse vai e vem de mensagens e o quanto torcemos pelo encontro final entre Saajan e Ila. O filme mexe mesmo com os corações, além de ser extremamente delicado no trato com os personagens e seus dramas.
As conversas ou trocas de mensagens entre os personagens são rápidas – inclusive entre Saajan e o funcionário novo que chega na empresa para ficar em seu lugar, – mas entre elas há um respiro de um sentimento forte, já que nos tornamos cúmplices desse relacionamento à distância.
Às vezes dá um pouco de raiva dos personagens, pelo fato de eles não trocarem telefones ou endereços, como Jesse e Celine em ANTES DO AMANHECER, de Richard Linklater, mas obstáculos são elementos muito importantes para o sucesso de uma grande história de amor. E certamente podemos atribuir esse título a LUNCHBOX, com sua simplicidade e busca da beleza nas pequenas coisas da vida.
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