terça-feira, outubro 16, 2012

PORTO DOS MORTOS



Filmes de zumbis hoje existem aos borbotões. Saídos não só dos Estados Unidos, mas também da França, da Inglaterra e até de países com pouca tradição no subgênero, como Cuba, que pariu o tão bem recebido JUAN DOS MORTOS. Aqui no Brasil, praticamente na mesma época foram rodados outros filmes de zumbis, como CAPITAL DOS MORTOS, em Brasília; MANGUE NEGRO, no Espírito Santo; e PORTO DOS MORTOS (2011), em Porto Alegre.

Dirigido por Davi de Oliveira Pinheiro, PORTO DOS MORTOS é um projeto feito com poucos recursos, mas com vontade de inovar, de fazer diferente. Para começar, não se trata de um filme de zumbis tradicional. Os mortos-vivos, por exemplo, ficam em segundo plano na trama, mais servindo para acentuar o clima pós-apocalíptico do mundo apresentado. Eles são até inofensivos. O perigo está nos vivos.

E por isso um jovem casal tem a "sorte" de encontrar um policial sem nome, um homem que faz o possível para proteger os dois jovens do perigo daquele mundo esquecido por Deus, enquanto está à procura de um assassino serial. Esse é o principal ponto de partida do filme, o que já denota que os vivos são mais perigosos que os desmortos.

O que me desagradou e pode desagradar boa parte da audiência, principalmente a que espera um filme de zumbis próximo do tradicional, é o seu andamento lento que parece não chegar a lugar nenhum e o fato de ser excessivamente sério – ou de ter um senso de humor bem particular. Isso está presente principalmente no protagonista, vivido por Rafael Tombini. Muitas vezes seu modo de agir parece mais apropriado a uma comédia, mas isso soaria dissonante com o tom geral do filme. Por outro lado, difícil não ficar impressionado com os ótimos efeitos visuais e de maquiagem de Kapel Furman, o nosso Greg Nicotero, além do belo trabalho de direção de arte e fotografia.

Mas o importante é que o filme reuniu qualidades suficientes para ser selecionado para os mais importantes festivais internacionais de cinema fantástico. Recentemente PORTO DOS MORTOS foi selecionado para o Festival de Sitges, na Espanha. Antes foi exibido em Chicago, Nova York, Havana, Montevidéu. Atualmente está disponível no Netflix e está previsto para estrear nos cinemas brasileiros no próximo dia 2 de novembro, começando por Porto Alegre.

Tive a oportunidade de entrevistar Davi de Oliveira Pinheiro durante o Festival de Gramado, onde ele exibiu um curta-metragem, O BEIJO PERFEITO (2012). Perguntei-lhe como foi que surgiu a ideia de fazer PORTO DOS MORTOS e ele me disse que sempre foi apaixonado por gêneros, mas que estava trabalhando muito com dramas e comédias. Daí surgiu o desejo de fazer coisas mais violentas. Ele disse que é uma pessoa muito violenta no sentido de se irritar facilmente, mas que é uma violência controlada, e que ele queria muito colocar essa violência velada dentro de um filme. Davi falou que, no início, o projeto de PORTO DOS MORTOS era de um filme de zumbis tradicional, lembrando sempre o western ONDE COMEÇA O INFERNO, de Howard Hawks, com pessoas encurraladas e perseguidas por mortos-vivos.

Daí veio a necessidade de fazer algo diferente. E os zumbis acabaram se tornando cenário dentro do filme, que enfatiza mais os relacionamentos entre os personagens e a atmosfera. Ele falou sobre o título, que não apenas se refere à capital gaúcha, mas também remete a PORTO DAS CAIXAS, de Paulo Cesar Saraceni. Há também outro significado para o título, mas creio que falar isso seria entregar um pouco algo que está mais para ser interpretado pelo espectador. Segundo Davi, eu fui a primeira pessoa que ele falou isso em entrevista, o que me deixou feliz. A entrevista (na verdade, mais um gostoso bate-papo) foi bem interessante e se encaminhou por temas como Jodorowsky, esoterismo e religião. Quem sabe um dia eu publico, depois que eu transcrevê-la, editá-la e pedir a autorização dele.

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