quarta-feira, outubro 17, 2012
A DELICADEZA DO AMOR (La Délicatesse)
Ao sair da sessão de A DELICADEZA DO AMOR (2011), de David e Stéphane Foenkinos, fiquei me perguntando qual o segredo para que um filme com um enredo tão simples fosse tão bem sucedido em conquistar a plateia. Por plateia, refiro-me a mim e a ao pequeno grupo que parecia estar verdadeiramente se divertindo e se envolvendo com a história da jovem viúva que tem muita dificuldade em voltar a se relacionar novamente com alguém e que encontra na figura de um sujeito considerado feio e ordinário um possível caminho de volta para a vida além da rotina do escritório.
Só o fato de o filme tirar a implicância que eu tinha com Audrey Tatou por causa de O FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POLAIN já merece o meu respeito. Terminada a sessão, inclusive, fica até difícil imaginar outra atriz para o papel. Se ela não tem uma beleza exuberante, o filme trata de acentuar isso em diversos momentos, para benefício da história; do mesmo modo que acentua o que lhe há de belo quando ela precisa brilhar mais. Claro que isso vem muito dos efeitos de maquiagem, cabeleireiro e figurino, mas há também a sintonia perfeita com o enredo. O mesmo se pode dizer do desajeitado personagem vivido por François Damiens.
No início, o filme parece não negar as suas origens, isto é, o romance A Delicadeza, escrito por um dos diretores, David Foenkinos. Isso porque a primeira sequência já mostra a utilização de uma voice-over, que geralmente é a tentativa mais fácil de se traduzir o pensamento do personagem de uma prosa de ficção para a linguagem cinematográfica. Porém, embora esse recurso apareça novamente, ele é muito pouco utilizado ao longo do filme. Aliás, se há uma coisa que não se pode acusar A DELICADEZA DO AMOR é de ser “literário”, já que a dupla de cineastas usa diversas estratégias para fazer bom cinema, seja através de elipses, montagens inesperadas, split screen ou fotos.
A tradição francesa de usar muito a palavra não faz de A DELICADEZA DO AMOR uma exceção, embora seja exagero chamá-lo de verborrágico. O filme até lembra mais o cinema americano do que o cinema europeu, na forma de contar a história. E sua história é muito simples. Difícil é desenvolvê-la e fazer com que o espectador se envolva. E esse é um dos grandes méritos deste filme que faz rir, embora trate sua história e seus personagens com seriedade.
Os irmãos David e Stéphane Foenkinos acertaram em cheio em sua estreia na direção de longa-metragem. Esperamos que saiam outros filmes tão bons e agradáveis quanto este, que além de tudo sabe quando terminar. E de maneira poética, utilizando muito provavelmente as palavras do próprio romance, mas com a força das imagens que o bom cinema é capaz de impor.
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