terça-feira, maio 29, 2012

MINHA FELICIDADE (Schastye Moe)



Quando estive em março passado em São Paulo, assisti alguns filmes no cinema, entre eles, o ucraniano MINHA FELICIDADE (2010), do cineasta bielorrusso Sergei Loznitsa. O diretor inclusive esteve em Cannes, apresentando seu novo trabalho, IN THE FOG (2012). Demorei a falar sobre MINHA FELICIDADE aqui no blog porque eu simplesmente mais dormi do que vi o filme no cinema. Foi patético. Com o andamento muito lento, é preciso estar com o sono em dia e a mente alerta para cada introdução de novos personagens e novas subtramas que o filme vai apresentando. Tive a oportunidade de revê-lo em casa, e aí sim posso dizer que se trata de um grande filme.

MINHA FELICIDADE inicialmente acompanha um dia na vida de Georgy, um jovem caminhoneiro que leva um carregamento e que é abordado por policiais rodoviários que abusam do pequeno poder que lhes é atribuído. Georgy consegue fugir deles e segue em frente. Conhece um velho a quem dá carona e este lhe conta, em forma de um breve flashback, de um período em que ele era oficial da União Soviética, na época da Segunda Guerra. Ele se envolveu num incidente que acabou por deixá-lo clandestino, sem identidade.

A falta de identidade é um aspecto muito importante para o filme. Seria uma metáfora da atual Ucrânia, um país esfacelado, que parece possuir pessoas tão pobres quanto os países mais subdesenvolvidos. E mais adiante vemos que a perda de identidade do protagonista também é importante para percebermos o grau de decadência e violência a que o país chegou. Para vermos a imagem triste dos atuais ucranianos, o filme utiliza um belo plano-sequência, que mostra o quanto Loznitsa é virtuoso. A fotografia, aliás, é de uma beleza ímpar, e ainda há um trabalho de aproveitamento do scope e de profundidade de campo que é muito importante para a observação nítida de ações em segundo plano.

No mais, o que pode dificultar um pouco o filme é a quantidade constante de personagens que vêm e que vão ao longo da narrativa. E quando o protagonista sai de cena temporariamente, ficamos um pouco sem chão, tendo que recomeçar de novo com elementos estranhos. Mas é uma questão de acompanhar com atenção e ver que tudo está interconectado. Algumas cenas de destaque: o ataque ao caminhoneiro à noite, o ataque de dois militares marginalizados a um homem que mora sozinho com o filho, o abuso de poder dos policiais rodoviários, que mais parecem psicopatas de filmes de horror rurais americanos. Como se vê, o titulo do filme é de uma grande ironia.