segunda-feira, maio 07, 2012

A QUEDA DA CASA DE USHER (La Chute de la Maison Usher)



Dentre os filmes mudos que vi nessa pequena maratona que fiz nos últimos dias, A QUEDA DA CASA DE USHER (1928) foi o que eu menos gostei. E olha que teve dedo do Luis Buñuel na produção: ele foi responsável pela adaptação do conto de Edgar Allan Poe e foi também assistente de direção de Jean Epstein. O que me atraiu para ver o filme foi o fato de ser baseado em um dos mais celebrados contos de Poe. Ter pouco mais de uma hora de duração também contou como critério.

No entanto, ao começar a ver o filme, fiquei logo disperso; A QUEDA DA CASA DE USHER não me sugou para o seu universo. Assim, preferi dar uma parada para reler o conto de Poe e, quem sabe, assistir o filme com mais prazer. Mesmo não estando entre os meus contos favoritos do grande escritor bostoniano, é, sem dúvida, uma de suas obras que mais utilizam elementos biográficos, logo, mais carregados de melancolia e depressão. Há algumas diferenças entre o conto e o filme: a começar por Madeleine (Marguerite Gance), que no filme não é irmã gêmea de Roderick Usher (Jean Debucourt), mas sua esposa. No conto, isso talvez seja uma tentativa de Poe esconder o fato de que estava espelhando a personagem em sua esposa enferma, Virginia.

De todo modo, reler o conto, ainda que tenha sido prazeroso, não ajudou muito. E esse detalhe da mudança de status de Madeleine não faz muita diferença na transmutação. O que eu senti foi uma necessidade imensa do som. Afinal, o conto, ainda que não seja uma forma de arte audiovisual, faz com que imaginemos o som. A narração de Poe é poderosa nesse sentido: é como se pudéssemos ouvir o barulho sinistro de Madeleine voltando de sua tumba prematura.

Alguns momentos são particularmente bonitos no filme, como as imagens das árvores balançando as folhas, os raios de sol batendo no lago, ou mesmo a sequência do grupo de homens carregando o caixão da mulher. Mas, no geral, o filme de Jean Epstein é lento, o tempo parece não passar. Acho que tê-lo visto logo após uma obra tão dinâmica quanto O CIRCO, de Chaplin, prejudicou um pouco a apreciação.

P.S.: No blog do Diário do Nordeste, uma pequena chamada a todos que puderem, para ver LUZ NAS TREVAS - A VOLTA DO BANDIDO DA LUZ VERMELHA, de Helena Ignez. Confira AQUI.